Brasil passa por um momento decisivo entre mudanças para arrecadamento e corte de gastos
por
Maria Eduarda dos Anjos
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19/11/2024 - 12h

A penúltima reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) aconteceu semana passada e sua ata, publicada no dia 12, apresenta a decisão unânime de elevar a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) a 0,5 pontos percentuais, levando a taxa de juros básico do país de 10,75% para 11,25%. 

Esse aumento vem como medida para, principalmente, conter a inflação, produto do balanço negativo entre os ganhos e gastos do Estado brasileiro, além de responder de forma defensiva à recente eleição de Donald Trump.

Primeiro, é importante entender o que o COPOM, SELIC, juros básicos e inflação significam na vida do brasileiro. O Copom é um grupo composto pelo presidente do Banco Central (BC) e seus diretores que, a cada 45 dias, decidem a taxa básica de juros da economia, a Selic. 

A taxa básica é a principal forma do BC tentar conter a inflação econômica. Na balança, são ponderados o estado das contas públicas, a situação internacional política e monetária, estado da inflação, movimentação do mercado de trabalho entre outros fatores, tudo para assegurar que o reajuste do juros contenha a inflação, não desvalorize o real perante outras moedas e não diminua o poder de compra da população. 

Uma das razões para o aumento da Selic é a diferença entre o gasto e o arrecadamento público de R$7,3 bilhões até setembro de 2024. Para exterminar esse déficit primário, o BC sobe o juros básico, ou seja, a promessa de valorização de seus ativos, e vende tais ativos aos bancos. 

Dessa forma, o Banco Central consegue caixa de forma mais imediata e oferece a promessa de lucro futuro para os bancos. O problema é que esse ciclo se repete e cria uma bola-de-neve. 

A economista e professora da PUC SP, Cristina Helena, explica que “o governo pega dinheiro emprestado todo mês para cobrir o déficit, que não conta com o valor dos juros dos demais empréstimos que já pegou, mas que precisa quitar simultaneamente”. O juros aumenta para pagar,também, o que já foi criado no passado pela mesma barganha que se repete.“ A conta da dívida tá fora do resultado primário, aí o montante a ser pago não para de crescer”. 

Essa medida para maior arrecadação vem junto com o pacote de corte de gastos públicos, que será anunciado por Fernando Haddad depois da reunião do G20. Representantes das pastas de Saúde, Educação, Previdência, Trabalho e Desenvolvimento Social foram chamados para discutir as reduções, já que detém a maior parte de recursos federais. 

Quando o assunto extrapola o doméstico, a eleição de Donald Trump é um fator central. O presidente já anunciou que pretende impor uma tarifa de 10% ou mais sobre todo produto importado do país, uma medida protecionista para privilegiar o mercado interno.

 

Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT
Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT

 Enquanto o aumento da Selic pode ajudar a manter o valor do Real no mercado internacional, a negociação tende ao soft power. “ O Brasil e os Estados Unidos são bons parceiros comerciais um ao outro, mas o Trump não quer só um bom parceiro comercial, ele também pede por um aliado que não seja mercado para a China, por exemplo. A América Latina vêm se beneficiando de compras mais baratas de produtos chineses e venda de minérios mais barato”, explica Cristina. 

Apesar de haver um plano de metas pelo qual a política monetária deveria se guiar, as medidas atuais de arrecadação precisam ser redesenhadas pela sua falta de efetividade, avalia a economista.Até o fim do ano,é previsto o aumento de mais 0,25 pontos para o juros básico, isso reverbera diferentemente entre compradores de títulos do governo e a população média: “ Meio ponto percentual é pouco do ponto de vista de contenção inflacionária e é muito para as famílias, e isso vira uma taxa enorme nos cartões de crédito e cheque especial”.

A cotação da moeda norte-americana chegou a R$5,86, mas encerrou em R$5,67
por
GUILHERME DEPTULA ROCHA
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08/11/2024 - 12h

 

O dólar comercial teve forte alta na manhã da quarta-feira (6), mas caiu durante o dia. Às 9h, a moeda alcançou o valor de R$5,86. Porém, à tarde, recuou para R$5,67. A disparada recente se deu após a repercussão da vitória Donald Trump (Partido Republicano) nas eleições norte-americanas. 

Desde meados de outubro, a moeda estava se valorizando, o fato se deu devido à subida do ex-presidente nas pesquisas de intenção de voto. Conforme dados do jornal “The New York Times”, no início do mês passado, sua adversária, Kamala Harris (Partido Democrata), mantinha-se à frente, com 50% da preferência. Enquanto Trump, estava com 47%. 

Porém, nas últimas semanas, o republicano subiu nas pesquisas e se equiparou à democrata: ele alcançou 48%, contra 49% dela. Esse movimento foi batizado de “Trump Trade”. 

 

POR QUE O DÓLAR DISPAROU APÓS VITÓRIA DE TRUMP?

Aproposta de governo do presidente eleito é tida como inflacionária, a partir de políticas protecionistas. O programa prevê um aumento na taxa de juros e mais impostos para importação. A ideia é provocar migração de recursos para o mercado norte-americano, fortalecendo a moeda.

Após o resultado da eleição, o dólar disparou também em outros países. Segundo DXY, índice que monitora o câmbio da moeda norte-americana em outros mercados globais, houve uma alta de quase 2%.

 

POR QUE O DÓLAR CAIU NO FIM DO DIA?

O motivo ainda não é claro. Segundo o professor de economia da FGV, Marcelo Kfoury Moinhos, em entrevista ao “Jornal Nacional”, há uma expectativa na medida de corte de gastos fiscais. O pacote será anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ainda nesta semana.

