Sem orientação adequada, donas de pequenos negócios relatam dificuldades para entender as mudanças na economia e veem sua renda ameaçada
por
Manuela Dias
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28/11/2025 - 12h

A falta de informação qualificada tem se tornado uma das principais barreiras para microempreendedoras brasileiras que dependem de insumos importados ou de produtos cujo preço varia conforme fatores globais. Em meio a mudanças recentes nas taxas, oscilações cambiais e aumento da burocracia para transações internacionais, muitas afirmam que não sabem onde buscar apoio técnico. É o caso de Danielle Nayara, maquiadora e microempreendedora, que iniciou seu negócio após deixar o emprego formal para trabalhar com eventos.

“Eu sempre gostei de maquiagem, mas nunca tinha pensado em maquiar outras pessoas. Só comecei depois de uma sugestão, fiz um curso e acabei me apaixonando pela profissão”, conta. Hoje, ela atende clientes em casa, em eventos e até pernoita em residências para preparar noivas e madrinhas. Mas apesar da agenda cheia, manter o negócio funcionando tem se tornado cada vez mais complexo.

Um desafio diário

Para Danielle, o principal custo do seu trabalho é a compra de materiais: produtos que sofrem variações constantes de preço, muitas delas impactadas por fatores externos. “Um produto que eu comprei por um valor semana passada já está mais caro hoje. Quando isso acontece, eu preciso ajustar meus preços, porque se não aumento, perco margem”, explica.

Ela relata que, muitas vezes, não entende o motivo dessas oscilações nem encontra informação clara sobre o que está influenciando o aumento. Esse descompasso entre preço e explicação não só dificulta o planejamento, como a impede de aproveitar oportunidades.

“A qualidade dos produtos é essencial. Se o material é ruim, não adianta eu ser boa. Só que para comprar produtos bons, eu preciso pesquisar muito. E os preços mudam rápido demais”, diz.

A falta de informação também interfere na profissionalização. Em eventos como a Beauty Fair, Danielle conseguiu adquirir produtos de alta qualidade com preço reduzido, mas admite que depende do acaso: “Eu fico sabendo por redes sociais. Se eu não vejo no Instagram ou no TikTok, eu perco a chance.”

Redes sociais como principal fonte

Como muitas microempreendedoras, Danielle se informa principalmente pelas redes sociais. “É onde está tudo hoje: Instagram, TikTok, WhatsApp. É ali que vejo notícias, promoções e mudanças”, afirma. O problema, segundo especialistas, é que essa dependência de canais informais deixa empreendedoras vulneráveis. Notícias sobre variações cambiais, tarifas, mudanças em importações ou novas regras para comercialização de cosméticos dificilmente chegam a essas mulheres de forma clara e estruturada. Isso faz com que muitas decisões sejam tomadas às cegas.

Economistas e organizações ligadas ao empreendedorismo feminino têm reiterado que a falta de informação clara é hoje um dos maiores riscos para pequenos negócios liderados por mulheres. À medida que insumos sofrem com oscilações globais, e que o comércio exterior se torna mais complexo, milhares de empreendedoras enfrentam um mercado imprevisível sem apoio técnico.

No caso de Danielle, o impacto ainda é administrável, mas ela admite a preocupação: “Eu tento acompanhar tudo, mas é difícil saber o que realmente vai afetar meu trabalho. Às vezes, descubro um aumento só quando chego na loja para comprar”, relata.

Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”.
“Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”. Reprodução: arquivo pessoal 

Força para manter o negócio! 

Apesar dos desafios impostos pela falta de informação, pelos custos instáveis e pelas mudanças constantes no mercado, mulheres como Danielle continuam sustentando seus negócios com esforço diário, intuição e dedicação. A realidade que enfrentam é marcada por incertezas, mas também por uma determinação que atravessa jornadas longas, madrugadas de trabalho e decisões tomadas sem o suporte adequado.

No fim das contas, o que sustenta esses negócios não é apenas acesso a crédito ou políticas públicas: é a força de mulheres que, todos os dias, escolhem continuar. A luta feminina, silenciosa ou coletiva, segue sendo a certeza em meio ao cenário incerto e continua provando que, quando essas mulheres resistem, elas transformam não só suas próprias histórias, mas também o futuro do empreendedorismo no país.

 

Transformando a vida de milhões de pessoas todo ano, merece mais reconhecimento e recursos para manter o Brasil vivo
por
Vítor Nhoatto
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28/11/2025 - 12h

Por Vítor Nhoatto

 

Uma das poucas certezas de todo ser humano, tal qual a morte, é a doença. Sabe aquele resfriado que vem junto ao seco do frio, uma ferida que infecciona depois de cair de bicicleta, até aquelas mais sérias que podem aparecer. Fato é que sem saúde não se vive, sendo um direito constitucional não por acaso. Sendo assim, é preciso que o acesso a essa necessidade tão básica quanto respirar e se alimentar seja universal, e não um bem a se comprar apenas por aqueles que podem.

Para isso então que existe o Sistema Único de Saúde (SUS), tão falado e muito mais presente na vida do que alguns podem sequer imaginar, ou querer. Para se ter uma ideia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador dos medicamentos disponíveis no país, de controle alimentar e hídrico, faz parte do SUS. Regulamentado em 1990, é responsável pelas vacinas e desenvolvimento científico ainda, e sabe os planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde (ANS), que os regula, também é integrante do sistema.

Para falar dessa diferença real na vida, antes é preciso até olhar nos papéis para lembrar já a quanto tempo ele é médico, enfermeiro, farmácia. De cabelos curtos hoje, depois de uma repaginada no visual devido ao câncer de pulmão que teve justamente na pandemia de COVID-19, Léia Marisa celebra que há dois anos consegue receber na AME Maria Zélia o micofenolato de Mofetila. Pois é, muitas vezes quando o nome é chique o preço é alto, uns R$500 por caixa, mil reais por mês gastos antes da papelada ficar pronta e ser aceita em 30 de novembro de 2023, já que a doença não espera os trâmites e filas.

A ex-professora, atual dona de casa e empresária a distância do seu restaurante, conta como o período de descoberta e tratamento do câncer, que levou até questões reumatológicas, e ajudou a descobrir uma artrite reumatoide, foi muito difícil. Entre dezenas de idas ao hospital de 2020 até 2023 até chegar ao diagnóstico, foram dias desgastantes, assustadores, e toda ajuda foi essencial, principalmente com os custos de sobreviver à doença. No caso dela, o tratamento do tumor foi feito em rede privada graças ao seu plano de saúde empresarial, que custa salgados R$5 mil reais ao mês. Só aqui são quase quatro salários mínimos, um privilégio muito grande, como ela destaca, olhando para um país em que apenas 7,60% da população ganha entre 5 e 10 salários como o Censo de 2022 do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística revela. 

