Sem orientação adequada, donas de pequenos negócios relatam dificuldades para entender as mudanças na economia e veem sua renda ameaçada
por
Manuela Dias
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28/11/2025 - 12h

A falta de informação qualificada tem se tornado uma das principais barreiras para microempreendedoras brasileiras que dependem de insumos importados ou de produtos cujo preço varia conforme fatores globais. Em meio a mudanças recentes nas taxas, oscilações cambiais e aumento da burocracia para transações internacionais, muitas afirmam que não sabem onde buscar apoio técnico. É o caso de Danielle Nayara, maquiadora e microempreendedora, que iniciou seu negócio após deixar o emprego formal para trabalhar com eventos.

“Eu sempre gostei de maquiagem, mas nunca tinha pensado em maquiar outras pessoas. Só comecei depois de uma sugestão, fiz um curso e acabei me apaixonando pela profissão”, conta. Hoje, ela atende clientes em casa, em eventos e até pernoita em residências para preparar noivas e madrinhas. Mas apesar da agenda cheia, manter o negócio funcionando tem se tornado cada vez mais complexo.

Um desafio diário

Para Danielle, o principal custo do seu trabalho é a compra de materiais: produtos que sofrem variações constantes de preço, muitas delas impactadas por fatores externos. “Um produto que eu comprei por um valor semana passada já está mais caro hoje. Quando isso acontece, eu preciso ajustar meus preços, porque se não aumento, perco margem”, explica.

Ela relata que, muitas vezes, não entende o motivo dessas oscilações nem encontra informação clara sobre o que está influenciando o aumento. Esse descompasso entre preço e explicação não só dificulta o planejamento, como a impede de aproveitar oportunidades.

“A qualidade dos produtos é essencial. Se o material é ruim, não adianta eu ser boa. Só que para comprar produtos bons, eu preciso pesquisar muito. E os preços mudam rápido demais”, diz.

A falta de informação também interfere na profissionalização. Em eventos como a Beauty Fair, Danielle conseguiu adquirir produtos de alta qualidade com preço reduzido, mas admite que depende do acaso: “Eu fico sabendo por redes sociais. Se eu não vejo no Instagram ou no TikTok, eu perco a chance.”

Redes sociais como principal fonte

Como muitas microempreendedoras, Danielle se informa principalmente pelas redes sociais. “É onde está tudo hoje: Instagram, TikTok, WhatsApp. É ali que vejo notícias, promoções e mudanças”, afirma. O problema, segundo especialistas, é que essa dependência de canais informais deixa empreendedoras vulneráveis. Notícias sobre variações cambiais, tarifas, mudanças em importações ou novas regras para comercialização de cosméticos dificilmente chegam a essas mulheres de forma clara e estruturada. Isso faz com que muitas decisões sejam tomadas às cegas.

Economistas e organizações ligadas ao empreendedorismo feminino têm reiterado que a falta de informação clara é hoje um dos maiores riscos para pequenos negócios liderados por mulheres. À medida que insumos sofrem com oscilações globais, e que o comércio exterior se torna mais complexo, milhares de empreendedoras enfrentam um mercado imprevisível sem apoio técnico.

No caso de Danielle, o impacto ainda é administrável, mas ela admite a preocupação: “Eu tento acompanhar tudo, mas é difícil saber o que realmente vai afetar meu trabalho. Às vezes, descubro um aumento só quando chego na loja para comprar”, relata.

Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”.
“Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”. Reprodução: arquivo pessoal 

Força para manter o negócio! 

Apesar dos desafios impostos pela falta de informação, pelos custos instáveis e pelas mudanças constantes no mercado, mulheres como Danielle continuam sustentando seus negócios com esforço diário, intuição e dedicação. A realidade que enfrentam é marcada por incertezas, mas também por uma determinação que atravessa jornadas longas, madrugadas de trabalho e decisões tomadas sem o suporte adequado.

No fim das contas, o que sustenta esses negócios não é apenas acesso a crédito ou políticas públicas: é a força de mulheres que, todos os dias, escolhem continuar. A luta feminina, silenciosa ou coletiva, segue sendo a certeza em meio ao cenário incerto e continua provando que, quando essas mulheres resistem, elas transformam não só suas próprias histórias, mas também o futuro do empreendedorismo no país.

 

Transformando a vida de milhões de pessoas todo ano, merece mais reconhecimento e recursos para manter o Brasil vivo
por
Vítor Nhoatto
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28/11/2025 - 12h

Por Vítor Nhoatto

 

Uma das poucas certezas de todo ser humano, tal qual a morte, é a doença. Sabe aquele resfriado que vem junto ao seco do frio, uma ferida que infecciona depois de cair de bicicleta, até aquelas mais sérias que podem aparecer. Fato é que sem saúde não se vive, sendo um direito constitucional não por acaso. Sendo assim, é preciso que o acesso a essa necessidade tão básica quanto respirar e se alimentar seja universal, e não um bem a se comprar apenas por aqueles que podem.

Para isso então que existe o Sistema Único de Saúde (SUS), tão falado e muito mais presente na vida do que alguns podem sequer imaginar, ou querer. Para se ter uma ideia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador dos medicamentos disponíveis no país, de controle alimentar e hídrico, faz parte do SUS. Regulamentado em 1990, é responsável pelas vacinas e desenvolvimento científico ainda, e sabe os planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde (ANS), que os regula, também é integrante do sistema.

Para falar dessa diferença real na vida, antes é preciso até olhar nos papéis para lembrar já a quanto tempo ele é médico, enfermeiro, farmácia. De cabelos curtos hoje, depois de uma repaginada no visual devido ao câncer de pulmão que teve justamente na pandemia de COVID-19, Léia Marisa celebra que há dois anos consegue receber na AME Maria Zélia o micofenolato de Mofetila. Pois é, muitas vezes quando o nome é chique o preço é alto, uns R$500 por caixa, mil reais por mês gastos antes da papelada ficar pronta e ser aceita em 30 de novembro de 2023, já que a doença não espera os trâmites e filas.

