A festa que enche o Brasil de cores e os comerciantes de oportunidades
por
Nicole Domingos
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12/09/2025 - 12h

Por Nicole Domingos

 

O Carnaval, que se vende como festa e se compra como tradição, não é apenas desfile de rua, batuque de samba ou fantasia improvisada. É também uma virada de chave para o comércio, que transforma a purpurina em faturamento. Em janeiro de 2024, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), publicou que o ano de 2025 movimentaria mais de R$9 bilhões, reforçando seu posto como uma das datas mais rentáveis do calendário econômico. Na contabilidade da festa, cada rua cheia de foliões é também um corredor de consumo. As farmácias que dobram as prateleiras de protetor solar, os supermercados que multiplicam o estoque de bebidas, as lojas de fantasia que expõem brilhos e lantejoulas como se fossem joias de temporada. Roberto Devidis, representante de vendas para armarinhos e lojas de customização na rua 25 de março,  considera que o carnaval é uma espécie de Natal fora de época.

Nos bastidores da festa, empresários calculam margens, fornecedores disputam espaço nas prateleiras e pequenos comerciantes fazem de cada esquina uma oportunidade. Para Marlene Batista, dona de loja de armarinhos, não existe nenhum período em que cresce as vendas como nesse tempo. Ela diz que antes mesmo da virada do ano já recebe pedidos de escolas de samba, tanto de produtos para a confecção dos carros, quanto para as roupas que serão usadas na avenida. Além disso,  o carnaval cria um ambiente de consumo que vai além da festa. Aumenta o fluxo em bares e restaurantes, multiplica reservas em hotéis e aplicativos de hospedagem, movimenta aplicativos de transporte, gera impacto até nos varejos de eletrodomésticos, com vendas de caixas de som, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. A folia, nesse sentido, extrapola o sambódromo e se infiltra em cada detalhe da vida cotidiana.

O ambulante que vende água, cerveja e todo tipo de bebida no bloco, a costureira que aceita ideias improvisadas de fantasias, o maquiador que tem que sempre ter uma ideia nova e cores vibrantes, todos compõem a cadeia econômica do carnaval. Em uma reportagem postada pelo Ministério da Cultura fica claro como não só os empresários com suas lojas têm a oportunidade de garantir uma boa renda, mas também aqueles que precisam de momentos como esse para sobreviver, como ambulantes que trabalham com eventos sazonais.

Outro ponto relevante é a geração de empregos temporários. Segundo a revista Forbes, a folia deve impulsionar, ainda, o mercado de trabalho, com a criação de 300 mil postos temporários, no interior e no litoral do Estado de São Paulo. O coordenador do Núcleo de Pesquisa da Fhoresp, Luís Carlos Burbano, destaca que esses empregos geram renda imediata para as famílias, contribuindo para a dinamização da economia local. Para muitos trabalhadores, o Carnaval representa a chance de garantir uma renda extra no início do ano. Essa circulação de dinheiro não apenas aquece os centros urbanos, mas sustenta muitas famílias que, durante os quatro dias de festa, encontram mais renda do que em meses inteiros de trabalho formal.

O contraste, no entanto, se mantém: se o brilho é abundante nas grandes cidades turísticas, os municípios sem tradição carnavalesca mal percebem a onda econômica. O comércio local, nesses lugares, vê pouco ou nenhum aumento expressivo nas vendas. Em pesquisas são sempre mostradas locais como o Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Minas Gerais. É como se o Carnaval, enquanto festa, fosse universal, mas enquanto motor econômico fosse seletivo. Ainda assim, mesmo de forma desigual, a festa gera reflexos nacionais, movimentando cadeias de produção que alcançam diferentes regiões.

No fim, a conta é simples: o País veste fantasia, mas o comércio veste números. O carnaval continua sendo um dos maiores espetáculos do mundo, já que a matéria da Forbes explica que lugares com a fama do Rio de Janeiro atraí não só turistas brasileiros como também internacionais para a festa. E de acordo com Enio Miranda, diretor de Planejamento Estratégico do Núcleo de Pesquisa da Federação dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp),  o Carnaval está cada vez mais consolidado no calendário de eventos dos turistas estrangeiros.

Na soma final, não se trata apenas de quatro dias de festa, mas de um ciclo econômico que começa semanas, ou até mesmo meses antes, se prolonga depois da Quarta-feira de Cinzas e reafirma a festa como um patrimônio não só cultural, mas também econômico do Brasil.

Indicador registrou crescimento da economia brasileira de 0,3% no segundo trimestre de 2025
por
Marcelo Barbosa
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20/08/2025 - 12h


O Banco Central (BC) divulgou nesta segunda-feira (18) os dados do IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil) referentes ao mês de junho. Os números mostraram uma queda de 0,1% em relação a maio, mas o resultado do segundo trimestre de 2025 se manteve positivo, com um crescimento de 0,3%. O IBC-BR é um dos indicadores oficiais da economia brasileira. Ele faz uma estimativa de crescimento levando em conta três setores: agropecuária, indústria e serviços. O índice foi criado para trazer números frequentes sobre a atividade econômica do Brasil e tem influência sobre as decisões financeiras do país, servindo de auxílio para políticas monetárias, como a taxa de juros (Selic).

