Sem orientação adequada, donas de pequenos negócios relatam dificuldades para entender as mudanças na economia e veem sua renda ameaçada
por
Manuela Dias
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28/11/2025 - 12h

A falta de informação qualificada tem se tornado uma das principais barreiras para microempreendedoras brasileiras que dependem de insumos importados ou de produtos cujo preço varia conforme fatores globais. Em meio a mudanças recentes nas taxas, oscilações cambiais e aumento da burocracia para transações internacionais, muitas afirmam que não sabem onde buscar apoio técnico. É o caso de Danielle Nayara, maquiadora e microempreendedora, que iniciou seu negócio após deixar o emprego formal para trabalhar com eventos.

“Eu sempre gostei de maquiagem, mas nunca tinha pensado em maquiar outras pessoas. Só comecei depois de uma sugestão, fiz um curso e acabei me apaixonando pela profissão”, conta. Hoje, ela atende clientes em casa, em eventos e até pernoita em residências para preparar noivas e madrinhas. Mas apesar da agenda cheia, manter o negócio funcionando tem se tornado cada vez mais complexo.

Um desafio diário

Para Danielle, o principal custo do seu trabalho é a compra de materiais: produtos que sofrem variações constantes de preço, muitas delas impactadas por fatores externos. “Um produto que eu comprei por um valor semana passada já está mais caro hoje. Quando isso acontece, eu preciso ajustar meus preços, porque se não aumento, perco margem”, explica.

Ela relata que, muitas vezes, não entende o motivo dessas oscilações nem encontra informação clara sobre o que está influenciando o aumento. Esse descompasso entre preço e explicação não só dificulta o planejamento, como a impede de aproveitar oportunidades.

“A qualidade dos produtos é essencial. Se o material é ruim, não adianta eu ser boa. Só que para comprar produtos bons, eu preciso pesquisar muito. E os preços mudam rápido demais”, diz.

A falta de informação também interfere na profissionalização. Em eventos como a Beauty Fair, Danielle conseguiu adquirir produtos de alta qualidade com preço reduzido, mas admite que depende do acaso: “Eu fico sabendo por redes sociais. Se eu não vejo no Instagram ou no TikTok, eu perco a chance.”

Redes sociais como principal fonte

Como muitas microempreendedoras, Danielle se informa principalmente pelas redes sociais. “É onde está tudo hoje: Instagram, TikTok, WhatsApp. É ali que vejo notícias, promoções e mudanças”, afirma. O problema, segundo especialistas, é que essa dependência de canais informais deixa empreendedoras vulneráveis. Notícias sobre variações cambiais, tarifas, mudanças em importações ou novas regras para comercialização de cosméticos dificilmente chegam a essas mulheres de forma clara e estruturada. Isso faz com que muitas decisões sejam tomadas às cegas.

Economistas e organizações ligadas ao empreendedorismo feminino têm reiterado que a falta de informação clara é hoje um dos maiores riscos para pequenos negócios liderados por mulheres. À medida que insumos sofrem com oscilações globais, e que o comércio exterior se torna mais complexo, milhares de empreendedoras enfrentam um mercado imprevisível sem apoio técnico.

No caso de Danielle, o impacto ainda é administrável, mas ela admite a preocupação: “Eu tento acompanhar tudo, mas é difícil saber o que realmente vai afetar meu trabalho. Às vezes, descubro um aumento só quando chego na loja para comprar”, relata.

Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”.
“Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”. Reprodução: arquivo pessoal 

Força para manter o negócio! 

Apesar dos desafios impostos pela falta de informação, pelos custos instáveis e pelas mudanças constantes no mercado, mulheres como Danielle continuam sustentando seus negócios com esforço diário, intuição e dedicação. A realidade que enfrentam é marcada por incertezas, mas também por uma determinação que atravessa jornadas longas, madrugadas de trabalho e decisões tomadas sem o suporte adequado.

No fim das contas, o que sustenta esses negócios não é apenas acesso a crédito ou políticas públicas: é a força de mulheres que, todos os dias, escolhem continuar. A luta feminina, silenciosa ou coletiva, segue sendo a certeza em meio ao cenário incerto e continua provando que, quando essas mulheres resistem, elas transformam não só suas próprias histórias, mas também o futuro do empreendedorismo no país.

 

Transformando a vida de milhões de pessoas todo ano, merece mais reconhecimento e recursos para manter o Brasil vivo
por
Vítor Nhoatto
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28/11/2025 - 12h

Por Vítor Nhoatto

 

Uma das poucas certezas de todo ser humano, tal qual a morte, é a doença. Sabe aquele resfriado que vem junto ao seco do frio, uma ferida que infecciona depois de cair de bicicleta, até aquelas mais sérias que podem aparecer. Fato é que sem saúde não se vive, sendo um direito constitucional não por acaso. Sendo assim, é preciso que o acesso a essa necessidade tão básica quanto respirar e se alimentar seja universal, e não um bem a se comprar apenas por aqueles que podem.

Para isso então que existe o Sistema Único de Saúde (SUS), tão falado e muito mais presente na vida do que alguns podem sequer imaginar, ou querer. Para se ter uma ideia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador dos medicamentos disponíveis no país, de controle alimentar e hídrico, faz parte do SUS. Regulamentado em 1990, é responsável pelas vacinas e desenvolvimento científico ainda, e sabe os planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde (ANS), que os regula, também é integrante do sistema.

Para falar dessa diferença real na vida, antes é preciso até olhar nos papéis para lembrar já a quanto tempo ele é médico, enfermeiro, farmácia. De cabelos curtos hoje, depois de uma repaginada no visual devido ao câncer de pulmão que teve justamente na pandemia de COVID-19, Léia Marisa celebra que há dois anos consegue receber na AME Maria Zélia o micofenolato de Mofetila. Pois é, muitas vezes quando o nome é chique o preço é alto, uns R$500 por caixa, mil reais por mês gastos antes da papelada ficar pronta e ser aceita em 30 de novembro de 2023, já que a doença não espera os trâmites e filas.

A ex-professora, atual dona de casa e empresária a distância do seu restaurante, conta como o período de descoberta e tratamento do câncer, que levou até questões reumatológicas, e ajudou a descobrir uma artrite reumatoide, foi muito difícil. Entre dezenas de idas ao hospital de 2020 até 2023 até chegar ao diagnóstico, foram dias desgastantes, assustadores, e toda ajuda foi essencial, principalmente com os custos de sobreviver à doença. No caso dela, o tratamento do tumor foi feito em rede privada graças ao seu plano de saúde empresarial, que custa salgados R$5 mil reais ao mês. Só aqui são quase quatro salários mínimos, um privilégio muito grande, como ela destaca, olhando para um país em que apenas 7,60% da população ganha entre 5 e 10 salários como o Censo de 2022 do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística revela. 

