A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Mesmo enfrentando maior demora para entrega, comerciantes ampliam vendas utilizando plataformas online.
por
Maria Luiza Oliveira
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26/06/2020 - 12h

Patrícia Correa Domingues de Almeida (acervo pessoal)

Com a quarentena, por causa da Covid-19, muitos comerciantes tiveram que fechar suas lojas ou paralisar as vendas nas ruas rapidamente e se adaptar para um novo cenário que surgiu de repente, sem aviso prévio. Muitos deles, para continuar o seu trabalho, migraram para as vendas online e plataformas de e-commerce, onde a compra de produtos ocorrem por meios de dispositivos e aparelhos eletrônicos, e houve pessoas que viram essa situação para começar algo novo.

É o caso da Patrícia Correa Domingues de Almeida, 55 anos, moradora do município de São Paulo, Itapevi, ela, antes do isolamento social, trabalhava como corretora de imóveis e simultaneamente vendia seus produtos de artesanato: “Já trabalhava com as vendas da minha produção artesanal, mas era só como hobby, agora, vi uma oportunidade de me reinventar e quero focar só neles, aí, com ajuda dos meus filhos criei uma página no Instagram para postar meu trabalho. ”

 Almeida nunca tinha trabalhado com o comércio virtual, só faz três semanas que ela entrou para esse universo digital e diz encontrar algumas dificuldades. “São muitos jovens nessas páginas do Instagram, usando uma linguagem que minha geração não consegue pegar. Essa linguagem não está sendo fácil de aprender, mas tenho ajuda do meu filho, o Ivan (Ivan Domingues de Almeida, 20) ”. Além disso, Almeida vê a evolução do e-commerce, como uma nova maneira de viver: “Com a pandemia, as pessoas tão tendo que se reinventar, está crescendo cinco anos em seis meses. Não precisa mais sair de casa para viver, tem tudo na Internet. ”

João Pedro Pereira de Mello (acervo pessoal)

O comércio eletrônico realmente teve mais acessos durante o período de quarentena, segundo estudos da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), houve um aumento de 69% na compra de produtos online de pessoas que já faziam parte desse sistema antes da pandemia.  Já na plataforma do Mercado Livre, houve um aumento de 39% de usuários e 75% deles dizem que irão continuar com os métodos eletrônicos.

 

 O empreendedor João Pedro Pereira de Mello, 21 anos, dono da empresa Decoraê, e morador de Pedreira (interior de São Paulo), diz perceber essas mudanças: “Trabalho com e-commerce há quatro anos, antes tinha uma loja física, mas mal conseguia atender meu bairro, por isso mudei, agora, atendo o Brasil todo. Minha empresa trabalha com decorações de festas e de casa, no nicho das festas, houve uma queda de quase 95% das vendas, já no nicho de casa teve um aumento de 30%. Me surpreendi com esse aumento, não esperava que as pessoas fossem se preocupar com a casa no meio de uma pandemia. ” Mello sugere que essa alta na procura de produtos para moradia aconteceu justamente pelas pessoas terem que ficar em casa, e elas estão tentando deixar o ambiente mais agradável.

 O jovem empresário alega que não tem do que reclamar do e-commerce, mas percebeu uma maior demora na entrega durante o isolamento. A pesquisa da SBVC conta que 69% dos consumidores notaram um prazo mais longo para o recebimento de seus produtos. A advogada e empreendedora Natalia de Paula Barone, de 24 anos, trabalha com venda de produtos para tabacaria e falou que notou o atraso nos envios da mercadoria: “Antes eu mandava um produto hoje e já ia chegar amanhã para o cliente, agora demora um pouco mais, cerca de sete ou oito dias, mas mesmo assim acho que está sendo tranquilo. ”

Natalia de Paula Barone (acervo pessoal)

