A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Após mais de dois anos de mandato de Jair Bolsonaro, apenas 15 empresas foram privatizadas, e outras 90 estão no planejamento
por
Victor Franco
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31/05/2021 - 12h

Em sua campanha eleitoral ao longo de 2018, o atual presidente, Jair Bolsonaro, utilizou a pauta de privatizações como um dos principais atrativos de sua candidatura. O militar e ex-deputado prometeu vender ativos governamentais com o objetivo de abater a dívida pública federal. Paulo Guedes, ministro da Economia desde janeiro de 2019, chegou a dizer em uma entrevista à Globo News que era a favor da privatização de todas as empresas estatais.

“Se, por exemplo, você vai para uma distribuidora da Eletrobrás, daqui a pouco vai faltar luz no Maranhão, vai faltar luz no Amazonas, vai faltar em Rondônia. Esse modelo já se esgotou há dez, 15, 20 anos. Só que a classe política se aboletou, aparelhou e não sai de cima. E está atrasando o desenvolvimento do Brasil, porque eles não investem, não têm capacidade de investimento e ao mesmo tempo é um monopólio público, o privado não consegue entrar”, disse o economista na entrevista.

 

A prática após mais de dois anos

Apesar das promessas, o que se viu foi uma enorme dificuldade em concluir estas privatizações e passá-las em votação no Congresso Nacional. Ao todo, desde que o novo governo tomou posse, apenas 15 empresas foram privatizadas, sendo que outras 90 estão nos planos para serem vendidas. Para o economista e professor da FGV Rafael Bianchini, essa dificuldade se dá pela falta de relacionamento político da Presidência “O governo tem uma articulação com o Congresso bem precária”, avalia. “Ele quer privatizar, mas tem que acomodar parlamentares em estatal, então, se privatizar vai perder, de alguma maneira, essa influência”, explica Bianchini.

Outro fator que explica os impedimentos do governo em prosseguir com as privatizações são as divergências econômicas entre o presidente Jair Bolsonaro e a sua equipe. “O presidente Bolsonaro tem uma orientação que, apesar de colocar o Paulo Guedes, um economista liberal, é estatista. Então, ele acabou se indispondo com alguns presidentes de estatais por conta disso”, comenta Bianchini. “Ele se diz liberal, nomeia pessoas pra cumprir essa missão, mas aí, quando elas vão concretizar essa missão, elas são desautorizadas pelo presidente da República”, acrescenta.

Isso pode ser observado na relação com o ex-comandante do Banco do Brasil, o executivo André Brandão, que renunciou ao cargo na empresa no último mês de março, por conta de desavenças com Bolsonaro, que queria impedir os planos do banco de fechar agências por todo o país, ação que reduziria bilhões de reais em gastos até 2025.

 

Privatizações em 2021

Em entrevista à CNN Brasil, no dia 17 de maio, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, defendeu a privatização da Eletrobras, empresa que é a líder em geração e transmissão de energia elétrica no Brasil. Segundo o almirante, a diferença entre a necessidade e o real investimento que a Eletrobras consegue alcançar é o fator principal para a urgência da desestatização total, já que é preciso investir R$ 14 bilhões por ano, e a companhia conseguiu apenas R$ 3 bilhões em 2020. "A empresa vai acabar. Em mais quinze anos, ela acaba. Então, é uma necessidade", afirmou Bento.

Já o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou, no início de maio, que a proposta que permite ao governo privatizar os Correios será votada entre os meses de junho e julho. Hoje, além da entrega de produtos e correspondências, os Correios também são responsáveis por realizar transportes de documentos sigilosos do governo, urnas eletrônicas quando estão ocorrendo eleições, vacinas, insumos e remédios em tempos de pandemia, entre outras coisas. Entretanto, o governo brasileiro ainda não definiu de que forma esses serviços serão realizados caso a empresa for mesmo privatizada ou se a iniciativa privada sequer será obrigada a manter essas funções.

Outra questão que vem à tona é se qualquer empresa particular seria capaz de replicar o alcance que os Correios possuem hoje, tendo que distribuir entregas e documentos por todo o extenso território nacional. Em relação ao Enem, principal prova de admissão à educação superior do Brasil, que tem a empresa como responsável logística, há uma preocupação de que haja o vazamento do teste antes da data, como ocorreu em 2009, quando o Ministério da Educação contratou gráficas privadas para cuidar da impressão e da distribuição das provas.