Se aprofundando mais ainda nos fatos, de acordo com o estudo “Quanto custa o câncer” de 2023 do Observatório de Oncologia, do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, os custos de tratamento da doença quadruplicaram nos últimos três anos. Uma sessão de radioterapia ou quimioterapia custava quase R$800 em 2022, e dezenas são necessárias na maioria das vezes. Acrescentando nessa conta, consultas, tomografias e biópsias, mil reais ali e cinco acolá, o custo chega facilmente ultrapassa dezenas de milhares de reais. Isso é ainda mais preocupante tendo em conta a incidência do câncer na população, que segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) entre 2023 e 2025, 704 mil pessoas terão a doença como Marisa. 

E com isso que o SUS se mostra como algo tão relevante, oferecendo tratamento integral e gratuito contra todos os tipos de cânceres. Claro que muitos problemas existem, como destaca Marisa ao lembrar que quando estava no meio do tratamento enfrentou problemas com o plano de saúde, mas que só o medo de depender da demora do SUS caso fosse preciso, a preocupava muito. A saúde é o bem mais precioso para, o que para todos provavelmente deva ser, e por isso justamente que em 2012 a lei 12.732/12 obriga que o tratamento contra o câncer tem que ser iniciado em até 60 dias após o diagnóstico. 

Mas além disso, com os olhos marejados depois de navegar novamente no mar agitado que foi a jornada até a vida que tem hoje, curada e com o diagnóstico da sua doença crônica, ela volta e lembra que a diferença que não ter que pagar pelo Micofenolato que a mantém respirando faz.  Quando tinha que arcar com as despesas era como um fardo a mais imposto a ela, que considera a saúde hoje como o bem mais valioso. As idas mensais  ao posto são um alívio hoje para ela, destacando que o seu medicamento nunca faltou até então, mas que já presenciou pessoas na situação contrária e que não tinham como arcar pessoalmente com os gastos. Essa é uma realidade infelizmente, segundo fiscalização de 2023 da secretaria de contas do Estado de São Paulo, em quase metade dos postos visitados faltavam algum medicamento.

papéis
A cada seis meses Marisa tem que renovar a receita e toda a papelada para solicitação do seu medicamento junto a AME - Foto: Vítor Nhoatto

Milhões de uns

Mesmo que falte muito, afinal, só 4,16% do orçamento federal foi destinado à saúde em 2024 segundo o Painel do Orçamento Federal, a porcentagem vem aumentando desde 2022, e milhões de brasileiros são atendidos todos os dias. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes com um sistema universal de saúde, e 213 milhões dependem diretamente do SUS, segundo o Ministério da Saúde, que contabiliza em média 2,8 bilhões de atendimentos por ano, empregando 3,5 milhões de profissionais.

E mais um desses uns é Valdir Sousa, que do alto de seus 63 anos de idade é um típico caso brasieleiro. Com diabetes do tipo II há 20 anos e hipertenso, conta que se não fosse o acesso ao sistema gratuito, sua vida seria muito diferente, obviamente pelo lado financeiro, e muito também pelo bem-estar. O mineiro nascido em São João do Paraíso e que vive em São Paulo há décadas já viu tanto na vida, e com o passar do tempo o que todos querem e merecem é justamente qualidade de vida. Essa no caso, em grande parte possível graças a insulina que busca no posto na Freguesia do Ó e os comprimidos que cuidam do seu coração acelerado.

Justamente essa hipertensão que é a doença mais presente nos peitos animados dos brasileiros, e 52% da população é diagnosticada com alguma DCNTs, como revela a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Além disso, segundo dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como as de Valdir são tecnicamente chamadas, são as mais comuns no mundo e no Brasil, com o diabetes inclusive tendo aumentado 70% entre 2000 e 2019. 

Para contextualização, nos Estados Unidos existe há alguns anos o movimento nas redes sociais insulin4all, criado pela organização sem fins lucrativos T1 International, que denuncia os altos custos da insulina no país, onde um frasco de 10ml gira em torno de U$330. Tal situação vem levando inclusive pessoas a racionarem o medicamento, o que pode levar a complicações e até a morte em casos mais graves. Já no Brasil, o mesmo remédio é disponibilizado pelo SUS, e o preço máximo permitido por lei é de R$125,30. 

Diante desses dados e o envelhecimento da população fica claro como a saúde vai ser cada vez mais necessária, tal qual destaca o jovem de espírito Valdir, que já foi pedreiro e auxiliar de manutenção geral em uma lanchonete, justamente no Hospital das Clínicas. As histórias que já viu na maior referência de saúde pública brasileira enchem a sua mente, e as palavras saem inquietas sobre as melhorias que o SUS precisa e as pessoas merecem. Ele conta em meio a suspiros que quando precisa de exames mais urgentes, ou consultas em meio a crises, tem que recorrer ao plano de saúde da sua esposa, do qual é dependente, já que as unidades de saúde estão sempre cheias e a fila de espera passa de meses algumas vezes. 

Foi nessas passagens obrigadas pela rede privada que ele inclusive descobriu mais um integrante do seu pacote, a doença renal crônica há um ano. Porém, é no SUS que o acompanhamento com nutricionista, nefrologista e endocrinologista foi possível, uma rotina de cuidados essenciais para uma boa qualidade de vida para quem tem a condição. É graças a essa rede de profissionais e a farmácia popular que Valdir vai aproveitando com os dois filhos e a mulher os seus dias, frisando com a voz até meia trêmula, que sem isso não poderia se ter o seu direito de viver com saúde exercido plenamente.

medicamentos
São graças a compostos como esses que tanto Marisa ou Valdir, e os mais de 100 milhões de brasileiros com doenças crônicas podem viver bem tal qual a constituição garante - Foto: Vítor Nhoatto

 

Desigualdade, corrupção e desemprego juvenil deflagram uma revolta que expõe a fragilidade econômica profundamente enraizada.
por
Pedro Bairon
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14/11/2025 - 12h

Por Pedro Bairon

 

Na primeira semana de setembro de 2025, as ruas de Kathmandu foram tomadas por uma onda de protestos liderados pela chamada Geração Z, quando milhares de jovens se reuniram para denunciar a corrupção, o nepotismo e a desigualdade que dominam a vida pública do Nepal. O estopim foi a proibição de 26 plataformas de redes sociais incluindo Facebook, Instagram, X e YouTube, decretada pelo governo, uma medida que ativistas viram como um ataque à liberdade de expressão, Raj Rana, um nepalês que participou das recentes manifestações reafirma tal posição.

