A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Modelo que combina aulas remotas e presenciais atrai empresas, mas é visto com ressalvas por educadores
por
Isabela Cagliari
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01/06/2021 - 12h

Em meio à pandemia do coronavírus, a educação foi uma das áreas mais afetadas. Sendo assim, o ensino, que antes era presencial, passou a ser remoto ou, em alguns casos, foi suspenso por falta de recursos. Diante do panorama, uma nova proposta educacional começou a emergir: o ensino híbrido.

Falta de acesso à internet e baixo investimento governamental foram algumas das barreiras que o ensino público enfrentou com a epidemia no Brasil. Enquanto escolas e universidades privadas conseguiram ingressar no modelo on-line, faculdades públicas de renome – como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – chegaram a ter suas aulas paralisadas.

Na contramão disso, grandes empresas privadas do setor educacional cresceram no mercado durante o período. A Ser Educacional, por exemplo, viu seu lucro aumentar 21% em 2020. Outras gigantes do ramo, como Yduqs e Cogna, também chamaram a atenção em seus indicadores lucrativos, mas tiveram queda de, respectivamente, 30,3% e 85,3% no lucro do ano passado.

Perante as dificuldades provocadas pela Covid-19, o ensino híbrido visa mesclar a educação presencial com a remota. O método surge como uma alternativa possível para o futuro educacional do país. Com a compreensão dos ganhos e perdas de cada modelo, busca unir os pontos positivos de cada modalidade. 

Mesclando aulas on-line e presenciais, o ensino híbrido tende a ganhar espaço na educação.| Foto: Reprodução.
Mesclando aulas on-line e presenciais, o ensino híbrido tende a ganhar espaço na educação. | Foto: Reprodução.

Ensino híbrido é aposta das grandes empresas educacionais

Com a pandemia, a educação presencial perdeu espaço para o modo on-line de aprendizagem. Embora vista com resistência por professores e alunos, a aula remota foi uma opção viável em meio à nova realidade imposta pelo vírus.

No entanto, para um futuro próximo, o modelo deve sofrer alterações para atender às demandas de profissionais e estudantes. Entre as possibilidades consideradas, destaca-se o desenvolvimento de conhecimentos práticos nos espaços acadêmicos e teóricos de maneira on-line.

Pensando em grandes empresas do setor, o analista de educação Marcel Zambello afirma que o ensino a distância, nesse contexto, aparece como uma opção mais rentável financeiramente. “A transição para o EAD é muito mais vantajosa para as companhias de educação por alguns motivos: (I) margens maiores, (II) menor necessidade de investimento, (III) crescimento exponencial da base de alunos. Os únicos pontos negativos seriam a maior concorrência e comoditização do serviço de educação”, diz Zambello em entrevista concedida.

Por outro lado, os ensinos híbrido e presencial tendem a ser mais interessantes do que o EAD ou o remoto, na avaliação da fonoaudióloga Diana Faria. Afinal, os dois primeiros métodos propiciam uma interação direta entre alunos e professores, o que é um ponto positivo quando a questão é o desenvolvimento do estudante. “O ensino presencial realmente tem elementos que são fundamentais: o próprio uso dos espaços externos, das percepções que [o aluno] pode adquirir a partir do contato com a natureza, do contato com o colega, tudo isso é muito importante para o desenvolvimento cognitivo e emocional.”

Pensando em um período pós-pandemia, Zambello delimita os prováveis rumos da educação superior: “Teremos os dois formatos: híbrido e EAD. Em relação ao EAD, o foco continuará sendo na camada social menos privilegiada e que exerce atividade remunerada durante o dia”.

Dilema da rede de ensino pública

Apesar de o mercado educacional movimentar cerca de R$ 174 bilhões por ano, a rede pública acaba por não ser uma das prioridades do governo. Mesmo que o Brasil invista em torno de 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB), tendo uma porcentagem acima da média de 4,4% de outros países, o valor destinado por aluno ainda é baixo, conforme uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2019.