Barone comenta que suas vendas cresceram bastante nesse período. “ Acredito que isso ocorreu porque além das tabacarias estarem fechadas eu trabalho com um produto de vício, então as pessoas que frequentavam as lojas físicas tiveram que ir para o mercado virtual. ” Ela trabalhava em um escritório de advocacia, mas no início do ano decidiu sair e começar a trabalhar com e-commerce: “Antes da pandemia começar até pensei em montar uma loja física, mas aí veio toda essa situação e vi que era melhor não. Com a loja física eu teria muito mais gastos do que eu tenho com o e-commerce, não compensaria. Então decidi expandir minhas vendas indo para outras plataformas e até criei um site no início da pandemia. ”

 

Isolamento causado pela pandemia do novo coronavírus gerou “prioridades” entre autoridades
por
Vanessa Loiola
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26/06/2020 - 12h

Após a Covid-19 se espalhar pelo mundo e matar de maneira muito rápida milhões de pessoas, medidas drásticas foram tomadas para conter o avanço do coronavírus. O isolamento horizontal foi proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a medida mais eficaz para conter a aglomeração de pessoas e assim evitar um colapso no sistema de saúde. No entanto, o presidente da República, Jair Bolsonaro, se opôs e defendeu que apenas as pessoas que estão no grupo de risco deveriam permanecer isoladas em suas devidas residências para evitar uma queda brusca na economia brasileira propondo, assim, o isolamento vertical. Com isso, as divergência de teses entre os governos trouxeram debates entre diferentes classes sociais do país.

O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2019, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), colocou o Brasil na sétima posição de país mais desigual do mundo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, 13,5 milhões de brasileiros viviam abaixo da linha da pobreza, ou seja, sobreviviam com menos de R$145 por mês. Além disso, a grande parte da população vive em situações precárias e divide a residência com muitas pessoas, o que traz dificuldades para manter-se isolada, além de muitos jovens viverem com pessoas do grupo de risco - idosos, diabéticos, hipertensos, asmáticos, fumantes e pessoas com doenças do coração -, apesar de também estarem propensos a irem a óbito mesmo não apresentado comorbidades.

O professor, mestre e economista André Paiva Ramos faz uma análise sobre os impactos da pandemia: "Essa questão da população não estar respeitando, muitos indo na tese do presidente, nessa tese que para mim é irresponsável, de que tem que voltar as atividades, acaba que não se consegue conter. Mais pessoas vão começar a ficar doentes e é uma curva exponencial", destacou e acrescentou que poderá haver colapso na saúde e a necessidade de um isolamento mais severo, o que atingirá de maneira ainda mais forte a economia brasileira.

Yuri Busin, mestre e doutor em neurociência cognitiva, destaca que a melhor forma de conter o vírus é se informando: "A educação precisa ser informativa, ela precisa ser repetitiva, as pessoas precisam ter consciência a partir do momento que elas são informadas de uma forma clara. Atualmente a gente vê que existem muitas divergências e isso faz com que a população foque obviamente nessa situação divergente. Então é preciso ter muito mais um processo educacional para que as pessoas fiquem mais em casa e cuidem-se melhor".

Embora haja um desacordo entre as autoridades governamentais, a medida adotada atualmente é que a população que puder trabalhar de maneira remota fique em casa, só podendo funcionar, mantendo os cuidados com a higiene, os estabelecimentos considerados essenciais: supermercados, farmácias, postos de gasolina, açougues, padarias, pet shops etc, tudo isso para driblar uma superlotação dos leitos nos hospitais e evitar que as pessoas morram em casa, sem atendimento médico. Em contrapartida, com a redução do consumo, trará um rombo na economia do país, além de impactos sociais como desemprego, pobreza, empresas falidas, queda na arrecadação do governo, que implicaria em menos recursos para o próprio sistema de saúde etc.

André cita o relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o desenvolvimento do Produto Interno Bruto (PIB), que aponta que os países que conseguiram conter o avanço da doença de uma forma mais rápida sofreram menos impactos econômicos e sociais. "Quanto mais rápido a população respeitar a questão do isolamento social e só as pessoas que são em atividades emergenciais que está operando se mantiver, mais rápido a gente vai conseguir conter o avanço e vai conseguir liberar a economia".