Por exemplo, quando a taxa de juros está em patamares elevados, isso reduz a atividade econômica, o que se reflete nos números do indicador. Por isso, atualmente, ele é lido pelo mercado como a "prévia do PIB".

 
 

Fachada do Banco Central do Brasil em Brasília — Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
IBC-BR: agropecuária, indústria e serviços tem leve alta no segundo trimestre de 2025 (Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)

 

 

Retração da economia

Após quatro meses seguidos de bons resultados, maio registrou a primeira retração do ano, de 0,7% em relação a abril. Em junho, a queda foi de 0,1%. De acordo com o professor de economia Renan Silva, do IBMEC Brasília, "a alta deu-se devido à Selic, que chegou ao patamar de 15%”. Ele explicou que "o que corrobora para essa questão da taxa de juros restritiva é o fato de que os indicadores de inflação vêm arrefecendo. No último relatório Focus, do Banco Central, o IPCA já registra uma inflação, em 2025, de 4,95%, ante os 5,30%, que as projeções vinham indicando”.

 

Os dados oficiais do Banco Central confirmam que a agropecuária foi o principal fator para a retração no trimestre, com uma diminuição de 3,1% no período. Por outro lado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o destaque de junho foi o aumento de 0,3% no volume do setor de serviços. A produção industrial teve um recuo de 0,1% no mês, e as vendas no varejo também frustraram as expectativas, recuando 0,1% em comparação a maio. Sob a óptica do professor, o tarifaço de Donald Trump pode trazer efeitos adversos e "provocar uma redução intensa no segundo semestre”.

 

Nos últimos 12 meses, os números ficaram em 3,9%, o que representa uma desaceleração em face ao mesmo período, que marcou uma alta de 4,04%.

 

Para o futuro, Silva acredita que a retração na atividade econômica pode influenciar o COPOM (Comitê de Política Monetária) - órgão responsável por estabelecer as diretrizes da política monetária - a iniciar um novo ciclo na queda dos juros. "Esse ciclo restritivo já teve efeito, o que gerou como resultado a redução na atividade econômica”, conclui. A retração de 0,6% no terceiro trimestre de 2023 havia sido a última queda do indicador antes dos recuos registrados neste ano.

Alimentação e bebidas têm deflação em relação ao mês anterior, enquanto habitação sofreu alta devido ao aumento da conta de luz
por
Marcelo Barbosa P.
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13/08/2025 - 12h

O IBGE divulgou nesta terça-feira (12) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do país. Os dados apontam que houve um aumento de 0,26% no mês de julho, uma leve alta em comparação com a taxa de 0,24% registrada em junho. No ano, o IPCA já acumula desaceleração de 3,26% e, nos últimos 12 meses, de 5,23%.

De acordo com o gestor de investimentos e especialista financeiro da WFlow, Guilherme Viveiros, a inflação surpreendeu positivamente. "O índice deste mês veio com o valor de 0,26%, enquanto o mercado via uma elevação de 0,36%". O mês de agosto também deve apresentar queda, com índices negativos o que, segundo Viveiros, "fez com que o mercado começasse a sondar uma possível queda dos juros ainda em 2025".

Entre os setores da economia que apresentaram deflação, ou seja, queda de preços, estão o grupo Alimentação e bebidas (-0,27%), Vestuário (-0,54%) e Comunicação (-0,09%). Em contrapartida, entre os maiores destaques da alta estão os grupos Habitação (0,91%) e Despesas Pessoais (0,76%). A alta do grupo Habitação foi impulsionada pela energia elétrica residencial, com variação de 3,04% - o maior impacto individual no índice do mês. Esse número se deve ao fato de que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) confirmou a bandeira tarifária de agosto, que será a Vermelha patamar 2, a mais cara do sistema. Como consequência disso, haverá um acréscimo de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos na conta de luz.

O grupo Transportes também teve aceleração, passando de 0,27% em junho para 0,35% em julho, impulsionado pela alta de 19,92% nas passagens aéreas. Por outro lado, os combustíveis tiveram uma queda de 0,64% no mês, com recuos no preço do etanol (-1,68%), do óleo diesel (-0,59%), da gasolina (-0,51%) e do gás veicular (-0,14%).

 Já o grupo Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no IPCA, registrou baixa pelo segundo mês consecutivo. A queda em julho foi impulsionada pela alimentação no domicílio, que caiu 0,69% com destaque para redução nos preços da batata-inglesa (-20,27%), da cebola (-13,26%) e do arroz (-2,89%).

 

Reprodução: Tânia Rego/Agência Brasil | Pessoas andando em um mercado
Reprodução: Tânia Rêgo| Pessoas escolhem frutas em um mercado


Rafael Prado, economista e analista de macroeconomia da Go Associados, chama a atenção para o fato de que o valor da inflação deste mês ainda é elevado em relação à meta de 4,5% ao ano. Segundo ele, o resultado deste mês é prova de que a política monetária pode atuar de maneira enfática nos dados. "Quando nós olhamos para os números desagregados do IPCA, vemos que existem grupos, como Habitação que foi impactado pela energia elétrica, que influenciaram para o aumento de julho". Para ele, isso ressalta a importância de "continuar com uma política monetária restritiva, para que a inflação continue caindo e volte ao intervalo de tolerância."