A ex-professora, atual dona de casa e empresária a distância do seu restaurante, conta como o período de descoberta e tratamento do câncer, que levou até questões reumatológicas, e ajudou a descobrir uma artrite reumatoide, foi muito difícil. Entre dezenas de idas ao hospital de 2020 até 2023 até chegar ao diagnóstico, foram dias desgastantes, assustadores, e toda ajuda foi essencial, principalmente com os custos de sobreviver à doença. No caso dela, o tratamento do tumor foi feito em rede privada graças ao seu plano de saúde empresarial, que custa salgados R$5 mil reais ao mês. Só aqui são quase quatro salários mínimos, um privilégio muito grande, como ela destaca, olhando para um país em que apenas 7,60% da população ganha entre 5 e 10 salários como o Censo de 2022 do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística revela. 

Se aprofundando mais ainda nos fatos, de acordo com o estudo “Quanto custa o câncer” de 2023 do Observatório de Oncologia, do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, os custos de tratamento da doença quadruplicaram nos últimos três anos. Uma sessão de radioterapia ou quimioterapia custava quase R$800 em 2022, e dezenas são necessárias na maioria das vezes. Acrescentando nessa conta, consultas, tomografias e biópsias, mil reais ali e cinco acolá, o custo chega facilmente ultrapassa dezenas de milhares de reais. Isso é ainda mais preocupante tendo em conta a incidência do câncer na população, que segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) entre 2023 e 2025, 704 mil pessoas terão a doença como Marisa. 

E com isso que o SUS se mostra como algo tão relevante, oferecendo tratamento integral e gratuito contra todos os tipos de cânceres. Claro que muitos problemas existem, como destaca Marisa ao lembrar que quando estava no meio do tratamento enfrentou problemas com o plano de saúde, mas que só o medo de depender da demora do SUS caso fosse preciso, a preocupava muito. A saúde é o bem mais precioso para, o que para todos provavelmente deva ser, e por isso justamente que em 2012 a lei 12.732/12 obriga que o tratamento contra o câncer tem que ser iniciado em até 60 dias após o diagnóstico. 

Mas além disso, com os olhos marejados depois de navegar novamente no mar agitado que foi a jornada até a vida que tem hoje, curada e com o diagnóstico da sua doença crônica, ela volta e lembra que a diferença que não ter que pagar pelo Micofenolato que a mantém respirando faz.  Quando tinha que arcar com as despesas era como um fardo a mais imposto a ela, que considera a saúde hoje como o bem mais valioso. As idas mensais  ao posto são um alívio hoje para ela, destacando que o seu medicamento nunca faltou até então, mas que já presenciou pessoas na situação contrária e que não tinham como arcar pessoalmente com os gastos. Essa é uma realidade infelizmente, segundo fiscalização de 2023 da secretaria de contas do Estado de São Paulo, em quase metade dos postos visitados faltavam algum medicamento.

papéis
A cada seis meses Marisa tem que renovar a receita e toda a papelada para solicitação do seu medicamento junto a AME - Foto: Vítor Nhoatto

Milhões de uns

Mesmo que falte muito, afinal, só 4,16% do orçamento federal foi destinado à saúde em 2024 segundo o Painel do Orçamento Federal, a porcentagem vem aumentando desde 2022, e milhões de brasileiros são atendidos todos os dias. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes com um sistema universal de saúde, e 213 milhões dependem diretamente do SUS, segundo o Ministério da Saúde, que contabiliza em média 2,8 bilhões de atendimentos por ano, empregando 3,5 milhões de profissionais.

E mais um desses uns é Valdir Sousa, que do alto de seus 63 anos de idade é um típico caso brasieleiro. Com diabetes do tipo II há 20 anos e hipertenso, conta que se não fosse o acesso ao sistema gratuito, sua vida seria muito diferente, obviamente pelo lado financeiro, e muito também pelo bem-estar. O mineiro nascido em São João do Paraíso e que vive em São Paulo há décadas já viu tanto na vida, e com o passar do tempo o que todos querem e merecem é justamente qualidade de vida. Essa no caso, em grande parte possível graças a insulina que busca no posto na Freguesia do Ó e os comprimidos que cuidam do seu coração acelerado.

Justamente essa hipertensão que é a doença mais presente nos peitos animados dos brasileiros, e 52% da população é diagnosticada com alguma DCNTs, como revela a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Além disso, segundo dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como as de Valdir são tecnicamente chamadas, são as mais comuns no mundo e no Brasil, com o diabetes inclusive tendo aumentado 70% entre 2000 e 2019. 

Para contextualização, nos Estados Unidos existe há alguns anos o movimento nas redes sociais insulin4all, criado pela organização sem fins lucrativos T1 International, que denuncia os altos custos da insulina no país, onde um frasco de 10ml gira em torno de U$330. Tal situação vem levando inclusive pessoas a racionarem o medicamento, o que pode levar a complicações e até a morte em casos mais graves. Já no Brasil, o mesmo remédio é disponibilizado pelo SUS, e o preço máximo permitido por lei é de R$125,30. 

Diante desses dados e o envelhecimento da população fica claro como a saúde vai ser cada vez mais necessária, tal qual destaca o jovem de espírito Valdir, que já foi pedreiro e auxiliar de manutenção geral em uma lanchonete, justamente no Hospital das Clínicas. As histórias que já viu na maior referência de saúde pública brasileira enchem a sua mente, e as palavras saem inquietas sobre as melhorias que o SUS precisa e as pessoas merecem. Ele conta em meio a suspiros que quando precisa de exames mais urgentes, ou consultas em meio a crises, tem que recorrer ao plano de saúde da sua esposa, do qual é dependente, já que as unidades de saúde estão sempre cheias e a fila de espera passa de meses algumas vezes. 

Foi nessas passagens obrigadas pela rede privada que ele inclusive descobriu mais um integrante do seu pacote, a doença renal crônica há um ano. Porém, é no SUS que o acompanhamento com nutricionista, nefrologista e endocrinologista foi possível, uma rotina de cuidados essenciais para uma boa qualidade de vida para quem tem a condição. É graças a essa rede de profissionais e a farmácia popular que Valdir vai aproveitando com os dois filhos e a mulher os seus dias, frisando com a voz até meia trêmula, que sem isso não poderia se ter o seu direito de viver com saúde exercido plenamente.

medicamentos
São graças a compostos como esses que tanto Marisa ou Valdir, e os mais de 100 milhões de brasileiros com doenças crônicas podem viver bem tal qual a constituição garante - Foto: Vítor Nhoatto

 

Desigualdade, corrupção e desemprego juvenil deflagram uma revolta que expõe a fragilidade econômica profundamente enraizada.
por
Pedro Bairon
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14/11/2025 - 12h

Por Pedro Bairon

 

Na primeira semana de setembro de 2025, as ruas de Kathmandu foram tomadas por uma onda de protestos liderados pela chamada Geração Z, quando milhares de jovens se reuniram para denunciar a corrupção, o nepotismo e a desigualdade que dominam a vida pública do Nepal. O estopim foi a proibição de 26 plataformas de redes sociais incluindo Facebook, Instagram, X e YouTube, decretada pelo governo, uma medida que ativistas viram como um ataque à liberdade de expressão, Raj Rana, um nepalês que participou das recentes manifestações reafirma tal posição.