 

Com altos e baixos há mais de um ano, pequenos estabelecimentos buscam novas estratégias de venda para se manter lucrativos
por
Eduardo Moura
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29/05/2021 - 12h

A pandemia de Covid-19 tem impacto em vários setores e trouxe mudanças para comerciantes e consumidores paulistanos. 

Segundo uma pesquisa realizada pelo SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), das empresas que permaneceram abertas no país, 41,9% realizam apenas entregas via atendimento on-line. Outros 41,2% reduziram a carga horária e outros 21,6% estão trabalhando de modo remoto. https://datasebrae.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Impacto-do-coronav%C3%ADrus-nas-MPE-2%C2%AAedicao_geral-v4-1.pdf 

A situação financeira já não era boa antes mesmo da pandemia, segundo 73,4% das empresas. Porém um dado curioso, foi que quase metade dos comerciantes que responderam a pesquisa, (49%) disseram que a situação financeira está razoável, enquanto apenas 24,4% disseram que a situação está ruim. 

Essa razoabilidade apontada em março do ano passado pelos comerciantes é, em alguma medida, confirmada pela Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o levantamento, em março deste ano, as vendas do varejo ampliado ( que abrange todos os segmentos), tiveram alta de 10,01% sobre o mesmo mês de 2020. https://acsp.com.br/publicacao/s/temas-em-analise-307-varejo-tambem-surpreende-em-marco-apesar-do-recrudescimento-da-pandemia 

Esse aumento é consequência da mudança de hábitos dos consumidores, que, durante a pandemia, estão dando preferência para comércios de bairros. O principal motivo é a segurança, pois os estabelecimentos são menores e têm uma rotatividade menor. Segundo o instituto Kantar, 75% dos brasileiros têm comprado em comércios perto de casa a fim de evitar aglomerações. 

Entre os aspectos mais relevantes que atraem os consumidores aos negócios de bairro estão o fato de ter poucas pessoas no local (60,2%), a proximidade de casa (59,6%), preços acessíveis (53,3%), cumprimento das medidas sanitárias (47,8%) e ausência de filas para entrar (44,9%). https://www.kantaribopemedia.com/mesmo-com-o-fim-da-quarentena-consumidores-afirmam-que-devem-manter-habitos/ 

A  Agemt conversou com dois pequenos comerciantes do bairro da Mooca em São Paulo  – Patrícia, dona de uma loja de grãos, e Paulo, gerente de um pet shop – para saber como tem sido a experiência deles durante a pandemia. Os dois têm seus estabelecimentos na mesma rua.  

Houve uma queda de movimento no seu comércio? 

Patrícia: No início da pandemia sim, porém a partir do segundo semestre do ano passado voltou à normalidade e agora, por incrível que pareça, as vendas estão aumentando. 

Paulo: Não sentimos nenhuma diferença nas vendas em nenhum momento. Não fechamos nenhum dia sequer. 

Vocês fizeram alguma adaptação no comércio de vocês para que as vendas não fossem tão prejudicadas? 

Patrícia: A única mudança foi o delivery, que já era um projeto nosso mesmo antes da pandemia e que teve que ser antecipado. Isso ajudou bastante. 

Paulo:  A única adaptação foi adotar com rigor os métodos de prevenção contra o vírus. Como estamos localizados em um bairro de uma faixa etária mais alta, já estamos acostumados a fazer entregas e retiradas de animais para banho e tosa na residência dos clientes. Claro que houve um aumento desse serviço com a chegada da pandemia. 

Como tem sido trabalhar com atendimento ao público no meio de uma pandemia? Vocês sentem medo de ser infectados? 

Patrícia: Sentia mais medo no início. Agora, com as pessoas começando a se vacinar e mais adaptadas aos métodos de prevenção, me sinto um pouco mais segura. 

Paulo: Eu peguei Covid-19 logo no início da pandemia, mas tive apenas sintomas leves. Sei que ainda corro o risco de pegar mas também é fato que o risco de infecção é menor para quem já pegou. Por isso hoje estou mais tranquilo para atender o público. 

Como você vê a atuação do estado no apoio ao comerciante? 

