Faltando uma semana para as eleições municipais em 2016, quatro candidatos estavam com mais de 10% nas pesquisas de intenção de voto do Datafolha e do Ibope em São Paulo: João Doria (PSDB), Celso Russomanno (PRB, hoje Republicanos), Marta Suplicy (PMDB, hoje MDB) e Fernando Haddad (PT).
Durante o pleito, que ocorreu no auge do antipetismo e da rejeição à esquerda política - Dilma Rousseff (PT) havia sido impeachmada há pouco menos de dois meses -, propostas de renda mínima ainda eram bandeiras de candidatos mais progressistas, que ainda a defendiam de forma tímida.
Na época, Doria, Russomanno e Marta não citavam propostas do gênero em seus planos de governo. Haddad era o único que defendia “avançar na transição do programa Bolsa Família em direção à Renda Básica de Cidadania”, sem mais detalhes sobre como isto seria feito.
Nas eleições deste ano, o cenário foi diferente. Entre os quatro candidatos com mais de 10% nas últimas pesquisas Datafolha e Ibope, três defenderam uma política de renda mínima em seus planos de governo - Bruno Covas (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB) -, e o único que não a incluiu no plano - Russomanno - aderiu a ela ao longo da campanha.
Em seu plano de governo, Boulos falou em criar o programa “Renda Solidária”, que seria uma reestruturação do já existente Renda Mínima Municipal, regulamentado durante a gestão Marta Suplicy (2001-2005).
No início de outubro, Boulos realizou um evento com líderes sociais no bairro da Santa Cecília, no centro, para lançar as diretrizes do programa. Segundo o psolista, o “Renda Solidária” beneficiaria um milhão de famílias na capital com valores que iriam de R$ 200 a R$ 400.
França, que foi governador interino de São Paulo entre abril e dezembro de 2018, propôs em seu plano criar, “de forma permanente”, um auxílio para “grupos vulneráveis” e profissionais de aplicativos de transporte.
Em entrevista para a rádio Eldorado no fim de outubro, França defendeu uma proposta de renda básica mesclada com uma frente de trabalho. O ex-governador propôs contratar 200 mil jovens e adultos para fazer manutenção de áreas públicas que, em troca, receberiam R$ 600 trabalhando em jornada reduzida, por apenas três dias por semana.
Russomanno citou a proposta pela primeira vez em um encontro com motoristas de aplicativos sindicalizados no fim de setembro. Na ocasião, o candidato republicano afirmou que seu programa seria um complemento ao auxílio emergencial, que está garantido apenas até dezembro pelo governo federal, sem definir o valor do benefício.
Atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas falou apenas em ampliar o Renda Mínima Municipal em seu plano de governo. Durante a campanha, o tucano agiu para acelerar a discussão e aprovação de um projeto que institui uma renda mínima provisória durante a pandemia do novo coronavírus na Câmara.
O projeto foi aprovado no fim de outubro pelos vereadores paulistanos, mas Covas sancionou o projeto apenas em novembro, quando o transformou em lei publicando-o no Diário Oficial da Cidade de São Paulo.
Os beneficiários, que são os mesmos do Bolsa Família e famílias de trabalhadores ambulantes, receberão R$ 100 por membro do grupo familiar durante três meses, com periodicidade mensal - porém, Covas não especificou quando o benefício começará a ser pago.
A Gucci anunciou recentemente uma parceria com o site internacional de revenda de roupas de segunda mão The RealReal. O site possui mais de 17 milhões de usuários e atualmente vale US$ 28 bilhões. Até 2025, espera-se que esse valor cresça para US$ 64 bilhões. Tal atitude de uma das grifes mais procuradas e desejadas do mundo mostra que o negócio de revenda de peças de luxo veio para ficar.
Segundo o Boston Consulting Group (BCG), o crescimento desse mercado, hoje avaliado entre US$ 30 e US$ 40 bilhões, será impulsionado, principalmente, pela acessibilidade e pela consciência ambiental. Se, em 2020, 21% de um closet é composto por roupas usadas, em três anos será 27%. No Brasil, sites de revenda de peças de luxo movimentam esse mercado desde o começo da década.
O Troc, criado em 2016 pela advogada Luanna Toniolo Domakoski, tem preços para todas as faixas de renda, uma vez que não revende exclusivamente marcas de luxo. A fórmula deu certo: em 2019 faturou R$ 10 milhões e, em setembro, o grupo Reserva fez um investimento na startup de um valor não revelado, tornando-se sócio minoritário. Uma nova rodada de investimentos é esperada até o fim do ano para a empresa, que registrou aumento de 42% nas vendas durante a pandemia.