Os protestos rapidamente escalaram: confrontos com a polícia resultaram em uso ostensivos de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real, segundo Rana. No dia 9 de setembro, o primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou, pressionado pela magnitude da insatisfação dos jovens, porém, não se limitou ao veto digital. Por trás da indignação estava uma reclamação mais profunda: a escassez de empregos dignos, a persistência de elites privilegiadas (os chamados “nepo kids”) e a sensação de que, apesar de tanto crescimento econômico reportado, o Estado falhou em converter recursos em oportunidades para a maioria da população. De fato, segundo o Banco Mundial, mais de 80% da força de trabalho nepalesa está na informalidade, um número clássico de economias frágeis. O economista Karki Lama aponta que as remessas enviadas por nepaleses que trabalham no exterior (equivalentes a mais de um terço do PIB, segundo Fundo Monetário Internacional, FMI) sustentam o país, mas não geram empregos de qualidade e mantêm muitos jovens reféns de oportunidades materiais mínimas.

Esses protestos, segundo analistas, não são apenas uma manifestação política: são um grito de alerta sobre a saúde estrutural da economia nepalesa. A relação entre a frustração juvenil e as debilidades econômicas torna-se evidente à medida que se examina o modelo de desenvolvimento vigente no país. A economia nepalesa há muito tempo depende fortemente das remessas de migrantes para manter sua liquidez externa e financiar o consumo interno. Para Lama, entretanto, essa dependência representa um fracasso de capacidade produtiva nacional, não há trabalho suficiente internamente, e a migração torna-se quase inevitável. Mas a crise das ruas tem um custo direto para a economia. Um relatório recente do Banco Mundial alerta que a turbulência política pode reduzir fortemente o crescimento econômico em 2025-26: a previsão foi ajustada para 2,1%, com possibilidade de contração se a instabilidade persistir. O documento prevê ainda uma queda nas chegadas de turistas, um golpe duplo para o Nepal, que depende fortemente do turismo para gerar divisas e emprego formal. A erosão da confiança dos investidores já se tornou palpável. A Federação da Indústria do Nepal (FNCCI), por exemplo, emitiu um apelo para que o novo governo garanta segurança e estabilidade para os negócios, destacando que o setor privado é vital para a recuperação. Segundo esse mesmo apelo, as perdas com os danos materiais causados pelos protestos já afetam indústrias, propriedades e a cadeia de valor do turismo, hotéis, guias, transportes, tudo foi afetado.

Além disso, a insatisfação juvenil encontra respaldo em dados econômicos estruturais que expõem fragilidades profundas. O Nepal registra uma das maiores taxas de desemprego entre jovens na região: cerca de 20 %, segundo o mais recente relatório do IBGE Países. A falta de emprego qualificado, o baixo investimento em infraestrutura produtiva e a fraca diversificação industrial criam uma economia incapaz de absorver seu capital humano mais o peso das remessas, embora vital, é paradoxal: elas sustentam a economia, mas corroem o potencial de desenvolvimento autônomo. Conforme observa a New Humanitarian, muitos jovens veem sua saída como única rota possível, enquanto outros permanecem para protestar contra um sistema que lhes fecha portas. A migração, nesse contexto, deixa cicatrizes na cena política, no tecido social e nas finanças públicas.

O choque dos protestos também traz riscos no balanço externo. A volatilidade gerada pelas manifestações mobiliza redes de capital para fora do país, deixando o Nepal vulnerável a choques cambiais e restringindo sua capacidade de investir em longo prazo. A perda de turistas, a recomposição mais lenta de reservas cambiais e a alta cautela dos investidores estrangeiros são efeitos colaterais duradouros desse momento de ruptura. Do ponto de vista fiscal, a crise exige que o governo interino encontre um delicado equilíbrio. Por um lado, há pressão para responder às demandas dos jovens por mais transparência, combate à corrupção e reforma política. Por outro, há necessidade urgente de restaurar a confiança dos mercados, garantir fluxo de investimentos e sustentar a receita pública. Se o Estado optar por cortes agressivos para manter a disciplina fiscal, pode abrir mão de sua capacidade de gerar empregos, exatamente aquilo que a Geração Z exige. Por outro lado, expandir gastos sem controle também pode agravar vulnerabilidades já existentes. A situação contemporânea do Nepal também reflete um dilema geopolítico. Localizado entre Índia e China, o país sempre foi estratégico para ambos. A instabilidade recente pode frear projetos bilaterais de infraestrutura e perturbar o plano de desenvolvimento sustentável que muitos observadores internacionais defendiam para a nação. Além disso, a falta de boas políticas industriais internas limita sua capacidade de atrair investimento direto que não dependa exclusivamente de remessas ou do turismo.

Embora a revolta da Geração Z tenha derrubado um governo, ela colocou a economia nepalesa sob os holofotes: o modelo baseado em remessas e fluxo turístico é funcional, mas frágil. A instabilidade desencadeada pelos protestos expôs o dilema clássico de economias dependentes: crescer, mas sem construir uma base real de produção, oportunidades e institucionalidade. Se o novo governo quiser responder ao grito dos jovens, terá de investir não apenas na reconstrução política, mas sobretudo na transformação econômica: criando empregos, promovendo reformas estruturais e reduzindo a dependência de fatores que escapam ao controle interno. Sem isso, o Nepal pode voltar a caminhar, mas continuará sobre uma ponte frágil, com vento forte acima e abismo profundo abaixo.