Em relação a economia brasileira, o FMI projeta que a economia vai retrair em 2020 5,3%, levando em consideração as medidas  atuais de contenção ao avanço do coronavírus, podendo haver uma queda mais grave chegando até a 8% de retração, de acordo com alguns economistas, destacando ainda que o Brasil já vinha de uma recuperação muito frágil desde 2016.

Na prática, é necessário ainda levar em consideração quanto tempo a população consegue manter-se isoladas sem alteração na saúde mental. "Na atual circunstância algumas dessas situações de bem-estar, alguns comportamentos, alguns costumes que essas pessoas tinham foram totalmente retirados da vida delas. Então as pessoas acabam tendo um pouco mais de dificuldades de recomposição mental para que ela consiga lidar com esse estresse enorme que elas estão sentindo", disse Yuri e citou ainda a pressão social que os profissionais da área da saúde tem de lidar diante de um vírus desconhecido. "É muito relevante que todos os hospitais também olhem para a saúde mental tanto dos pacientes e familiares quanto dos profissionais que trabalham dentro desse novo modo de Covid para que as pessoas consigam se manter bem", comentou o psicólogo.

Diante do cenário incerto que a pandemia do novo coronavírus trouxe para a economia do país e para a vida das pessoas, André fala sobre as possíveis projeções para o país após a contenção da doença: "O tamanho da retração econômica e da recuperação da atividade econômica vai depender muito das próprias medidas que o governo venha a adotar. Se não tiver uma medida efetiva para estimular a economia após terminar o isolamento social a gente vai ter primeiro um recuo muito grande, depois uma retomada muito lenta, ou seja, a gente vai demorar mais de quatro anos para conseguir restabelecer o nível de atividade que a gente tinha no período anterior a pandemia, que já é um nível muito abaixo de produção, de emprego, de renda, do que a gente tinha em 2014", analisa.

Empresas de prestação de serviço abertas em vias públicas não conseguem mesma performance e enfrentam falta de público
por
Leonardo Augusto Rodrigues Sexto
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24/06/2020 - 12h

Com a chegada do coronavírus no Brasil, muitos estabelecimentos e empresas tiveram que diminuir sua jornada de trabalho ou se adaptar a nossa nova realidade. Ao contrário da tendência de redução de serviços durante a pandemia, algumas empresas estão trabalhando além do normal. É esse o caso da Brucai Transportes e Armazenagem, uma transportadora que fica situada em Osasco na grande São Paulo.

 

José Roberto Sexto, 54 anos, proprietário da transportadora, diz que o trabalho só aumentou depois da pandemia. “O serviço não parou, na verdade só aumentou. As empresas concorrentes deram uma pausa e os nossos clientes não, então o lucro só aumentou.”

 

Por causa da contaminação fácil do coronavírus e das determinações pelo confinamento, muitas das empresas têm mantido funcionários em casa. Na Brucai não foi diferente: “Tivemos que afastar nove motorista por terem mais de sessenta anos e estarem no grupo de risco.” Com a alta demanda de trabalho a empresa precisou repor esses motoristas para dar conta do serviço, “Tivemos que contratar novos caminheiros para repor os funcionários de risco”.

 

A empresa também adotou o home office, menos na expedição, local onde são emitidas as notas fiscais para os motoristas. Mesmo com essa parte ainda funcionando, Sexto teve que tomar os devidos cuidados. “Muitos funcionários da expedição não puderem parar, então achamos melhor nos prevenirmos com álcool em gel e máscaras”.

 

Com os motoristas o cuidado tem que ser redobrado pois eles têm muito contato com diversas pessoas. “Nós aconselhamos os motoristas a não desceram do caminhão quando forem descarregar em outras empresas”. Dentro da transportadora o cuidado tem que ser alto para ninguém ser contaminado, “Quando forem pegar as notas fiscais, eles devem ficar a uma certa distância e claro sempre usar a máscara”.