Devido a vitória de Trump, o mercado acredita que o governo entregará um pacote “crível”. Porém, o  professor de economia aponta: “Se houver frustração no tamanho desse pacote de corte de gastos pode ser que (...) o real volte a desvalorizar.

 

FUTURO

Caso o presidente eleito cumpra com suas propostas de campanha, as projeções indicam uma alta do dólar para 2025. Devido às políticas protecionistas, poderá haver um aumento na tarifa para produtos importados, reduzindo as exportações brasileiras para os Estados Unidos.

 

Descubra como a agroecologia pode beneficiar a vida das famílias brasileiras no âmbito econômico e social
por
Jessica Castro
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05/11/2024 - 12h

Recordes de altas temperaturas e períodos de seca extensos foram aliados às causas das queimadas recentes no Brasil. Nos últimos meses, o país viveu um cenário alarmante com mais de 139 mil focos de queimadas, muitas delas criminosas, devastando biomas importantes para o ciclo climático. 

 

Atrás desses números, estão comunidades inteiras que sofrem as consequências diretas: ar irrespirável, perda de colheitas e deslocamento forçado. Grande parte dessas queimadas está ligada à expansão desenfreada do agronegócio, que, na busca por mais terras para cultivo de soja e pastagens, utiliza o fogo como ferramenta de desmatamento. 

 

Embora o agronegócio mova a economia, sua busca por crescimento muitas vezes ignora os impactos sociais e ambientais, e o momento agora é de olhar novas alternativas de cultivo, antes que seja tarde demais.

 

Uma opção que se apresenta é a Agroecologia. A prática é uma alternativa sustentável para a produção agrícola que integra conceitos ecológicos e sociais e tem como objetivo equilibrar o cultivo de alimentos com os ciclos naturais e promover a justiça social. 

 

Diferente dos métodos convencionais, ela não se limita ao uso de técnicas orgânicas, mas envolve uma transformação mais ampla das práticas agrícolas, considerando aspectos culturais, políticos e ambientais. Seu foco é a regeneração dos solos, a conservação da biodiversidade, a redução do uso de insumos químicos e a valorização dos saberes tradicionais das comunidades rurais.

 

Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace
Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace

 

Alternativa ao Agronegócio

 

A prática da agroecologia surge como uma alternativa ao modelo convencional do agronegócio, que prioriza a monocultura, o uso intensivo de agrotóxicos e a maximização dos lucros a curto prazo. 

Enquanto esse método é fortemente dependente de insumos externos e tecnologias que degradam o meio ambiente e podem esgotar os recursos naturais, a agroecologia foca na sustentabilidade a longo prazo. Ela propõe sistemas diversificados, que integram culturas diferentes, reflorestamento e técnicas de conservação de solo e água. 

Isso torna os sistemas mais resilientes a pragas e mudanças climáticas, reduzindo a dependência de produtos químicos e fertilizantes industrializados. Além disso, o sistema agroecológico valoriza a autonomia dos pequenos agricultores, promovendo  cada vez mais sistemas alimentares locais e uma dependência menor de cadeias longas de distribuição. O que contribui para a segurança alimentar, uma vez que as comunidades produzem e consomem alimentos de maneira mais justa e próxima de seus territórios.

 

O benefício econômico a quem produz e quem consome

 

Do ponto de vista econômico, a agroecologia tem mostrado forte potencial para ser uma opção interessante tanto para o país quanto para as famílias que aderem a este sistema. 

“Iniciativas como as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA) mostram como os consumidores podem se tornar co-produtores, garantindo acesso a alimentos saudáveis e frescos, enquanto os agricultores têm mais segurança e menos desperdício”, comenta Paulo Moruzzi, professor adjunto do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq, na USP.

Moruzzi ainda pontua que o fortalecimento da relação do consumidor com a produção agroecológica pode impulsionar o fomento de políticas públicas que ampliem o acesso à alimentação sustentável.
 

Outro benefício econômico da prática é  a redução dos custos com insumos químicos, como fertilizantes e agrotóxicos, o que alivia o orçamento dos pequenos produtores; ou práticas como a rotação das culturas que permite  uma produção contínua sem prejudicar o solo ao longo do ano, garantindo uma renda estável  ao diminuir os riscos associados à dependência de uma única safra, característica comum no agronegócio.

 

Ao reduzir a pressão de utilização dos recursos naturais, além da contribuição efetiva para o meio ambiente a longo prazo, pode evitar gastos públicos na recuperação de áreas degradadas e mitigação de desastres ambientais. Além disso, a agroecologia pode impulsionar a economia local, pois promove cadeias curtas e regionais de produção. Assim, reduz a dependência do país de alimentos importados e fortalece os mercados internos.

 

Para as famílias agricultoras, a transição para este método de cultivo significa mais independência e resiliência frente às flutuações de mercado e mudanças climáticas. A segurança alimentar é ampliada, e o valor agregado dos produtos agroecológicos pode aumentar os lucros, já que esses produtos têm um apelo crescente entre consumidores conscientes, dispostos a pagar mais por alimentos produzidos de forma sustentável.

A agroecologia está profundamente enraizada no cotidiano de comunidades quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais no Brasil. Esses grupos, que possuem uma relação ancestral com a terra, cultivam alimentos de maneira sustentável e em harmonia com o meio ambiente. 