Patrícia: Qual apoio (risos)? Não foi feito nada que viesse para ajudar os pequenos comerciantes, foi cada um por si. Temos sorte de não termos fechado nosso negócio. Um governo que quer o comércio aberto mas sem imunizar a população não pode ser levado a sério, temos que nos virar. 

Paulo: Não teve apoio. Vemos a todo momento o governador e o prefeito falando que estão tomando medidas para ajudar os pequenos empresários, mas essas medidas não chegam nunca. Enquanto o povo não estiver vacinado não estaremos totalmente seguros financeiramente. 

 

 

 

 

 

 

 

Estatísticas indicam inversão das curvas de natalidade e mortalidade com avanço da pandemia; fenômeno é visto como pontual
por
Gabriel Janeiro
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28/05/2021 - 12h

Do dia 1º a 8 de abril, pela primeira vez na história, o número de mortes foi maior do que o número de nascimentos na região sudeste do Brasil, de acordo com dados preliminares do Portal da Transparência do Registro Civil. O fenômeno deu-se pela associação entre a redução da natalidade e a explosão da taxa de óbitos no auge da pandemia no país.

O portal de Transparência do Registro Civil é o canal oficial da Arpen Brasil (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais), e reúne informações e dados estatísticos com live acesso. Os dados são preliminares, uma vez que os cartórios do país têm o prazo de 10 dias para registrar nascimentos e óbitos, mas desde o ano passado a tendência é de alta de mortes em relação aos nascimentos.

Os números apontam para 13.998 registros de nascimentos contra 15.967 registros de óbitos na primeira semana do mês, totalizando 4.818 mortes a mais do que nascimentos. No mesmo período do ano passado, pouco depois de o vírus instaurar-se em território nacional, foram registrados 37.075 nascimentos a mais do que mortes.

Desde o início da série histórica, este fenômeno nunca havia sido constatado. Nos últimos 120 anos, a população do Brasil só cresceu.

Na virada para o século 20, eram menos de 20 milhões de brasileiros. Nessa época, as políticas populacionais na América Latina eram explícitas ou implicitamente expansionistas e pró-natalistas, ou seja, incentivavam o crescimento demográfico através de um grande número de filhos por casal.  Atualmente, são 212.9 milhões de brasileiros, de acordo com uma projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mesmo com a redução do número de integrantes por família nas últimas décadas, o país continuou crescendo. Pode-se observar que a taxa de nascimentos começou a cair de forma gradual, ou seja, a diferença entre nascimentos e óbitos passou a ficar cada vez menor.

Isso porque, em 1974, vários países da América Latina se uniram através da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento de Bucareste, criando organismos ocupados com assuntos de população e desenvolvimento.  No final da década de 1970, a nova realidade demográfica da América Latina se traduzia em políticas para redução do alto crescimento populacional ou em políticas de planejamento familiar para atender à demanda de regulação da fecundidade.

Ainda assim, com o número de nascimentos se aproximando cada vez mais do número de óbitos, a previsão do IBGE era que as curvas de mortalidade e natalidade só se encontrassem em 2047, para que então o país entrasse em um quadro de decrescimento populacional. Com a chegada da pandemia, entretanto, a previsão pode ser adiantada em várias décadas. Isso porque, segundo pesquisadores, o encontro das curvas deve extrapolar os limites territoriais do Sudeste, atingindo o país todo ainda neste mês.

De acordo com o doutor em demografia José Eustáquio Diniz Alves, os impactos da pandemia agiram duplamente no aumento de óbitos e na redução da taxa de natalidade no país, com ênfase na região Sudeste. Isso porque, de acordo com o demógrafo, a situação de descontrole do sistema de saúde e da economia provocou um adiamento dos planos de aumentar a família.

"Primeira coisa a se considerar sobre a pandemia é que ela fez crescer violentamente o número de óbitos no Brasil.  Houve uma consideração sobre um suposto baby boom por causa do confinamento, mas isso se provou falso. Pelo contrário, temos um baby bust, ou seja, uma redução da natalidade do Brasil. Isso porque o sistema hospitalar está um colapso e o desemprego cresceu, de modo que está havendo um adiamento das previsões de ter filho.”

