A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Isolamento social prejudica muitas áreas da economia, mas mercado erótico caminha na contramão
por
Paula Paolini Remondini
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30/06/2020 - 12h

A busca por alternativas de lazer no meio da pandemia cresce cada vez mais. As pessoas que estão passando por esse momento sozinhas acabam procurando o prazer. Mas isso não se restringe apenas aos solteiros. Muitos casais em confinamento têm recorrido a artifícios externos para apimentar a relação. 

O mercado erótico vem apresentando forte crescimento desde que o isolamento social começou. Conhecer-se melhor ou se aproximar ainda mais do parceiro são alguns dos impulsos que têm permitido às empresas do setor colher bons resultados neste momento de crise. 

Na primeira quinzena de maio, a ex-BBB Marcela Mc Gowan, especialista em saúde feminina, ginecologista e obstetra, postou em seu instagram (@marcelamcgowan) uma apresentação de produtos clássicos e novos de um dos sex shops mais famosos do Brasil, a Exclusiva Sexshop (@exclusivasex_oficial), que obteve mais de dois milhões de visualizações. Além da promoção das mercadorias, muitas lojas utilizam as redes sociais para tirar dúvidas, curiosidades e até divertir os clientes com postagens organizadas e interessantes.  

A Agemt conversou com Andrei Marsiglia, proprietário do sex shop Doce Sensualidade (@doce_sensualidade) e também terapeuta sexual, sobre como funciona sua loja e como ela está lidando com esse fenômeno na quarentena. 

“Aqui percorremos um caminho que começa desde a parte da autoestima, onde há os sabonetes íntimos, desodorantes, perfumes, coletores menstruais e cremes hidrantes e até parte de suplementação alimentar, chegando na parte de pompoarismo, muito importante para a saúde da mulher.” 

Andrei também possui em sua loja uma sala especial para conversar com os clientes sobre suas inseguranças, dúvidas e curiosidades relacionadas ao sexo. Mesmo durante o isolamento social, seus atendimentos continuam pela internet, onde consegue ajudar seu público, majoritariamente feminino.

“Conversando, vou descobrindo o que o cliente precisa. Depois da primeira parte, vem a segunda fase, que é a lubrificação e vários tipos de excitantes, para finalmente chegarmos nos brinquedos, onde trabalha-se a desconstrução desse tabu que envolve o sexo”, completa Andrei, acrescentando que, além dos brinquedos e outros produtos, a loja conta com lingeries e fantasias. 

“Estou vendendo mais pelo WhatsApp e Instagram, onde os pedidos aumentaram bastante. Pelo e-commerce houve uma movimentada, mas ainda é menor quando comparado às redes sociais. Apesar desse aumento das vendas pela internet, meu forte continua em loja física”, afirma Andrei.  

O empresário conta que muitas vezes ele mesmo vai entregar os pedidos para os clientes, que preferem um atendimento mais rápido, e sempre fica atento aos cuidados de higiene, utilizando máscara, álcool em gel e o devido distanciamento. Há ainda a opção de retirar o produto na loja, onde o pedido é feito previamente pela internet e fica pronto para o cliente buscar. 

O produto mais procurado, segundo o terapeuta, são os vibradores. Uma pesquisa da CBN confirma esse fato, mostrando que houve um aumento de 50% nas vendas de vibradores no país. “Também há uma grande procura pelo satisfyer, um novo produto que está fazendo sucesso entre as mulheres. Ele promete um orgasmo em cinco minutos e ando vendendo bastante dele.” 

“No isolamento, devido a tantos acontecimentos, as pessoas tendem a pensar em muitas coisas, incluindo o prazer. Quem está sozinho procura cada vez mais essa alternativa dos produtos eróticos”, finaliza Andrei. 

A pesquisa da CBN também mostra que a maioria dos consumidores de vibradores é composta por mulheres de 25 a 35 anos que estão em um relacionamento. Roberta Nascimento conta que foi motivada por querer inovar na hora das relações com seu parceiro e sempre gostou de consumir em sex shops, mesmo quando era solteira. “O uso na quarentena aumentou e comprei alguns produtos como plugs, gel e estimulantes de libido, que acho bem interessantes." Roberta conta que também prefere que a entrega seja discreta, até mesmo escondendo o nome da loja no pacote, embora more apenas com seu companheiro. 