Se aprofundando mais ainda nos fatos, de acordo com o estudo “Quanto custa o câncer” de 2023 do Observatório de Oncologia, do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, os custos de tratamento da doença quadruplicaram nos últimos três anos. Uma sessão de radioterapia ou quimioterapia custava quase R$800 em 2022, e dezenas são necessárias na maioria das vezes. Acrescentando nessa conta, consultas, tomografias e biópsias, mil reais ali e cinco acolá, o custo chega facilmente ultrapassa dezenas de milhares de reais. Isso é ainda mais preocupante tendo em conta a incidência do câncer na população, que segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) entre 2023 e 2025, 704 mil pessoas terão a doença como Marisa. 

E com isso que o SUS se mostra como algo tão relevante, oferecendo tratamento integral e gratuito contra todos os tipos de cânceres. Claro que muitos problemas existem, como destaca Marisa ao lembrar que quando estava no meio do tratamento enfrentou problemas com o plano de saúde, mas que só o medo de depender da demora do SUS caso fosse preciso, a preocupava muito. A saúde é o bem mais precioso para, o que para todos provavelmente deva ser, e por isso justamente que em 2012 a lei 12.732/12 obriga que o tratamento contra o câncer tem que ser iniciado em até 60 dias após o diagnóstico. 

Mas além disso, com os olhos marejados depois de navegar novamente no mar agitado que foi a jornada até a vida que tem hoje, curada e com o diagnóstico da sua doença crônica, ela volta e lembra que a diferença que não ter que pagar pelo Micofenolato que a mantém respirando faz.  Quando tinha que arcar com as despesas era como um fardo a mais imposto a ela, que considera a saúde hoje como o bem mais valioso. As idas mensais  ao posto são um alívio hoje para ela, destacando que o seu medicamento nunca faltou até então, mas que já presenciou pessoas na situação contrária e que não tinham como arcar pessoalmente com os gastos. Essa é uma realidade infelizmente, segundo fiscalização de 2023 da secretaria de contas do Estado de São Paulo, em quase metade dos postos visitados faltavam algum medicamento.

papéis
A cada seis meses Marisa tem que renovar a receita e toda a papelada para solicitação do seu medicamento junto a AME - Foto: Vítor Nhoatto

Milhões de uns

Mesmo que falte muito, afinal, só 4,16% do orçamento federal foi destinado à saúde em 2024 segundo o Painel do Orçamento Federal, a porcentagem vem aumentando desde 2022, e milhões de brasileiros são atendidos todos os dias. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes com um sistema universal de saúde, e 213 milhões dependem diretamente do SUS, segundo o Ministério da Saúde, que contabiliza em média 2,8 bilhões de atendimentos por ano, empregando 3,5 milhões de profissionais.

E mais um desses uns é Valdir Sousa, que do alto de seus 63 anos de idade é um típico caso brasieleiro. Com diabetes do tipo II há 20 anos e hipertenso, conta que se não fosse o acesso ao sistema gratuito, sua vida seria muito diferente, obviamente pelo lado financeiro, e muito também pelo bem-estar. O mineiro nascido em São João do Paraíso e que vive em São Paulo há décadas já viu tanto na vida, e com o passar do tempo o que todos querem e merecem é justamente qualidade de vida. Essa no caso, em grande parte possível graças a insulina que busca no posto na Freguesia do Ó e os comprimidos que cuidam do seu coração acelerado.

Justamente essa hipertensão que é a doença mais presente nos peitos animados dos brasileiros, e 52% da população é diagnosticada com alguma DCNTs, como revela a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Além disso, segundo dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como as de Valdir são tecnicamente chamadas, são as mais comuns no mundo e no Brasil, com o diabetes inclusive tendo aumentado 70% entre 2000 e 2019. 

Para contextualização, nos Estados Unidos existe há alguns anos o movimento nas redes sociais insulin4all, criado pela organização sem fins lucrativos T1 International, que denuncia os altos custos da insulina no país, onde um frasco de 10ml gira em torno de U$330. Tal situação vem levando inclusive pessoas a racionarem o medicamento, o que pode levar a complicações e até a morte em casos mais graves. Já no Brasil, o mesmo remédio é disponibilizado pelo SUS, e o preço máximo permitido por lei é de R$125,30. 

Diante desses dados e o envelhecimento da população fica claro como a saúde vai ser cada vez mais necessária, tal qual destaca o jovem de espírito Valdir, que já foi pedreiro e auxiliar de manutenção geral em uma lanchonete, justamente no Hospital das Clínicas. As histórias que já viu na maior referência de saúde pública brasileira enchem a sua mente, e as palavras saem inquietas sobre as melhorias que o SUS precisa e as pessoas merecem. Ele conta em meio a suspiros que quando precisa de exames mais urgentes, ou consultas em meio a crises, tem que recorrer ao plano de saúde da sua esposa, do qual é dependente, já que as unidades de saúde estão sempre cheias e a fila de espera passa de meses algumas vezes. 

Foi nessas passagens obrigadas pela rede privada que ele inclusive descobriu mais um integrante do seu pacote, a doença renal crônica há um ano. Porém, é no SUS que o acompanhamento com nutricionista, nefrologista e endocrinologista foi possível, uma rotina de cuidados essenciais para uma boa qualidade de vida para quem tem a condição. É graças a essa rede de profissionais e a farmácia popular que Valdir vai aproveitando com os dois filhos e a mulher os seus dias, frisando com a voz até meia trêmula, que sem isso não poderia se ter o seu direito de viver com saúde exercido plenamente.

medicamentos
São graças a compostos como esses que tanto Marisa ou Valdir, e os mais de 100 milhões de brasileiros com doenças crônicas podem viver bem tal qual a constituição garante - Foto: Vítor Nhoatto

 

Desigualdade, corrupção e desemprego juvenil deflagram uma revolta que expõe a fragilidade econômica profundamente enraizada.
por
Pedro Bairon
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14/11/2025 - 12h

Por Pedro Bairon

 

Na primeira semana de setembro de 2025, as ruas de Kathmandu foram tomadas por uma onda de protestos liderados pela chamada Geração Z, quando milhares de jovens se reuniram para denunciar a corrupção, o nepotismo e a desigualdade que dominam a vida pública do Nepal. O estopim foi a proibição de 26 plataformas de redes sociais incluindo Facebook, Instagram, X e YouTube, decretada pelo governo, uma medida que ativistas viram como um ataque à liberdade de expressão, Raj Rana, um nepalês que participou das recentes manifestações reafirma tal posição.

