Indicador registrou crescimento da economia brasileira de 0,3% no segundo trimestre de 2025
por
Marcelo Barbosa
|
20/08/2025 - 12h


O Banco Central (BC) divulgou nesta segunda-feira (18) os dados do IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil) referentes ao mês de junho. Os números mostraram uma queda de 0,1% em relação a maio, mas o resultado do segundo trimestre de 2025 se manteve positivo, com um crescimento de 0,3%. O IBC-BR é um dos indicadores oficiais da economia brasileira. Ele faz uma estimativa de crescimento levando em conta três setores: agropecuária, indústria e serviços. O índice foi criado para trazer números frequentes sobre a atividade econômica do Brasil e tem influência sobre as decisões financeiras do país, servindo de auxílio para políticas monetárias, como a taxa de juros (Selic).

Por exemplo, quando a taxa de juros está em patamares elevados, isso reduz a atividade econômica, o que se reflete nos números do indicador. Por isso, atualmente, ele é lido pelo mercado como a "prévia do PIB".

 
 

Fachada do Banco Central do Brasil em Brasília — Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
IBC-BR: agropecuária, indústria e serviços tem leve alta no segundo trimestre de 2025 (Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)

 

 

Retração da economia

Após quatro meses seguidos de bons resultados, maio registrou a primeira retração do ano, de 0,7% em relação a abril. Em junho, a queda foi de 0,1%. De acordo com o professor de economia Renan Silva, do IBMEC Brasília, "a alta deu-se devido à Selic, que chegou ao patamar de 15%”. Ele explicou que "o que corrobora para essa questão da taxa de juros restritiva é o fato de que os indicadores de inflação vêm arrefecendo. No último relatório Focus, do Banco Central, o IPCA já registra uma inflação, em 2025, de 4,95%, ante os 5,30%, que as projeções vinham indicando”.

 

Os dados oficiais do Banco Central confirmam que a agropecuária foi o principal fator para a retração no trimestre, com uma diminuição de 3,1% no período. Por outro lado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o destaque de junho foi o aumento de 0,3% no volume do setor de serviços. A produção industrial teve um recuo de 0,1% no mês, e as vendas no varejo também frustraram as expectativas, recuando 0,1% em comparação a maio. Sob a óptica do professor, o tarifaço de Donald Trump pode trazer efeitos adversos e "provocar uma redução intensa no segundo semestre”.

 

Nos últimos 12 meses, os números ficaram em 3,9%, o que representa uma desaceleração em face ao mesmo período, que marcou uma alta de 4,04%.

 

Para o futuro, Silva acredita que a retração na atividade econômica pode influenciar o COPOM (Comitê de Política Monetária) - órgão responsável por estabelecer as diretrizes da política monetária - a iniciar um novo ciclo na queda dos juros. "Esse ciclo restritivo já teve efeito, o que gerou como resultado a redução na atividade econômica”, conclui. A retração de 0,6% no terceiro trimestre de 2023 havia sido a última queda do indicador antes dos recuos registrados neste ano.

Alimentação e bebidas têm deflação em relação ao mês anterior, enquanto habitação sofreu alta devido ao aumento da conta de luz
por
Marcelo Barbosa P.
|
13/08/2025 - 12h

O IBGE divulgou nesta terça-feira (12) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do país. Os dados apontam que houve um aumento de 0,26% no mês de julho, uma leve alta em comparação com a taxa de 0,24% registrada em junho. No ano, o IPCA já acumula desaceleração de 3,26% e, nos últimos 12 meses, de 5,23%.

De acordo com o gestor de investimentos e especialista financeiro da WFlow, Guilherme Viveiros, a inflação surpreendeu positivamente. "O índice deste mês veio com o valor de 0,26%, enquanto o mercado via uma elevação de 0,36%". O mês de agosto também deve apresentar queda, com índices negativos o que, segundo Viveiros, "fez com que o mercado começasse a sondar uma possível queda dos juros ainda em 2025".

Entre os setores da economia que apresentaram deflação, ou seja, queda de preços, estão o grupo Alimentação e bebidas (-0,27%), Vestuário (-0,54%) e Comunicação (-0,09%). Em contrapartida, entre os maiores destaques da alta estão os grupos Habitação (0,91%) e Despesas Pessoais (0,76%). A alta do grupo Habitação foi impulsionada pela energia elétrica residencial, com variação de 3,04% - o maior impacto individual no índice do mês. Esse número se deve ao fato de que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) confirmou a bandeira tarifária de agosto, que será a Vermelha patamar 2, a mais cara do sistema. Como consequência disso, haverá um acréscimo de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos na conta de luz.

