A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

A liberdade de ser diferente a cada dia da semana estimula o negócio das laces
por
Isabella Marinho
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05/07/2021 - 12h
Foto: Vladimir Yelizarov
Foto: Vladimir Yelizarov

 

Com a recente participação de Camilla de Lucas na última edição do Big Brother Brasil e com as aparições da cantora Ludmilla em seus shows, é possível perceber uma mudança constante: seus cabelos estão sempre diferentes. Ruivas, loiras, morenas, lisas, onduladas, crespas e com comprimentos curtos e longos, as mulheres vêm encontrando em acessórios como as laces a versatilidade de ser quem quiserem a qualquer momento.

A diferença, que muitos não conhecem, entre uma lace e uma peruca está essencialmente em sua touca, a parte que imita o couro cabeludo. A touca da lace consiste em uma tela fina sobre a qual são costurados os fios de cabelo com uma pinça específica. A variedade no mundo desse acessório é de impressionar. Entre Front Lace, Full Lace, laces de cabelo humano, artificial ou orgânico e laces específicas para exercícios físicos e festas, há um ponto em comum: o resultado de sua aplicação é muito natural. Elas são produzidas de forma a permitir à pessoa que está utilizando o acessório a realização de qualquer tipo de penteado e a repartição do cabelo da maneira que achar melhor. A supervisora técnica da Salon Line, Shirlei Oliveira, em entrevista para o Correio Braziliense, disse: “Elas são fáceis de usar, podendo ser colocadas ou removidas em qualquer lugar, sem o auxílio de um profissional”.

Assim como há uma variedade de tipos de lace, também existe uma variação no preço das peças. De acordo com entrevista à Forbes da fundadora da loja Lady Laces, Lady Valiante, os acessórios, que são parecidos com as perucas, podem custar de R$ 150 a R$ 4 mil. Essa diferença no preço é reflexo do material usado para a confecção da lace e a sua finalidade. As laces de cabelo natural custam a partir de R$ 700 e podem chegar a R$ 8 mil, tendo como média de preço R$ 2 mil, enquanto as de cabelo orgânico são vendidas no máximo por R$ 800.

Mudanças culturais

Mais do que a praticidade do acessório, as recentes mudanças em como se consome no Brasil e no mundo acarretam o sucesso de certos produtos. A sustentabilidade e o consumo consciente estão cada vez mais presentes na mente do consumidor. Na moda, por exemplo, movimentos como o slow fashion e o consumo nos brechós têm ocupado espaço e chamado atenção do público. No mundo dos cabelos, movimentos de aceitação e de autodescobrimento estão abrindo caminho no mercado. Atualmente, é fácil encontrar produtos diferenciados e produzidos de forma mais independente e sustentável, dependendo do nicho no qual se está inserido. O produto final que está sendo adquirido não é mais o único filtro utilizado para a sua aquisição.

Ao começar a assumir responsabilidade pelos impactos que suas compras têm no meio ambiente, uma parcela dos consumidores começou a procurar entender toda a produção por trás daquela mercadoria. Quem  está produzindo, onde comprar, como foi confeccionada e o quão danoso é o seu descarte para o planeta são questões que estão permeando o interesse do público. Preocupações desse tipo estimulam a procura de empreendedores autônomos e sustentáveis ao invés de grandes conglomerados.

Além das questões moral e sustentável, o significado do produto adquirido passou a ocupar espaço no mundo dos negócios. O empoderamento da mulher, por exemplo, vende e muito. No entanto, há uma diferença entre comprar uma camiseta bordada com jargões feministas em inglês, que provavelmente passará despercebida, e comprar um produto que auxilia, de fato, a mulher preta a existir em qualquer espaço que ela queira da forma que ela achar melhor.

As laces ajudam as mulheres a se enxergarem de formas distintas abrindo as portas para que  se vejam em diferentes nichos e cargos nos quais  normalmente não se veem representadas. Elas assumem suas identidades sem diminuir a sua autoestima no meio-tempo, vão se conhecendo e experimentando diferentes opções e versões de si mesmas. Afinal, a mudança tem um ar de libertação e as mulheres, ao se apropriarem da sua liberdade, pretendem explorá-la a fundo após tantos anos sendo empurradas e submetidas a alisamentos e procedimentos extremamente danosos aos fios.

No entanto, ao mesmo tempo que o movimento da aceitação ajuda a aumentar as vendas, ele é um processo individual e, em alguns casos, primeiro uma mulher precisa se ver e se sentir segura em um lugar de cabelo liso, para que, então, ela perceba que pode ocupar esse mesmo lugar com seu cabelo natural, seja ele qual for.