Os protestos rapidamente escalaram: confrontos com a polícia resultaram em uso ostensivos de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real, segundo Rana. No dia 9 de setembro, o primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou, pressionado pela magnitude da insatisfação dos jovens, porém, não se limitou ao veto digital. Por trás da indignação estava uma reclamação mais profunda: a escassez de empregos dignos, a persistência de elites privilegiadas (os chamados “nepo kids”) e a sensação de que, apesar de tanto crescimento econômico reportado, o Estado falhou em converter recursos em oportunidades para a maioria da população. De fato, segundo o Banco Mundial, mais de 80% da força de trabalho nepalesa está na informalidade, um número clássico de economias frágeis. O economista Karki Lama aponta que as remessas enviadas por nepaleses que trabalham no exterior (equivalentes a mais de um terço do PIB, segundo Fundo Monetário Internacional, FMI) sustentam o país, mas não geram empregos de qualidade e mantêm muitos jovens reféns de oportunidades materiais mínimas.

Esses protestos, segundo analistas, não são apenas uma manifestação política: são um grito de alerta sobre a saúde estrutural da economia nepalesa. A relação entre a frustração juvenil e as debilidades econômicas torna-se evidente à medida que se examina o modelo de desenvolvimento vigente no país. A economia nepalesa há muito tempo depende fortemente das remessas de migrantes para manter sua liquidez externa e financiar o consumo interno. Para Lama, entretanto, essa dependência representa um fracasso de capacidade produtiva nacional, não há trabalho suficiente internamente, e a migração torna-se quase inevitável. Mas a crise das ruas tem um custo direto para a economia. Um relatório recente do Banco Mundial alerta que a turbulência política pode reduzir fortemente o crescimento econômico em 2025-26: a previsão foi ajustada para 2,1%, com possibilidade de contração se a instabilidade persistir. O documento prevê ainda uma queda nas chegadas de turistas, um golpe duplo para o Nepal, que depende fortemente do turismo para gerar divisas e emprego formal. A erosão da confiança dos investidores já se tornou palpável. A Federação da Indústria do Nepal (FNCCI), por exemplo, emitiu um apelo para que o novo governo garanta segurança e estabilidade para os negócios, destacando que o setor privado é vital para a recuperação. Segundo esse mesmo apelo, as perdas com os danos materiais causados pelos protestos já afetam indústrias, propriedades e a cadeia de valor do turismo, hotéis, guias, transportes, tudo foi afetado.

Além disso, a insatisfação juvenil encontra respaldo em dados econômicos estruturais que expõem fragilidades profundas. O Nepal registra uma das maiores taxas de desemprego entre jovens na região: cerca de 20 %, segundo o mais recente relatório do IBGE Países. A falta de emprego qualificado, o baixo investimento em infraestrutura produtiva e a fraca diversificação industrial criam uma economia incapaz de absorver seu capital humano mais o peso das remessas, embora vital, é paradoxal: elas sustentam a economia, mas corroem o potencial de desenvolvimento autônomo. Conforme observa a New Humanitarian, muitos jovens veem sua saída como única rota possível, enquanto outros permanecem para protestar contra um sistema que lhes fecha portas. A migração, nesse contexto, deixa cicatrizes na cena política, no tecido social e nas finanças públicas.

O choque dos protestos também traz riscos no balanço externo. A volatilidade gerada pelas manifestações mobiliza redes de capital para fora do país, deixando o Nepal vulnerável a choques cambiais e restringindo sua capacidade de investir em longo prazo. A perda de turistas, a recomposição mais lenta de reservas cambiais e a alta cautela dos investidores estrangeiros são efeitos colaterais duradouros desse momento de ruptura. Do ponto de vista fiscal, a crise exige que o governo interino encontre um delicado equilíbrio. Por um lado, há pressão para responder às demandas dos jovens por mais transparência, combate à corrupção e reforma política. Por outro, há necessidade urgente de restaurar a confiança dos mercados, garantir fluxo de investimentos e sustentar a receita pública. Se o Estado optar por cortes agressivos para manter a disciplina fiscal, pode abrir mão de sua capacidade de gerar empregos, exatamente aquilo que a Geração Z exige. Por outro lado, expandir gastos sem controle também pode agravar vulnerabilidades já existentes. A situação contemporânea do Nepal também reflete um dilema geopolítico. Localizado entre Índia e China, o país sempre foi estratégico para ambos. A instabilidade recente pode frear projetos bilaterais de infraestrutura e perturbar o plano de desenvolvimento sustentável que muitos observadores internacionais defendiam para a nação. Além disso, a falta de boas políticas industriais internas limita sua capacidade de atrair investimento direto que não dependa exclusivamente de remessas ou do turismo.

Embora a revolta da Geração Z tenha derrubado um governo, ela colocou a economia nepalesa sob os holofotes: o modelo baseado em remessas e fluxo turístico é funcional, mas frágil. A instabilidade desencadeada pelos protestos expôs o dilema clássico de economias dependentes: crescer, mas sem construir uma base real de produção, oportunidades e institucionalidade. Se o novo governo quiser responder ao grito dos jovens, terá de investir não apenas na reconstrução política, mas sobretudo na transformação econômica: criando empregos, promovendo reformas estruturais e reduzindo a dependência de fatores que escapam ao controle interno. Sem isso, o Nepal pode voltar a caminhar, mas continuará sobre uma ponte frágil, com vento forte acima e abismo profundo abaixo.

Videogames se aproximam de artigos de luxo devido aos elevados custos
por
Lucca Cantarim dos Santos
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07/11/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Quem acompanha o cenário dos videogames vem se surpreendendo com a alta nos preços dos jogos nestes últimos meses. Com valores que vão desde R$ 249,95, valor do jogo “Hundred Line – Last line of defense”, lançado em abril de 2025, até R$ 499,99, preço do jogo Mario Kart World, que chegou às lojas em junho do mesmo ano. Esses preços têm dificultado cada vez mais o acesso dos fãs aos jogos que desejam, uma vez que acaba sendo inviável para muitos precisar gastar tanto dinheiro sempre que querem jogar um jogo novo. A estudante de sistemas de computação Gabrielle Rodrigues afirma sempre se arrepender de pagar caro em um jogo no dia do lançamento e acabar ficando sem dinheiro para comprar uma roupa ou até mesmo uma passagem do Rio de Janeiro até São Paulo para visitar seus entes queridos. Já o estudante Gabriel Merino alega sentir cada vez mais que não consegue comprar jogos no lançamento, precisando esperar diversos meses até uma baixa no preço ou promoção para finalmente ter acesso ao produto.