Videogames se aproximam de artigos de luxo devido aos elevados custos
por
Lucca Cantarim dos Santos
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07/11/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Quem acompanha o cenário dos videogames vem se surpreendendo com a alta nos preços dos jogos nestes últimos meses. Com valores que vão desde R$ 249,95, valor do jogo “Hundred Line – Last line of defense”, lançado em abril de 2025, até R$ 499,99, preço do jogo Mario Kart World, que chegou às lojas em junho do mesmo ano. Esses preços têm dificultado cada vez mais o acesso dos fãs aos jogos que desejam, uma vez que acaba sendo inviável para muitos precisar gastar tanto dinheiro sempre que querem jogar um jogo novo. A estudante de sistemas de computação Gabrielle Rodrigues afirma sempre se arrepender de pagar caro em um jogo no dia do lançamento e acabar ficando sem dinheiro para comprar uma roupa ou até mesmo uma passagem do Rio de Janeiro até São Paulo para visitar seus entes queridos. Já o estudante Gabriel Merino alega sentir cada vez mais que não consegue comprar jogos no lançamento, precisando esperar diversos meses até uma baixa no preço ou promoção para finalmente ter acesso ao produto.

Fazer um jogo é um processo extremamente caro, e para a desenvolvedora independente “Dumativa”, responsável por jogos brasileiros como “Enigma do Medo” e “Lenda do Herói”, esse é o principal motivo para o aumento no custo do produto final. Já para Juno Cecílio, CEO da “Gixer Entertainment”, outra desenvolvedora independente, criadora do projeto “Changer Seven”, que se encontra em desenvolvimento atualmente, existe um fator ainda mais sensível.

 

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"Changer Seven", jogo de Juno Cecílio                                                 Foto:Divulgação/Gixer

 

Juno defende que existe uma estratégia de mercado mais agressiva por parte das empresas, que almejam maximizar sua receita em cima de um público fiel e cada vez mais disposto a pagar por franquias conhecidas. O grande problema, é que não existe um teto que defina até onde uma corporação queira ganhar, o que acaba sucateando o setor. O desenvolvedor faz um comparativo com outros setores no Brasil, como o de faculdades, que são compradas, demitem o corpo docente e substituem-no por profissionais mais baratos e revendem para o próximo, que fará o mesmo. Esse caso pode se observar na faculdade Anhembi Morumbi, que sofreu demissões e perdas massivas na grade horária após ser comprada pelo grupo Ânima Educação em 2021, como afirma uma matéria publicada na UOL em 2023.

Mas ele também aponta para outro fator, que também é abordado pela Dumativa, a falta de regionalização do preço. Quando um jogo chega no Brasil apenas convertido pela taxa do dólar, sem considerar a realidade do poder de compra local, ele acaba se tornando um produto quase que de luxo, e é nessas situações que observamos preços como os R$ 500,00 de Mario Kart World. A maioria dos jogos independentes já consideram fatores regionais quando lançam seus produtos em outros países, mas as produções de empresas grandes, como Nintendo, Ubisoft e Activision não, o que agrava uma ideia de “ganância” por parte dessas empresas.

Oferecer preços acessíveis ao consumidor é importante por inúmeros fatores, e um deles é justamente oferecer a experiência de jogo para um público mais amplo. Para muitos fãs de videogames, é extremamente doloroso, apesar de não chegar a um estágio extremo, ser privado de jogar algum jogo que goste devido ao seu custo elevado.

Gabrielle, por exemplo, diz que se sentiria mal caso fosse impedida de comprar um lançamento que estivesse com vontade de jogar. Ela alega que tem vontade de jogar o “Persona 3 Reload” a cerca de um ano, mas até hoje não o fez devido ao alto custo do jogo. Ela conta que até pensou em piratear a mídia apenas para consumo, e pagar por ela quando tivesse a oportunidade – igual já fez com outras franquias – mas que os sistemas que as empresas andam colocando em seus produtos, dificultam muito a pirataria. Gabriel Merino passa por uma situação similar, ficaria chateado caso não conseguisse comprar um jogo devido ao preço, mas também não compraria um jogo à preços exorbitantes mesmo se tivesse as condições para isso.

Lançar os jogos à preços acessíveis é essencial para que essas pessoas consigam consumir a mídia que desejam sem precisar se arriscar na pirataria ou pagar valores elevados. Além disso, é essencial para a criação de um consumo saudável. Nas palavras de Juno, quando um jogo lança à um preço compatível com a realidade do brasileiro, ele vende mais e ajuda a fortalecer o mercado e a comunidade local, e a trazer mais espaço para as empresas no País. Um exemplo foi o “Hollow Knight: Silksong”, lançado pela Team Cherry em setembro desse ano. O preço de R$ 60,00 cobrado pela mídia fez com que ela vendesse muitas unidades em um único dia – culminando na queda dos servidores da plataforma de compras Steam.

As empresas e publicadoras são as primeiras que podem participar na criação de um preço mais acessível e justo para o bolso da população. Grandes empresas e distribuidoras (Nintendo, Ubisoft, Microsoft) podem ajudar aprimorando a regionalização de preços, levando em conta o poder de compra de cada país; aprimorar a educação e formação de talentos, o que em longo prazo reduz o custo de produção global; oferecer programas de incentivo e parcerias com estúdios locais, o que acaba por gerar mais empregos, e visibilidade.

Quanto às empresas independentes, não se pode transferir as mesmas responsabilidades, uma vez que estas não tem o mesmo poder financeiro que as “gigantes do setor”. No entanto, elas podem e devem estabelecer métodos de acessibilidade nos preços de seus jogos, e algumas já tomam as providências, apesar de este ser um dos maiores desafios para essas instituições.

A Dumativa têm feito uso dos sistemas de financiamento coletivo em seus lançamentos, isso ajuda as empresas a terem uma base financeira mais sólida antes mesmo do lançamento, além de estabelecer uma relação saudável com empresa e consumidor, a partir do sistema de recompensas e conteúdo adicional dependendo de quanto cada pessoa optou por investir no jogo, além do próprio produto completo após o lançamento.

Já Juno, da Gixer, amplia ainda mais sua visão, para ele, jogos independentes não precisam competir com os grandes lançamentos em preço, na realidade, esses lançamentos têm de entregar valor percebido, autenticidade e qualidade dentro de seu escopo. Além disso, ele acredita que uma das melhores formas de equilibrar as contas sem depender do preço cheio é a diversificação de fontes de receita, e podem fazer isso por meio do lançamento de edições digitais com bônus, participação em festivais e até mesmo outros tipos de produto, como colecionáveis, histórias em quadrinho e até trilhas sonoras.

