Brasil passa por um momento decisivo entre mudanças para arrecadamento e corte de gastos
por
Maria Eduarda dos Anjos
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19/11/2024 - 12h

A penúltima reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) aconteceu semana passada e sua ata, publicada no dia 12, apresenta a decisão unânime de elevar a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) a 0,5 pontos percentuais, levando a taxa de juros básico do país de 10,75% para 11,25%. 

Esse aumento vem como medida para, principalmente, conter a inflação, produto do balanço negativo entre os ganhos e gastos do Estado brasileiro, além de responder de forma defensiva à recente eleição de Donald Trump.

Primeiro, é importante entender o que o COPOM, SELIC, juros básicos e inflação significam na vida do brasileiro. O Copom é um grupo composto pelo presidente do Banco Central (BC) e seus diretores que, a cada 45 dias, decidem a taxa básica de juros da economia, a Selic. 

A taxa básica é a principal forma do BC tentar conter a inflação econômica. Na balança, são ponderados o estado das contas públicas, a situação internacional política e monetária, estado da inflação, movimentação do mercado de trabalho entre outros fatores, tudo para assegurar que o reajuste do juros contenha a inflação, não desvalorize o real perante outras moedas e não diminua o poder de compra da população. 

Uma das razões para o aumento da Selic é a diferença entre o gasto e o arrecadamento público de R$7,3 bilhões até setembro de 2024. Para exterminar esse déficit primário, o BC sobe o juros básico, ou seja, a promessa de valorização de seus ativos, e vende tais ativos aos bancos. 

Dessa forma, o Banco Central consegue caixa de forma mais imediata e oferece a promessa de lucro futuro para os bancos. O problema é que esse ciclo se repete e cria uma bola-de-neve. 

A economista e professora da PUC SP, Cristina Helena, explica que “o governo pega dinheiro emprestado todo mês para cobrir o déficit, que não conta com o valor dos juros dos demais empréstimos que já pegou, mas que precisa quitar simultaneamente”. O juros aumenta para pagar,também, o que já foi criado no passado pela mesma barganha que se repete.“ A conta da dívida tá fora do resultado primário, aí o montante a ser pago não para de crescer”. 

Essa medida para maior arrecadação vem junto com o pacote de corte de gastos públicos, que será anunciado por Fernando Haddad depois da reunião do G20. Representantes das pastas de Saúde, Educação, Previdência, Trabalho e Desenvolvimento Social foram chamados para discutir as reduções, já que detém a maior parte de recursos federais. 

Quando o assunto extrapola o doméstico, a eleição de Donald Trump é um fator central. O presidente já anunciou que pretende impor uma tarifa de 10% ou mais sobre todo produto importado do país, uma medida protecionista para privilegiar o mercado interno.

 

Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT
Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT

 Enquanto o aumento da Selic pode ajudar a manter o valor do Real no mercado internacional, a negociação tende ao soft power. “ O Brasil e os Estados Unidos são bons parceiros comerciais um ao outro, mas o Trump não quer só um bom parceiro comercial, ele também pede por um aliado que não seja mercado para a China, por exemplo. A América Latina vêm se beneficiando de compras mais baratas de produtos chineses e venda de minérios mais barato”, explica Cristina. 

Apesar de haver um plano de metas pelo qual a política monetária deveria se guiar, as medidas atuais de arrecadação precisam ser redesenhadas pela sua falta de efetividade, avalia a economista.Até o fim do ano,é previsto o aumento de mais 0,25 pontos para o juros básico, isso reverbera diferentemente entre compradores de títulos do governo e a população média: “ Meio ponto percentual é pouco do ponto de vista de contenção inflacionária e é muito para as famílias, e isso vira uma taxa enorme nos cartões de crédito e cheque especial”.

A cotação da moeda norte-americana chegou a R$5,86, mas encerrou em R$5,67
por
GUILHERME DEPTULA ROCHA
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08/11/2024 - 12h

 

O dólar comercial teve forte alta na manhã da quarta-feira (6), mas caiu durante o dia. Às 9h, a moeda alcançou o valor de R$5,86. Porém, à tarde, recuou para R$5,67. A disparada recente se deu após a repercussão da vitória Donald Trump (Partido Republicano) nas eleições norte-americanas. 

Desde meados de outubro, a moeda estava se valorizando, o fato se deu devido à subida do ex-presidente nas pesquisas de intenção de voto. Conforme dados do jornal “The New York Times”, no início do mês passado, sua adversária, Kamala Harris (Partido Democrata), mantinha-se à frente, com 50% da preferência. Enquanto Trump, estava com 47%. 

Porém, nas últimas semanas, o republicano subiu nas pesquisas e se equiparou à democrata: ele alcançou 48%, contra 49% dela. Esse movimento foi batizado de “Trump Trade”. 

 

POR QUE O DÓLAR DISPAROU APÓS VITÓRIA DE TRUMP?

Aproposta de governo do presidente eleito é tida como inflacionária, a partir de políticas protecionistas. O programa prevê um aumento na taxa de juros e mais impostos para importação. A ideia é provocar migração de recursos para o mercado norte-americano, fortalecendo a moeda.

Após o resultado da eleição, o dólar disparou também em outros países. Segundo DXY, índice que monitora o câmbio da moeda norte-americana em outros mercados globais, houve uma alta de quase 2%.

 

POR QUE O DÓLAR CAIU NO FIM DO DIA?