O grupo Transportes também teve aceleração, passando de 0,27% em junho para 0,35% em julho, impulsionado pela alta de 19,92% nas passagens aéreas. Por outro lado, os combustíveis tiveram uma queda de 0,64% no mês, com recuos no preço do etanol (-1,68%), do óleo diesel (-0,59%), da gasolina (-0,51%) e do gás veicular (-0,14%).

 Já o grupo Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no IPCA, registrou baixa pelo segundo mês consecutivo. A queda em julho foi impulsionada pela alimentação no domicílio, que caiu 0,69% com destaque para redução nos preços da batata-inglesa (-20,27%), da cebola (-13,26%) e do arroz (-2,89%).

 

Reprodução: Tânia Rego/Agência Brasil | Pessoas andando em um mercado
Reprodução: Tânia Rêgo| Pessoas escolhem frutas em um mercado


Rafael Prado, economista e analista de macroeconomia da Go Associados, chama a atenção para o fato de que o valor da inflação deste mês ainda é elevado em relação à meta de 4,5% ao ano. Segundo ele, o resultado deste mês é prova de que a política monetária pode atuar de maneira enfática nos dados. "Quando nós olhamos para os números desagregados do IPCA, vemos que existem grupos, como Habitação que foi impactado pela energia elétrica, que influenciaram para o aumento de julho". Para ele, isso ressalta a importância de "continuar com uma política monetária restritiva, para que a inflação continue caindo e volte ao intervalo de tolerância."

Já o professor de economia João Gabriel Araújo, do Ibmec Brasília, destaca o efeito Trump na economia brasileira. Segundo ele, a guerra tarifária vai ser um dos fatores determinantes para a queda dos preços no Brasil. "Com o anúncio das medidas para o Brasil, especialmente a tarifa de 50% sobre as importações, os produtores nacionais aumentaram os estoques para o mercado interno, reflexo da diminuição das exportações para os Estados Unidos antes da implementação da tarifa e do consequente aumento da oferta de bens no mercado doméstico".

O cálculo do IPCA foi realizado a partir da comparação dos preços coletados entre 1 e 30 de julho de 2025 com os preços vigentes entre 30 de maio e 30 de junho de 2025. O IPCA abrange famílias com rendimento monetário de 1 a 40 salários-mínimos. Já o INPC, que considera famílias com rendimento de 1 a 5 salários-mínimos, teve alta de 0,21% em julho, com acumulado de 3,30% no ano.

A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
|
24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
|
10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
|
12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Negociações com centrão e aceno a propostas de teor desenvolvimentista podem levar à perda do último pilar eleitoral de Bolsonaro
por
Fabrício Indrigo
|
29/06/2020 - 12h
Paulo Guedes

                                                                 Ministro Paulo Guedes em reunião ministerial (Foto: Adriano Macho/Reuters)

A última saída de um ministro do governo Bolsonaro foi a de Abraham Weintraub, que era responsável pela pasta da Educação. Sua saída é mais uma das várias que aconteceram. A primeira foi a de Gustavo  Bebianno, que morreu em março deste ano. Ex-ministro da Secretaria-Geral, ele deixou o cargo em 18 de fevereiro do ano passado. De lá para cá, nove mudanças ocorreram, inclusive a demissão de um dos principais nomes desse governo: Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública).

Somente neste ano, Bolsonaro já passou por três crises ministeriais. Enquanto o Brasil enfrenta a pior crise sanitária e econômica de sua história, o governo insiste em criar ainda mais rixas contra seus adversários políticos. A famigerada “governabilidade” está tão complicada que Bolsonaro, que em campanha afirmava jamais negociar com o sistema, agora se vê sem alternativas e, numa verdadeira ginástica mental, fala que isso nunca foi dito. Essa aproximação com o centrão, que detém diversos nomes ligados aos piores casos de corrupção que esse país já viu e se mostra tão contrário à agenda reformista do Ministério da Economia, promete  balançar o casamento, como o próprio presidente gosta de classificar, entre ele e o último pilar da época de campanha, o ministro Paulo Guedes.