Os protestos rapidamente escalaram: confrontos com a polícia resultaram em uso ostensivos de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real, segundo Rana. No dia 9 de setembro, o primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou, pressionado pela magnitude da insatisfação dos jovens, porém, não se limitou ao veto digital. Por trás da indignação estava uma reclamação mais profunda: a escassez de empregos dignos, a persistência de elites privilegiadas (os chamados “nepo kids”) e a sensação de que, apesar de tanto crescimento econômico reportado, o Estado falhou em converter recursos em oportunidades para a maioria da população. De fato, segundo o Banco Mundial, mais de 80% da força de trabalho nepalesa está na informalidade, um número clássico de economias frágeis. O economista Karki Lama aponta que as remessas enviadas por nepaleses que trabalham no exterior (equivalentes a mais de um terço do PIB, segundo Fundo Monetário Internacional, FMI) sustentam o país, mas não geram empregos de qualidade e mantêm muitos jovens reféns de oportunidades materiais mínimas.

Esses protestos, segundo analistas, não são apenas uma manifestação política: são um grito de alerta sobre a saúde estrutural da economia nepalesa. A relação entre a frustração juvenil e as debilidades econômicas torna-se evidente à medida que se examina o modelo de desenvolvimento vigente no país. A economia nepalesa há muito tempo depende fortemente das remessas de migrantes para manter sua liquidez externa e financiar o consumo interno. Para Lama, entretanto, essa dependência representa um fracasso de capacidade produtiva nacional, não há trabalho suficiente internamente, e a migração torna-se quase inevitável. Mas a crise das ruas tem um custo direto para a economia. Um relatório recente do Banco Mundial alerta que a turbulência política pode reduzir fortemente o crescimento econômico em 2025-26: a previsão foi ajustada para 2,1%, com possibilidade de contração se a instabilidade persistir. O documento prevê ainda uma queda nas chegadas de turistas, um golpe duplo para o Nepal, que depende fortemente do turismo para gerar divisas e emprego formal. A erosão da confiança dos investidores já se tornou palpável. A Federação da Indústria do Nepal (FNCCI), por exemplo, emitiu um apelo para que o novo governo garanta segurança e estabilidade para os negócios, destacando que o setor privado é vital para a recuperação. Segundo esse mesmo apelo, as perdas com os danos materiais causados pelos protestos já afetam indústrias, propriedades e a cadeia de valor do turismo, hotéis, guias, transportes, tudo foi afetado.

Além disso, a insatisfação juvenil encontra respaldo em dados econômicos estruturais que expõem fragilidades profundas. O Nepal registra uma das maiores taxas de desemprego entre jovens na região: cerca de 20 %, segundo o mais recente relatório do IBGE Países. A falta de emprego qualificado, o baixo investimento em infraestrutura produtiva e a fraca diversificação industrial criam uma economia incapaz de absorver seu capital humano mais o peso das remessas, embora vital, é paradoxal: elas sustentam a economia, mas corroem o potencial de desenvolvimento autônomo. Conforme observa a New Humanitarian, muitos jovens veem sua saída como única rota possível, enquanto outros permanecem para protestar contra um sistema que lhes fecha portas. A migração, nesse contexto, deixa cicatrizes na cena política, no tecido social e nas finanças públicas.

O choque dos protestos também traz riscos no balanço externo. A volatilidade gerada pelas manifestações mobiliza redes de capital para fora do país, deixando o Nepal vulnerável a choques cambiais e restringindo sua capacidade de investir em longo prazo. A perda de turistas, a recomposição mais lenta de reservas cambiais e a alta cautela dos investidores estrangeiros são efeitos colaterais duradouros desse momento de ruptura. Do ponto de vista fiscal, a crise exige que o governo interino encontre um delicado equilíbrio. Por um lado, há pressão para responder às demandas dos jovens por mais transparência, combate à corrupção e reforma política. Por outro, há necessidade urgente de restaurar a confiança dos mercados, garantir fluxo de investimentos e sustentar a receita pública. Se o Estado optar por cortes agressivos para manter a disciplina fiscal, pode abrir mão de sua capacidade de gerar empregos, exatamente aquilo que a Geração Z exige. Por outro lado, expandir gastos sem controle também pode agravar vulnerabilidades já existentes. A situação contemporânea do Nepal também reflete um dilema geopolítico. Localizado entre Índia e China, o país sempre foi estratégico para ambos. A instabilidade recente pode frear projetos bilaterais de infraestrutura e perturbar o plano de desenvolvimento sustentável que muitos observadores internacionais defendiam para a nação. Além disso, a falta de boas políticas industriais internas limita sua capacidade de atrair investimento direto que não dependa exclusivamente de remessas ou do turismo.

Embora a revolta da Geração Z tenha derrubado um governo, ela colocou a economia nepalesa sob os holofotes: o modelo baseado em remessas e fluxo turístico é funcional, mas frágil. A instabilidade desencadeada pelos protestos expôs o dilema clássico de economias dependentes: crescer, mas sem construir uma base real de produção, oportunidades e institucionalidade. Se o novo governo quiser responder ao grito dos jovens, terá de investir não apenas na reconstrução política, mas sobretudo na transformação econômica: criando empregos, promovendo reformas estruturais e reduzindo a dependência de fatores que escapam ao controle interno. Sem isso, o Nepal pode voltar a caminhar, mas continuará sobre uma ponte frágil, com vento forte acima e abismo profundo abaixo.

Videogames se aproximam de artigos de luxo devido aos elevados custos
por
Lucca Cantarim dos Santos
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07/11/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Quem acompanha o cenário dos videogames vem se surpreendendo com a alta nos preços dos jogos nestes últimos meses. Com valores que vão desde R$ 249,95, valor do jogo “Hundred Line – Last line of defense”, lançado em abril de 2025, até R$ 499,99, preço do jogo Mario Kart World, que chegou às lojas em junho do mesmo ano. Esses preços têm dificultado cada vez mais o acesso dos fãs aos jogos que desejam, uma vez que acaba sendo inviável para muitos precisar gastar tanto dinheiro sempre que querem jogar um jogo novo. A estudante de sistemas de computação Gabrielle Rodrigues afirma sempre se arrepender de pagar caro em um jogo no dia do lançamento e acabar ficando sem dinheiro para comprar uma roupa ou até mesmo uma passagem do Rio de Janeiro até São Paulo para visitar seus entes queridos. Já o estudante Gabriel Merino alega sentir cada vez mais que não consegue comprar jogos no lançamento, precisando esperar diversos meses até uma baixa no preço ou promoção para finalmente ter acesso ao produto.

Fazer um jogo é um processo extremamente caro, e para a desenvolvedora independente “Dumativa”, responsável por jogos brasileiros como “Enigma do Medo” e “Lenda do Herói”, esse é o principal motivo para o aumento no custo do produto final. Já para Juno Cecílio, CEO da “Gixer Entertainment”, outra desenvolvedora independente, criadora do projeto “Changer Seven”, que se encontra em desenvolvimento atualmente, existe um fator ainda mais sensível.