Em entrevista realizada com a geógrafa e mestre em Geografia Humana pela USP, Alice de Oliveira, ela afirma que a inversão permanente das taxas de mortalidade e natalidade deve acontecer antes do esperado, apesar de a evolução da pandemia ser imprevisível. Alice ainda disse que as previsões das dinâmicas populacionais ficam comprometidas no Brasil e no mundo.

José Eustáquio, por sua vez, apresenta uma perspectiva mais otimista. De acordo com ele, trata-se de um caso excepcional. “Eu acredito que, se a gente conseguir controlar a pandemia, diminuir o número de mortos, promover uma vacinação em massa, teremos uma recuperação do número de natalidade para o padrão de nossa geração. Entretanto, a partir de 2047, com a segunda metade do século 21, a tendência é as curvas se inverterem e a população brasileira começar a diminuir. Sobre isso, há muito debate na busca por incentivar ou evitar esse fenômeno, mas fato é que a população se comporta de acordo com suas próprias vontades."

Em sua fala, o especialista refere-se ao debate entre natalistas e controlistas. Os primeiros, que sempre predominaram na história brasileira, consideram que a população deve continuar crescendo e que, ao invés de limitá-la, precisamos acelerar o desenvolvimento. Já os controlistas e neomalthusianos consideram que o alto crescimento populacional prejudica o desenvolvimento econômico, dificulta o combate à pobreza e pode provocar impactos nocivos ao meio ambiente. 

Fato é que o nivelamento ou a inversão das curvas marcaria o fim da transição demográfica no Brasil, e, consequentemente, do bônus demográfico.

O bônus demográfico é um momento em que a demografia facilita o crescimento da economia, e ocorre dentro do processo transição demográfica. A transição demográfica é um conceito que descreve a dinâmica do crescimento populacional, decorrente dos avanços da medicina, urbanização, desenvolvimento de novas tecnologias, entre outros fatores.

Seu criador, o demógrafo estadunidense Warren Thompson (1887-1973), observou as mudanças nas taxas de natalidade e de mortalidade experimentadas pelas sociedades industrializadas de seu tempo nos últimos duzentos anos, e as dividiu em quatro fases:

Créditos: Ourworldindata.org Licenciado sob CC-BY-SA por Max Roser
Créditos: Ourworldindata.org. Licenciado sob CC-BY-SA por Max Roser

Fase 1

Fase com elevadas taxas de natalidade compensadas por altas taxas de mortalidade, com baixa expectativa de vida em contraste com um grande número de filhos por casal. Assim, o crescimento vegetativo é equilibrado. Nesta fase, muitas crianças morrem antes de atingir a idade adulta, principalmente por causa de doenças, fome e da falta de saneamento básico. Esta etapa ocorre antes do processo de industrialização/urbanização.

Fase 2

Queda dos índices de mortalidade motivada pela melhoria nas condições sanitárias, a evolução da medicina e a urbanização, aumentando a expectativa de vida. Em contrapartida, inicia-se um processo de explosão demográfica, superpopulação e aumento do desemprego. Hoje em dia, muitos países subdesenvolvidos vivem essa fase.

Fase 3

Ocorre um declínio na taxa de natalidade devido ao acesso aos métodos anticoncepcionais, ao elevado custo de vida nas cidades, e à difusão da ideia de planejamento familiar. O resultado é um crescimento vegetativo reduzido em relação à segunda fase.

Fase 4

As taxas de natalidade e mortalidade se encontram muito baixas. É criada uma estabilização no crescimento vegetativo, tendo por consequência uma taxa de crescimento natural nula ou negativa.

Para uma fase 5?

Enquanto o modelo original de transição demográfica descrito por Warren Thompson apresenta só quatro fases, atualmente se aceita uma quinta fase, onde a mortalidade superará a natalidade, devido ao alto custo de se criar filhos. Assim, famílias optam por ter um número muito reduzido (entre 1 e nenhum) de filhos para manter o padrão de vida.

Esse efeito é muito temido por analistas, e já está acontecendo em países como a Alemanha, Japão e Itália. Com o decréscimo populacional, o número de idosos tende a superar o de jovens, o que pode acarretar problemas econômicos em relação à falta de uma população economicamente ativa sustentando a atividade produtiva e custeando a previdência social.