Mas a prática não é exclusividade dessas comunidades, ela também é adotada pela agricultura familiar e por assentamentos e acampamentos da reforma agrária. Hoje, cerca de 77% dos comércios agropecuários do país são familiares, segundo dados do Anuário da Agricultura Familiar de 2023, e muitos deles estão integrando práticas agroecológicas para preservar o solo e valorizar a biodiversidade do local onde produzem.

Essas iniciativas promovem um modelo de agricultura que valoriza o saber local e protege biomas únicos e super importantes para o equilíbrio climático do país, como o Cerrado e a Amazônia. 

A agroecologia fortalece o vínculo entre quem produz e quem consome, criando relações de consumo mais justas e solidárias. Isso ocorre, em grande parte, por meio de feiras agroecológicas e programas de políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que compra alimentos de pequenos produtores para fornecer refeições nas escolas. Essas teias garantem que o alimento chegue de maneira saudável e acessível às mesas, enquanto geram renda e fortalecem famílias agricultoras ao mesmo tempo.

Outros olhares para o consumo de alimentos

A conexão entre a agroecologia e o modo de consumo vai além da idealização de uma produção agrícola sustentável, aqui refletimos também a forma como nos relacionamos com os alimentos, os recursos naturais e as comunidades que os produzem. Esse conceito reflete a necessidade de repensarmos não só a maneira como consumimos, mas também as implicações sociais, ambientais e econômicas envolvidas no processo.

Esse olhar diferenciado para o consumo de alimentos inclui para além da valorização de produtos orgânicos produzidos por um sistema agroecológico, as métricas de quanto desperdiçamos e consumimos exacerbadamente. A agroecologia não se limita à produção sustentável, mas envolve uma conscientização mais ampla sobre a forma como os alimentos são utilizados ao longo da cadeia, desde a produção até o descarte.

O consumo consciente, nesse sentido, diz respeito a um repensar em nossos hábitos alimentares, para garantir que tudo o que consumimos não acabe em desperdício, uma prática que impacta seriamente o meio ambiente e os recursos naturais e o bolso do consumidor. 

 

Precisamos perceber que a quantidade de alimentos comprados e descartados repousa diretamente em impactos socioambientais porque contribui para a emissão de gases de efeito estufa e esgotamento dos solos. Portanto, como e o que comemos pode fazer uma grande diferença.

 

Em entrevista, o professor Paulo Moruzzi destaca a importância do Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro, data que marca a criação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), que completa 79 anos. Ele ressalta: “Nos últimos anos, esta organização multilateral tem insistido em suas orientações para os debates em torno dos problemas agroalimentares mundiais sobre a importância da busca simultânea de preservação ambiental e de garantia do direito humano à alimentação adequada. Desde 2019, a FAO promove a década da agricultura familiar, visando favorecer sistemas alimentares resistentes às mudanças climáticas e indutores de desenvolvimento territorial inclusivo, protegendo a biodiversidade, o meio ambiente e a cultura." 

 

A agroecologia passa a não ser apenas um modelo de produção, mas um convite para repensar o ciclo de vida dos alimentos e nosso papel dentro dele, promovendo uma relação mais responsável e equilibrada com o meio ambiente.

 

Prévia do IPCA-15 sobe 0,54%, puxada por alta nos preços de energia e alimentos, e reforça expectativa de novo aumento na Selic em novembro
por
Otávio Rodrigues Preto
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30/10/2024 - 12h

A prévia da inflação oficial de outubro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) e divulgada pelo IBGE na última quinta-feira (24), surpreendeu o mercado ao registrar uma alta de 0,54%, acima das expectativas dos analistas, que previam 0,50%. Esse resultado trouxe um impacto significativo para a economia brasileira, pressionando tanto o câmbio quanto o mercado de juros, além de influenciar o desempenho da bolsa de valores.

A alta do IPCA-15 foi impulsionada principalmente pelo aumento de 1,72% no grupo Habitação, com destaque para a elevação de 5,29% nos preços da energia elétrica residencial. A aplicação da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que adiciona R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos, foi o principal fator para o encarecimento da energia. Outros itens também contribuíram para a pressão inflacionária, como o gás de botijão, que subiu 2,17%, e os alimentos, que tiveram alta de 0,87%. Entre os produtos alimentícios, destacaram-se o contrafilé (5,42%) e o café moído (4,58%).

No acumulado de 12 meses, a prévia da inflação passou de 4,12% em setembro para 4,47% em outubro, ficando próxima do teto da meta de 4,50% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para 2024. Essa aceleração aumenta a expectativa de que o Banco Central (BC), sob a liderança de Roberto Campos Neto, intensifique o ritmo de alta da taxa Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 5 e 6 de novembro, e espera-se um aumento de 0,50 ponto percentual.

Dólar - Unsplash.com
Dólar - Unsplash.com

Enquanto isso, o mercado reagiu com nervosismo à divulgação dos dados. O dólar atingiu R$ 5,70 na manhã de quinta-feira, refletindo as preocupações com a inflação e o futuro da política monetária. O índice Ibovespa, por sua vez, abriu em queda, pressionado pelo cenário interno, apesar de um ambiente positivo nas bolsas internacionais, com altas nos mercados europeus e Wall Street indicando uma abertura no verde.

