Desigualdade, corrupção e desemprego juvenil deflagram uma revolta que expõe a fragilidade econômica profundamente enraizada.
por
Pedro Bairon
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14/11/2025 - 12h

Por Pedro Bairon

 

Na primeira semana de setembro de 2025, as ruas de Kathmandu foram tomadas por uma onda de protestos liderados pela chamada Geração Z, quando milhares de jovens se reuniram para denunciar a corrupção, o nepotismo e a desigualdade que dominam a vida pública do Nepal. O estopim foi a proibição de 26 plataformas de redes sociais incluindo Facebook, Instagram, X e YouTube, decretada pelo governo, uma medida que ativistas viram como um ataque à liberdade de expressão, Raj Rana, um nepalês que participou das recentes manifestações reafirma tal posição.

Os protestos rapidamente escalaram: confrontos com a polícia resultaram em uso ostensivos de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real, segundo Rana. No dia 9 de setembro, o primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou, pressionado pela magnitude da insatisfação dos jovens, porém, não se limitou ao veto digital. Por trás da indignação estava uma reclamação mais profunda: a escassez de empregos dignos, a persistência de elites privilegiadas (os chamados “nepo kids”) e a sensação de que, apesar de tanto crescimento econômico reportado, o Estado falhou em converter recursos em oportunidades para a maioria da população. De fato, segundo o Banco Mundial, mais de 80% da força de trabalho nepalesa está na informalidade, um número clássico de economias frágeis. O economista Karki Lama aponta que as remessas enviadas por nepaleses que trabalham no exterior (equivalentes a mais de um terço do PIB, segundo Fundo Monetário Internacional, FMI) sustentam o país, mas não geram empregos de qualidade e mantêm muitos jovens reféns de oportunidades materiais mínimas.

Esses protestos, segundo analistas, não são apenas uma manifestação política: são um grito de alerta sobre a saúde estrutural da economia nepalesa. A relação entre a frustração juvenil e as debilidades econômicas torna-se evidente à medida que se examina o modelo de desenvolvimento vigente no país. A economia nepalesa há muito tempo depende fortemente das remessas de migrantes para manter sua liquidez externa e financiar o consumo interno. Para Lama, entretanto, essa dependência representa um fracasso de capacidade produtiva nacional, não há trabalho suficiente internamente, e a migração torna-se quase inevitável. Mas a crise das ruas tem um custo direto para a economia. Um relatório recente do Banco Mundial alerta que a turbulência política pode reduzir fortemente o crescimento econômico em 2025-26: a previsão foi ajustada para 2,1%, com possibilidade de contração se a instabilidade persistir. O documento prevê ainda uma queda nas chegadas de turistas, um golpe duplo para o Nepal, que depende fortemente do turismo para gerar divisas e emprego formal. A erosão da confiança dos investidores já se tornou palpável. A Federação da Indústria do Nepal (FNCCI), por exemplo, emitiu um apelo para que o novo governo garanta segurança e estabilidade para os negócios, destacando que o setor privado é vital para a recuperação. Segundo esse mesmo apelo, as perdas com os danos materiais causados pelos protestos já afetam indústrias, propriedades e a cadeia de valor do turismo, hotéis, guias, transportes, tudo foi afetado.

Além disso, a insatisfação juvenil encontra respaldo em dados econômicos estruturais que expõem fragilidades profundas. O Nepal registra uma das maiores taxas de desemprego entre jovens na região: cerca de 20 %, segundo o mais recente relatório do IBGE Países. A falta de emprego qualificado, o baixo investimento em infraestrutura produtiva e a fraca diversificação industrial criam uma economia incapaz de absorver seu capital humano mais o peso das remessas, embora vital, é paradoxal: elas sustentam a economia, mas corroem o potencial de desenvolvimento autônomo. Conforme observa a New Humanitarian, muitos jovens veem sua saída como única rota possível, enquanto outros permanecem para protestar contra um sistema que lhes fecha portas. A migração, nesse contexto, deixa cicatrizes na cena política, no tecido social e nas finanças públicas.

O choque dos protestos também traz riscos no balanço externo. A volatilidade gerada pelas manifestações mobiliza redes de capital para fora do país, deixando o Nepal vulnerável a choques cambiais e restringindo sua capacidade de investir em longo prazo. A perda de turistas, a recomposição mais lenta de reservas cambiais e a alta cautela dos investidores estrangeiros são efeitos colaterais duradouros desse momento de ruptura. Do ponto de vista fiscal, a crise exige que o governo interino encontre um delicado equilíbrio. Por um lado, há pressão para responder às demandas dos jovens por mais transparência, combate à corrupção e reforma política. Por outro, há necessidade urgente de restaurar a confiança dos mercados, garantir fluxo de investimentos e sustentar a receita pública. Se o Estado optar por cortes agressivos para manter a disciplina fiscal, pode abrir mão de sua capacidade de gerar empregos, exatamente aquilo que a Geração Z exige. Por outro lado, expandir gastos sem controle também pode agravar vulnerabilidades já existentes. A situação contemporânea do Nepal também reflete um dilema geopolítico. Localizado entre Índia e China, o país sempre foi estratégico para ambos. A instabilidade recente pode frear projetos bilaterais de infraestrutura e perturbar o plano de desenvolvimento sustentável que muitos observadores internacionais defendiam para a nação. Além disso, a falta de boas políticas industriais internas limita sua capacidade de atrair investimento direto que não dependa exclusivamente de remessas ou do turismo.

Embora a revolta da Geração Z tenha derrubado um governo, ela colocou a economia nepalesa sob os holofotes: o modelo baseado em remessas e fluxo turístico é funcional, mas frágil. A instabilidade desencadeada pelos protestos expôs o dilema clássico de economias dependentes: crescer, mas sem construir uma base real de produção, oportunidades e institucionalidade. Se o novo governo quiser responder ao grito dos jovens, terá de investir não apenas na reconstrução política, mas sobretudo na transformação econômica: criando empregos, promovendo reformas estruturais e reduzindo a dependência de fatores que escapam ao controle interno. Sem isso, o Nepal pode voltar a caminhar, mas continuará sobre uma ponte frágil, com vento forte acima e abismo profundo abaixo.

Videogames se aproximam de artigos de luxo devido aos elevados custos
por
Lucca Cantarim dos Santos
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07/11/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Quem acompanha o cenário dos videogames vem se surpreendendo com a alta nos preços dos jogos nestes últimos meses. Com valores que vão desde R$ 249,95, valor do jogo “Hundred Line – Last line of defense”, lançado em abril de 2025, até R$ 499,99, preço do jogo Mario Kart World, que chegou às lojas em junho do mesmo ano. Esses preços têm dificultado cada vez mais o acesso dos fãs aos jogos que desejam, uma vez que acaba sendo inviável para muitos precisar gastar tanto dinheiro sempre que querem jogar um jogo novo. A estudante de sistemas de computação Gabrielle Rodrigues afirma sempre se arrepender de pagar caro em um jogo no dia do lançamento e acabar ficando sem dinheiro para comprar uma roupa ou até mesmo uma passagem do Rio de Janeiro até São Paulo para visitar seus entes queridos. Já o estudante Gabriel Merino alega sentir cada vez mais que não consegue comprar jogos no lançamento, precisando esperar diversos meses até uma baixa no preço ou promoção para finalmente ter acesso ao produto.

Fazer um jogo é um processo extremamente caro, e para a desenvolvedora independente “Dumativa”, responsável por jogos brasileiros como “Enigma do Medo” e “Lenda do Herói”, esse é o principal motivo para o aumento no custo do produto final. Já para Juno Cecílio, CEO da “Gixer Entertainment”, outra desenvolvedora independente, criadora do projeto “Changer Seven”, que se encontra em desenvolvimento atualmente, existe um fator ainda mais sensível.

