A festa que enche o Brasil de cores e os comerciantes de oportunidades
por
Nicole Domingos
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12/09/2025 - 12h

Por Nicole Domingos

 

O Carnaval, que se vende como festa e se compra como tradição, não é apenas desfile de rua, batuque de samba ou fantasia improvisada. É também uma virada de chave para o comércio, que transforma a purpurina em faturamento. Em janeiro de 2024, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), publicou que o ano de 2025 movimentaria mais de R$9 bilhões, reforçando seu posto como uma das datas mais rentáveis do calendário econômico. Na contabilidade da festa, cada rua cheia de foliões é também um corredor de consumo. As farmácias que dobram as prateleiras de protetor solar, os supermercados que multiplicam o estoque de bebidas, as lojas de fantasia que expõem brilhos e lantejoulas como se fossem joias de temporada. Roberto Devidis, representante de vendas para armarinhos e lojas de customização na rua 25 de março,  considera que o carnaval é uma espécie de Natal fora de época.

Nos bastidores da festa, empresários calculam margens, fornecedores disputam espaço nas prateleiras e pequenos comerciantes fazem de cada esquina uma oportunidade. Para Marlene Batista, dona de loja de armarinhos, não existe nenhum período em que cresce as vendas como nesse tempo. Ela diz que antes mesmo da virada do ano já recebe pedidos de escolas de samba, tanto de produtos para a confecção dos carros, quanto para as roupas que serão usadas na avenida. Além disso,  o carnaval cria um ambiente de consumo que vai além da festa. Aumenta o fluxo em bares e restaurantes, multiplica reservas em hotéis e aplicativos de hospedagem, movimenta aplicativos de transporte, gera impacto até nos varejos de eletrodomésticos, com vendas de caixas de som, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. A folia, nesse sentido, extrapola o sambódromo e se infiltra em cada detalhe da vida cotidiana.

O ambulante que vende água, cerveja e todo tipo de bebida no bloco, a costureira que aceita ideias improvisadas de fantasias, o maquiador que tem que sempre ter uma ideia nova e cores vibrantes, todos compõem a cadeia econômica do carnaval. Em uma reportagem postada pelo Ministério da Cultura fica claro como não só os empresários com suas lojas têm a oportunidade de garantir uma boa renda, mas também aqueles que precisam de momentos como esse para sobreviver, como ambulantes que trabalham com eventos sazonais.

Outro ponto relevante é a geração de empregos temporários. Segundo a revista Forbes, a folia deve impulsionar, ainda, o mercado de trabalho, com a criação de 300 mil postos temporários, no interior e no litoral do Estado de São Paulo. O coordenador do Núcleo de Pesquisa da Fhoresp, Luís Carlos Burbano, destaca que esses empregos geram renda imediata para as famílias, contribuindo para a dinamização da economia local. Para muitos trabalhadores, o Carnaval representa a chance de garantir uma renda extra no início do ano. Essa circulação de dinheiro não apenas aquece os centros urbanos, mas sustenta muitas famílias que, durante os quatro dias de festa, encontram mais renda do que em meses inteiros de trabalho formal.

O contraste, no entanto, se mantém: se o brilho é abundante nas grandes cidades turísticas, os municípios sem tradição carnavalesca mal percebem a onda econômica. O comércio local, nesses lugares, vê pouco ou nenhum aumento expressivo nas vendas. Em pesquisas são sempre mostradas locais como o Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Minas Gerais. É como se o Carnaval, enquanto festa, fosse universal, mas enquanto motor econômico fosse seletivo. Ainda assim, mesmo de forma desigual, a festa gera reflexos nacionais, movimentando cadeias de produção que alcançam diferentes regiões.

No fim, a conta é simples: o País veste fantasia, mas o comércio veste números. O carnaval continua sendo um dos maiores espetáculos do mundo, já que a matéria da Forbes explica que lugares com a fama do Rio de Janeiro atraí não só turistas brasileiros como também internacionais para a festa. E de acordo com Enio Miranda, diretor de Planejamento Estratégico do Núcleo de Pesquisa da Federação dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp),  o Carnaval está cada vez mais consolidado no calendário de eventos dos turistas estrangeiros.