Fazer um jogo é um processo extremamente caro, e para a desenvolvedora independente “Dumativa”, responsável por jogos brasileiros como “Enigma do Medo” e “Lenda do Herói”, esse é o principal motivo para o aumento no custo do produto final. Já para Juno Cecílio, CEO da “Gixer Entertainment”, outra desenvolvedora independente, criadora do projeto “Changer Seven”, que se encontra em desenvolvimento atualmente, existe um fator ainda mais sensível.

 

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"Changer Seven", jogo de Juno Cecílio                                                 Foto:Divulgação/Gixer

 

Juno defende que existe uma estratégia de mercado mais agressiva por parte das empresas, que almejam maximizar sua receita em cima de um público fiel e cada vez mais disposto a pagar por franquias conhecidas. O grande problema, é que não existe um teto que defina até onde uma corporação queira ganhar, o que acaba sucateando o setor. O desenvolvedor faz um comparativo com outros setores no Brasil, como o de faculdades, que são compradas, demitem o corpo docente e substituem-no por profissionais mais baratos e revendem para o próximo, que fará o mesmo. Esse caso pode se observar na faculdade Anhembi Morumbi, que sofreu demissões e perdas massivas na grade horária após ser comprada pelo grupo Ânima Educação em 2021, como afirma uma matéria publicada na UOL em 2023.

Mas ele também aponta para outro fator, que também é abordado pela Dumativa, a falta de regionalização do preço. Quando um jogo chega no Brasil apenas convertido pela taxa do dólar, sem considerar a realidade do poder de compra local, ele acaba se tornando um produto quase que de luxo, e é nessas situações que observamos preços como os R$ 500,00 de Mario Kart World. A maioria dos jogos independentes já consideram fatores regionais quando lançam seus produtos em outros países, mas as produções de empresas grandes, como Nintendo, Ubisoft e Activision não, o que agrava uma ideia de “ganância” por parte dessas empresas.

Oferecer preços acessíveis ao consumidor é importante por inúmeros fatores, e um deles é justamente oferecer a experiência de jogo para um público mais amplo. Para muitos fãs de videogames, é extremamente doloroso, apesar de não chegar a um estágio extremo, ser privado de jogar algum jogo que goste devido ao seu custo elevado.

Gabrielle, por exemplo, diz que se sentiria mal caso fosse impedida de comprar um lançamento que estivesse com vontade de jogar. Ela alega que tem vontade de jogar o “Persona 3 Reload” a cerca de um ano, mas até hoje não o fez devido ao alto custo do jogo. Ela conta que até pensou em piratear a mídia apenas para consumo, e pagar por ela quando tivesse a oportunidade – igual já fez com outras franquias – mas que os sistemas que as empresas andam colocando em seus produtos, dificultam muito a pirataria. Gabriel Merino passa por uma situação similar, ficaria chateado caso não conseguisse comprar um jogo devido ao preço, mas também não compraria um jogo à preços exorbitantes mesmo se tivesse as condições para isso.

Lançar os jogos à preços acessíveis é essencial para que essas pessoas consigam consumir a mídia que desejam sem precisar se arriscar na pirataria ou pagar valores elevados. Além disso, é essencial para a criação de um consumo saudável. Nas palavras de Juno, quando um jogo lança à um preço compatível com a realidade do brasileiro, ele vende mais e ajuda a fortalecer o mercado e a comunidade local, e a trazer mais espaço para as empresas no País. Um exemplo foi o “Hollow Knight: Silksong”, lançado pela Team Cherry em setembro desse ano. O preço de R$ 60,00 cobrado pela mídia fez com que ela vendesse muitas unidades em um único dia – culminando na queda dos servidores da plataforma de compras Steam.

As empresas e publicadoras são as primeiras que podem participar na criação de um preço mais acessível e justo para o bolso da população. Grandes empresas e distribuidoras (Nintendo, Ubisoft, Microsoft) podem ajudar aprimorando a regionalização de preços, levando em conta o poder de compra de cada país; aprimorar a educação e formação de talentos, o que em longo prazo reduz o custo de produção global; oferecer programas de incentivo e parcerias com estúdios locais, o que acaba por gerar mais empregos, e visibilidade.

Quanto às empresas independentes, não se pode transferir as mesmas responsabilidades, uma vez que estas não tem o mesmo poder financeiro que as “gigantes do setor”. No entanto, elas podem e devem estabelecer métodos de acessibilidade nos preços de seus jogos, e algumas já tomam as providências, apesar de este ser um dos maiores desafios para essas instituições.

A Dumativa têm feito uso dos sistemas de financiamento coletivo em seus lançamentos, isso ajuda as empresas a terem uma base financeira mais sólida antes mesmo do lançamento, além de estabelecer uma relação saudável com empresa e consumidor, a partir do sistema de recompensas e conteúdo adicional dependendo de quanto cada pessoa optou por investir no jogo, além do próprio produto completo após o lançamento.

Já Juno, da Gixer, amplia ainda mais sua visão, para ele, jogos independentes não precisam competir com os grandes lançamentos em preço, na realidade, esses lançamentos têm de entregar valor percebido, autenticidade e qualidade dentro de seu escopo. Além disso, ele acredita que uma das melhores formas de equilibrar as contas sem depender do preço cheio é a diversificação de fontes de receita, e podem fazer isso por meio do lançamento de edições digitais com bônus, participação em festivais e até mesmo outros tipos de produto, como colecionáveis, histórias em quadrinho e até trilhas sonoras.

Outra ajuda também pode vir das próprias lojas, plataformas como a Steam se destacam quando o assunto é tornar seus preços mais acessíveis. Além da abundância de promoções, principalmente em datas comemorativas, que podem levar um preço de R$ 200,00 a R$ 40,00, a plataforma criou um sistema de famílias, que permite que um grupo de pessoas compartilhem a mesma biblioteca, podendo jogar jogos que pertencem à conta de terceiros (desde que inseridos na mesma família, cujo limite de pessoas é seis).

 

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Logo da loja digital Steam                                                                           Foto: Divulgação/Steam

 

Para Gabrielle Rodrigues e Gabriel Merino, que participam da mesma família alegam o quão benéfico isso é para eles, ambos afirmam como conseguiram ter mais acesso à jogos que não conseguiriam ter de outra forma, além da possibilidade de repartir os custos com os membros do grupo. Gabrielle afirma que financeiramente a família Steam é algo divino.

