Os pequenos e médios empresários têm sofrido dificuldades em se adaptar ao mercado online durante a quarentena. O baixo retorno decorrente das vendas por internet resultam em fortes impactos na vida de alguns trabalhadores desse setor.
Diferentes nichos da área empresarial, sejam os que abriram seu negócio recentemente ou os que já o possuem há anos, sofrem consequências graves causadas pela pandemia. Carla Silva (46) é dona da Casa da Esfiha, restaurante de Guarulhos que funciona há quase 30 anos, e relata que tem esbarrado em alguns problemas durante a inevitável transição para o mercado online - que teve um aumento de 59% durante o isolamento, segundo um levantamento feito pela Rede, empresa de meios de pagamento do Itaú.
O restaurante, que tinha a maior parte do seu lucro proveniente das refeições no local e que direcionava seus pedidos via delivery mais por telefone, entrou para o mundo dos aplicativos. Seus donos, no início, sofreram pela pouca proximidade com essa tecnologia. ‘‘No começo teve bastante problema, mas agora conseguimos nos virar’’. Além disso, Silva conta que já teve experiências com o aplicativo ficar fora do ar por um período e também acredita que as taxas cobradas pelo serviço de entregas são consideravelmente altas.

Apesar de ter criado estratégias de assistência para pequenos restaurantes, como uma comissão que se baseia no valor de cada pedido vendido, o iFood, principal aplicativo de entrega de comidas via internet, cobra por estabelecimento uma taxa que varia de 79 a 100 reais, além de 10% a 15% do valor de cada pedido.
Silva também conta que já teve que demitir alguns funcionários para manter as contas do restaurante em dia e relata que talvez já seja a favor da flexibilização do isolamento social. Apesar de, no início da pandemia, ser a favor das medidas de confinamento, para ela a quarentena já não vêm demonstrando grande eficácia para achatar a curva. No momento (2 de Junho), o Brasil registra 530.770 casos e 30.079 mortes de coronavírus. O diretor de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Michael Ryan, afirmou nesta segunda-feira que o país ainda não chegou no pico da transmissão da doença.
Mariana Fernandes (19) abriu recentemente a M.M. Baker, uma confeitaria artesanal. A ideia era vender os doces nas faculdade, mas com a paralisação das aulas presenciais a estudante decidiu iniciar a empreitada online para, posteriormente, crescer o negócio no estabelecimento. Para ela, são dois os grandes desafios para fazer a confeitaria crescer: ‘‘Os principais desafios na situação da quarentena é que muitos produtos estão ou em falta, ou mais caros. Além disso, a concorrência aumentou muito devido a abertura de novos comércios online durante a pandemia’’.

Fernandes conta que vender seus doces feitos em casa sempre foi uma vontade pessoal e que aproveitou a oportunidade ao perceber uma certa demanda por esse tipo de produto nos últimos meses. De acordo com a jovem, a maioria dos pedidos vêm de pessoas mais próximas e a expectativa era por um retorno maior de forma geral.
Por conta desses problemas com pequenos e médios empresários, alguns setores da população se mobilizam para priorizar as compras com pequenos comércios. João Ponciano (19), conta que vêm tendo preferência a esse tipo de comércio para suprir a sua necessidade ‘‘compulsiva’’ de consumo durante a quarentena. Para ele, o mercado online, apesar das taxas e da demora para a chegada do produto, é muito mais vasto e, por isso, muito mais diverso.
‘‘A variedade é imensamente maior já que é possível comprar produtos independentes completamente novos, específicos e de diversos lugares. Isso permite o aparecimento de novas ideias’’. Ponciano, que antes fazia compras online apenas mensalmente, conta que não compraria em uma loja física uma boa parte dos produtos que vêm comprando via internet, incluindo tintas para cabelo e um colar de pérolas.
É esperado que, numa situação de isolamento social e pandemia, as pessoas fiquem mais suscetíveis a vícios e à saudade de contato físico. Talvez seja por este motivo que muitos paulistanos ainda estão frequentando (ou frequentando ainda mais) os motéis. Durante a quarentena, muitas pessoas não têm privacidade em casa para encontrar sexualmente seus parceiros. Por isso, a rede moteleira de São Paulo não foi tão abalada pela crise da Covid-19.