Na soma final, não se trata apenas de quatro dias de festa, mas de um ciclo econômico que começa semanas, ou até mesmo meses antes, se prolonga depois da Quarta-feira de Cinzas e reafirma a festa como um patrimônio não só cultural, mas também econômico do Brasil.

Indicador registrou crescimento da economia brasileira de 0,3% no segundo trimestre de 2025
por
Marcelo Barbosa
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20/08/2025 - 12h


O Banco Central (BC) divulgou nesta segunda-feira (18) os dados do IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil) referentes ao mês de junho. Os números mostraram uma queda de 0,1% em relação a maio, mas o resultado do segundo trimestre de 2025 se manteve positivo, com um crescimento de 0,3%. O IBC-BR é um dos indicadores oficiais da economia brasileira. Ele faz uma estimativa de crescimento levando em conta três setores: agropecuária, indústria e serviços. O índice foi criado para trazer números frequentes sobre a atividade econômica do Brasil e tem influência sobre as decisões financeiras do país, servindo de auxílio para políticas monetárias, como a taxa de juros (Selic).

Por exemplo, quando a taxa de juros está em patamares elevados, isso reduz a atividade econômica, o que se reflete nos números do indicador. Por isso, atualmente, ele é lido pelo mercado como a "prévia do PIB".

 
 

Fachada do Banco Central do Brasil em Brasília — Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
IBC-BR: agropecuária, indústria e serviços tem leve alta no segundo trimestre de 2025 (Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)

 

 

Retração da economia

Após quatro meses seguidos de bons resultados, maio registrou a primeira retração do ano, de 0,7% em relação a abril. Em junho, a queda foi de 0,1%. De acordo com o professor de economia Renan Silva, do IBMEC Brasília, "a alta deu-se devido à Selic, que chegou ao patamar de 15%”. Ele explicou que "o que corrobora para essa questão da taxa de juros restritiva é o fato de que os indicadores de inflação vêm arrefecendo. No último relatório Focus, do Banco Central, o IPCA já registra uma inflação, em 2025, de 4,95%, ante os 5,30%, que as projeções vinham indicando”.

 

Os dados oficiais do Banco Central confirmam que a agropecuária foi o principal fator para a retração no trimestre, com uma diminuição de 3,1% no período. Por outro lado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o destaque de junho foi o aumento de 0,3% no volume do setor de serviços. A produção industrial teve um recuo de 0,1% no mês, e as vendas no varejo também frustraram as expectativas, recuando 0,1% em comparação a maio. Sob a óptica do professor, o tarifaço de Donald Trump pode trazer efeitos adversos e "provocar uma redução intensa no segundo semestre”.

 

Nos últimos 12 meses, os números ficaram em 3,9%, o que representa uma desaceleração em face ao mesmo período, que marcou uma alta de 4,04%.

 

Para o futuro, Silva acredita que a retração na atividade econômica pode influenciar o COPOM (Comitê de Política Monetária) - órgão responsável por estabelecer as diretrizes da política monetária - a iniciar um novo ciclo na queda dos juros. "Esse ciclo restritivo já teve efeito, o que gerou como resultado a redução na atividade econômica”, conclui. A retração de 0,6% no terceiro trimestre de 2023 havia sido a última queda do indicador antes dos recuos registrados neste ano.

Alimentação e bebidas têm deflação em relação ao mês anterior, enquanto habitação sofreu alta devido ao aumento da conta de luz
por
Marcelo Barbosa P.
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13/08/2025 - 12h

O IBGE divulgou nesta terça-feira (12) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do país. Os dados apontam que houve um aumento de 0,26% no mês de julho, uma leve alta em comparação com a taxa de 0,24% registrada em junho. No ano, o IPCA já acumula desaceleração de 3,26% e, nos últimos 12 meses, de 5,23%.

De acordo com o gestor de investimentos e especialista financeiro da WFlow, Guilherme Viveiros, a inflação surpreendeu positivamente. "O índice deste mês veio com o valor de 0,26%, enquanto o mercado via uma elevação de 0,36%". O mês de agosto também deve apresentar queda, com índices negativos o que, segundo Viveiros, "fez com que o mercado começasse a sondar uma possível queda dos juros ainda em 2025".