Além de Habitação e Alimentação, o grupo de Saúde e cuidados pessoais também registrou alta de 0,49%, influenciado pelo reajuste dos planos de saúde. O único setor a apresentar queda foi Transportes, com uma redução de 0,33% nos preços, devido principalmente à queda nas tarifas de passagens aéreas (-11,40%) e transporte público, reflexo de medidas de gratuidade durante as eleições municipais.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Decisão visa evitar problemas para o Novo Banco de Desenvolvimento em meio às sanções contra a Rússia e fortalecer o papel do Brasil no bloco econômico.
por
Otávio Rodrigues Preto
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30/10/2024 - 12h

O presidente russo, Vladimir Putin, confirmou na última quinta-feira (24) a proposta de manter o Brasil na liderança do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), principal instituição financeira do BRICS, por mais cinco anos, garantindo a continuidade de Dilma Rousseff na presidência do banco. O atual mandato de Dilma, iniciado em março de 2023, terminaria em julho de 2025, mas a extensão foi sugerida para evitar possíveis complicações relacionadas à guerra na Ucrânia.

Segundo Putin, a decisão de manter Dilma no cargo tem o objetivo de preservar a estabilidade do NDB, considerando que as sanções impostas à Rússia devido ao conflito poderiam prejudicar a atuação da instituição caso um executivo russo assumisse a presidência. "Não queremos transferir todos os problemas associados à Rússia para instituições em cujo desenvolvimento estamos interessados", afirmou o presidente russo.

Pelo regime de rodízio do NDB, a Rússia seria a próxima a indicar o presidente do banco, que tem sede em Xangai, na China, e gerencia cerca de US$ 33 bilhões em financiamentos para projetos nos países do BRICS e no Sul Global. No entanto, Putin optou por abrir mão da indicação russa, favorecendo o Brasil, que também está à frente do G20 este ano e assumirá a presidência do BRICS em 2025.

Os paísesque fazem parte do BRICS
Os países que fazem parte do BRICS - Reprodução Canva

Dilma Rousseff, que substituiu Marcos Troyjo na liderança do NDB, destacou recentemente a importância do banco em expandir os investimentos nos países do bloco e defender o uso de moedas locais para o financiamento. "É crucial disponibilizar financiamento em moeda local através de plataformas específicas", afirmou durante a última cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia.

A proposta de extensão do mandato ainda precisa ser formalmente aprovada pelos governadores do banco, que representam os países membros. Caso seja confirmada, a continuidade de Dilma reforçará o papel do Brasil no cenário internacional, especialmente no momento em que o país lidera grandes fóruns multilaterais, como o G20 e o BRICS.
 

Isolamento social prejudica muitas áreas da economia, mas mercado erótico caminha na contramão
por
Paula Paolini Remondini
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30/06/2020 - 12h

A busca por alternativas de lazer no meio da pandemia cresce cada vez mais. As pessoas que estão passando por esse momento sozinhas acabam procurando o prazer. Mas isso não se restringe apenas aos solteiros. Muitos casais em confinamento têm recorrido a artifícios externos para apimentar a relação. 

O mercado erótico vem apresentando forte crescimento desde que o isolamento social começou. Conhecer-se melhor ou se aproximar ainda mais do parceiro são alguns dos impulsos que têm permitido às empresas do setor colher bons resultados neste momento de crise. 

Na primeira quinzena de maio, a ex-BBB Marcela Mc Gowan, especialista em saúde feminina, ginecologista e obstetra, postou em seu instagram (@marcelamcgowan) uma apresentação de produtos clássicos e novos de um dos sex shops mais famosos do Brasil, a Exclusiva Sexshop (@exclusivasex_oficial), que obteve mais de dois milhões de visualizações. Além da promoção das mercadorias, muitas lojas utilizam as redes sociais para tirar dúvidas, curiosidades e até divertir os clientes com postagens organizadas e interessantes.  

A Agemt conversou com Andrei Marsiglia, proprietário do sex shop Doce Sensualidade (@doce_sensualidade) e também terapeuta sexual, sobre como funciona sua loja e como ela está lidando com esse fenômeno na quarentena. 

“Aqui percorremos um caminho que começa desde a parte da autoestima, onde há os sabonetes íntimos, desodorantes, perfumes, coletores menstruais e cremes hidrantes e até parte de suplementação alimentar, chegando na parte de pompoarismo, muito importante para a saúde da mulher.” 

Andrei também possui em sua loja uma sala especial para conversar com os clientes sobre suas inseguranças, dúvidas e curiosidades relacionadas ao sexo. Mesmo durante o isolamento social, seus atendimentos continuam pela internet, onde consegue ajudar seu público, majoritariamente feminino.

“Conversando, vou descobrindo o que o cliente precisa. Depois da primeira parte, vem a segunda fase, que é a lubrificação e vários tipos de excitantes, para finalmente chegarmos nos brinquedos, onde trabalha-se a desconstrução desse tabu que envolve o sexo”, completa Andrei, acrescentando que, além dos brinquedos e outros produtos, a loja conta com lingeries e fantasias. 

“Estou vendendo mais pelo WhatsApp e Instagram, onde os pedidos aumentaram bastante. Pelo e-commerce houve uma movimentada, mas ainda é menor quando comparado às redes sociais. Apesar desse aumento das vendas pela internet, meu forte continua em loja física”, afirma Andrei.  

O empresário conta que muitas vezes ele mesmo vai entregar os pedidos para os clientes, que preferem um atendimento mais rápido, e sempre fica atento aos cuidados de higiene, utilizando máscara, álcool em gel e o devido distanciamento. Há ainda a opção de retirar o produto na loja, onde o pedido é feito previamente pela internet e fica pronto para o cliente buscar. 

O produto mais procurado, segundo o terapeuta, são os vibradores. Uma pesquisa da CBN confirma esse fato, mostrando que houve um aumento de 50% nas vendas de vibradores no país. “Também há uma grande procura pelo satisfyer, um novo produto que está fazendo sucesso entre as mulheres. Ele promete um orgasmo em cinco minutos e ando vendendo bastante dele.” 

