A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Contingente de desempregados aumentou 2 milhões em um ano, chegando a 15,2 milhões; desalento e subocupação também disparam
por
Rafaele Oliveira
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04/06/2021 - 12h

A taxa de desemprego chegou a 14,7% em março de 2021, o que significa uma alta de 2,5 pontos percentuais (p.p) quando comparado ao mesmo período do ano anterior, no início da pandemia de Covid-19. Os indicadores foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 27 de maio e fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua

Considerada em termos mensais – conforme a metodologia do pesquisador Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) –, a taxa de desemprego atingiu  15,1% em março, maior do que o registrado no mesmo mês de 2020 (12,8%). De acordo com o Ipea, anulando os efeitos sazonais, a taxa de desemprego passou de 14,3%, em fevereiro, para 14,8%, em março.

taxa de desocupação e população ocupada
Taxa de desocupação e população ocupada no período entre março de 2012 e março de 2021.
Gráficos retirados da Carta de Conjuntura 51 | Nota 19 | 2˚ trimestre de 2021
 

O Brasil possuía, em março de 2021, 15,2 milhões de desempregados, um aumento de 15,1% em relação a março de 2020 (13,2 milhões). Já a população ocupada era de 85,6 milhões, representando uma queda de 4,8% em comparação ao mesmo mês do ano passado (89,9 milhões), quando o início da pandemia já vinha reduzindo os postos de trabalho. 

As estimativas mensais para a Pnad Contínua constam da Carta de Conjuntura número 51 do Ipea, em relatório sobre o mercado de trabalho assinado por Marcos Hecksher e Maria Andreia Parente Lameiras, técnicos de Planejamento  e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas da instituição.   

População desocupada, subocupada e desalentada

Considera-se desocupada a pessoa com idade para trabalhar que não está trabalhando, mas encontra-se disponível e à procura de trabalho. Rogério dos Santos perdeu o emprego como vendedor de uma loja de conveniência em agosto de 2020. Desde então, busca uma recolocação. “Está difícil arrumar um emprego, ainda mais na minha idade. Eu faço alguns bicos para conseguir pagar as contas, mas todo mês eu tenho medo de não conseguir o suficiente”, conta.

Rogério faz parte de uma parcela da população que entrou na categoria de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, ou seja, trabalhadores que têm uma jornada de trabalho inferior a 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais horas e estão disponíveis. Conforme dados do IBGE, o número de subocupados no trimestre móvel de janeiro  a março  de 2021 foi de 7 milhões de pessoas, crescendo 8,7% em relação ao mesmo trimestre de 2020.

Ainda há a força de trabalho potencial, que engloba duas categorias: primeira, os que não estão empregados, nem procuraram emprego recentemente, mas estariam disponíveis para trabalhar e, segunda, os que procuraram trabalho, mas não estavam disponíveis na semana de referência. Da soma desses três grupos origina-se a taxa composta de subutilização, cujo total foi de 29,7% no trimestre  encerrado em março, crescendo 0,9 p.p. frente ao trimestre móvel anterior (28,7%) e  5,3 p.p em comparação com o mesmo trimestre de 2020 (24,4%). 

Por fim, a população desalentada inclui pessoas que gostariam de trabalhar e estariam disponíveis, porém não procuraram trabalho por acharem que não encontrariam. O número de desalentados no trimestre móvel de janeiro a março de 2021 foi de 6 milhões, um recorde da série histórica iniciada em 2012, crescendo 25,1% ante o mesmo período de 2020.

O que está por trás das altas taxas de desemprego?

A crise econômica, iniciada em 2014, abriu feridas no mercado de trabalho, que até hoje não cicatrizaram. A redução dos investimentos em vários setores levou empresas a produzir menos e demitir parte de seus funcionários. O reflexo disso está na diminuição do consumo de bens e serviços, resultando em um encolhimento da economia no país. 

O professor de economia da FMU Marcos Henrique do Espírito Santo explica que o alto índice de desemprego é uma questão estrutural. “O desemprego alto é motivado por vários fatores, entre eles, uma desaceleração da economia nacional, que começa com as manifestações de 2013, depois piora com a Lava Jato. Desde então, a gente está nesse marasmo de altas taxas de desemprego, com investimento que não decola e com uma péssima confiança em relação ao futuro.” 

O futuro do mercado de trabalho no Brasil

Especialistas não estão otimistas quanto às perspectivas para o desemprego no Brasil. Segundo Marcos Henrique, além dos 15 milhões de desocupados, há outros 6 milhões de desalentados que, quando voltarem a procurar emprego, irão aumentar a taxa de desemprego.

A previsão é de que, a partir do segundo semestre, a atividade econômica comece a aumentar um pouco. “A perspectiva é que essa taxa de desemprego possa vir a cair, de 14,7% para 13%, algo assim”, estima o professor. Para ele, o setor de serviços, principal afetado pela pandemia, também é o que pode se recuperar mais rápido, à medida que as restrições vão terminando. Até mesmo categorias menos prejudicadas, como construção civil e agropecuária, ainda estão muito longe do período anterior à crise sanitária.

Qual é a solução?

Os estudiosos entendem que é preciso pensar em um novo plano econômico, com o objetivo de aumentar o investimento. “Derrubar o teto de gastos e discutir o tripé macroeconômico, além de reordenar tudo isso em um plano nacional que inclua empregos e investimento de alta tecnologia, é fundamental para que o Brasil recupere o ciclo de crescimento e, portanto, consiga derrubar de maneira estrutural essas taxas de desemprego tão altas”, finaliza Marcos Henrique.

Referência nacional, principalmente em vestuário infantojuvenil, bairro paulistano vê fechamento de lojas em meio a queda no movimento
por
Filipe Saochuk
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03/06/2021 - 12h

“O Arnesto nos convidou para um samba, ele mora lá no Brás.” Este é um trecho do icônico samba de Adoniran Barbosa chamado “Samba do Arnesto”, que conta a história de um desencontro entre amigos  no bairro do Brás. Eternizado na voz de Adoniran, o tradicional distrito do centro de São Paulo é um dos principais pontos de comércio da maior cidade da América Latina.

No início do século 20, o Brás se tornou um ponto de referência da comunidade italiana em terras tupiniquins, que deixavam a Europa para buscar uma vida melhor no Brasil através da imigração. O bairro iniciava nesta época o seu processo de industrialização, do qual  seria o carro-chefe da região.

Porém, após a Segunda Grande Guerra, com um aumento da industrialização em São Paulo, a cidade  passa a atrair muita mão de obra das regiões rurais do país. Com isso, as estações de trem do Brás começam a receber muitas famílias nordestinas que decidiram se mudar para o Sudeste, e uma comunidade que tinha predominantemente italianos  se torna também um ponto de referência da cultura do Nordeste, em pleno  centro da cidade de São Paulo.

Com o passar das décadas, o  bairro do Brás se tornou não apenas uma região de muita cultura na capital, mas, principalmente, de muita força econômica. Majoritariamente, a indústria e o comércio de confecções em atacado e varejo são as principais atividades do bairro, sobretudo de roupas infantojuvenis. Em avenidas como Rangel Pestana e Celso Garcia, a comercialização de produtos populares, como na Avenida 25 de Março, é muito comum e atrai centenas de milhares de pessoas que passam pela região todos os dias. Ou melhor, passavam…

Antes do início da pandemia de Covid-19, mais de 400 mil pessoas passavam pelas ruas do Brás diariamente. Ao todo, eram 4 mil lojas fixadas na região e 8 mil boxes, que geram  mais de 600 mil empregos  diretos e indiretos, como informou Juliana Munaro, em matéria publicada em maio de 2020 no portal G1.

Em 2019, a Secretaria Especial de Comunicação da Cidade de São Paulo divulgou que o bairro do Brás lidera a capital paulista em número de microempreendedores, com um total de 8 mil pessoas, ficando à frente de outros importantes bairros para a economia paulista, como a Bela Vista, com 7.404, Pinheiros (6.988), Vila Mariana (5.982) e Americanópolis (4.949).

Ainda sobre os dados divulgados pela Secretaria Especial de Comunicação da Cidade de São Paulo, em 2019 o Brás já tinha mais de dez shoppings em funcionamento. Cada vez mais os comerciantes querem se afastar do trabalho informal e se aproximar do formal, sendo que mais de 42 mil microempreendedores da capital estavam no meio do comércio varejista de roupas, representando 6% do total de São Paulo. Entre 2014 e 2019, 66 mil pessoas iniciaram um empreendimento neste ramo.

Uma boa parte destes trabalhadores que abriram seus negócios estão localizados no Brás, demonstrando toda a importância que o bairro  tem não apenas no setor de produção e comercialização de roupas e acessórios, mas também em toda a economia da cidade.

A lojista Maria Valéria Veríssimo, dona de um comércio de roupas infantojuvenis em Campinas, comentou um pouco de sua experiência com o bairro do Brás e como a região movimentava pessoas e dinheiro antes da pandemia.

“Procurávamos ir para o Brás às segundas-feiras de manhã, para tentar evitar o movimento do bairro, que era muito grande. O comércio do Brás não atende apenas lojistas de São Paulo, costumava ver ônibus com comerciantes de outros estados, como Minas Gerais, Mato Grosso… todos indo atrás de uma boa oferta em variedade e preços, sendo um ‘paraíso das roupas’, não apenas no atacado, mas também no varejo.”

No quesito valores, Maria Valéria conta  quanto costumava investir em novas peças para sua loja, confirmando que o movimento do bairro não se refere apenas a pessoas, mas principalmente a cifras.

“Diversas vezes já fomos ao Brás para renovar nosso estoque, em praticamente todas as mudanças de coleção. A cada ida, eram pelo menos R$ 20 mil em novas roupas, sendo que algumas vezes os gastos chegaram na casa dos R$ 50 mil.  Tratava-se apenas de uma empresa, agora, se pensarmos em todos os clientes e comerciantes que passam e gastam por lá todos os dias, imagine o quanto de dinheiro que o Brás não gera e movimenta? Não à toa é um dos principais pontos de comércio, não apenas de São Paulo, mas do Brasil.”

Porém, ao final do primeiro trimestre de 2020, essa realidade acabou ficando no passado, e o Brás já não era mais o mesmo, nos mais diversos quesitos. Com a pandemia, o movimento, que era tão intenso, foi repentinamente zerado. O dinheiro que o comércio movimentava já não corria mais e tanto aqueles que precisavam vender, quanto os que precisavam comprar, foram diretamente afetados.

“Logo no início da pandemia, fomos impedidos de comprar no Brás. As lojas costumam ser lotadas, e aglomeração é o que não falta. As incertezas sobre a pandemia e o tempo que levaria até que o mercado pudesse operar normalmente fizeram com que as empresas optassem por não investir em novas peças, o que prejudicou e muito não apenas fornecedores do Brás, mas do país como um todo”,  comentou Valéria.

Com o ápice da pandemia, muitas lojas entraram para o mundo do e-commerce e conseguiram, ainda que não da mesma maneira, vender seus produtos. Porém, para muitos comerciantes e estabelecimentos, quando as atividades presenciais começaram a ser retomadas, já era tarde demais.

“Quando iniciou o processo de reabertura do Brás, percebemos um número muito grande não apenas de lojas, mas também de fábricas, que encerraram suas atividades. É realmente muito triste, porque vemos o desemprego aumentar cada vez mais, em um mercado que, antes de tudo isso, crescia muito, estava em verdadeira ascensão. Já os que conseguiram se manter tiveram uma alta nos preços, por conta de uma oferta menor, e uma necessidade de compensar o que foi perdido durante a paralisação. A pandemia só gerou perdas para o ramo, tanto para quem compra, quanto para quem vende”,  completou Maria Valéria Veríssimo.

Mesmo após alguns meses com o comércio funcionando, o bairro  seguiu extremamente afetado. Movimento reduzido, menor variedade, preços elevados… Até que em março deste ano, com o agravamento dos casos de Covid em São Paulo, foi decretado um novo fechamento total dos serviços não essenciais, o que inclui o comércio. Por mais de um mês, as ruas do Brás voltaram a se esvaziar, e, depois de dar um pequeno passo em direção à normalidade, a região voltou a andar para trás.

Em 19 de abril, o primeiro dia após a reabertura do comércio, o tradicional bairro voltou a ter suas ruas preenchidas de ambulantes e clientes, que foram às compras desde a madrugada. A tendência é que, com o tempo, a situação no Brás vá se normalizando, sendo algo longe do imediato.

Os danos causados pela pandemia foram profundos, e o comércio no bairro  continua sendo afetado. Muitas empresas e fábricas faliram, lojistas não conseguiram mais realizar compras para renovar seus estoques, os preços subiram e a oferta de produtos diminuiu. Assim como em outros aspectos da sociedade, o Brás terá que se adaptar a uma nova realidade para poder voltar a ser uma das grandes forças da economia paulista o quanto antes.

A pandemia e o isolamento social potencializaram um mercado que há tempos deixou de ser promessa para se tornar uma lucrativa realidade
por
Geovanna Hora
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02/06/2021 - 12h

A indústria dos jogos eletrônicos é, de longe, a maior do entretenimento mundial. Somente em 2020, o setor registrou um crescimento de 19% em relação ao ano anterior e um faturamento superior aos US$ 174 bilhões, de acordo com dados da empresa Newzoo, especialista em análises sobre o mercado dos games. Para efeitos de comparação, no mesmo período, o cinema apresentou uma queda de 72% e uma receita de apenas US$ 12 bilhões, segundo informações da consultoria americana ComScore.

Os resultados de 2020 foram afetados pela pandemia de Covid-19, que levou a maior parte dos setores a registrar queda no faturamento. Mas, enquanto as outras áreas do entretenimento sofriam com as medidas restritivas adotadas, os jogos eletrônicos foram beneficiados, justamente, pela necessidade de isolamento.

 

75,8% dos gamers afirmaram jogar mais durante o período de isolamento social
75,8% dos gamers afirmaram jogar mais durante o período de isolamento social. | Imagem: Freepik/Mego-Studio​​​​

 

“Esse período trouxe uma mudança positiva para o setor, pois à medida que as pessoas passam mais tempo em casa, a quantidade de horas gastas jogando aumenta muito, independentemente da plataforma”, analisa Renato Ramos, coordenador do curso de Jogos Digitais na PUC-SP e sócio fundador das empresas de desenvolvimento de games T4 Interactive e QUByte Interactive. 

A afirmação de Ramos está em sintonia com os resultados apresentados pela 8ª Pesquisa Game Brasil (PGB) o mais importante levantamento anual sobre o consumo de jogos eletrônicos, divulgado em 2021. De acordo com a PGB, 75,8% dos gamers afirmaram jogar mais durante o período de isolamento social. A pesquisa apontou ainda que 72% da população brasileira joga algum game e 42,2% dos entrevistados disseram que investiram mais dinheiro em jogos nessa época.

 

O contato virtual como alternativa para o isolamento 

 

O game “Animal Crossing: New Horizons”, da Nintendo, lançado em março de 2020, é uma prova de que as pessoas passaram a considerar o mundo dos jogos virtuais um refúgio para a realidade. Neste game, o jogador precisa criar um personagem para viver em uma ilha deserta e explorar o local, com a possibilidade de convidar amigos para jogarem juntos e interagirem em tempo real.

Segundo dados apresentados pelo portal de games americano Polygon, menos de dois meses após o lançamento, o título já havia vendido 13 milhões de unidades e, em novembro, ultrapassou a marca de 26 milhões de cópias vendidas, o que o tornou o segundo game mais comercializado da história do Nintendo Switch mais recente console da empresa japonesa, lançado em 2017.

O crescimento alcançado pela indústria de games já é surpreendente, mas esses números podem se tornar ainda mais expressivos com a rápida expansão do setor. Segundo previsões feitas pela Newzoo, este mercado deve ultrapassar a marca de US$ 200 bilhões em receitas até o ano de 2023. “A expectativa para a indústria dos jogos eletrônicos é enorme em qualquer área, mas principalmente nos setores de treinamento e educacional”, aponta Ramos.

 

O mercado de trabalho no mundo dos games 

 

Com a constante alta no faturamento, a indústria de jogos eletrônicos passou a ser responsável por gerar cada vez mais empregos. Só nos Estados Unidos, em 2019, cerca de 429 mil pessoas trabalhavam na área, segundo dados da Associação de Software de Entretenimento (ESA, na sigla em inglês), organização norte-americana especializada no mercado de games.

Já no Brasil, entre os anos de 2015 e 2018, a quantidade de vagas oferecidas por esse setor atingiu alta de 73%, de acordo com a plataforma de buscas de empregos Indeed. O crescimento alcançado desde o começo da pandemia provocou um novo aumento na demanda por profissionais da área, o que permitiu que muitas pessoas unissem a paixão pelos games à necessidade de trabalhar.