Entre os setores da economia que apresentaram deflação, ou seja, queda de preços, estão o grupo Alimentação e bebidas (-0,27%), Vestuário (-0,54%) e Comunicação (-0,09%). Em contrapartida, entre os maiores destaques da alta estão os grupos Habitação (0,91%) e Despesas Pessoais (0,76%). A alta do grupo Habitação foi impulsionada pela energia elétrica residencial, com variação de 3,04% - o maior impacto individual no índice do mês. Esse número se deve ao fato de que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) confirmou a bandeira tarifária de agosto, que será a Vermelha patamar 2, a mais cara do sistema. Como consequência disso, haverá um acréscimo de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos na conta de luz.

O grupo Transportes também teve aceleração, passando de 0,27% em junho para 0,35% em julho, impulsionado pela alta de 19,92% nas passagens aéreas. Por outro lado, os combustíveis tiveram uma queda de 0,64% no mês, com recuos no preço do etanol (-1,68%), do óleo diesel (-0,59%), da gasolina (-0,51%) e do gás veicular (-0,14%).

 Já o grupo Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no IPCA, registrou baixa pelo segundo mês consecutivo. A queda em julho foi impulsionada pela alimentação no domicílio, que caiu 0,69% com destaque para redução nos preços da batata-inglesa (-20,27%), da cebola (-13,26%) e do arroz (-2,89%).

 

Reprodução: Tânia Rego/Agência Brasil | Pessoas andando em um mercado
Reprodução: Tânia Rêgo| Pessoas escolhem frutas em um mercado


Rafael Prado, economista e analista de macroeconomia da Go Associados, chama a atenção para o fato de que o valor da inflação deste mês ainda é elevado em relação à meta de 4,5% ao ano. Segundo ele, o resultado deste mês é prova de que a política monetária pode atuar de maneira enfática nos dados. "Quando nós olhamos para os números desagregados do IPCA, vemos que existem grupos, como Habitação que foi impactado pela energia elétrica, que influenciaram para o aumento de julho". Para ele, isso ressalta a importância de "continuar com uma política monetária restritiva, para que a inflação continue caindo e volte ao intervalo de tolerância."

Já o professor de economia João Gabriel Araújo, do Ibmec Brasília, destaca o efeito Trump na economia brasileira. Segundo ele, a guerra tarifária vai ser um dos fatores determinantes para a queda dos preços no Brasil. "Com o anúncio das medidas para o Brasil, especialmente a tarifa de 50% sobre as importações, os produtores nacionais aumentaram os estoques para o mercado interno, reflexo da diminuição das exportações para os Estados Unidos antes da implementação da tarifa e do consequente aumento da oferta de bens no mercado doméstico".

O cálculo do IPCA foi realizado a partir da comparação dos preços coletados entre 1 e 30 de julho de 2025 com os preços vigentes entre 30 de maio e 30 de junho de 2025. O IPCA abrange famílias com rendimento monetário de 1 a 40 salários-mínimos. Já o INPC, que considera famílias com rendimento de 1 a 5 salários-mínimos, teve alta de 0,21% em julho, com acumulado de 3,30% no ano.

A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Sites de segunda mão apostam em grifes internacionais e veem retorno de seu público limitado
por
Beatriz Aguiar
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20/11/2020 - 12h

A Gucci anunciou recentemente uma parceria com o site internacional de revenda de roupas de segunda mão The RealReal. O site possui mais de 17 milhões de usuários e atualmente vale US$ 28 bilhões. Até 2025, espera-se que esse valor cresça para US$ 64 bilhões. Tal atitude de uma das grifes mais procuradas e desejadas do mundo mostra que o negócio de revenda de peças de luxo veio para ficar.

Segundo o Boston Consulting Group (BCG), o crescimento desse mercado, hoje avaliado entre US$ 30 e US$ 40 bilhões, será impulsionado, principalmente, pela acessibilidade e pela consciência ambiental. Se, em 2020, 21% de um closet é composto por roupas usadas, em três anos será 27%. No Brasil, sites de revenda de peças de luxo movimentam esse mercado desde o começo da década.