O motivo ainda não é claro. Segundo o professor de economia da FGV, Marcelo Kfoury Moinhos, em entrevista ao “Jornal Nacional”, há uma expectativa na medida de corte de gastos fiscais. O pacote será anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ainda nesta semana.

Devido a vitória de Trump, o mercado acredita que o governo entregará um pacote “crível”. Porém, o  professor de economia aponta: “Se houver frustração no tamanho desse pacote de corte de gastos pode ser que (...) o real volte a desvalorizar.

 

FUTURO

Caso o presidente eleito cumpra com suas propostas de campanha, as projeções indicam uma alta do dólar para 2025. Devido às políticas protecionistas, poderá haver um aumento na tarifa para produtos importados, reduzindo as exportações brasileiras para os Estados Unidos.

 

Descubra como a agroecologia pode beneficiar a vida das famílias brasileiras no âmbito econômico e social
por
Jessica Castro
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05/11/2024 - 12h

Recordes de altas temperaturas e períodos de seca extensos foram aliados às causas das queimadas recentes no Brasil. Nos últimos meses, o país viveu um cenário alarmante com mais de 139 mil focos de queimadas, muitas delas criminosas, devastando biomas importantes para o ciclo climático. 

 

Atrás desses números, estão comunidades inteiras que sofrem as consequências diretas: ar irrespirável, perda de colheitas e deslocamento forçado. Grande parte dessas queimadas está ligada à expansão desenfreada do agronegócio, que, na busca por mais terras para cultivo de soja e pastagens, utiliza o fogo como ferramenta de desmatamento. 

 

Embora o agronegócio mova a economia, sua busca por crescimento muitas vezes ignora os impactos sociais e ambientais, e o momento agora é de olhar novas alternativas de cultivo, antes que seja tarde demais.

 

Uma opção que se apresenta é a Agroecologia. A prática é uma alternativa sustentável para a produção agrícola que integra conceitos ecológicos e sociais e tem como objetivo equilibrar o cultivo de alimentos com os ciclos naturais e promover a justiça social. 

 

Diferente dos métodos convencionais, ela não se limita ao uso de técnicas orgânicas, mas envolve uma transformação mais ampla das práticas agrícolas, considerando aspectos culturais, políticos e ambientais. Seu foco é a regeneração dos solos, a conservação da biodiversidade, a redução do uso de insumos químicos e a valorização dos saberes tradicionais das comunidades rurais.

 

Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace
Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace

 

Alternativa ao Agronegócio

 

A prática da agroecologia surge como uma alternativa ao modelo convencional do agronegócio, que prioriza a monocultura, o uso intensivo de agrotóxicos e a maximização dos lucros a curto prazo. 

Enquanto esse método é fortemente dependente de insumos externos e tecnologias que degradam o meio ambiente e podem esgotar os recursos naturais, a agroecologia foca na sustentabilidade a longo prazo. Ela propõe sistemas diversificados, que integram culturas diferentes, reflorestamento e técnicas de conservação de solo e água. 

Isso torna os sistemas mais resilientes a pragas e mudanças climáticas, reduzindo a dependência de produtos químicos e fertilizantes industrializados. Além disso, o sistema agroecológico valoriza a autonomia dos pequenos agricultores, promovendo  cada vez mais sistemas alimentares locais e uma dependência menor de cadeias longas de distribuição. O que contribui para a segurança alimentar, uma vez que as comunidades produzem e consomem alimentos de maneira mais justa e próxima de seus territórios.

 

O benefício econômico a quem produz e quem consome

 

Do ponto de vista econômico, a agroecologia tem mostrado forte potencial para ser uma opção interessante tanto para o país quanto para as famílias que aderem a este sistema. 

“Iniciativas como as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA) mostram como os consumidores podem se tornar co-produtores, garantindo acesso a alimentos saudáveis e frescos, enquanto os agricultores têm mais segurança e menos desperdício”, comenta Paulo Moruzzi, professor adjunto do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq, na USP.

Moruzzi ainda pontua que o fortalecimento da relação do consumidor com a produção agroecológica pode impulsionar o fomento de políticas públicas que ampliem o acesso à alimentação sustentável.
 

Outro benefício econômico da prática é  a redução dos custos com insumos químicos, como fertilizantes e agrotóxicos, o que alivia o orçamento dos pequenos produtores; ou práticas como a rotação das culturas que permite  uma produção contínua sem prejudicar o solo ao longo do ano, garantindo uma renda estável  ao diminuir os riscos associados à dependência de uma única safra, característica comum no agronegócio.

 

Ao reduzir a pressão de utilização dos recursos naturais, além da contribuição efetiva para o meio ambiente a longo prazo, pode evitar gastos públicos na recuperação de áreas degradadas e mitigação de desastres ambientais. Além disso, a agroecologia pode impulsionar a economia local, pois promove cadeias curtas e regionais de produção. Assim, reduz a dependência do país de alimentos importados e fortalece os mercados internos.

 

Para as famílias agricultoras, a transição para este método de cultivo significa mais independência e resiliência frente às flutuações de mercado e mudanças climáticas. A segurança alimentar é ampliada, e o valor agregado dos produtos agroecológicos pode aumentar os lucros, já que esses produtos têm um apelo crescente entre consumidores conscientes, dispostos a pagar mais por alimentos produzidos de forma sustentável.

A agroecologia está profundamente enraizada no cotidiano de comunidades quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais no Brasil. Esses grupos, que possuem uma relação ancestral com a terra, cultivam alimentos de maneira sustentável e em harmonia com o meio ambiente. 

