As projeções para a economia mundial estão melhorando. Ao menos é o que diz o relatório Perspectivas da Economia Mundial (World Economic Outlook, em inglês) publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no mês de abril. O organismo financeiro prevê 4,6% de crescimento para a América Latina em 2021, o que melhora em 0,5 ponto percentual a última estimativa para a região, publicada em janeiro.
A atualização e o otimismo decorrem principalmente da evolução da vacinação em massa. Outros fatores englobam a adaptação de parte da população ao trabalho à distância e o forte apoio fiscal das principais potências econômicas mundiais, sobretudo os Estados Unidos. A recuperação econômica da América Latina, no entanto, será “leve e em velocidades diferentes”, conforme o relatório do FMI, que alerta para o “potencial de danos econômicos persistentes” e para a “eficácia com que políticas econômicas implementadas sob incerteza podem limitar os danos dessa crise sem precedentes".
No Webinar “Perspectivas para a economia brasileira (2021-2022)”, realizado pela Fundação Getúlio Vargas em 6 de abril, o professor de economia Mauro Rochlin comentou sobre os fatores que estimularam uma melhoria nas projeções econômicas: “O mundo vai andar muito mais rápido do que se esperava há pouco tempo atrás. Houve uma mudança significativa nas previsões de crescimento econômico para o mundo todo, com as principais condicionantes sendo a evolução da imunização, a reabertura do setor de serviços e a retomada do emprego. São fatores que dependem uns dos outros para moldar qualquer tipo de previsão”.
Com diversos países registrando altos índices de óbitos per capita decorrentes de Covid-19, a América Latina teve retração econômica de 7% em 2020. Foi o maior recuo entre as regiões do mundo e mais do que o dobro da média global de 3,3% - variação que já significou a pior recessão em tempos de paz desde a crise de 1929. A economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, ressalta na introdução do relatório que “o colapso poderia ter sido ao menos três vezes maior, não fossem as rápidas respostas governamentais”.
O emprego formal e a renda proveniente do trabalho tiveram queda acentuada. Os setores mais afetados pela pandemia, tais como hotéis, restaurantes, serviços pessoais e estabelecimentos comerciais, absorveram uma parcela desproporcional da perda de empregos, assim como as famílias de baixa renda. A renda mais baixa, por sua vez, contribuiu para a insegurança alimentar, impulsionada pela inflação dos preços em alguns países. O resultado é a reversão nos avanços na redução da pobreza. As economias caribenhas, dependentes do turismo, estão entre as mais afetadas.
O FMI estima que cerca de 95 milhões de pessoas entraram na faixa da pobreza extrema em 2020, sendo 19 milhões na América Latina. Já a desigualdade, medida pelo coeficiente de Gini, cresceu 5% em comparação ao cenário pré-pandemia na região. Especialistas do organismo também alertam para um problema pouco comentado, destacando que a crise sanitária “deixará danos duradouros no capital humano devido ao fechamento das escolas, que foi mais prolongado do que em outras regiões do mundo”.
A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global é de 6%, 1,4 ponto percentual acima da América Latina e 2,3 pontos percentuais superior à do Brasil, que registrou no ano passado uma retração de 4,1%, a terceira maior desde 1901. Segundo país com mais mortes por Covid-19 no mundo, o Brasil vem tendo a recuperação retardada pelo atraso no programa de vacinação e a gestão conturbada da crise sanitária, agora no foco de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado. Em 2021, mais uma vez, o país deve ficar abaixo da média de crescimento mundial e da região.
Para além de 2021, o FMI alerta que as perspectivas a longo prazo seguirão dependendo do rumo que a pandemia tomar em cada região, destacando que a vacinação lenta aumenta o risco de agravamento de novos focos do vírus, além de promover aumento da desigualdade entre os países ricos e pobres.
No caso da América Latina, especificamente, com exceção de Chile, Costa Rica e México, os países ainda não garantiram vacinas suficientes para cobrir todas as respectivas populações, apesar dos apelos da Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma melhor distribuição dos imunizantes pelo planeta. México (5%), Argentina (5,8%) e Chile (6,2%) estão na frente do Brasil na corrida de crescimento econômico para o ano, segundo o relatório do organismo. O FMI destacou o Chile como “um dos programas de vacinação mais avançados do mundo”, para justificar a previsão de recuperação a curto prazo.
Em termos de renda per capita, o retorno aos níveis pré-pandemia na região está previsto apenas para 2024, o que culminará na perda acumulada de 30% em relação à projeção anterior à crise. “As pessoas e as economias ainda precisam de uma dose de reforço a curto prazo para sair da crise da Covid-19, enquanto o agravamento de fragilidades estruturais subjacentes impõe desafios a longo prazo”, destaca um grupo de especialistas do FMI. O Brasil deve recuperar o nível de seu PIB de 2019 apenas em 2022.