Nesse sentido, o ensino superior surge como o segmento da educação que mais recebe investimento no país, contabilizando um gasto anual por aluno de US$ 14,2 mil. Enquanto isso, na média de gasto anual, o Brasil soma US$ 4,5 mil por aluno. Em contrapartida, Suécia, Bélgica e Finlândia aparecem como os maiores investidores em educação, liderando o ranking de países da OCDE com um valor próximo a US$ 9,3 mil por aluno. Na América Latina, Chile e Argentina também contam com maior investimento médio, contabilizando US$ 7,7 mil e US$ 5,6 mil.

Aliás, essa diferença de investimento é vista na aprendizagem dos alunos. “As escolas públicas tiveram muito mais dificuldades para se reorganizarem, logo, estamos destacando uma defasagem ainda maior entre o aprendizado na relação público/privado”, destaca a pedagoga Daniele Ferreira Giordano. Para ela, a situação se estende para o campo universitário, considerando a dificuldade de acesso à internet por estudantes e professores de baixa renda.

Por mais que o ensino híbrido seja uma das maiores apostas das grandes empresas educacionais, isso não quer dizer que a rede pública adotará o modelo em um futuro posterior à pandemia. Afinal, as instituições que não são privadas dependem de verbas e incentivos governamentais para implementar o método. Como o ensino remoto não teve o êxito que se esperava por conta da falta de recursos, analistas e professores esperam que o modelo fique restrito às escolas e faculdades particulares.

Imagem da capa: https://blog.coursify.me/pt/ensino-hibrido-em-escolas/

 

Como a crise sanitária e política afetou a maior pesquisa estatística brasileira e o que tem sido feito para mudar essa realidade
por
Victor Paulino
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01/06/2021 - 12h

 

Foto: Dreamtime
Ilustração: Dreamstime

Nos últimos meses, uma intensa movimentação entre as entidades de pesquisa tem acontecido por conta da incerteza com relação ao Censo Demográfico do IBGE. Assim como em diversos contextos diante da pandemia causada pelo coronavírus, é com o cenário futuro indefinido que a instituição pública precisa trabalhar para exercer suas funções sociais. Aos trancos e barrancos, o mais importante estudo estatístico do país, responsável por dizer quem são os brasileiros e como vivem, foi atrasado por dois anos e as consequências da sua não realização são agravadas em decorrência da crise sanitária enfrentada no Brasil.

Regulamentada para acontecer a cada dez anos, a pesquisa deveria ter sido feita no ano passado, levando em conta que sua última realização foi em 2010. Entretanto, a pandemia no país não apresentou sinais de melhora efetiva na época e, para respeitar o distanciamento social implementado nos estados e não colocar em risco os respondentes e os profissionais do Instituto, o estudo foi adiado para o ano seguinte, com sua verba (R$ 2,3 bilhões) destinada para o combate à Covid-19. 

Em março, o Orçamento da União para 2021 foi aprovado pelo Congresso Nacional com vetos  do governo Bolsonaro e não reservou recursos suficientes para a realização do Censo. Apesar de haver promessa para que a pesquisa acontecesse ainda este ano, a redução no orçamento prevista na sanção do governo – de R$ 2 bilhões para R$ 71 milhões –  impediu que o estudo, que  já havia sido adiado,  acontecesse. 

Com recursos que não chegam perto dos  R$ 3,4 bilhões projetados pelo IBGE, troca de comando do Instituto e um futuro cada dia mais incerto, um movimento motivado pela indignação de profissionais pesquisadores com relação ao tratamento dado à classe pelo governo  surgiu a fim de garantir a realização da pesquisa em 2022 e como forma de fazer com que a função social exercida pelo IBGE seja cumprida.

Para a Assibge/SN, o sindicato nacional de trabalhadores do IBGE, a operação para a garantia do Censo em 2022 acontece não somente pelo orçamento reduzido em mais de 90%, mas também pela crise sanitária no país.