 

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"Changer Seven", jogo de Juno Cecílio                                                 Foto:Divulgação/Gixer

 

Juno defende que existe uma estratégia de mercado mais agressiva por parte das empresas, que almejam maximizar sua receita em cima de um público fiel e cada vez mais disposto a pagar por franquias conhecidas. O grande problema, é que não existe um teto que defina até onde uma corporação queira ganhar, o que acaba sucateando o setor. O desenvolvedor faz um comparativo com outros setores no Brasil, como o de faculdades, que são compradas, demitem o corpo docente e substituem-no por profissionais mais baratos e revendem para o próximo, que fará o mesmo. Esse caso pode se observar na faculdade Anhembi Morumbi, que sofreu demissões e perdas massivas na grade horária após ser comprada pelo grupo Ânima Educação em 2021, como afirma uma matéria publicada na UOL em 2023.

Mas ele também aponta para outro fator, que também é abordado pela Dumativa, a falta de regionalização do preço. Quando um jogo chega no Brasil apenas convertido pela taxa do dólar, sem considerar a realidade do poder de compra local, ele acaba se tornando um produto quase que de luxo, e é nessas situações que observamos preços como os R$ 500,00 de Mario Kart World. A maioria dos jogos independentes já consideram fatores regionais quando lançam seus produtos em outros países, mas as produções de empresas grandes, como Nintendo, Ubisoft e Activision não, o que agrava uma ideia de “ganância” por parte dessas empresas.

Oferecer preços acessíveis ao consumidor é importante por inúmeros fatores, e um deles é justamente oferecer a experiência de jogo para um público mais amplo. Para muitos fãs de videogames, é extremamente doloroso, apesar de não chegar a um estágio extremo, ser privado de jogar algum jogo que goste devido ao seu custo elevado.

Gabrielle, por exemplo, diz que se sentiria mal caso fosse impedida de comprar um lançamento que estivesse com vontade de jogar. Ela alega que tem vontade de jogar o “Persona 3 Reload” a cerca de um ano, mas até hoje não o fez devido ao alto custo do jogo. Ela conta que até pensou em piratear a mídia apenas para consumo, e pagar por ela quando tivesse a oportunidade – igual já fez com outras franquias – mas que os sistemas que as empresas andam colocando em seus produtos, dificultam muito a pirataria. Gabriel Merino passa por uma situação similar, ficaria chateado caso não conseguisse comprar um jogo devido ao preço, mas também não compraria um jogo à preços exorbitantes mesmo se tivesse as condições para isso.

Lançar os jogos à preços acessíveis é essencial para que essas pessoas consigam consumir a mídia que desejam sem precisar se arriscar na pirataria ou pagar valores elevados. Além disso, é essencial para a criação de um consumo saudável. Nas palavras de Juno, quando um jogo lança à um preço compatível com a realidade do brasileiro, ele vende mais e ajuda a fortalecer o mercado e a comunidade local, e a trazer mais espaço para as empresas no País. Um exemplo foi o “Hollow Knight: Silksong”, lançado pela Team Cherry em setembro desse ano. O preço de R$ 60,00 cobrado pela mídia fez com que ela vendesse muitas unidades em um único dia – culminando na queda dos servidores da plataforma de compras Steam.

As empresas e publicadoras são as primeiras que podem participar na criação de um preço mais acessível e justo para o bolso da população. Grandes empresas e distribuidoras (Nintendo, Ubisoft, Microsoft) podem ajudar aprimorando a regionalização de preços, levando em conta o poder de compra de cada país; aprimorar a educação e formação de talentos, o que em longo prazo reduz o custo de produção global; oferecer programas de incentivo e parcerias com estúdios locais, o que acaba por gerar mais empregos, e visibilidade.

Quanto às empresas independentes, não se pode transferir as mesmas responsabilidades, uma vez que estas não tem o mesmo poder financeiro que as “gigantes do setor”. No entanto, elas podem e devem estabelecer métodos de acessibilidade nos preços de seus jogos, e algumas já tomam as providências, apesar de este ser um dos maiores desafios para essas instituições.

A Dumativa têm feito uso dos sistemas de financiamento coletivo em seus lançamentos, isso ajuda as empresas a terem uma base financeira mais sólida antes mesmo do lançamento, além de estabelecer uma relação saudável com empresa e consumidor, a partir do sistema de recompensas e conteúdo adicional dependendo de quanto cada pessoa optou por investir no jogo, além do próprio produto completo após o lançamento.

Já Juno, da Gixer, amplia ainda mais sua visão, para ele, jogos independentes não precisam competir com os grandes lançamentos em preço, na realidade, esses lançamentos têm de entregar valor percebido, autenticidade e qualidade dentro de seu escopo. Além disso, ele acredita que uma das melhores formas de equilibrar as contas sem depender do preço cheio é a diversificação de fontes de receita, e podem fazer isso por meio do lançamento de edições digitais com bônus, participação em festivais e até mesmo outros tipos de produto, como colecionáveis, histórias em quadrinho e até trilhas sonoras.

Outra ajuda também pode vir das próprias lojas, plataformas como a Steam se destacam quando o assunto é tornar seus preços mais acessíveis. Além da abundância de promoções, principalmente em datas comemorativas, que podem levar um preço de R$ 200,00 a R$ 40,00, a plataforma criou um sistema de famílias, que permite que um grupo de pessoas compartilhem a mesma biblioteca, podendo jogar jogos que pertencem à conta de terceiros (desde que inseridos na mesma família, cujo limite de pessoas é seis).

 

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Logo da loja digital Steam                                                                           Foto: Divulgação/Steam

 

Para Gabrielle Rodrigues e Gabriel Merino, que participam da mesma família alegam o quão benéfico isso é para eles, ambos afirmam como conseguiram ter mais acesso à jogos que não conseguiriam ter de outra forma, além da possibilidade de repartir os custos com os membros do grupo. Gabrielle afirma que financeiramente a família Steam é algo divino.

 

Movimento nas lojas aumentam conforme as épocas temáticas do ano vão chegando
por
Nathalia de Moura
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24/10/2025 - 12h

Por Nathalia de Moura

 

Entre o vai e vem e o sobe e desce das pessoas, a 25 de Março é o centro das vendas, principalmente em épocas como Carnaval, Natal e Halloween. Cores, brilhos, formas, luzes, ocupam as fachadas das lojas fazendo cada cliente lembrar que as bruxas chegam em 31 de outubro, o Papai Noel dará o ar da graça em 25 de dezembro e o Carnaval em breve tomará conta das ruas do País. 

A correria para atender o cliente que precisa de uma abóbora laranja e gigante, a atenção para cortar o tecido para a roupa do velhinho do Polo Norte ou até mesmo separar as lantejoulas para a confecção da fantasia faz parte do dia a dia das vendedoras do centro de São Paulo. Marlene tem 53 anos e veio atrás dos sonhos na capital paulista aos 16. Hoje fala com muito carinho no orgulho em fazer parte desses momentos. Com um sorriso, mas a voz embargada e os olhos marejados, relembra a dificuldade de se iniciar nesse mundo dos produtos de aviamentos e sazonais. Sempre sonhou em ter o que possui hoje, e mesmo com tantos patrões desacreditando de seu potencial, conseguiu ir atrás daquilo que a motivava: a arte do artesanato.

Os produtos chegam na loja e dali, são transformados em grandes realizações. Ela conta que nada é mais gratificante do que poder ajudar alguém que nem sabia o que estava procurando e encontra ali no seu estabelecimento. Na correria dos dias, as horas passam, a agitação aumenta, o fluxo cresce. Cada cliente fica um tempo observando aquele ambiente repleto de oportunidades. Oportunidade de fazer algo diferente do ano anterior, a chance de colocar uma cor diferente na decoração, de enfeitar a casa com pisca-pisca ou até fazer a festa temática do dia das bruxas que não aconteceu antes.