Mas a prática não é exclusividade dessas comunidades, ela também é adotada pela agricultura familiar e por assentamentos e acampamentos da reforma agrária. Hoje, cerca de 77% dos comércios agropecuários do país são familiares, segundo dados do Anuário da Agricultura Familiar de 2023, e muitos deles estão integrando práticas agroecológicas para preservar o solo e valorizar a biodiversidade do local onde produzem.

Essas iniciativas promovem um modelo de agricultura que valoriza o saber local e protege biomas únicos e super importantes para o equilíbrio climático do país, como o Cerrado e a Amazônia. 

A agroecologia fortalece o vínculo entre quem produz e quem consome, criando relações de consumo mais justas e solidárias. Isso ocorre, em grande parte, por meio de feiras agroecológicas e programas de políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que compra alimentos de pequenos produtores para fornecer refeições nas escolas. Essas teias garantem que o alimento chegue de maneira saudável e acessível às mesas, enquanto geram renda e fortalecem famílias agricultoras ao mesmo tempo.

Outros olhares para o consumo de alimentos

A conexão entre a agroecologia e o modo de consumo vai além da idealização de uma produção agrícola sustentável, aqui refletimos também a forma como nos relacionamos com os alimentos, os recursos naturais e as comunidades que os produzem. Esse conceito reflete a necessidade de repensarmos não só a maneira como consumimos, mas também as implicações sociais, ambientais e econômicas envolvidas no processo.

Esse olhar diferenciado para o consumo de alimentos inclui para além da valorização de produtos orgânicos produzidos por um sistema agroecológico, as métricas de quanto desperdiçamos e consumimos exacerbadamente. A agroecologia não se limita à produção sustentável, mas envolve uma conscientização mais ampla sobre a forma como os alimentos são utilizados ao longo da cadeia, desde a produção até o descarte.

O consumo consciente, nesse sentido, diz respeito a um repensar em nossos hábitos alimentares, para garantir que tudo o que consumimos não acabe em desperdício, uma prática que impacta seriamente o meio ambiente e os recursos naturais e o bolso do consumidor. 

 

Precisamos perceber que a quantidade de alimentos comprados e descartados repousa diretamente em impactos socioambientais porque contribui para a emissão de gases de efeito estufa e esgotamento dos solos. Portanto, como e o que comemos pode fazer uma grande diferença.

 

Em entrevista, o professor Paulo Moruzzi destaca a importância do Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro, data que marca a criação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), que completa 79 anos. Ele ressalta: “Nos últimos anos, esta organização multilateral tem insistido em suas orientações para os debates em torno dos problemas agroalimentares mundiais sobre a importância da busca simultânea de preservação ambiental e de garantia do direito humano à alimentação adequada. Desde 2019, a FAO promove a década da agricultura familiar, visando favorecer sistemas alimentares resistentes às mudanças climáticas e indutores de desenvolvimento territorial inclusivo, protegendo a biodiversidade, o meio ambiente e a cultura." 

 

A agroecologia passa a não ser apenas um modelo de produção, mas um convite para repensar o ciclo de vida dos alimentos e nosso papel dentro dele, promovendo uma relação mais responsável e equilibrada com o meio ambiente.

 

Prévia do IPCA-15 sobe 0,54%, puxada por alta nos preços de energia e alimentos, e reforça expectativa de novo aumento na Selic em novembro
por
Otávio Rodrigues Preto
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30/10/2024 - 12h

A prévia da inflação oficial de outubro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) e divulgada pelo IBGE na última quinta-feira (24), surpreendeu o mercado ao registrar uma alta de 0,54%, acima das expectativas dos analistas, que previam 0,50%. Esse resultado trouxe um impacto significativo para a economia brasileira, pressionando tanto o câmbio quanto o mercado de juros, além de influenciar o desempenho da bolsa de valores.

A alta do IPCA-15 foi impulsionada principalmente pelo aumento de 1,72% no grupo Habitação, com destaque para a elevação de 5,29% nos preços da energia elétrica residencial. A aplicação da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que adiciona R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos, foi o principal fator para o encarecimento da energia. Outros itens também contribuíram para a pressão inflacionária, como o gás de botijão, que subiu 2,17%, e os alimentos, que tiveram alta de 0,87%. Entre os produtos alimentícios, destacaram-se o contrafilé (5,42%) e o café moído (4,58%).

No acumulado de 12 meses, a prévia da inflação passou de 4,12% em setembro para 4,47% em outubro, ficando próxima do teto da meta de 4,50% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para 2024. Essa aceleração aumenta a expectativa de que o Banco Central (BC), sob a liderança de Roberto Campos Neto, intensifique o ritmo de alta da taxa Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 5 e 6 de novembro, e espera-se um aumento de 0,50 ponto percentual.

Dólar - Unsplash.com
Dólar - Unsplash.com

Enquanto isso, o mercado reagiu com nervosismo à divulgação dos dados. O dólar atingiu R$ 5,70 na manhã de quinta-feira, refletindo as preocupações com a inflação e o futuro da política monetária. O índice Ibovespa, por sua vez, abriu em queda, pressionado pelo cenário interno, apesar de um ambiente positivo nas bolsas internacionais, com altas nos mercados europeus e Wall Street indicando uma abertura no verde.