Apesar de os líderes de partidos como DEM, MDB, Podemos, entre outros, elogiarem as tentativas de reforma por parte de Guedes, na prática têm atitudes extremamente opostas. Partidos de centro sempre foram os que mais gastaram o dinheiro do contribuinte, seja com Fundão, com auxílios, ou qualquer outra farra com o dinheiro público que a legislação permita. Um exemplo clássico foi a resistência dos políticos em votar a reforma da Previdência, que só foi possível após a liberação das emendas parlamentares.

A velha política, classificada por Bolsonaro e seus aliados como principal inimigo da nação, de uma hora para outra virou a principal aliada para sua continuidade no poder. Nomes como Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto, que foram indiciados em escândalos de corrupção do Mensalão ainda no governo Lula, são os líderes dessa parte do Legislativo em Brasília. O presidente sabe que a única forma de manter o apoio é a liberação de dinheiro, e isso desagrada muito Guedes.

Mais recentemente foi apresentado pelo general Braga Neto o programa desenvolvimentista Pró-Brasil, sem o aval ou sequer a participação de Paulo Guedes em seu desenvolvimento. Essa atitude caiu como uma luva para os partidos de centro. Isso porque o plano exclui o teto de gasto e seria mais uma forma de conseguir capital público. Cada vez mais Guedes perde força dentro do governo e isso pode atrapalhar muito os planos de Bolsonaro.

O professor de economia da PUC-SP Claudemir Galvani explica que a eventual saída do ministro da Economia desgastaria ainda mais o atual governo, uma vez que Guedes é um dos quadros respeitados deste limitado ministério. Além dele, somente o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, é considerado competente e com currículo para o cargo. Desta forma, Bolsonaro ficaria só com os amigos na sua equipe e somente teria apoio dos 25% de brasileiros classificados por ele como jihadistas.

Além do desgaste com o eleitorado, Bolsonaro perderia popularidade dentro do mercado financeiro. André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, conta que a saída do ministro colocaria um ponto final na agenda liberal do governo, o que faria os preços dos ativos caírem fortemente, e pioraria ainda mais o ambiente de negócios brasileiro. Ele ainda fala que a curto prazo a economia não seria tão impactada, contudo, em longo prazo a situação seria desafiadora, com uma queda da bolsa bastante importante.

As próximas semanas em território tupiniquim serão intensas. O número de casos de Covid-19 não parece diminuir, o número de desempregados e empresas encerrando atividades só cresce. Enquanto isso, em Brasília, o governo parece mais preocupado com a reeleição em 2022 e o presidente parece não se importar com o povo que o elegeu.

Para Mariana Jansen, professora da PUC-SP, e Rafael Bianchini, da FGV, cenário exige outras prioridades do governo
por
Beatriz Leite
|
29/06/2020 - 12h

Diante da pandemia do novo coronavírus, com empregos sendo perdidos, emergências na saúde e necessidade de investimentos em proteção social, o governo federal continua defendendo que o ajuste fiscal é sua principal pauta. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2020, período em que o país ainda não tinha sido totalmente afetado pela crise sanitária – já que o isolamento social começou a ser adotado a partir da segunda quinzena de março –, apresentou queda de 1,5% em relação ao trimestre anterior.

Em maio, foi aprovada a chamada “PEC do Orçamento de Guerra”, que dá ao governo mais flexibilidade para gastar recursos no combate à pandemia do novo coronavírus, enquanto o decreto do estado de calamidade pública durar. Mas, de acordo com Rafael Bianchini, doutor em direito comercial e professor da FGV Law, quando acabar a calamidade pública do ponto de vista sanitário, haverá ainda a calamidade pública do ponto de vista econômico: “Eu acho que a calamidade econômica de pessoas sem emprego vai marcar muito mais a economia brasileira do que as mortes da Covid-19”.

            O debate sobre o ajuste fiscal brasileiro é antigo e tem dois principais aspectos: um estrutural e outro conjuntural. O primeiro ocorre devido ao modelo de desenvolvimento industrial adotado pelo país entre as décadas de 1930 e 1970, quando a dívida pública aumentou muito. Já o conjuntural passou a ocorrer a partir de 1980, quando o ritmo de crescimento do país desacelerou. A partir de 1994, com o Plano Real, tornou-se uma das principais pautas do governo.