“Dentro do sindicato, a posição pela realização do Censo em 2022 é unânime, tendo como prioridade a vida e a saúde dos nossos trabalhadores e da população que nos receberá em suas casas. Com a pandemia como está, sabemos ser indefensável uma operação de tal porte em 2021”, afirma a associação.

Matheus Canário, servidor do IBGE e ex-membro da direção nacional da Assibge/SN, também falou sobre essa questão em suas redes sociais, afirmando que coordenadores do Censo no país ameaçaram entregar seus cargos caso a pesquisa acontecesse e que manter o estudo seria um risco para a população.

“Estamos no meio de uma pandemia, no ápice do número de mortes ‘diários’ [sic], que sobem a cada dia. Estados e municípios tendo colapso nos seus sistemas de saúde, e sem previsão de vacinação total da população. A orientação é de isolamento. [...] Os recenseadores irão em todas as casas. Poderão, então, ser um vetor de disseminação do vírus.”

Para tanto, no último dia 14, o Supremo Tribunal Federal determinou a obrigação do governo em tomar as medidas cabíveis para que a realização do Censo aconteça em 2022. Os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cármem Lúcia, Rosa Weber, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Ricardo Lewandowski votaram a favor da decisão que garante que a União adote medidas a favor do esforço para a pesquisa no ano que vem. A maioria venceu os votos dos ministros Marco Aurélio Mello e Edson Fachin, que votaram pela realização ainda este ano, e também de Nunes Marques, que rejeitou a decisão com a justificativa de que o Censo “não revela urgência”.

A movimentação no Supremo veio de uma ação do governo do Maranhão, que argumentou que “a falta do estudo sobre o perfil da população tem consequências na repartição de receitas tributárias, além de prejuízos para as estatísticas do país, além de ferir a Constituição”. 

De acordo com a Assibge, o próximo passo é a manifestação em prol do orçamento. “O sindicato, ainda antes do julgamento dessa liminar, reivindicou juridicamente, perante este tribunal, que sejam garantidos 240 milhões de reais ainda este ano, para garantir a continuidade dos preparativos para o Censo, além da recomposição orçamentária completa, conforme previsto em 2019, de 3,1 bilhões de reais, em 2022. Esta é a frente de luta agora, pois não se poderá garantir um Censo de qualidade com o orçamento defasado”, afirmou o sindicato na entrevista.

Para a Assibge, “um país sem o Censo é um país cego. Onde reina o negacionismo e políticas públicas são feitas na base do achismo e das fake news. Algo em acordo com a proposta do Governo Bolsonaro e destruidor para o Brasil”. 

Casos praticamente dobram no atual cenário de incertezas econômicas, perdas de familiares e medo de contágio
por
Rafaela Thomaz
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01/06/2021 - 12h

A depressão é um transtorno mental comum e estima-se que mais de 300 milhões de pessoas no mundo todo sofram dela, as mulheres sendo mais afetadas do que os homens. Quem tem essa doença geralmente sente tristezas profundas, perda de interesse, oscilações de humor e falta de ânimo. Ela, no entanto, deve ser bem tratada através de psicólogos e psiquiatras, porque em casos mais sérios pode levar ao suicídio. Além disso, esse transtorno pode fazer com que a pessoa tenha uma disfunção no trabalho, escola ou até mesmo no meio familiar. Calcula-se que uma em cada quatro pessoas na América vai sofrer de algum transtorno mental ou fará uso de substâncias ilícitas durante a vida.

De acordo com dados divulgados pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), de 2012 a 2017, 12,3% dos afastamentos por doenças no Brasil ocorreram por transtornos mentais. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 2017 mostram que 5,8% dos brasileiros sofrem de depressão, o que correspondem a 11,5 milhões de casos. Trata-se da maior taxa da América Latina e a segunda maior de toda a América, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Estima-se que 20% da população brasileira teve ou terá depressão, sendo esse o transtorno mais recorrente no país.