Ainda que os hotéis estejam enquadrados na lista de serviços essenciais declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), não há consenso sobre a inclusão dos motéis na mesma categoria. É inegável que não são de extrema necessidade para a população. Não há como compará-los a supermercados, farmácias ou mesmo a hotéis. Ainda mais se levado em conta que a quebra do isolamento social é classificada como qualquer encontro físico entre pessoas que não residem juntas. Por isso, os encontros nos motéis podem acarretar uma maior disseminação do vírus. Entretanto, motéis pela cidade inteira ainda funcionam, e seu comportamento em relação à prevenção é variado.
Existem motéis que adotaram diversas medidas preventivas. Localizado no bairro do Ipiranga, o Lush Motel, por exemplo, fechou as portas no começo da pandemia e agora está adotando profilaxias como: intensificação das práticas de higiene com álcool 70%, disponibilização de álcool em gel para hóspedes e funcionários, redução da rotatividade das suítes e proibição de mais de duas pessoas por quarto. No entanto, também existem motéis que não são tão rigorosos e estão abertos até a agendamentos de festas de aniversário.
A Associação Brasileira de Motéis, quando questionada em entrevista para o jornal O Liberal, em abril, afirmou que os motéis são orientados para que cada suíte seja destinada a apenas duas pessoas, e que os motéis com suítes para festas têm seu uso suspenso durante a pandemia. De acordo com a entidade, todos os associados vêm seguindo essas diretrizes. Mesmo assim, não é bem o que parece acontecer pela cidade de São Paulo.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, em abril, uma atendente do Motel Caribe, na Barra Funda, disse: "Como tá tudo fechado por aí, o pessoal tá aproveitando para vir fazer festa". As suítes disponíveis naquele final de semana poderiam acomodar até dez pessoas. O Opium Motel, na Barra Funda, e o Lumini Motel, no Limão, também estavam aceitando aglomerações.
Apesar disso, também há motéis que, quando questionados, negam a possibilidade de aglomeração de pessoas. "Só o casal está sendo permitido. Não entram mais do que duas pessoas", diz a atendente do Adventure Motel.
Uma funcionária do Zapt, localizado na Mooca, afirma: "Somente um casal por suíte". Em relação aos cuidados higiênicos, ela também diz: "Estamos tomando todo o cuidado possível, hóspede só entra com máscara. A gente tem álcool em gel por toda parte do motel e as suítes também estão sendo higienizadas com álcool".
No Adventure Motel, no entanto, as precauções não parecem ser tão severas. "Na verdade, não adotamos nenhuma medida específica, só a limpeza dos quartos que agora está sendo feita com álcool", diz a recepcionista.
Em relação ao movimento de hóspedes, para a maioria dos motéis, foi mais difícil no começo, mas agora a situação parece estar se normalizando.
"No início, o movimento caiu bastante. Agora, já voltou ao que era antes", diz a funcionária do Adventure. No Zapt, a situação é bem semelhante. "Tivemos uma queda no movimento no começo da pandemia, mas agora já está tudo normalizado", diz a atendente.
Mesmo assim, nos dois estabelecimentos não foi preciso adotar nenhuma promoção no valor das suítes ou propaganda para atrair clientes. O sex shop do Adventure, por exemplo, não começou a entregar em casa. E no Zapt, estão funcionando da mesma maneira que funcionavam antes da pandemia.
O Free Love Motel, na zona oeste da cidade, buscou formas de atrair a clientela. "Cansado da quarentena? Brigando muito com seu Amor? Vem pro Free Love Motel! Aqui a balada é a dois. E ainda aproveite promoções exclusivas", lê-se na legenda de uma foto postada no Facebook do motel. Já o Lumini, em seu site, escreve: "Lumini Special Time: tarifas reduzidas", referindo-se à estadia de três horas.