“No isolamento, devido a tantos acontecimentos, as pessoas tendem a pensar em muitas coisas, incluindo o prazer. Quem está sozinho procura cada vez mais essa alternativa dos produtos eróticos”, finaliza Andrei. 

A pesquisa da CBN também mostra que a maioria dos consumidores de vibradores é composta por mulheres de 25 a 35 anos que estão em um relacionamento. Roberta Nascimento conta que foi motivada por querer inovar na hora das relações com seu parceiro e sempre gostou de consumir em sex shops, mesmo quando era solteira. “O uso na quarentena aumentou e comprei alguns produtos como plugs, gel e estimulantes de libido, que acho bem interessantes." Roberta conta que também prefere que a entrega seja discreta, até mesmo escondendo o nome da loja no pacote, embora more apenas com seu companheiro. 

Já Catherine Sekine não se importa com um modo reservado de receber sua compra. “Como moro em prédio e tem uma boa rotatividade de porteiros, não me importo muito como vem a encomenda. Se for discreto melhor, mas se possuir o logo da loja ou alguma indicação do que é o produto não tenho problema com isso.”

Catherine expressa que os preços atrativos e diversas promoções dos sites que já consumia antes incentivaram ainda mais suas compras de produtos eróticos durante o isolamento social. “O gel, o kit algema e o vibrador que comprei na loja Aline Lingerie (@alinelingerie) chegaram bem rápido e todo o processo foi bem simples. Eu e meu companheiro indicamos totalmente os produtos e tudo foi bem satisfatório.”  

Os solteiros estão curtindo as compras sensuais da mesma forma. Beatriz Lisanti viu que ficaria um longo período em casa e com mais tempo livre, por isso, já que consumia artigos desse setor antes da pandemia, pensou em experimentar novas opções. “Queria uma coisa maior e mais sofisticada do que já tenho, então decidi investir em algo mais caro”, relata. Além disso, Beatriz  procurou se informar sobre os assuntos antes de fazer uma compra, como o pompoarismo, ficando curiosa para tentar. 

De acordo com Lisanti, o sex shop Pentynova (@novapanty) apresenta um site recheado de informações detalhadas de cada produto e que ainda contém vídeos de vários produtos sendo demonstrados em objetos de vidro com água, expondo a intensidade um por um. Além disso, deixa disponível a opinião dos compradores, facilitando para quem quer entender mais do assunto. 

“Como já comprei mais de uma vez nesse lugar, sou muito fã dos produtos e recomendo para quem quiser algo confortável e de qualidade. Inclusive, gosto muito do posicionamento da marca, sendo que vai além de um site de produtos eróticos e abraça todo tipo de público. A página deles tem até alguns contos eróticos para entreter a galera que acessa”, expressa Beatriz.
 

Com feiras e eventos suspensos pelas medidas de isolamento, profissionais usam redes sociais para divulgar e vender seu trabalho
por
Luísa Eller
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29/06/2020 - 12h
artesaos pandemia
Marketing digital se tornou aliada de pequenos empreendedores (Foto:pixabay)

Com o cancelamento de feiras e eventos, decorrente do isolamento social, muitos artesãos estão preocupados em como divulgar e vender seus trabalhos, já que esses locais contribuem para a promoção do artesanato. As vendas de itens não essenciais caíram em vários setores. Um estudo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostra que, no período entre 15 de março e 18 de abril, as perdas mais expressivas se concentraram nos segmentos varejistas especializados na venda de itens não essenciais ( R$ 78,27 bilhões). Com essa retração no comércio, os pequenos artesãos, que em sua maioria são independentes, estão tendo que buscar maneiras de se reinventar. As redes sociais se tornaram uma peça importante para divulgação e venda de seus trabalhos. Os artistas apostam na publicidade online, o chamado marketing digital, e no e-commerce.

Ana Paula Mauricio comercializa bijuterias e acessórios online e já sentiu uma diferença nas vendas. “A demanda diminuiu, em média, 60%. As pessoas estão com medo de gastar com coisas supérfluas, devido à instabilidade do mercado”, afirma. A microempreendedora está apostando ainda mais nas mídias sociais para manter as vendas. Segundo uma pesquisa feita pela Cision, empresa de relações públicas dos Estados Unidos, 84% das pessoas esperam que uma marca produza conteúdo que entretenha e promova experiências. Isso fez com que a empresária investisse na divulgação de peças. “Precisei trabalhar com mais fotos e abusar dos artifícios visuais que agradassem os olhos”, conta.

Além disso, Ana Paula ainda teve que ampliar algumas medidas de descontos, parcelamento e até prorrogar pagamentos para que os clientes continuassem comprando. “Essas medidas, muito provavelmente, serão mantidas após esse período, até o mercado se aquecer novamente”, conclui a empreendedora.

Outro caso é o de Ana Nunes, que trabalha exclusivamente com artesanato. Ela conta que não teve muita queda nas vendas, mas encontrou dificuldades para comprar materiais para produção, com as lojas fechadas na cidade. A artesã busca sempre estar atenta às mudanças que ocorrem no comércio. “No momento estou me reinventando, fazendo cursos, focando no meu cliente-alvo e em estratégias para alcançar meu objetivo”, afirma, acrescentando que uma oportunidade surgida na crise foi a de confeccionar máscaras de proteção, o que proporcionou uma importante ajuda financeira.  

