A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Devido à pandemia, comércio prevê queda de 33% no faturamento da data
por
Victor Prudencio
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11/06/2020 - 12h

Uma data muito especial para os casais, mas que este ano deve frustrar tanto os comerciantes quanto os consumidores. De acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), as vendas do varejo neste Dia dos Namorados devem cair 33% em relação ao ano passado.

Trata-se, em números absolutos, de um decréscimo de aproximadamente R$19 bilhões no faturamento, um impacto que, nem mesmo a reabertura gradual do comércio não essencial será capaz de evitar. "Não deve haver muita procura para presentes no Dia dos Namorados, uma vez que também houve baixa na intenção de consumo das famílias", afirma a FecomercioSP, em nota.

De acordo com a federação, o ramo que mais sofrerá com a pandemia será o de vestuário, que terá uma retração de 67% nas vendas da data, o equivalente a R$ 3,5 bilhões a menos em comparação ao ano passado. Com isso, comerciantes buscam alternativas para driblar a crise e atender os pedidos dos consumidores, mesmo sem contar com as lojas físicas. É o caso de Juliana Dias, que abriu uma loja virtual de roupas no Instagram. “Como ainda não posso abrir meu brechó por causa da pandemia, esse foi o jeito que encontrei para não ter tanto prejuízo”, diz a comerciante.

Além disso, Juliana tem feito promoções para ajudar o consumidor. “Não está sendo fácil para ninguém. Quem compra também sofre os efeitos da crise e precisa economizar no presente”, completa.

Comerciantes como Juliana, que irão vender através da internet, levarão o comércio eletrônico a um aumento de 18% no faturamento do período, segundo estimativa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). De acordo com a entidade, entre os dias 25 de maio e 12 de junho, as vendas do setor devem somar R$ 2,96 bilhões, com destaque para as áreas de vestuário, perfumaria, tecnologia e flores.

Os pombinhos também precisam ser criativos para conseguir comprar um bom presente para a pessoa amada e não extrapolar nos gastos. O nutricionista Lucas Rocha, de 25 anos, aposta nos DIY, em inglês do it yourself (“faça você mesmo”), que são lembranças baratas, mas que carregam um grande valor sentimental. “Vou dar para a minha namorada uma caixa personalizada com fotos nossas e vários docinhos que ela gosta”, relata o rapaz.

As vendas do comércio varejista podem fechar 2020 com o pior desempenho da história, porque a recuperação da crise não vai ser rápida e em outras datas comemorativas, como Natal, Dia dos Pais e Dia das Crianças, as famílias ainda vão estar sofrendo os efeitos da turbulência econômica, por causa do aumento do desemprego e do endividamento. As empresas também não sairão ilesas, porque, além da retração nas vendas, o quadro de funcionários será reduzido e a liquidez também, aponta a FecomercioSP.

         

Vendas estão em queda desde o início do isolamento social
por
Pedro Henrique Reis Satelis
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11/06/2020 - 12h

O setor do varejo (caracterizado pela venda de produtos ou comercialização de serviços em pequenas quantidades) tem sofrido forte impacto desde que a crise causada pelo novo coronavírus se instaurou no país, em meados de março. Para se ter uma ideia, estabelecimentos de setores importantes, como turismo, eletrodomésticos, vestuário e eletroeletrônicos, estão fechando ou precisando recorrer ao crédito, pois estão sofrendo uma queda de até 10% nas vendas.

O varejo brasileiro vende em média R$ 35 bilhões em um mês regular e emprega 1,3 milhão de trabalhadores formais. De acordo com o analista econômico Rafael Bianchini, esta crise está sendo vista por muitos economistas como a pior desde a Grande Depressão dos anos 1930. 

“Alguns setores estão sendo afetados de maneira mais profunda, outros de maneira menos profunda, mas todos vão perder”, diz Bianchini.

Segundo ele, até mesmo os ramos do comércio que tiveram algum crescimento no começo da pandemia, como farmácias, estão registrando queda nas vendas. “Difícil que algum setor passe imune nesta crise”, afirma.