            Esse plano nunca deixou de ser discutido, mas teve um marco no governo de Michel Temer, quando foi aprovada a Emenda Constitucional 95, que propõe congelar por 20 anos o aumento dos gastos públicos.

O ajuste fiscal é a principal bandeira dos economistas neoliberais, como os que formam a atual equipe do Ministério da Economia, para “consertar” as contas públicas brasileiras. Mariana Jansen, doutora em economia, professora e coordenadora do curso de especialização em economia urbana e gestão pública da PUC-SP, acredita que, se permanecer essa visão restrita em relação à questão fiscal na atual conjuntura, a crise gerada pela pandemia pode acabar se aprofundando.

            Segundo os economistas neoliberais, que defendem o livre mercado, sem interferências do Estado, quando há excesso de gastos por parte do governo e ocorre um déficit fiscal, o Estado tende a aumentar a arrecadação através de impostos para financiar seus gastos. Isso gera um maior custo ao setor produtivo, ampliando o chamado “custo Brasil”. Outro argumento é que o aumento do gasto faz a dívida pública crescer, elevando os indicadores de percepção de risco dos investidores internacionais com relação à economia brasileira, entre eles o risco-país.  

            Porém, Jansen replica dizendo que há outras formas de aumentar a arrecadação pública, que não passam pelo aumento da tributação. Quanto ao risco- país, a relação dívida pública/ PIB não é o único indicador. Ele é um dentre vários outros. Além disso, a professora deixa claro que “grande parte dos recursos [estrangeiros] que entraram na nossa economia não entraram no setor produtivo. Eles entraram no mercado financeiro”.

            Já Bianchini considera que é importante haver um ajuste fiscal estrutural para a adoção de políticas anticíclicas, ou seja, em momentos que seja necessário gastar mais, o Estado possa fazer isso. Outro problema ainda é o alto gasto com pessoal feito pelos estados e a Previdência. O Brasil não é um país rico e nem um país tão velho como aqueles que têm previdência semelhante à nossa, tornando as despesas muito regressivas. O economista lembra também que um Estado cronicamente deficitário se endivida mais por conta dos juros que continuam aumentando. Porém, pondera que, no momento atual, o ajuste fiscal não deve ser o foco: “Mesmo eu, que sou favorável a um ajuste estrutural, considero essa questão secundária na atual conjuntura. Para fazer um ajuste estrutural a gente precisa viver”.

            No início de junho, após muita resistência, o governo aprovou estender por mais tempo o auxílio emergencial, inicialmente de três parcelas de R$ 600. Mas ainda não está definido até quando, qual o valor e se o grupo contemplado pelo benefício será ampliado.

Devido ao enorme crescimento da taxa de desocupação, que no trimestre encerrado em abril chegou a 12,6% da população (sem contar aqueles que tiveram contratos suspensos e redução salarial), uma renda que contemple pelo menos o básico para sobreviver é muito necessária.

Segundo a professora da PUC-SP, a lógica da equipe econômica, que se espalha para diversos setores da população, é que é necessário reabrir o país porque as pessoas precisam de emprego e não de caridade.

O professor da FGV ainda aponta que um ponto crucial para a prorrogação do auxílio é a sobrevivência do próprio governo: “É uma questão que, se os governantes não fizerem isso, eu não tenho dúvida, eles vão cair”.

Sem clientela, autônomos recorrem a negociações de atendimento e entrega de serviços para sobreviver
por
Luana Coggo
|
29/06/2020 - 12h

Os desdobramentos da pandemia do coronavírus chegaram à economia de forma brusca e inesperada, deixando empresários e trabalhadores em situação de extrema incerteza. Para as pessoas que já trabalhavam por conta própria, como profissionais autônomos da área de estética e beleza, a crise tem desencadeado problemas financeiros ainda mais graves e complexos. Sem poder atender a domicílio, receber clientes e garantir renda fixa, os trabalhadores informais estão se desdobrando para ganhar dinheiro e se sustentar durante a crise.