Já Catherine Sekine não se importa com um modo reservado de receber sua compra. “Como moro em prédio e tem uma boa rotatividade de porteiros, não me importo muito como vem a encomenda. Se for discreto melhor, mas se possuir o logo da loja ou alguma indicação do que é o produto não tenho problema com isso.”

Catherine expressa que os preços atrativos e diversas promoções dos sites que já consumia antes incentivaram ainda mais suas compras de produtos eróticos durante o isolamento social. “O gel, o kit algema e o vibrador que comprei na loja Aline Lingerie (@alinelingerie) chegaram bem rápido e todo o processo foi bem simples. Eu e meu companheiro indicamos totalmente os produtos e tudo foi bem satisfatório.”  

Os solteiros estão curtindo as compras sensuais da mesma forma. Beatriz Lisanti viu que ficaria um longo período em casa e com mais tempo livre, por isso, já que consumia artigos desse setor antes da pandemia, pensou em experimentar novas opções. “Queria uma coisa maior e mais sofisticada do que já tenho, então decidi investir em algo mais caro”, relata. Além disso, Beatriz  procurou se informar sobre os assuntos antes de fazer uma compra, como o pompoarismo, ficando curiosa para tentar. 

De acordo com Lisanti, o sex shop Pentynova (@novapanty) apresenta um site recheado de informações detalhadas de cada produto e que ainda contém vídeos de vários produtos sendo demonstrados em objetos de vidro com água, expondo a intensidade um por um. Além disso, deixa disponível a opinião dos compradores, facilitando para quem quer entender mais do assunto. 

“Como já comprei mais de uma vez nesse lugar, sou muito fã dos produtos e recomendo para quem quiser algo confortável e de qualidade. Inclusive, gosto muito do posicionamento da marca, sendo que vai além de um site de produtos eróticos e abraça todo tipo de público. A página deles tem até alguns contos eróticos para entreter a galera que acessa”, expressa Beatriz.
 

Com feiras e eventos suspensos pelas medidas de isolamento, profissionais usam redes sociais para divulgar e vender seu trabalho
por
Luísa Eller
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29/06/2020 - 12h
artesaos pandemia
Marketing digital se tornou aliada de pequenos empreendedores (Foto:pixabay)

Com o cancelamento de feiras e eventos, decorrente do isolamento social, muitos artesãos estão preocupados em como divulgar e vender seus trabalhos, já que esses locais contribuem para a promoção do artesanato. As vendas de itens não essenciais caíram em vários setores. Um estudo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostra que, no período entre 15 de março e 18 de abril, as perdas mais expressivas se concentraram nos segmentos varejistas especializados na venda de itens não essenciais ( R$ 78,27 bilhões). Com essa retração no comércio, os pequenos artesãos, que em sua maioria são independentes, estão tendo que buscar maneiras de se reinventar. As redes sociais se tornaram uma peça importante para divulgação e venda de seus trabalhos. Os artistas apostam na publicidade online, o chamado marketing digital, e no e-commerce.

Ana Paula Mauricio comercializa bijuterias e acessórios online e já sentiu uma diferença nas vendas. “A demanda diminuiu, em média, 60%. As pessoas estão com medo de gastar com coisas supérfluas, devido à instabilidade do mercado”, afirma. A microempreendedora está apostando ainda mais nas mídias sociais para manter as vendas. Segundo uma pesquisa feita pela Cision, empresa de relações públicas dos Estados Unidos, 84% das pessoas esperam que uma marca produza conteúdo que entretenha e promova experiências. Isso fez com que a empresária investisse na divulgação de peças. “Precisei trabalhar com mais fotos e abusar dos artifícios visuais que agradassem os olhos”, conta.

Além disso, Ana Paula ainda teve que ampliar algumas medidas de descontos, parcelamento e até prorrogar pagamentos para que os clientes continuassem comprando. “Essas medidas, muito provavelmente, serão mantidas após esse período, até o mercado se aquecer novamente”, conclui a empreendedora.

Outro caso é o de Ana Nunes, que trabalha exclusivamente com artesanato. Ela conta que não teve muita queda nas vendas, mas encontrou dificuldades para comprar materiais para produção, com as lojas fechadas na cidade. A artesã busca sempre estar atenta às mudanças que ocorrem no comércio. “No momento estou me reinventando, fazendo cursos, focando no meu cliente-alvo e em estratégias para alcançar meu objetivo”, afirma, acrescentando que uma oportunidade surgida na crise foi a de confeccionar máscaras de proteção, o que proporcionou uma importante ajuda financeira.  