Além de Habitação e Alimentação, o grupo de Saúde e cuidados pessoais também registrou alta de 0,49%, influenciado pelo reajuste dos planos de saúde. O único setor a apresentar queda foi Transportes, com uma redução de 0,33% nos preços, devido principalmente à queda nas tarifas de passagens aéreas (-11,40%) e transporte público, reflexo de medidas de gratuidade durante as eleições municipais.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Decisão visa evitar problemas para o Novo Banco de Desenvolvimento em meio às sanções contra a Rússia e fortalecer o papel do Brasil no bloco econômico.
por
Otávio Rodrigues Preto
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30/10/2024 - 12h

O presidente russo, Vladimir Putin, confirmou na última quinta-feira (24) a proposta de manter o Brasil na liderança do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), principal instituição financeira do BRICS, por mais cinco anos, garantindo a continuidade de Dilma Rousseff na presidência do banco. O atual mandato de Dilma, iniciado em março de 2023, terminaria em julho de 2025, mas a extensão foi sugerida para evitar possíveis complicações relacionadas à guerra na Ucrânia.

Segundo Putin, a decisão de manter Dilma no cargo tem o objetivo de preservar a estabilidade do NDB, considerando que as sanções impostas à Rússia devido ao conflito poderiam prejudicar a atuação da instituição caso um executivo russo assumisse a presidência. "Não queremos transferir todos os problemas associados à Rússia para instituições em cujo desenvolvimento estamos interessados", afirmou o presidente russo.

Pelo regime de rodízio do NDB, a Rússia seria a próxima a indicar o presidente do banco, que tem sede em Xangai, na China, e gerencia cerca de US$ 33 bilhões em financiamentos para projetos nos países do BRICS e no Sul Global. No entanto, Putin optou por abrir mão da indicação russa, favorecendo o Brasil, que também está à frente do G20 este ano e assumirá a presidência do BRICS em 2025.

Os paísesque fazem parte do BRICS
Os países que fazem parte do BRICS - Reprodução Canva

Dilma Rousseff, que substituiu Marcos Troyjo na liderança do NDB, destacou recentemente a importância do banco em expandir os investimentos nos países do bloco e defender o uso de moedas locais para o financiamento. "É crucial disponibilizar financiamento em moeda local através de plataformas específicas", afirmou durante a última cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia.

A proposta de extensão do mandato ainda precisa ser formalmente aprovada pelos governadores do banco, que representam os países membros. Caso seja confirmada, a continuidade de Dilma reforçará o papel do Brasil no cenário internacional, especialmente no momento em que o país lidera grandes fóruns multilaterais, como o G20 e o BRICS.
 

Criada em 2016, empresa brasileira Ribon intensifica crescimento durante a pandemia; diretor vê maior vontade de ajudar
por
Rafaela Soares
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17/06/2020 - 12h

Nascida em 2016 do desejo de três amigos de montar uma startup, a empresa brasileira Ribon teve um crescimento de cerca de 4 mil usuários semanais em seu aplicativo desde que a pandemia do coronavírus começou a afetar o país.

Inspirada na iniciativa americana ​Tab for a Cause​, o aplicativo Ribon converte o dinheiro da publicidade em “Ribons” dinheiro virtual dando autonomia aos seus usuários para doarem a causas disponíveis no aplicativo, das quais grande parte está ligada a ONGs que combatem a extrema pobreza.

Em entrevista à Agemt, o diretor de design e um dos fundadores da empresa, João Moraes, conta que a Ribon tem cerca de 40 mil usuários mensais, e que acredita que houve um crescimento no uso do aplicativo devido ao momento delicado que vivemos, fator que aumenta a vontade das pessoas de querer ajudar.

No entanto, Moraes afirma que considera a empresa pequena ainda, e que os maiores desafios no momento são melhorar a experiência do usuário no aplicativo e conseguir fechar contratos com mais empresas. Quanto a esse último desafio, o coronavírus tem sido um obstáculo. “Apesar das pessoas estarem mais dispostas a fazer doações, as empresas estão mais conservadoras. Ninguém quer investir”, diz o executivo.

Atualmente, a Ribon tem projetos apoiados por grandes marcas como Rock in Rio, Visa, Malwee e Tetra Pak, o que, na visão de Moraes, aumenta a confiança dos usuários no aplicativo, que arrecada quantias maiores graças ao interesse dessas grandes empresas.

De acordo com o diretor, a Ribon não arrecada recursos somente através da publicidade. É graças a projetos fechados com empresas e grandes doadores que a startup consegue aumentar o valor inicial destinado a alguma causa, viabilizando assim um impacto social que pode ser 50% maior ao que ocorreria se as doações não passassem pela plataforma.

Um exemplo disso foi o projeto realizado com a Tetra Pak neste ano, que tinha interesse em ajudar a ONG Pimp My Carroça, ligada a catadores de material reciclável autônomos do Brasil. Com a causa no aplicativo, o valor final destinado a essa ONG acabará sendo maior do que o pretendido pela Tetra Pak, uma vez que qualquer usuário do aplicativo também pode fazer doações a essa causa, seja através dos Ribons vindos da publicidade ou da compra dessa moeda virtual.

A aquisição de Ribons pode ser feita tanto de maneira avulsa quanto por assinaturas mensais, cujo valor varia conforme o pacote. Segundo Moraes, no entanto, menos de 5% dos usuários optam pela assinatura, o que ele não considera um problema, pois o mais importante é que exista engajamento de quem usa a plataforma. “O propósito do aplicativo é ser uma nova forma de doar, acessível para todos que tenham interesse em ajudar.”