 

Movimento nas lojas aumentam conforme as épocas temáticas do ano vão chegando
por
Nathalia de Moura
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24/10/2025 - 12h

Por Nathalia de Moura

 

Entre o vai e vem e o sobe e desce das pessoas, a 25 de Março é o centro das vendas, principalmente em épocas como Carnaval, Natal e Halloween. Cores, brilhos, formas, luzes, ocupam as fachadas das lojas fazendo cada cliente lembrar que as bruxas chegam em 31 de outubro, o Papai Noel dará o ar da graça em 25 de dezembro e o Carnaval em breve tomará conta das ruas do País. 

A correria para atender o cliente que precisa de uma abóbora laranja e gigante, a atenção para cortar o tecido para a roupa do velhinho do Polo Norte ou até mesmo separar as lantejoulas para a confecção da fantasia faz parte do dia a dia das vendedoras do centro de São Paulo. Marlene tem 53 anos e veio atrás dos sonhos na capital paulista aos 16. Hoje fala com muito carinho no orgulho em fazer parte desses momentos. Com um sorriso, mas a voz embargada e os olhos marejados, relembra a dificuldade de se iniciar nesse mundo dos produtos de aviamentos e sazonais. Sempre sonhou em ter o que possui hoje, e mesmo com tantos patrões desacreditando de seu potencial, conseguiu ir atrás daquilo que a motivava: a arte do artesanato.

Os produtos chegam na loja e dali, são transformados em grandes realizações. Ela conta que nada é mais gratificante do que poder ajudar alguém que nem sabia o que estava procurando e encontra ali no seu estabelecimento. Na correria dos dias, as horas passam, a agitação aumenta, o fluxo cresce. Cada cliente fica um tempo observando aquele ambiente repleto de oportunidades. Oportunidade de fazer algo diferente do ano anterior, a chance de colocar uma cor diferente na decoração, de enfeitar a casa com pisca-pisca ou até fazer a festa temática do dia das bruxas que não aconteceu antes.

Na salinha apertada, rodeada de papelada importante e também do quadro estampando a foto da sua família, Marlene contava que proporcionar produtos de qualidade aos clientes a transforma. Pode ser que o Papai Noel não seja vendido hoje, que a abóbora gigante ainda passe despercebida ou o letreiro de “Feliz Natal” não seja usado, mas ela segue acreditando que cada fio, botão ou glitter pode ser utilizado em outros momentos justamente para não ser desperdiçado.

Ao andar pelas lojas, percebemos os olhares atentos nas promoções, o barulho dos comentários ao ver uma peça exposta ou as perguntas em relação aos preços. Para lá ou para cá, a multidão toma conta dos ambientes. Mesmo antes dos dias de comemoração, as pessoas fazem questão de irem em busca do que procuram o quanto antes. Mas sempre tem os que preferem comprar aos 45 minutos do segundo tempo. Na pressa para conseguir atender todos os clientes, Elen, funcionária que enfrenta todas as épocas corridas de venda do ano, fala que em alguns momentos, não consegue dar a atenção que as pessoas merecem. Seu olhar acompanhava a chegada e a saída dos clientes na loja. A atenção é máxima em um lugar que a exige a todo tempo.

No meio das linhas, botões e tecidos, a cearense de sotaque presente e forte expressa que nem imagina as diversas possibilidades que podem sair dali na sacola de cada pessoa. Uma linha pode se tornar mais de uma peça no Carnaval do Sambódromo do Anhembi ou nos bloquinhos pela cidade. E quando ela pensa nisso, os olhos até brilham em saber que, de alguma forma, fez parte daquilo.

A oferta e a demanda não param, assim como a agitação que só o ambiente da mais conhecida rua de comércio paulistana é capaz de proporcionar. Pelas ruas da 25 de março andam jovens, idosos, mulheres e homens carregando pequenas sacolas ou grandes volumes de mercadorias. De um lado o consumidor, do outro o vendedor. Ambos sabem que precisam um do outro, principalmente nessas épocas agitadas do comércio. Para Marlene, inspirar pessoas com seu empreendimento é motivo de orgulho. Em meio aos elogios que sua loja recebe, ela sempre sai com o sentimento de missão cumprida ao ver seus clientes com as sacolas recheadas de produtos que farão a diferença em épocas que se tornam especiais nas particularidades de cada um.

O que são os NFTs e como seu alto valor agregado tem valorizado artistas e elitizado a arte virtual
por
Fernando Fernandes Maia
Laura Melo de Carvalho
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07/06/2022 - 12h

Tokens não fungíveis, traduzindo NFTs, são basicamente bens digitais não equiparáveis, logo, não fungíveis, que tomaram a internet e a economia. Ocupando o universo da arte, música e cinema, levantando o questionamento de valorização da arte. Os NFTs, sendo códigos da blockchain, uma espécie de livro-razão das transações do mundo cripto, são altamente controlados e limitados e têm características que aumentam seu valor de mercado.

A nova realidade do Metaverso, uma camada da realidade que integra os mundos reais e virtuais, trouxe pautas como as criptomoedas, uma tentativa de unificar a moeda mundial e principalmente os NFTs, que surpreenderam muitas pessoas por ser valor de mercado. Os tokens não fungíveis se popularizaram pelas artes virtuais, mas hoje elas tomam o mundo da música, cinema e até moda. Em uma palestra para a plataforma My Oxygen, o CEO da Educbank Lars Jàner, explica que o alto valor agregado às NFTs vem da sua exclusividade, visto que uma NFT tem pouquíssimas cópias e são exatamente não fungíveis, não pode ser trocado nem substituído, além de transitarem em um ambiente que envolve criptomoedas, um produto com valor agregado mais elevado, o que inegavelmente o transforma em algo elitizado e inacessível.

O valor agregado aos NTFs pode ser entendido por diversas razões, muitas das quais vão além da arte em si. Pela primeira vez as NFts possibilitam prova de posse sobre arquivos digitais, isto pelo uso da tecnologia blockchain. Cada contrato de NFT possui um código criptografado que o identifica, como um “endereço” pertencente ao dono, tal código é único e não pode ser replicado, nem copiado. Ademais, blockchain é uma plataforma descentralizada, apenas visa registrar dados de transações dentro de um mercado específico, seus documentos e arquivos são públicos. Desta forma, torna-se fácil identificar a fonte do um NFT, como a quem ele pertence atualmente. 

Entretanto, o valor de uma NFT vai além de sua prova de posse: comunidade e status são tão importantes quanto. Muitos NFTs servem como ingressos para certas comunidades. Qualquer um que prove ter um NFT Bored Ape Yacht Club, por exemplo, é bem vindo a um grupo no qual pode participar de reuniões privadas, receber convites para eventos sociais e trocar informações com outros proprietários do NFT BAYC - estes grupos incluem diversas celebridades.

Status rege nossa dinâmica social, principalmente dentro das redes sociais. Proprietários de NFTs passaram a usá-los nos meios digitais para revelar algo sobre sua identidade, seja uma identificação pessoal com a imagem em certo NFT, ou apenas o fato de terem dinheiro suficiente para possuí-lo. O dono de um dos NFTs Crypto Punks recusou uma oferta de 9,5 milhões de dólares por seu NFT, alegando: “nossas identidades online são tão fortes - se não mais poderosas - do que nossas personalidades da vida real.”.

Outro aspecto que agrega grande valor aos Tokens não fungíveis é sua escassez. Muitos colecionadores veem beleza no número ou tamanho de uma coleção, um estilo de NFT em que só há outros 100 do mesmo grupo pode valer muito mais do que um estilo em que há 1000 parecidas.

Quando se fala sobre valorização da arte dentro dos NFTs, tende-se a ressaltar a elitização, mas também a valorização do artista em si. Como explica Lars Jàner, a partir dos NFTs, os artistas passaram a ter uma autenticidade em sua obra, tal como algo que prove que aquilo de fato é deles. Além das comissões ganhas, os chamados Royalties,  em cada transação feita na blockchain surge a possibilidade de um contato direto do criador com os compradores da obra. 

Por outro lado, desconsiderando a valorização dos artistas que transformam suas obras em NTFs, atualmente, vê-se preconceito direcionado às artes virtuais. Levanta-se a discussão: Tokens não fungíveis devem ou não ser considerados arte? Visto que, muitos dos desenhos representados nos NFTs são muito mais simples artisticamente e tecnicamente do que um afresco de Michelangelo, por exemplo, ou levam minutos para serem criados. Entretanto, não se pode excluir um artista e todo o processo criativo por trás de uma obra por fatores superficiais - como o tempo de criação. Logo, essa é uma discussão que tende para ambos os lados e não existe como dizer se deve ou não ser enquadrado como arte.

Os NFTs têm ganhado novas formas de manifestação. Agora estão espalhadas no mundo da música, como versões de álbuns; no universo da moda com peças de roupas espalhadas pela blockchain; modelos usando dos tokens como convites para clubes com conteúdos exclusivos e até com finalidades beneficentes, como NFTs criadas para doar fundos aos afetados pela guerra da Ucrânia. Logo, os tokens se mostram cada vez mais versáteis e revolucionários, ocupando diversas áreas do mercado e ganhando espaço dentro do nosso futuro.

 

  • NFTs mais reconhecidos

 

Uma das coleções de NFTs mais famosas é o Bored Ape Yacht Club (BAYC), criada por Yuga Labs, lançada em abril de 2021. A coleção conta com 10.000 NTFs com imagens de macacos feitos de forma programática, ou seja, há uma variedade de acessórios, peças de roupa, fundos, tipos de pelo e expressões faciais que podem ser unificadas para formar um macaco específico. Alguns itens são mais raros que outros, assim agregam valor aos tokens. Yuga Labs ainda criou mais duas coleções irmãs, a Mutant Ape Yacht Club (MAYC) e a Bored Ape Kennel Club (BAKC).

NFT
NFTs BAYC- Yuga Labs 

 

Outra coleção de sucesso é a chamada CryptoPunks, criada pela empresa Larva Labs, em 2017, como um projeto experimental. Estes NFTs estão entre os precursores do movimento de valorização deste tipo de arte, compõem o grupo dos mais caros já vendidos, um deles por 23 milhões de dólares. As 10.000 ilustrações retratadas são personagens pixelizados inspirados pelo movimento punk, construídas com a mesma técnica que os NFTs BAYC.

 

NFT
Cryptopunks NFTs Collection

 

Por fim, um estilo diferente dos NFTs vistos acima. Xcopy é o pseudônimo de um artista que cria tokens. Seu estilo tende mais ao lado artístico, sendo que ele próprio cria cada uma de suas animações ao invés de um programa. No início de 2022, negociou três de suas NFTs por 5 milhões de dólares.

NFT GIF
NFT feita por Xcopy.art

 

 

 

 

 

 

Alta da inflação de alimentos para consumo domiciliar incentiva o consumidor a negociar preços mais acessíveis com vendedores.
por
João Curi
Sophia Dolores
|
27/05/2022 - 12h
Vista da feira livre da rua Ministro Godói, em Perdizes.

Nos últimos meses, a inflação tem esvaziado os carrinhos de supermercado dos brasileiros. Com isso, consumidores de baixa renda têm optado por alternativas mais viáveis economicamente, optando por pechinchar com feirantes em vez de comparar etiquetas de preços nas prateleiras. 

Segundo levantamento do IBGE, divulgado no dia 11 de maio, os setores de transporte e de alimentação e bebidas são os mais afetados pela alta de 1,06% no índice de preços de abril. A alta nos combustíveis - principalmente a gasolina, que ocupa maior peso (6,71%) no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - tem contribuído ainda mais com o aumento de preços nos demais setores da cadeia produtiva brasileira. 

Em razão do aumento das despesas com combustíveis, o frete se torna mais caro e, consequentemente, impacta o preço final de produtos de diversos setores. É com base nisso que se justificam, dentre outros motivos, as altas de preços de alimentos para consumo domiciliar, como batata-inglesa (18,28%), leite longa-vida (10,31%) e seus derivados, tomate (10,18% no mês; 103,26% ao ano), óleo de soja (8,24%), farinha de trigo (7,34%), carnes (1,02% no mês; 8,06% ao ano), entre outros itens que já não cabem mais na lista de muitos consumidores. 

Em visita da Agemt à feira livre da rua Ministro Godói, em Perdizes, foram entrevistados, no dia 10 de maio, feirantes e consumidoras presentes durante o horário da “xepa” (período final das vendas, quando os preços e a qualidade dos produtos oferecidos são menores). Mediante as altas da gasolina e de diversos alimentos, a lista de compras precisou ser reduzida e alguns consumidores passaram a frequentar as feiras livres de seus bairros, a fim de negociarem preços melhores diretamente com o vendedor. 