Ana também está focada na publicidade digital e vendas online, um segmento que vem crescendo muito no mercado e dando resultados. “O comércio online é o futuro, hoje não se precisa de uma loja física, a loja online atinge a minha cidade, meu estado, meu país e o mundo”, diz. Segundo dados do IBGE, cerca de 80% dos brasileiros têm acesso à internet e uma pesquisa feita pela agência de marketing Ironpaper concluiu que 93% das decisões de compra são influenciadas pelas mídias sociais. Ou seja, para pequenos empreendedores, estar conectado tem rendido lucros.

No mês de abril, a designer e proprietária da Yankatu, loja de design artesanal, Maria Fernanda Paes de Barros, criou o projeto social online “Artesãos do Brasil”, para dar suporte aos artesãos das áreas mais remotas do país. Para isso,  lançou uma campanha na plataforma de crowdfouning Catarse, onde há pacotes de valores diversos e de diferentes artesãos. O comprador escolhe seu pacote e envia um e-mail dizendo qual artesão gostaria de ajudar. O artista irá produzir sua peça e, assim que a quarentena acabar, colocará no correio para envio. “A Yankatu funcionou apenas como uma facilitadora, uma ponte para que as pessoas pudessem acessar os artesãos”, conta a designer. Segundo ela,  durante esse período, os profissionais tiveram seus trabalhos divulgados em diversos portais.

Barros também aponta que a campanha teve grande visibilidade e resultado por estar em uma plataforma online. “As redes sociais com certeza ajudam muito, principalmente numa crise como a que estamos vivendo, na qual precisamos nos resguardar e o contato social é praticamente zero.” Ela acrescenta que “com certeza a abrangência da campanha foi muito maior graças ao uso do Instagram”.

 

Após queda abrupta da receita, associação prevê corte de 25% no número de trabalhadores
por
Adriane Garotti
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29/06/2020 - 12h

Os adiamentos e cancelamentos de eventos neste ano atingiram em cheio o setor cultural – principalmente as produtoras de shows e festivais. Um exemplo disso foi a postergação da Olimpíada de Tóquio, que estava marcada para acontecer em 2020, mas devido à Covid-19 foi transferida para julho de 2021. Os trabalhadores do setor de eventos também sofrem com a crise econômica gerada por essa paralisação sem previsão de retorno.

Pessoas que trabalham em grandes eventos, como nos setores de limpeza, segurança, carregadores de grades e equipamentos, estão em situação de vulnerabilidade neste período de crise. Sem contar os trabalhadores informais, que muitas vezes tiram sua renda da venda de comidas, bebidas e camisetas na porta dos grandes shows e festivais.

A Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), junto com a Go Live Brasil – um movimento que uniu líderes do setor de eventos com o intuito de apoiar as empresas nesse momento da pandemia –, mostra em suas pesquisas que o setor já gerou 25 milhões de empregos, sendo 5 milhões indiretos e freelancers, que dependem inteiramente da geração de renda pela realização de shows, festivais e congressos. A informalidade sofre com a incerteza da retomada das atividades e, também, com a falta de visibilidade perante as políticas públicas emergenciais para aqueles que não têm os benefícios da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Doreni Caramori Jr, presidente da Abrape, afirma que houve uma significativa redução, que beira 100%, na receita do setor desde o início da paralisação, incluindo a queda na venda de eventos futuros, o que prejudica a gestão de novos negócios. “Isso envolve fluxo de caixa, questões de relacionamento com fornecedores, clientes e, principalmente, as questões de gestão do time da equipe. A tendência é que isso continue impactando bastante até o momento da retomada nesses itens”, diz o empresário. 

Não é apenas para os trabalhadores informais do setor que a crise está tomando grandes dimensões. Segundo o site Celebrity Access, que fornece informações sobre resultados de bilheteria, disponibilidade de artistas e arquivos de notícias, no início de maio, a Live Nation – uma das maiores promotoras de eventos do mundo – anunciou que iria emitir US$ 800 milhões em notas garantidas, apoiadas pelos seus ativos. A arrecadação será para financiar “fins corporativos” e não permitir a estagnação do giro econômico da empresa durante o período da crise.