Outra ajuda também pode vir das próprias lojas, plataformas como a Steam se destacam quando o assunto é tornar seus preços mais acessíveis. Além da abundância de promoções, principalmente em datas comemorativas, que podem levar um preço de R$ 200,00 a R$ 40,00, a plataforma criou um sistema de famílias, que permite que um grupo de pessoas compartilhem a mesma biblioteca, podendo jogar jogos que pertencem à conta de terceiros (desde que inseridos na mesma família, cujo limite de pessoas é seis).

 

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Logo da loja digital Steam                                                                           Foto: Divulgação/Steam

 

Para Gabrielle Rodrigues e Gabriel Merino, que participam da mesma família alegam o quão benéfico isso é para eles, ambos afirmam como conseguiram ter mais acesso à jogos que não conseguiriam ter de outra forma, além da possibilidade de repartir os custos com os membros do grupo. Gabrielle afirma que financeiramente a família Steam é algo divino.

 

Movimento nas lojas aumentam conforme as épocas temáticas do ano vão chegando
por
Nathalia de Moura
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24/10/2025 - 12h

Por Nathalia de Moura

 

Entre o vai e vem e o sobe e desce das pessoas, a 25 de Março é o centro das vendas, principalmente em épocas como Carnaval, Natal e Halloween. Cores, brilhos, formas, luzes, ocupam as fachadas das lojas fazendo cada cliente lembrar que as bruxas chegam em 31 de outubro, o Papai Noel dará o ar da graça em 25 de dezembro e o Carnaval em breve tomará conta das ruas do País. 

A correria para atender o cliente que precisa de uma abóbora laranja e gigante, a atenção para cortar o tecido para a roupa do velhinho do Polo Norte ou até mesmo separar as lantejoulas para a confecção da fantasia faz parte do dia a dia das vendedoras do centro de São Paulo. Marlene tem 53 anos e veio atrás dos sonhos na capital paulista aos 16. Hoje fala com muito carinho no orgulho em fazer parte desses momentos. Com um sorriso, mas a voz embargada e os olhos marejados, relembra a dificuldade de se iniciar nesse mundo dos produtos de aviamentos e sazonais. Sempre sonhou em ter o que possui hoje, e mesmo com tantos patrões desacreditando de seu potencial, conseguiu ir atrás daquilo que a motivava: a arte do artesanato.

Os produtos chegam na loja e dali, são transformados em grandes realizações. Ela conta que nada é mais gratificante do que poder ajudar alguém que nem sabia o que estava procurando e encontra ali no seu estabelecimento. Na correria dos dias, as horas passam, a agitação aumenta, o fluxo cresce. Cada cliente fica um tempo observando aquele ambiente repleto de oportunidades. Oportunidade de fazer algo diferente do ano anterior, a chance de colocar uma cor diferente na decoração, de enfeitar a casa com pisca-pisca ou até fazer a festa temática do dia das bruxas que não aconteceu antes.

Na salinha apertada, rodeada de papelada importante e também do quadro estampando a foto da sua família, Marlene contava que proporcionar produtos de qualidade aos clientes a transforma. Pode ser que o Papai Noel não seja vendido hoje, que a abóbora gigante ainda passe despercebida ou o letreiro de “Feliz Natal” não seja usado, mas ela segue acreditando que cada fio, botão ou glitter pode ser utilizado em outros momentos justamente para não ser desperdiçado.

Ao andar pelas lojas, percebemos os olhares atentos nas promoções, o barulho dos comentários ao ver uma peça exposta ou as perguntas em relação aos preços. Para lá ou para cá, a multidão toma conta dos ambientes. Mesmo antes dos dias de comemoração, as pessoas fazem questão de irem em busca do que procuram o quanto antes. Mas sempre tem os que preferem comprar aos 45 minutos do segundo tempo. Na pressa para conseguir atender todos os clientes, Elen, funcionária que enfrenta todas as épocas corridas de venda do ano, fala que em alguns momentos, não consegue dar a atenção que as pessoas merecem. Seu olhar acompanhava a chegada e a saída dos clientes na loja. A atenção é máxima em um lugar que a exige a todo tempo.

No meio das linhas, botões e tecidos, a cearense de sotaque presente e forte expressa que nem imagina as diversas possibilidades que podem sair dali na sacola de cada pessoa. Uma linha pode se tornar mais de uma peça no Carnaval do Sambódromo do Anhembi ou nos bloquinhos pela cidade. E quando ela pensa nisso, os olhos até brilham em saber que, de alguma forma, fez parte daquilo.

A oferta e a demanda não param, assim como a agitação que só o ambiente da mais conhecida rua de comércio paulistana é capaz de proporcionar. Pelas ruas da 25 de março andam jovens, idosos, mulheres e homens carregando pequenas sacolas ou grandes volumes de mercadorias. De um lado o consumidor, do outro o vendedor. Ambos sabem que precisam um do outro, principalmente nessas épocas agitadas do comércio. Para Marlene, inspirar pessoas com seu empreendimento é motivo de orgulho. Em meio aos elogios que sua loja recebe, ela sempre sai com o sentimento de missão cumprida ao ver seus clientes com as sacolas recheadas de produtos que farão a diferença em épocas que se tornam especiais nas particularidades de cada um.

Entre junho e setembro, times da Série A brasileira embolsaram 25% a menos do que no mesmo período do ano passado
por
Francisco Vóvio Segall
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19/11/2020 - 12h

A pandemia de Covid-19 causou uma crise sem precedentes no mercado de transferências do futebol. De acordo com a Fifa, a perda estimada é de USS 14 bilhões a nível mundial. Os clubes brasileiros foram especialmente afetados por essa crise.  Os times da Série A, entre junho e setembro deste ano, quando acontece a principal janela de transferências europeia e onde se concentra a maior parte dos gastos, embolsaram 25% a menos com negociações em relação ao mesmo período de 2019.

As negociações representam 27% da receita dos clubes brasileiros. Apenas cotas de televisão representam uma fonte de renda maior, o equivalente a 38% da arrecadação. Em 2019, o mercado brasileiro da Série A movimentou cerca de R$ 945 milhões com a saída de jogadores, sendo a mais relevante a ida do ex-santista Rodrygo para o Real Madrid, por um valor de R$ 281 milhões. Em 2020  os clubes da elite do futebol brasileiro movimentaram cerca de R$ 713 milhões, sendo a maior transferência a do então gremista Everton Cebolinha para o Benfica de Portugal, pelo valor de R$ 125 milhões. 