Dentre algumas manobras adotadas por essas pessoas estão a negociação de novas datas e o pagamento antecipado. Os autônomos estão reduzindo o preço de seus serviços – anunciando combos e promoções a serem pagos agora e usufruídos após o término da quarentena. Assim, a clientela paga um preço menor pelo mesmo serviço, e o trabalhador garante alguma renda. Além dessas negociações, muitos estão procurando ganhar dinheiro de outras formas. Lucimara dos Santos, manicure que atende a domicílio há mais de 10 anos, tem sentido na pele os efeitos da crise: “No começo eu até estava atendendo algumas clientes. Ia de máscara e luva, tomava todos os cuidados possíveis, mas depois que meu vizinho morreu de Covid eu percebi que estava arriscado demais e parei”.

Mãe solteira de dois filhos, Lucimara recorreu ao auxílio emergencial, mas sua solicitação está em análise há mais de um mês. Enquanto aguarda pela aprovação, a manicure tem feito marmitas e bolos de pote para vender. Sem carro, ela entrega a pé na vizinhança e oferece desconto para os clientes que retiram os produtos em sua casa.

Luís Pereira, cabeleireiro há mais de 25 anos, compartilha da mesma realidade. Luís montou seu próprio salão na garagem de casa, mas desde o início da quarentena não tem recebido clientes. Diferente de Lucimara, não atendia aos pré-requisitos para solicitar o auxílio emergencial, e está dia a dia buscando formas de garantir o sustento. Luís tem usado as redes sociais para divulgar muitas promoções de corte, hidratação e escova a preços baixos para clientes que pagarem durante os meses de isolamento. “Nós, que dependemos de nós mesmos, estamos tendo que nos virar agora. Não posso fazer a única coisa que me dá sustento e não consigo ajuda do governo.”

Seguindo conselho de sua filha Mariana, de 15 anos, o cabeleireiro também tem anunciado videoaulas ao preço de R$ 20 para clientes que desejam aprender a cortar e tingir o próprio cabelo em casa. Essa estratégia, segundo Luís, tem funcionado muito bem: “Minhas clientes estão enlouquecendo em casa; muitas disseram estar se sentindo como um bicho, com cabelos ressecados, sem corte, brancos... É uma via de mão dupla que ameniza as angústias de ambos os lados, meu e delas”.

Assim como Lucimara e Luís, mais de 35 milhões de brasileiros trabalham hoje na informalidade, com empregos sem carteira assinada (11,5 milhões) ou por conta própria (23,5 milhões). Esses trabalhadores, em um momento de crise como este, veem-se encurralados e, muitas vezes sem saída, arriscam-se para escapar da fome e pagar as dívidas. Ficar em casa quando o sustento é dado dia a dia  na rua não é uma opção para estas pessoas, e o auxílio emergencial de R$ 600 oferecido pelo governo não consegue contemplar a maioria desse setor, o que agrava ainda mais a situação.

Apesar das manobras e estratégias para segurar a clientela, muitos trabalhadores estão enfrentando necessidades básicas de sobrevivência. Letícia Lima, estudante de 16 anos, relatou que em Pirituba, bairro em que reside, os moradores se reuniram para fazer uma vaquinha e auxiliar na compra de cestas básicas para os funcionários de um salão de beleza que atende a maioria dos moradores da região. Fechado desde o começo da quarentena, o salão está sem faturar nada e a proprietária não está pagando os salários dos funcionários.

Fonte: Yahoo
Fonte: Yahoo

O grande desafio é projetar como será o futuro desses trabalhadores. Com mais pessoas desempregadas em outros setores, o ramo da estética tende a agregar esses profissionais pela disponibilidade de opções e cursos profissionalizantes. Entretanto, este é um setor que exige contato próximo entre profissional e cliente. Seja manicure, pedicure, cabeleireiro, esteticista, massagista,  todos precisam de interação corpo a corpo, o que tem sido um dos grandes dilemas do mundo pós-coronavírus. A tendência é que cada vez mais esses profissionais tenham desafios pela frente – seja pela instabilidade, que neste momento mostrou suas reais consequências,  ou até mesmo pela diminuição da clientela, que em grande parte tem aprendido a se virar sozinha e realizar cuidados estéticos com as próprias mãos. Essas pessoas, além de economizarem dinheiro, aprendem novos dons e descobrem novos hobbies – desde se autodepilar até fazer desenhos nas unhas do pé. No meio de todas essas transformações, os profissionais de beleza torcem por uma retomada próxima e vitoriosa. “Espero poder olhar para minha agenda, que agora está vazia, e ver muitos nomes de minhas clientes agendados. Quero poder voltar a fazer o que amo e me sentir independente de novo”, diz Lucimara.