Já o professor de economia João Gabriel Araújo, do Ibmec Brasília, destaca o efeito Trump na economia brasileira. Segundo ele, a guerra tarifária vai ser um dos fatores determinantes para a queda dos preços no Brasil. "Com o anúncio das medidas para o Brasil, especialmente a tarifa de 50% sobre as importações, os produtores nacionais aumentaram os estoques para o mercado interno, reflexo da diminuição das exportações para os Estados Unidos antes da implementação da tarifa e do consequente aumento da oferta de bens no mercado doméstico".

O cálculo do IPCA foi realizado a partir da comparação dos preços coletados entre 1 e 30 de julho de 2025 com os preços vigentes entre 30 de maio e 30 de junho de 2025. O IPCA abrange famílias com rendimento monetário de 1 a 40 salários-mínimos. Já o INPC, que considera famílias com rendimento de 1 a 5 salários-mínimos, teve alta de 0,21% em julho, com acumulado de 3,30% no ano.

A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Preocupação com consumo consciente provoca aumento generalizado na procura por produtos de beleza sustentáveis
por
Laura Moraes e Fernanda Maia
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05/07/2021 - 12h
Divulgação: Frepik
Divulgação: Frepik

A pandemia serviu de catalisador para diversas tendências que já vinham crescendo nos últimos anos, e a procura por produtos ecológicos, manufaturados a partir de matéria-prima natural, muitas vezes orgânica e vegana, é uma delas. Uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group no final de 2020, com mais de 3 mil pessoas em oito países diferentes, mostrou que 70% dos participantes estão mais conscientes de que a atividade humana ameaça o meio ambiente do que antes da pandemia da Covid 19, e que 75% dos entrevistados consideram as questões ambientais tão preocupantes quanto as questões de saúde.

Esse padrão de comportamento afeta diretamente as escolhas de consumo em geral, e também está presente no mercado da beleza, o que estimula o segmento de cosméticos naturais. Marcas artesanais, com produtos de composição natural e acondicionados em embalagens simples e sustentáveis, estão em voga, contrapondo-se à gigantesca indústria da beleza tradicional.

O mercado de cosméticos tradicional mundial movimenta R$ 10,9 bilhões  por ano e coloca o Brasil na quarta posição entre os países que mais consomem produtos de beleza (atrás de Estados Unidos, China e Japão). Da mesma forma, o país também é o quarto que mais produz lixo plástico, de acordo com levantamento do WWF (Fundo Mundial para a Natureza), feito em março de 2019. A preocupação com a composição dos produtos, mas também com a composição das embalagens, é o motivo pelo qual muitos consumidores procuram alternativas mais amigáveis tanto para o meio ambiente e como para a própria saúde.

“A sustentabilidade é um caminho sem volta. A indústria de cosméticos tradicional está defasada e ultrapassada, porque as pessoas estão cada vez mais antenadas e preocupadas com assuntos que há 15, 20 anos não eram debatidos. As empresas atendem à demanda dos consumidores, então cabe a eles exigir empresas mais responsáveis e sustentáveis”, afirma Stephanie Racy, criadora da AmoKarité, marca de maquiagens feitas à mão, com produtos 100% naturais e veganos.

Racy criou a marca em 2020, e no primeiro ano de funcionamento, que se deu integralmente na pandemia, teve um faturamento de R$ 400 mil. A aposta em vendas online, a forte presença nas redes sociais,  as maquiagens multifuncionais e sustentáveis e, finalmente, as embalagens com materiais alternativos ao plástico são os fatores que contribuíram para o sucesso da marca. Hoje, o empreendimento já conta com uma fábrica, localizada em Gonçalves, no sul de Minas.

De acordo com uma pesquisa de 2019 da Nielsen Brasil, a partir do monitoramento de compras de 8.300 lares brasileiros, o segmento "verde" concentra 18,2% do faturamento total do mercado de higiene e beleza. Apesar de ainda baixa, a tendência é de alta ao longo dos anos, principalmente em um país  com tanta biodiversidade quanto o Brasil.

Segundo Eduardo Pagani, gerente de desenvolvimento do LNBio(Laboratório Nacional de Biociência), atualmente há 600 plantas catalogadas que são usadas pela indústria de cosméticos, mas ainda estão sendo desenvolvidas pesquisas com mais de mil outras plantas. “Temos um mercado para produtos naturais com grandes oportunidades de desenvolvimento, inovação e geração de negócios”, afirma o gerente.

Foi pensando nisso que a cosmetologista Julia Tartari criou a Mona Loja em 2018. A curiosidade sobre pigmentos, texturas e cuidados com a pele a fez criar seu próprio material de trabalho a partir de substâncias naturais como manteigas, óleos, ceras e ativos vegetais. Alguns dos produtos, por exemplo, são à base de cera de abelha e de carnaúba, manteiga de cupuaçu e óleo de jojoba.