Para a especialista em tendências e comportamento de consumo de moda, Andréia Meneguete, a alta na procura por brechós de luxo veio após uma mudança de comportamento do consumidor. “Décadas atrás, o brechó era sinônimo de consumo de oportunidade. Quem não tinha dinheiro ou queria poupar, ia até um brechó e comprava roupas com um valor mais acessível (...) O contexto mudou, o mundo mudou e valores diante do consumo foram colocados em xeque. Diante das tendências de comportamento de um novo mundo, novas práticas de consumo surgem. Por isso, agora temos um consumo de segunda mão ressignificado.”
A pandemia trouxe recessão e desemprego em massa para o país, porém o empobrecimento da população não impulsionará este negócio em especial. Para Meneguete, o consumo de produtos de segunda mão vinga somente entre adeptos da prática sustentável ou entre os que desejam consumir produtos de luxo, mas não têm condições de comprar novos. De fato, este não é um negócio inclusivo. Uma bolsa Gucci Jacki O, um dos modelos mais famosos da marca, custa R$ 3.200 no site Etiqueta Única, outro comércio de segunda mão de luxo. Na promoção, R$ 1.390. O salário mínimo no Brasil está em R$ 1.045 e, segundo o IBGE, no ano passado um em cada cinco brasileiros recebia menos da metade de um salário mínimo.
O comércio de luxo de segunda mão é uma realidade no Brasil, e intensifica-se pela geração Z, que tem em Greta Thunberg e suas “Sextas pelo Futuro” sua maior representante. Porém, é limitado a uma parte da população, e para aqueles cujo orçamento não permite tais aquisições, mesmo que mais baratas, resta o sonho.
O Banco Central anunciou a criação do Pix no início de outubro deste ano. O Pix é um sistema de pagamento instantâneo que visa facilitar e agilizar as transações financeiras. O novo sistema permite que uma transferência financeira seja feita em menos de dez segundos e sem restrições de horário.
“O Pix é um meio facilitador, ele dá mais rapidez às transações e traz o conceito de pagamento instantâneo ao Brasil, um mecanismo que já é amplamente utilizado em outros países”, avalia Rafael Bianchini, professor do departamento de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Bianchini explica que o Pix foi criado pelo Banco Central, mas que as instituições financeiras irão oferecer a nova ferramenta. “Os bancos e fintechs serão responsáveis pelo Pix, que tende a democratizar o acesso.”
Atualmente é possível realizar transações financeiras por meio de transferência eletrônica disponível (TED) e documento de ordem de crédito (DOC). Ambas as ferramentas só permitem operações durante o horário comercial e dependem de intermediários.
“O mercado deve ficar mais competitivo por causa do Pix”, acredita o docente. “A população não precisa ter conta em banco, nem se locomover para alguma agencia bancária e isso vai quebrar um pouco o restrito mercado dos bancos.” O acadêmico analisa que empresas que não têm função de banco, como a Nubank, podem aproveitar a oportunidade do Pix.
A inauguração oficial do Pix ocorreu no dia 16 de novembro, porém os consumidores puderam registrar as suas chaves desde o início de outubro.
Segundo dados do Banco Central, o Pix recebeu mais de 50 milhões de registros de chaves. O mecanismo identifica o usuário e a sua conta bancária a partir de dados simples dos clientes como número de celular, CNPJ, CPF ou e-mail. Contudo, clientes reclamaram que algumas instituições financeiras obtiveram as chaves da nova ferramenta sem o consentimento dos donos das contas.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) questiona internamente a quantidade de chaves cadastradas por fintechs, segundo matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo no dia 15 de outubro. Nubank, Mercado Pago e PagSeguro, três fintechs, lideram o número de chaves cadastradas. O Procon-SP notificou a Nubank e o Mercado Pago após as reclamações de uso indevido dos dados de clientes.
Bianchini opina que, apesar do recente sucesso das fintechs, elas ainda oferecem pouquíssimos serviços comparado aos bancos e não necessariamente de mais qualidade: “Todos os cinco principais bancos do país continuam sendo soberanos e também oferecem o Pix, além de múltiplos serviços adicionais às fintechs”.
Apesar da popularidade e da quantidade expressiva de registros, apenas 13% da população brasileira conhece o Pix. A sondagem feita pela TV Globo demonstra uma dificuldade de comunicação e aumenta os questionamentos sobre a ferramenta. “A falta de conhecimento do brasileiro sobre o Pix é natural, ainda não está disponível para a população e pode sofrer mudanças nos próximos meses. Ao longo do tempo as pessoas vão conhecer mais”, reflete Bianchini.