 

José Roberto Sexto, o proprietário da Brucai Logística, transportes, armazém e distribuição.

 

 

 

 

Já os empresários de lojas ou estabelecimentos de comércios estão passando algumas dificuldades com a  pandemia instalada no Brasil. Muitos conseguiram se adptar e fazer serviços com as portas abaixadas para manter o trabalho normalmente e ganhar o seu lucro mensalmente. Paulo Henrique Frederick de quarenta e seis anos é o proprietário da Suyotec Eletrônica e informática, uma assistência técnica localizada na Água Branca em São Paulo.

 

Em relação ao serviço Frederick diz que tem pouca demanda de serviço mas não teve que ficar com a loja fechada. “No começo nós trabalhamos com as portas abaixadas, mas não durou muito tempo, pois logo a prefeitura emitiu o diário oficial falando que assistências técnicas poderiam ficar abertas.”

 

Mesmo com as portas abertas as lojas de bairro deveram tomar diversos cuidados para os trabalhadores não serem infectados com o corona vírus. Para não contaminar clientes, o empresário explica que “colocamos um balcão na porta para impedir que as pessoas entrassem e álcool em gel também, assim nós pegamos o produto com o cliente e depois enviamos a ficha e orçamento por WhatsApp”.

 

Dentro da loja ele diz que tem que tomar todos os cuidados e higienizar os equipamentos, “quando pegamos um produto sempre higienizamos ele e ficamos de máscara o tempo todo para evitar a contaminação”.

 

Mesmo com a porta aberta muitos comerciantes estão com muita dificuldades em ganhar dinheiro, pois o serviço diminuiu muito e automaticamente o ganho diminui também, Frederick falou que a demanda do serviço está baixa e o lucro também.

 

 

 

 

 

 

 
 


Paulo Henrique Frederick, proprietário da assistência técnica Suyotec Eletrônica e informática.

 

 

Agora com essa nossa nova realidade, os empresários entrevistos tiveram que se adaptar para não deixar o serviço cair e terem que infelizmente, fechar as portas de suas empresas ou estabelecimentos.

A entrada para o mercado de aplicativos vêm trazendo obstáculos para alguns comércios.
por
Pedro Kono
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23/06/2020 - 12h

 

Os pequenos e médios empresários têm sofrido dificuldades em se adaptar ao mercado online durante a quarentena. O baixo retorno decorrente das vendas por internet resultam em fortes impactos na vida de alguns trabalhadores desse setor.

 

Diferentes nichos da área empresarial, sejam os que abriram seu negócio recentemente ou os que já o possuem há anos, sofrem consequências graves causadas pela pandemia. Carla Silva (46) é dona da Casa da Esfiha, restaurante de Guarulhos que funciona há quase 30 anos, e relata que tem esbarrado em alguns problemas durante a inevitável transição para o mercado online - que teve um aumento de 59% durante o isolamento, segundo um levantamento feito pela Rede, empresa de meios de pagamento do Itaú.

 

O restaurante, que tinha a maior parte do seu lucro proveniente das refeições no local e que direcionava seus pedidos via delivery mais por telefone, entrou para o mundo dos aplicativos. Seus donos, no início, sofreram pela pouca proximidade com essa tecnologia. ‘‘No começo teve bastante problema, mas agora conseguimos nos virar’’. Além disso, Silva conta que já teve experiências com o aplicativo ficar fora do ar por um período e também acredita que as taxas cobradas pelo serviço de entregas são consideravelmente altas.

Casa da Esfiha (foto: acervo pessoal)
Casa da Esfiha (foto: acervo pessoal)

 

Apesar de ter criado estratégias de assistência para pequenos restaurantes, como uma comissão que se baseia no valor de cada pedido vendido, o iFood, principal aplicativo de entrega de comidas via internet, cobra por estabelecimento uma taxa que varia de 79 a 100 reais, além de 10% a 15% do valor de cada pedido.