O Troc, criado em 2016 pela advogada Luanna Toniolo Domakoski, tem preços para todas as faixas de renda, uma vez que não revende exclusivamente marcas de luxo. A fórmula deu certo: em 2019 faturou R$ 10 milhões e, em setembro, o grupo Reserva fez um investimento na startup de um valor não revelado, tornando-se sócio minoritário. Uma nova rodada de investimentos é esperada até o fim do ano para a empresa, que registrou aumento de 42% nas vendas durante a pandemia.

Para a especialista em tendências e comportamento de consumo de moda, Andréia Meneguete, a alta na procura por brechós de luxo veio após uma mudança de comportamento do consumidor. “Décadas atrás, o brechó era sinônimo de consumo de oportunidade. Quem não tinha dinheiro ou queria poupar, ia até um brechó e comprava roupas com um valor mais acessível (...) O contexto mudou, o mundo mudou e valores diante do consumo foram colocados em xeque. Diante das tendências de comportamento de um novo mundo, novas práticas de consumo surgem. Por isso, agora temos um consumo de segunda mão ressignificado.”

A pandemia trouxe recessão e desemprego em massa para o país, porém o empobrecimento da população não impulsionará este negócio em especial. Para Meneguete, o consumo de produtos de segunda mão vinga somente entre adeptos da prática sustentável ou entre os que desejam consumir produtos de luxo, mas não têm condições de comprar novos.  De fato, este não é um negócio inclusivo. Uma bolsa Gucci Jacki O, um dos modelos mais famosos da marca, custa R$ 3.200 no site Etiqueta Única, outro comércio de segunda mão de luxo. Na promoção, R$ 1.390. O salário mínimo no Brasil está em R$ 1.045 e, segundo o IBGE, no ano passado um em cada cinco brasileiros recebia menos da metade de um salário mínimo.

O comércio de luxo de segunda mão é uma realidade no Brasil, e intensifica-se pela geração Z, que tem em Greta Thunberg e suas “Sextas pelo Futuro” sua maior representante. Porém, é limitado a uma parte da população, e para aqueles cujo orçamento não permite tais aquisições, mesmo que mais baratas, resta o sonho. 

Em vigor desde 16 de novembro, ferramenta promete aumentar a competitividade no mercado dos bancos
por
Daniel Gateno
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20/11/2020 - 12h

O Banco Central anunciou a criação do Pix no início de outubro deste ano. O Pix é um sistema de pagamento instantâneo que visa facilitar e agilizar as transações financeiras. O novo sistema permite que uma transferência financeira seja feita em menos de dez segundos e sem restrições de horário.

“O Pix é um meio facilitador, ele dá mais rapidez às transações e traz o conceito de pagamento instantâneo ao Brasil, um mecanismo que já é amplamente utilizado em outros países”, avalia Rafael Bianchini, professor do departamento de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Bianchini explica que o Pix foi criado pelo Banco Central, mas que as instituições financeiras irão oferecer a nova ferramenta. “Os bancos e fintechs serão responsáveis pelo Pix, que tende a democratizar o acesso.”

Atualmente é possível realizar transações financeiras por meio de transferência eletrônica disponível (TED) e documento de ordem de crédito (DOC). Ambas as ferramentas só permitem operações durante o horário comercial e dependem de intermediários.

“O mercado deve ficar mais competitivo por causa do Pix”, acredita o docente. “A população não precisa ter conta em banco, nem se locomover para alguma agencia bancária e isso vai quebrar um pouco o restrito mercado dos bancos.” O acadêmico analisa que empresas que não têm função de banco, como a Nubank, podem aproveitar a oportunidade do Pix.

A inauguração oficial do Pix ocorreu no dia 16 de novembro, porém os consumidores puderam registrar as suas chaves desde o início de outubro.