Imagem: Dados sobre a depressão no Brasil e no mundo | Fonte: Telavita
Imagem: Dados sobre a depressão no Brasil e no mundo | Fonte: Telavita

Durante a pandemia, a situação da saúde mental da população se agravou. Estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) constatou um aumento de 90% dos casos de depressão no país. "O isolamento social, o medo de contágio e a perda de membros da família são agravados pelo sofrimento causado pela perda de renda e, muitas vezes, de emprego", afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

A ausência de normas regulamentadoras que visem auxiliar o profissional que tenha algum transtorno mental também presentes é um problema. A norma que chega mais perto é a NR17 que se propões “estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente”. Ou seja, a norma fala apenas sobre uma readaptação do trabalho quando ele é ergonômico.

Segundo a revista Health, professores estão entre os dez profissionais mais propensos a terem depressão. Simone Fernandes, professora afastada do município de Taboão da Serra (SP), recebeu seu diagnóstico em 2012 após sofrer uma crise de pânico na escola em que dava aula e ter sido levada ao hospital. Simone levava uma rotina intensa, dando aulas no período da manhã em uma escola e logo em seguida indo para a outra. Mal tinha tempo para almoçar, mas ela dizia que fazia isso porque “almejava alguns objetivos e para isso precisava ganhar mais.”

A professora conta que demorou a aceitar que precisava de um tratamento psicológico e psiquiátrico, passando por vários outros médicos que já haviam dado indícios de que ela tinha depressão. Após o susto na escola, conseguiu uma consulta através do convênio do marido e foi afastada dos empregos por ordens da psicóloga que afirmou que ela não estava mais em condições de dar aula. Desde então, ela tentou voltar, porém as crises voltavam e até hoje continua afastada.

Simone diz que ela precisa dispor de boa parte de seu salário para pagar seu tratamento. “No SUS (Sistema Único de Saúde) não tem condições. A gente paga o Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual), mas não consegue vaga.” Além disso, Simone ainda precisa pagar por seus remédios que são caros porque, segundo ela, os que são oferecidos pelo SUS têm muitos efeitos colaterais.

Para obter seu salário, a professora precisa entregar todo mês uma nova licença e passar por uma perícia. Às vezes, contudo, a licença é indeferida e ela acaba não recebendo. Simone diz que recorreu à Justiça para tentar reverter as recusas, mas sem sucesso até o momento. “Eu não recebi até hoje.”

As consequências econômicas, segundo a professora, se multiplicam. “Eu não vou conseguir exercer minha profissão e não posso fazer outra coisa enquanto e não for readaptada.”, diz. Ela termina afirmando que sua saúde mental durante a pandemia piorou, saindo da estabilidade que tinha alcançado após anos de terapia.

A professora Simone precisou, e ainda precisa, pagar por seus tratamentos. Porém muitas empresas têm mudado, começando a oferecer ajuda para os trabalhadores cuidarem da saúde mental. A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) é uma delas.

Conforme a professora de psicologia, Paula Peron, que coordena a Rede de Apoio e Acolhimento em Saúde Mental da PUC-SP, os professores que precisarem podem usar a Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic da Universidade, onde eles realizam uma triagem específica e acelerada para toda a comunidade – incluindo alunos e outros funcionários). “Há também um projeto desenvolvido no início da pandemia, com parceria entre a Clínica e a Procrc (Pró Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias) e seu Grupo de Trabalho de Saúde Comunitária, para acolhimento online, também extensivo à toda comunidade PUC.” Todos os serviços são gratuitos.

Já no Colégio COC Santa Rosália de Sorocaba, interior de São Paulo, a situação é outra. De acordo com a coordenadora Annaluci Corrrêa, a escola não oferece tratamento psicológico gratuito, apenas um convênio médico que os professores podem aderir ou não. Porém, há um impacto econômico direto e indireto quando o professor está apto a dar aulas. Primeiro, a qualidade do serviço cai. Segundo, quando o professor precisa se ausentar por problemas de saúde mental, a escola precisa encontrar outro profissional, o que representa um custo. “O magistério já é uma profissão que suga muita energia emocional e física, mas em tempos de pandemia isso está ainda mais exacerbado”, afirma Annaluci.