Na salinha apertada, rodeada de papelada importante e também do quadro estampando a foto da sua família, Marlene contava que proporcionar produtos de qualidade aos clientes a transforma. Pode ser que o Papai Noel não seja vendido hoje, que a abóbora gigante ainda passe despercebida ou o letreiro de “Feliz Natal” não seja usado, mas ela segue acreditando que cada fio, botão ou glitter pode ser utilizado em outros momentos justamente para não ser desperdiçado.

Ao andar pelas lojas, percebemos os olhares atentos nas promoções, o barulho dos comentários ao ver uma peça exposta ou as perguntas em relação aos preços. Para lá ou para cá, a multidão toma conta dos ambientes. Mesmo antes dos dias de comemoração, as pessoas fazem questão de irem em busca do que procuram o quanto antes. Mas sempre tem os que preferem comprar aos 45 minutos do segundo tempo. Na pressa para conseguir atender todos os clientes, Elen, funcionária que enfrenta todas as épocas corridas de venda do ano, fala que em alguns momentos, não consegue dar a atenção que as pessoas merecem. Seu olhar acompanhava a chegada e a saída dos clientes na loja. A atenção é máxima em um lugar que a exige a todo tempo.

No meio das linhas, botões e tecidos, a cearense de sotaque presente e forte expressa que nem imagina as diversas possibilidades que podem sair dali na sacola de cada pessoa. Uma linha pode se tornar mais de uma peça no Carnaval do Sambódromo do Anhembi ou nos bloquinhos pela cidade. E quando ela pensa nisso, os olhos até brilham em saber que, de alguma forma, fez parte daquilo.

A oferta e a demanda não param, assim como a agitação que só o ambiente da mais conhecida rua de comércio paulistana é capaz de proporcionar. Pelas ruas da 25 de março andam jovens, idosos, mulheres e homens carregando pequenas sacolas ou grandes volumes de mercadorias. De um lado o consumidor, do outro o vendedor. Ambos sabem que precisam um do outro, principalmente nessas épocas agitadas do comércio. Para Marlene, inspirar pessoas com seu empreendimento é motivo de orgulho. Em meio aos elogios que sua loja recebe, ela sempre sai com o sentimento de missão cumprida ao ver seus clientes com as sacolas recheadas de produtos que farão a diferença em épocas que se tornam especiais nas particularidades de cada um.

Lugares que focavam em atividades de lazer e contemplação da natureza estão sendo transformados em shoppings a céu aberto
por
Victória da Silva
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31/10/2025 - 12h

Por Victória da Silva

 

Na Zona Sul da capital paulista, o Parque Ibirapuera é bastante frequentado por pessoas que não se restringem a residentes da cidade. Miriam Santos, sorridente e carismática, frequenta regularmente o local em períodos de descanso e, acompanhada por Andre Bressa, sente as mudanças causadas pela iniciativa privada que invade o espaço público e o torna um tanto quanto diferente do habitual. Miriam trabalhou durante 48 anos na mesma empresa e agora, aposentada, encontra no parque um refúgio no meio da selva de pedra, diz que o lugar já não é mais para todos os tipos de pessoas. Atualmente, com a grande quantidade de carrinhos de sorvetes sofisticados e o aumento do preço de lanches, ela mostra a mochila que Andre carrega com bolsas térmicas cheias de garrafas de água e alimentos para quando necessário. Bressa, que é pintor e trabalha em feiras livres, demonstra certa curiosidade sobre a quantidade de propagandas e publicidades que estão sendo distribuídas por todo o parque após a concessão. Ele atenta para um anúncio da tinta Suvinil, algo nunca visto antes em anos de visita ao local.

O Parque Ibirapuera não foi privatizado, já que sua propriedade continua sendo do município, mas foi concedido à iniciativa privada em 2020 para a concessionária Urbia, que vai comandá-lo durante os próximos 30 anos. Não só o Ibirapuera, mas os parques Villa-Lobos e Cândido Portinari também estão sob concessão, lidando com as mudanças. Há também projetos de concessão para outras regiões, principalmente na Zona Leste, no Parque Ecológico do Tietê, Parque Vila Jacuí e Parque Maria Cristina Hellmeister de Abreu.

No Parque da Água Branca, localizado em Perdizes, Andre relembra o episódio em que a concessionária, Reserva Novos Parques Urbanos S.A, instalou um showroom de carros da Peugeot que foi desmontado após ser considerado ilegal e gerar vários protestos. O pintor destaca como os espaços estão sendo utilizados para promover eventos de nichos mais elitizados e o quão evidente isso se tornou após o controle da e empresas. Além disso, ele observa que as lojas e restaurantes distribuídos, além dos eventos, shows e festivais realizados são majoritariamente frequentados por pessoas brancas, repercutindo uma desigualdade racial dentro dos parques que anteriormente não eram exclusivos de determinada raça ou classe.

Outros visitantes como Beatriz e sua mãe Alessandra, que costumam andar de bicicleta pela pista do local, se depararam com o alto preço de produtos simples, como a água. A garota relata que o preço da garrafa é o que mais a incomoda e sua mãe complementa contando que todos os produtos ficaram caros, incluindo os alugueis das bicicletas em que 1 hora com o veículo custa 18 reais.

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Concedido à iniciativa privada em outubro de 2020, Ibirapuera enfrenta alta no preço de produtos e instalação de unidades comerciais. Foto: Victória da Silva

Em maio deste ano, o Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito para investigar a Prefeitura e a concessionária Urbia por uso e segregação de espaços públicos para fins particulares. Na época, o promotor Silvio Marques manifestou sua indignação contando que a empresa estava transformando o Ibirapuera em um “verdadeiro shopping center”. Também segundo o inquérito do MP, a Urbia promove um "loteamento" com a instalação de lojas, construção de grandes edifícios, comércio de bens e serviços e o uso remunerado de diversos espaços, com redução do espaço livre para uso gratuito da população. A investigação revela a crescente tensão entre o discurso de modernização via parcerias público-privadas.

Os radialistas, Viviane e Everton, que semanalmente vão ao parque para praticar exercícios e corrida, relembram a instalação da Casa Centauro que foi retirada após as muitas denúncias. Diferentemente, o casal não vê problemas nas mudanças que a concessionária promove e afirma que não sentiu tantas diferenças. No entanto, o mau planejamento dos serviços é um fator levantado pelos dois. Ele afirma que os espaços livres estão sempre lotados, dividindo-se entre pessoas que vão para passear e outras que praticam algum esporte. Apesar de admirada com a quantidade de novos serviços e possibilidades dentro do parque, a mulher faz uma dura crítica à falta de segurança, já que, para ela, a concessionária deveria investir em questões como essa.

Para além dos fatores levantados, taxas para corredores e para assessorias esportivas também são alvos de revolta. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) autorizou, em julho deste ano, a aplicação de tarifas pensando no uso do espaço do parque para atividades esportivas. Mais do que discutir contratos e taxas, está em jogo o compromisso de preservar os espaços públicos como lugares de encontro, lazer e diversidade, e não como territórios delimitados pelo poder de consumo. A garantia que espaços públicos não se convertam em mercados restritos permanece aos órgãos municipais e a população que frequenta os ambientes precisa lidar com a frequente disputa que acontece desde 2024.

Gratuidade do transporte público no Brasil é possível, e joga luz nos gastos das famílias com a locomoção e exclusão social
por
Vítor Nhoatto
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24/10/2025 - 12h

Por Vítor Nhoatto

 

É de manhã, por volta das sete, e o começo do dia para milhões de brasileiros em um ponto lotado. As dezenas de pessoas tentando se colocar fora do sol escaldante da cidade, com rostos franzidos e olhos apertados toda vez que um ônibus passa, torcendo para que seja o seu. E decepcionadamente dispostos, pagam por algo que deveria ser universal, e poderia, mas é na verdade um peso desproporcional e impede o acesso a outros direitos.

Mas nos últimos meses uma luz no fim do túnel, ou melhor, um letreiro iluminado no ônibus com o destino desejado voltou a ser discutido. A chamada Tarifa Zero do transporte público no País está em análise pelo Governo Federal, e o presidente Lula solicitou estudos para a viabilidade do projeto, que envolve questões políticas e relativa falta de esperança pelo povo.