Segundo dados do Banco Central, o Pix recebeu mais de 50 milhões de registros de chaves. O mecanismo identifica o usuário e a sua conta bancária a partir de dados simples dos clientes como número de celular, CNPJ, CPF ou e-mail. Contudo, clientes reclamaram que algumas instituições financeiras obtiveram as chaves da nova ferramenta sem o consentimento dos donos das contas.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) questiona internamente a quantidade de chaves cadastradas por fintechs, segundo matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo no dia 15 de outubro. Nubank, Mercado Pago e PagSeguro, três fintechs, lideram o número de chaves cadastradas. O Procon-SP notificou a Nubank e o Mercado Pago após as reclamações de uso indevido dos dados de clientes.

Bianchini opina que, apesar do recente sucesso das fintechs, elas ainda oferecem pouquíssimos serviços comparado aos bancos e não necessariamente de mais qualidade: “Todos os cinco principais bancos do país continuam sendo soberanos e também oferecem o Pix, além de múltiplos serviços adicionais às fintechs”.

Apesar da popularidade e da quantidade expressiva de registros, apenas 13% da população brasileira conhece o Pix. A sondagem feita pela TV Globo demonstra uma dificuldade de comunicação e aumenta os questionamentos sobre a ferramenta. “A falta de conhecimento do brasileiro sobre o Pix é natural, ainda não está disponível para a população e pode sofrer mudanças nos próximos meses. Ao longo do tempo as pessoas vão conhecer mais”, reflete Bianchini.

 

 

 

Com eleições americanas e nova tecnologia chinesa, o final de 2020 poderá definir o futuro das relações entre as duas potências
por
Giulia Pezarim de Angelo
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20/11/2020 - 12h

As primeiras semanas de novembro foram marcadas por eventos decisivos para a geopolítica internacional: enquanto o continente europeu enfrenta uma segunda onda de Covid-19, mudanças ocorrem nos dois sentidos do globo. No Ocidente, os Estados Unidos encerram suas eleições presidenciais com Joe Biden, do Partido Democrata, eleito. No Oriente, a China lança, com sucesso, o primeiro satélite de teste da conexão 6G, ultrapassando significativamente o adversário americano na corrida tecnológica mundial.

Ainda que Europa e África estejam geograficamente localizadas entre as duas maiores potências atuais, a globalização coloca todas as nações “no meio” da disputa entre China e Estados Unidos – cenário que já foi chamado até de “segunda guerra fria”. A tensão entre os países é marcada pela tecnologia: o que chamam de “corrida” é, num sentido prático, o alto investimento que essas e demais nações estão realizando em pesquisas da área. Os avanços tecnológicos poderão impactar o rumo da sociedade em diversos sentidos: consumo, cotidiano, indústria, política, segurança nacional e, entre outros tópicos, a economia dos dados digitais.

Em um artigo publicado em 2017 com o título The world’s most valuable resource is no longer oil, but data (“O recurso mais valioso do mundo não é mais o petróleo, e sim os dados”), a revista inglesa The Economist observou que “conforme aparelhos, de relógios até carros, se conectam à internet, o volume [de informação] está crescendo”, o que será um fator crucial na economia das próximas décadas. “Algoritmos podem prever quando um consumidor está pronto para comprar, uma turbina precisa de conserto, ou uma pessoa está com risco de doença”, afirmou a revista.

Se a internet é crucial para a economia de hoje (e tende a ser cada vez mais importante), ser pioneiro nas inovações digitais fará toda diferença para os gigantes da economia. Assim, o primeiro teste de conexão 6G é um grande passo para a China, e um marco na disputa entre ela e seu adversário ocidental – o qual, atualmente, luta para garantir exclusividade na venda da rede 5G, que começa a chegar no mercado mundial. Segundo o portal Eurasian Times, “o 6G chinês pode ser 100 vezes mais rápido que a tecnologia americana atual”.

Enquanto o mundo lida com a pandemia e os Estados Unidos começam a deixar para trás o turbulento processo eleitoral, a China parece acelerar seus passos na corrida: além do novo 6G, intensificou o controle de Hong Kong – território crucial na tensão entre Pequim e Washington.