No Brasil, o setor de eventos tem participação de 12,93% no PIB e um impacto de R$ 936 bilhões na economia, segundo dados da Go Live Brasil. A realização de grandes eventos colabora com a movimentação de outros setores, como turismo, alimentação e empresas terceirizadas.

Pedro Augusto Guimarães, presidente da Apresenta Rio, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que uma única edição do Rock In Rio é capaz de movimentar 30 mil empregos diretos. Normalmente, quando se trata de grandes festivais de música, a movimentação econômica nas cidades-sede fica muito mais intensa, pois o fluxo de pessoas que se deslocam entre estados e até mesmo países é muito grande. Esse fator demanda reservas de hospedagem, compra de passagens e incentiva o turismo local.

 (Reprodução: Go Live Brasil)
 (Reprodução: Go Live Brasil)

 

Inicialmente, quando a discussão era somente sobre a remarcação dos grandes eventos para o segundo semestre deste ano, ainda havia uma esperança de que o setor fosse retornar logo à ativa. Entretanto, quando os grandes festivais de música foram adiados, como o Coachella, na Califórnia, e o Lollapalooza, no Brasil, empresas de entretenimento ao vivo como a T4F foram afetadas em diversos aspectos econômicos e logísticos, como remarcação de datas com artistas e locais para realização dos eventos.

Caramori, da Abrape, afirma estar preocupado com os efeitos da crise no Brasil. “O número de colaboradores diretos do nosso setor chega próximo a 2 milhões. A nossa pesquisa apontou que o percentual passa dos 25% de demissões previstas para a crise, em função disso é uma matemática bastante linear. Você projeta essa demissão prevista nesta mostra – que é 25% – sobre toda a população de trabalhadores no nosso setor e estima que o risco é de 580 mil demissões nessa cadeia produtiva que emprega quase 2 milhões de brasileiros.”

No início de abril, o governo federal publicou uma medida provisória (MP) na qual dispensa os setores de turismo e cultura de reembolsarem seus clientes no período imediato. Também estendeu o prazo para que esse ressarcimento seja feito em até um ano após o fim da pandemia – neste caso, o ajuste será feito de acordo com a inflação do momento. Ainda segundo a MP, as empresas também dispõem de três opções: remarcar os serviços, disponibilizar crédito para o uso ou redução na compra de outros produtos da empresa ou firmar algum outro acordo com o consumidor. 

Marina Emily, 21, tinha ingressos comprados para o show da cantora norte-americana Taylor Swift, que iria trazer sua turnê “Lover Fest” para o Brasil em julho. A apresentação no Allianz Parque foi adiada para o próximo ano, porém as novas datas não foram divulgadas. “Como não foi cancelado, só adiado, isso me tranquilizou. Fiquei bem triste, porém já imaginava que fosse acontecer.” A estudante de Rádio e TV brinca que, mesmo diante da incerteza das novas datas, ela irá arrumar um jeito de encaixar o show na sua agenda. 

O presidente da Abrape indica que os pontos mais incertos do retorno dos eventos são as variáveis ambientais – curva de contágio e mortalidade –, a disponibilidade do produto, que depende inteiramente da oferta do setor, e, por fim, o comportamento do consumidor, se ele vai querer ir a eventos com características tão específicas pós-pandemia. 

Caramori ainda enfatiza que as previsões de retorno são muito incertas. “Acho que é possível termos eventos em 2021 sim, acho até que para alguns perfis de eventos é muito provável, mas lógico que qualquer antecipação nesse momento soa uma previsão amplamente subjetiva.”

 

Imagem da capa: Montagem do Lollapalooza 2017 no autódromo de Interlagos. (Reprodução: internet / VEJA)

Negociações com centrão e aceno a propostas de teor desenvolvimentista podem levar à perda do último pilar eleitoral de Bolsonaro
por
Fabrício Indrigo
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29/06/2020 - 12h
Paulo Guedes

                                                                 Ministro Paulo Guedes em reunião ministerial (Foto: Adriano Macho/Reuters)

A última saída de um ministro do governo Bolsonaro foi a de Abraham Weintraub, que era responsável pela pasta da Educação. Sua saída é mais uma das várias que aconteceram. A primeira foi a de Gustavo  Bebianno, que morreu em março deste ano. Ex-ministro da Secretaria-Geral, ele deixou o cargo em 18 de fevereiro do ano passado. De lá para cá, nove mudanças ocorreram, inclusive a demissão de um dos principais nomes desse governo: Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública).