 

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"Changer Seven", jogo de Juno Cecílio                                                 Foto:Divulgação/Gixer

 

Juno defende que existe uma estratégia de mercado mais agressiva por parte das empresas, que almejam maximizar sua receita em cima de um público fiel e cada vez mais disposto a pagar por franquias conhecidas. O grande problema, é que não existe um teto que defina até onde uma corporação queira ganhar, o que acaba sucateando o setor. O desenvolvedor faz um comparativo com outros setores no Brasil, como o de faculdades, que são compradas, demitem o corpo docente e substituem-no por profissionais mais baratos e revendem para o próximo, que fará o mesmo. Esse caso pode se observar na faculdade Anhembi Morumbi, que sofreu demissões e perdas massivas na grade horária após ser comprada pelo grupo Ânima Educação em 2021, como afirma uma matéria publicada na UOL em 2023.

Mas ele também aponta para outro fator, que também é abordado pela Dumativa, a falta de regionalização do preço. Quando um jogo chega no Brasil apenas convertido pela taxa do dólar, sem considerar a realidade do poder de compra local, ele acaba se tornando um produto quase que de luxo, e é nessas situações que observamos preços como os R$ 500,00 de Mario Kart World. A maioria dos jogos independentes já consideram fatores regionais quando lançam seus produtos em outros países, mas as produções de empresas grandes, como Nintendo, Ubisoft e Activision não, o que agrava uma ideia de “ganância” por parte dessas empresas.

Oferecer preços acessíveis ao consumidor é importante por inúmeros fatores, e um deles é justamente oferecer a experiência de jogo para um público mais amplo. Para muitos fãs de videogames, é extremamente doloroso, apesar de não chegar a um estágio extremo, ser privado de jogar algum jogo que goste devido ao seu custo elevado.

Gabrielle, por exemplo, diz que se sentiria mal caso fosse impedida de comprar um lançamento que estivesse com vontade de jogar. Ela alega que tem vontade de jogar o “Persona 3 Reload” a cerca de um ano, mas até hoje não o fez devido ao alto custo do jogo. Ela conta que até pensou em piratear a mídia apenas para consumo, e pagar por ela quando tivesse a oportunidade – igual já fez com outras franquias – mas que os sistemas que as empresas andam colocando em seus produtos, dificultam muito a pirataria. Gabriel Merino passa por uma situação similar, ficaria chateado caso não conseguisse comprar um jogo devido ao preço, mas também não compraria um jogo à preços exorbitantes mesmo se tivesse as condições para isso.

Lançar os jogos à preços acessíveis é essencial para que essas pessoas consigam consumir a mídia que desejam sem precisar se arriscar na pirataria ou pagar valores elevados. Além disso, é essencial para a criação de um consumo saudável. Nas palavras de Juno, quando um jogo lança à um preço compatível com a realidade do brasileiro, ele vende mais e ajuda a fortalecer o mercado e a comunidade local, e a trazer mais espaço para as empresas no País. Um exemplo foi o “Hollow Knight: Silksong”, lançado pela Team Cherry em setembro desse ano. O preço de R$ 60,00 cobrado pela mídia fez com que ela vendesse muitas unidades em um único dia – culminando na queda dos servidores da plataforma de compras Steam.

As empresas e publicadoras são as primeiras que podem participar na criação de um preço mais acessível e justo para o bolso da população. Grandes empresas e distribuidoras (Nintendo, Ubisoft, Microsoft) podem ajudar aprimorando a regionalização de preços, levando em conta o poder de compra de cada país; aprimorar a educação e formação de talentos, o que em longo prazo reduz o custo de produção global; oferecer programas de incentivo e parcerias com estúdios locais, o que acaba por gerar mais empregos, e visibilidade.

Quanto às empresas independentes, não se pode transferir as mesmas responsabilidades, uma vez que estas não tem o mesmo poder financeiro que as “gigantes do setor”. No entanto, elas podem e devem estabelecer métodos de acessibilidade nos preços de seus jogos, e algumas já tomam as providências, apesar de este ser um dos maiores desafios para essas instituições.

A Dumativa têm feito uso dos sistemas de financiamento coletivo em seus lançamentos, isso ajuda as empresas a terem uma base financeira mais sólida antes mesmo do lançamento, além de estabelecer uma relação saudável com empresa e consumidor, a partir do sistema de recompensas e conteúdo adicional dependendo de quanto cada pessoa optou por investir no jogo, além do próprio produto completo após o lançamento.

Já Juno, da Gixer, amplia ainda mais sua visão, para ele, jogos independentes não precisam competir com os grandes lançamentos em preço, na realidade, esses lançamentos têm de entregar valor percebido, autenticidade e qualidade dentro de seu escopo. Além disso, ele acredita que uma das melhores formas de equilibrar as contas sem depender do preço cheio é a diversificação de fontes de receita, e podem fazer isso por meio do lançamento de edições digitais com bônus, participação em festivais e até mesmo outros tipos de produto, como colecionáveis, histórias em quadrinho e até trilhas sonoras.

Outra ajuda também pode vir das próprias lojas, plataformas como a Steam se destacam quando o assunto é tornar seus preços mais acessíveis. Além da abundância de promoções, principalmente em datas comemorativas, que podem levar um preço de R$ 200,00 a R$ 40,00, a plataforma criou um sistema de famílias, que permite que um grupo de pessoas compartilhem a mesma biblioteca, podendo jogar jogos que pertencem à conta de terceiros (desde que inseridos na mesma família, cujo limite de pessoas é seis).

 

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Logo da loja digital Steam                                                                           Foto: Divulgação/Steam

 

Para Gabrielle Rodrigues e Gabriel Merino, que participam da mesma família alegam o quão benéfico isso é para eles, ambos afirmam como conseguiram ter mais acesso à jogos que não conseguiriam ter de outra forma, além da possibilidade de repartir os custos com os membros do grupo. Gabrielle afirma que financeiramente a família Steam é algo divino.

 

Movimento nas lojas aumentam conforme as épocas temáticas do ano vão chegando
por
Nathalia de Moura
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24/10/2025 - 12h

Por Nathalia de Moura

 

Entre o vai e vem e o sobe e desce das pessoas, a 25 de Março é o centro das vendas, principalmente em épocas como Carnaval, Natal e Halloween. Cores, brilhos, formas, luzes, ocupam as fachadas das lojas fazendo cada cliente lembrar que as bruxas chegam em 31 de outubro, o Papai Noel dará o ar da graça em 25 de dezembro e o Carnaval em breve tomará conta das ruas do País. 

A correria para atender o cliente que precisa de uma abóbora laranja e gigante, a atenção para cortar o tecido para a roupa do velhinho do Polo Norte ou até mesmo separar as lantejoulas para a confecção da fantasia faz parte do dia a dia das vendedoras do centro de São Paulo. Marlene tem 53 anos e veio atrás dos sonhos na capital paulista aos 16. Hoje fala com muito carinho no orgulho em fazer parte desses momentos. Com um sorriso, mas a voz embargada e os olhos marejados, relembra a dificuldade de se iniciar nesse mundo dos produtos de aviamentos e sazonais. Sempre sonhou em ter o que possui hoje, e mesmo com tantos patrões desacreditando de seu potencial, conseguiu ir atrás daquilo que a motivava: a arte do artesanato.