Assim, com as frequentes promoções e o aumento da carência sexual, o paulistano parece desrespeitar cada vez mais a quarentena para frequentar os motéis, apesar de a prática sexual com pessoas que não moram junto aumentar as chances de contaminação de Covid-19. Além da ida frequente aos motéis, os habitantes da grande cidade também furam a quarentena para encontrar amigos e parceiros em suas respectivas casas. Violar as diretrizes propostas pela OMS para transar ou fazer festa é muito comum. É bom saber, no entanto, que, caso um motel receba algum fiscal da Secretaria Municipal e não esteja funcionando de acordo com as diretrizes, fica sujeito a multa e interdição. De acordo com a Prefeitura da Cidade de São Paulo, o objetivo é evitar aglomerações para reduzir o risco de transmissão do coronavírus.
por Laura Pancini

Presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Wikimedia Commons)
Momentos de instabilidade econômica se refletem diretamente na popularidade do presidente. Em dezembro de 2019, a expectativa do ministro da Economia, Paulo Guedes, era que o crescimento do PIB dobrasse em 2020, saltando de 1,2% para 2,4%. Agora, em junho, sabemos que isso está longe de se tornar realidade: o Banco Mundial, por exemplo, já estima uma queda de 8% no PIB brasileiro. Tais previsões não são positivas para o presidente Jair Bolsonaro, que até o final de maio acumulava 40 pedidos de impeachment na Câmara por motivos que vão além do aspecto econômico.
De acordo com pesquisa do Datafolha feita também no fim de maio, 43% da população considera o governo do presidente ruim ou péssimo, com um aumento de cinco pontos percentuais em comparação com abril. Essa mudança de opinião é um destaque entre quem ganha mais de dez salários mínimos, que agora é um dos grupos que mais o rejeitam, com 49% qualificando o governo como ruim ou péssimo. Com isso, o Brasil fica cada vez menos dividido em suas opiniões sobre Bolsonaro, que avançam para o polo negativo.
Já no caso de um impeachment, o país se encontra polarizado: 50% dos entrevistados acham que não deveria acontecer, enquanto 46% defendem o afastamento. A opinião sobre uma possível renúncia do presidente também é dividida. Os protestos que ocorreram no dia 31 de maio são um exemplo concreto dessa desarmonia entre a população: o encontro de manifestantes anti e pró-Bolsonaro na Avenida Paulista desencadeou uma briga entre os dois lados, com presença policial e o uso de bombas de gás lacrimogêneo.
Um processo para tirar um presidente da República do poder precisa, em primeiro lugar, determinar se o mandatário cometeu algum crime de responsabilidade. No caso de Bolsonaro, os pedidos de impeachment apresentam motivos variados, incluindo manifestações antidemocráticas, quebra de decoro, tentativa de interferência na Polícia Federal, posicionamento perante o coronavírus, entre outros. Cabe ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avaliar se houve mesmo algum crime cometido por Bolsonaro, mas o parlamentar tem afirmado que não seria ideal prosseguir com um processo no momento.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), acredita que é impossível uma saída sustentada da crise enquanto Bolsonaro estiver na Presidência. Unindo-se ao PCdoB, PSOL, PCB, PCO, PSTU e UP, além do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Articulação dos Povos Indígenas, o PT entregou no final de maio um pedido que tenta ser o mais amplo de todos os protocolados até então. Além disso, o partido pretende aprovar uma emenda constitucional determinando eleições diretas após o impeachment, para evitar que o vice-presidente, Hamilton Mourão, assuma o cargo. “Bolsonaro não tem capacidade ou condições políticas, administrativas nem humanas de governar o Brasil”, afirmou Hoffmann em entrevista à Agência Pública.
O ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL), que renunciou após ameaças de um possível impeachment no início dos anos 90, afirma que não gostaria que o presidente Bolsonaro passasse pelo mesmo, para evitar uma comoção no país. Apesar de ter votado a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, ele afirmou: “Quando falo de impeachment, sou contrário. Esse processo foi vulgarizado, pelo que ocorreu comigo e com a presidente Dilma”.
O futuro político e social do Brasil é inconclusivo, mas economistas já tentam prever o que pode acontecer caso Bolsonaro seja afastado. Muitos acreditam que as chances de um processo seguir são remotas, mas, de acordo com o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, tal acontecimento já está no radar do mercado financeiro. “Não dá para descartar uma queda de 7% a 8% do PIB este ano, assim como o dólar a R$ 6, especialmente se houver a saída de outros ministros”, disse Vale, em entrevista a O Estado de S.Paulo, pouco depois da demissão de Sérgio Moro da pasta de Justiça e Segurança Pública.
Em abril, Paulo Guedes admitiu que o PIB brasileiro deve cair 4% caso a crise do coronavírus se estenda após julho. Com mais de 1 milhão de casos confirmados, 50 mil mortes, taxas de isolamento social abaixo da média e a postura antiquarentena do presidente Bolsonaro, a esperança de que o Brasil supere o coronavírus e não enfrente provavelmente sua maior recessão é baixa.
José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, diz que os preços dos ativos financeiros, como as ações e o dólar, por enquanto não demonstram uma aposta no afastamento do presidente. “A eventual abertura de um processo de impeachment de Bolsonaro não está na conta do mercado”, afirma ele. “O presidente tem se comportado em função do otimismo global, com a abertura das economias a partir do esperado recuo da pandemia. É um comportamento persistente e que preocupa.”
Na visão de Gonçalves, um processo de impeachment eleva drasticamente a incerteza e, portanto, afetaria os preços dos ativos e acirraria a volatilidade. “A bolsa voltaria a andar para os 60 mil pontos e o dólar iria para R$ 6,00”, prevê o economista. “Isso dificultaria que famílias e empresas decidissem por consumir e produzir, o que leva ao prolongamento e aprofundamento da recessão a partir de um nível já muito ruim.”
Já para o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC), o impeachment teria um impacto positivo. Em entrevista ao Estadão, ele afirmou que, com o avanço do impeachment, o mercado consideraria isso no preço dos ativos e, consequentemente, haveria uma melhora na economia e na confiança da população. “A gente já viu esse filme no passado”, afirmou Schwartsman.
Diferente de outros segmentos, como comércio, indústria e serviços, que sofreram um forte recuo, o agronegócio é o setor menos impactado pela crise econômica provocada pela pandemia.
Apesar de o PIB (Produto Interno Bruto) ter apresentado retração de 1,5% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2019, o PIB do setor agropecuário deve ter alta de 2,4% em 2020, segundo previsão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Esta projeção se refere apenas ao setor primário, que representa em torno de 5,2% do PIB brasileiro. Se considerado, no entanto, o agronegócio como um todo – ou seja, englobando também os segmentos da indústria e serviços ligados à atividade –, a participação no PIB sobe para 21%.
O consultor e professor de economia da FMU Marcos Henrique do Espírito Santo diz que, diferentemente de outros setores, o agronegócio não costuma ser tão afetado pela queda da demanda em momentos de recessão. “O agronegócio produz basicamente commodities, bens de menor valor agregado, e boa parte desses bens é alimento, portanto, é algo que o mundo não deixa de comprar”, diz Espírito Santo.
O IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística) e a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projetam um novo recorde para a safra 2019/20: a estimativa para a produção de grãos é de 250,9 milhões de toneladas, volume 3,6% maior do que o colhido em 2018/2019.
Outro fator que, segundo Espírito Santo, deixa o agronegócio numa situação mais favorável é a alta demanda de soja por parte da China, após a estagnação ocorrida no primeiro trimestre em função da Covid-19. “Hoje, o Brasil é o maior produtor de soja no mundo. Ano passado, a China comprou quase 80% da nossa soja e isso vem subindo em uma constante. Após essa estagnação, ela voltou com muita ‘sede’ de consumo e está demandando mais”, diz ele.
As exportações do setor somaram US$ 96,8 bilhões em 2019, o equivalente a 43,2% do total exportado pelo Brasil, segundo a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em maio deste ano, esta participação atingiu 60,9%, graças ao aumento de 36,1% no volume de exportações da agropecuária. Esta alta foi fundamental para que as exportações brasileiras como um todo crescessem 5,6% no mês, também em termos de volume.
“O bom desempenho exportador do agronegócio tem compensado o recuo observado para as exportações de produtos industrializados, conferindo resiliência ao setor exportador nacional e contribuindo para uma queda menos acentuada da atividade doméstica, em um contexto de queda progressiva do PIB global”, afirmou o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, em nota divulgada com os resultados.
O diretor industrial da JBS Renato Prates conta que os frigoríficos estão acompanhando uma tendência crescente do agronegócio a nível internacional, principalmente em relação à China, que é uma grande cliente do Brasil por importar diversas commodities. Ele explica que, no começo da pandemia, alguns dos contratos com o país asiático ficaram prejudicados, mas que os frigoríficos agora estão vendo um fluxo positivo de demanda.
“Segundo alguns contatos no país, se ouve falar que o próprio governo está incentivando a compra de produtos de primeira necessidade [alimento], porque eles temem que possa ocorrer uma segunda onda do surto do coronavírus”, relata o diretor.