A pirâmide etária passa por enorme transformação no Brasil. Na maior parte do século passado, ela tinha uma base larga e um topo muito estreito, mas na virada para o século 21 a base se estreitou e houve um alargamento do meio da pirâmide.

Estes dados indicam que o Brasil vive um período de bônus demográfico, com a redução da taxa de fecundidade ocorrendo simultaneamente à diminuição da mortalidade da população. Isso aumenta a proporção de pessoas em idade ativa em relação à população dependente, elevando a arrecadação de recursos pelo Estado e favorecendo o crescimento da economia.

O encorpamento do topo da pirâmide e o fim definitivo do bônus demográfico estavam previstos para ocorrer, principalmente, na segunda metade do atual século. Com o advento da pandemia, entretanto, uma grande incerteza permeia a questão.

Em meio a esse panorama, José Eustáquio Diniz Alves atenta para o desperdício do bônus brasileiro: “A China já tinha mais de um bilhão de habitantes em 1980, em uma situação de pobreza muito maior do que a do Brasil. Na década de 70, existe a busca por acelerar um processo de decaimento da natalidade, que já se observava, pra fazer a economia crescer e gerar empregos para todos, e foi isso que eles fizeram. O resultado foi sensacional, acabou-se com a pobreza absoluta na China e a renda per capta do país já é bem maior que a do Brasil. Avançaram a educação, avançaram a tecnologia, etc. Isso tudo foi aproveitando o bônus demográfico.”

Segundo o demógrafo, todos os países que aproveitaram esse bônus deram um salto. O ponto central, entretanto, é que seu aproveitamento depende de políticas públicas de pleno emprego, de saúde, de educação, entre outras.

“O Brasil está desperdiçando grande parte do bônus. Um país só pode enriquecer e ter alto índice de desenvolvimento humano antes de a população envelhecer. O desenvolvimento tem que dar um salto nesses 50/60 anos de crescimento demográfico.”

Dependendo do tratamento da pandemia, essas cinco ou seis podem se tornar alguns anos. De acordo com a professora de demografia e membro do Centro de Estudos para População e Desenvolvimento de Harvard, Márcia Castro, em entrevista concedida ao site G1, “o impacto do excesso de mortes é nítido, preocupante, e um reflexo da falta coordenada de controle, o que gera uma condição totalmente inédita. Espera-se que seja temporária, mas depende do que será feito para conter essa alta mortalidade sendo observada”.

Para o médico e neurocientista Miguel Nicolelis, também em entrevista ao G1, as medidas para conter o elevado número de óbitos no país devem passar por uma mudança de comportamento social e de medidas mais rígidas de isolamento, para que o cenário não seja irreversível.

“Por isso que eu e mais boa parte da comunidade cientifica brasileira temos pedido medidas rígidas, lockdown nacional, bloqueio do fluxo de pessoas, vacinação aumentada e uma coordenação nacional da pandemia. Para que a gente evite esses efeitos estruturais que levam o país para uma situação de não retorno. Essa é uma demonstração cabal sobre os efeitos atuais e futuros da pandemia na vida do Brasil”, disse Nicolelis.

Foto de capa: Xavier Donat
Direitos autorais: Copyright (c) 2009 Xavier Donat

IBGE pede R$ 250 milhões para a realização de atividades necessárias à pesquisa, como renovação de contratos
por
Leonardo Suzuki
|
28/05/2021 - 12h

Após o governo federal informar que o orçamento de 2021 não reservava recursos para o Censo, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a pesquisa deverá ocorrer no ano que vem. Apesar de a votação representar uma vitória em relação ao atraso do recenseamento, os recursos para a sua realização ainda levantam dúvidas e acendem alertas para diretores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o instituto, a proposta original encaminhada no ano passado ao Congresso Nacional previa uma verba de R$ 2 bilhões para a realização do Censo em 2021. Na tramitação do orçamento, os parlamentares já haviam cortado esses valores para R$ 71 milhões. A readequação dessa verba é a principal preocupação do IBGE, que teme pela impossibilidade de realizar todas as atividades necessárias e garantir a segurança dos recenseadores, se os recursos não forem complementados. 