Para amortecer os impactos, empresas de diferentes portes têm buscado diminuir os custos, renegociando itens como aluguel, contratos com estacionamentos e empréstimos bancários, para os quais pedem alongamento de prazos e redução das taxas de juros.

Segundo o economista Guilherme Dietze, representante da FecomercioSP, os órgãos que defendem os comerciantes de São Paulo têm apresentado medidas para ajudar os seus afiliados. “O que nós da Fecomercio temos sugerido ao governo é a postergação do pagamento de impostos, como, no caso do município de São Paulo, o IPTU, que não foi feito até agora. Mas as medidas do governo têm sido muito tímidas até o momento em relação ao que o varejo e o setor de serviços precisam”, comenta Dietzel.

De acordo com o economista, algumas medidas anunciadas, como a criação de linhas de crédito, não estão chegando aos comerciantes, pois os bancos contratados como agentes financeiros estão com receio de emprestar o dinheiro e sofrer com a inadimplência. Diante disso, a alternativa possível, segundo Dietzel, tem sido se valer das medidas provisórias 927 e 936, que flexibilizaram as relações de trabalho, permitindo, por exemplo, a redução de jornada com diminuição do salário ou a antecipação de férias e feriados.

Outra medida também adotada pelos comerciantes é a migração para o comércio eletrônico (e-commerce), cujo faturamento aumentou nas últimas semanas e deve continuar crescendo.

“O comércio eletrônico, em relação ao varejo físico, representa cerca de 4 ou 5%, um pouco mais quando ocorre a Black Friday, em novembro. É um mecanismo que está sendo muito explorado pelos consumidores, pois os Correios estão funcionando normalmente e até mesmo as entregas particulares estão sendo usadas. Porém, as pessoas agora estão conseguindo comprar, mas, se a crise permanecer em uma amplitude forte, com fechamento de lojas e desemprego, todos vão sofrer, até mesmo os supermercados e farmácias”, diz o economista da FecomercioSP.

Muitos lojistas já entendem que, no pior dos cenários, deverão fechar as suas lojas, principalmente os microempresários, que possuem menos recursos financeiros e capital de giro que possibilitem um funcionamento normal durante e depois da crise.

“Nessa crise vai haver uma seleção natural: quem estiver ruim vai acabar fechando sua loja e demitindo funcionários, e aqueles que estiverem relativamente melhor estruturados deverão conseguir se sobressair e até mesmo ter mais condições de ter crédito, pois, com as contas organizadas, consegue-se ter uma previsibilidade dos bancos para obter algum tipo de crédito”, avalia Bianchini.

Também é importante salientar que a crise afetará toda a economia brasileira e mundial, sem exceções. Sem a renda dos trabalhadores formais que estão sendo afetados pelas medidas de isolamento social implantadas pelo governo federal, o consumo consequentemente cairá mais do que o previsto, muito embora não se tenha indicadores fechados para todos os setores da economia.

Resta aos comerciantes neste momento pensar em estratégias e cuidar de seu capital de giro para que não tenham um prejuízo maior do que o já previsto e também consigam pagar as suas dívidas, contando com a boa vontade que o governo deve ter neste momento de calamidade.

Estimativas do mercado mostram IPCA abaixo do piso da meta; em maio, índice teve deflação pelo segundo mês consecutivo
por
Carolina Lopes
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07/06/2020 - 12h

Os impactos da pandemia do novo coronavírus são perceptíveis na economia brasileira. Um desses reflexos é a queda da taxa de inflação e suas previsões para este ano. No último Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) no dia 8 de junho, a projeção do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2020 caiu para 1,53%. Um mês antes, a previsão estava em 1,76% e, no fim de 2019, em 4,04%.

Este declínio é um reflexo da crise desencadeada pela pandemia de Covid-19, que provocou uma restrição no poder de compra da população e, com isso, uma forte queda da demanda no país. O nível da atividade econômica está tão baixo, que, se antes mantinha a inflação sob controle, agora a direciona para baixo da meta, mesmo com a alta do dólar pressionando para cima os produtos importados ou influenciados pela moeda americana.