O Brasil tem cerca de 360 mil atletas registrados, sendo 25% destes jogadores profissionais. “Vale lembrar que, desses 360 mil, você tem em torno de 500 na Série A, que é onde tem uma circulação maior de recursos”, comenta Leonardo Máximo, especialista em direito desportivo.

Cerca de 4.700 brasileiros estão atuando em ligas fora do Brasil. O impacto gerado pelo futebol na economia brasileira representou 0,72% do PIB em 2018, de acordo com dados divulgados pela CBF em 2020, gerando cerca de 156 mil empregos e movimentando aproximadamente R$ 53 bilhões. Este ano, esses números devem sofrer quedas pela importância das transferências nas contas dos times brasileiros.

  Até o ano de 2020, foi registrado um crescimento na movimentação de dinheiro no mercado de transferências mundial durante oito anos consecutivos, “O mercado global de transferências movimentou, em 2019, USS 7,35 bilhões. Em 2012, foram movimentados USS 2,66 bilhões”, aponta Máximo. Já em  2019 ,houve um crescimento de 9% em relação ao valor gasto em 2018, maior desde 2010, totalizando 18 mil transferências.

Os brasileiros são os jogadores que mais se envolvem em transferências, um valor total de USS 925 milhões, cerca de 12,5% do total movimentado. Além disso, de acordo com dados da Fifa, 306 clubes brasileiros se envolveram em negociações internacionais, mais que o dobro de qualquer outra federação no mundo, correspondendo a um aumento de 22% em relação a 2018. 

Mas, mesmo com esses números bastante expressivos, os times brasileiros não são nem de perto os que mais movimentam dinheiro. Os grandes gastadores do mundo do futebol se encontram nas cinco grandes ligas europeias: Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França, as chamadas Big Five. Esses times representam quase USS 6 bilhões movimentados só em 2018, de um total de aproximadamente USS 7 bilhões, de acordo com dados da Cies Football Observatory.  

Desses gastos quase 70% foi entre as grandes cinco ligas ou transferências internas dentro da Big Five. Apenas 4,1% desses gastos ocorreram em ligas que não fazem parte da Uefa. “O gasto das Big Five acontece, em sua maioria, entre clubes da mesma liga ou entre clubes de ligas dentro das cinco principais ligas europeias”, assinala Máximo. Dos 20 clubes que mais receberam dinheiro das Big Five nenhum é latino-americano.


 

Novo meio de pagamento foi implementado no dia 16 de novembro
por
Bruna Galati
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19/11/2020 - 12h

O Pix, novo meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, gerou uma série de incertezas para diversas áreas. O consumidor final não tem certeza sobre a segurança da ferramenta e as adquirentes buscam soluções para não saírem do mercado, já que o Pix veio para substituir o TED, DOC, cartões de débito e boletos bancários. Por outro lado, as varejistas estão felizes com as vantagens que o novo programa trará para elas. 

A Kaspersky, empresa internacional de cibersegurança, detectou só no primeiro dia de cadastro do Pix 30 domínios falsos criados com o mesmo nome. Esse é o primeiro estágio de um golpe, onde os fraudadores criam sites falsos para tentar distribuir vírus e capturar dados das pessoas, disparando esses links por meio de e-mails, redes sociais ou SMS. 

A recomendação dos especialistas e dos bancos para não ser vítima desse tipo de fraude é não clicar em links recebidos por outros meios que não sejam dentro do aplicativo do seu banco. O consumidor terá que ser mais ágil para evitar cair em fraudes simples na internet.  

Pensando em estágios mais avançados de fraude, a Inloco, empresa de identidade digital privada por tecnologia de localização, criou a solução Incognia Pix para evitar a fraude através do QR Code, que pode ser uma das formas de pagamento do Pix, além das chaves. 

"Os ataques de fraude vão se tornar muito mais fáceis de executar, porque não precisa de todo aparato tecnológico, é só o fraudador imprimir um novo QR Code e colar em cima do original", afirma André Ferraz, CEO e fundador da Inloco, sobre o progresso de fraude com a chegada do Pix. 

A solução da empresa protege todos os lados da transação. Começando pelo usuário ao confirmar a localização em tempo real do celular, para verificar se o cliente está no estabelecimento onde a compra é registrada, confirmando se o usuário é mesmo o proprietário da compra. Ao suspeitar de algo, o sistema pede uma nova prova de identidade para liberar o pagamento. 

Com a tecnologia de localização, a Inloco também sabe quais são os QR Code de pagamento que estão vinculados a todas lojas (que são suas clientes) e, caso detectem qualquer QR Code diferente, ele não permite o clique do usuário. A empresa também garante que o pagamento caia na loja certa.

Para as varejistas, o Pix trará redução nos custos das operações, dando eficiência às empresas e garantindo uma melhor experiência e rapidez para o consumidor. Em evento realizado pelo Banco Central (BC), Ana Honorato, gerente de tesouraria do Arcos Dourados (McDonald's), afirmou que o Pix diminuirá a busca interminável dos varejistas por moedas.

Os comércios e autônomos sofrem com as transações que demoram para cair devido aos finais de semana e feriados. Com o Pix, isso não acontecerá, já que ele é uma opção de transação que pode ser feita de segunda a segunda nas 24 horas do dia e incluindo os feriados. 

As empresas também correm o risco de a transferência não ser efetivada ou o consumidor desistir de pagar seu boleto bancário. Ao escolher pagar por boleto, o consumidor espera dois dias úteis em média, até que sua compra seja confirmada. Isso gera a trava do produto no estoque da varejista, sem saber se o pagamento de fato será realizado. Caso ele não ocorra, ela perdeu oportunidade de vender o produto para outro consumidor. Com o novo produto do BC, essa insegurança diminui, já que o dinheiro cai na conta do destinatário em até dez segundos. 

Embora não seja possível calcular exatamente quanto o comércio e prestadores de serviço irão economizar com as taxas de operações, já que o valor cobrado varia por estabelecimento e instituição financeira, as perspectivas para a redução de custos são altas. Em entrevista para a Folha, Jorge Gonçalves Filho, vice-presidente e conselheiro do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), disse que a estimativa é que 30% das transações do comércio sejam na função débito, sendo cobrado 2% em cima disso pelas operadoras. 