O órgão ainda recomenda que os governantes tenham prudência ao decidirem os próximos passos, visando amenizar os efeitos da crise e alcançar as previsões positivas futuras, destacando: prioridade aos gastos com saúde, fortalecimento de políticas de proteção social, facilitação de falências e investimento em educação.
Ela se arrumou como de costume. Vestiu uma roupa bonita e passou maquiagem. Dessa vez, para esconder a tristeza. Não adiantou. Professora de educação infantil, Vivian Medeiros Campos percorreu os trinta minutos da sua casa ao trabalho com lágrimas no rosto. Era terça-feira, quatro de maio de 2021, o seu último dia na Escola Piccolino, localizada no Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade de São Paulo. Chegou às 9h e bateu o ponto às 13h. A jornada caiu pela metade, assim como o salário. Os cortes não evitaram a demissão. “Nós tínhamos berçário com 18 bebês, agora com a pandemia nós não tínhamos nenhum.” Vivian era coordenadora do berçário e sabia que o rompimento era inevitável.
Cerca de 300 mil professores da educação básica de colégios privados já foram demitidos durante a pandemia, segundo estimativa da Fenep (Federação Nacional de Escolas Particulares). Os dados se referem aos docentes que atendem crianças de até 5 anos de idade. Sem a obrigatoriedade do ingresso escolar antes dos 4 anos – conforme a legislação –, os impactos são sentidos no cancelamento das matrículas e na demissão de professores. A educação infantil tem concentrado mais de 70% dos desligamentos de profissionais na rede particular, que procuram novas fontes de renda.
Silvia Maria perdeu o emprego numa creche pouco antes de a pandemia ter início. Pedagoga, ela sobrevive com a média de R$ 500 por mês com a revenda de cosméticos e utensílios para casa. São 4 milhões de pessoas nessa atividade, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (Abevd). Os revendedores usam como alternativa para complementar a renda. Para Silvia não está sendo um complemento, pois ainda não conseguiu recolocação no mercado. “Já entreguei vários currículos, por e-mail e pessoalmente. Eles sempre falam que não dá por causa da pandemia”, diz.

A lona estendida na frente da casa faz sombra numa grande mesa sustentada por tijolos. Em cima da mesa, vários livros de estudo. Nas cadeiras, nenhum aluno. É nesse ambiente improvisado no bairro 17 de março, em Aracaju (Sergipe), que o professor Luiz Carlos Nascimento dava aulas de reforço escolar e tirava um extra. Com a pandemia, a atividade parou. Não só o reforço em sua casa, como o emprego no colégio particular. Luiz está entre os 14,4 milhões de desempregados no Brasil, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No trimestre encerrado em fevereiro, o desemprego ficou em 14,4%, a maior taxa registrada desde o começo da pesquisa.
“Professor é a única identidade que encontro em todos lugares que eu vou.” Filho mais velho entre cinco irmãos, Luiz é o único com ensino superior. Desde cedo, ele sabe da importância dos estudos na sua vida e tenta ajudar as crianças do seu bairro com um projeto social de contação de histórias e o reforço com um valor simbólico de R$ 30 por aluno. Sem essas atividades, ele vende geladinhos por R$ 1 cada. No mês que dá uma venda boa, ele tira R$ 100, que se somam ao auxílio de R$ 150 do Bolsa Família, que permite nada mais que o básico nesse contexto pandêmico
Quando questionado sobre o motivo de continuar na profissão mesmo com as dificuldades, Luiz faz questão de responder. “A gente tenta fugir do ócio do ofício, mas ensinar não é para qualquer um. Ensinar é um dom. Já tentei ‘n’ outras coisas, mas no meu coração sempre diz o seguinte: você precisa ensinar. É a sua arte.”
Logo após o primeiro caso de contaminação pela Covid-19 no Brasil, assistimos uma ampliação do desemprego e do desalento da população, sobretudo os mais jovens. Não basta apenas lutar para não ser contaminado pelo vírus, na maior crise sanitária que já enfrentamos. A luta diária no meio da pandemia é a luta da sobrevivência, manter o emprego e a renda para passar por essa turbulência.