As primeiras semanas de novembro foram marcadas por eventos decisivos para a geopolítica internacional: enquanto o continente europeu enfrenta uma segunda onda de Covid-19, mudanças ocorrem nos dois sentidos do globo. No Ocidente, os Estados Unidos encerram suas eleições presidenciais com Joe Biden, do Partido Democrata, eleito. No Oriente, a China lança, com sucesso, o primeiro satélite de teste da conexão 6G, ultrapassando significativamente o adversário americano na corrida tecnológica mundial.
Ainda que Europa e África estejam geograficamente localizadas entre as duas maiores potências atuais, a globalização coloca todas as nações “no meio” da disputa entre China e Estados Unidos – cenário que já foi chamado até de “segunda guerra fria”. A tensão entre os países é marcada pela tecnologia: o que chamam de “corrida” é, num sentido prático, o alto investimento que essas e demais nações estão realizando em pesquisas da área. Os avanços tecnológicos poderão impactar o rumo da sociedade em diversos sentidos: consumo, cotidiano, indústria, política, segurança nacional e, entre outros tópicos, a economia dos dados digitais.
Em um artigo publicado em 2017 com o título “The world’s most valuable resource is no longer oil, but data” (“O recurso mais valioso do mundo não é mais o petróleo, e sim os dados”), a revista inglesa The Economist observou que “conforme aparelhos, de relógios até carros, se conectam à internet, o volume [de informação] está crescendo”, o que será um fator crucial na economia das próximas décadas. “Algoritmos podem prever quando um consumidor está pronto para comprar, uma turbina precisa de conserto, ou uma pessoa está com risco de doença”, afirmou a revista.
Se a internet é crucial para a economia de hoje (e tende a ser cada vez mais importante), ser pioneiro nas inovações digitais fará toda diferença para os gigantes da economia. Assim, o primeiro teste de conexão 6G é um grande passo para a China, e um marco na disputa entre ela e seu adversário ocidental – o qual, atualmente, luta para garantir exclusividade na venda da rede 5G, que começa a chegar no mercado mundial. Segundo o portal Eurasian Times, “o 6G chinês pode ser 100 vezes mais rápido que a tecnologia americana atual”.
Enquanto o mundo lida com a pandemia e os Estados Unidos começam a deixar para trás o turbulento processo eleitoral, a China parece acelerar seus passos na corrida: além do novo 6G, intensificou o controle de Hong Kong – território crucial na tensão entre Pequim e Washington.
Apesar do momento incerto, a análise dos especialistas pós-eleições não é tão pessimista: com Biden eleito, a tendência é de abertura para uma relação mais diplomática entre os países, com maior espaço para o diálogo. Para Shi Yinhong, diretor do Centro de Estudos Americanos na Universidade do Povo da China, o novo presidente democrata pode tornar as relações entre EUA e China mais previsíveis e estáveis. “Comparada a Trump, Biden-Harris é [uma chapa] muito menos ousada, muito menos vulgar, e muito menos errática”, escreveu Shi Yinhong, em um artigo publicado pelo website chinês Ifeng News.
O novo chefe de Estado americano trouxe um discurso rígido em comparação ao último presidente democrata eleito, Barack Obama, de quem foi vice em seus dois mandatos (2008 e 2012). O político promete agir em parceria com democracias aliadas (entre elas Japão, Coreia do Sul e Austrália) para “confrontar o comportamento abusivo da China e suas violações aos direitos humanos”, mas também “cooperar com Pequim em questões onde seus interesses convergem, tais como as mudanças climáticas e saúde global”. Biden afirmou que irá priorizar a diplomacia na política internacional. O governo chinês foi um dos últimos que o parabenizaram após a sua vitória, levando dias para se pronunciar.
Seu antecessor direto, o ainda presidente Donald Trump, teve governo e campanha marcados por um forte posicionamento contra o gigante do Oriente, dando início à notória “guerra comercial” com a China em 2018. O governante atuou como antagonista das principais empresas de tecnologia chinesas – em especial a Huawei, maior produtora de equipamento 5G para aparelhos móveis –, sob acusações de espionagem. Seu mandato foi marcado por discursos ofensivos à nação rival – em especial durante o surto do novo coronavírus, que chegou a chamar de “vírus chinês”.
Com o resultado das eleições americanas, os próximos quatro anos serão decisivos para a relação entre China e Estados Unidos: elas poderão aumentar a já significativa tensão entre os países, ou amenizá-la, com uma tendência mais diplomática.