 

 

 

 

Segundo consultor, clientes estão mais atentos a atitudes de marcas na pandemia; Chanel é criticada por reajuste de até 25%
por
Vittória Burattini
|
28/06/2020 - 12h

Em uma sociedade, seja antes da globalização ou atualmente, a moda sempre esteve presente entre a população. A forma de se vestir está diretamente relacionada com a cultura e os acontecimentos históricos. Por isso, não é uma surpresa a indústria fashion passar por mudanças e se reinventar, durante a pandemia de Covid-19, em 2020. 

Por conta da modificação de hábitos determinada pelo vírus, a população está mais focada em gastar seu dinheiro com coisas realmente necessárias, como alimentos e saúde, desmotivando o consumo de produtos não tão essenciais, como bolsas, joias e roupas de luxo. Com essa alteração nos costumes, a indústria da moda, principalmente a moda de luxo, se viu em desvantagem e, consequentemente, em crise. 

De acordo com as pesquisas da consultoria de administração americana Bain & Company, nos primeiros seis meses de 2020, o mercado de luxo sofrerá uma queda de 25% a 30% nas vendas. O primeiro impacto das marcas de luxo foi no começo da pandemia, em dezembro, quando a Covid-19 se espalhou pela China. Em 2019, o país asiático foi responsável por 90% do crescimento do comércio de luxo. Assim, quando a pandemia exigiu a quarentena, as marcas ficaram sem seus principais clientes. 

Ainda segundo a Bain & Company, a pandemia é uma ameaça para o setor de luxo. Os empregos e o mercado financeiro estão sob forte tensão, gerando uma consequente queda na confiança e na disposição dos consumidores de gastarem seu dinheiro com produtos mais caros. Além disso, a procura de bens e serviços de luxo pelos turistas continuará sendo interrompida pelas restrições de viagem e pelo constante medo de um possível contágio. 

Com todas essas alterações na economia da indústria de luxo, algumas marcas tiveram que se reinventar para continuar no mercado, mas nem todas de um modo positivo. A Chanel, um dos nomes mais tradicionais no comércio de luxo, anunciou o aumento de até 25% nos preços de suas bolsas mais clássicas. A marca francesa, que já é notoriamente conhecida pelo alto valor de suas peças, chegou a acrescentar quase mil euros no valor de algumas bolsas, alcançando a quantia de € 3.350. Já a bolsa "Chanel Classic Small Flap Bag" aumentou 20,9%, saltando de € 4.550, para € 5.500, quase R$ 31 mil. A marca usou o crescimento do valor das matérias-primas, como o couro de diversos animais, como justificativa para o reajuste. 

A jornalista e blogueira especializada em moda Luisa Accorsi usou seu alto número de seguidores para debater o aumento de preços das bolsas Chanel. Em seu canal do YouTube, a influencer deu sua visão sobre a mudança e explicou que a marca é uma das únicas do mercado de luxo que não vendem online. Consequentemente, a grife não vendeu nada durante todos os meses que ficou sem funcionar.

"A marca pode ter aumentado os preços para tentar compensar esse tempo que as lojas estavam fechadas. Porque não me parece que as matérias-primas realmente aumentaram tanto assim os valores, para justificar o aumento. Para mim, o acréscimo no preço das bolsas, em meio a uma pandemia, é um distanciamento do público", opinou a profissional. 

Luisa também falou sobre a estratégia de igualar os preços dos itens para estimular o consumo dentro do próprio país: "Atualmente, comprar peças de luxo, como a Chanel, na Europa é muito mais barato do que comprar aqui no Brasil ou na China. Existe muito o costume das pessoas viajarem para a Europa na procura de comprar as bolsas, mas com o cenário atual, em que ninguém está viajando, isso acabou. Com a equivalência dos preços, os consumidores são incentivados a comprar os produtos de luxo em seus respectivos países". 

Ao contrário da Chanel, a maioria das marcas de luxo continuam com seus preços inalterados, e até doaram fundos para combater a pandemia de Covid-19. Uma dessas grifes é a Gucci, que disponibilizou € 2 milhões de seu lucro para campanhas de arrecadação de fundos na Itália. 