 

Silva também conta que já teve que demitir alguns funcionários para manter as contas do restaurante em dia e relata que talvez já seja a favor da flexibilização do isolamento social. Apesar de, no início da pandemia, ser a favor das medidas de confinamento, para ela a quarentena já não vêm demonstrando grande eficácia para achatar a curva. No momento (2 de Junho), o Brasil registra 530.770 casos e 30.079 mortes de coronavírus. O diretor de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Michael Ryan, afirmou nesta segunda-feira que o país ainda não chegou no pico da transmissão da doença.

 

Mariana Fernandes (19) abriu recentemente a M.M. Baker, uma confeitaria artesanal. A ideia era vender os doces nas faculdade, mas com a paralisação das aulas presenciais a estudante decidiu iniciar a empreitada online para, posteriormente, crescer o negócio no estabelecimento. Para ela, são dois os grandes desafios para fazer a confeitaria crescer: ‘‘Os principais desafios na situação da quarentena é que muitos produtos estão ou em falta, ou mais caros. Além disso, a concorrência aumentou muito devido a abertura de novos comércios online durante a pandemia’’.

Mariana Fernandes (foto: acervo pessoal)
Mariana Fernandes (foto: acervo pessoal)

 

Fernandes conta que vender seus doces feitos em casa sempre foi uma vontade pessoal e que aproveitou a oportunidade ao perceber uma certa demanda por esse tipo de produto nos últimos meses. De acordo com a jovem, a maioria dos pedidos vêm de pessoas mais próximas e a expectativa era por um retorno maior de forma geral.

 

Por conta desses problemas com pequenos e médios empresários, alguns setores da população se mobilizam para priorizar as compras com pequenos comércios. João Ponciano (19), conta que vêm tendo preferência a esse tipo de comércio para suprir a sua necessidade ‘‘compulsiva’’ de consumo durante a quarentena. Para ele, o mercado online, apesar das taxas e da demora para a chegada do produto, é muito mais vasto e, por isso, muito mais diverso.

 

‘‘A variedade é imensamente maior já que é possível comprar produtos independentes completamente novos, específicos e de diversos lugares. Isso permite o aparecimento de novas ideias’’. Ponciano, que antes fazia compras online apenas mensalmente, conta que não compraria em uma loja física uma boa parte dos produtos que vêm comprando via internet, incluindo tintas para cabelo e um colar de pérolas.

 

Atingidos principalmente no início da quarentena, estabelecimentos atraem clientes com promoções e higienização reforçada
por
Catharina Gaidzinski
|
23/06/2020 - 12h

É esperado que, numa situação de isolamento social e pandemia, as pessoas fiquem mais suscetíveis a vícios e à saudade de contato físico. Talvez seja por este motivo que muitos paulistanos ainda estão frequentando (ou frequentando ainda mais) os motéis. Durante a quarentena, muitas pessoas não têm privacidade em casa para encontrar sexualmente seus parceiros. Por isso, a rede moteleira de São Paulo não foi tão abalada pela crise da Covid-19.

Ainda que os hotéis estejam enquadrados na lista de serviços essenciais declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), não há consenso sobre a inclusão dos motéis na mesma categoria. É inegável que não são de extrema necessidade para a população. Não há como compará-los a supermercados, farmácias ou mesmo a hotéis. Ainda mais se levado em conta que a quebra do isolamento social é classificada como qualquer encontro físico entre pessoas que não residem juntas. Por isso, os encontros nos motéis podem acarretar uma maior disseminação do vírus. Entretanto, motéis pela cidade inteira ainda funcionam, e seu comportamento em relação à prevenção é variado.