A tecnologia estará no centro desse cenário. “Estamos observando um dos momentos mais interessantes para se vivenciar no sistema internacional: pela primeira vez, numa transição hegemônica, um país do Sul – até pouco tempo camponês e pobre – está se equiparando, por meio de investimentos pesadíssimos em inovação e tecnologia, à grande potência [EUA], podendo fazer a ultrapassagem”, afirma a professora Cristina Soreanu Pecequilo, do curso de relações internacionais da Unifesp. Segundo ela, “projeções mostram que, se continuar nesse ritmo, a China dominará o mercado de inteligência artificial até 2024”.
Mas algo também é certo: os americanos não pretendem abrir mão do posto de “primeira economia” tão cedo. Cabe a Biden descobrir como mantê-lo – com sorte, da forma mais diplomática que conseguir.
Imagem da capa: Joe Biden cumprimenta o presidente da China, Xi Jinping, durante visita a Pequim enquanto era vice-presidente Foto: POOL New / REUTERS / 4-11-2013
A pandemia de Covid-19 causou uma crise sem precedentes no mercado de transferências do futebol. De acordo com a Fifa, a perda estimada é de USS 14 bilhões a nível mundial. Os clubes brasileiros foram especialmente afetados por essa crise. Os times da Série A, entre junho e setembro deste ano, quando acontece a principal janela de transferências europeia e onde se concentra a maior parte dos gastos, embolsaram 25% a menos com negociações em relação ao mesmo período de 2019.
As negociações representam 27% da receita dos clubes brasileiros. Apenas cotas de televisão representam uma fonte de renda maior, o equivalente a 38% da arrecadação. Em 2019, o mercado brasileiro da Série A movimentou cerca de R$ 945 milhões com a saída de jogadores, sendo a mais relevante a ida do ex-santista Rodrygo para o Real Madrid, por um valor de R$ 281 milhões. Em 2020 os clubes da elite do futebol brasileiro movimentaram cerca de R$ 713 milhões, sendo a maior transferência a do então gremista Everton Cebolinha para o Benfica de Portugal, pelo valor de R$ 125 milhões.
O Brasil tem cerca de 360 mil atletas registrados, sendo 25% destes jogadores profissionais. “Vale lembrar que, desses 360 mil, você tem em torno de 500 na Série A, que é onde tem uma circulação maior de recursos”, comenta Leonardo Máximo, especialista em direito desportivo.
Cerca de 4.700 brasileiros estão atuando em ligas fora do Brasil. O impacto gerado pelo futebol na economia brasileira representou 0,72% do PIB em 2018, de acordo com dados divulgados pela CBF em 2020, gerando cerca de 156 mil empregos e movimentando aproximadamente R$ 53 bilhões. Este ano, esses números devem sofrer quedas pela importância das transferências nas contas dos times brasileiros.
Até o ano de 2020, foi registrado um crescimento na movimentação de dinheiro no mercado de transferências mundial durante oito anos consecutivos, “O mercado global de transferências movimentou, em 2019, USS 7,35 bilhões. Em 2012, foram movimentados USS 2,66 bilhões”, aponta Máximo. Já em 2019 ,houve um crescimento de 9% em relação ao valor gasto em 2018, maior desde 2010, totalizando 18 mil transferências.
Os brasileiros são os jogadores que mais se envolvem em transferências, um valor total de USS 925 milhões, cerca de 12,5% do total movimentado. Além disso, de acordo com dados da Fifa, 306 clubes brasileiros se envolveram em negociações internacionais, mais que o dobro de qualquer outra federação no mundo, correspondendo a um aumento de 22% em relação a 2018.
Mas, mesmo com esses números bastante expressivos, os times brasileiros não são nem de perto os que mais movimentam dinheiro. Os grandes gastadores do mundo do futebol se encontram nas cinco grandes ligas europeias: Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França, as chamadas Big Five. Esses times representam quase USS 6 bilhões movimentados só em 2018, de um total de aproximadamente USS 7 bilhões, de acordo com dados da Cies Football Observatory.
Desses gastos quase 70% foi entre as grandes cinco ligas ou transferências internas dentro da Big Five. Apenas 4,1% desses gastos ocorreram em ligas que não fazem parte da Uefa. “O gasto das Big Five acontece, em sua maioria, entre clubes da mesma liga ou entre clubes de ligas dentro das cinco principais ligas europeias”, assinala Máximo. Dos 20 clubes que mais receberam dinheiro das Big Five nenhum é latino-americano.