Para este ano, a meta do governo para o IPCA é de 4%, podendo variar 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, ficar entre 2,5% e 5,5%. A projeção atual do mercado, portanto, indica que o IPCA ficará abaixo do piso da meta deste ano. A meta é definida pelo Conselho Monetário Nacional, e fica sob responsabilidade do BC atingi-la, através de uma série de medidas.

Em situações de queda da inflação, a principal medida a ser tomada pelo BC é a redução da taxa básica de juros, a Selic. Essa é uma tentativa de reaquecer a economia, já que as condições de financiamento melhoram e crescem as possibilidades de compra. Atualmente, o juro básico está em 3%, mas, de acordo com as estimativas divulgadas no Boletim Focus, deve finalizar o ano em 2,25%

O economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, diz que, ao reduzir a taxa Selic, o Banco Central cumpre um papel importante de injetar liquidez na economia (ou seja, aumentar o dinheiro em circulação), em benefício das empresas e das famílias. Ele defende que a instituição seja ainda mais ousada, tomando como exemplo a atuação do FED, o banco central americano.

Para Claudemir Galvani, diretor da Metha Consultoria e professor do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a inflação baixa, ainda dentro da meta, é positiva pois preserva o poder de compra, principalmente das classes mais baixas. Ele considera que a margem de 2% a 5% para o índice geral de preços é razoável.

Levando em conta essa mesma margem, Silveira aponta ser um índice civilizado, que ainda demonstra certo vigor da economia. Para ele, apesar de estar em queda, o IPCA ainda não motiva preocupações. Mas o momento exige atenção para as formas de controle e para a retomada do piso da meta. Galvani pontua que, se por um lado considera que a inflação próxima de 2,5% pode ser benéfica, por outro, os motivos que levam a ela preocupam – no cenário atual, a crise econômica por conta do coronavírus. O índice da inflação baixo, dentro da meta, pode ser considerado positivo, desde que a economia como um todo não seja sacrificada por isso. “Antes do coronavírus, a inflação já estava sob controle, por conta da forte concentração de renda e da alta taxa de desemprego, e não por controles adequados”, acrescenta o economista.

Deflação

Em maio, o IPCA registrou variação negativa (deflação) de 0,38%, a menor taxa desde o início do Plano Real, em 1994, perdendo apenas para o recuo de 0,51% ocorrido em agosto de 1998. No acumulado de 12 meses, o IPCA tem variação de 1,88%. Ou seja, se o ano terminasse em maio, o índice ficaria abaixo do piso da meta. Dos nove grupos de preços que compõem o índice, apenas três tiveram variação positiva em maio: alimentação e bebidas (+0,24%), artigos de residência (+0,58%) e educação (+0,02%). A maior queda ocorreu no grupo transportes (-1,9%), influenciada principalmente pela redução do preço dos combustíveis.   .

A queda dos combustíveis está sendo determinada pela baixa histórica das cotações do petróleo. Com a demanda afetada pela crise da Covid-19, o produto passou a ter um excesso de oferta no mundo, o que derrubou o valor do barril. Além do petróleo, outras commodities têm pressionado a inflação para baixo.

As commodities são produtos de origem primária que possuem valor comercial e estratégico relevante no mercado mundial. Por serem primários, dependem diretamente dos setores para os quais são destinados, como a indústria, e seus preços são regidos pela oferta e demanda.

Considerado o medidor oficial da inflação, por ser o índice utilizado no regime de metas, o IPCA leva em conta nove grupos de produtos e serviços que fazem parte do orçamento de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos.

Regime de metas

O regime de metas foi implantado no Brasil em 1999, a fim de orientar a política monetária do país. Esta, por sua vez, se caracteriza pelo controle do sistema econômico através da estabilização de preços.

Caso a inflação supere o teto ou fique abaixo do piso da meta – como é provável neste ano –, o presidente do Banco Central deve dirigir uma carta aberta para o ministro da Economia explicando as razões do descumprimento e esclarecendo possíveis novas ações.