Ana também está focada na publicidade digital e vendas online, um segmento que vem crescendo muito no mercado e dando resultados. “O comércio online é o futuro, hoje não se precisa de uma loja física, a loja online atinge a minha cidade, meu estado, meu país e o mundo”, diz. Segundo dados do IBGE, cerca de 80% dos brasileiros têm acesso à internet e uma pesquisa feita pela agência de marketing Ironpaper concluiu que 93% das decisões de compra são influenciadas pelas mídias sociais. Ou seja, para pequenos empreendedores, estar conectado tem rendido lucros.

No mês de abril, a designer e proprietária da Yankatu, loja de design artesanal, Maria Fernanda Paes de Barros, criou o projeto social online “Artesãos do Brasil”, para dar suporte aos artesãos das áreas mais remotas do país. Para isso,  lançou uma campanha na plataforma de crowdfouning Catarse, onde há pacotes de valores diversos e de diferentes artesãos. O comprador escolhe seu pacote e envia um e-mail dizendo qual artesão gostaria de ajudar. O artista irá produzir sua peça e, assim que a quarentena acabar, colocará no correio para envio. “A Yankatu funcionou apenas como uma facilitadora, uma ponte para que as pessoas pudessem acessar os artesãos”, conta a designer. Segundo ela,  durante esse período, os profissionais tiveram seus trabalhos divulgados em diversos portais.

Barros também aponta que a campanha teve grande visibilidade e resultado por estar em uma plataforma online. “As redes sociais com certeza ajudam muito, principalmente numa crise como a que estamos vivendo, na qual precisamos nos resguardar e o contato social é praticamente zero.” Ela acrescenta que “com certeza a abrangência da campanha foi muito maior graças ao uso do Instagram”.

 

Após queda abrupta da receita, associação prevê corte de 25% no número de trabalhadores
por
Adriane Garotti
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29/06/2020 - 12h

Os adiamentos e cancelamentos de eventos neste ano atingiram em cheio o setor cultural – principalmente as produtoras de shows e festivais. Um exemplo disso foi a postergação da Olimpíada de Tóquio, que estava marcada para acontecer em 2020, mas devido à Covid-19 foi transferida para julho de 2021. Os trabalhadores do setor de eventos também sofrem com a crise econômica gerada por essa paralisação sem previsão de retorno.

Pessoas que trabalham em grandes eventos, como nos setores de limpeza, segurança, carregadores de grades e equipamentos, estão em situação de vulnerabilidade neste período de crise. Sem contar os trabalhadores informais, que muitas vezes tiram sua renda da venda de comidas, bebidas e camisetas na porta dos grandes shows e festivais.

A Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), junto com a Go Live Brasil – um movimento que uniu líderes do setor de eventos com o intuito de apoiar as empresas nesse momento da pandemia –, mostra em suas pesquisas que o setor já gerou 25 milhões de empregos, sendo 5 milhões indiretos e freelancers, que dependem inteiramente da geração de renda pela realização de shows, festivais e congressos. A informalidade sofre com a incerteza da retomada das atividades e, também, com a falta de visibilidade perante as políticas públicas emergenciais para aqueles que não têm os benefícios da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Doreni Caramori Jr, presidente da Abrape, afirma que houve uma significativa redução, que beira 100%, na receita do setor desde o início da paralisação, incluindo a queda na venda de eventos futuros, o que prejudica a gestão de novos negócios. “Isso envolve fluxo de caixa, questões de relacionamento com fornecedores, clientes e, principalmente, as questões de gestão do time da equipe. A tendência é que isso continue impactando bastante até o momento da retomada nesses itens”, diz o empresário. 

Não é apenas para os trabalhadores informais do setor que a crise está tomando grandes dimensões. Segundo o site Celebrity Access, que fornece informações sobre resultados de bilheteria, disponibilidade de artistas e arquivos de notícias, no início de maio, a Live Nation – uma das maiores promotoras de eventos do mundo – anunciou que iria emitir US$ 800 milhões em notas garantidas, apoiadas pelos seus ativos. A arrecadação será para financiar “fins corporativos” e não permitir a estagnação do giro econômico da empresa durante o período da crise.

No Brasil, o setor de eventos tem participação de 12,93% no PIB e um impacto de R$ 936 bilhões na economia, segundo dados da Go Live Brasil. A realização de grandes eventos colabora com a movimentação de outros setores, como turismo, alimentação e empresas terceirizadas.

Pedro Augusto Guimarães, presidente da Apresenta Rio, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que uma única edição do Rock In Rio é capaz de movimentar 30 mil empregos diretos. Normalmente, quando se trata de grandes festivais de música, a movimentação econômica nas cidades-sede fica muito mais intensa, pois o fluxo de pessoas que se deslocam entre estados e até mesmo países é muito grande. Esse fator demanda reservas de hospedagem, compra de passagens e incentiva o turismo local.

 (Reprodução: Go Live Brasil)
 (Reprodução: Go Live Brasil)

 

Inicialmente, quando a discussão era somente sobre a remarcação dos grandes eventos para o segundo semestre deste ano, ainda havia uma esperança de que o setor fosse retornar logo à ativa. Entretanto, quando os grandes festivais de música foram adiados, como o Coachella, na Califórnia, e o Lollapalooza, no Brasil, empresas de entretenimento ao vivo como a T4F foram afetadas em diversos aspectos econômicos e logísticos, como remarcação de datas com artistas e locais para realização dos eventos.

Caramori, da Abrape, afirma estar preocupado com os efeitos da crise no Brasil. “O número de colaboradores diretos do nosso setor chega próximo a 2 milhões. A nossa pesquisa apontou que o percentual passa dos 25% de demissões previstas para a crise, em função disso é uma matemática bastante linear. Você projeta essa demissão prevista nesta mostra – que é 25% – sobre toda a população de trabalhadores no nosso setor e estima que o risco é de 580 mil demissões nessa cadeia produtiva que emprega quase 2 milhões de brasileiros.”