Em nota, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE comemorou a decisão plenária do STF que obrigou o governo a realizar o Censo em 2022, classificando-a como “uma luz no fim do túnel do apagão estatístico que o país vive”. Apesar disso, exigiu um montante de R$ 250 milhões para a pesquisa, para que o cumprimento do cronograma seja feito de maneira plena. Esses recursos deveriam ser disponibilizados ainda neste ano, para a realização de atividades preparatórias.

“A pesquisa censitária não comporta imprevistos e experiências compartilhadas de outros órgãos da América Latina prenunciam os problemas que podem decorrer da não realização adequada da pesquisa”, disse a nota do Sindicato, que defendeu também a realização presencial do Censo no próximo ano. 

A influência da Covid-19 no recenseamento

O adiamento do Censo em 2020 ocorreu justamente devido à pandemia, para que os recursos fossem realocados para o combate ao coronavírus. Apesar disso, especialistas defendem que o momento vivido pelo país atualmente reforça ainda mais a necessidade da pesquisa, visto que os dados levantados pelo recenseamento influenciam diretamente na distribuição de recursos para os estados e municípios, especialmente na área da saúde e de políticas públicas.

Luanda Botelho, diretora de pesquisas do IBGE, destacou que “as próprias campanhas de vacinação ficam com planejamento prejudicado”, sem a realização do Censo. “Os grupos em maior desvantagem na sociedade acabam sendo os mais prejudicados”,  completou.

Por outro lado, alguns defendem que um país em meio à pandemia não é um retrato fiel para ser usado como base para o planejamento de uma década. “A pandemia criou mudanças: desemprego, pessoas empregadas em casa, pessoas que mudaram de endereço para se protegerem, e outras questões que não sabemos. Por isso seria razoável adiar”, disse Roberto Olinto Ramos, presidente do IBGE entre 2017 e 2019, em entrevista à emissora alemã DW.

Segundo o especialista em estatística, realizar o Censo em um ano com maior estabilidade na população seria o mais adequado.

Recenseadora em campo durante a coleta do Censo 2010. Foto: Licia Rubinstein/Agência IBGE Notícias
Recenseadora em campo durante a coleta do Censo 2010. Foto: Licia Rubinstein/Agência IBGE Notícias

Os possíveis efeitos de um recenseamento com poucos recursos

Caso os R$ 250 milhões requisitados pelo IBGE para realizar atividades prévias ao Censo não sejam liberados, o planejamento da década de estados e municípios pode ser comprometido. “A contagem da população não é realizada desde 2010 e é crucial para a correta distribuição de recursos. Municípios menores, sem a atualização dessa contagem, podem estar recebendo menos recursos do que o que seria devido”, explica Luanda Botelho.         

O Censo não apenas conta a população, como também identifica a distribuição dela por sexo, idade, cor ou raça, deficiência e outras características. Reduzir o orçamento da pesquisa prejudica também as políticas públicas que dependem dessa distribuição, afetando ainda mais as minorias da população.

As condições dos domicílios, acesso à educação, mercado de trabalho e muitos outros temas também são investigados pelo recenseamento. Até mesmo as próprias pesquisas amostrais do IBGE dependem desse trabalho para terem suas amostras definidas.

Por isso os R$ 250 milhões são tão pedidos pelo IBGE, para “ter condições de renovar contratos de funcionários e dar sequência às licitações necessárias para a consecução das atividades prévias à realização do Censo”, como explica Luanda Botelho. A diretora de pesquisa do instituto ainda completa: “Se abandonarmos esse debate agora e só retomarmos em 2022, chegaremos no ano que vem sem condições de fazer o Censo com qualidade”.

Foto da capa: Simone Mello/Agência IBGE

 

Só na cidade de São Paulo, 12 mil estabelecimentos fecharam; delivery tem sido a salvação para comerciantes
por
Rafael Oliva
|
28/05/2021 - 12h

Desde o começo da crise da Covid-19em março de 2020, 12 mil bares e restaurantes fecharam só na cidade de São Paulo, de acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP). Segundo a entidade, a principal causa dos fechamentos foram as restrições impostas pela pandemia.

A Abrasel indica uma perda de R$ 20 bilhões no faturamento de bares e restaurantes para este ano no país, passando de R$ 235 bilhões para R$ 215 bilhões. A instituição também destaca que o número de empregos formais, durante a pandemia, caiu de 3 milhões para 1 milhão.