Os produtos chegam na loja e dali, são transformados em grandes realizações. Ela conta que nada é mais gratificante do que poder ajudar alguém que nem sabia o que estava procurando e encontra ali no seu estabelecimento. Na correria dos dias, as horas passam, a agitação aumenta, o fluxo cresce. Cada cliente fica um tempo observando aquele ambiente repleto de oportunidades. Oportunidade de fazer algo diferente do ano anterior, a chance de colocar uma cor diferente na decoração, de enfeitar a casa com pisca-pisca ou até fazer a festa temática do dia das bruxas que não aconteceu antes.

Na salinha apertada, rodeada de papelada importante e também do quadro estampando a foto da sua família, Marlene contava que proporcionar produtos de qualidade aos clientes a transforma. Pode ser que o Papai Noel não seja vendido hoje, que a abóbora gigante ainda passe despercebida ou o letreiro de “Feliz Natal” não seja usado, mas ela segue acreditando que cada fio, botão ou glitter pode ser utilizado em outros momentos justamente para não ser desperdiçado.

Ao andar pelas lojas, percebemos os olhares atentos nas promoções, o barulho dos comentários ao ver uma peça exposta ou as perguntas em relação aos preços. Para lá ou para cá, a multidão toma conta dos ambientes. Mesmo antes dos dias de comemoração, as pessoas fazem questão de irem em busca do que procuram o quanto antes. Mas sempre tem os que preferem comprar aos 45 minutos do segundo tempo. Na pressa para conseguir atender todos os clientes, Elen, funcionária que enfrenta todas as épocas corridas de venda do ano, fala que em alguns momentos, não consegue dar a atenção que as pessoas merecem. Seu olhar acompanhava a chegada e a saída dos clientes na loja. A atenção é máxima em um lugar que a exige a todo tempo.

No meio das linhas, botões e tecidos, a cearense de sotaque presente e forte expressa que nem imagina as diversas possibilidades que podem sair dali na sacola de cada pessoa. Uma linha pode se tornar mais de uma peça no Carnaval do Sambódromo do Anhembi ou nos bloquinhos pela cidade. E quando ela pensa nisso, os olhos até brilham em saber que, de alguma forma, fez parte daquilo.

A oferta e a demanda não param, assim como a agitação que só o ambiente da mais conhecida rua de comércio paulistana é capaz de proporcionar. Pelas ruas da 25 de março andam jovens, idosos, mulheres e homens carregando pequenas sacolas ou grandes volumes de mercadorias. De um lado o consumidor, do outro o vendedor. Ambos sabem que precisam um do outro, principalmente nessas épocas agitadas do comércio. Para Marlene, inspirar pessoas com seu empreendimento é motivo de orgulho. Em meio aos elogios que sua loja recebe, ela sempre sai com o sentimento de missão cumprida ao ver seus clientes com as sacolas recheadas de produtos que farão a diferença em épocas que se tornam especiais nas particularidades de cada um.

Segundo levantamento da empresa Statista, serviços de entrega devem movimentar US$ 6,3 trilhões no mundo até dezembro
por
Giovanna Montagner
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29/06/2021 - 12h

Foto: Marcello Casal Jr | Agência Brasil

 

Com o avanço da pandemia da Covid-19, as compras online aumentaram. O mercado de delivery se tornou uma necessidade com a chegada da pandemia em 2020, estimulando o consumo e influenciando hábitos da população. Segundo o levantamento feito pela Statista – empresa especializada em dados de mercado e consumidores –,  estima-se um movimento de US$ 6,3 trilhões no delivery em todo mundo até dezembro.

Dados do setor mostram um salto de 155%, entre março e abril do ano passado,  em relação aos usuários de plataformas como Rappi, iFood e Uber Eats, quando o estimado para o período era de 30%. O crescimento de pedidos também acompanhou o crescimento de usuários, atingindo expressivos 975% de aumento.

O levantamento mostra o Brasil como destaque no segmento de delivery na América Latina em 2020. O País foi responsável por quase metade dos números do delivery, com 48,77%, seguido por México e Argentina, com 27,07% e 11,85%.

Reconstrução do Food Service e a mudança no consumo

Com os novos canais de vendas, o conceito de Food Service foi reconstruído e modernizado. A transformação no modo de comprar veio ao encontro com a profissionalização do marketing digital na gastronomia, vista principalmente na construção de plataformas e estratégias de vendas no delivery.

Comecei a trabalhar com delivery já na pandemia. E praticamente todos os clientes mandaram entregar ao invés de retirar na loja”, diz a empresária Natalia Kobbach, dona da Nati Gentil Brigadeiros – café especializado em bolos e brigadeiros, localizado na cidade de Mirandópolis.

A transformação digital também acelerou tendências criadas entre 2018 e 2019, como take away, quando você retira na loja, e o grab and go, no qual o consumidor vai ao restaurante, escolhe uma refeição que já está pronta, compra e vai embora.

Muitos profissionais tiveram de se reinventar e transformar o isolamento social em oportunidade para seus negócios. Foi assim que a confeiteira Patrícia Rezende,  que trabalha com delivery na região da Saúde e do Grande ABC/SP,  viu na pandemia uma oportunidade.

“As festas que estavam marcadas foram canceladas e eu comecei a oferecer bolos caseiros, voltei ao meu ponto inicial. Reduzi as grandes festas por pequenos kits. No meio de tanta turbulência, minha cartela de clientes aumentou.”

A aposta por bolos simples, pequenos e mais baratos, assim como doces caseiros e kits especiais, é uma das mudanças adotadas por confeiteiros para manterem seus negócios.

Por outro lado, Kobbach explica que, com o passar do tempo, as pessoas ficaram cada vez mais cansadas de não poder comemorar e começaram a procurar bolos de aniversário, sempre no menor tamanho, para pouquíssimas pessoas.

Ela enfatiza que não desistir do negócio é fundamental, apesar das dificuldades. Não é só saber fazer e nem vender o seu produto, é administrar as contas, o estoque, os funcionários, seu tempo, sua vida pessoal e proporcionar os melhores momentos para o cliente.

Imagem da capa: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Diferentes estratégias de vendas adotadas pelos produtores, como delivery e e-commerce, e a adoção do cultivo de plantas como hobby pelos brasileiros, ajudaram alta no setor
por
Ana Vitória Marcelino Borges
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28/06/2021 - 12h

A jardinagem está se tornando um dos mais novos e promissores setores da agricultura brasileira na pandemia. Plantas e flores estão se tornando cada vez mais um objeto de conforto para as pessoas que se veem presas dentro de casa nesta pandemia. Este novo hobby proporciona uma sensação de conforto e paz para os consumidores, além de deixar suas casas mais bonitas e aconchegantes. Mesmo com a expectativa de baixa no mercado no começo de 2020, o ano ainda fechou com registro de alta para o setor, o que marca um grande interesse do consumidor, e uma boa previsão para os anos seguintes.