De acordo com Moraes, a empresa tem registrado um crescimento estável, mas ainda insuficiente para permitir o retorno dos investimentos. Por se considerar em um estágio de amadurecimento, a Ribon, por enquanto, limita a divulgação ao boca a boca dos usuários, que falam do aplicativo para amigos e familiares.

Especialista da FGV aponta risco de evasão de alunos mais pobres, que muitas vezes não dispõem de internet em casa
por
Gabriela Reis
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16/06/2020 - 12h
Escolas Vazias (Foto:GovernoDeSãoPaulo)
A pandemia de Covid-19 deixou salas de aula vazias (Foto: Governo de SP)

Além de afetar diretamente a saúde pública e diversos setores da economia, a pandemia do novo coronavírus provocou graves consequências para a educação, impactando não só o calendário das aulas, como também o desempenho de alunos e professores.

Em todo o mundo, 188 países fecharam as instituições educacionais, deixando sem aulas 99,4% dos estudantes do planeta – ou 1,7 bilhão de alunos. Para que o ano letivo não fosse perdido, as escolas e universidades foram forçadas a adotar rapidamente as ferramentas tecnológicas disponíveis, criando conteúdo remoto para os estudantes.

Na América Latina, países como o Uruguai, o Peru e o Chile tomaram medidas efetivas para o avanço da educação virtual. Com a distribuição de equipamentos e medidas para mitigação dos efeitos iniciais da crise, esses países conseguiram orientar professores e alunos para essa nova realidade.

No Brasil, o processo ainda está acontecendo. Em março, o presidente Jair Bolsonaro publicou uma medida provisória que dispensa as instituições de ensino a cumprirem o mínimo de 200 dias letivos exigidos por lei, desde que mantidas as 800 horas mínimas de aula.

Mas o desafio de uma educação de qualidade no país vem muito antes da pandemia. A precarização da educação tem estado em pauta nos últimos anos na sociedade brasileira. Com a ausência de políticas públicas, além da glorificação da educação privada, nos últimos quatro anos o Brasil reduziu em 56% os investimentos públicos no setor.

"Investimento em educação é estratégico. Nenhum país do mundo mudou sua trajetória de crescimento ao longo dos anos sem investir em educação, ciência e tecnologia”, diz Priscilla de Albuquerque Tavares, professora de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EESP) e pesquisadora na área de economia da educação.

Segundo Priscilla, o investimento público em educação não deve se preocupar apenas em aumentar o volume de recursos e colocar mais pessoas no sistema educacional, mas também em ampliar vagas em áreas mais produtivas e, principalmente, zelar pela qualidade do aprendizado.

A economista destaca os baixos resultados no Brasil nos rankings de avaliações internacionais, como os do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que analisam o desempenho escolar de alunos de 15 anos.

Entre os 79 países analisados na edição mais recente, o país ocupa quase o final da tabela, atingindo entre o 58º e o 60º lugar em leitura, o 66º e o 68º em ciências e o 72º e o 74º em matemática, de acordo com a margem de erro. “Há muitas razões que explicam a baixa qualidade, desde o investimento e os desafios de gestão até a formação e valorização do professor”, afirma Priscilla.

Enquanto as escolas privadas estão rapidamente se adaptando às novas tecnologias, para os 38,7 milhões de estudantes da rede de ensino público, essa não é uma realidade. As escolas não têm estrutura para dar a assistência necessária, que inclui alimentação, auxílio de dúvidas, aulas preparatórias para o vestibular e suporte para alunos com deficiência. 

Para a pesquisadora, o ensino remoto é mais que um desafio no Brasil. “As condições de acesso às aulas remotas e mesmo as condições e ambiente do domicílio são variáveis muito relevantes para determinar se os estudantes conseguirão acompanhar as aulas e aprender efetivamente.”

educação à distância (Foto: Agência Brasil)
Alunos e professores tentam se adaptar ao desafio da educação à distância (Foto: Agência Brasil)

 

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) de 2018 mostrou que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet, o equivalente a 46 milhões de brasileiros.

Segundo o levantamento feito pelo coletivo Intervozes, analisando as políticas de ensino à distância implantadas durante a pandemia em 26 estados brasileiros, apenas 15% das secretarias de educação não se baseiam em tecnologias digitais.

Durante o isolamento, apenas 30% das secretarias entregaram materiais impressos e menos de 10% fizeram acordos com as operadoras de telefonia para garantir internet gratuita aos estudantes.

A professora da FGV lembra ainda que a rotina dos estudantes varia de acordo com cada situação. “Muitos residem em domicílios pobres e não possuem estrutura para estudar em casa, como um local calmo e silencioso, precisam ajudar nas tarefas domésticas e cuidados com outros moradores.”

O Enem e o ensino superior

Apesar de a desigualdade nos vestibulares sempre ter existido, agora a situação se complica ainda mais com as inseguranças que o país enfrenta por causa da Covid-19. 

Depois de diversos desentendimentos, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020, que tem como objetivo democratizar o sistema de educação nacional, sofreu adiamento por um período entre 30 e 60 dias.

"Infelizmente, isso não será suficiente", comenta Priscilla, acrescentando que  "em algum momento o exame precisa acontecer, já que é a principal porta de entrada para o ensino superior".

Enquanto o futuro daqueles que sonham com o ensino superior ainda é incerto, quem já vive esse sonho está lidando com os obstáculos. Levantamento feito  pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), junto a  cerca de 200 instituições, mostra que a inadimplência cresceu 71,1% na primeira quinzena de abril, em relação ao mesmo período do ano passado.