Existem motéis que adotaram diversas medidas preventivas. Localizado no bairro do Ipiranga, o Lush Motel, por exemplo, fechou as portas no começo da pandemia e agora está adotando profilaxias como: intensificação das práticas de higiene com álcool 70%, disponibilização de álcool em gel para hóspedes e funcionários, redução da rotatividade das suítes e proibição de mais de duas pessoas por quarto. No entanto, também existem motéis que não são tão rigorosos e estão abertos até a agendamentos de festas de aniversário. 

A Associação Brasileira de Motéis, quando questionada em entrevista para o jornal O Liberal, em abril, afirmou que os motéis são orientados para que cada suíte seja destinada a apenas duas pessoas, e que os motéis com suítes para festas têm seu uso suspenso durante a pandemia. De acordo com a entidade, todos os associados vêm seguindo essas diretrizes. Mesmo assim, não é bem o que parece acontecer pela cidade de São Paulo.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, em abril, uma atendente do Motel Caribe, na Barra Funda, disse: "Como tá tudo fechado por aí, o pessoal tá aproveitando para vir fazer festa". As suítes disponíveis naquele final de semana poderiam acomodar até dez pessoas. O Opium Motel, na Barra Funda, e o Lumini Motel, no Limão, também estavam aceitando aglomerações. 

Apesar disso, também há motéis que, quando questionados, negam a possibilidade de aglomeração de pessoas. "Só o casal está sendo permitido. Não entram mais do que duas pessoas", diz a atendente do Adventure Motel. 

Uma funcionária do Zapt, localizado na Mooca, afirma: "Somente um casal por suíte". Em relação aos cuidados higiênicos, ela também diz: "Estamos tomando todo o cuidado possível, hóspede só entra com máscara. A gente tem álcool em gel por toda parte do motel e as suítes também estão sendo higienizadas com álcool". 

No Adventure Motel, no entanto, as precauções não parecem ser tão severas. "Na verdade, não adotamos nenhuma medida específica, só a limpeza dos quartos que agora está sendo feita com álcool", diz a recepcionista.

Em relação ao movimento de hóspedes, para a maioria dos motéis, foi mais difícil no começo, mas agora a situação parece estar se normalizando.

"No início, o movimento caiu bastante. Agora, já voltou ao que era antes", diz a funcionária do Adventure. No Zapt, a situação é bem semelhante. "Tivemos uma queda no movimento no começo da pandemia, mas agora já está tudo normalizado", diz a atendente.

Mesmo assim, nos dois estabelecimentos não foi preciso adotar nenhuma promoção no valor das suítes ou propaganda para atrair clientes. O sex shop do Adventure, por exemplo, não começou a entregar em casa. E no Zapt, estão funcionando da mesma maneira que funcionavam antes da pandemia.

O Free Love Motel, na zona oeste da cidade, buscou formas de atrair a clientela. "Cansado da quarentena? Brigando muito com seu Amor? Vem pro Free Love Motel! Aqui a balada é a dois. E ainda aproveite promoções exclusivas", lê-se na legenda de uma foto postada no Facebook do motel. Já o Lumini, em seu site, escreve: "Lumini Special Time: tarifas reduzidas", referindo-se à estadia de três horas.

Assim, com as frequentes promoções e o aumento da carência sexual, o paulistano parece desrespeitar cada vez mais a quarentena para frequentar os motéis, apesar de a prática sexual com pessoas que não moram junto aumentar as chances de contaminação de Covid-19. Além da ida frequente aos motéis, os habitantes da grande cidade também furam a quarentena para encontrar amigos e parceiros em suas respectivas casas. Violar as diretrizes propostas pela OMS para transar ou fazer festa é muito comum. É bom saber, no entanto, que, caso um motel receba algum fiscal da Secretaria Municipal e não esteja funcionando de acordo com as diretrizes, fica sujeito a multa e interdição. De acordo com a Prefeitura da Cidade de São Paulo, o objetivo é evitar aglomerações para reduzir o risco de transmissão do coronavírus.