Para os jovens o desafio é ainda maior. Como se colocar no mercado de trabalho estagnado, com trabalhadores qualificados e experientes perdendo os seus postos de trabalho e, para sobreviver, aceitando salários menores em uma nova colocação. É neste contexto que os mais novos estão disputando uma vaga de trabalho. Antes, o fato de ter pouca ou nenhuma experiência era um facilitador para conseguir um emprego com salário mais baixo, agora concorre com pessoas experientes pelos poucos empregos mal remunerados que existem. O Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios) informa que de cada dez novos profissionais formados em 2019 e 2020, metade deles estão sem trabalho, ou seja, com uma taxa de desemprego muito maior que a média do país, que gira em torno de 14,2 %, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A pesquisa, realizada pelo Nube, mostra que dos jovens formados que conseguiram emprego neste período de pandemia, apenas 20% estão exercendo atividades correlatas ao que estudaram na universidade. Para a recém-formada em Publicidade e Propaganda, Grazielly Irene da Conceição Cunha, que cansou de procurar emprego em sua área e neste momento trabalha na empresa da família em atividades administrativas e paralelamente faz cursos de EAD (Ensino à distância), o curso visa prepará-la para quando o mercado aquecer novamente.
Para Mariana Nobrega, formada em Engenharia de Produção, "o mercado está exigindo muita experiência em diversas áreas do conhecimento, dificultando a entrada dos inexperientes no mundo do trabalho. Quando resolveu estudar engenharia, não imaginava que iria encontrar tantas dificuldades para se inserir na profissão, pois as atividades em que o engenheiro de produção pode atuar são amplas, mas, devido à crise econômica e as incertezas relativas à pandemia deram uma travada no mercado de trabalho. Hoje, ela tem realizado trabalhos informais e está se preparando, inclusive para mudar de área, fazendo um novo curso.
Não há dúvidas do quão cruel foi o ano de 2020 por conta das consequências ocasionadas pela pandemia de Covid-19, e infelizmente para nós brasileiros a previsão é de que 2021 não traga notícias muito diferentes. Vidas de centenas de milhares de famílias foram corrompidas drasticamente de uma hora para a outra sem ter como jamais serem reparadas, e o governo do atual presidente, Jair Bolsonaro, vêm acumulando vexames e atos genocidas contra o Brasil por conta de seu descaso com a vida de nós todos.

Fonte: IBGE
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados em assombrosos durante a pandemia, mostrando a dura realidade da enorme crescente do número de desempregados ao redor do país, totalizando cerca de 14,3 milhões de pessoas até janeiro de 2021 – maior número já registrado desde o início da série de pesquisas realizadas pelo instituto em 2012 - sem contar as pessoas desalentadas -, assim destacando o Brasil como a 14ª maior taxa de desemprego do mundo.

Da mesma forma que centenas de outras pessoas tiveram seus serviços interrompidos repentinamente, Wagner Amorim, que antes trabalhava no setor de eventos, segmento parado desde 16 de março de 2020 concedeu uma entrevista à AGEMT, contando o momento divergente em que percebeu que teria que mudar de profissão, nem que fosse por um momento, seus últimos meses trabalhando no novo ramo e como a mudança profissional severa tem se comportado nos últimos tempos:
“O momento da pandemia que fez mudar a chave para “vou me virar a partir de agora” foi na metade do ano passado pra frente, em que toda uma economia que foi feita durante anos começou a ir embora devido à falta de serviço”. “Fazer isso de uma atividade fixa vai decorrer de como ela vai se portar, pois todo começo é bem difícil. Eu estou esperando, porque a principal ideia de trabalho que eu tenho é evento, é o que eu sei fazer com maestria e espero que volte, mas enquanto não voltar eu tenho que fazer valer essa segunda opção que eu fiz que é a fabricação de linguiça”.
Um dos sócios do restaurante Valentinas Grill, Edson Riedo, também teve que mudar de estratégia para manter o estabelecimento: “Em vez de fechar as portas, nós tivemos que usar a inteligência para poder sobreviver”. “A pandemia praticamente parou com os negócios, e aí nós arriscamos um restaurante delivery, pois era a opção que nós tínhamos. Investimos um dinheiro que nem tínhamos, e foi o que salvou os negócios no restaurante, mas tivemos que arriscar, que pensar e trabalhar muito”.
Querendo ou não, no final das contas o Brasil ainda vive um processo lento ao extremo de “desenvolvimento” - se é que podemos nomear assim. O despreparo do atual governo colocou em xeque a vida de milhões de brasileiros, tendo em vista que, não só bastando o número absurdo de desempregados, o fim do auxílio emergencial em 31 de dezembro de 2020 pode ser traduzido na vida de milhões como uma redução de sua renda total à zero. Com isso, cada vez mais o desespero bate à porta do cidadão brasileiro, e a pandemia e seus efeitos colaterais, que antes pareciam serem difíceis de controlar, agora estão gerando ondas e ondas cada vez mais catastróficas, e nem nós sabemos onde isso tudo pode parar.