“A prioridade dos governos no contexto da pandemia é reduzir os seus danos sobre a educação, evitando a evasão”, afirma a economista. “Será importante um esforço para evitar que os jovens mais pobres não evadam do sistema.”

Na recessão causada pela pandemia, reconversão industrial é alternativa para montadoras continuarem atividades
por
Liliane de Lima
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16/06/2020 - 12h

A falta de equipamentos médico-hospitalares para o enfrentamento da pandemia alterou a dinâmica da indústria em todo o planeta. No Brasil, não foi diferente. Indústrias tiveram que mudar a produção habitual – automóveis, roupas, cosméticos etc. – para ajudar no combate ao coronavírus. A fabricação de respiradores, máscaras, álcool em gel tornou-se primordial. 

A indústria automobilística tem sido uma das protagonistas no processo de reconversão produtiva, também chamado de reconversão industrial. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os produtos médicos começaram a ser produzidos pelas montadoras desde a chegada do vírus no país. 

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioecônomicos (Dieese), no relatório “Reconversão industrial em tempos de Covid-19: o papel dos governos para salvar vidas”, publicado em 13 de maio, destacou a importância da flexibilização produtiva.

De acordo com o Dieese, a reconversão industrial precisa ser rápida para o combate à Covid-19, a partir da adaptação das unidades produtivas de forma emergencial “para a produção de bens ou equipamentos de primeira necessidade temporariamente escassos”. 

Para isso, os ministérios da Economia e da Saúde, em parceria com empresas privadas, desenvolveram o projeto “Mais Manutenção de Respiradores”. A iniciativa foi o ponto de partida para a manutenção de 3,7 milhões de respiradores que estavam paralisados. Destes, 1.100 já foram consertados e reinseridos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos estados mais atingidos, segundo o portal G1

Em São Paulo, Scania, Toyota, Honda e General Motors começaram a consertar respiradores e ventiladores pulmonares danificados ou sem uso. A Peugeot, no Rio de Janeiro, está utilizando impressoras 3D para produzir protetores faciais.

A Ford, no polo de Camaçari (BA), tem produzido máscaras de proteção individual. Já a Mercedes-Benz, em conjunto com o Instituto Mauá de Tecnologia e a Universidade de São Paulo, tem atuado no desenvolvimento de um protótipo de respirador de baixo custo a partir de insumos automotivos. A montadora Volkswagen, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), também tem feito o reparo de equipamentos respiratórios. 

Conserto de placas de respiradores - Foto: G1/Divulgação
Conserto de placas de respiradores - Foto: G1/Divulgação

 

A iniciativa para atender à demanda emergencial por equipamentos médicos está voltada para resultados a curto prazo, de acordo com Roberto Marx, professor do Departamento de Engenharia da Produção da Poli-USP. “Para uma montadora, isso não vai fazer muito sentido a longo prazo”, afirma. 

Para ele, “é possível que a produção local de produtos do setor médico, na prevenção de doenças, especialmente da Covid-19, vire uma parte mais importante do que é hoje na produção industrial brasileira, mas não necessariamente pelas montadoras”. 

A emergência da produção é pontual, segundo Roberto. “O momento é de ajudar no tratamento e combate à pandemia, e, nesse sentido, a indústria automobilística pode ter alguma contribuição, mas não é uma contribuição decisiva.”

Uma nova cadeia produtiva precisaria ser criada para que a manutenção de respiradores continue fazendo parte dos negócios das montadoras no pós-pandemia, diz o especialista. Esta atividade, em sua visão, só será possível se houver a criação de “uma outra operação industrial separada da fabricação de automóveis”. 

Exemplos internacionais

As medidas para a adoção da reconversão industrial no Brasil seguem exemplos internacionais. Reino Unido, Japão, Alemanha, França e Estados Unidos são alguns dos países que adotaram a estratégia para o enfrentamento da Covid-19, na tentativa de suprir a demanda por respiradores, ventiladores pulmonares e EPIs.

O presidente dos EUA, Donald Trump, usou a Lei de Proteção de Defesa, criada em 1950, para determinar a produção de respiradores pela General Motors (GM), por exemplo. No Reino Unido, o primeiro-ministro, Boris Johnson. pediu a paralisação da produção de carros pelas montadoras, dentre elas a Jaguar Land Rover. 

Para o professor Roberto Marx, o país onde está a matriz destas montadoras é essencial para que ocorra a mudança produtiva. “No caso dos Estados Unidos ou da França, onde tem montadoras americanas e francesas (respectivamente), o governo tem mais disponibilidade para atuar”, pontua. 

Consequências pós-Covid

A reconversão produtiva tem sido uma saída para a continuidade das atividades da indústria, que vem diminuído gradativamente sua participação na economia brasileira. “Isso é um cenário que já vem acontecendo há muitos anos, em diferentes governos  e, agora com a pandemia, pode se aprofundar fortemente”, afirma Roberto. 

Respiradores em teste de funcionamento - Foto: Automotive Business/Divulgação)
Respiradores em teste de funcionamento - Foto: Automotive Business/Divulgação)

A tentativa de suprir a demanda atual de produtos para hospitais pode alterar a dinâmica da produção a médio e longo prazos, segundo o relatório do Dieese. A reindustrialização e a diminuição da “dependência de equipamentos e insumos importados, garantindo maior equilíbrio na balança comercial do setor”, são as possíveis consequências da pandemia para a indústria nacional. 