Como estratégia para fugir da crise, Alessandro Michele, diretor criativo da marca italiana, anunciou no Instagram que irá reduzir pela metade o número de desfiles quando a pandemia acabar. Além de ser uma forma de economizar, essa fuga do calendário da moda foi justificada pela procura dos consumidores por coleções mais permanentes e atemporais, fugindo da chamada fast fashion. 

 Para Luisa, a Gucci está mais à frente da Chanel, já que a grife italiana está caminhando para uma relação mais próxima dos clientes e a uma ruptura com o 'status quo'. Enquanto isso, a Chanel só se afasta, por conta da sua vontade de exclusividade e alto preço. "As pessoas estão procurando marcas que elas se identifiquem com os valores, com a postura. Ter uma relação mais pessoal com a marca. Isso é o futuro", afirmou a jornalista. 

Claudio Diniz, CEO da Maison du Luxe (butique na área de conhecimento, consultoria e eventos) e coordenador da Comissão de Luxo da Câmara de Comércio França-Brasil, afirma que o mercado de luxo não combina com insegurança e, em tempos de Covid-19, a incerteza é constante. "As pessoas que têm dinheiro não deixaram de ter. O que acontece é que elas estão inseguras e não se sentem confortáveis em gastar com produtos mais caros, sendo que nem saem de casa", declara o professor de marketing de luxo. 

Assim como Luisa Accorsi, Claudio diz que os clientes de grande grifes querem saber o que as marcas estão fazendo por eles durante a pandemia, ou seja, se continuam agindo como se nada fora do habitual estivesse acontecendo ou se estão ajudando a população de seu país na produção de máscaras ou distribuição de produtos essenciais de higiene. De acordo com o especialista, quando o consumidor compra um produto de luxo, aquilo faz parte de seu estilo de vida e o produto deve falar com o cliente. 

 Apesar da crise econômica e de saúde causada pela pandemia, a China continua consumindo. Os clientes chineses são responsáveis por 30% das compras de luxo no mundo e os preços dos produtos de marca não costumam preocupá-los. Segundo a Footwear News, no primeiro dia pós-quarentena, a loja da grife Hermés faturou US$ 2,7 milhões, um recorde de vendas. 

 "O luxo está perdendo seu brilho. O produto agora é feito para ser vendido. O mercado ficou mercantil. Perdeu o brilho quando passou a não olhar mais para o cliente individualmente, e sim a reduzi-lo apenas ao dinheiro. Estamos valendo o quanto podemos oferecer", reflete Claudio Diniz. 

Território Yanomami tem 20 mil garimpeiros que violam a legislação e aumentam risco de Covid
por
Maria Clara Milano Pizzo
|
29/06/2020 - 12h

O garimpo ilegal está aumentando em meio à pandemia de coronavírus. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), a bacia do Xingu sofreu um desmatamento de 20.839 hectares em apenas dois meses. Além das consequências para o meio ambiente, o avanço da mineração tem colocado a vida dos povos originários da Amazônia em risco pela contaminação de Covid-19.

Garimpo é o nome dado à exploração, mineração ou extração de substâncias minerais, que utiliza poucos recursos e investimentos, muitas vezes com técnicas predatórias ao meio ambiente, como o uso de mercúrio para extração de ouro. No Brasil, a atividade é considerada uma forma legal de extração quando feita sob algumas regras e em locais permitidos. 

A atividade se torna ilegal quando realizada sem fiscalização e em áreas proibidas, como reservas ambientais e indígenas, o que acontece frequentemente no país. Um estudo realizado pelo ISA, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e revisado pela Fundação Oswaldo Cruz, relata que atualmente há 20 mil garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami. 

Além de lutar contra a presença de garimpos ilegais em suas terras, agora o povo Yanomami é ameaçado pela Covid-19 que os garimpeiros levam para a região. Aproximadamente 40% dos Yanomami vivem perto de áreas de extração ilegal e podem ser contaminados pela doença respiratória. 

Com o problema histórico do garimpo se transformando em uma questão de saúde pública, o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana lançou a campanha #ForaGarimpoForaCovid com a intenção de mobilizar e pressionar o governo para uma ação de retirada dos invasores ilegais do território, de forma que o povo indígena consiga realizar o isolamento social recomendando para evitar a transmissão do vírus.  