No início de abril, o governo federal publicou uma medida provisória (MP) na qual dispensa os setores de turismo e cultura de reembolsarem seus clientes no período imediato. Também estendeu o prazo para que esse ressarcimento seja feito em até um ano após o fim da pandemia – neste caso, o ajuste será feito de acordo com a inflação do momento. Ainda segundo a MP, as empresas também dispõem de três opções: remarcar os serviços, disponibilizar crédito para o uso ou redução na compra de outros produtos da empresa ou firmar algum outro acordo com o consumidor. 

Marina Emily, 21, tinha ingressos comprados para o show da cantora norte-americana Taylor Swift, que iria trazer sua turnê “Lover Fest” para o Brasil em julho. A apresentação no Allianz Parque foi adiada para o próximo ano, porém as novas datas não foram divulgadas. “Como não foi cancelado, só adiado, isso me tranquilizou. Fiquei bem triste, porém já imaginava que fosse acontecer.” A estudante de Rádio e TV brinca que, mesmo diante da incerteza das novas datas, ela irá arrumar um jeito de encaixar o show na sua agenda. 

O presidente da Abrape indica que os pontos mais incertos do retorno dos eventos são as variáveis ambientais – curva de contágio e mortalidade –, a disponibilidade do produto, que depende inteiramente da oferta do setor, e, por fim, o comportamento do consumidor, se ele vai querer ir a eventos com características tão específicas pós-pandemia. 

Caramori ainda enfatiza que as previsões de retorno são muito incertas. “Acho que é possível termos eventos em 2021 sim, acho até que para alguns perfis de eventos é muito provável, mas lógico que qualquer antecipação nesse momento soa uma previsão amplamente subjetiva.”

 

Imagem da capa: Montagem do Lollapalooza 2017 no autódromo de Interlagos. (Reprodução: internet / VEJA)

Negociações com centrão e aceno a propostas de teor desenvolvimentista podem levar à perda do último pilar eleitoral de Bolsonaro
por
Fabrício Indrigo
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29/06/2020 - 12h
Paulo Guedes

                                                                 Ministro Paulo Guedes em reunião ministerial (Foto: Adriano Macho/Reuters)

A última saída de um ministro do governo Bolsonaro foi a de Abraham Weintraub, que era responsável pela pasta da Educação. Sua saída é mais uma das várias que aconteceram. A primeira foi a de Gustavo  Bebianno, que morreu em março deste ano. Ex-ministro da Secretaria-Geral, ele deixou o cargo em 18 de fevereiro do ano passado. De lá para cá, nove mudanças ocorreram, inclusive a demissão de um dos principais nomes desse governo: Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública).

Somente neste ano, Bolsonaro já passou por três crises ministeriais. Enquanto o Brasil enfrenta a pior crise sanitária e econômica de sua história, o governo insiste em criar ainda mais rixas contra seus adversários políticos. A famigerada “governabilidade” está tão complicada que Bolsonaro, que em campanha afirmava jamais negociar com o sistema, agora se vê sem alternativas e, numa verdadeira ginástica mental, fala que isso nunca foi dito. Essa aproximação com o centrão, que detém diversos nomes ligados aos piores casos de corrupção que esse país já viu e se mostra tão contrário à agenda reformista do Ministério da Economia, promete  balançar o casamento, como o próprio presidente gosta de classificar, entre ele e o último pilar da época de campanha, o ministro Paulo Guedes.

Apesar de os líderes de partidos como DEM, MDB, Podemos, entre outros, elogiarem as tentativas de reforma por parte de Guedes, na prática têm atitudes extremamente opostas. Partidos de centro sempre foram os que mais gastaram o dinheiro do contribuinte, seja com Fundão, com auxílios, ou qualquer outra farra com o dinheiro público que a legislação permita. Um exemplo clássico foi a resistência dos políticos em votar a reforma da Previdência, que só foi possível após a liberação das emendas parlamentares.

A velha política, classificada por Bolsonaro e seus aliados como principal inimigo da nação, de uma hora para outra virou a principal aliada para sua continuidade no poder. Nomes como Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto, que foram indiciados em escândalos de corrupção do Mensalão ainda no governo Lula, são os líderes dessa parte do Legislativo em Brasília. O presidente sabe que a única forma de manter o apoio é a liberação de dinheiro, e isso desagrada muito Guedes.

Mais recentemente foi apresentado pelo general Braga Neto o programa desenvolvimentista Pró-Brasil, sem o aval ou sequer a participação de Paulo Guedes em seu desenvolvimento. Essa atitude caiu como uma luva para os partidos de centro. Isso porque o plano exclui o teto de gasto e seria mais uma forma de conseguir capital público. Cada vez mais Guedes perde força dentro do governo e isso pode atrapalhar muito os planos de Bolsonaro.

O professor de economia da PUC-SP Claudemir Galvani explica que a eventual saída do ministro da Economia desgastaria ainda mais o atual governo, uma vez que Guedes é um dos quadros respeitados deste limitado ministério. Além dele, somente o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, é considerado competente e com currículo para o cargo. Desta forma, Bolsonaro ficaria só com os amigos na sua equipe e somente teria apoio dos 25% de brasileiros classificados por ele como jihadistas.