Roberto também observa a possibilidade de aumento da demanda por produtos nacionalizados em alguns setores industriais, com a desvalorização do real em relação à moeda americana. “Toda  vez que o dólar sobe muito, tem mais incentivo para  a produção local e é um espaço que pode ser ocupado pela indústria que sobreviver no Brasil, no pós-Covid”, afirma. 

Para que isto ocorra, Roberto acrescenta que “não adianta uma empresa ou um setor demandar de produtos produzidos no Brasil, que antes eram importados, se não tem uma cadeia de produção adequada e um produto interessante, que seja viável do ponto de vista de custo e de satisfação do cliente”. 

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), na Carta número 995, destaca a necessidade de políticas públicas para evitar os riscos de superprodução ou desperdício futuro. “Os governos podem fornecer previsibilidade aos pedidos e garantias de que itens eventualmente produzidos em excesso farão parte dos estoques nacionais”, afirma a entidade. 

 

Referência mundial no mercado de luxo, comércio da região foge da visibilidade na quarentena
por
Virginia Mencarini
|
16/06/2020 - 12h

Lojistas de todo o Brasil estão sentindo os efeitos do coronavírus e do isolamento social em suas rotinas. Na famosa Rua Oscar Freire, localizada na zona oeste da cidade de São Paulo, os comerciantes estão tirando as roupas dos manequins e cobrindo as vitrines com tapumes e papel pardo. Os motivos são dos mais diversos: medo de vandalismo, prevenção, reposição de estoque on-line e proteção contra luz, fazendo com que a região, já eleita duas vezes como a oitava mais luxuosa do mundo, mudasse totalmente sua requintada estética visual.

          O movimento teria sido iniciado com o fundador e estilista da marca Osklen, Oskar Metsavaht, que ergueu barreiras em sua loja da Oscar Freire após a filial de Ipanema ter sido invadida e saqueada no primeiro dia de abril. Oskar disse não ter sido “nada de mais” e contou: “Não foi crime organizado nem vandalismo; foram dois adultos, possivelmente drogados, que estavam com uma criança, desesperados, talvez procurando abrigo”. A empresa informou que no momento do ocorrido estava sem estoque, que nenhuma mercadoria foi levada e que os artigos expostos na vitrine foram recuperados.

 

Osklen Ipanema vazia e com vitrines quebradas / Foto: Reprodução
Osklen Ipanema vazia e com vitrines quebradas / Foto: Reprodução

 

Na loja de São Paulo restaram apenas bancos, mesas e prateleiras vazias, que antes eram utilizados para a exposição de peças. A assessoria de imprensa da marca explicou para o UOL que o cenário foi consequência de uma realocação das peças para reforçar os estoques do e-commerce e que o caso do Rio de Janeiro foi um fato único e isolado.

Além da Osklen, as marcas Carmen Steffens e CS Club, pertencentes ao mesmo grupo, esvaziaram as vitrines e só deixaram móveis e manequins sem peças. Entre as que cobriram vitrines com papel, estão Jorge Bischoff, Carmim, Copodarte e Carlos Miele. A assessoria de Jorge Bischoff informou à coluna de Paulo Sampaio no UOL que a instalação dos papéis tem como objetivo "proteger os produtos da luz do sol e da iluminação constante”. A empresa disse que a exposição dos produtos à luz, sem que haja uma troca regular de peças, pode causar danos aos materiais utilizados, no caso de bolsas e sapatos.

 

Carmen Steffens sem artigos e manequins sem peças / Foto: Paulo Sampaio
Carmen Steffens sem artigos e manequins sem peças / Foto: Paulo Sampaio

 

Dias depois, a própria Osklen se rendeu aos tapumes para uma maior segurança, assim como pelo menos outras oito marcas. A joalheria H. Stern e as lojas de roupas Rosa Chá, Bobô, Le Lis Blanc, Dudalina e Calvin Klein também instalaram tapumes em suas fachadas. Quem seguiu o mesmo movimento foram as marcas de calçados Schutz e Fiever, e Paola Da Vinci, voltada para crianças e bebês.

 

Instalação de tapumes na Rosa Chá / Foto: Mathilde Missioneiro / Folhapress
Instalação de tapumes na Rosa Chá / Foto: Mathilde Missioneiro / Folhapress

 

Essa tendência de cercar as lojas com tapumes não foi vista apenas em terras brasileiras. Em São Francisco, nos Estados Unidos, a moda dos tapumes também se instaurou, e lojas de grife situadas nas ruas aderiram igualmente a essa medida de segurança.

Em entrevista para a Folha de S. Paulo, Rosangela Lyra, presidente da Associação Comercial dos Jardins e ex-diretora da Dior no Brasil por quase 30 anos, disse que cercar as unidades com tapumes foi uma recomendação da associação. Outra orientação dada aos lojistas era a de que esvaziassem suas vitrines e, para os que pudessem, que retirassem também seus estoques. Lyra acrescentou que, apesar de nenhuma loja ter sido assaltada na Oscar Freire, o objetivo é prevenir que aconteçam saques e invasões, justamente como ocorreu com a Osklen no Rio de Janeiro.