Lojistas e produtores vêm surgindo com novas estratégias de venda e distribuição, o que tem sido fundamental para a ascensão desse mercado. Uma das razões para os bons números esperados neste ano. Segundo o Instituto Brasileiro da Floricultura (Ibraflor), essa mudança no perfil do consumidor, agora voltado para a decoração de suas casas, e os novos formatos adotados pelos vendedores, como o delivery e o e-commerce, devem proporcionar um crescimento de 5% no mercado em 2021.

Ainda segundo o Ibraflor, houve um aumento registrado por alguns produtores de até 20% nos negócios. O que acontece é que um crescimento de 5% ainda é pouco considerando os anos anteriores à pandemia. A decaída no setor de festas e eventos fez com que as vendas de flores de corte caíssem consideravelmente, o que deixa os 8.200 produtores da área dependentes majoritariamente da venda de plantas.

Mesmo assim, esse novo interesse pelo plantio e por plantas em geral vem assumindo um papel muito importante na vida do consumidor brasileiro. É o que diz Aline Jorge, dona da loja online Botanismo, criada em 2020, “Nasci na pandemia, mas percebo sim o aumento da procura das pessoas por produtos que possam inspirar mais suas vidas e trazer mais inspiração para o cotidiano, que é um dos objetivos do Botanismo”.

Ela acrescenta que a marca vem crescendo desde o seu nascimento, em setembro de 2020, e que a cada mês a margem de lucro tem aumentado. A loja Botanismo é um e-commerce de objetos inspirados e com temas de plantas e flores, o que explica essa nova atenção do consumidor pelo assunto. Outro meio digital que explora esse interesse são podcasts e blogs botânicos. A PlantaconsCiência, por exemplo, é um blog criado por alunas da Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq), que tem como proposta “divulgar ciência para aqueles que não têm acesso direto à academia e também para os próprios cientistas”, segundo matéria no site da Esalq. A própria instituição divulga esse projeto pelo podcast Estação Esalq, que também trata do assunto.

Em entrevista publicada no Jornal da USP, a psicóloga Leila Tardivo explica que “um ambiente agradável é capaz de melhorar o astral” e que “estar num lugar onde se sente bem é superimportante”.

Ao adotar esse hobby, o consumidor brasileiro ajuda no crescimento do setor no Brasil, fazendo com que lojas de plantas tenham uma oportunidade de ficar no mercado durante a pandemia.  O que não significa que tais lojas não tiveram que fazer mudanças para se adequar ao ambiente pandêmico.

”Como no começo da pandemia passamos por algumas dificuldades, fechamos a loja física e começamos a fazer o atendimento por Whatsapp, com a entrega dos produtos feita por delivery” conta Caroline Carvalho, responsável pela comunicação e marketing da loja Selvvva. “No começo da pandemia, foi necessário reduzirmos a equipe e a oferta de produtos e plantas. Posteriormente, alinhamos mês a mês conforme as demandas, e fizemos algumas novas contratações. Com relação aos produtos e plantas, em alguns momentos foi necessário diminuir a quantidade, em outros, fomos surpreendidos pela necessidade de aumento”, acrescenta Caroline.

Ainda assim, esse interesse pelo assunto se manteve alto nas pesquisas durante 2020, de acordo com o Google Trends. Apesar da informação acessível, as dúvidas são muitas entre os leigos. O que faz com que as lojas de plantas e artigos botânicos criem ou adicionem em suas contas no Instagram dicas e artigos de como cuidar, cultivar e plantar cada tipo de planta. Exemplos de contas no Instagram que foram criadas somente para estes propósitos são @plants.be e @prof.cactus.e.suculentas, que ajudam o consumidor a entender o mundo do plantio e, em alguns casos, vendem folhetos e artigos informacionais, sendo assim uma fonte de renda para o dono da conta.

 

Mesmo na pandemia, moeda local em Fortaleza estimula a economia e o crescimento de pequenos negócios
por
Sarah Catherine Seles
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27/06/2021 - 12h

A construção do Banco Palmas em 1998, o primeiro banco comunitário do Brasil, surgiu a partir da necessidade dos moradores do Conjunto Palmeiras, localizado na periferia de Fortaleza. Joaquim Melo, fundador do banco, conta que a urbanização do bairro fez com que o custo de vida aumentasse. “Em meados dos anos 90, quando o bairro foi urbanizado, começaram a chegar conta de água, luz, telefone, IPTU, essas taxas todas, e as famílias mais pobres começaram a vender os barracos e ir morar em outras favelas.”

A pergunta “por que nós somos pobres?” foi o fio condutor para compreender o estilo de vida das pessoas. A maioria das respostas foi: pela falta de dinheiro. Por isso, Melo e alguns companheiros do bairro decidiram realizar uma pesquisa sobre o hábito de consumo das famílias. O Mapa da Produção e do Consumo Local apontou que as compras mensais das famílias somavam R$ 1,2 milhão, com cerca de 25 mil moradores na época. “E se viu que a maioria das pessoas ali, por mais pobres economicamente que fossem, já tinha algum dinheiro circulando, o grande problema é que tudo vinha de fora do bairro”, conta Melo. 

Após analisarem a situação, surgiu a ideia de criar um banco comunitário para que o capital girasse entre os negócios locais. “Começou como um projeto de desenvolvimento local, mas a ideia sempre foi criar um circuito econômico local onde as pessoas pudessem consumir e produzir aqui mesmo”, explica o fundador. 

Um empréstimo inicial de R$ 2 mil da ONG Ceará Periferia deu início ao banco. “E o que a gente tinha era muito simples: um cartão de crédito de papelão que era feito no mimeógrafo. A gente organizou a carteira de crédito e nem tinha computador na época, nem tinha internet, a gente tinha um caderninho para fazer a contabilidade”, lembra. Os empréstimos eram feitos para os moradores, com intuito de incentivar os pequenos negócios do bairro. 

Além disso, a criação da moeda “palmas” foi essencial para que a circulação de dinheiro dentro da comunidade fosse efetiva, sistema que perdura até hoje. “A essência do banco comunitário, a sua natureza e seu maior serviço, é fazer esse dinheiro circular localmente. Quando o dinheiro circula localmente gera trabalho, gera renda. Então a moeda social é o coração da atividade do banco”, explica o empreendedor. 

A iniciativa se popularizou ao longo dos anos e se estruturou como Instituto Banco Palmas, que também oferece cursos profissionalizantes, oficinas e projetos para a comunidade. O banco passou a apoiar a criação de iniciativas similares em outros municípios do Brasil, formando a Rede Brasileira de Bancos Comunitários. “Cada município com seu próprio banco, mas todos foram criados e acompanhados inicialmente pelo Banco Palmas”, conta Melo. Hoje o banco funciona em todo país por meio da plataforma digital E-dinheiro. 