O público no meio da avenida é desse jeito, já apático diante do barulho do motor diesel e dos corpos todos em contato na condução do dia a dia. Para Josefa Sueli, só Sueli pede ela, e cerca de 10 milhões de pessoas só na capital paulista segundo a SPTrans, é exatamente nesse cenário que o ir e vir acontece. Trabalhadora doméstica há mais de 30 anos e pernambucana arretada, conta que pelo menos quatro vezes por semana desembolsa R$5,80 no ônibus da EMTU azul e vermelho até a estação em Osasco ou a Lapa aqui na capital, e mais R$5,20 no trem ou R$5,00 no ônibus agora da SPTrans. Fato é que como milhões de outros brasileiros, o gasto só na ida passa dos dez reais, e o tempo nessa brincadeira urbana não é menor que duas horas. 

Pessoas com mochila nas costas que atrapalham a passagem, condução que não chega no intervalo que era para chegar. Olhos nervosos mirando o relógio na tela do celular que seguram com uma mão, enquanto a outra suada se segura nas próprias pessoas ao redor… não há espaço para encontrar as barras de suporte. E lá se foram as duas horas. Sueli chega então na casa do dia perto das nove da manhã, e com R$11 a menos na conta. Entre vassouradas e esfregadas, continua comentando sobre episódios que só o transporte coletivo pode proporcionar. Mas depois de uma janela que não pôde abrir, uma encarada de lá e um empurrão de cá, a constatação que mesmo assim ainda gasta um absurdo só para chegar até os lugares, em vida e dinheiro.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o gasto com transporte das famílias só não é maior que habitação e alimentação, sugando até 20% do salário por mês. No caso da Sueli, que perde a mesma quantia na volta, lá se foram pelo menos R$350 no mês, só indo e vindo do trabalho quatro dias na semana.

Recentemente tendo passado por uma suspeita de câncer de intestino, ela conta feliz que não tem a doença, e todo final de semana sai para comemorar a vida. Às vezes com o filho, que mora na zona leste de São Paulo, há mais de duas horas de distância, outras com a irmã e com as amigas em algum bar, se ela não conseguiu um ingresso para um show de algum cantor sertanejo que tanto gosta.  E tudo isso ela faz de ônibus e metrô na maioria das vezes, salva as pouquíssimas vezes que sobra algo para o Uber, mas enfim, também meio de locomoção. Fazendo então seus “passeios” obrigatórios no transporte ultrapassarem o gasto de 400 reais. 

Não precisava nem ser totalmente de graça aos olhos dela, que já viveram muitas histórias, e suas mãos calejadas que agarram as barras no ônibus e metrô tanto quanto o esfregão. Ela suspira enquanto levanta o seu óculos e indaga que algumas patroas ajudam com a condução, mas é um dinheiro que podia gastar com tantas outras coisas. 

Comprar um saco de arroz e feijão a mais, uma guloseima para a companheira de quatro patas, Bela, uma ida na Villa Country ou no Centro de Tradições Nordestinas (CTN). Uma quantia que faria a economia girar. Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), nas cidades com gratuidade universal, o número de empregos aumentou 3,2% e o de empresas 7,5%, sem falar da redução em 4,2% das emissões de poluentes pela diminuição de carros. 

Mas ela ainda se lembra da parte da sua família que vive em Pernambuco e dos conhecidos de lá. Cada real a mais faz a diferença para quem não tem o que ela tem. Um litro de leite, uma ida no posto que não pode fazer por causa da passagem, destaca.

Uma realidade para milhões de brasileiros que têm os seus direitos básicos negados também pelo transporte, um outro direito que consta na Constituição de 1988. O artigo 5º prevê direito à livre locomoção, e o artigo 6º o direito ao transporte, mas que são segregados e traduzidos como ferramenta de desigualdade social na prática.

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Transporte público é o meio de acessar os outros direitos além de simples meio de locomoção  - Foto: Vítor Nhoatto

De olhos na cidade

De volta ao ônibus, agora à tarde, mesmo que de pé ou sentado, é engraçado ver a vida passando pela janela. Os olhos dos CLTs, dos estudantes, dos trabalhadores informais como a Sueli olham para a cidade lotada de trânsito… quando não estão cochilando de cansaço com a cabeça encostada tremendo no vidro. Sobre essa questão, o mestre em economia pela universidade de São Paulo (USP), e mais que isso, militante da área, Antônio Carlos de Moraes destaca como isso é enorme e importante. Não se trata apenas de algo eleitoreiro e de apelo popular, destaca ele, mas algo que realmente muda a vida das pessoas. 

O modelo atual do transporte se baseia no ganho por passageiro, então quanto mais cheia for a linha, quanto mais empurrões e reclamações a Sueli tiver para contar na ida e vinda do trabalho, dentista, mercado, médico, bar, mais rentável ela se torna. Nisso tudo o número de carros aumenta para quem pode, tal qual o de acidentes, congestionamento e poluição, além das pessoas que deixam de acessar lugares pelo preço cada vez mais alto das tarifas. 

Com um sistema público nacional de transporte coletivo a história seria muito diferente, como enfatiza Antonio, lembrando de suas vivências e não de números que só interessam a economistas. Ele destaca que todos arcam com os prejuízos da troca do ônibus pelo carro, mas são os mais pobres que pagam o preço na pele, com cada vez menos para gastos básicos como alimentação, e abrindo mão de ir e vir compulsoriamente pelo orçamento que não fecha. 

Falando em sistema, tramita na Câmara o Marco Legal do Transporte Público, que visa estabelecer diretrizes nacionais sobre a contratação de empresas, regras, fiscalização e fontes de financiamento. Isso pode aumentar ainda mais a quantidade de cidades que adotam a Tarifa Zero de algum jeito, hoje o Brasil é o país com o maior número do mundo, com 170 municípios. E mais que isso, ele pressiona e possibilita a reparação histórica que seria um Sistema Único de Saúde (SUS) do transporte público. Poder ir e vir seria garantido, mais pessoas iriam à escola, ao médico, ao museu, ao mercado… e prefeririam o coletivo ao individual. 

Porém, quem iria então pagar a conta? Essa é a principal pergunta de Roseli Rodrigues, passageira de ônibus não por opção. Com um semblante preocupado, atrasada para o trabalho na Avenida Doutor Arnaldo enquanto espera no ponto da Rua Guaicurus, reclama do preço da gratuidade lembrando que de domingo, quando é de graça, o ônibus nunca chega.  Passando a mão pelo rosto em sinal de aflição e cinco reais no bolso ardendo para sair dali quando o número certo aparecer no letreiro no horizonte, destaca que é contra a gratuidade se a qualidade piorar. 

Mas em seguida, lembra que seria ótimo poder ir ao mercado com 200 reais a mais, valor que gasta em média por mês, já que prefere não ter 6% descontado do seu salário com Vale-Transporte (VT). Nos domingos, Roseli destaca ainda, que sempre que pode opta pelo carro de aplicativo devido a demora do ônibus e a lotação do metrô. 

Em exclusividade à CNN Brasil, segundo o presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Vander Costa, o custo anual da gratuidade universal de ônibus, trem e metrô custaria R$90 bilhões. Quantia, no entanto, que como destaca Antonio, pode se tornar realidade sem colocar as contas públicas em risco. Ele destaca que a solução não é tirar de outras áreas essenciais nem criar impostos novos para o povo, mas sim, por exemplo, tributar super ricos. Uma decisão política que precisa ser bancada além de calculada para dar certo. 