É o caso de Denise, que prefere comprar frutas e legumes na feira, já que “nos supermercados os preços são bem mais caros”. Ela relata que precisou substituir itens de sua lista de compras por opções mais acessíveis, trocando a carne vermelha por legumes, carne de frango e de porco. “Estou aproveitando as férias para vir nos horários de xepa, que é quando consigo pechinchar mais”. 

Ainda assim, os preços altos assustam consumidores que estavam acostumados a comprar determinados produtos e que já não o fazem mais, prevendo usar o dinheiro para riscar outros itens da lista. “Eu costumava comprar brócolis, mas ultimamente não tenho mais levado porque o preço aumentou muito”, conta Rita, que já frequentava feiras tradicionais desde antes da pandemia. Recentemente, ela tem encontrado dificuldade em comprar as mesmas variedades de antes. Segundo dados do IBGE, o brócolis registrou alta de 35,7% em abril. 

Do outro lado da moeda, feirantes se esforçam para driblar a inflação e oferecer preços atrativos aos consumidores em meio ao castigo da inflação. “Não cobrem dos meus colegas”, pede Gilson, vendedor de mandioca em duas feiras durante a semana. “Eles não têm culpa. O preço aumenta porque o do diesel aumenta e o transporte fica caro, principalmente de frutas, que vêm de outros estados”.  

Carrinho cheio de mandiocas à venda.
Venda de mandiocas descascadas na feira da rua Ministro Godói, em Perdizes. (Foto: Sophia Dolores)

O feirante explica que, para vender mais, busca fazer descontos por quantidade. “Eu costumo vender 1 [unidade de mandioca descascada e cortada na hora] por 6 [reais] e 2 por 10. Eu tento manter o mesmo preço que era antes da pandemia”. Em 2021, a mandioca foi um dos produtos mais impactados pela inflação, acumulando 48,1%. 

Leandro, por sua vez, trabalha em três feiras diferentes, durante cinco dias na semana, mantendo sua barraca de hortaliças e alho-poró. Experiente no ramo, ele relata que o aumento dos preços impactou na frequência de consumidores, o que não vem acontecendo nas feiras mais populares. “Lá [nos bairros mais pobres], o povo vai mais à feira, principalmente os mais velhos que sempre vão e compram mais. Por aqui [em Perdizes] costuma ter mais gente no começo ou no final, que é quando o preço está mais baixo. Mas é porque o produto já não é dos melhores e aí tem que abaixar [o preço] mesmo pra vender”. 

Barraca de hortaliças, mostrando parte do preço da rúcula.
Barraca de hortaliças na feira da rua Ministro Godói, em Perdizes. (Foto: Sophia Dolores)

 

Criando incertezas sobre o futuro da rede social Twitter, uma das vendas mais inusitadas dos últimos anos ocorreu nesta semana.
por |
19/05/2022 - 12h

 

https://www.msnbc.com/the-reidout/reidout-blog/elon-musk-twitter-deal-rcna25869

A tentativa de compra da rede social Twitter pelo bilionário Elon Musk começou na quinta-feira (14), através de uma proposta no valor de U$S43,4 bilhões. O empresário que já tinha uma participação de 9,2% nas ações da rede social, demonstrou interesse em mais, apesar de contrariar as políticas adotadas pelo Twitter. Por meio de uma falta de resposta ou até mesmo aceitação, na sexta-feira (22) o empresário aumentou a sua proposta para US$ 46,5 bilhões.

Após duas semanas de negociações, a compra do Twitter por Elon Musk parece ter chegado a um desfecho. Estima-se que a rede social tenha sido vendida por US$44 bilhões nesta segunda-feira (25), em uma transação que movimentou o mercado e a rede social.

A compra fez com a bolsa de Nova York fechasse em alta de 6 pontos. Os principais índices da bolsa de Nova York (Nasdaq e Dow Jones) terminaram o dia em alta; Nasdaq fechou em 1,29% a 13.004,85 pontos e Dow Jones com 0,70% a 34.049,46.

As ações do Twitter também tiveram alta representada por 5,66%, mas após a compra por Musk, as ações deixarão de ser negociadas na bolsa. O interesse do CEO da Tesla na rede social não é uma novidade, ele já havia revelado a intenção de criar uma nova versão do Twitter, que prezasse pelo que os usuários têm a dizer ao invés da propagação publicitária. O empresário já se posicionou, e deixou claro que pretende acabar com os spams.

Musk publicou em seu perfil do Twitter um texto onde defendia o uso da rede social para se expressar livremente. “A liberdade de expressão é a base de uma democracia em funcionamento, e o Twitter é a praça da cidade digital onde são debatidos assuntos vitais para o futuro da humanidade, disse o bilionário.

O empresário reconhece o papel das redes de comunicação na vida da sociedade e afirma ter pretensões de torná-la melhor por meio da adoção de novos recursos, além de fazer com que os algoritmos da rede sejam acessíveis aos usuários como forma de promover confiança a eles.

Toda a movimentação envolvendo esta transação originou um debate ao redor do mundo sobre a liberdade de expressão e o futuro da democracia. Políticos de diferentes correntes ideológicas comentaram o assunto, enquanto alguns comemoram a venda, outros temem o futuro da rede social. A senadora dos Estados Unidos, Marsha Blackburn, do partido Republicano, se posicionou e demonstrou esperança com o futuro da rede social. “Hoje é um dia encorajador para a liberdade de expressão. Espero que Elon Musk freie a história das empresas de tecnologia de censurar os usuários que têm ponto de vista diferentes”, disse a republicana.

Já o prefeito de Londres, Sadiq Khan, do partido Trabalhista, compartilhou o temor sobre as consequências que as mudanças a serem implantas podem causar no âmbito social. “Liberdade de expressão é vital, mas não significa um passe livre para o ódio. Discurso de ódio on-line bota lenha na fogueira do preconceito e leva a violência trágica e terrível no mundo real”, afirmou Khan.

Os resistentes as implantações das mudanças propostas por Musk temem que a rede social se torne ainda mais um local de difusão de desinformação, ataques e futuros problemas a serem estabelecidos entre a comunicação das empresas com as instituições dos países.

A liberdade proposta por Musk pode gerar uma facilidade de infração da lei e dos órgãos reguladores do estado, intensificando problemas sociais como a intolerância, o preconceito, o discurso de ódio e a agressão aos poderes de uma nação ou instituição. A senadora Elizabeth Warren, do partido Democrata dos Estado Unidos, demonstrou sua preocupação com o destino da rede social. “Esse acordo é perigoso pra democracia. Bilionários como Elon Musk jogam com regras diferentes das outras pessoas, acumulando poder e ganhos. Precisamos de impostos sobre a riqueza e regras mais fortes para manter as gigantes de tecnologia sob controle”, afirmou a democrata.