Em 2019, o varejo paulista contabilizou faturamento de R$ 740 bilhões. Se levarmos  em conta o comentário de Jorge, o setor pagou mais de R$ 4 bilhões, apenas em taxas para as operadoras. O Pix traz suas vantagens para os comerciantes.

Já para muitas adquirentes (tradicional "maquininha" que faz a comunicação direta entre a loja, bandeiras e os bancos emissores de cartões), o Pix vai mudar o fluxo de pagamento. Mas, na visão de Rodrigo Luiz Teixeira, CEO da BMG Granito, o Pix não será um problema de curto e médio prazo. Apenas 20% de seus resultados vêm do débito e a instituição não acredita que inicialmente o Pix terá forças suficientes para passar essa porcentagem. 

A demora na adesão ao PIX vem da insegurança dos estabelecimentos de não terem informações concretas. As taxas ainda não foram divulgadas, nem a forma como eles irão conferir o recebimento do dinheiro. O novo sempre deixa todos com um pé atrás e a previsão é que o ciclo do Pix demore de dois a três anos para se consolidar. 

Outra preocupação da adquirente é fraude. Com o cartão de crédito, caso o consumidor não receba sua compra, ele liga no banco e confirma o não recebimento. O banco devolve o valor e é debitado do estabelecimento comercial. Com o Pix, ainda não há certeza de como isso irá funcionar. "Se o Pix gerar sensação de insegurança, o estabelecimento não vai querer usá-lo como forma de pagamento", completa Rodrigo Teixeira.

Ainda existe uma grande incerteza no mercado sobre a chegada do Pix. Alguns comércios menores da Zona Norte de São Paulo dizem que não estão interessados na implementação do sistema, que esperam novas informações sobre taxas, seguranças e quão favorável será essa nova opção de pagamento. 

Apesar da Lei de Cotas, profissionais são relegadas a segundo plano, sem dispor nem mesmo das condições adequadas
por
Letícia Galatro Alves
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17/11/2020 - 12h

Ao longo dos séculos, pessoas com deficiência foram impedidas de participar ativamente da vida social e do mercado de trabalho. Estas barreiras, longe de estar superadas, são visíveis ainda hoje. É difícil encontrar pessoas com deficiência que tenham experiências profissionais.

Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos apresentou o primeiro avanço. A partir desse documento, as pessoas com deficiência passaram a ser vistas como parte da sociedade e foram, pouco a pouco, conquistando seus direitos como cidadãs. Mais de quatro décadas depois, em 1991, surgiu no Brasil a Lei de Cotas, que obriga empresas com 100 ou mais funcionários a terem um percentual de 2% a 5% de empregados com deficiência. 

Porém, ainda hoje, as mulheres com deficiência são vistas através de uma postura assistencialista que as mantém como ´reservas de mão de obra´. “Infelizmente, nas empresas pelas quais passei, a deficiência física representa uma má qualificação de serviço. O que eu faço nunca vai ser o suficiente, sempre vão achar que tem alguém sem deficiência que faz melhor”, afirmou Simone Monteiro da Cunha, em uma entrevista para o site Universa

Outro panorama muito triste é o abandono do profissional com deficiência em seu ambiente de trabalho. Algumas PCDs (sigla para pessoa com deficiência) precisam de adaptações para conseguir trabalhar com 100% de sua eficiência. Muitas empresas contratam só para cumprir a cota e não pensam no bem-estar desse funcionário, não disponibilizando os recursos necessários. “Eu trabalhei dois anos no RH de uma empresa. As tarefas eram divididas entre as funcionárias, mas não eram passadas para mim. Eu era sempre enviada para cuidar do arquivo, o que impedia que eu me desenvolvesse”, contou Kelly Tavares Dias para o Universa

O Brasil possui mais de 45 milhões de pessoas com deficiência, das quais a maioria, 53,58%, são mulheres. Mesmo assim, segundo a mais recente pesquisa do IBGE, apenas 43,1% dessas mulheres conseguem atingir o trabalho formal. Considerando deficiências motoras severas ou intelectuais, o número de mulheres economicamente ativas caí para 34,8% e 20,8%, respectivamente.

Apesar dessa realidade desanimadora, movimentos em prol dessa inclusão vêm ganhando cada vez mais força. Um exemplo recente é o programa da Prefeitura de São Paulo para contratação de estagiários com deficiência. Para o jovem com deficiência, é uma oportunidade de ter um primeiro contato com trabalho formal e mostrar competência para desenvolver atividades como qualquer outro profissional dentro da empresa. Se os resultados forem positivos, ele pode crescer profissionalmente dentro desse ambiente.  Isso acontece, desde que sejam respeitadas suas limitações e lhe sejam oferecidas condições de acessibilidade ou recursos para esse fim.

Para a empresa, é mais do que uma oportunidade de cumprir uma obrigação legal. Constitui também um estratégico exercício de responsabilidade social. A melhor forma de desconstruir preconceitos é dando oportunidade para que essas pessoas possam mostrar sua competência. 

 


 

Com cuidados para prevenção do Covid-19 e ajustes para lidar com a crise, transportadoras não pararam durante a pandemia.
por
Pedro Kono e Renan Silva de Mello
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06/11/2020 - 12h

Em meio a pandemia, transportadoras ao longo do Brasil continuam operando enquanto são obrigadas a se adaptar à queda de desempenho e aos cuidados necessários para a prevenção da doença.

 

‘‘Não paramos. O mercado não parou e dependem muito da gente.’’, revela Djonatas Nascimento, gerente da unidade localizada em São Paulo da transportadora Solução Transporte e Logísticas. Nascimento, que contraiu a Covid-19 durante o período, também conta que no início da quarentena foi implementado um sistema de rodízio de funcionários e que alguns trabalhadores tiveram a opção de praticar o home office, mas ao longo dos meses o funcionamento voltou a ser totalmente presencial. Apesar de não se sentir totalmente seguro durante o expediente, Nascimento diz que buscou ‘‘trabalhar e enfrentar a Covid-19’’.

 

O gerente relata que foram seguidas as recomendações para a prevenção da doença, como o uso de máscaras por parte de todos os funcionários, a disponibilidade de álcool em gel em todos os pontos da empresa e uma quantidade maior de sabão nos lavatórios. Sobre o período em que esteve contaminado, Nascimento relata que teve todo o suporte necessário: ‘‘a empresa foi muito fiel comigo e me ajudou bastante’’. O gerente também diz não saber se contraiu a doença no local de trabalho.