O gamer Arthur Silva, conhecido como Apeste, é um exemplo. Apesar de participar de competições profissionais desde 2012, somente em 2021 o paulista assinou o seu primeiro contrato como profissional da área. Agora ele faz parte do elenco do São Paulo de Pro Evolution Soccer (PES), jogo de futebol virtual que está entre os mais vendidos no Brasil.

“No geral, esse período foi positivo para os gamers, porque os patrocinadores e os clubes oficiais começaram a enxergar os e-sports como uma saída para atrair o público e vender o seu produto”, afirma Apeste. “Para alguns, essa foi a única saída para conseguir uma renda, já que muitas pessoas perderam os seus empregos tradicionais”, completa o gamer.

 

Arthur e Babi
A esquerda, Arthur Silva, o Apeste, e a  direita, Babi Micheletto | Imagem: Instagram/Reprodução. 

 

Para a narradora de jogos eletrônicos Babi Micheletto, essa época representou uma transformação na sua trajetória. Ela pensou em desistir do mundo dos games e voltar a trabalhar como educadora física, sua profissão de formação, mas, no início da pandemia, recebeu um convite para integrar a equipe de narradores da Gaulês TV, um dos maiores canais da plataforma de streaming Twitch, o que alavancou a sua carreira.

“Eu trabalho somente com a narração e vivo disso, com direito a todos os benefícios que um trabalhador de uma área tradicional tem'', conta Babi, que atualmente é contratada da equipe Case Esports. “Apesar de todo o desastre causado pela pandemia, o ano de 2020 foi o que mais impactou o meu trabalho, com oportunidades únicas, como ir para Dubai cobrir um campeonato mundial”, completa a narradora.

 

Após subir 8,48% no primeiro trimestre, moeda norte-americana começou a recuar em abril e deve fechar o ano em R$ 5,30
por
Luiza Nascimento
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01/06/2021 - 12h

A pesquisa Focus do Banco Central atualizou, na sexta-feira (28/5), as projeções do mercado financeiro para o dólar no fim do ano. Pela terceira semana seguida, as expectativas ficaram em R$ 5,30, confirmando a aposta numa estabilização da moeda americana, que subiu 8,48% no primeiro trimestre, caiu 3,49% em abril e, em maio, vem registrando nova queda (1,84% até o dia 25).  A previsão para 2022, no entanto, segue com o dólar equivalente a R$ 5,40 e caindo nos próximos anos, com uma estimativa de R$ 5,10 em 2024. Esses valores, contudo, sofrerão mudanças e podem aumentar ou diminuir conforme o mercado se desenvolva.

O dólar possui uma previsão ainda incerta dentro do mercado brasileiro. | Foto: Freepik.

 

Previsão do dólar é incerta, mas sua tendência é de queda

Após um aumento de 29,36% em 2020, com um valor de câmbio maior que R$ 5 desde junho do ano passado, o dólar possui um futuro incerto no Brasil.

A pandemia do novo coronavírus, a CPI da Covid-19, a instabilidade política entre outros fatores, atuam como pêndulos para o câmbio. Cada ocasião influencia na cotação do real, que pode subir ou descer frente à moeda norte-americana.

O câmbio, entretanto, está agora em um período de queda, com uma previsão que indica valores menores do que os registrados nos últimos dois meses. O dólar começou 2021 negociado a R$ 5,18 e atingiu a máxima do ano no dia 9 de março, quando chegou a R$ 5,79. Em 25 de maio, a moeda norte-americana fechou cotada a R$ 5,33, acumulando alta de 2,89% desde janeiro. 

Especialistas atribuíram a recuperação do real nos últimos dois meses à aprovação do orçamento de 2021 e ao maior otimismo com a economia global. Segundo o analista Luiz Otávio Fonseca, da empresa Suzano, outro fator que contribuiu para a queda do dólar foram os aumentos da taxa básica de juros pelo Banco Central no Brasil. Apesar disso, ele observa que o atual patamar do câmbio ainda reflete a percepção de risco dos investidores em relação a aplicações em reais.

 “O mercado como um todo tem entendido que os patamares de R$ 5,50 para o dólar embutem um certo prêmio de risco dado o momento econômico brasileiro vindo das indefinições sobre algumas pautas referentes ao orçamento federal e, por isto, há uma expectativa de que o dólar perca valor frente ao real nos próximos meses. Aliado a isto, o Banco Central deve continuar o exercício de aumento nas taxas referenciais de juros para ajudar a conter a inflação mais alta gerada pelo ambiente de incentivo econômico que vinha desde o ano passado. Combinando esses dois fatores, a expectativa é que haja uma redução do nível de câmbio, embora o câmbio tenha em si um componente de alta volatilidade e sensibilidade a notícias que nunca deve ser deixado de lado”, avalia Otávio.

Outro fator determinante para o comportamento do câmbio nas últimas semanas é a inflação estadunidense. Uma possível alta gerou queda nas principais bolsas de valores do mundo, contribuindo para a valorização de outras moedas em relação ao dólar.

 Como funciona a previsão de câmbio para o dólar?

Quando questionado sobre a previsão para o dólar e o real, utilizando como base uma fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a instabilidade da moeda norte-americana ser algo corriqueiro, Luiz Otávio explica como funciona essa análise de câmbio.

“As teorias de câmbio que mostram mais aderência aos dados reais são a teoria da paridade do poder de compra e a teoria da paridade da taxa de juros coberta. A primeira tem muita aderência no longo prazo e diz que uma moeda atrelada a um país com inflação mais alta que a moeda de referência (o dólar) vai no tempo se desvalorizar pelo diferencial das inflações. A segunda teoria tem mais aderência no curto prazo e não permite arbitragem (ganho sem risco) e diz que moedas com uma taxa de juros mais alta se depreciaram em relação à moeda de referência pela diferença entre essas taxas de juros.”

Segundo o analista, na situação atual do mercado, ambas as teorias indicam a queda do dólar. Ele cita ainda novos fatores que corroboram essa tendência.

“Para ambos os casos, de fato há uma expectativa para que a tendência seja do dólar se valorizar frente ao real ao longo do tempo pela menor inflação e taxas de juros dos EUA, indicadores típicos que uma economia mais madura que a nossa. Além disso, o câmbio apresenta uma volatilidade histórica de 15% ao ano que faz com que movimentos bruscos como os vistos no último ano não sejam de forma alguma algo raro. Portanto, o aumento de dois desvios-padrão, duas vezes a volatilidade citada, é algo que, apesar de ter impactos significativos, não deixa de ser algo relativamente esperado.”

De acordo com o analista, apesar do desafio de prever níveis de câmbio, o aumento das taxas de juros brasileiras deve atrair mais capital internacional no curto prazo, ajudando a reduzir os patamares atuais. Além disso, a redução de incertezas sobre questões fiscais deve reduzir a visão de risco dos investidores, colaborando com essa tendência de redução do valor do dólar. Para o longo prazo, depois desta “normalização”, porém, uma alta deve ser esperada devido à teoria da paridade do poder de compra.

Outras previsões

Além de analistas, instituições financeiras, como bancos, acompanham o câmbio no mercado brasileiro. O Itaú manteve sua previsão, realizada no final de 2020, para o dólar até o término de 2021 e 2022 de, respectivamente, R$ 5,30 e R$ 5,50. O banco leva em consideração a segunda onda do novo coronavírus no país e seu arrefecimento em meio às campanhas de vacinação contra a doença. A instituição, entretanto, afirma que ainda há riscos em relação à pandemia, como um novo colapso nos sistemas de saúde e consequências das novas variantes.

Enquanto as previsões de analistas brasileiros apontam uma futura valorização do real, o banco francês Société Générale Bertrand Delgado tem outro prognóstico.

Segundo seus analistas, em relatório divulgado no dia 05/05, o dólar poderá encerrar o ano em R$ 6. Sua previsão para o decorrer do ano difere das estimativas apontadas pelo Boletim Focus. O banco francês aponta que o dólar fechará em R$ 5,50 em junho e em R$ 5,80 até o final de setembro. O Banco Central, por sua vez, indica queda do valor até o fim do ano e, após isso, estabilidade.