Imagem da capa: luxorphoto via Shutterstock

Em um cenário com maior número de pessoas jurídicas e investidores, tendência é que o segmento seja cada vez mais procurado
por
Thiago Pereira
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01/06/2021 - 12h

Dia 18 de maio de 2021. Não parece, mas há um ano já enfrentávamos a maior crise de saúde pública dos tempos modernos: a pandemia de Covid-19. O coronavírus, causador da doença, e a situação de isolamento social trazida por ele exigiram que o mundo repensasse muitas coisas: gastos foram cortados, relações interrompidas e vínculos remanejados. Está provado que as medidas de distanciamento tomadas para conter a disseminação do vírus foram, e em alguns países ainda são, essenciais para ajudar o sistema de saúde  a lidar com a sobrecarga em uma pandemia. Contudo, embora necessárias, essas ações acabam por causar outros problemas, como o aumento do nível de desemprego.        

Seja por vontade própria ou por necessidade, a deterioração do mercado de trabalho foi um dos fatores principais que fizeram o brasileiro buscar novas alternativas de renda para o seu dia a dia, e o empreendedorismo e a interação no mundo dos investimentos vêm se destacando. Segundo Carlos Melles, diretor-presidente do Sebrae, para a revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, “o desemprego está levando as pessoas a se tornarem empreendedoras. Não por vocação genuína, mas pela necessidade de sobrevivência”. Segundo pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) com dados da Receita Federal, o número de novos registros como Microempreendedor Individual (MEI) bateu recorde em 2020, por exemplo. Foram 2,6 milhões de formalizações, a maior adesão dos últimos 5 anos. Junto das 7,5 milhões de micro e pequenas empresas, esse setor da economia representa 99% dos negócios privados do país. Ao mesmo tempo, no mesmo período, o total investido no Brasil por pessoas físicas não só cresceu, como bateu seu recorde: R$ 3,7 trilhões. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), o ritmo de crescimento do estoque dos investidores em 2020 foi de 13,4%, um dos maiores da história.

Mesmo que tenha crescido o número, isso não quer dizer que a aplicação deu resultado para o investidor. O mercado pode ser enganoso e traiçoeiro às vezes, e por isso é importante estar atento a alguns pontos antes de se investir em uma empresa, como as demonstrações financeiras, o balanço patrimonial e a relação entre a dívida bruta e o patrimônio líquido.

Além desses, outros fatores também influenciam na hora de estudar possíveis investimentos, e, dentro desse mercado, existe quem seja especialista nessa matemática não tão precisa. São os bancos de investimento. Os bancos de investimento têm um foco diferente dos bancos “convencionais”, e para ajudar a entender melhor como atuam, convidamos Lucas Bordonco, analista de mercado de capitais de dívida do Br Partners, um banco de investimentos independente brasileiro, fundado em 2019. Confira:

Como atua um banco de investimentos?

Existem dois tipos de banco: o tradicional e o de investimentos, que são chamados também de banco de varejo e banco de atacado, respectivamente. O banco tradicional atende, em sua maioria, pessoas físicas, enquanto o banco de investimentos foca em pessoas jurídicas. As áreas em que um banco de investimento atua são: investment banking, onde existe uma assessoria para bancos que estudam compras e fusões e um auxílio para empresas que desejam abrir capital na bolsa; debt capital markets, onde eu atuo ajudando a estruturar produtos específicos de dívida para empresas que querem e precisam de crédito para se financiar, fazendo a ponte entre essas empresas e os investidores. Tem também a área de sales e trading, que trabalha bastante com mercado de moedas, com produtos de juros e inflação, a mesa de operações. Essa parte oferece para o cliente proteção contra a variação dos preços de moeda, entre outras coisas. Enfim, existem diversas áreas, mas o principal ponto do banco de investimentos é realizar operações estruturadas, seja de crédito, seja de fusões ou aquisições, seja para combater a variação do câmbio, e geralmente sempre movendo grandes volumes.