Apesar do momento incerto, a análise dos especialistas pós-eleições não é tão pessimista: com Biden eleito, a tendência é de abertura para uma relação mais diplomática entre os países, com maior espaço para o diálogo. Para Shi Yinhong, diretor do Centro de Estudos Americanos na Universidade do Povo da China, o novo presidente democrata pode tornar as relações entre EUA e China mais previsíveis e estáveis. “Comparada a Trump, Biden-Harris é [uma chapa] muito menos ousada, muito menos vulgar, e muito menos errática”, escreveu Shi Yinhong, em um artigo publicado pelo website chinês Ifeng News.

O novo chefe de Estado americano trouxe um discurso rígido em comparação ao último presidente democrata eleito, Barack Obama, de quem foi vice em seus dois mandatos (2008 e 2012). O político promete agir em parceria com democracias aliadas (entre elas Japão, Coreia do Sul e Austrália) para “confrontar o comportamento abusivo da China e suas violações aos direitos humanos”, mas também “cooperar com Pequim em questões onde seus interesses convergem, tais como as mudanças climáticas e saúde global”. Biden afirmou que irá priorizar a diplomacia na política internacional. O governo chinês foi um dos últimos que o parabenizaram após a sua vitória, levando dias para se pronunciar.

Seu antecessor direto, o ainda presidente Donald Trump, teve governo e campanha marcados por um forte posicionamento contra o gigante do Oriente, dando início à notória “guerra comercial” com a China em 2018. O governante atuou como antagonista das principais empresas de tecnologia chinesas – em especial a Huawei, maior produtora de equipamento 5G para aparelhos móveis –, sob acusações de espionagem. Seu mandato foi marcado por discursos ofensivos à nação rival – em especial durante o surto do novo coronavírus, que chegou a chamar de “vírus chinês”.

Com o resultado das eleições americanas, os próximos quatro anos serão decisivos para a relação entre China e Estados Unidos: elas poderão aumentar a já significativa tensão entre os países, ou amenizá-la, com uma tendência mais diplomática.

A tecnologia estará no centro desse cenário. “Estamos observando um dos momentos mais interessantes para se vivenciar no sistema internacional: pela primeira vez, numa transição hegemônica, um país do Sul – até pouco tempo camponês e pobre – está se equiparando, por meio de investimentos pesadíssimos em inovação e tecnologia, à grande potência [EUA], podendo fazer a ultrapassagem”, afirma a professora Cristina Soreanu Pecequilo, do curso de relações internacionais da Unifesp. Segundo ela, “projeções mostram que, se continuar nesse ritmo, a China dominará o mercado de inteligência artificial até 2024”.

Mas algo também é certo: os americanos não pretendem abrir mão do posto de “primeira economia” tão cedo. Cabe a Biden descobrir como mantê-lo – com sorte, da forma mais diplomática que conseguir.

Imagem da capa: Joe Biden cumprimenta o presidente da China, Xi Jinping, durante visita a Pequim enquanto era vice-presidente Foto: POOL New / REUTERS / 4-11-2013

Entre junho e setembro, times da Série A brasileira embolsaram 25% a menos do que no mesmo período do ano passado
por
Francisco Vóvio Segall
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19/11/2020 - 12h

A pandemia de Covid-19 causou uma crise sem precedentes no mercado de transferências do futebol. De acordo com a Fifa, a perda estimada é de USS 14 bilhões a nível mundial. Os clubes brasileiros foram especialmente afetados por essa crise.  Os times da Série A, entre junho e setembro deste ano, quando acontece a principal janela de transferências europeia e onde se concentra a maior parte dos gastos, embolsaram 25% a menos com negociações em relação ao mesmo período de 2019.

As negociações representam 27% da receita dos clubes brasileiros. Apenas cotas de televisão representam uma fonte de renda maior, o equivalente a 38% da arrecadação. Em 2019, o mercado brasileiro da Série A movimentou cerca de R$ 945 milhões com a saída de jogadores, sendo a mais relevante a ida do ex-santista Rodrygo para o Real Madrid, por um valor de R$ 281 milhões. Em 2020  os clubes da elite do futebol brasileiro movimentaram cerca de R$ 713 milhões, sendo a maior transferência a do então gremista Everton Cebolinha para o Benfica de Portugal, pelo valor de R$ 125 milhões. 