No caso das empresas, ele lembra como elas se beneficiam diretamente das obras de infraestrutura voltadas ao transporte, apontando para os prédios em construção ao redor com destaque para o outdoor que grita “more perto da futura linha-6 laranja do metrô”. É mais que justo que elas contribuam para o transporte, portanto, sem falar da diminuição do trânsito e melhora no rendimento dos funcionários, defende.  Além disso, o ônibus que não chega aos domingos para levar Roseli, ou a lotação de todo dia que pega na Guaicurus, e que faz jus a esse apelido, deixaria de ser o modelo de negócios praticado. Com a criação de regras e diretrizes tal qual o Marco Legal propõe, e a Frente Parlamentar - Tarifa Zero, as empresas em acordo iriam receber verba independente da quantidade de passageiros pagantes. Assim, não sendo benéficas economicamente a superlotação e qualidade ruim.

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Os públicos no ônibus são diversos, mas a necessidade de se locomover é universal - Foto: Vítor Nhoatto

E agora já está quase escuro lá no céu, e o fluxo de volta para casa começou. A fila no ponto de Roseli está dando a volta no quarteirão, tão longa quanto essa discussão. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a pasta quer apresentar os estudos de viabilidade ainda em 2025, mas os embates políticos e ideológicos são tão intensos quanto os pisões e esbarradas no corredor cansado do transporte coletivo. 

Avisos dizem, “cuidado degrau” no ônibus, e “atenção com o vão” nos trilhos, mas o verdadeiro foco deve ser nas ações políticas das próximas estações dessa história. Inegável programa de redistribuição de renda, esses 90 bilhões são um investimento e devolução de direitos a milhões de brasileiros, desde que passem a ser vistos assim. Mas enfim, até lá a vida não para, e agora tenho que ir que esse é o meu ônibus. 

Mesmo na pandemia, moeda local em Fortaleza estimula a economia e o crescimento de pequenos negócios
por
Sarah Catherine Seles
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27/06/2021 - 12h

A construção do Banco Palmas em 1998, o primeiro banco comunitário do Brasil, surgiu a partir da necessidade dos moradores do Conjunto Palmeiras, localizado na periferia de Fortaleza. Joaquim Melo, fundador do banco, conta que a urbanização do bairro fez com que o custo de vida aumentasse. “Em meados dos anos 90, quando o bairro foi urbanizado, começaram a chegar conta de água, luz, telefone, IPTU, essas taxas todas, e as famílias mais pobres começaram a vender os barracos e ir morar em outras favelas.”

A pergunta “por que nós somos pobres?” foi o fio condutor para compreender o estilo de vida das pessoas. A maioria das respostas foi: pela falta de dinheiro. Por isso, Melo e alguns companheiros do bairro decidiram realizar uma pesquisa sobre o hábito de consumo das famílias. O Mapa da Produção e do Consumo Local apontou que as compras mensais das famílias somavam R$ 1,2 milhão, com cerca de 25 mil moradores na época. “E se viu que a maioria das pessoas ali, por mais pobres economicamente que fossem, já tinha algum dinheiro circulando, o grande problema é que tudo vinha de fora do bairro”, conta Melo. 

Após analisarem a situação, surgiu a ideia de criar um banco comunitário para que o capital girasse entre os negócios locais. “Começou como um projeto de desenvolvimento local, mas a ideia sempre foi criar um circuito econômico local onde as pessoas pudessem consumir e produzir aqui mesmo”, explica o fundador. 

Um empréstimo inicial de R$ 2 mil da ONG Ceará Periferia deu início ao banco. “E o que a gente tinha era muito simples: um cartão de crédito de papelão que era feito no mimeógrafo. A gente organizou a carteira de crédito e nem tinha computador na época, nem tinha internet, a gente tinha um caderninho para fazer a contabilidade”, lembra. Os empréstimos eram feitos para os moradores, com intuito de incentivar os pequenos negócios do bairro. 

Além disso, a criação da moeda “palmas” foi essencial para que a circulação de dinheiro dentro da comunidade fosse efetiva, sistema que perdura até hoje. “A essência do banco comunitário, a sua natureza e seu maior serviço, é fazer esse dinheiro circular localmente. Quando o dinheiro circula localmente gera trabalho, gera renda. Então a moeda social é o coração da atividade do banco”, explica o empreendedor. 

A iniciativa se popularizou ao longo dos anos e se estruturou como Instituto Banco Palmas, que também oferece cursos profissionalizantes, oficinas e projetos para a comunidade. O banco passou a apoiar a criação de iniciativas similares em outros municípios do Brasil, formando a Rede Brasileira de Bancos Comunitários. “Cada município com seu próprio banco, mas todos foram criados e acompanhados inicialmente pelo Banco Palmas”, conta Melo. Hoje o banco funciona em todo país por meio da plataforma digital E-dinheiro. 

As ações impulsionaram a vida de diversos moradores, reunindo diversas trajetórias de vida junto ao banco. Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará mediu o impacto da iniciativa para os moradores e 90% apontaram melhora na qualidade de vida. “Não é só emprestar o dinheiro, é ajudar as pessoas a se mobilizarem, a se organizarem, a participar da comunidade e criar essa conexão com o bairro, com a vida e com a economia”, diz Melo. 

Katiana Oliveira, 38, moradora do Conjunto Palmeiras desde 1989, é um dos exemplos citados pelo fundador. Ela conheceu o Banco Palmas em 2013, quando precisou de um empréstimo para uso pessoal. Nas idas ao banco para pagar as parcelas, ela soube dos cursos oferecidos e se inscreveu para gastronomia e corte e costura. 

Após as especializações, Katiana participou da Oficina de Educação Financeira, que a ajudou a conquistar sua independência financeira e emocional. “Eu me apaixonei [pela educação financeira] porque comecei a aprender a administrar o dinheiro”, conta. Hoje, além de ser presidente do Centro de Nutrição e coordenadora do Prato Colorido (que oferece os cursos), ela também é assistente social do Banco Palmas. 

"Também participei de uma roda de conversa sobre empoderamento feminino e descobri que sofria violência psicológica e comecei a trabalhar nisso no grupo, me fortalecendo com as minhas colegas”, lembra Katiana. Ela descreve mudanças em todas as áreas de sua vida, tanto em seu ambiente familiar, quanto profissional. 

Então, a empreendedora enxergou potencial dentro da comunidade e desenvolveu projetos, oficinas, cursos e rodas de conversa. Como a Cozinha Delas, criada para auxiliar mulheres que passaram pelas mesmas situações que Katiana. O principal intuito é arrecadar dinheiro para as mulheres da comunidade com a venda dos pratos que aprenderam a fazer nas especializações. Eu não queria sofrer mais nenhum tipo de violência e eu queria que outras mulheres tivessem a oportunidade de superar e criar suas iniciativas e suas ações para sair dessa situação”, conta. 

Durante a pandemia, a desigualdade social foi escancarada e acentuou a fome no país. Por isso, Katiana utilizou seus projetos para lançar a campanha “Bucho Cheinho”.  Ela explica: “A ideia é que ninguém fique com bucho vazio nessa pandemia. Então a gente lançou essa campanha de arrecadação de alimentos, de doação de dinheiro e cesta básica, [sempre] acompanhando as famílias, fazendo monitoramentos, fazendo visitas”. 

Além da alimentação dos brasileiros, o período pandêmico acentuou a crise econômica que o Brasil já enfrentava. A Pesquisa Pulso Empresa, realizada pelo IBGE, mapeia o impacto da Covid-19 nas empresas, realizada em julho de 2020, os negócios representaram mais da metade dos estabelecimentos fechados apenas no primeiro semestre do ano e mais de 716 mil fecharam desde o início da pandemia. 

Os bancos comunitários, no entanto, foram em outra direção. Apesar do impacto sobre os pequenos negócios, houve um aumento nas empresas registradas na plataforma E-Dinheiro. “Por outro lado, os bancos comunitários cresceram na pandemia, pelo fato de serem digitais e estarem presentes na periferia. Nós recebemos muitas doações, tanto do poder público, da prefeitura, como do empresariado”, comenta Joaquim Melo. 