Somente neste ano, Bolsonaro já passou por três crises ministeriais. Enquanto o Brasil enfrenta a pior crise sanitária e econômica de sua história, o governo insiste em criar ainda mais rixas contra seus adversários políticos. A famigerada “governabilidade” está tão complicada que Bolsonaro, que em campanha afirmava jamais negociar com o sistema, agora se vê sem alternativas e, numa verdadeira ginástica mental, fala que isso nunca foi dito. Essa aproximação com o centrão, que detém diversos nomes ligados aos piores casos de corrupção que esse país já viu e se mostra tão contrário à agenda reformista do Ministério da Economia, promete  balançar o casamento, como o próprio presidente gosta de classificar, entre ele e o último pilar da época de campanha, o ministro Paulo Guedes.

Apesar de os líderes de partidos como DEM, MDB, Podemos, entre outros, elogiarem as tentativas de reforma por parte de Guedes, na prática têm atitudes extremamente opostas. Partidos de centro sempre foram os que mais gastaram o dinheiro do contribuinte, seja com Fundão, com auxílios, ou qualquer outra farra com o dinheiro público que a legislação permita. Um exemplo clássico foi a resistência dos políticos em votar a reforma da Previdência, que só foi possível após a liberação das emendas parlamentares.

A velha política, classificada por Bolsonaro e seus aliados como principal inimigo da nação, de uma hora para outra virou a principal aliada para sua continuidade no poder. Nomes como Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto, que foram indiciados em escândalos de corrupção do Mensalão ainda no governo Lula, são os líderes dessa parte do Legislativo em Brasília. O presidente sabe que a única forma de manter o apoio é a liberação de dinheiro, e isso desagrada muito Guedes.

Mais recentemente foi apresentado pelo general Braga Neto o programa desenvolvimentista Pró-Brasil, sem o aval ou sequer a participação de Paulo Guedes em seu desenvolvimento. Essa atitude caiu como uma luva para os partidos de centro. Isso porque o plano exclui o teto de gasto e seria mais uma forma de conseguir capital público. Cada vez mais Guedes perde força dentro do governo e isso pode atrapalhar muito os planos de Bolsonaro.

O professor de economia da PUC-SP Claudemir Galvani explica que a eventual saída do ministro da Economia desgastaria ainda mais o atual governo, uma vez que Guedes é um dos quadros respeitados deste limitado ministério. Além dele, somente o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, é considerado competente e com currículo para o cargo. Desta forma, Bolsonaro ficaria só com os amigos na sua equipe e somente teria apoio dos 25% de brasileiros classificados por ele como jihadistas.

Além do desgaste com o eleitorado, Bolsonaro perderia popularidade dentro do mercado financeiro. André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, conta que a saída do ministro colocaria um ponto final na agenda liberal do governo, o que faria os preços dos ativos caírem fortemente, e pioraria ainda mais o ambiente de negócios brasileiro. Ele ainda fala que a curto prazo a economia não seria tão impactada, contudo, em longo prazo a situação seria desafiadora, com uma queda da bolsa bastante importante.

As próximas semanas em território tupiniquim serão intensas. O número de casos de Covid-19 não parece diminuir, o número de desempregados e empresas encerrando atividades só cresce. Enquanto isso, em Brasília, o governo parece mais preocupado com a reeleição em 2022 e o presidente parece não se importar com o povo que o elegeu.

Para Mariana Jansen, professora da PUC-SP, e Rafael Bianchini, da FGV, cenário exige outras prioridades do governo
por
Beatriz Leite
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29/06/2020 - 12h

Diante da pandemia do novo coronavírus, com empregos sendo perdidos, emergências na saúde e necessidade de investimentos em proteção social, o governo federal continua defendendo que o ajuste fiscal é sua principal pauta. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2020, período em que o país ainda não tinha sido totalmente afetado pela crise sanitária – já que o isolamento social começou a ser adotado a partir da segunda quinzena de março –, apresentou queda de 1,5% em relação ao trimestre anterior.