A pandemia do Covid-19, forçou a usar medidas de distanciamento social para evitar que a doença, extremamente contagiosa, se alastrasse de maneira avassaladora. Um ano mais tarde, a situação no Brasil não melhorou muito.
Os problemas consequentes do vírus não se resumem à área da saúde. Como já foi dito, medidas de distanciamento social afetaram os negócios e a economia do país. No caso do microempresário o cenário fica, evidentemente, pior, uma vez que, sendo dono de um estabelecimento comercial de pequeno ou médio porte, ele é extremamente dependente de uma clientela, naturalmente reduzida se comparada à de um grande empreendimento.
Segundo a Boa Vista, empresa de informação de crédito englobando dados de empresas e consumidores, em 2020 os pedidos de falência aumentaram em quase 13% e as decretadas fecharam o ano em alta.
Não bastasse afetar os indivíduos envolvidos nesses casos de micro e pequenos negócios, pessoas que precisam de seus empreendimentos abertos para seu sustento, o baque é grande para o país em si, já que juntas, micro e pequenas empresas representam 99% das empresas do Brasil.
Mesmo assim, em 2020 quase 300 mil novos empregos foram gerados via micro e pequenos negócios. Mesmo no cenário caótico, a venda por varejo em redes sociais. Uma área que encontrou algum espaço no meio virtual, por exemplo, foram as vendas de doces caseiros.
Quanto aos espaços físicos, mercados de bairro, ao menos no começo da pandemia no país, receberam uma clientela diversificada, com o temor das pessoas em irem para um mercado de rede com vários clientes, causando aglomerações, além de evitar longas saídas de casa.
Mesmo assim, os problemas impostos pelo vírus forçaram soluções diferentes, inovações pessoais para o microempreendedor, ou seja, novos métodos de ação para manter o negócio vivo.
Em entrevista com a massagista Simone Lopes, atuante em sua profissão na zona norte de São Paulo, mãe de três filhos e microempresária, mostra a dificuldade e os caminhos adversos encarados por conta da pandemia do novo coronavírus.

Dessa forma, Simone contou como lidou com a quarentena em março de 2020 e em 2021: “Em março de 2020, meus atendimentos em espaços (como clínicas) diminuíram drasticamente. Por outro lado, os atendimentos na casa dos clientes cresceram por ser mais favorável ao consumidor. Para conseguir uma renda extra, para suprir a falta de massagem, comecei a vender produtos relacionados a massoterapia. E hoje em dia, em relação ao atendimento, não mudou muito, continua sendo muito maior à domicílio. No entanto, consegui abrir o leque, dando cursos de técnica de massagem”.
Sobre os clientes e os produtos usados, a profissional em massoterapia acrescentou que há mais atendimentos na casa dos consumidores, mas que houve uma redução grande perante o pré-pandemia. Ela ressaltou que o preço dos produtos aumentaram muito, com isso, teve que procurar outros fornecedores e começou a comprar no atacado para economizar.
Em relação ao futuro, Simone se mostra otimista em relação ao retorno das consultas. A empresária disse: “Acredito que tudo volte ao normal em breve e que até melhore, porque os problemas psicológicos estão se agravando durante a pandemia, e com isso, a massoterapia é um relaxante muscular e psicológico, aliviando a tensão diária”.
Politicamente falando, a massoterapeuta comentou sobre a atuação do presidente Jair Bolsonaro e do governador João Dória. Simone disse: “Bolsonaro fez um péssimo trabalho como representante do Brasil, negando a doença e a ciência. O presidente mais atrapalhou do que ajudou. Já Dória fez o certo em relação ao lockdown, pois caso deixasse aberto haveria um colapso da saúde ainda maior, mas tem que programar uma ajuda financeira para que os microempresários consigam se manter e não quebrem nessa fase tão difícil”.
Simone deu um jeito de formar uma renda extra, mas há pessoas que não têm essa oportunidade. Portanto, deve-se destacar o papel importante que o presidente e os governadores têm em dar o auxílio para os microempresários e os desempregados, para que o colapso não seja maior.
Dessa maneira, os problemas causados pela pandemia são diversos, principalmente o negacionismo e os políticos, porém há esperança de que a economia se mantenha, desde que as autoridades façam o necessário para isso. Pagando um auxílio condizente com as contas e necessidades, onde uma distribuição de 150 a 375 reais não pagam o básico como aluguel, luz, água e mercado, sendo que 13,4 milhões de brasileiros estão desempregados. Então, os microempresários precisam de estímulo para sobreviver e o número de pessoas sem emprego não aumentarem.
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil