Brasil passa por um momento decisivo entre mudanças para arrecadamento e corte de gastos
por
Maria Eduarda dos Anjos
|
19/11/2024 - 12h

A penúltima reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) aconteceu semana passada e sua ata, publicada no dia 12, apresenta a decisão unânime de elevar a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) a 0,5 pontos percentuais, levando a taxa de juros básico do país de 10,75% para 11,25%. 

Esse aumento vem como medida para, principalmente, conter a inflação, produto do balanço negativo entre os ganhos e gastos do Estado brasileiro, além de responder de forma defensiva à recente eleição de Donald Trump.

Primeiro, é importante entender o que o COPOM, SELIC, juros básicos e inflação significam na vida do brasileiro. O Copom é um grupo composto pelo presidente do Banco Central (BC) e seus diretores que, a cada 45 dias, decidem a taxa básica de juros da economia, a Selic. 

A taxa básica é a principal forma do BC tentar conter a inflação econômica. Na balança, são ponderados o estado das contas públicas, a situação internacional política e monetária, estado da inflação, movimentação do mercado de trabalho entre outros fatores, tudo para assegurar que o reajuste do juros contenha a inflação, não desvalorize o real perante outras moedas e não diminua o poder de compra da população. 

Uma das razões para o aumento da Selic é a diferença entre o gasto e o arrecadamento público de R$7,3 bilhões até setembro de 2024. Para exterminar esse déficit primário, o BC sobe o juros básico, ou seja, a promessa de valorização de seus ativos, e vende tais ativos aos bancos. 

Dessa forma, o Banco Central consegue caixa de forma mais imediata e oferece a promessa de lucro futuro para os bancos. O problema é que esse ciclo se repete e cria uma bola-de-neve. 

A economista e professora da PUC SP, Cristina Helena, explica que “o governo pega dinheiro emprestado todo mês para cobrir o déficit, que não conta com o valor dos juros dos demais empréstimos que já pegou, mas que precisa quitar simultaneamente”. O juros aumenta para pagar,também, o que já foi criado no passado pela mesma barganha que se repete.“ A conta da dívida tá fora do resultado primário, aí o montante a ser pago não para de crescer”. 

Essa medida para maior arrecadação vem junto com o pacote de corte de gastos públicos, que será anunciado por Fernando Haddad depois da reunião do G20. Representantes das pastas de Saúde, Educação, Previdência, Trabalho e Desenvolvimento Social foram chamados para discutir as reduções, já que detém a maior parte de recursos federais. 

Quando o assunto extrapola o doméstico, a eleição de Donald Trump é um fator central. O presidente já anunciou que pretende impor uma tarifa de 10% ou mais sobre todo produto importado do país, uma medida protecionista para privilegiar o mercado interno.

 

Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT
Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT

 Enquanto o aumento da Selic pode ajudar a manter o valor do Real no mercado internacional, a negociação tende ao soft power. “ O Brasil e os Estados Unidos são bons parceiros comerciais um ao outro, mas o Trump não quer só um bom parceiro comercial, ele também pede por um aliado que não seja mercado para a China, por exemplo. A América Latina vêm se beneficiando de compras mais baratas de produtos chineses e venda de minérios mais barato”, explica Cristina. 

Apesar de haver um plano de metas pelo qual a política monetária deveria se guiar, as medidas atuais de arrecadação precisam ser redesenhadas pela sua falta de efetividade, avalia a economista.Até o fim do ano,é previsto o aumento de mais 0,25 pontos para o juros básico, isso reverbera diferentemente entre compradores de títulos do governo e a população média: “ Meio ponto percentual é pouco do ponto de vista de contenção inflacionária e é muito para as famílias, e isso vira uma taxa enorme nos cartões de crédito e cheque especial”.

A cotação da moeda norte-americana chegou a R$5,86, mas encerrou em R$5,67
por
GUILHERME DEPTULA ROCHA
|
08/11/2024 - 12h

 

O dólar comercial teve forte alta na manhã da quarta-feira (6), mas caiu durante o dia. Às 9h, a moeda alcançou o valor de R$5,86. Porém, à tarde, recuou para R$5,67. A disparada recente se deu após a repercussão da vitória Donald Trump (Partido Republicano) nas eleições norte-americanas. 

Desde meados de outubro, a moeda estava se valorizando, o fato se deu devido à subida do ex-presidente nas pesquisas de intenção de voto. Conforme dados do jornal “The New York Times”, no início do mês passado, sua adversária, Kamala Harris (Partido Democrata), mantinha-se à frente, com 50% da preferência. Enquanto Trump, estava com 47%. 

Porém, nas últimas semanas, o republicano subiu nas pesquisas e se equiparou à democrata: ele alcançou 48%, contra 49% dela. Esse movimento foi batizado de “Trump Trade”. 

 

POR QUE O DÓLAR DISPAROU APÓS VITÓRIA DE TRUMP?

Aproposta de governo do presidente eleito é tida como inflacionária, a partir de políticas protecionistas. O programa prevê um aumento na taxa de juros e mais impostos para importação. A ideia é provocar migração de recursos para o mercado norte-americano, fortalecendo a moeda.

Após o resultado da eleição, o dólar disparou também em outros países. Segundo DXY, índice que monitora o câmbio da moeda norte-americana em outros mercados globais, houve uma alta de quase 2%.

 

POR QUE O DÓLAR CAIU NO FIM DO DIA?

O motivo ainda não é claro. Segundo o professor de economia da FGV, Marcelo Kfoury Moinhos, em entrevista ao “Jornal Nacional”, há uma expectativa na medida de corte de gastos fiscais. O pacote será anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ainda nesta semana.

Devido a vitória de Trump, o mercado acredita que o governo entregará um pacote “crível”. Porém, o  professor de economia aponta: “Se houver frustração no tamanho desse pacote de corte de gastos pode ser que (...) o real volte a desvalorizar.

 

FUTURO

Caso o presidente eleito cumpra com suas propostas de campanha, as projeções indicam uma alta do dólar para 2025. Devido às políticas protecionistas, poderá haver um aumento na tarifa para produtos importados, reduzindo as exportações brasileiras para os Estados Unidos.

 

Descubra como a agroecologia pode beneficiar a vida das famílias brasileiras no âmbito econômico e social
por
Jessica Castro
|
05/11/2024 - 12h

Recordes de altas temperaturas e períodos de seca extensos foram aliados às causas das queimadas recentes no Brasil. Nos últimos meses, o país viveu um cenário alarmante com mais de 139 mil focos de queimadas, muitas delas criminosas, devastando biomas importantes para o ciclo climático. 

 

Atrás desses números, estão comunidades inteiras que sofrem as consequências diretas: ar irrespirável, perda de colheitas e deslocamento forçado. Grande parte dessas queimadas está ligada à expansão desenfreada do agronegócio, que, na busca por mais terras para cultivo de soja e pastagens, utiliza o fogo como ferramenta de desmatamento. 

 

Embora o agronegócio mova a economia, sua busca por crescimento muitas vezes ignora os impactos sociais e ambientais, e o momento agora é de olhar novas alternativas de cultivo, antes que seja tarde demais.

 

Uma opção que se apresenta é a Agroecologia. A prática é uma alternativa sustentável para a produção agrícola que integra conceitos ecológicos e sociais e tem como objetivo equilibrar o cultivo de alimentos com os ciclos naturais e promover a justiça social. 

 

Diferente dos métodos convencionais, ela não se limita ao uso de técnicas orgânicas, mas envolve uma transformação mais ampla das práticas agrícolas, considerando aspectos culturais, políticos e ambientais. Seu foco é a regeneração dos solos, a conservação da biodiversidade, a redução do uso de insumos químicos e a valorização dos saberes tradicionais das comunidades rurais.

 

Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace
Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace

 

Alternativa ao Agronegócio

 

A prática da agroecologia surge como uma alternativa ao modelo convencional do agronegócio, que prioriza a monocultura, o uso intensivo de agrotóxicos e a maximização dos lucros a curto prazo. 

Enquanto esse método é fortemente dependente de insumos externos e tecnologias que degradam o meio ambiente e podem esgotar os recursos naturais, a agroecologia foca na sustentabilidade a longo prazo. Ela propõe sistemas diversificados, que integram culturas diferentes, reflorestamento e técnicas de conservação de solo e água. 

Isso torna os sistemas mais resilientes a pragas e mudanças climáticas, reduzindo a dependência de produtos químicos e fertilizantes industrializados. Além disso, o sistema agroecológico valoriza a autonomia dos pequenos agricultores, promovendo  cada vez mais sistemas alimentares locais e uma dependência menor de cadeias longas de distribuição. O que contribui para a segurança alimentar, uma vez que as comunidades produzem e consomem alimentos de maneira mais justa e próxima de seus territórios.

 

O benefício econômico a quem produz e quem consome

 

Do ponto de vista econômico, a agroecologia tem mostrado forte potencial para ser uma opção interessante tanto para o país quanto para as famílias que aderem a este sistema. 

“Iniciativas como as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA) mostram como os consumidores podem se tornar co-produtores, garantindo acesso a alimentos saudáveis e frescos, enquanto os agricultores têm mais segurança e menos desperdício”, comenta Paulo Moruzzi, professor adjunto do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq, na USP.

Moruzzi ainda pontua que o fortalecimento da relação do consumidor com a produção agroecológica pode impulsionar o fomento de políticas públicas que ampliem o acesso à alimentação sustentável.
 

Outro benefício econômico da prática é  a redução dos custos com insumos químicos, como fertilizantes e agrotóxicos, o que alivia o orçamento dos pequenos produtores; ou práticas como a rotação das culturas que permite  uma produção contínua sem prejudicar o solo ao longo do ano, garantindo uma renda estável  ao diminuir os riscos associados à dependência de uma única safra, característica comum no agronegócio.

 

Ao reduzir a pressão de utilização dos recursos naturais, além da contribuição efetiva para o meio ambiente a longo prazo, pode evitar gastos públicos na recuperação de áreas degradadas e mitigação de desastres ambientais. Além disso, a agroecologia pode impulsionar a economia local, pois promove cadeias curtas e regionais de produção. Assim, reduz a dependência do país de alimentos importados e fortalece os mercados internos.

 

Para as famílias agricultoras, a transição para este método de cultivo significa mais independência e resiliência frente às flutuações de mercado e mudanças climáticas. A segurança alimentar é ampliada, e o valor agregado dos produtos agroecológicos pode aumentar os lucros, já que esses produtos têm um apelo crescente entre consumidores conscientes, dispostos a pagar mais por alimentos produzidos de forma sustentável.

A agroecologia está profundamente enraizada no cotidiano de comunidades quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais no Brasil. Esses grupos, que possuem uma relação ancestral com a terra, cultivam alimentos de maneira sustentável e em harmonia com o meio ambiente. 

Mas a prática não é exclusividade dessas comunidades, ela também é adotada pela agricultura familiar e por assentamentos e acampamentos da reforma agrária. Hoje, cerca de 77% dos comércios agropecuários do país são familiares, segundo dados do Anuário da Agricultura Familiar de 2023, e muitos deles estão integrando práticas agroecológicas para preservar o solo e valorizar a biodiversidade do local onde produzem.

Essas iniciativas promovem um modelo de agricultura que valoriza o saber local e protege biomas únicos e super importantes para o equilíbrio climático do país, como o Cerrado e a Amazônia. 

A agroecologia fortalece o vínculo entre quem produz e quem consome, criando relações de consumo mais justas e solidárias. Isso ocorre, em grande parte, por meio de feiras agroecológicas e programas de políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que compra alimentos de pequenos produtores para fornecer refeições nas escolas. Essas teias garantem que o alimento chegue de maneira saudável e acessível às mesas, enquanto geram renda e fortalecem famílias agricultoras ao mesmo tempo.

Outros olhares para o consumo de alimentos

A conexão entre a agroecologia e o modo de consumo vai além da idealização de uma produção agrícola sustentável, aqui refletimos também a forma como nos relacionamos com os alimentos, os recursos naturais e as comunidades que os produzem. Esse conceito reflete a necessidade de repensarmos não só a maneira como consumimos, mas também as implicações sociais, ambientais e econômicas envolvidas no processo.

Esse olhar diferenciado para o consumo de alimentos inclui para além da valorização de produtos orgânicos produzidos por um sistema agroecológico, as métricas de quanto desperdiçamos e consumimos exacerbadamente. A agroecologia não se limita à produção sustentável, mas envolve uma conscientização mais ampla sobre a forma como os alimentos são utilizados ao longo da cadeia, desde a produção até o descarte.

O consumo consciente, nesse sentido, diz respeito a um repensar em nossos hábitos alimentares, para garantir que tudo o que consumimos não acabe em desperdício, uma prática que impacta seriamente o meio ambiente e os recursos naturais e o bolso do consumidor. 

 

Precisamos perceber que a quantidade de alimentos comprados e descartados repousa diretamente em impactos socioambientais porque contribui para a emissão de gases de efeito estufa e esgotamento dos solos. Portanto, como e o que comemos pode fazer uma grande diferença.

 

Em entrevista, o professor Paulo Moruzzi destaca a importância do Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro, data que marca a criação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), que completa 79 anos. Ele ressalta: “Nos últimos anos, esta organização multilateral tem insistido em suas orientações para os debates em torno dos problemas agroalimentares mundiais sobre a importância da busca simultânea de preservação ambiental e de garantia do direito humano à alimentação adequada. Desde 2019, a FAO promove a década da agricultura familiar, visando favorecer sistemas alimentares resistentes às mudanças climáticas e indutores de desenvolvimento territorial inclusivo, protegendo a biodiversidade, o meio ambiente e a cultura." 

 

A agroecologia passa a não ser apenas um modelo de produção, mas um convite para repensar o ciclo de vida dos alimentos e nosso papel dentro dele, promovendo uma relação mais responsável e equilibrada com o meio ambiente.

 

Prévia do IPCA-15 sobe 0,54%, puxada por alta nos preços de energia e alimentos, e reforça expectativa de novo aumento na Selic em novembro
por
Otávio Rodrigues Preto
|
30/10/2024 - 12h

A prévia da inflação oficial de outubro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) e divulgada pelo IBGE na última quinta-feira (24), surpreendeu o mercado ao registrar uma alta de 0,54%, acima das expectativas dos analistas, que previam 0,50%. Esse resultado trouxe um impacto significativo para a economia brasileira, pressionando tanto o câmbio quanto o mercado de juros, além de influenciar o desempenho da bolsa de valores.

A alta do IPCA-15 foi impulsionada principalmente pelo aumento de 1,72% no grupo Habitação, com destaque para a elevação de 5,29% nos preços da energia elétrica residencial. A aplicação da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que adiciona R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos, foi o principal fator para o encarecimento da energia. Outros itens também contribuíram para a pressão inflacionária, como o gás de botijão, que subiu 2,17%, e os alimentos, que tiveram alta de 0,87%. Entre os produtos alimentícios, destacaram-se o contrafilé (5,42%) e o café moído (4,58%).

No acumulado de 12 meses, a prévia da inflação passou de 4,12% em setembro para 4,47% em outubro, ficando próxima do teto da meta de 4,50% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para 2024. Essa aceleração aumenta a expectativa de que o Banco Central (BC), sob a liderança de Roberto Campos Neto, intensifique o ritmo de alta da taxa Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 5 e 6 de novembro, e espera-se um aumento de 0,50 ponto percentual.

Dólar - Unsplash.com
Dólar - Unsplash.com

Enquanto isso, o mercado reagiu com nervosismo à divulgação dos dados. O dólar atingiu R$ 5,70 na manhã de quinta-feira, refletindo as preocupações com a inflação e o futuro da política monetária. O índice Ibovespa, por sua vez, abriu em queda, pressionado pelo cenário interno, apesar de um ambiente positivo nas bolsas internacionais, com altas nos mercados europeus e Wall Street indicando uma abertura no verde.

Além de Habitação e Alimentação, o grupo de Saúde e cuidados pessoais também registrou alta de 0,49%, influenciado pelo reajuste dos planos de saúde. O único setor a apresentar queda foi Transportes, com uma redução de 0,33% nos preços, devido principalmente à queda nas tarifas de passagens aéreas (-11,40%) e transporte público, reflexo de medidas de gratuidade durante as eleições municipais.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Decisão visa evitar problemas para o Novo Banco de Desenvolvimento em meio às sanções contra a Rússia e fortalecer o papel do Brasil no bloco econômico.
por
Otávio Rodrigues Preto
|
30/10/2024 - 12h

O presidente russo, Vladimir Putin, confirmou na última quinta-feira (24) a proposta de manter o Brasil na liderança do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), principal instituição financeira do BRICS, por mais cinco anos, garantindo a continuidade de Dilma Rousseff na presidência do banco. O atual mandato de Dilma, iniciado em março de 2023, terminaria em julho de 2025, mas a extensão foi sugerida para evitar possíveis complicações relacionadas à guerra na Ucrânia.

Segundo Putin, a decisão de manter Dilma no cargo tem o objetivo de preservar a estabilidade do NDB, considerando que as sanções impostas à Rússia devido ao conflito poderiam prejudicar a atuação da instituição caso um executivo russo assumisse a presidência. "Não queremos transferir todos os problemas associados à Rússia para instituições em cujo desenvolvimento estamos interessados", afirmou o presidente russo.

Pelo regime de rodízio do NDB, a Rússia seria a próxima a indicar o presidente do banco, que tem sede em Xangai, na China, e gerencia cerca de US$ 33 bilhões em financiamentos para projetos nos países do BRICS e no Sul Global. No entanto, Putin optou por abrir mão da indicação russa, favorecendo o Brasil, que também está à frente do G20 este ano e assumirá a presidência do BRICS em 2025.

Os paísesque fazem parte do BRICS
Os países que fazem parte do BRICS - Reprodução Canva

Dilma Rousseff, que substituiu Marcos Troyjo na liderança do NDB, destacou recentemente a importância do banco em expandir os investimentos nos países do bloco e defender o uso de moedas locais para o financiamento. "É crucial disponibilizar financiamento em moeda local através de plataformas específicas", afirmou durante a última cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia.

A proposta de extensão do mandato ainda precisa ser formalmente aprovada pelos governadores do banco, que representam os países membros. Caso seja confirmada, a continuidade de Dilma reforçará o papel do Brasil no cenário internacional, especialmente no momento em que o país lidera grandes fóruns multilaterais, como o G20 e o BRICS.
 

Com o avanço da vacinação contra o coronavirus, países como EUA querem vacinar seus turistas, mas a que preço?
por
Suzana Rufino e Silvana Luz
|
24/06/2021 - 12h

Por Suzana Rufino e Silva Luz

Enquanto o Brasil caminha em passos lentos, países como os Estados Unidos e Rússia entre outros, já pensam em vacinar turistas. A prioridade é vacinar sua população, porém, como o comprovante residencial não está sendo solicitado, muitos estrangeiros, inclusive brasileiros, estão comprando pacotes de viagens rumo a nação estadunidense (o que mais se destaca). No entanto, para o Brasil, há um cumprimento obrigatório de ficar em quarentena no México ou em uma ilha Caribenha antes de ir aos EUA, devido os altos números de óbitos por covid-19. Por esse lado, parece uma questão de organização, dinheiro e lucro, pois para os que têm condições financeiras, só basta comprar um pacote de voo, ficar 15 dias em um país emergente ou ilha, e depois, partir para o destino final, e os que lucram, simplesmente ganham o título de “acolhedor” e “esperto”. O deficit dessa questão, são os quem podem e não podem aderir esse turismo, por que, no caso do Brasil, a maioria da população, hoje, busca o auxilio emergencial para sobreviver, então, percebe-se que, os únicos que podem adquirir o “passaporte da salvação” são os ricos.

Os EUA aceitam turistas para vacinarem, porém, para os brasileiros, a quarentena terá que ser cumprida em um país subdesenvolvido, como o México (o mais optado). E qual a vantagem desse último? Nada, risco de mais contágios e surgimento de novas cepas. Mas o turismo, um dos setores mais atingidos em meio a pandemia, os mexicanos podem lucrar com isso? Não! Pois, será uma estadia sem lazer de 15 dias, com o intuito de observar se o turista não foi contagiado, por que não pode viajar para os Estados Unidos nessas condições “eles querem pessoas sadias, que se vacinam lá e gastem”. Isso mostra o quão o Brasil tem uma governaça precária, pois se não tivesse negado as altas subnotificações de mortes por coronavírus, muitas vidas estariam preservadas. O fator é que não foi só o governo de Jair Bolsonaro que preferiu tapar os olhos para não assistir o colapso de sua má administração em meio a pandemia da covid-19, a população também contribuiu, seus seguidores, principalmente (a maioria) ricos, que até hoje, negam a proporção da doença e defendem o tratamento precoce. As agências de turismo foram as que mais perderam com essa pandemia, e provável, que lucrem com essa empreitada. Porém, lucrar com algo incerto, pois não é certeza que os turistas que comprarem o pacote vão se vacinar, e não se preocupar com o país que recebem essas pessoas para quarentena, não é sensato, é imoral e egoísta.

O publicitário Diego Silvero de 29 anos, mora desde 2002 na Califórnia e conta com olhares atentos, como está sendo a vacinação da população e turistas (brasileiros). “O governo incentiva a vacinação em locais públicos como shoppings e metrôs, e a vacina que está sendo aplicada é a Janssen, a de dose única. O incentivo vem de diversas formas, exemplo, no metrô, o cidadão americano que for vacinado, ganha passagem durante sete dias, pois existem algumas pessoas relutantes em se vacinar, então o governo faz dessa forma para poder incentivar a vacinação, porém isso é restrito a cidadãos. Já para os brasileiros, eles devem fazer uma quarentena de 15 dias  no México ou em alguma ilha Caribenha antes de poder ser vacinado. Todos os brasileiros estão sujeitos a essa quarentena. Situação triste, pois somos vistos como um País que pouco se importa com a crise sanitária e seus cidadãos. Enfim, os Estados Unidos estão descrentes perante a nós”.     

O economista, mestre em economia e professor Marcos Henrique do Espírito Santo, fala sobre a precariedade do Turismo da Vacina. “Uma coisa muito nova que está acontecendo agora que é essa questão do turismo da vacina, que em primeiro lugar, países, como por exemplo, o México ou os caribenhos, que tem servido de quarentena para poder entrar nos Estados Unidos, no meu ponto de vista revela muito mais da nossa miséria e da nossa mediocridade do que propriamente de um negócio. Dada a incompetência do governo brasileiro pensando no nosso caso, dos ricos que podem fazer esse turismo da vacina, pensando na nossa mediocridade na nossa desigualdade gigantesca, os ricos que primeiro trouxeram o vírus para cá, uma parte deles negou a pandemia, forçou a economia abrir, ajudou a fazer um discurso junto com esse presidente negacionista para colocar o povo na rua para trabalhar, e claro para que suas vendas não caíssem, para que seus lucros não caíssem, vão para um país pobre também como o México fazer quarentena, porque os Estados Unidos não são bobos nem nada, eles falam *você fica aí fora um tempinho até poder entrar aqui tomar vacina*. Isso revela o tamanho da miséria que a gente vive, quer dizer, a gente vive um caos completo aqui dentro, meia dúzia de sujeitos com poder aquisitivo altíssimo, saem daqui e vão fazer quarentena em outro país pobre, para depois poder chegar nos Estados Unidos e tomar a vacina. Quer dizer, que no fim a vacina realmente é o que salva vidas, essa gente sempre soube disso, mas fez questão de negar porque colocar os outros para trabalhar em aglomeração é muito mais fácil que a própria vida deles. Então nesse ponto de vista, não vejo vantagem nenhuma para o país que recebe esses turistas ricos, que vão fazer a quarentena. O México por exemplo, também vive um problema não como nosso, mas muito parecido com grau alto de contaminação e que corre um risco sério de ter novas cepas, de misturar esses vírus que estão circulando etc". 

"No ponto de vista comercial, as agências de viagem claro, devem estar conseguindo ganhar alguma coisa tendo em vista que o turismo foi o principal setor atingido, junto com comércio e serviços nessa pandemia, porque fechou tudo, impôs restrição etc., mas eu acho que isso é mais um problema moral, intelectual e da nossa formação mesmo do que uma questão econômica e revela o tamanho do buraco que a gente se meteu. Um governo que não pode se chamar de governo, isso que a gente tem, negou a pandemia propositalmente para reforçar um discurso para os seus apoiadores para manter a sua narrativa com a sua base, arriscou matar quase meio milhão de pessoas, isso se desconsiderar a subnotificação. E agora, essa meia dúzia de ricos que apoiou isso que se chama de governo, que pega o seu bom dinheirinho que vai para os Estados Unidos tomar vacina. Então, isso é uma coisa que não tem como achar legal, é uma questão a meu ver, medíocre nossa brasileira, latino-americana, do ponto de vista financeiro, eu realmente não sei avaliar porque acho que são tão poucos casos que  isso revela muito mais uma a uma questão exótica que é a elite latino-americana, que ter propriamente um impacto econômico efetivo. Acho que é só para rir da nossa cara mesmo mostrar o quão miserável nós somos,  mesmo com o tamanho do SUS, a competência vacinação e a gente não conseguir dar conta disso e permitir que essa gente deite e  role literalmente em cima da nossa desgraça brasileira. Do ponto de vista de problemas que as agências podem ter, eu não vejo nenhum problema elas estão é ganhando dinheiro e aproveitando essa demanda peculiar, eu acho que quem ganha e quem perde são sempre os ricos que ganham e a grande massa sempre perde para os ricos. Daqui a pouco ano que vem os ricos vão apoiar novamente esse governo desde que ele mantenha essa agenda de destruição nacional e por aí vai e vai continuar dessa forma mesmo é uma questão eminentemente política, então a manutenção desta narrativa, apoiada por esses ricos que vão para fora tomar vacina revela quanto medíocre nós somos de maneira geral.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
Aplicações em renda variável podem ter maiores ganhos, mas embutem também risco mais alto
por
Maiara Yokota
|
22/06/2021 - 12h

Dentro do mundo financeiro há uma diversidade de produtos a serem escolhidos. O primeiro passo a ser dado é a escolha de um consultor financeiro, para administrar os investimentos do indivíduo.  Ele analisará o objetivo e o perfil do investidor, antes de realizar as sugestões que atendam às suas necessidades. Em algumas circunstâncias o investidor não tem possibilidade de bancar essa gestão financeira. Nesse caso a opção seria buscar conhecimento gratuito de profissionais dentro da área.

Em entrevista à Agemt, os consultores financeiros Ana Hutz e Alexandre Vilarinho compartilharam algumas dicas para pessoas interessadas em investir, mas sem correr grandes riscos. Começando pela escolha do produto ideal, os dois abordaram pontos semelhantes para a tomada dessa decisão, como, por exemplo, a liquidez do ativo (facilidade de resgatá-lo) e confiabilidade da instituição financeira.

Tratando-se de ativos financeiros, tem-se a renda fixa e a renda variável. A primeira está ligada a produtos com menos riscos, pois a partir do momento em que o indivíduo compra um título, ele já tem em mente as possíveis perdas, que estariam nas descrições do produto, no caso a rentabilidade e as variações de índices como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e a taxa Selic (juros básicos). A renda variável, por sua vez, abrange produtos de médio e alto risco, devido à intensa presença de volatilidade (variações/instabilidade).

 A renda fixa possui vários produtos, que seriam títulos a serem vendidos por instituições. Comprar um título do banco, significa que você está emprestando dinheiro para essa instituição e ela irá lhe pagar de acordo com as descrições do produto. O Tesouro Direto são títulos públicos, considerados os investimentos mais seguros, mesmo não estando cobertos pelo chamado, Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Além dele, os títulos de bancos CDBs, as letras de crédito LCI (setor imobiliário) e LCA (setor do agronegócio) que são isentos do Imposto de Renda e por fim as debêntures, títulos de empresas privadas sem cobertura do FGC.

O investidor conservador tem duas possibilidades dentro da renda fixa: os títulos prefixados e os pós-fixados. No momento da compra os prefixados costumam ter o seu risco anexado no produto, como por exemplo um CDB com rentabilidade de 10,1% ao ano, e com vencimento de quatro anos. Esse crédito bancário terá um retorno de 10,1% do valor total, por ano, que no caso seria pelo período de quatro anos. O pós-fixado possuí uma variável que seria o IPCA ou a taxa Selic, o que impede prever a sua rentabilidade.

 A consultora Ana Hutz pontua que há uma vantagem de investir em produtos pós-fixados e que a diversificação é algo positivo. “Quando eu penso em longo prazo, gosto de uma combinação de coisas. Produtos que paguem inflação, ou seja, produtos indexados ao IPCA, são uma boa opção para o longo prazo. Às vezes para período mais curto é bom ter um pouquinho de prefixado, porque geralmente já se prefixa uma inflação mais alta, quando ela está subindo. Então vale a pena ter um pouquinho de prefixado para um período menor.

Dentro do segmento de perfis de investidores, tem-se o arrojado. Ele está disposto a grandes correr maiores riscos em busca de ganhos mais expressivos. Na renda variável há o mercado de ações, portando operações como o swing trade (compra e venda em períodos mais longos) e o day trader (compra e venda no mesmo dia). Há também o mercado futuro, o mercado de opções e as criptomoedas. Esse tipo de investidor costuma arriscar-se no mercado de ações e no mercado das criptomoedas.

Alexandre Vilarinho tem um ponto de vista crítico sobre o mercado de criptoativos. Ele não recomenda esse produto para os seus clientes e pontua que em sua avaliação os criptoativos vieram para ficar como uma moeda de troca, uma forma de vender e comprar objetos. Para ele o dinheiro é um meio de troca. O que seria diferente de comprar ações, pois elas têm uma maior valorização com o tempo

Sobre o mercado de ações, o consultor financeiro aborda que não é possível viver apenas de trading, e estende a sua fala: “O trader faz parte de uma estratégia de investimento de alguém mais arrojado, que se dedicou e estudou, mas sempre recomendo que a pessoa tenha outro tipo de fonte de renda. Tenha diversificação nos investimentos e separe uma parte para fazer trading, porque são operações de muito risco”. É primordial não depender do dinheiro investido no mercado de ações e esse pensamento também pode definir a relação que o investidor deve ter no mercado de opções e no mercado futuro. Pois eles são mais restritos até para o investidor arrojado, por serem de altíssimo risco. Então necessita-se de experiência, conhecimento e diversificação na carteira de ativos.

No decorrer da entrevista, Vilarinho ressaltou a importância de identificar a finalidade do investidor com o produto. Disse que é necessário avaliar o perfil do investidor, mas que não adianta ele ter um perfil mais arrojado (propenso a riscos) se a sua finalidade seria investir com prazos definidos – por exemplo, financiar uma moradia ou um automóvel. O consultor destacou a importância de definir o prazo em que o indivíduo precisa desse retorno e também o seu objetivo, que no caso hipotético seria comprar uma casa. Mesmo com o perfil que suporte riscos, ele já não poderia optar por arriscar.

O investidor conservador e com pouca renda pode criar a sua reserva financeira, pois os juros compostos irão agir caso ele tenha disciplina. Investir é uma forma de deixar de trabalhar por dinheiro e fazer com que o dinheiro execute esse papel. Vilarinho dialoga com essa afirmação proposta, concordando e afirmando que o investimento tem a finalidade de conduzir o indivíduo a sua liberdade financeira, para que ele possa fazer escolhas que têm a ver com aquilo que ele gosta de fazer. Por meio de suas palavras, conclui-se que o importante não é quanto o indivíduo pode investir e sim o ato de investir constantemente.

Imagem da capa: Freepik.

Após dois anos e meio do mandato de Bolsonaro, nenhuma das 17 vendas planejadas por Paulo Guedes foi feita
por
Barbara Cristina
|
10/06/2021 - 12h

A agenda de austeridade fiscal prometida pelo atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes,  não passará de uma simples ilusão.  Faltando um ano e meio para o fim do mandato, a promessa de diminuir as funções e a atuação do Estado em diversas áreas não será concluída.

No início de 2019, quando Bolsonaro tomou posse, o país tinha 209 estatais, seja de controle direto da União, seja ou subsidiárias (ou seja, empresas controladas por estatais como Banco do Brasil, Petrobras, Eletrobrás, Caixa, Correios e BNDES). Desse total, dezessete foram colocadas na mira para a privatização. A lista abrange diversos setores e inclui Codesp, Dataprev e Casa da Moeda (veja a relação completa na tabela).

  • Emgea (Empresa Gestora de Ativos);

  • ABGF (Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias);

  • Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados);

  • Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo);

  • Ceasaminas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais);

  • CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos);

  • Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A.);

 

Para a Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, ligada ao Ministério da Economia, a criação das estatais violou o artigo 173 da Constituição Federal, que determina que a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo. Desta forma, o governo pretende lucrar bilhões com as vendas, abatendo a dívida pública e investindo nas companhias que considera essenciais.

O ministério da economia avaliou uma arrecadação de cerca de R$ 150 bilhões em privatizações  somente em 2020. Os últimos dados disponibilizados pelo governo demonstraram  que, apenas na área de infraestrutura, a venda de ativos rendeu  R$ 16,8 bilhões  desde o início da agenda. A equipe econômica vê potencial para mais. No entanto, para outras privatizações  acontecerem, é necessária uma série de aprovações e análises, podendo durar até dois anos. 

Obstáculos

Foi pela dificuldade de fazer acontecer uma das principais promessas de Bolsonaro na campanha, que o ex-ministro da Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercado, Salim Mattar, deixou a pasta, em setembro do ano passado. Em entrevista à imprensa, ele disse que o Estado não tem interesse na redução de seu tamanho e, consequentemente, em levar adiante o programa de privatizações.

O ministro  Paulo Guedes, por sua vez, tem apontado obstáculos políticos e burocráticos para o avanço das privatizações. "As privatizações não andaram, e eu estou convencido hoje, porque havia um acordo político de centro-esquerda para não pautar. E dentro do governo também havia alguma resistência. Todo ministro gosta de uma empresa que está embaixo do ministério dele", afirmou Guedes, durante evento online da Câmara Internacional de Comércio, em novembro de 2020.

Dentre os ministros que não aprovaram a agenda, um deles seria Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovações), segundo disse Salim Mattar em entrevista quando ainda estava no governo Pontes chegou a divergir publicamente de Bolsonaro sobre a privatização dos Correios, uma das seis estatais sob seu guarda-chuva. Entre as outras, estão a Telebrás e a Empresa Brasileira de Comunicações (EBC). 

Impacto socioeconômico

Entre os questionamentos em torno dos impactos econômicos e sociais das privatizações, a indagação sobre o efeito na população é a mais recorrente. O professor e economista André Paiva analisa uma das possíveis consequências das privatizações de empresas como a Petrobras.

“Empresas que atuam em setores estratégicos, como de energia, petróleo e gás, exercem uma função e têm uma participação muito expressiva. Se formos ver a Petrobras, ela tem uma participação muito grande, então qualquer aumento que ela venha a ter sobre a precificação dos combustíveis, como vem ocorrendo, tem um impacto direto para todo o conjunto da sociedade, principalmente para quem é muito dependente do modal rodoviário e transporte dado a sua extensão.”.

Paiva acrescenta que caso as empresas se pautem apenas para garantir o lucro dos acionistas, elevarão muito os preços dos combustíveis, encarecendo todos os produtos do país, restringindo ainda mais orçamento das famílias que dependem dos transportes baseados em gasolina e etanol.

Em contraponto à agenda de Guedes e aos argumentos do ministro, o professor considera as privatizações de todas as estatais um equívoco. “É evidente que apenas transferir, vender as empresas – muitas delas são amplamente lucrativas em setores muito estratégicos para o desenvolvimento econômico, social e regional do país – se mostra um equívoco que não é  suficiente e realmente necessário para conter a deterioração das contas públicas e da economia. Muito pelo contrário, essas empresas têm um papel fundamental para o desenvolvimento do país.” 

 Até o momento, oito privatizações foram realizadas, sendo quatro subsidiárias da Petrobras (Pasadena, Petrobras Paraguay, TAG e BR  Distribuidora) e quatro vendas de participações de estatais em outras empresas (Neoenergia, Petrobras, IRB e Fgeduc – Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo).  Das 17 estatais mencionadas acima, somente a Eletrobras está próxima de ser privatizada. No dia 19 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou a Medida Provisória que dá continuidade ao processo de privatização. Ela precisará ser votada novamente até 22 de junho para não perder a validade e poderá sofrer alterações. A Eletrobras poderá ser a única das mais de dezenas estatais presentes na agenda liberal do governo Bolsonaro a ser privatizada.

Com abordagens opostas na pandemia, Nova Zelândia e Brasil colhem resultados diferentes na economia
por
Eleonora Marques e Bianca Monteiro
|
09/06/2021 - 12h

O Lowy Institute - um centro de pesquisa localizado na em Sidney, na Austrália - estudou a forma com que 98 países lidaram com a pandemia. Em sua pesquisa, o Instituto analisou - entre outros fatores - a quantidade de casos e mortes confirmadas por milhão de habitante e criou uma metodologia para ranquear os países, dando maior nota àqueles que lidaram melhor com o coronavírus. 

Na lista, divulgada em 9 de janeiro, a Nova Zelândia ocupa o primeiro lugar, com pontuação de 94,4. Logo atrás está o Vietnã, com 90,8, e Taiwan, com 86,4. Na outra ponta, o pior resultado ficou com o Brasil - que pontuou apenas 4,3 -,  mais de 90 pontos a menos que o primeiro colocado. Junto com o Brasil, México e Colômbia também tiveram resultados ruins, atingindo 6,5 e 7,7, respectivamente. 

Desse modo, de acordo com o Our World In Data - uma revista científica da Universidade de Oxford - a Nova Zelândia teve apenas 0,44 morto por milhão de habitante, enquanto o Brasil teve 302, cerca de 700 vezes mais.

Com cenários tão distintos entre os países, como ficam as projeções para a economia? Qual o impacto da gestão da doença nos respectivos prognósticos econômicos? 

Resultados de 2020 

O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulga periodicamente o World Economic Outlook, um relatório contendo suas projeções para a economia de todo o mundo. Na última edição, publicada em abril deste ano, o órgão mostrou que 2020 foi um ano difícil para todos os países: em média, o mundo teve queda de 3.3% em seu PIB. 

Na separação por continentes, o FMI mostra que os mais afetados pela pandemia foram a América Latina e Caribe - com queda média de 7% no PIB  - e a Europa, uma das primeiras atingidas pela doença, com queda de 6,6%. 

Enquanto isso, os melhores resultados foram na Ásia, que, no agrupamento usado pelo FMI, também conta com a Oceania. No ano passado, o PIB do continente caiu apenas 1%, provavelmente impulsionado pela China, Nova Zelândia, Austrália, Taiwan e Vietnã. 

Comparativo entre o melhor país e o pior país 

Como a pesquisa do Lowy Institute mostrou, o melhor país no enfrentamento da pandemia foi a Nova Zelândia e o pior, o Brasil. No World Economic Outlook, é possível ver as perspectivas para ambos e o país insular da Oceania vence o Brasil em todas elas. 

 

PIB 2021

PIB 2022

PIB 2026 

Brasil

  • 3,7% 

  • 2,6% 

  • 2,0%

Nova Zelândia

  • 4,0%

  • 3,2%

  • 2,5%

Além de ter estimativas menores, muitos economistas veem viés de baixa para o PIB do Brasil, devido - principalmente - à piora na pandemia. 

É o caso de Eduardo Yuki, Stephan Kautz, Lucas Augusto e Thalita Silva, economistas do Banco Safra. De acordo com a instituição, que recentemente diminuiu sua projeção para o PIB, o Brasil deve crescer apenas 3% em 2021. 

Segundo eles, além do problema sanitário, esse é o resultado da soma de quatro fatores: 

Aumento no preço médio de bens e serviços; juros maiores (que limitam o acesso das famílias ao crédito); dificuldade no mercado de trabalho (que não vem se recuperando como o previsto) e falta de um programa de transferência de renda na magnitude do auxílio emergencial 

Para 2022, os especialistas do Safra também têm visão mais pessimista que o FMI. Em vez de 2,6%, esperam que o país cresça apenas 1,8%. 

Por outro lado, a Nova Zelândia já tem comércio aberto há meses e recentemente também voltou a permitir shows, alguns para mais de 50 mil pessoas. Com isso, sua economia tem funcionado quase como na era pré-Covid (com a exceção de aviões, ônibus e trens, únicos lugares onde ainda é obrigatório o uso de máscara), cenário ainda distante do Brasil

 

A pandemia levou milhões de pessoas a abrirem seus próprios negócios; desemprego é um dos impulsionadores
por
Isabella Cavalcanti Fonseca e Laura Barbugian
|
07/06/2021 - 12h

O Brasil terminou o primeiro trimestre com desemprego recorde. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação atingiu 14,7% no período, o maior índice já verificado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, quase dois milhões de pessoas se somaram ao grupo de desempregados, que alcançou 14,8 milhões.

Paralelamente – e, em grande medida, como consequência disso –, o país atingiu outro recorde no ano passado: o maior número de empreendedores registrados. Os MEI’s (microempreendedores individuais) cresceram 14,8% em comparação com o ano de 2019, chegando a 10,9 milhões de registros, segundo dados do Portal do Empreendedor, do governo federal.

Uma estimativa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta que aproximadamente 25% da população adulta está envolvida com a abertura ou atividade de um negócio individual.

Em entrevista para a Agência Brasil, Carlos Melles, diretor-presidente do Sebrae, afirmou: “O desemprego está levando as pessoas a se tornarem empreendedoras. Não somente pela vocação genuína, mas pela necessidade de sobrevivência”. De acordo com ele, o cenário pandêmico e a crise econômica gerada pela Covid-19 funcionaram como impulsos para a atividade empreendedora. Já a jornalista Juliana Andrade, da Forbes Brasil, publicou: “Apesar das tendências negativas e impactantes, o brasileiro tem levado ao pé da letra a ideia de que crise gera oportunidade”.

MOOCA BUNS

Alexandre Gitti, de 21 anos, abriu seu negócio em junho de 2020, após três meses de quarentena e isolamento social no estado de São Paulo.

O estudante de Gestão de Políticas Públicas da USP aproveitou seu tempo disponível, uma vez que as aulas estavam suspensas, e se juntou com a sua mãe Rosane para testar uma receita tipicamente americana: os cinnamon rolls. “Eu estava desempregado e fiz algumas receitas diferentes com a minha mãe. Percebi que o que fizemos não existia por aqui, e, como não tinha muita coisa a perder, comecei o negócio”, afirma.

Assim nasceu o Mooca Buns, um empreendimento familiar de confeitaria caseira e aconchegante, com produção e vendas voltadas 100% para o delivery, retirada, encomendas e pronta-entrega. “O mercado de delivery explodiu na quarentena, fazendo muito mais gente vir mais ligada nas redes sociais para pedir comida, o que ajudou demais na divulgação.”

De acordo com um levantamento realizado pela Statista, empresa especializada em dados do mercado de consumidores, o Brasil foi responsável por 48,77% do segmento de delivery em toda a América Latina em 2020. O país registrou um aumento de 975% no número de pedidos durante a pandemia.

O negócio de Alexandre alcança, em média, 150 clientes mensais, podendo sofrer alterações em meses com datas comemorativas, como Páscoa e Dia dos Namorados. Além de seu produto final muito bem executado, sua fama vem também das redes sociais. O perfil do Mooca Buns no Instagram (@moocabuns) conta com mais de 3 mil seguidores ativos e uma forte identidade de marca e de marketing.

Apesar das incertezas, Alexandre planeja expandir o negócio depois da quarentena “Pretendemos abrir uma cozinha maior para delivery e retirada e talvez um espaço de salão no longo prazo”. Por ora, o Mooca Buns continua crescendo dentro e fora do forno.

BETTER BURGER

A Better Burger é uma hamburgueria localizada na Rua Rio Grande do Sul, em São Caetano do Sul, que abriu suas portas em julho de 2020. Idealizado por Vitor Tarifa, 20 anos, o negócio já era sonhado há muitos anos: “Ele nasceu pelo meu amor por cozinhar e por hambúrgueres, que tenho desde pequeno. A necessidade de ganhar dinheiro deu o empurrão que faltava”, conta.

Mesmo com a quarentena, a inauguração aconteceu com o salão e cozinha industrial já construídos e prontos para o público, o que exigiu ainda mais capital: “A quarentena de fato não ajudou, porque, por muito tempo, não passava ninguém na porta. As ruas estavam desertas e o comércio não estava girando. Em compensação, o delivery explodiu e conseguiu equivaler, mas atrapalhou muito, visto que a ideia era um atendimento presencial”.

O negócio, que funciona por delivery, retirada e salão, apresenta uma forte inclinação para o método de entregas, alcançando 5 vezes mais vendas do que no consumo local. Na plataforma iFood, aparece como um “super restaurante”, nome dado aos locais de boa avaliação dos clientes e baixo percentual de cancelamentos e atrasos.

A Better Burger recebe por volta de 30 pedidos diários e seus principais meios de divulgação são as redes sociais (@betterbuger.br no Instagram) e a panfletagem de bairro. “Como abrimos na pandemia, não somos muito conhecidos na região. Nas redes, conseguimos construir um bom trabalho”, diz Vitor.

VILACASABELA

As amigas Regina Cavalcanti, 53, e Cleís Pompeu, 51, se conheceram no mundo coorporativo há mais de 25 anos, onde trabalharam na Alcon Brasil. Depois de dois anos em que ambas estavam desempregadas, decidiram dar vida para uma paixão em comum: decoração e mesa posta.

A VilaCasaBela é um negócio que reúne lugares americanos, guardanapos, trilhos e sousplats de produção própria e venda através do Instagram (@VilaCasaBela), Facebook e WhatsApp.

A disponibilidade de tempo proporcionada pelo isolamento social e pela pandemia possibilitou a consolidação do negócio: “Nós sempre achamos fundamental criar um ambiente e atmosfera agradável para reunirmos família e amigos em refeições. Esse momento reúne e aproxima as pessoas. Com a pandemia, ficamos restritas às nossas casas e refletimos a possibilidade de proporcionar isso para os outros, mesmo de longe”, conta Regina.

Hoje, os clientes alcançam a marca de 15 compras mensais, com alta em datas como Natal, Ano-Novo e Páscoa. Além de trabalharem todos os dias, Regina e Cleís são mães e produzem, todas as quintas-feiras, 100 marmitas para pessoas em situação de rua impactadas pela Covid-19 através do grupo “Marmitas do Amor”, em São Paulo.

Animadas com o negócio, as amigas já traçaram diversas metas para 2021. A partir do próximo semestre, elas passarão a disponibilizar treinamentos para clientes interessados em aprender a arte de montar uma mesa. Além dessa informação em primeira mão, Cleís compartilhou os planos para além da quarentena: “Pretendemos continuar crescendo e expandir o negócio para uma loja física, onde comercializaremos nossos produtos de produção própria e decoração”.