A Rede Brasileira de Bancos Comunitários, em conjunto com os líderes locais, criou contas digitais para os moradores. Com doações de R$ 100 a R$ 200, eles puderam comprar do comércio do próprio bairro, “salvando a vida das pessoas porque tinham o que comer e salvando também as economias locais”, conclui Melo. 

Coletores menstruais, absorventes de pano e calcinhas absorventes ganham espaço como opções mais econômicas e ecológicas
por
Heloisa Tiemi Shibuya
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27/06/2021 - 12h

Embora a menstruação continue sendo um tabu na sociedade, muitas mulheres têm falado abertamente sobre o assunto e comentado sobre terem trocado os absorventes descartáveis convencionais por utensílios mais sustentáveis durante o período menstrual. Dentre eles, estão os coletores menstruais, calcinhas absorventes, absorventes de pano e outros produtos que produzem menos lixo e podem ser usados a longo prazo.

Em uma pesquisa feita pela Agemt em um grupo do Facebook, a maioria das 26 mulheres que responderam disseram que nunca haviam usado coletor menstrual ou calcinha absorvente, entretanto, também manifestaram que têm vontade de experimentar esses produtos.

Quanto às respostas das mulheres que já usavam coletores ou calcinhas absorventes, grande parte delas disseram que sentiam incômodo físico ou alergia quando utilizavam as opções descartáveis. Elas também afirmaram ter economizado ao adquirir os produtos que duram por um longo tempo e não exigem a aquisição mensal, como os absorventes comuns. Além disso, ao final da pesquisa, cerca de 80% das mulheres disseram crer que os coletores menstruais e calcinhas absorventes vão se tornar uma tendência de consumo pela praticidade e sustentabilidade que oferecem.

Bianca Pavanello, estudante de música do Conservatório de Tatuí, decidiu usar o coletor por motivos parecidos aos das entrevistadas pela pesquisa. Ela tem gostado bastante do produto e percebeu que economizou bastante ao adquiri-lo. “Na minha casa três pessoas menstruam, então eram vários pacotes de absorvente todos os meses. Hoje nós reutilizamos e não nos preocupamos em gastar aquela ‘grana’ alta”, conta ela.

Nathalia Silva, que utiliza o seu Instagram para falar um pouco de tudo, mas principalmente de assuntos que envolvem beleza e saúde, diz que comprou o coletor por ter incômodos e alergias na região íntima. Ela conta que a experiência tem sido positiva. “É meio complicado mesmo para colocar, mas é só uma questão de prática e paciência, pois, assim que você consegue, você sequer sente o coletor. É confortável para todas as atividades, eu danço, vou à piscina, durmo sem calcinha, faço exercícios e ele continua ali, no lugar, sem vazar ou manchar roupas.”

As marcas mais procuradas desses produtos são: a Korui, Pantys, Inciclo, Fleurity e Herself. Em reportagem publicada em março desse ano na revista Exame, a Inciclo diz que conseguiu crescer 156% em 2020, contratou 50 funcionários e abriu 600 novos pontos de revenda. A Korui também afirmou que “houve um aumento significativo nas vendas”, em entrevista realizada para a Agemt. A marca também conta que já tem novos produtos em fase de criação, e, depois de abrir uma loja física em São Paulo, pretende expandir para mais locais.

Mesmo a menstruação deixando de ser um tabu entre as pessoas ao longo dos últimos anos, ainda há muitas que não têm acesso ou condições de comprar absorventes internos ou externos, questão chamada pobreza menstrual. Segundo a ONU Mulheres, das 1,8 bilhão de pessoas que menstruam ao redor do mundo, 12,5% delas têm dificuldades em todos os ciclos para obter produtos menstruais, produtos de higiene geral e até mesmo saneamento básico, banheiros próprios, água tratada e educação adequada para saber lidar com o período. Em torno de 1 bilhão de mulheres não possui acesso a um banheiro seguro e limpo e outras 526 milhões não têm sequer um banheiro em casa.

Apesar disso, a menstruação tem sido pauta para questões ambientais que impulsionam a demanda por produtos como coletores e calcinhas absorventes. O aumento das vendas das marcas que fabricam esses produtos mostra uma divulgação maior desses produtos, não apenas pelas marcas, mas também por quem os utiliza. Nathalia fez uma série de stories em seu Instagram falando sobre sua experiência com o coletor menstrual e recebeu diversos feedbacks de pessoas que compraram o produto. “Recebi inúmeras mensagens de meninas que compraram o coletor ou o disco menstrual ou ficaram interessadas em saber mais, o que é muito bom. A partir daí, senti que o que eu levaria para elas deu muito certo, pois é mais do que influenciar a compra de um produto, é adotar um hábito mais benéfico para nossa saúde íntima e assim se conhecer melhor. Fiquei muito feliz”, diz ela.

Imagem da capa: Ilustração de coletores menstruais| Via: Toda Teen - UOL

 

Longe do público e com oportunidades reduzidas, profissionais comemoram prorrogação de auxílio da Lei Aldir Blanc
por
Bruna Janz
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26/06/2021 - 12h

Em março de 2020, quando foi declarada a pandemia do novo coronavírus pela OMS, as aglomerações e os eventos sociais foram suspensos. Em meio ao cenário da crise de saúde brasileira, os profissionais da cultura foram duramente prejudicados, com 458 mil postos de trabalho, tanto formais quanto informais, perdidos ao final do ano passado, em comparação com o último trimestre de 2019, segundo informações do Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural.

Antes da pandemia, o segmento cultural, junto com o setor criativo, movimentava cerca de R$ 171,5 bilhões por ano, correspondente a quase 3% da riqueza nacional. A previsão era de que esses segmentos gerassem R$ 43,7 bilhões para o PIB brasileiro até 2021, porem 35% desse valor deixou de ser gerado devido às paralisações causadas pela crise do novo coronavírus, como foi apresentado nos resultados preliminares da pesquisa Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil, divulgados em 29 de abril e feita pela Universidade de São Paulo (USP).

No terceiro trimestre de 2020 que a Lei Aldir Blanc entrou em vigor, prevendo uma renda emergencial de três parcelas de R$ 600 para profissionais da cultura, além de um subsídio mensal de R$ 3 mil a R$10 mil para a manutenção de pequenas empresas, organizações culturais e espaços artísticos que ficaram paralisados.

Também foi disponibilizado um montante de R$ 3 bilhões, repassado pelo governo federal para o pagamento desse auxílio. Porém, segundo o Ministério do Turismo em abril de 2021, 25% desse valor, que corresponde a R$ 773,9 milhões, não foram utilizados nos 120 dias do prazo inicial, permanecendo, assim, nas contas dos Executivos locais.

Esse atraso na utilização da verba destinada aos profissionais da cultura ocorreu devido a irregularidade de diversas regulamentações que deveriam ser feitas por prefeitos e governadores dentro do prazo inicial. Assim, em 21 de abril de 2021, foi aprovado um projeto de lei que reformulou a Lei Aldir Blanc, permitindo aos Estados e Municípios a utilização do saldo remanescente do montante até dia 31 de dezembro.

A prorrogação da lei foi vista como uma vitória por muitos do setor cultural, já que ainda não existe um meio viável para criar ambientes presenciais seguros para muitos segmentos artísticos, e o auxílio permite que muitos profissionais mantenham seus trabalhos. 

O ator, pesquisador e estudante Pitágoras Lemos ressalta que a Lei Aldir Blanc foi sancionada em um momento altamente necessário, porém nada é perfeito. “Para muitas pessoas pode parecer só um ‘legal, ganhei 600 reais’, mas nós (artistas) precisamos continuar trabalhando, e pra isso eu preciso apresentar uma peça, uma dança, uma performance. E eu, que faço teatro, sei lidar com o público, mas não sei lidar com edição de imagem, então eu vou ter que contratar alguém que saiba, e aí esses 600 reais já se transformaram em 500, em 400... Isso é o suficiente para uma compra do mês?”

Compartilhando a mesma visão acerca do auxílio, a dançarina, professora e estudante Deborah Lugli também ressalta que continuar trabalhando não precisa significar um trabalho contínuo ou automático, e sim de forma que seja possível e acessível para cada profissional no meio virtual. “É preciso olhar para o todo, e não apenas para o individual. Então, esses coletivos que se juntaram para repensar o setor cultural devem continuar a se fortalecer, é preciso olhar para o todo”, adiciona.

Porém, os impactos no meio cultural vão muito além das questões financeiras e do auxílio emergencial. A vida longe dos palcos físicos e sem a possibilidade de trocar experiências e sensações com o público dificultam muito o trabalho dos artistas, assim como a diminuição das oportunidades no mercado de trabalho  e a maneira com que o governo tem tratado as questões referentes ao setor. 

“Quando a gente está finalizando a graduação, é um momento complicado, é um momento de caminharmos com as próprias pernas, mas descobrir isso no meio de uma crise sanitária, em um momento que tudo se transformou, é bastante difícil de lidar, porque a cena mudou, e ter estudado a cena presencial e me formar na cena digital nesse período da crise é algo difícil de entender”, aponta Deborah.

Já para Pitágoras, a falta de contato com os espectadores é o principal desafio: “Há a perda da troca, da crítica. O que é apresentar para uma tela? Como é para o público receber isso? Nós não sabemos mais, tudo é mediado pelo computador, não há mais troca física”.

Sem mais a possibilidade de juntar um público, as peças via Zoom, lives no Instagram, exposições virtuais e até ensaios fotográficos via FaceTime explodiram por todo o país, e mesmo entre tantas dificuldades, os artistas ainda veem no cenário digital, uma premissa para o futuro, afirmando que dificilmente haverá o rompimento com o virtual, por já ter se tornado uma camada incorporada à arte, capaz de conectar pessoas de todo o Brasil e do mundo em um único lugar.

Ainda assim, as soluções à distância não são o bastante para manter economicamente os mais de 6 milhões de profissionais que trabalham no segmento cultural, tornando um subsídio do Estado uma necessidade para todo o setor, que deverá ser o último a retomar as atividades presenciais, em razão das medidas sanitárias necessárias para tal acontecimento.

Foto da capa: O ator Luis Carlos Shinoda, fundador do Cangaias Coletivo Teatral. Imagem de divulgação da peça "Na colônia penal", transmitida pelo YouTube. 

 

Com o avanço da vacinação contra o coronavirus, países como EUA querem vacinar seus turistas, mas a que preço?
por
Suzana Rufino e Silvana Luz
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24/06/2021 - 12h

Por Suzana Rufino e Silva Luz

Enquanto o Brasil caminha em passos lentos, países como os Estados Unidos e Rússia entre outros, já pensam em vacinar turistas. A prioridade é vacinar sua população, porém, como o comprovante residencial não está sendo solicitado, muitos estrangeiros, inclusive brasileiros, estão comprando pacotes de viagens rumo a nação estadunidense (o que mais se destaca). No entanto, para o Brasil, há um cumprimento obrigatório de ficar em quarentena no México ou em uma ilha Caribenha antes de ir aos EUA, devido os altos números de óbitos por covid-19. Por esse lado, parece uma questão de organização, dinheiro e lucro, pois para os que têm condições financeiras, só basta comprar um pacote de voo, ficar 15 dias em um país emergente ou ilha, e depois, partir para o destino final, e os que lucram, simplesmente ganham o título de “acolhedor” e “esperto”. O deficit dessa questão, são os quem podem e não podem aderir esse turismo, por que, no caso do Brasil, a maioria da população, hoje, busca o auxilio emergencial para sobreviver, então, percebe-se que, os únicos que podem adquirir o “passaporte da salvação” são os ricos.

Os EUA aceitam turistas para vacinarem, porém, para os brasileiros, a quarentena terá que ser cumprida em um país subdesenvolvido, como o México (o mais optado). E qual a vantagem desse último? Nada, risco de mais contágios e surgimento de novas cepas. Mas o turismo, um dos setores mais atingidos em meio a pandemia, os mexicanos podem lucrar com isso? Não! Pois, será uma estadia sem lazer de 15 dias, com o intuito de observar se o turista não foi contagiado, por que não pode viajar para os Estados Unidos nessas condições “eles querem pessoas sadias, que se vacinam lá e gastem”. Isso mostra o quão o Brasil tem uma governaça precária, pois se não tivesse negado as altas subnotificações de mortes por coronavírus, muitas vidas estariam preservadas. O fator é que não foi só o governo de Jair Bolsonaro que preferiu tapar os olhos para não assistir o colapso de sua má administração em meio a pandemia da covid-19, a população também contribuiu, seus seguidores, principalmente (a maioria) ricos, que até hoje, negam a proporção da doença e defendem o tratamento precoce. As agências de turismo foram as que mais perderam com essa pandemia, e provável, que lucrem com essa empreitada. Porém, lucrar com algo incerto, pois não é certeza que os turistas que comprarem o pacote vão se vacinar, e não se preocupar com o país que recebem essas pessoas para quarentena, não é sensato, é imoral e egoísta.

O publicitário Diego Silvero de 29 anos, mora desde 2002 na Califórnia e conta com olhares atentos, como está sendo a vacinação da população e turistas (brasileiros). “O governo incentiva a vacinação em locais públicos como shoppings e metrôs, e a vacina que está sendo aplicada é a Janssen, a de dose única. O incentivo vem de diversas formas, exemplo, no metrô, o cidadão americano que for vacinado, ganha passagem durante sete dias, pois existem algumas pessoas relutantes em se vacinar, então o governo faz dessa forma para poder incentivar a vacinação, porém isso é restrito a cidadãos. Já para os brasileiros, eles devem fazer uma quarentena de 15 dias  no México ou em alguma ilha Caribenha antes de poder ser vacinado. Todos os brasileiros estão sujeitos a essa quarentena. Situação triste, pois somos vistos como um País que pouco se importa com a crise sanitária e seus cidadãos. Enfim, os Estados Unidos estão descrentes perante a nós”.     

O economista, mestre em economia e professor Marcos Henrique do Espírito Santo, fala sobre a precariedade do Turismo da Vacina. “Uma coisa muito nova que está acontecendo agora que é essa questão do turismo da vacina, que em primeiro lugar, países, como por exemplo, o México ou os caribenhos, que tem servido de quarentena para poder entrar nos Estados Unidos, no meu ponto de vista revela muito mais da nossa miséria e da nossa mediocridade do que propriamente de um negócio. Dada a incompetência do governo brasileiro pensando no nosso caso, dos ricos que podem fazer esse turismo da vacina, pensando na nossa mediocridade na nossa desigualdade gigantesca, os ricos que primeiro trouxeram o vírus para cá, uma parte deles negou a pandemia, forçou a economia abrir, ajudou a fazer um discurso junto com esse presidente negacionista para colocar o povo na rua para trabalhar, e claro para que suas vendas não caíssem, para que seus lucros não caíssem, vão para um país pobre também como o México fazer quarentena, porque os Estados Unidos não são bobos nem nada, eles falam *você fica aí fora um tempinho até poder entrar aqui tomar vacina*. Isso revela o tamanho da miséria que a gente vive, quer dizer, a gente vive um caos completo aqui dentro, meia dúzia de sujeitos com poder aquisitivo altíssimo, saem daqui e vão fazer quarentena em outro país pobre, para depois poder chegar nos Estados Unidos e tomar a vacina. Quer dizer, que no fim a vacina realmente é o que salva vidas, essa gente sempre soube disso, mas fez questão de negar porque colocar os outros para trabalhar em aglomeração é muito mais fácil que a própria vida deles. Então nesse ponto de vista, não vejo vantagem nenhuma para o país que recebe esses turistas ricos, que vão fazer a quarentena. O México por exemplo, também vive um problema não como nosso, mas muito parecido com grau alto de contaminação e que corre um risco sério de ter novas cepas, de misturar esses vírus que estão circulando etc". 

"No ponto de vista comercial, as agências de viagem claro, devem estar conseguindo ganhar alguma coisa tendo em vista que o turismo foi o principal setor atingido, junto com comércio e serviços nessa pandemia, porque fechou tudo, impôs restrição etc., mas eu acho que isso é mais um problema moral, intelectual e da nossa formação mesmo do que uma questão econômica e revela o tamanho do buraco que a gente se meteu. Um governo que não pode se chamar de governo, isso que a gente tem, negou a pandemia propositalmente para reforçar um discurso para os seus apoiadores para manter a sua narrativa com a sua base, arriscou matar quase meio milhão de pessoas, isso se desconsiderar a subnotificação. E agora, essa meia dúzia de ricos que apoiou isso que se chama de governo, que pega o seu bom dinheirinho que vai para os Estados Unidos tomar vacina. Então, isso é uma coisa que não tem como achar legal, é uma questão a meu ver, medíocre nossa brasileira, latino-americana, do ponto de vista financeiro, eu realmente não sei avaliar porque acho que são tão poucos casos que  isso revela muito mais uma a uma questão exótica que é a elite latino-americana, que ter propriamente um impacto econômico efetivo. Acho que é só para rir da nossa cara mesmo mostrar o quão miserável nós somos,  mesmo com o tamanho do SUS, a competência vacinação e a gente não conseguir dar conta disso e permitir que essa gente deite e  role literalmente em cima da nossa desgraça brasileira. Do ponto de vista de problemas que as agências podem ter, eu não vejo nenhum problema elas estão é ganhando dinheiro e aproveitando essa demanda peculiar, eu acho que quem ganha e quem perde são sempre os ricos que ganham e a grande massa sempre perde para os ricos. Daqui a pouco ano que vem os ricos vão apoiar novamente esse governo desde que ele mantenha essa agenda de destruição nacional e por aí vai e vai continuar dessa forma mesmo é uma questão eminentemente política, então a manutenção desta narrativa, apoiada por esses ricos que vão para fora tomar vacina revela quanto medíocre nós somos de maneira geral.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
Aplicações em renda variável podem ter maiores ganhos, mas embutem também risco mais alto
por
Maiara Yokota
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22/06/2021 - 12h

Dentro do mundo financeiro há uma diversidade de produtos a serem escolhidos. O primeiro passo a ser dado é a escolha de um consultor financeiro, para administrar os investimentos do indivíduo.  Ele analisará o objetivo e o perfil do investidor, antes de realizar as sugestões que atendam às suas necessidades. Em algumas circunstâncias o investidor não tem possibilidade de bancar essa gestão financeira. Nesse caso a opção seria buscar conhecimento gratuito de profissionais dentro da área.

Em entrevista à Agemt, os consultores financeiros Ana Hutz e Alexandre Vilarinho compartilharam algumas dicas para pessoas interessadas em investir, mas sem correr grandes riscos. Começando pela escolha do produto ideal, os dois abordaram pontos semelhantes para a tomada dessa decisão, como, por exemplo, a liquidez do ativo (facilidade de resgatá-lo) e confiabilidade da instituição financeira.

Tratando-se de ativos financeiros, tem-se a renda fixa e a renda variável. A primeira está ligada a produtos com menos riscos, pois a partir do momento em que o indivíduo compra um título, ele já tem em mente as possíveis perdas, que estariam nas descrições do produto, no caso a rentabilidade e as variações de índices como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e a taxa Selic (juros básicos). A renda variável, por sua vez, abrange produtos de médio e alto risco, devido à intensa presença de volatilidade (variações/instabilidade).

 A renda fixa possui vários produtos, que seriam títulos a serem vendidos por instituições. Comprar um título do banco, significa que você está emprestando dinheiro para essa instituição e ela irá lhe pagar de acordo com as descrições do produto. O Tesouro Direto são títulos públicos, considerados os investimentos mais seguros, mesmo não estando cobertos pelo chamado, Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Além dele, os títulos de bancos CDBs, as letras de crédito LCI (setor imobiliário) e LCA (setor do agronegócio) que são isentos do Imposto de Renda e por fim as debêntures, títulos de empresas privadas sem cobertura do FGC.

O investidor conservador tem duas possibilidades dentro da renda fixa: os títulos prefixados e os pós-fixados. No momento da compra os prefixados costumam ter o seu risco anexado no produto, como por exemplo um CDB com rentabilidade de 10,1% ao ano, e com vencimento de quatro anos. Esse crédito bancário terá um retorno de 10,1% do valor total, por ano, que no caso seria pelo período de quatro anos. O pós-fixado possuí uma variável que seria o IPCA ou a taxa Selic, o que impede prever a sua rentabilidade.

 A consultora Ana Hutz pontua que há uma vantagem de investir em produtos pós-fixados e que a diversificação é algo positivo. “Quando eu penso em longo prazo, gosto de uma combinação de coisas. Produtos que paguem inflação, ou seja, produtos indexados ao IPCA, são uma boa opção para o longo prazo. Às vezes para período mais curto é bom ter um pouquinho de prefixado, porque geralmente já se prefixa uma inflação mais alta, quando ela está subindo. Então vale a pena ter um pouquinho de prefixado para um período menor.

Dentro do segmento de perfis de investidores, tem-se o arrojado. Ele está disposto a grandes correr maiores riscos em busca de ganhos mais expressivos. Na renda variável há o mercado de ações, portando operações como o swing trade (compra e venda em períodos mais longos) e o day trader (compra e venda no mesmo dia). Há também o mercado futuro, o mercado de opções e as criptomoedas. Esse tipo de investidor costuma arriscar-se no mercado de ações e no mercado das criptomoedas.

Alexandre Vilarinho tem um ponto de vista crítico sobre o mercado de criptoativos. Ele não recomenda esse produto para os seus clientes e pontua que em sua avaliação os criptoativos vieram para ficar como uma moeda de troca, uma forma de vender e comprar objetos. Para ele o dinheiro é um meio de troca. O que seria diferente de comprar ações, pois elas têm uma maior valorização com o tempo

Sobre o mercado de ações, o consultor financeiro aborda que não é possível viver apenas de trading, e estende a sua fala: “O trader faz parte de uma estratégia de investimento de alguém mais arrojado, que se dedicou e estudou, mas sempre recomendo que a pessoa tenha outro tipo de fonte de renda. Tenha diversificação nos investimentos e separe uma parte para fazer trading, porque são operações de muito risco”. É primordial não depender do dinheiro investido no mercado de ações e esse pensamento também pode definir a relação que o investidor deve ter no mercado de opções e no mercado futuro. Pois eles são mais restritos até para o investidor arrojado, por serem de altíssimo risco. Então necessita-se de experiência, conhecimento e diversificação na carteira de ativos.

No decorrer da entrevista, Vilarinho ressaltou a importância de identificar a finalidade do investidor com o produto. Disse que é necessário avaliar o perfil do investidor, mas que não adianta ele ter um perfil mais arrojado (propenso a riscos) se a sua finalidade seria investir com prazos definidos – por exemplo, financiar uma moradia ou um automóvel. O consultor destacou a importância de definir o prazo em que o indivíduo precisa desse retorno e também o seu objetivo, que no caso hipotético seria comprar uma casa. Mesmo com o perfil que suporte riscos, ele já não poderia optar por arriscar.

O investidor conservador e com pouca renda pode criar a sua reserva financeira, pois os juros compostos irão agir caso ele tenha disciplina. Investir é uma forma de deixar de trabalhar por dinheiro e fazer com que o dinheiro execute esse papel. Vilarinho dialoga com essa afirmação proposta, concordando e afirmando que o investimento tem a finalidade de conduzir o indivíduo a sua liberdade financeira, para que ele possa fazer escolhas que têm a ver com aquilo que ele gosta de fazer. Por meio de suas palavras, conclui-se que o importante não é quanto o indivíduo pode investir e sim o ato de investir constantemente.

Imagem da capa: Freepik.