Medidas de contenção da Covid-19 derrubam vendas e geram onda de demissões; 30% fecharam definitivamente
por
Anna Carolina Ferreira
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01/06/2021 - 12h

“O cinto está cada vez mais apertado. Não sei o quanto ainda aguentaremos”, desabafa André Sarkissian Tucci, proprietário da Brinquedos Beija-Flor, uma das 4.800 lojas que funcionam na região da 25 de Março. A angústia de André é a mesma de muitos comerciantes locais, que vivem momentos de incertezas desde março de 2020, quando o comércio fechou em função do avanço do coronavírus.

A assessora-executiva da União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco), Claudia Hurias, expõe que os meses de paralisação e a diminuição de consumidores no local provocaram uma queda de 68% nas vendas em 2020. Até antes de a pandemia se instaurar, o comércio da 25 de Março contava com 40 mil funcionários e atendia um público diário de 400 mil pessoas – chegando a 1 milhão em fins de semana e datas especiais. No entanto, a assessora afirma que, desde então, 30% dos estabelecimentos fecharam as portas definitivamente, provocando 15 mil demissões.

                                                                                                                                       

Ladeira Porto Geral vazia em decorrência do fechamento do comércio
Fechamento do comércio da 25 de Março provoca instabilidade para os comerciantes e funcionários (Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil)

O quadro é mais preocupante ao se levar em conta que esses comerciantes ainda sofriam consequências de uma turbulenta recuperação financeira. Isso porque o mercado da 25 de Março ainda não tinha se reerguido por completo da crise de 2015 – ano em que o faturamento caiu de R$ 13 bilhões para R$ 8 bilhões, em consequência do colapso na economia nacional. O crescimento anual era baixo e a situação econômica não oferecia muita segurança para os lojistas. “Antes da pandemia, as vendas já andavam ruins, já estávamos tendo que diminuir o número de funcionários”, relembra André.

Os primeiros meses de adaptação à nova realidade geraram grandes prejuízos para os comerciantes. Mesmo com a retração nas vendas - que chegaram a cair 85% durante o primeiro fechamento -, os comerciantes precisavam arcar com os custos dos estabelecimentos. As contas de água e luz, os impostos, as taxas de funcionamento, o aluguel e o salário dos funcionários continuaram sendo cobrados, mas com a redução do capital embolsado as despesas não conseguiam ser pagas.

André conta que para tentar reverter o prejuízo passou a investir nas vendas online. “Como a loja estava fechada, eu trouxe muitos produtos aqui para casa, para fornecer a quem encomendasse. Nesse período, a casa ficou lotada de mercadoria”, lembra, descrevendo uma confusão de pacotes que não poupava nem mesmo o banheirinho de serviço.

Assim como André, muitos outros comerciantes da região também recorreram ao comércio digital. Para quem já possuía a estrutura de e-commerce, as vendas online corresponderam de 5% a 15% dos negócios. Já os menos familiarizados, precisaram se adaptar rapidamente com a comercialização através das redes sociais. Apesar disso, esses recursos não supriam as grandes perdas obtidas com a falta das vendas físicas. “Mesmo trabalhando com serviços online, muitos não conseguiram permanecer abertos, levando à falência” relata Claudia.

Em junho passado houve a primeira reabertura do comércio - seguindo todos os protocolos de segurança sanitária -, porém, com o descontrole da pandemia, já foram necessários novos períodos de fechamento. Tal instabilidade e o medo da contaminação desanimam os consumidores a frequentarem a 25 de Março. Por isso, mesmo com a reabertura, o faturamento continua encolhendo. “Desde que reabrimos, no ano passado, o movimento está muito fraco. Apenas em outubro, por conta dos artigos de Halloween, tivemos um aumento nas vendas. O período de festas juninas era o mais lucrativo em minha loja, porém ano passado não teve festas e pelo visto este ano também não”, conta André.

Nesse cenário tão desanimador e com o futuro do país tão incerto - seja pela pandemia ou pela instabilidade da economia no setor de serviços - é difícil fazer projeções, no entanto Claudia faz um breve balanço. “O forte da 25 é o atacado, se o comerciante não vende ele não compra para abastecer e todos perdem. Se este cenário econômico não mudar, se a vacina não acelerar, o comercio será o setor mais afetado e teremos muitos CNPJ encerrados até acabar este ano. Dependemos de ações governamentais para projetar algo e infelizmente não temos isso”.