Ao todo, 2,5 milhões de trabalhadores do setor perderam o emprego. Ainda segundo a entidade, 50 mil estabelecimentos fecharam as portas no estado de São Paulo e 300 mil no Brasil.

A associação aponta que 85% dos estabelecimentos da capital paulista correm risco de fechar caso não haja um auxílio financeiro. Além disso, 20% do comércio não deve retomar as atividades presenciais, já que os custos não compensam, pois o faturamento de bares e restaurantes não deve atingir 25% do que era antes da pandemia.

A saída para os comerciantes tem sido o sistema de delivery, segmento que cresceu muito em São Paulo. De março a dezembro do ano passado, o número de novos bares e restaurantes cadastrados no Ifood cresceu 78%, por exemplo.

Na contramão da crise, empreendedores tentam abrir novos estabelecimentos na capital. Julio Sant’Anna, de 33 anos, trabalhava como barman e garçom e sonhava em ter o seu próprio comércio. Mesmo em meio à pandemia, Julio abriu o Tocandira Lab, bar localizado na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.

“Estou na área de bares e restaurantes há dez anos. Cheguei a receber uma proposta boa de emprego antes da pandemia, mas neguei e resolvi que não iria trabalhar para mais ninguém. Eu sei fazer bem uma coisa: deixar as pessoas felizes e bêbadas, então resolvi abrir o bar, mesmo no meio da pandemia”, conta o barman

A ideia inicial de Julio era abrir o bar com uma loja de roupas e uma tabacaria, mas a pandemia dificultou os planos de prestar os serviços de forma presencial. Segundo o empreendedor, não é o momento ideal de abrir o comércio e promover aglomerações, então ele foi mais um a investir no delivery, por enquanto centrado em cervejas artesanais. O barman também está reformando o espaço físico e a cozinha para incluir hambúrgueres entre as opções de entrega.

“Não posso atender as pessoas (presencialmente), então estou buscando alternativas até que eu possa abrir o bar.”

Foto: Reprodução (Igor Starkov/Pexels)
Foto: Reprodução (Igor Starkov / Pexels)

Outro novo empreendedor do setor de bares e restaurantes é Pedro Henrique Reis, de 22 anos. Ele é estudante de jornalismo e viu uma nova oportunidade de começar um negócio em agosto de 2020. Em meio à pandemia, o estudante, juntamente com seu irmão, comprou dois bares na região de Diadema, local onde mora, por um valor abaixo do comum devido à crise. Os estabelecimentos ficam no mesmo local e foram batizados de Sra. Espelunca e Boteco do Henrique. “Vimos a oportunidade boa de crescer aproveitando uma ótima proposta. Um lugar que valia meio milhão estava valendo 200 (mil). Tinha que aproveitar a oportunidade”, conta o estudante.

No momento em que Pedro comprou os imóveis, o estado de São Paulo flexibilizava as medidas de isolamento e caminhava para a reabertura de bares e restaurantes com capacidade reduzida. Neste período, os bares do estudante contavam com um bom fluxo de pessoas, então foi possível lucrar com o comércio.

Porém, em março deste ano, devido ao agravamento da pandemia, o estado entrou na Fase Emergencial do Plano São Paulo e estabelecimentos comerciais foram obrigados a fechar, mas Pedro conseguiu manter os bares através de economias e com a venda de bebidas alcoólicas.

“Como todo comércio, você precisa ter um fluxo de caixa. Um dinheiro guardado. Economizamos luz, água, desligamos tudo e vendemos as mercadorias que tínhamos através dos contatos que eu já tinha. Com isso, deu pra segurar as contas até que as coisas voltem a abrir.”

Entretanto, o estudante não conseguiu pagar os salários como antes aos três funcionários dos bares devido à falta de lucro. Porém, com o dinheiro guardado, foi possível não deixá-los desamparados. Pedro não deixou de fornecer uma ajuda de custo e eles seguirão trabalhando nos bares.

Tanto Julio como Pedro têm planos para abrir seus negócios ao público assim que possível, mas, até lá, são obrigados a se reinventar para se manter na ativa. Atualmente, bares e restaurantes do estado de São Paulo estão autorizados a funcionar das 6h às 21h, com somente 30% da capacidade.