Pensando mais no futuro, existe um movimento comercial a fim de reunir vários lojistas, incluindo marcas da Oscar Freire e algumas do Itaim Bibi, para que se forme um market place de alto padrão. Ainda para a Folha de S. Paulo, Lyra disse que para os tempos do pós-isolamento a perspectiva pode ser positiva, já que, em um primeiro momento, pessoas que costumavam ir mais a shoppings poderão apostar mais no comércio de rua, por conta da preocupação de frequentar locais fechados. “Apelidamos esse momento de NNN, nosso novo normal.”

 

Imagem da home: Osklen Oscar Freire fechada com tapumes / Foto: Mathilde Missioneiro / Folhapress 

Com comércio parado, empresários buscam soluções para não fechar as portas
por
Paulo Modesto
|
15/06/2020 - 12h

Desde o dia 24 de março, está vigorando no estado de São Paulo a medida de combate à pandemia de Covid-19 que determina o fechamento de todo o comércio e serviços não essenciais lojas, bares e restaurantes devem manter suas portas fechadas. Como reação à brusca queda na demanda, microempreendedores estão buscando formas criativas de manter o negócio funcionando e diminuir o prejuízo.

Antes mesmo do sistema de delivery, já muito conhecido, as redes sociais se tornaram a principal arma para impulsionar as vendas. Pelo menos, foi assim que aconteceu com o empresário Douglas Macedo, dono da loja de suplementos esportivos  DSD suplementos, localizada em uma academia na zona sul de São Paulo.

 

Foto promocional retirada do Instagram
​​​​​Foto promocional retirada do Instagram

 

“Usamos o delivery como ferramenta desde o começo, junto com o Instagram e o WhatsApp. A diferença agora é que essas ferramentas passaram a ser o coração do negócio. Mas aquele negócio que não tiver uma boa parcela da clientela ali online, já adaptada a esse ambiente, com certeza terá um prejuízo muito maior”, diz Douglas.

Seu setor foi um dos mais afetados no cenário atual. As academias estão fechadas e grande parte dos treinos suspensos. Mais do que o fechamento da loja em si, o que tem prejudicado Douglas é o rompimento na rotina de treino de seus clientes. Apesar disso, ele tem uma visão otimista para o futuro do seu negócio.

“As academias foram obrigadas a fechar, então automaticamente eu tive que fechar. O que eu mais vejo hoje são pessoas reclamando da falta de academia. Ter um fluxo forte no Instagram vai me ajudar a sobreviver nesse momento e aí, quando isso tudo acabar, é se reerguer rápido e voltar muito mais forte. Depois de fechados, já aumentamos nosso número de seguidores em 30%. As vendas caíram muito, mas o número de clientes aumentou.”

Sem funcionários a pagar, já que o negócio é tocado pessoalmente por Douglas e outros dois sócios, a loja de suplementos esportivos parece que encontrou na publicidade das redes sociais uma forma de investimento minimamente efetiva durante os tempos de crise. Porém, para alguns outros empreendimentos, investir nos deliveries e plataformas online não tem sido suficiente.

Esse é o caso do Regô, um pequeno bar de galpão que serve coquetéis no bairro da República. Gerenciada por Luiz Felipe Mascella, a coquetelaria abriu as portas há pouco mais de oito meses e agora precisou pensar em medidas inventivas para conseguir pagar seus funcionários e não fechar.

“A primeira estratégia foi montar um voucher em um site  chamado abacachi, que  disponibiliza esses vouchers. Você paga agora e consome na reabertura da casa. Eu fiz vários valores: 100, 200, 300, até dois mil reais. Além do consumo, eles [os clientes] ganham uma camiseta, um boné... O de dois mil reais, no caso, disponibilizamos apenas três vouchers. Ele dá direito à pessoa ter um drinque com o nome dela no cardápio, um drinque feito em homenagem a ela”, conta Luiz.

O empresário diz que se inspirou nas medidas tomadas por bares de outros países, que já estavam num grau mais avançado da pandemia, para adaptá-las à cidade de São Paulo.

“Comecei a ver alguns bares da gringa, que já estavam muito mais afetados, que começaram a fazer muito essa pegada de drinks to go. E aí eu peguei essa ideia. Como não estávamos no Rappi, iFood ou nenhum negócio de delivery desses, fizemos um sistema de entrega de dois em dois dias. Então você escolhe se quer passar para pegar ou se quer que a gente vá entregar para você nossa variedade de drinques engarrafados.”

 

Drinks engarrafados
Foto: Paulo Modesto

 

O governo do estado de São Paulo prometeu no início do mês de abril abrir uma linha de crédito especial em parceria com o Banco do Povo e o Sebrae destinada a microempreendedores. Segundo o governador João Doria, o dinheiro já estaria disponível a partir do dia 6 do mesmo mês, totalizando o montante de R$ 650 milhões em auxílio. Tanto Douglas quanto Luiz pretendem recorrer ao crédito, mas os dois afirmam que o dinheiro está indisponível no momento.

O governo prometeu, mas não chegou até agora. Mas pretendo utilizar sim, assim que o governo liberar uma linha de crédito especifica para nós. Até agora peguei uma do Banco do Brasil, que é a melhor que consegui achar. Com esse dinheiro, a primeira coisa [que fiz] foi pagar os funcionários. O resto está guardado. Como a grande maioria dos bares, tenho muitos boletos a pagar”, comenta Luiz.

Os setores da economia vão se adaptando à crise e usando de diversos meios para manterem seus negócios. Apesar da insegurança, os dois empresários se mostram totalmente a favor do isolamento social e do fechamento temporário de seus negócios. Independente de tudo, dinheiro dá para recuperar. Uma vida perdida, não.