Os garimpeiros, que são o principal vetor de transmissão da doença no território, viajam frequentemente de Boa Vista, em Roraima, para as terras indígenas por meio de barcos e aviões. Três mortes e 55 casos foram confirmados, até o começo de junho, em meio aos Yanomami, que se encontram em território mais vulnerável à doença por conta do sistema de saúde que atende o local.

Os postos de saúde do local estão avaliados com a pior nota de todo o Brasil, tendo a menor disponibilidade de leitos e respiradores. Os Yanomami possuem um alto grau de vulnerabilidade social, com uma das menores expectativas de vida ao nascer, baixa escolaridade e falta de acesso ao abastecimento de água e saneamento básico. 

Com a crise econômica mundial causada pela pandemia, o preço do ouro está alto, o que incentiva a prática da atividade ilegal. Quanto ao impacto na economia do país, o pesquisador do PoEMAS (Grupo de Pesquisa e Extensão Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade) e professor Luiz Jardim Wanderley explica que não há um cálculo que aponte especificamente isso, mas que grande parte da mineração garimpeira é ilegal ou irregular, com problemas de licença. “Em 2017 foram 17 ou 18 toneladas de ouro provindas de garimpo tanto legal quanto ilegal. A estimativa é que, dessas, dez tenham sido produzidas ilegalmente. O ouro ilegal entra no sistema facilmente”, explica Luiz. 

O garimpo tem um maior efeito sobre a economia local, onde a extração do ouro é uma atividade central. 

Na reunião ministerial do dia 22 de abril, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, reforçou a falta de preocupação do governo em relação às questões do avanço do desmatamento e atividades ilegais em terras indígenas. Estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa. Só se fala de Covid”, declarou Salles, acrescentando que, diante disso, o governo deveria aproveitar para “ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”. 

Porém, Luiz ressalta que tais mudanças não são tão fáceis assim e que o foco da cobertura midiática no coronavírus não é o motivo do avanço. “Não é como o ministro disse: ‘passar a boiada’. O que acontece é que já tem um avanço do garimpo no Brasil, que se dá sobretudo pelo agravamento das questões econômicas, o que implica mais indivíduos entrando para o garimpo.” 

Entretanto, Luiz acredita que as falas de políticos podem sim influenciar na intensidade da atividade, principalmente quando estão ligadas a uma diminuição da política de fiscalização, legitimando o discurso a favor do garimpo e com a intenção de legalizá-lo. 

Assim, o avanço da atividade ilegal é um efeito da crise econômica gerada pela pandemia, porém esse avanço também está atrelado à diminuição das ações do governo, como políticas de contenção e cuidado realizadas por órgãos como a Funai e o Exército. Com as medidas de isolamento, essa fiscalização está sendo realizada em intervalos de tempo maiores, o que é o recomendado, mas abre caminho para o aumento do garimpo ilegal. “De qualquer forma, o garimpo nunca foi uma atividade que se escondeu no Brasil”, reforça o pesquisador. 

O garimpeiro não deixa de ser um trabalhador precarizado, que realiza a atividade em meio às piores condições de segurança e saúde. Os donos dos garimpos geralmente são empresários e políticos influentes da região, e para Luiz Jardim é importante distinguir os dois, já que as máquinas utilizadas na extração custam muito dinheiro, exigindo um investimento de médio para alto, algo que não é acessível para a maioria da população. “Quem avança para as terras indígenas são os empresários”, ressalta Luiz.

Para o professor e pesquisador, as consequências do avanço do garimpo ilegal em terras indígenas não fogem muito da obviedade, como desmatamento, contaminação dos rios, remoção de terras e não recomposição das áreas degradadas. Os indígenas acabam sendo populações mais vulneráveis e distantes dos serviços públicos, e a rápida tendência de contaminação do vírus acaba provocando mortes. 

“Saúde indígena é um problema histórico do Brasil. São ainda muito concentrados, numa lógica de rede, a infraestrutura, a UTI, os respiradores. Estão localizados fora das terras, e o deslocamento até as áreas pode levar até semanas, o que é ineficaz contra doenças como o coronavírus”, comenta Luiz. “A doença só agrava uma condição já precária.”