Ao contrário do momento atual, durante a segunda metade do século 20 o Brasil registrou a inflação mais alta do mundo e enfrentou períodos de grandes oscilações. Em 1994, o estabelecimento do Plano Real conseguiu controlar a hiperinflação. “A inflação deixou de ser um grande problema da história do Brasil, e agora é o desemprego, a renda, e é em cima disso que as medidas cabíveis devem ser tomadas”, diz Galvani.

Com o fechamento do comércio gerado pela pandemia do novo Coronavírus, autônomos enfrentam a queda da renda e a incerteza.
por
Por Bruna Galati e Letícia Galatro
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02/06/2020 - 12h

A pandemia do COVID-19 se espalhou rapidamente, gerando dezenas de infectados e mortes. Segundo o ministério da Saúde, só no Brasil são 29 mil mortes até 01 de junho. Com isso, muitas cidades decretaram o fechamento dos comércios por tempo indeterminado, interferindo nas finanças de todos brasileiros.

Funcionários estão correndo o risco de serem demitidos ou terem seus salários reduzidos, junto com sua jornada de trabalho. Já os autônomos não sabem como manter seus negócios, uma vez que os gastos continuam e a renda diminuiu drasticamente. Muitas empresas não sabem quanto tempo vão conseguir se manter.

Advogados, médicos, dentistas, diaristas e pedreiros, são alguns dos profissionais que estão sentindo o efeito do isolamento e para quem não tem reserva de emergência, o aperto financeiro pode ser assustador. 

Para Rita Valéria Galatro, dona do posto de gasolina São José Auto Posto BR, a situação não está boa. Ela continua tendo demanda em seu estabelecimento, mas  o movimento é mínimo, "Estou com o número reduzido de funcionários, mas eu trabalho", afirma. 

Rita está fazendo o máximo para não demitir seus funcionários, embora tenha feito essa escolha algumas vezes. Outra decisão, foi dar férias para a metade dos funcionários em abril e para a outra metade em maio, ela imagina que no próximo mês, quando todos voltarem de férias será complicado. “Se o comércio não voltar, terá que demitir mais pessoas”, afirma. 

Assim como Rita, a dentista Débora Galatro, de São Paulo, está usando suas reservas de caixa, construídas ao longo da sua carreira, como renda. Seu consultório foi fechado, conforme foi imposto na Lei e segue as orientações do Ministério da Saúde de atender apenas os casos de urgência. "É muito difícil ter uma perspectiva do futuro frente a incerteza da doença. Penso que a crise econômica vai atingir a todos e isso realmente vai interferir nas relações comerciais e nos hábitos de consumo, o que provavelmente irá modificar o perfil de pacientes”, diz Galatro, que vê diminuição dos tratamentos estéticos.  


Como Galatro, o advogado Sergio Miniaci, sócio da empresa Miniaci & Canto Advogados, viu sua renda cair drasticamente, ficando pelo menos um mês sem conseguir trabalhar. “Eu consegui começar a trabalhar no dia 04/05, que foi quando voltou a fluir os prazos dos processos eletrônicos, mas o volume ainda é pouco porque o Fórum continua fechado e os processos físicos suspensos. A movimentação e o lucro diminuíram muito, mas o escritório continua sendo minha única fonte de renda”, ressalta Miniaci. 


Ana Paula Carvalho, dona de uma empresa que vende peças para caminhões, chegou a solicitar o auxílio emergencial para conseguir pagar as contas no prazo. A primeira vez que ela tentou retirar os R$ 600,00 foi negada por falta de informações, então ela atualizou os dados, pediu novamente e está apreensivamente aguardando a resposta. “Eu não sei se eu vou ter esse auxílio porque minha empresa não é Micro Empresa Individual (MEI). Trata-se de uma empresa individual que é administrada por pessoas que trabalham por conta própria.. Eu fiquei dois anos como empresa MEI, mas a partir de janeiro de 2020, subiu um grau, para Simples Nacional (regime tributário facilitado e simplificado para micro e pequenas empresas). Estou no aguardo. Espero conseguir porque vai me ajudar muito”, diz Carvalho.  