 

Como a pandemia afetou o mercado de investimentos produtivos?

No momento em que a pandemia surgiu, assim como em outros grandes períodos de crise da história, o principal fator para o mercado como um todo se tornar menos produtivo é o fato de que os investidores, num ato para se proteger dos riscos altos de alguns tipos de investimento, acabam vendendo os mesmos e estes perdem valor, atingindo a bolsa de diversos países como um todo e fazendo cair as taxas de juros. No momento de retomada atual, já com a vacina, a inflação tem subido bastante, elevando novamente as taxas de juros e recuperando o mercado. Quem injetou dinheiro lá em março, logo após o início da pandemia, já ganhou muito com a valorização de ações, por exemplo.

Hoje, existe algum ramo de atividade que dê certeza de retorno para o investidor? Se sim, isso continua no futuro?

Essa é uma pergunta delicada, mas é seguro dizer que não existe um ramo que dê certeza absoluta de retorno, pois por maior e mais rica que seja a empresa em questão, são milhares os fatores que nós não podemos controlar e que podem interferir no valor dela. O que eu posso afirmar é que analisando o mercado e seus setores, fica mais fácil optar pelo investimento certo no momento certo. Por exemplo: atualmente, o dólar está nas alturas, então, investir em empresas que exportam provavelmente é um bom negócio, pois seus custos são cobrados em real e sua receita vem em dólar, ou seja, “valendo cinco vezes mais”. Como já disse, não existe uma empresa que dê certeza de retorno para o investidor, o que existe são oportunidades a serem aproveitadas. Apesar disso, o mercado de ações, se pensarmos no longo prazo, sempre tende a subir; mesmo que tenha existido um momento em que o coronavírus atingiu e derrubou a bolsa, no longo prazo, isso representa só uma pequena onda. Por isso, acho que o foco do investidor deve ser sempre no longo prazo, sempre balanceando sua carteira e não focando apenas em um tipo de ativo. É muito importante você ter um mix completo para o seu perfil como investidor.

Créditos da imagem: Advantus Media, Inc. and Quoteinspector.com

Relatório "O vírus da desigualdade", produzido pela Oxfam Brasil, disseca disparidades agravadas pela Covid
por
Sofia Paiva
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31/05/2021 - 12h

Fonte: Shutterstock

É fato que a pandemia não está sendo emocionalmente fácil para ninguém. Muitos perderam familiares e amigos para o vírus ou até mesmo foram contaminados e estão sofrendo consequências físicas da doença. Porém, as repercussões econômicas e sociais não afetam todos de forma igualitária. Muito pelo contrário, a Covid-19 apenas evidenciou as desigualdades já existentes em nossa sociedade.

De acordo com o relatório da Oxfam Brasil “O vírus da desigualdade”, as mulheres, a população negra e integrantes de grupos étnicos minoritários são os mais afetados pela doença. “A pandemia expôs, alimentou e aumentou as desigualdades econômicas, de raça e gênero por toda parte”, diz o relatório.

“Quando se fala que a pandemia afeta todos de forma igual, porque o vírus não distingue se a pessoa é homem ou mulher, negra ou branca, isso é apenas parcialmente verdade, porque a questão da forma do contágio está pautada em indicadores sociais”, afirma Jefferson Nascimento, coordenador da área de justiça social e econômica da Oxfam Brasil. “Esses indicadores sociais não estão diretamente ligados à pandemia, mas criam condições para que um determinado perfil de pessoa esteja mais exposto a ela.”

O relatório da Oxfam Brasil mostra que a população negra foi a que mais se contaminou e teve maior índices de mortes devido à Covid-19. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de junho de 2020 mostram que negros têm 40% mais chance de morrer pelo vírus do que brancos.