Em maio, foi aprovada a chamada “PEC do Orçamento de Guerra”, que dá ao governo mais flexibilidade para gastar recursos no combate à pandemia do novo coronavírus, enquanto o decreto do estado de calamidade pública durar. Mas, de acordo com Rafael Bianchini, doutor em direito comercial e professor da FGV Law, quando acabar a calamidade pública do ponto de vista sanitário, haverá ainda a calamidade pública do ponto de vista econômico: “Eu acho que a calamidade econômica de pessoas sem emprego vai marcar muito mais a economia brasileira do que as mortes da Covid-19”.

            O debate sobre o ajuste fiscal brasileiro é antigo e tem dois principais aspectos: um estrutural e outro conjuntural. O primeiro ocorre devido ao modelo de desenvolvimento industrial adotado pelo país entre as décadas de 1930 e 1970, quando a dívida pública aumentou muito. Já o conjuntural passou a ocorrer a partir de 1980, quando o ritmo de crescimento do país desacelerou. A partir de 1994, com o Plano Real, tornou-se uma das principais pautas do governo.

            Esse plano nunca deixou de ser discutido, mas teve um marco no governo de Michel Temer, quando foi aprovada a Emenda Constitucional 95, que propõe congelar por 20 anos o aumento dos gastos públicos.

O ajuste fiscal é a principal bandeira dos economistas neoliberais, como os que formam a atual equipe do Ministério da Economia, para “consertar” as contas públicas brasileiras. Mariana Jansen, doutora em economia, professora e coordenadora do curso de especialização em economia urbana e gestão pública da PUC-SP, acredita que, se permanecer essa visão restrita em relação à questão fiscal na atual conjuntura, a crise gerada pela pandemia pode acabar se aprofundando.

            Segundo os economistas neoliberais, que defendem o livre mercado, sem interferências do Estado, quando há excesso de gastos por parte do governo e ocorre um déficit fiscal, o Estado tende a aumentar a arrecadação através de impostos para financiar seus gastos. Isso gera um maior custo ao setor produtivo, ampliando o chamado “custo Brasil”. Outro argumento é que o aumento do gasto faz a dívida pública crescer, elevando os indicadores de percepção de risco dos investidores internacionais com relação à economia brasileira, entre eles o risco-país.  

            Porém, Jansen replica dizendo que há outras formas de aumentar a arrecadação pública, que não passam pelo aumento da tributação. Quanto ao risco- país, a relação dívida pública/ PIB não é o único indicador. Ele é um dentre vários outros. Além disso, a professora deixa claro que “grande parte dos recursos [estrangeiros] que entraram na nossa economia não entraram no setor produtivo. Eles entraram no mercado financeiro”.

            Já Bianchini considera que é importante haver um ajuste fiscal estrutural para a adoção de políticas anticíclicas, ou seja, em momentos que seja necessário gastar mais, o Estado possa fazer isso. Outro problema ainda é o alto gasto com pessoal feito pelos estados e a Previdência. O Brasil não é um país rico e nem um país tão velho como aqueles que têm previdência semelhante à nossa, tornando as despesas muito regressivas. O economista lembra também que um Estado cronicamente deficitário se endivida mais por conta dos juros que continuam aumentando. Porém, pondera que, no momento atual, o ajuste fiscal não deve ser o foco: “Mesmo eu, que sou favorável a um ajuste estrutural, considero essa questão secundária na atual conjuntura. Para fazer um ajuste estrutural a gente precisa viver”.

            No início de junho, após muita resistência, o governo aprovou estender por mais tempo o auxílio emergencial, inicialmente de três parcelas de R$ 600. Mas ainda não está definido até quando, qual o valor e se o grupo contemplado pelo benefício será ampliado.

Devido ao enorme crescimento da taxa de desocupação, que no trimestre encerrado em abril chegou a 12,6% da população (sem contar aqueles que tiveram contratos suspensos e redução salarial), uma renda que contemple pelo menos o básico para sobreviver é muito necessária.

Segundo a professora da PUC-SP, a lógica da equipe econômica, que se espalha para diversos setores da população, é que é necessário reabrir o país porque as pessoas precisam de emprego e não de caridade.

O professor da FGV ainda aponta que um ponto crucial para a prorrogação do auxílio é a sobrevivência do próprio governo: “É uma questão que, se os governantes não fizerem isso, eu não tenho dúvida, eles vão cair”.