Além do desgaste com o eleitorado, Bolsonaro perderia popularidade dentro do mercado financeiro. André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, conta que a saída do ministro colocaria um ponto final na agenda liberal do governo, o que faria os preços dos ativos caírem fortemente, e pioraria ainda mais o ambiente de negócios brasileiro. Ele ainda fala que a curto prazo a economia não seria tão impactada, contudo, em longo prazo a situação seria desafiadora, com uma queda da bolsa bastante importante.

As próximas semanas em território tupiniquim serão intensas. O número de casos de Covid-19 não parece diminuir, o número de desempregados e empresas encerrando atividades só cresce. Enquanto isso, em Brasília, o governo parece mais preocupado com a reeleição em 2022 e o presidente parece não se importar com o povo que o elegeu.

Para Mariana Jansen, professora da PUC-SP, e Rafael Bianchini, da FGV, cenário exige outras prioridades do governo
por
Beatriz Leite
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29/06/2020 - 12h

Diante da pandemia do novo coronavírus, com empregos sendo perdidos, emergências na saúde e necessidade de investimentos em proteção social, o governo federal continua defendendo que o ajuste fiscal é sua principal pauta. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2020, período em que o país ainda não tinha sido totalmente afetado pela crise sanitária – já que o isolamento social começou a ser adotado a partir da segunda quinzena de março –, apresentou queda de 1,5% em relação ao trimestre anterior.

Em maio, foi aprovada a chamada “PEC do Orçamento de Guerra”, que dá ao governo mais flexibilidade para gastar recursos no combate à pandemia do novo coronavírus, enquanto o decreto do estado de calamidade pública durar. Mas, de acordo com Rafael Bianchini, doutor em direito comercial e professor da FGV Law, quando acabar a calamidade pública do ponto de vista sanitário, haverá ainda a calamidade pública do ponto de vista econômico: “Eu acho que a calamidade econômica de pessoas sem emprego vai marcar muito mais a economia brasileira do que as mortes da Covid-19”.

            O debate sobre o ajuste fiscal brasileiro é antigo e tem dois principais aspectos: um estrutural e outro conjuntural. O primeiro ocorre devido ao modelo de desenvolvimento industrial adotado pelo país entre as décadas de 1930 e 1970, quando a dívida pública aumentou muito. Já o conjuntural passou a ocorrer a partir de 1980, quando o ritmo de crescimento do país desacelerou. A partir de 1994, com o Plano Real, tornou-se uma das principais pautas do governo.

            Esse plano nunca deixou de ser discutido, mas teve um marco no governo de Michel Temer, quando foi aprovada a Emenda Constitucional 95, que propõe congelar por 20 anos o aumento dos gastos públicos.

O ajuste fiscal é a principal bandeira dos economistas neoliberais, como os que formam a atual equipe do Ministério da Economia, para “consertar” as contas públicas brasileiras. Mariana Jansen, doutora em economia, professora e coordenadora do curso de especialização em economia urbana e gestão pública da PUC-SP, acredita que, se permanecer essa visão restrita em relação à questão fiscal na atual conjuntura, a crise gerada pela pandemia pode acabar se aprofundando.

            Segundo os economistas neoliberais, que defendem o livre mercado, sem interferências do Estado, quando há excesso de gastos por parte do governo e ocorre um déficit fiscal, o Estado tende a aumentar a arrecadação através de impostos para financiar seus gastos. Isso gera um maior custo ao setor produtivo, ampliando o chamado “custo Brasil”. Outro argumento é que o aumento do gasto faz a dívida pública crescer, elevando os indicadores de percepção de risco dos investidores internacionais com relação à economia brasileira, entre eles o risco-país.  

            Porém, Jansen replica dizendo que há outras formas de aumentar a arrecadação pública, que não passam pelo aumento da tributação. Quanto ao risco- país, a relação dívida pública/ PIB não é o único indicador. Ele é um dentre vários outros. Além disso, a professora deixa claro que “grande parte dos recursos [estrangeiros] que entraram na nossa economia não entraram no setor produtivo. Eles entraram no mercado financeiro”.

            Já Bianchini considera que é importante haver um ajuste fiscal estrutural para a adoção de políticas anticíclicas, ou seja, em momentos que seja necessário gastar mais, o Estado possa fazer isso. Outro problema ainda é o alto gasto com pessoal feito pelos estados e a Previdência. O Brasil não é um país rico e nem um país tão velho como aqueles que têm previdência semelhante à nossa, tornando as despesas muito regressivas. O economista lembra também que um Estado cronicamente deficitário se endivida mais por conta dos juros que continuam aumentando. Porém, pondera que, no momento atual, o ajuste fiscal não deve ser o foco: “Mesmo eu, que sou favorável a um ajuste estrutural, considero essa questão secundária na atual conjuntura. Para fazer um ajuste estrutural a gente precisa viver”.

            No início de junho, após muita resistência, o governo aprovou estender por mais tempo o auxílio emergencial, inicialmente de três parcelas de R$ 600. Mas ainda não está definido até quando, qual o valor e se o grupo contemplado pelo benefício será ampliado.

Devido ao enorme crescimento da taxa de desocupação, que no trimestre encerrado em abril chegou a 12,6% da população (sem contar aqueles que tiveram contratos suspensos e redução salarial), uma renda que contemple pelo menos o básico para sobreviver é muito necessária.

Segundo a professora da PUC-SP, a lógica da equipe econômica, que se espalha para diversos setores da população, é que é necessário reabrir o país porque as pessoas precisam de emprego e não de caridade.

O professor da FGV ainda aponta que um ponto crucial para a prorrogação do auxílio é a sobrevivência do próprio governo: “É uma questão que, se os governantes não fizerem isso, eu não tenho dúvida, eles vão cair”.