Com o aumento da tensão entre Estados Unidos e China pela pandemia e demais fatores, Prates comenta como o setor agropecuário pode se beneficiar. “Com a retaliação de Donald Trump sobre a China, é provável que a demanda pela carne brasileira seja ainda mais potencializada em comparação à carne americana, dado que os chineses vão preferir comprar do Mercosul.”
A taxa de desemprego disparou depois da adoção de medidas de isolamento para enfrentar a pandemia de Covid-19. No Brasil, a taxa de desemprego atingiu a marca de 12,9% no trimestre encerrado em maio, um aumento de 1,2 ponto percentual em comparação ao trimestre anterior (dezembro a fevereiro), segundo o IBGE. O número de desempregados chegou a 12,7 milhões, com o acréscimo de 368 mil brasileiros à procura de trabalho, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
As projeções para este ano são de forte queda no nível de atividade econômica, além de contínuo aumento na taxa de desemprego. De acordo com pesquisa feita pelo Ibre/FGV a pedido do Estadão/Broadcast, as empresas preveem mais demissões nos próximos três meses. A indústria de vestuários e acessórios e a indústria têxtil pretendem reduzir mais de 80% e 60% o quadro de funcionários, respectivamente.
A expectativa é que essa situação seja revertida no longo prazo, quando empresários devem começar a planejar contratar, ao invés de demitir. Em entrevista à Agemt, o economista e coordenador da Sondagem do Comércio e Investimentos do Ibre/FGV, Rodolpho Guedon Tobler, comentou que a taxa de desemprego, por não considerar as pessoas que não procuraram uma vaga na semana de referência da pesquisa, não é a melhor métrica para observar as consequências da pandemia no mercado de trabalho. “Os primeiros resultados já mostram um impacto”, afirmou.
O economista destacou a queda recorde do número de pessoas ocupadas no trimestre encerrado em abril – um recuo de 5,2% em relação aos três meses encerrados em março. "Ao longo do ano, apesar de toda a incerteza, já existem previsões de 18% na taxa média de 2020", disse Tobler. Em 2019, a taxa média de desemprego foi de 11,9%.
O emprego vai se recuperar mais lentamente em relação à atividade econômica. As empresas levarão um tempo para se reerguer e, até que isso aconteça, a previsão é de que haja mais demissões com o objetivo de reduzir custos. Na avaliação de Tobler, a taxa de desemprego deve se recuperar ainda este ano, dependendo, no entanto, dos desdobramentos da pandemia de Covid-19. Ele afirma que, ao patamar de 11%, o indicador só deve retornar após 2021.
Até que haja uma melhora no cenário econômico, contratações não são uma opção, já que as empresas tentam conter gastos e encontrar maneiras de superar a crise, que deixará sequelas nos próximos anos.

Em meio à instabilidade, o desemprego também está impactando a renda per capita. Segundo levantamento da empresa de pesquisa Plano CDE, 51% dos brasileiros das classes D e E, que possuem renda per capita de até R$ 500, perderam metade ou até mais de suas rendas durante a pandemia.
Essas classes, em sua grande maioria, são compostas por trabalhadores informais, muito afetados pelas medidas de isolamento. Com isso, muito deles ficaram desempregados e, em consequência disso, acabaram por aceitar empregos com salários inferiores. Ao contrário dessa situação, nos postos de trabalho com carteira assinada, há um "conforto" maior, que permite passar por um período de crise com um pouco mais de tranquilidade. Um exemplo disso é a MP 936, que permite a suspensão de contratos e redução de salários, como uma tentativa para evitar demissões em grande escala.
Tobler diz que a queda da renda deve se manter no médio prazo. "A tendência é de que os rendimentos fiquem um pouco abaixo, à medida que houver algum sinal de recuperação da atividade econômica, com um número excessivo de trabalhadores desocupados, espera-se que haja algum movimento de redução salarial."
Diante desse cenário, a incerteza prevalece. As taxas de desemprego e a retração da economia acompanham a pandemia, que determinará as ações e medidas econômicas a serem tomadas. O mercado de trabalho sofrerá mudanças, e as empresas que conseguirem passar por essa crise terão que se reinventar e buscar novos jeitos de atender o público e a demanda. "A economia vai se recuperar em relação ao momento atual, com certeza, mas voltar ao nível pré-pandemia vai demorar mais de dois anos", afirmou o economista da FGV Daniel Duque ao jornal O Estado de S.Paulo.