O futuro do comércio no Brasil é incerto para todos, mas no meio dessa situação tão caótica, ainda há esperança. Ana conta que a solidariedade de seus fornecedores e amigos  é o que tem mantido sua empresa funcionando: “Estamos em casa montando as buzinas e quando o cliente faz algum pedido, os caminhoneiros fazem entrega para nós sem custo algum. No mundo todo, as grandes empresas estão ajudando as médias e pequenas empresas. Os fornecedores que são grandes me falaram que eu posso pegar o que eu precisar na empresa e ir pagando conforme for recebendo. Eu acredito na ajuda das pessoas. Eu não acho que vai ter mais disso de um passar a perna no outro”. 


Todos os entrevistados para essa matéria estão confiantes que a suas empresas continuarão após a pandemia, mas cientes de que não será uma tarefa fácil, por isso é necessário calma e paciência.
 

Economistas veem com ressalvas possibilidade de controle, mas pandemia pode justificar exceções
por
Vittória Burattini
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31/05/2020 - 12h

 

Desde que os primeiros casos de Covid-19 foram confirmados no Brasil, a população entrou em um combate para conseguir comprar os produtos que  controlam a contaminação. Com a alta procura, o preço de itens como álcool gel e mascaras aumentou drasticamente, fazendo com que muitas pessoas não conseguissem adquiri-los.

Por conta do alto valor e da escassez do álcool gel, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sugeriu que o preço desta e outras mercadorias consideradas fundamentais ao combate do vírus fosse congelado. Na recomendação, entidade aconselhou ao governo federal o congelamento de preços do álcool gel, vitaminas, máscaras e luvas. A sugestão foi feita com o objetivo de evitar o aumento abusivo dos produtos e mantê-los acessíveis às pessoas de menor renda. 

Kléber Colares, presidente da subseção da OAB no Vale do Salgado (CE), responsável pela recomendação, disse que o intuito da proposta seria "preservar o direito do consumidor, tendo em vista o aumento que já está acontecendo com esses produtos". 

A estratégia de congelamento de preços, no entanto, é controversa entre os economistas. Muitos são contra políticas de controle, devido aos possíveis efeitos negativos que podem causar no mercado. Ainda assim, o atual contexto poderia justificar exceções, de acordo com especialistas ouvidos pela Agemt.

Segundo Silvio Campos Neto, economista-sênior da consultoria Tendências e professor das Faculdades Oswaldo Cruz, o congelamento de preços retira da economia aquilo que ela tem de melhor, que seria a negociação, o encontro entre oferta e demanda. "Quando você congela os preços, você distorce o sistema. Gera imperfeições que acabam prejudicando o próprio abastecimento, como a escassez, mercado negro", afirmou.

Entretanto, na situação atípica desta pandemia, Campos Neto disse que poderia haver um acordo entre produtores de álcool e entidades representativas de consumidores, negociando um preço que vigore por um tempo. “Poderia até se estabelecer um limite de compra de álcool gel, durante esse período, para que as pessoas não abusem. O que é negociado não sai caro", comentou, frisando a excepcionalidade do atual cenário. “Estamos possivelmente na maior pandemia da história da humanidade.”

Para José Luís Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília, o congelamento de preços em um cenário "normal" da economia é inviável. Contudo, na crise de saúde instaurada pelo novo coronavírus, a tática de controlar o valor do álcool gel não é uma má ideia. "O que temos, na verdade, é a especulação. Os distribuidores de álcool em gel retêm o estoque do produto e liberam em conta-gotas, para conseguir um preço mais alto. Então, o que se tem que fazer nessa situação é congelar o valor, para que não haja um aumento abusivo de preços", afirmou.

Imagem da capa: “Can you guess what this is?” | Daniel McGrotty | Sob a licença CC BY-2.0 - Creative Commons. Link: https://www.flickr.com/photos/165767995@N07/page2