“Com a Mona quero desconstruir a funcionalidade da maquiagem como uma ferramenta de correção, de aperfeiçoamento e de uma beleza padrão. Por isso, minha pesquisa é voltada a desenvolver produtos que sejam coloridos, acessíveis, sustentáveis e plurais para que sejam constantemente ressignificados pelas próprias clientes.” comenta Tartari.

Mesmo com o sucesso, a indústria de cosméticos naturais ainda atrai um nicho de consumidores bastante restrito. A questão do uso vai além da estética e popularidade da marca, pois envolve uma questão de educação socioambiental. Uma pesquisa realizada pelo Observatório Brasileiro de Economia e Mercados Agroecológicos e Orgânicos (Obema), com 305 consumidores de produtos naturais, catalogou os atributos considerados “mais importantes” e “menos importantes” entre os entrevistados. A valorização do produto dentro do grupo social a que pertence o consumidor e os selos de certificações na embalagem são os fatores de menor interesse no nicho. Enquanto isso, a  eficiência do produto e os ingredientes que não impactam negativamente a saúde do indivíduo seguem como prioridade na hora do consumo.

Fonte: Obema UFRGS
Fonte: Obema UFRGS

“Comecei a utilizar produtos naturais aos 18 anos, a partir do momento em que comecei a estudar seus benefícios, sem agredir minha saúde. Acredito que a divulgação desses produtos ainda é baixa. É importante que as pessoas discutam o tema e incentivem cada vez mais o uso desses produtos, para que de fato haja repercussão nos nossos grupos sociais'', comenta Bianca Lopresti, atriz e consumidora de produtos orgânicos.

Dados da Pnad Contínua, do IBGE, mostram números crescentes de precarização, subocupação e desistência pela procura
por
Anna Baisi e Maria Paula de Sá
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05/07/2021 - 12h
Taxa de desemprego no Brasil bate recorde no primeiro trimestre. Foto: Dario Oliveira/Estadão Conteúdo/Divulgação
Foto: Dario Oliveira/Estadão Conteúdo/Divulgação

A taxa de desemprego no Brasil, para o 1º trimestre de 2021, de janeiro a março, cresceu para 14,7%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados pelo IBGE no dia 27 de maio. Isso significa que 14,8 milhões de brasileiros estão à procura por trabalho no país, e esse é o maior número de toda série histórica desde o início da contagem, em 2012.

No levantamento anterior, referente ao trimestre anterior (outubro a dezembro de 2020), o resultado representa um aumento de 6,3%. Isto é, indica que, neste momento, cerca de 880 mil desocupados passaram a procurar emprego. Em relação ao ano passado, o número aumentou 15,2%, frente ao mesmo trimestre, que fechou com 12,8 milhões de pessoas, significando 1,956 milhão de pessoas a mais procurando trabalho.

Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e ex-diretor técnico do Dieese, afirma que a taxa de desemprego já vinha bastante elevada antes da pandemia. Ele aponta também para o aumento dos chamados desalentados, categoria que abrange as pessoas que, embora sem um trabalho, não são computadas como desempregadas, porque não estavam procurando quando foram contatadas pelo IBGE.

No contingente de pessoas desalentadas - grupo de pessoas que não buscam trabalho, mas que gostariam de conseguir uma vaga e estavam disponíveis para trabalhar -, somou 6 milhões neste 1º trimestre de 2021, o maior número desde o início da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012, quando os desalentados somavam 1,9 milhão.

Isto significa uma estabilidade em relação ao trimestre de outubro e dezembro de 2020. Em um ano (janeiro a março de 2020), quando a taxa foi estimada em 4,3%, o resultado, por outro lado, foi de elevação.

"O fato da economia não gerar postos de trabalho coloca as pessoas na condição de desistir de procurar, apesar de precisar de um posto de trabalho. Então, o desalento e o desemprego crescem com a pandemia", diz Ganz Lúcio.

O sociólogo acrescenta que, sempre que os desalentados saírem da sua situação e passarem a ter uma postura ativa de procura de emprego, a tendência é que aumente a pressão sobre a taxa de desemprego. 

"Um outro cenário: a taxa de desemprego permanece elevada sem necessariamente crescer, mas também permanece muito elevado o contingente de pessoas desalentadas que não vão procurar emprego, e também que continuaram sem procurar trabalho, o que poderá ter como consequência o aumento da pobreza, da miséria e da fome no país", reflete.

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a população ocupada (trabalhando) no país chegou a 85,7 milhões no trimestre de janeiro a março de  2021, e, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (janeiro a março de 2020), este indicador apresentou queda, com redução de  6,573 mil pessoas. 

Trabalho informal x trabalho formal

Existem diversas formas de um trabalho ser considerado informal. O que vai determinar isso é a não assinatura na carteira, ou seja, não ter vínculo empregatício e benefícios trabalhistas como férias, licença-maternidade, aposentadoria, seguro- desemprego, entre outros. Porém, vale destacar que quem se dedica ao trabalho informal, pode sofrer certa instabilidade financeira.

Por outro lado, o trabalho considerado formal é aquele que é registrado  dentro da CLT, no qual o funcionário pode contar com proteção e amparo das leis trabalhistas. Neste, há uma maior estabilidade financeira, garantida por um salário pago mensalmente, além de benefícios como auxílio-alimentação e transporte, plano de saúde  etc.

No Brasil, porém, nem sempre há uma escolha em relação ao trabalho informal. Por muitas vezes, os profissionais acabam não tendo alternativa, e, em meio a vagas cada vez mais concorridas e que exigem um alto nível de qualificação, a solução é recorrer à informalidade, não amparada pela CLT.

Uberização do trabalho

Atualmente, o trabalho informal nem sempre é uma opção. O fenômeno de “uberização” das relações de trabalho se dá através de uma exploração de mão de obra por  poucas e grandes empresas de aplicativos e plataformas digitais. Elas têm como principal característica a ausência de vínculos empregatícios com os trabalhadores.

Esses são os chamados trabalhadores por conta própria, e, na categoria, estão 23,8 milhões de brasileiros, apresentando um crescimento de 2,4% na comparação com o trimestre anterior, significando a adição de 565 mil pessoas neste contingente. Em relação ao mesmo período do ano passado, o indicador, neste trimestre, apresentou estabilidade.

Imagem da capa: 

Valdecir Galor/SMCS/Divulgação

Novos arranjos, como PIX, iniciadores de pagamento e Open Banking, prometem competição entre bancos e comodidade para clientes
por
Camila Barros
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05/07/2021 - 12h
O sistema de transferência via WhatsApp começou a funcionar em maio
O sistema de transferência via WhatsApp começou a funcionar em maio.

O serviço de transferência de dinheiro via WhatsApp começou a funcionar no mês de maio. O WhatsApp Pay, como ficou conhecido, foi liberado pelo Banco Central (BC) em 31 de março, na esteira de aprovações de medidas que diversificam o sistema financeiro no Brasil. Ainda no primeiro semestre de 2021, a autarquia planeja lançar novidades para o PIX e dar início à 2ª fase da implementação do Open Banking.

O WhatsApp Pay se tornou possível com a aprovação, em outubro de 2020, dos iniciadores de pagamento (Pisp). Com esse arranjo, é possível que uma instituição faça o recurso sair da conta do pagador e cair na do recebedor mesmo sem deter acesso direto à conta de nenhum deles.

Em nota, o BC afirmou que “as autorizações concedidas poderão abrir novas perspectivas de redução de custos para os usuários de serviços de pagamentos”.

A instituição vem acelerando suas apostas em novas tecnologias depois dos indicativos positivos de aderência ao PIX: em abril deste ano, foram feitas mais transações com ele do que com TED, DOC, boletos e cheques somados. Em 6 meses de funcionamento, o PIX movimentou R$ 1,1 trilhão, com mais de um bilhão de operações e 75 milhões de brasileiros (45% da população) usando a tecnologia.

 

PIX vs. WhatsApp Pay

Assim como o PIX, o WhatsApp Pay se propõe a trazer mais facilidade e rapidez nas transferências. Segundo Arthur Igreja, especialista em tecnologia, inovação e finanças, existem intersecções grandes entre os dois sistemas.

De acordo com a assessoria do BC, no entanto, os dois serviços não são concorrentes. “O PIX foi instituído para buscar atingir objetivos públicos, como redução de custos para usuários finais, apoiar o processo de inclusão financeira e oferecer para a população um instrumento de pagamento que seja universal em termos de utilização”, afirma a autarquia, “os arranjos de pagamento privados possuem objetivos privados e o Banco Central atua apenas para evitar distorções no mercado e para avaliar a segurança mínima do arranjo”.

Para o futuro, segundo a assessoria do aplicativo de mensagens instantâneas, “o plano é trabalhar com o Banco Central para integrar o PIX aos pagamentos no WhatsApp”. A previsão é que, seguindo o cronograma estabelecido no Open Banking, em agosto de 2021 o PIX passe a aceitar iniciadores de pagamento como participantes.

Aderência

Segundo Arthur Igreja, o maior entrave para a aderência dos usuários às novas ferramentas é a desconfiança em relação a segurança. “Existe ainda muito forte no imaginário das pessoas os problemas de segurança do WhatsApp”, aponta. Além disso, ele relembra que foi necessário algum tempo e muita divulgação para a população digerir e entender como funcionava PIX. Com o WhatsApp Pay, assim como para outros iniciadores de pagamento no mercado, o processo deverá ser o mesmo.

Crise econômica e sanitária fortalece paradigmas sociais que submetem as mulheres à síndrome da impostora
por
Luíza Feniar Migliosi
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04/07/2021 - 12h
Ilustração: Icons 8 from Ouch!
Ilustração: Icons 8 from Ouch!

A desigualdade de gênero antecede o surgimento da Covid-19, mas a pandemia evidenciou a fragilidade que o mercado de trabalho representa para as mulheres. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgados em abril de 2021, o percentual de mulheres que trabalhavam foi de 45,8% no terceiro trimestre de 2020, aproximando-se do nível mais baixo já registrado desde 1990, que corresponde a 44,2%.

Ao comparar esse trimestre do ano passado com o mesmo período de 2019, que registrava 53,3% na participação, a queda das mulheres no mercado de trabalho foi de 7,5 pontos percentuais. Para os homens, no mesmo período, houve um recuo de 6,1 pontos percentuais – de 71,8% para 65,7%.

A equidade de gênero encontrou uma barreira inconciliável com a pandemia. A segregação ocupacional foi um dos parâmetros mais evidenciados durante esse período. Segundo dados do Ipea, as áreas em que há mais mulheres trabalhando foram as que mais perderam população ocupada. As trabalhadoras femininas estão mais presentes em categorias específicas, como, por exemplo, estética, serviços de limpeza doméstica e empresarial, comércio, turismo e serviços em geral. A divisão na área de atuação reforça os padrões sociais.

A crise sanitária e econômica acentuou as distâncias salariais entre os gêneros. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo IBGE, revelou que, ao ocupar cargos de gerência ou direção, o rendimento médio das mulheres foi de R$ 32,35 por hora em 2020. Para os homens, R$ 45,83. A diferença de R$ 13,48 superou a observada em 2019, que correspondia a R$ 9,21. Os dados também comprovam que os salários inferiores permaneceram para cargos com formação em nível superior, com pagamentos em torno de R$ 5 mil para mulheres e R$ 8 mil para os homens.

Para a psicóloga Fernanda Reis, a sociedade contribui para falta de confiança das mulheres. “Por décadas, as mulheres viveram em rotinas em que se expor de maneira espontânea e assertiva trazia muitos prejuízos, como rótulos de promiscuidade e, até mesmo, punições sociais, por motivos financeiros, de classes entre outros. Além disso, nota-se em maior intensidade a necessidade de agradar e de aceitação”, conclui.

Artigo publicado na Harvard Business Review, que viralizou na internet, escrito por Ruchika Tulshyan, premiada estrategista de inclusão, escritora e contribuinte do New York Times, e Jodi-Ann Burey, escritora e oradora, mostrou que o ambiente de trabalho tem influência direta nas discrepâncias de desempenho e responsabilidades entre os gêneros. Essa falta de autoconfiança pode ser resultado da chamada síndrome da impostora.

Conceito desenvolvido pelas psicólogas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, foi denominado, originalmente, como “imposter phenomenon” (“fenômeno impostor”, em tradução livre), em 1978. A pesquisa concluiu que as mulheres duvidavam de suas habilidades e sentiam-se como fraudes, questionando seu desempenho, conquistas e elogios. “Apesar das notáveis ​​realizações acadêmicas e profissionais, as mulheres que vivenciam o fenômeno impostor persistem em acreditar que realmente não são brilhantes e enganam quem pensa o contrário”, postula o estudo publicado pela Georgia State University.

Para a analista júnior de atendimento ao cliente, Geysa Losovoi, a ansiedade começou com os processos seletivos no final da graduação. Quando conquistou o estágio, foi obrigada a lidar com situações em que as questões de gênero eram predominantes. “Eu atuava na área de manutenção predial de um banco e presenciei diversos eventos que colocavam minha capacidade em prova. Não pelos meus superiores, mas, por vezes, pelos meus pares e pelos operadores.”

Apesar do seu trabalho atual ter um ambiente mais acolhedor e apresentar muitas referências de liderança feminina, Geysa ainda se sente insegura. Durante as conversas com sua chefe, ainda questiona suas atitudes e a possibilidade de ser demitida. “Inclusive, no primeiro dos feedbacks, não consegui conter meu medo e chorei na frente dela”, relata a analista.

A maioria das mulheres experimentam a síndrome da impostora durante grande parte da vida. Na faculdade, seja pela procura do primeiro estágio ou por participar das associações estudantis, o período de início de carreira coloca em xeque a bagagem desenvolvida durante a vida acadêmica. “A sensação de incapacidade, como podemos dizer, ou também senso de desvalia, pode nos impedir e lentificar algumas decisões e mudanças que precisam ser feitas em nossas vidas. Pensamos em um comprometimento maior se há prejuízo em vários eixos da vida da pessoa, como trabalho, família e relacionamentos”, conclui a psicóloga Fernanda Reis.

Lívia* é analista júnior da área comercial e relatou que, durante o final do segundo ano do seu curso, iniciou uma depressão leve e precisou procurar ajuda psicológica, o que a fez perceber que “a faculdade criou questões com a síndrome da impostora, não se achar capaz o bastante para lidar com tudo, se sentir inferior”. A experiência do primeiro estágio também contribuiu para que permanecesse receosa nos trabalhos futuros. “Principalmente, porque meu primeiro estágio foi no banco, um ambiente muito masculino. Sofri por ser mulher e estagiária. Senti que era menor e criei um medo de me desenvolver lá dentro.” 

Todavia, essa não é a única área marcada pela segregação ocupacional. Para Aline*, arquiteta recém-formada, por trabalhar em um campo de criatividade, a comparação acompanha todos os processos. “Acredito que foi quando fui idealizar o primeiro projeto da minha carreira que me deparei com a síndrome de impostora de fato, porque era a primeira vez que eu estava desenhando algo que era fruto da minha própria bagagem”, diz.

Além disso, a arquiteta relata que as redes sociais são fatores de grande impacto para as inseguranças. O Instagram, meio muito utilizado para divulgar projetos, foi a principal ferramenta que a fez questionar sua capacidade, já que a realidade da mídia transmite uma fluidez sem esforços que, segundo Aline, contribui para reforçar a sensação de impostora. “Não se mostra o lado B da coisa, mas, mesmo sabendo disso, é difícil não comparar com a minha realidade. Como meus colegas estão tão bem-sucedidos, tão seguros, e eu estou aqui, mergulhada na ansiedade sem conseguir dar um passo nos meus projetos?”, questiona.

“Uma vez que a síndrome está instaurada, ela irá repercutir em todos os eixos psicológicos, bem como a forma de enfrentamento sobre eles. É por essa razão que é importante o esclarecimento de altas expectativas e formação de uma comunicação e ação assertiva com si mesma e com os outros. Respeitando seus limites e buscando autocuidado”, conclui a psicóloga Fernanda Reis.

Livia acabou saindo do estágio para iniciar um intercâmbio em 2019. Retornou em julho do ano passado e, devido à crise sanitária, não encontrou o emprego que queria. “Acho que, inclusive, a própria pandemia me influenciou a não terminar processos que seriam bons para mim por esgotamento emocional. A pandemia afetou muito as minhas oportunidades e situações a que me submeti”. Ela teve que aceitar um contrato de trabalho por MEI (Microempreendedor Individual), recebendo menos do que no primeiro estágio e trabalhando por mais horas.

Para Helena*, estagiária de comunicação corporativa, o ambiente atual de trabalho ajudou a restaurar a seu segurança, apesar de acreditar que só poderá confirmar caso seja efetivada. Porém, a experiência de desvalorização aconteceu na empresa júnior no início da faculdade. “Nesse caso em específico, acredito que o que pegou foi que era uma primeira experiência profissional e que eu já estava lidando com o desafio de construir um cargo do zero, mas ao longo da gestão, muitas vezes, eu sentia que minha opinião não era ouvida ou levada a sério por ser mulher, o que também acabava influenciando.” Ao mesmo tempo, Helena enfrentou uma sobrecarga, já que seus colegas tinham em mente que ela poderia lidar com todo trabalho.

O Informe de Percepção de Gênero, feito pelo LinkedIn em 2019, apontou que as mulheres sentem que precisam preencher todos os requisitos para se candidatar a uma vaga. Para os homens, preencher 60% dos requisitos já é suficiente. Jhenyffer Coutinho descobriu esse dado, em 2018, durante um workshop de liderança feminina. Aliando-o ao fato de que aproximadamente 7 milhões de mulheres perderam seus empregos durante a pandemia, ela fundou a “Se Candidate, Mulher!”, empresa de capacitação comportamental que ajuda com segurança e performance no processo seletivo.

“A gente também teve a menor taxa de participação da mulher nos últimos 30 anos. Quando uma empresa tem que priorizar um homem ou uma mulher, entende que a dedicação do homem vai ser maior porque ele não tem outras coisas para tomar conta. Esse dado foi reflexo de tudo que aconteceu desde o início da pandemia globalmente, mas com bastante força no Brasil”, reforça a CEO. Além disso, Jhenyffer evidencia o trabalho que espera a mulher depois do seu expediente, que, segundo a filósofa Silvia Federici, pode ser designado como “trabalho não remunerado”, como cuidado da casa, dos filhos ou do marido, destinados socialmente às mulheres.

Apesar das mulheres demonstrarem força e ambição, ser rotulada com a síndrome da impostora é um fardo para carregar. Essa dinâmica de cobrar da mulher autoconfiança não é significativa se o ambiente de trabalho e a sociedade não possibilitam espaço e segurança para seu desenvolvimento.

 

*Nomes Fictícios

As duas maiores administradoras do ramo, brMalls e Iguatemi, apontaram queda de faturamento no primeiro trimestre
por
Thalisson Luan
|
04/07/2021 - 12h
Juntas, Iguatemi e brMalls contam com 19 shoppings no estado de São Paulo (Imagem: divulgação)
Juntas, as administradoras contam com 19 shoppings no estado de São Paulo (Imagem: divulgação)

 

Os shopping centers sofreram grandes impactos em seu faturamento durante a pandemia. Com o fechamento de centros comerciais imposto por alguns estados, o setor encerrou 2020 com queda de 33% na receita,  segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

Para a Abrasce, a digitalização por meio de marketplace nos shoppings é um caminho a ser seguido. Segundo dados obtidos pela associação, 59% pretendem instalar marketplaces em até dois anos.

"Os shoppings estão evoluindo e as plataformas de marketplace estão mais confortáveis de usar. Imagino que em cinco anos todos os shoppings estarão em ambiente digital", afirmou Glauco Humai, presidente da Abrasce, em coletiva realizada para a divulgação dos números do setor.

A administradora Iguatemi, que faz o gerenciamento de shoppings como JK Iguatemi, Shopping Pátio Higienópolis e Market Place, teve uma queda de 28,4% nas vendas totais no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano anterior. Já o valor arrecadado com aluguéis de lojas diminuiu 4,2%.

O Shopping Pátio Higienópolis, inaugurado em 1999, viu o seu design de interiores ser tomado por tapumes ao longo dos corredores. O estabelecimento tem cerca de 35 mil metros quadrados, contendo aproximadamente 300 lojas espalhadas por seis andares. Segundo funcionários mais antigos ouvidos pela reportagem, o local nunca viu tantas lojas fechando como neste período.

 

Segundo funcionários, o número de lojas fechadas no Higienópolis passa de 30. (Reprodução: Asbraf)
Segundo funcionários, o número de lojas fechadas no Higienópolis passa de 30. (Reprodução: Asbraf)

 

A brMalls, outra administradora de shopping centers, que tem no portfólio o Shopping Villa-Lobos, Mooca Plaza Shopping e Shopping Metrô Santa Cruz, também viu o seu faturamento cair. Conforme o levantamento do primeiro trimestre, as vendas tiveram uma redução de 26,2%, em comparação com o ano anterior. Contudo, a empresa aponta uma retomada gradual olhando o índice de 1% no aumento do aluguel de lojas.

 

Foto: Divulgação.

 

Franquia de loja cresce em meio à pandemia

Indo na contramão da maioria dos lojistas, a franquia de lojas de cultura geek Piticas aumentou o número de estabelecimentos, com uma estratégia de oferecer experiência imersiva aos clientes e apostar na conversa com as administradoras dos shoppings.

Em entrevista à Agemt, Felipe Rossetti, sócio-diretor da Piticas, conta que a franquia está chegando a 500 lojas, sendo 470 só em shoppings, incluindo galerias e shoppings menores. No começo da pandemia a empresa sentiu o impacto das lojas fechando, visto que sua atuação é majoritariamente física. No entanto, como a Piticas tem uma fábrica de vestuário própria, com cerca de 900 funcionários, decidiu lançar mão desses recursos para ajudar hospitais e segurar o impacto.

“Pegamos essa produção e viramos a fábrica inteira para fazer avental hospitalar e máscaras para hospitais, isso ajudou a gente a conseguir manter um pouco do faturamento”, comenta Rossetti.

Felipe Rossetti em loja da marca de vestuário e produtos geek (Imagem: divulgação Piticas)
Felipe Rossetti em loja da marca de vestuário e produtos geek (Imagem: divulgação Piticas)

O empresário conta que o contato com os franqueados foi frequente no ano passado, para entender a necessidade de cada um e ajudar da melhor maneira, tratando cada caso em separado. Uma das iniciativas que ele aponta para manter as lojas foi a parceria com as administradoras dos shoppings, que considera muito boa.

“A gente conseguiu negociações muito boas para esse período, o que ajudou os franqueados a se manterem nos pontos de venda”, afirma Rossetti, dizendo ter contato direto com executivos de administradoras como Multiplan e brMalls.

Para a Piticas não houve grandes fechamentos de pontos, mas sim repasse para outros franqueados interessados. Foram, segundo Rossetti, 30 repasses, que se deram porque alguns donos de franquias não se mostraram alinhados com a política da empresa e as diretrizes de expansão. “O franqueado não quer expandir,  não quer crescer,  fica ali no faturamentozinho dele e não enxerga tudo isso que a gente tá fazendo. Aí para a gente não faz sentido ter esse cara”,  complementa Rossetti.

“Para a gente faz mais sentido pôr um cara com gás, um cara que você vê que é fã da cultura pop ou da marca, o cara que tá ali com tesão todos os dias dentro do quiosque e dentro da loja, porque isso faz uma diferença”, afirma o empresário.

Sobre o futuro, o sócio-diretor da Piticas projeta que as lojas com experiências para o consumidor vão desbancar o varejo tradicional, onde há uma pessoa na porta esperando para atender o cliente, que compra e vai embora imediatamente. “A gente acredita que a experiência, ela primeiro, faz com que o consumidor fique mais próximo da marca. Segundo, os nossos números mostram que, quando tem uma experiência em loja, o tempo de permanência do cliente é maior e os números também mostram que onde tem experiência o tíquete médio também é maior”, diz Rossetti.

No entanto, o empresário ressalta que essas experiências têm que colocar o cliente dentro da temática proposta, pensando alto e usando a criatividade.

“Eu sempre falo com o pessoal: essa experiência tem que ser realmente uma experiência. Você colocar um boneco de papelão 2D, isso não é uma experiência. Uma experiência é você replicar a nave de Star Wars em 3D e colocar lá dentro o cara sentado dentro da nave brincar e fazer barulho e ter a música. Isso é experiência.”

 

Imagem da experiência da nave de Star Wars que chegará na loja do Center Shopping Uberlândia (Imagem: Instagram @ferossetti)
Imagem da experiência da nave de Star Wars que chegará na loja do Center Shopping Uberlândia (Imagem: Instagram @ferossetti)