As ações impulsionaram a vida de diversos moradores, reunindo diversas trajetórias de vida junto ao banco. Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará mediu o impacto da iniciativa para os moradores e 90% apontaram melhora na qualidade de vida. “Não é só emprestar o dinheiro, é ajudar as pessoas a se mobilizarem, a se organizarem, a participar da comunidade e criar essa conexão com o bairro, com a vida e com a economia”, diz Melo. 

Katiana Oliveira, 38, moradora do Conjunto Palmeiras desde 1989, é um dos exemplos citados pelo fundador. Ela conheceu o Banco Palmas em 2013, quando precisou de um empréstimo para uso pessoal. Nas idas ao banco para pagar as parcelas, ela soube dos cursos oferecidos e se inscreveu para gastronomia e corte e costura. 

Após as especializações, Katiana participou da Oficina de Educação Financeira, que a ajudou a conquistar sua independência financeira e emocional. “Eu me apaixonei [pela educação financeira] porque comecei a aprender a administrar o dinheiro”, conta. Hoje, além de ser presidente do Centro de Nutrição e coordenadora do Prato Colorido (que oferece os cursos), ela também é assistente social do Banco Palmas. 

"Também participei de uma roda de conversa sobre empoderamento feminino e descobri que sofria violência psicológica e comecei a trabalhar nisso no grupo, me fortalecendo com as minhas colegas”, lembra Katiana. Ela descreve mudanças em todas as áreas de sua vida, tanto em seu ambiente familiar, quanto profissional. 

Então, a empreendedora enxergou potencial dentro da comunidade e desenvolveu projetos, oficinas, cursos e rodas de conversa. Como a Cozinha Delas, criada para auxiliar mulheres que passaram pelas mesmas situações que Katiana. O principal intuito é arrecadar dinheiro para as mulheres da comunidade com a venda dos pratos que aprenderam a fazer nas especializações. Eu não queria sofrer mais nenhum tipo de violência e eu queria que outras mulheres tivessem a oportunidade de superar e criar suas iniciativas e suas ações para sair dessa situação”, conta. 

Durante a pandemia, a desigualdade social foi escancarada e acentuou a fome no país. Por isso, Katiana utilizou seus projetos para lançar a campanha “Bucho Cheinho”.  Ela explica: “A ideia é que ninguém fique com bucho vazio nessa pandemia. Então a gente lançou essa campanha de arrecadação de alimentos, de doação de dinheiro e cesta básica, [sempre] acompanhando as famílias, fazendo monitoramentos, fazendo visitas”. 

Além da alimentação dos brasileiros, o período pandêmico acentuou a crise econômica que o Brasil já enfrentava. A Pesquisa Pulso Empresa, realizada pelo IBGE, mapeia o impacto da Covid-19 nas empresas, realizada em julho de 2020, os negócios representaram mais da metade dos estabelecimentos fechados apenas no primeiro semestre do ano e mais de 716 mil fecharam desde o início da pandemia. 

Os bancos comunitários, no entanto, foram em outra direção. Apesar do impacto sobre os pequenos negócios, houve um aumento nas empresas registradas na plataforma E-Dinheiro. “Por outro lado, os bancos comunitários cresceram na pandemia, pelo fato de serem digitais e estarem presentes na periferia. Nós recebemos muitas doações, tanto do poder público, da prefeitura, como do empresariado”, comenta Joaquim Melo. 

A Rede Brasileira de Bancos Comunitários, em conjunto com os líderes locais, criou contas digitais para os moradores. Com doações de R$ 100 a R$ 200, eles puderam comprar do comércio do próprio bairro, “salvando a vida das pessoas porque tinham o que comer e salvando também as economias locais”, conclui Melo. 

Coletores menstruais, absorventes de pano e calcinhas absorventes ganham espaço como opções mais econômicas e ecológicas
por
Heloisa Tiemi Shibuya
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27/06/2021 - 12h

Embora a menstruação continue sendo um tabu na sociedade, muitas mulheres têm falado abertamente sobre o assunto e comentado sobre terem trocado os absorventes descartáveis convencionais por utensílios mais sustentáveis durante o período menstrual. Dentre eles, estão os coletores menstruais, calcinhas absorventes, absorventes de pano e outros produtos que produzem menos lixo e podem ser usados a longo prazo.

Em uma pesquisa feita pela Agemt em um grupo do Facebook, a maioria das 26 mulheres que responderam disseram que nunca haviam usado coletor menstrual ou calcinha absorvente, entretanto, também manifestaram que têm vontade de experimentar esses produtos.

Quanto às respostas das mulheres que já usavam coletores ou calcinhas absorventes, grande parte delas disseram que sentiam incômodo físico ou alergia quando utilizavam as opções descartáveis. Elas também afirmaram ter economizado ao adquirir os produtos que duram por um longo tempo e não exigem a aquisição mensal, como os absorventes comuns. Além disso, ao final da pesquisa, cerca de 80% das mulheres disseram crer que os coletores menstruais e calcinhas absorventes vão se tornar uma tendência de consumo pela praticidade e sustentabilidade que oferecem.

Bianca Pavanello, estudante de música do Conservatório de Tatuí, decidiu usar o coletor por motivos parecidos aos das entrevistadas pela pesquisa. Ela tem gostado bastante do produto e percebeu que economizou bastante ao adquiri-lo. “Na minha casa três pessoas menstruam, então eram vários pacotes de absorvente todos os meses. Hoje nós reutilizamos e não nos preocupamos em gastar aquela ‘grana’ alta”, conta ela.

Nathalia Silva, que utiliza o seu Instagram para falar um pouco de tudo, mas principalmente de assuntos que envolvem beleza e saúde, diz que comprou o coletor por ter incômodos e alergias na região íntima. Ela conta que a experiência tem sido positiva. “É meio complicado mesmo para colocar, mas é só uma questão de prática e paciência, pois, assim que você consegue, você sequer sente o coletor. É confortável para todas as atividades, eu danço, vou à piscina, durmo sem calcinha, faço exercícios e ele continua ali, no lugar, sem vazar ou manchar roupas.”

As marcas mais procuradas desses produtos são: a Korui, Pantys, Inciclo, Fleurity e Herself. Em reportagem publicada em março desse ano na revista Exame, a Inciclo diz que conseguiu crescer 156% em 2020, contratou 50 funcionários e abriu 600 novos pontos de revenda. A Korui também afirmou que “houve um aumento significativo nas vendas”, em entrevista realizada para a Agemt. A marca também conta que já tem novos produtos em fase de criação, e, depois de abrir uma loja física em São Paulo, pretende expandir para mais locais.