Além disso, em todo o mundo os índices de contaminação e mortes pelo vírus são maiores entre a população mais pobre. Na Inglaterra, por exemplo, as taxas das áreas pobres chegam a ser o dobro das áreas mais ricas. 

A explicação para todos esses dados está nos indicadores sociais que Jefferson menciona. “A população da periferia, por exemplo, é em sua maioria negra e de baixa renda, e essas pessoas têm que se deslocar para as partes mais centrais da cidade para poder trabalhar. Isso faz com que essa desigualdade pré-existente seja potencializada nesse contexto de pandemia, porque a pessoa não tem opção exceto se expor ao vírus”, afirma ele.

Não foi apenas a desigualdade social e racial que cresceu durante a pandemia. O abismo da desigualdade de gênero também ganhou uma nova profundidade. Apesar de o desemprego ter sido global, as mulheres foram as que mais perderam empregos em todo o mundo. Segundo uma análise feita pela consultoria McKinsey no ano passado, para cada homem que ficou desempregado havia quase o dobro de mulheres na mesma situação. 

Jefferson explica que, como a maioria das pessoas que estão em trabalhos informais são mulheres, e esses foram os primeiros empregos a serem perdidos na pandemia, elas acabam sendo desproporcionalmente afetadas por esse contexto, por isso a alta taxa de desemprego.

Adrielle Constantino é uma dessas mulheres. Ela trabalhava na área de atendimento em um museu no Rio de Janeiro quando o lockdown foi decretado em março do ano passado. O turismo foi um dos primeiros setores a ser afetado pelo decreto. Inicialmente nenhum funcionário foi demitido, mas se tornou impossível manter os salários e benefícios com a instituição fechada. Então a maior parte dos funcionários da área de atendimento foi despedida. “Eu não recebia muito, mas era um emprego muito bom, do qual eu sinto muita falta”, diz Adrielle. Agora desempregada, ela vive com o irmão (ainda empregado) na casa de sua tia e recebe ajuda de familiares quando necessário. 

Em contrapartida, segundo a Oxfam Brasil, os dez homens mais ricos do mundo acumularam cerca de US$500 bilhões desde que a pandemia começou. Isso é mais que o suficiente para pagar a vacina da Covid-19 para todos. 

Além disso, os 1000 maiores bilionários do mundo recuperaram as perdas da pandemia em apenas nove meses. Os mais pobres levarão mais de uma década para voltar ao nível que estavam antes do vírus.

Jefferson afirma que a pandemia vai passar, mas que é necessário aproveitar essa fase para não voltar a uma realidade igual à que tínhamos antes da crise. “A ideia é que a gente aproveite esse momento de grande mudança no mundo para assentar a economia do planeta em novas bases”, diz ele. 

Segundo Jefferson, há uma forte correlação entre o investimento em políticas públicas sociais e a redução da desigualdade. Saúde, educação, seguridade social e moradia, Jefferson acredita que o financiamento dessas áreas foi gravemente impactado nos últimos anos, mas principalmente em 2016 , a partir da aprovação da Emenda Constitucional 95, que estabelece um teto de gastos públicos federais por um prazo de 20 anos.

O funcionário da Oxfam afirma que essa emenda impacta os investimentos em políticas públicas sociais, e que isso se reflete na reversão da tendência de redução da desigualdade social e econômica observada entre 2000 e 2015, graças ao maior orçamento para políticas como as citadas anteriormente. 

Porém, ele acredita que, mesmo sem o teto de gastos, é necessário ter um fortalecimento fiscal do Estado para que possam existir os recursos necessários para financiar uma política de educação e saúde de qualidade. Por isso, a Oxfam Brasil propõe que se faça uma reforma tributária progressiva, que deve pesar mais sobre as pessoas mais ricas e menos nas pessoas mais pobres, ao contrário do que acontece atualmente. 

“É importante levar em consideração o quão demorado é esse processo de redução das desigualdades, pois ele depende de uma multiplicidade de fatores. Os ganhos na luta contra a desigualdade são muito facilmente reversíveis", completa Jefferson.