O Brasil tem cerca de 360 mil atletas registrados, sendo 25% destes jogadores profissionais. “Vale lembrar que, desses 360 mil, você tem em torno de 500 na Série A, que é onde tem uma circulação maior de recursos”, comenta Leonardo Máximo, especialista em direito desportivo.

Cerca de 4.700 brasileiros estão atuando em ligas fora do Brasil. O impacto gerado pelo futebol na economia brasileira representou 0,72% do PIB em 2018, de acordo com dados divulgados pela CBF em 2020, gerando cerca de 156 mil empregos e movimentando aproximadamente R$ 53 bilhões. Este ano, esses números devem sofrer quedas pela importância das transferências nas contas dos times brasileiros.

  Até o ano de 2020, foi registrado um crescimento na movimentação de dinheiro no mercado de transferências mundial durante oito anos consecutivos, “O mercado global de transferências movimentou, em 2019, USS 7,35 bilhões. Em 2012, foram movimentados USS 2,66 bilhões”, aponta Máximo. Já em  2019 ,houve um crescimento de 9% em relação ao valor gasto em 2018, maior desde 2010, totalizando 18 mil transferências.

Os brasileiros são os jogadores que mais se envolvem em transferências, um valor total de USS 925 milhões, cerca de 12,5% do total movimentado. Além disso, de acordo com dados da Fifa, 306 clubes brasileiros se envolveram em negociações internacionais, mais que o dobro de qualquer outra federação no mundo, correspondendo a um aumento de 22% em relação a 2018. 

Mas, mesmo com esses números bastante expressivos, os times brasileiros não são nem de perto os que mais movimentam dinheiro. Os grandes gastadores do mundo do futebol se encontram nas cinco grandes ligas europeias: Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França, as chamadas Big Five. Esses times representam quase USS 6 bilhões movimentados só em 2018, de um total de aproximadamente USS 7 bilhões, de acordo com dados da Cies Football Observatory.  

Desses gastos quase 70% foi entre as grandes cinco ligas ou transferências internas dentro da Big Five. Apenas 4,1% desses gastos ocorreram em ligas que não fazem parte da Uefa. “O gasto das Big Five acontece, em sua maioria, entre clubes da mesma liga ou entre clubes de ligas dentro das cinco principais ligas europeias”, assinala Máximo. Dos 20 clubes que mais receberam dinheiro das Big Five nenhum é latino-americano.


 

Novo meio de pagamento foi implementado no dia 16 de novembro
por
Bruna Galati
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19/11/2020 - 12h

O Pix, novo meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, gerou uma série de incertezas para diversas áreas. O consumidor final não tem certeza sobre a segurança da ferramenta e as adquirentes buscam soluções para não saírem do mercado, já que o Pix veio para substituir o TED, DOC, cartões de débito e boletos bancários. Por outro lado, as varejistas estão felizes com as vantagens que o novo programa trará para elas. 

A Kaspersky, empresa internacional de cibersegurança, detectou só no primeiro dia de cadastro do Pix 30 domínios falsos criados com o mesmo nome. Esse é o primeiro estágio de um golpe, onde os fraudadores criam sites falsos para tentar distribuir vírus e capturar dados das pessoas, disparando esses links por meio de e-mails, redes sociais ou SMS. 

A recomendação dos especialistas e dos bancos para não ser vítima desse tipo de fraude é não clicar em links recebidos por outros meios que não sejam dentro do aplicativo do seu banco. O consumidor terá que ser mais ágil para evitar cair em fraudes simples na internet.  

Pensando em estágios mais avançados de fraude, a Inloco, empresa de identidade digital privada por tecnologia de localização, criou a solução Incognia Pix para evitar a fraude através do QR Code, que pode ser uma das formas de pagamento do Pix, além das chaves. 

"Os ataques de fraude vão se tornar muito mais fáceis de executar, porque não precisa de todo aparato tecnológico, é só o fraudador imprimir um novo QR Code e colar em cima do original", afirma André Ferraz, CEO e fundador da Inloco, sobre o progresso de fraude com a chegada do Pix. 