Mesmo a menstruação deixando de ser um tabu entre as pessoas ao longo dos últimos anos, ainda há muitas que não têm acesso ou condições de comprar absorventes internos ou externos, questão chamada pobreza menstrual. Segundo a ONU Mulheres, das 1,8 bilhão de pessoas que menstruam ao redor do mundo, 12,5% delas têm dificuldades em todos os ciclos para obter produtos menstruais, produtos de higiene geral e até mesmo saneamento básico, banheiros próprios, água tratada e educação adequada para saber lidar com o período. Em torno de 1 bilhão de mulheres não possui acesso a um banheiro seguro e limpo e outras 526 milhões não têm sequer um banheiro em casa.

Apesar disso, a menstruação tem sido pauta para questões ambientais que impulsionam a demanda por produtos como coletores e calcinhas absorventes. O aumento das vendas das marcas que fabricam esses produtos mostra uma divulgação maior desses produtos, não apenas pelas marcas, mas também por quem os utiliza. Nathalia fez uma série de stories em seu Instagram falando sobre sua experiência com o coletor menstrual e recebeu diversos feedbacks de pessoas que compraram o produto. “Recebi inúmeras mensagens de meninas que compraram o coletor ou o disco menstrual ou ficaram interessadas em saber mais, o que é muito bom. A partir daí, senti que o que eu levaria para elas deu muito certo, pois é mais do que influenciar a compra de um produto, é adotar um hábito mais benéfico para nossa saúde íntima e assim se conhecer melhor. Fiquei muito feliz”, diz ela.

Imagem da capa: Ilustração de coletores menstruais| Via: Toda Teen - UOL

 

Longe do público e com oportunidades reduzidas, profissionais comemoram prorrogação de auxílio da Lei Aldir Blanc
por
Bruna Janz
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26/06/2021 - 12h

Em março de 2020, quando foi declarada a pandemia do novo coronavírus pela OMS, as aglomerações e os eventos sociais foram suspensos. Em meio ao cenário da crise de saúde brasileira, os profissionais da cultura foram duramente prejudicados, com 458 mil postos de trabalho, tanto formais quanto informais, perdidos ao final do ano passado, em comparação com o último trimestre de 2019, segundo informações do Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural.

Antes da pandemia, o segmento cultural, junto com o setor criativo, movimentava cerca de R$ 171,5 bilhões por ano, correspondente a quase 3% da riqueza nacional. A previsão era de que esses segmentos gerassem R$ 43,7 bilhões para o PIB brasileiro até 2021, porem 35% desse valor deixou de ser gerado devido às paralisações causadas pela crise do novo coronavírus, como foi apresentado nos resultados preliminares da pesquisa Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil, divulgados em 29 de abril e feita pela Universidade de São Paulo (USP).

No terceiro trimestre de 2020 que a Lei Aldir Blanc entrou em vigor, prevendo uma renda emergencial de três parcelas de R$ 600 para profissionais da cultura, além de um subsídio mensal de R$ 3 mil a R$10 mil para a manutenção de pequenas empresas, organizações culturais e espaços artísticos que ficaram paralisados.

Também foi disponibilizado um montante de R$ 3 bilhões, repassado pelo governo federal para o pagamento desse auxílio. Porém, segundo o Ministério do Turismo em abril de 2021, 25% desse valor, que corresponde a R$ 773,9 milhões, não foram utilizados nos 120 dias do prazo inicial, permanecendo, assim, nas contas dos Executivos locais.

Esse atraso na utilização da verba destinada aos profissionais da cultura ocorreu devido a irregularidade de diversas regulamentações que deveriam ser feitas por prefeitos e governadores dentro do prazo inicial. Assim, em 21 de abril de 2021, foi aprovado um projeto de lei que reformulou a Lei Aldir Blanc, permitindo aos Estados e Municípios a utilização do saldo remanescente do montante até dia 31 de dezembro.

A prorrogação da lei foi vista como uma vitória por muitos do setor cultural, já que ainda não existe um meio viável para criar ambientes presenciais seguros para muitos segmentos artísticos, e o auxílio permite que muitos profissionais mantenham seus trabalhos. 

O ator, pesquisador e estudante Pitágoras Lemos ressalta que a Lei Aldir Blanc foi sancionada em um momento altamente necessário, porém nada é perfeito. “Para muitas pessoas pode parecer só um ‘legal, ganhei 600 reais’, mas nós (artistas) precisamos continuar trabalhando, e pra isso eu preciso apresentar uma peça, uma dança, uma performance. E eu, que faço teatro, sei lidar com o público, mas não sei lidar com edição de imagem, então eu vou ter que contratar alguém que saiba, e aí esses 600 reais já se transformaram em 500, em 400... Isso é o suficiente para uma compra do mês?”

Compartilhando a mesma visão acerca do auxílio, a dançarina, professora e estudante Deborah Lugli também ressalta que continuar trabalhando não precisa significar um trabalho contínuo ou automático, e sim de forma que seja possível e acessível para cada profissional no meio virtual. “É preciso olhar para o todo, e não apenas para o individual. Então, esses coletivos que se juntaram para repensar o setor cultural devem continuar a se fortalecer, é preciso olhar para o todo”, adiciona.

Porém, os impactos no meio cultural vão muito além das questões financeiras e do auxílio emergencial. A vida longe dos palcos físicos e sem a possibilidade de trocar experiências e sensações com o público dificultam muito o trabalho dos artistas, assim como a diminuição das oportunidades no mercado de trabalho  e a maneira com que o governo tem tratado as questões referentes ao setor. 

“Quando a gente está finalizando a graduação, é um momento complicado, é um momento de caminharmos com as próprias pernas, mas descobrir isso no meio de uma crise sanitária, em um momento que tudo se transformou, é bastante difícil de lidar, porque a cena mudou, e ter estudado a cena presencial e me formar na cena digital nesse período da crise é algo difícil de entender”, aponta Deborah.

Já para Pitágoras, a falta de contato com os espectadores é o principal desafio: “Há a perda da troca, da crítica. O que é apresentar para uma tela? Como é para o público receber isso? Nós não sabemos mais, tudo é mediado pelo computador, não há mais troca física”.

Sem mais a possibilidade de juntar um público, as peças via Zoom, lives no Instagram, exposições virtuais e até ensaios fotográficos via FaceTime explodiram por todo o país, e mesmo entre tantas dificuldades, os artistas ainda veem no cenário digital, uma premissa para o futuro, afirmando que dificilmente haverá o rompimento com o virtual, por já ter se tornado uma camada incorporada à arte, capaz de conectar pessoas de todo o Brasil e do mundo em um único lugar.

Ainda assim, as soluções à distância não são o bastante para manter economicamente os mais de 6 milhões de profissionais que trabalham no segmento cultural, tornando um subsídio do Estado uma necessidade para todo o setor, que deverá ser o último a retomar as atividades presenciais, em razão das medidas sanitárias necessárias para tal acontecimento.

Foto da capa: O ator Luis Carlos Shinoda, fundador do Cangaias Coletivo Teatral. Imagem de divulgação da peça "Na colônia penal", transmitida pelo YouTube.