 

Segundo o levantamento feito pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), apesar das transportadoras não pararem, a crise gerada pela pandemia desencadeou uma queda de 11,3% no valor adicionado ao transporte de cargas e passageiros no Brasil. O levantamento também avalia que a queda registrada em 2020 foi duas vezes maior que a ocorrida no auge da recessão entre 2014 a 2016 e que os índices são os piores desde o primeiro semestre de 1996.

 

Em relação aos empregos, a CNT avalia que houve uma perda de mais de 68 mil postos de trabalho no setor de transportes desde o início da pandemia, e que apenas a partir do mês de agosto houve uma estabilização na situação. Entre 40,6% dos transportadores que demitiram, 55,3% não pretendem realizar novos cortes, e 83,8% dos que não reduziram seus empregados não possuem a intenção de mandar embora. Em relação aos últimos meses do ano e as medidas de relaxamento do distanciamento social, a CNT encara o período como uma incógnita. Entre os índices de saldo mais negativo em relação ao emprego na área, Abril e Maio assumem a liderança, com -34.857 e -20.744 postos de trabalho, respectivamente.

 

Os setores mais afetados foram o de transporte de cargas e passageiros, o de comércio e o de outras atividades - que inclui serviços de alojamento, alimentação, saúde e educação. Já a agropecuária manteve um crescimento positivo de 1,6%, apesar de ainda abaixo do esperado. A Solução Transporte, empresa em que Nascimento trabalha, atua na área de agricultura, transportando seus produtos do estado do Mato Grosso, onde o setor agrícola é muito forte e não foi amplamente afetado pela quarentena. ‘‘No início, com a paralisação, tivemos uma queda, mas logo em seguida houve um crescimento muito grande durante a pandemia’’.

 

Em relação a ajuste e adaptações de logística decorrentes da pandemia, Nascimento cita que o único segmento que sofreu algum tipo de reinvenção foi a coleta dos produtos junto aos clientes, que passaram a ser feitas por agendamento específico e horário marcado, pelo fato de serem feitas em locais fechados.

Eduardo Fagnani e Alexandre Lucchesi apontam injustiças do sistema tributário e defendem maior cobrança sobre ricos 
por
Gabriella Lopes
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22/10/2020 - 12h

O ministro da Economia, Paulo Guedes, entregou no dia 21 de julho a proposta do governo federal para a reforma tributária. O governo de Bolsonaro tem sido marcado por reformas que o meio político brasileiro tem debatido há anos, mas que outros governos não levaram à frente, como a reforma da Previdência – já aprovada – e agora a reforma tributária. Contudo, a proposta apresentada por Guedes tem sofrido críticas.

Apresentada aos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, a proposta será entregue em quatro partes. A primeira propõe a fusão do PIS e da Confins, unindo em um único imposto chamado CBS (Contribuição Sobre Bens e Serviços).

Em entrevista ao Agemt, o economista  Eduardo Fagnani, professor da Unicamp e coordenador de um projeto alternativo centrado na defesa de maior tributação sobre os ricos, diz que não vê nenhuma vantagem na reforma entregue por Guedes.

A questão central do problema tributário brasileiro é que nós tributamos muito o consumo e pouco a renda e o patrimônio. Quando você tributa muito o consumo, penaliza mais os pobres. Primeiro, porque os pobres consomem tudo o que eles ganham e os ricos consomem uma parte. Segundo, porque o peso do tributo na renda do pobre é muito maior do que o peso na renda do rico. O grande problema do Brasil é esse,” explica Fagnani.

Alexandre Lucchesi, também professor de economia da Unicamp, percebe a mesma questão. Ele elucida que no Brasil a população consomem muito porque tem pouca renda.  “Tudo o que as pessoas recebem de ganho das suas atividades gastam rapidamente, porque no país não tem a possibilidade de poupar devido às condições orçamentárias e as exigências de uma vida aqui.” Ele complementa dizendo que “tudo o que você for tributar e que irá recair sobre o consumo vai gerar um problema de regressividade: quem está consumindo muito está pagando mais imposto, porque, se o imposto incide sobre o consumo, está saindo pior para quem precisa gastar quase tudo do que tem”.

Atualmente a maior parte das taxações incide sobre o consumo e serviços. Para Fagnani, o Brasil realmente tem muitos impostos e  isso afeta principalmente as pessoas de baixa renda e classe média. “As pessoas falam muito que a carga tributária no nosso país é alta e é verdade, os pobres e classe média podem falar isso. Realmente se paga muito imposto”, comenta o professor.

De acordo com uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no Brasil 44% dos tributos são arrecadados do consumo; nos Estados Unidos, são 18%. Já a arrecadação oriunda da renda  é de 21% no Brasil e 44% nos Estados Unidos, enquanto sobre os percentuais relativos ao patrimônio são de, respectivamente, 6% e  12%. Para ambos os especialistas, a solução do problema só pode ser dada com a tributação da renda e do patrimônio.

Fagnani explica que a carga tributária só é alta para os pobres e a classe média porque é residual para os ricos e super-ricos. “A reforma tributária deveria ampliar a tributação sobre as altas rendas e os altos patrimônios de um lado e do outro lado reduzir a tributação do consumo. Nós temos que simplificar o consumo, mas também temos que reduzir a carga tributária sobre o consumo, porém só se pode fazer isso se tributar o outro lado.

Para Lucchesi, a ideia vai pelo mesmo caminho. Ele explica que o “ideal, para se ter um bom efeito a longo prazo, deveria [ser] distribuir a renda para não onerar muito o pobre, o trabalhador simples ou a pequena empresa”. Para ele é preciso “deslocar essa tributação do consumo para a renda e para o patrimônio. Isso foi uma coisa que não foi feita, mas poderia ter sido proposta.”

O professor Fagnani  completa dizendo que, em relação ao consumo, a proposta de Guedes só vai acabar com dois ou três impostos  e criar um outro que, no fim das contas, contribuirá para umpossível aumento da carga tributária para  o consumo. Por outro lado, Alexandre Lucchesi destaca que o positivo da reforma será “a simplificação e a união do sistema tributário brasileiro, porque ele é muito confuso, são muitos impostos e a as pessoas não sabem direito o que estão pagando, por que estão sendo cobrados e referentes ao quê”.