A solução da empresa protege todos os lados da transação. Começando pelo usuário ao confirmar a localização em tempo real do celular, para verificar se o cliente está no estabelecimento onde a compra é registrada, confirmando se o usuário é mesmo o proprietário da compra. Ao suspeitar de algo, o sistema pede uma nova prova de identidade para liberar o pagamento. 

Com a tecnologia de localização, a Inloco também sabe quais são os QR Code de pagamento que estão vinculados a todas lojas (que são suas clientes) e, caso detectem qualquer QR Code diferente, ele não permite o clique do usuário. A empresa também garante que o pagamento caia na loja certa.

Para as varejistas, o Pix trará redução nos custos das operações, dando eficiência às empresas e garantindo uma melhor experiência e rapidez para o consumidor. Em evento realizado pelo Banco Central (BC), Ana Honorato, gerente de tesouraria do Arcos Dourados (McDonald's), afirmou que o Pix diminuirá a busca interminável dos varejistas por moedas.

Os comércios e autônomos sofrem com as transações que demoram para cair devido aos finais de semana e feriados. Com o Pix, isso não acontecerá, já que ele é uma opção de transação que pode ser feita de segunda a segunda nas 24 horas do dia e incluindo os feriados. 

As empresas também correm o risco de a transferência não ser efetivada ou o consumidor desistir de pagar seu boleto bancário. Ao escolher pagar por boleto, o consumidor espera dois dias úteis em média, até que sua compra seja confirmada. Isso gera a trava do produto no estoque da varejista, sem saber se o pagamento de fato será realizado. Caso ele não ocorra, ela perdeu oportunidade de vender o produto para outro consumidor. Com o novo produto do BC, essa insegurança diminui, já que o dinheiro cai na conta do destinatário em até dez segundos. 

Embora não seja possível calcular exatamente quanto o comércio e prestadores de serviço irão economizar com as taxas de operações, já que o valor cobrado varia por estabelecimento e instituição financeira, as perspectivas para a redução de custos são altas. Em entrevista para a Folha, Jorge Gonçalves Filho, vice-presidente e conselheiro do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), disse que a estimativa é que 30% das transações do comércio sejam na função débito, sendo cobrado 2% em cima disso pelas operadoras. 

Em 2019, o varejo paulista contabilizou faturamento de R$ 740 bilhões. Se levarmos  em conta o comentário de Jorge, o setor pagou mais de R$ 4 bilhões, apenas em taxas para as operadoras. O Pix traz suas vantagens para os comerciantes.

Já para muitas adquirentes (tradicional "maquininha" que faz a comunicação direta entre a loja, bandeiras e os bancos emissores de cartões), o Pix vai mudar o fluxo de pagamento. Mas, na visão de Rodrigo Luiz Teixeira, CEO da BMG Granito, o Pix não será um problema de curto e médio prazo. Apenas 20% de seus resultados vêm do débito e a instituição não acredita que inicialmente o Pix terá forças suficientes para passar essa porcentagem. 

A demora na adesão ao PIX vem da insegurança dos estabelecimentos de não terem informações concretas. As taxas ainda não foram divulgadas, nem a forma como eles irão conferir o recebimento do dinheiro. O novo sempre deixa todos com um pé atrás e a previsão é que o ciclo do Pix demore de dois a três anos para se consolidar. 

Outra preocupação da adquirente é fraude. Com o cartão de crédito, caso o consumidor não receba sua compra, ele liga no banco e confirma o não recebimento. O banco devolve o valor e é debitado do estabelecimento comercial. Com o Pix, ainda não há certeza de como isso irá funcionar. "Se o Pix gerar sensação de insegurança, o estabelecimento não vai querer usá-lo como forma de pagamento", completa Rodrigo Teixeira.

Ainda existe uma grande incerteza no mercado sobre a chegada do Pix. Alguns comércios menores da Zona Norte de São Paulo dizem que não estão interessados na implementação do sistema, que esperam novas informações sobre taxas, seguranças e quão favorável será essa nova opção de pagamento.