A repercussão no Brasil também gerou comentários. Nas nas redes sociais figuras públicas aliadas à direita têm afirmado que a compra do Twitter por Elon Musk causou um ganho absurdo de seguidores. O Ex-Secretário Nacional de Incentivo e Fomento à Cultura, e pré candidato a Deputado Federal na Bahia pelo Partido Liberal, André Porciuncula pontuou: “Estou ganhando novos seguidores numa velocidade que nunca vi no Twitter. É impressionante...”.

O Deputado Eduardo Bolsonaro, do Partido Liberal, também se pronunciou sobre esse fato. “O efeito @elonmusk: parece que tem gente no Twitter com medo de ser demitido ao ter que prestar contas sobre shadowban em perfis conservadores. Vários conservadores estão notando ganho de seguidores no TT e eu me somo a eles. Em poucos dias ganhei certamente +5.000, algo incrível”.

Na esquerda, algumas figuras públicas se manifestaram nas suas redes sociais, criticando a compra do Twitter por um bilionário. “A prioridades dos bilionários ... Por 7 vezes menos do que gastou comprando uma empresa, uma única pessoa conseguia alimentar MAIS DE 40 MILHÕES DE PESSOAS...” , comentou Jandira Feghali do PCdoB. “Ainda é uma incógnita de que forma o bilionário usará as redes a seu benefício, mas já sabemos que não será nada positivo para quem luta contra o capitalismo desenfreado", disse o deputado federal Glauber Braga, do PSOL. “Elon Musk é um símbolo da concentração de renda sem limites", criticou o pré-candidato a deputado federal por São Paulo, Guilherme Boulos, do PSOL.

Com a possibilidade de compra do Twitter, a Tesla já apresentava uma queda de 1,5% nas ações, depois registrou mais de 6%. Após confirmação de compra, a empresa fechou em queda de 12,18%, mas para acalmar os investidores, Musk se pronunciou em sua rede social pontuando que as ações da Tesla não serão vendidas.

Inflação continua gerando problemas estruturais que aumentam cada vez mais a desigualdade social e diminuem o poder de compra da maioria dos brasileiros.
por
Maiara Yokota
|
19/05/2022 - 12h

 

https://pt.dreamstime.com/aumento-de-pre%C3%A7o-dos-alimentos-image134030113

 

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) teve alta de 1,73%, registrando o pior índice para um mês de abril em 27 anos, o pior resultado é de 1995, quando a taxa bateu 1,95%. Considerado uma prévia da inflação oficial no país, o índice já apresenta uma elevação de 10,20% no acumulado dos últimos 12 meses.

A variação mensal por grupo teve como destaque o setor de transportes com um aumento de 3,43%. Além de transportes, outros três setores também se destacaram: alimentação e bebidas (2,25%), vestuário (1,92) e habitação (1,73). Quatro setores tiveram as menores variações: artigos de residência (0,94), despesas pessoais (0,52), saúde e cuidados pessoais (0,42) e educação (0,05). O setor de comunicação foi o único que não obteve um aumento no seu valor, marcando – 0,05.

No ano, a inflação acumulada é de 4,31%, e durante o início do semestre as perspectivas para a Inflação eram melhores, já que no mês de dezembro houve uma queda significante que representou 0,78% de variação. O mês de janeiro fechou em 0,58%, e em fevereiro o índice elevou marcando 0,99%. Em março houve uma queda de 0,04% pontuando a variação de 0,95%.

A alta nos combustíveis foi originada pelo recente aumento nos custos do óleo diesel, etanol e gás. O diesel teve um aumento de 13,11%, seguido pelo etanol (6,60%) enquanto o gás veicular obteve a menor variação no preço (2,28%). Esse aumento teve influência direta no preço dos táxis, metrô e o ônibus. Os táxis tiveram a maior variação (4,36%), o aumento no metrô representou (1,66%), já o custo dos ônibus obteve a menor variação no grupo de transportes (0,75%).

O aumento de 2,25% no setor de alimentos e bebidas marca o aumento dos seguintes alimentos: tomate (26,17%), cenoura (15,02%), leite longa vida (12,21%), óleo de soja (11,47%), batata-inglesa (9,86%) e pão francês (4,36%). Legumes registraram o maior aumento, como os casos da cenoura e do tomate, seguidos pelo leite e óleo de soja. Batata-inglesa e pão francês tiveram as menores variações.

Comerciantes de rua, em Perdizes, dizem como a crise econômica se tornou um desafio maior que o vírus neste momento de retorno
por
Felipe Oliveira
Yasmin Solon
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05/05/2022 - 12h

Para três mulheres feirantes, que trabalham no bairro Perdizes, o confinamento prejudicou na renda e, em unanimidade, constatam como a inflação está dificultando este retorno. Kelen Cristina Moreira dos Santos, 47, comparou como as compras dos pastéis de sua barraca caíram com a chegada do vírus. Ela contou que as pessoas não se sentem seguras para irem até a feira, precisando então manter o preço antigo e fazer promoções para incentivar a volta. A feirante comentou que também não se sente totalmente segura neste retorno.  "Tudo não passa de um jogo político”, para ela, já que a volta foi apressada por conta das eleições neste ano.

Santos disse ainda como o aumento dos preços dificultou suas vendas, já que os ingredientes de qualidade não deveriam ter um preço abusivo. Apesar de seus lucros diminuírem, ela disse que a feira está melhorando aos poucos.

Marlene Martins, 55, disse que, como não teve alternativas para se adequar ao isolamento, como o “Diskfeira”, ferramenta virtual que surgiu para entrega de produtos da feira via delivery. Ela precisou do auxílio emergencial para sobreviver. A vendedora de grãos sentiu uma queda de aproximadamente 80% no movimento e venda com o retorno das feiras. Ela também apontou como a inflação está prejudicando sua renda, já que os preços altos ajudam o movimento a cair. 

Em contrapartida, Eva Cardoso, 42, vendedora de legumes e verduras, não mencionou nenhuma dificuldade durante a pandemia, teve sua renda mantida e disse que o movimento da feira não diminuiu, mesmo com as estatísticas demonstrando o oposto. Mas sobre a inflação, respondeu de forma incisiva que está prejudicando as compras dos seus clientes. 

De acordo com o IBGE, a inflação aumentou em 166,17% o preço dos alimentos nas feiras de todo o Brasil em decorrência à pandemia, às condições climáticas adversas e à crise econômica.