As laces permitem que esse processo aconteça sem mudanças drásticas e permanentes. A trancista Esther Gomes, em entrevista à Universa, explica que as laces, assim como as tranças, são uma maneira mais segura de uma mulher passar pela transição capilar e que é uma escolha pessoal utilizar essas estratégias para lidar com o processo. "Isso não anula amarmos nosso cabelo crespo”, diz a trancista.

Foto da capa: Adrian Fernández

Raramente lucrativa, compra e venda de ativos no mesmo dia se tornou o novo parque de diversões de investidores de primeira viagem
por
Mariana Meyer
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05/07/2021 - 12h

Investir não é um privilégio de quem tem muito dinheiro (apesar de ter sido por muito tempo). Hoje, muitos brasileiros e brasileiras podem alocar parte do seu suado salário em produtos outrora vistos como inatingíveis, como é o caso de ações.

De uns tempos para cá, em especial nos últimos dois anos, a Bolsa de Valores Brasileira – a B3 – percebeu um aumento significativo de investidores pessoa física. No ano passado, foram registrados 3 milhões de novos CPFs operando no Ibovespa – uma verdadeira explosão de investidores já que, três anos antes, em 2017, esse número era de apenas 600 mil.

Um dos principais motivadores desse movimento foi a queda vertiginosa da taxa básica de juros, a Selic, ao longo dos últimos anos, chegando a 2% em 2020, e, hoje, a 3,50%. Para um país que viu seus juros baterem a casa dos dois dígitos, esse cenário não é nada mau.

A migração quase que forçada de produtos de renda fixa – que não apresentam, como já apresentaram, taxas de retorno tão altas – para a renda variável veio acompanhada de uma nova tendência: a prática do day trade.

Mas vamos ao básico: o que é day trade?

 

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Crédito: Getty Images/iStockphoto

Trata-se da compra e venda (ou vice-versa) de ativos que começam e terminam no mesmo pregão. O lucro dessas operações se dá quando o preço médio da venda é maior que o da compra, depois de descontados todos os custos.

Basicamente, são operações de curto prazo, isto é, os day traders precisam acertar, em frações de segundos, minutos ou horas, a direção do mercado e de algumas ações. Nesse caso, são ignorados os fundamentos das empresas, já que uma oscilação diária do preço de uma ação nada tem a ver com a boa (ou má) gestão de uma empresa, ou com o seu plano de negócio.

A analista Aline Tavares, da casa de análise de investimentos Spiti, explica que a prática do day trade acontece há tempos na Bolsa – desde a época do pregão viva- voz, em que operadores, confinados em um salão lotado, compravam e vendiam no grito e fazendo gestos com as mãos.

Com o fim do pregão viva-voz, atrelado à popularização das plataformas digitais de negociação, e o aumento do número de investidores pessoa física na Bolsa, o day trade começou a se popularizar e se tornar acessível.

Dados da própria B3 indicam um aumento impressionante de operações day trade no país, principalmente em 2020, o ano da pandemia. Em 2017, foram contabilizadas 143 mil operações desse tipo. Em 2018, elas subiram para 236 mil. Em 2019, 482 mil. De repente, no ano passado, ocorreu um salto surpreendente para 1,140 milhão de operações day trade.

É claro que esse movimento não surgiu do nada.

Tavares explica que a pandemia foi um fator determinante, já que grande parte da população brasileira sofreu uma brusca redução de sua renda. Além disso, o isolamento social contribuiu para que navegássemos ainda mais nas redes sociais – a morada dos day trades amadores, que oferecem soluções mágicas e mirabolantes para ganhar dinheiro.

Segundo o LinkedIn, a maior rede social profissional do mundo, “investidor day trader” tornou-se a nona profissão emergente no Brasil em 2020.

Não à toa – há um sem-número de histórias de pessoas que investiram boa parte de sua renda (se não toda) para investir em cursos online de day trade e, claro, para operar na Bolsa.

O problema é que esse tipo de operação – complexa e de alto risco – “virou moda” e passou a ser vista como uma máquina instantânea de fazer dinheiro. O day trade passou a ser utilizado de forma indiscriminada como promessa de lucro rápido – um verdadeiro cassino com acesso liberado.

Porém, um estudo conduzido em 2019 pelos pesquisadores e economistas da Fundação Getúlio Vargas Bruno Giovannetti e Fernando Chague mostra que 97% das pessoas que investem na Bolsa perdem dinheiro, e, quem ganha, leva menos de R$ 300 por dia.

Os economistas atestaram que, dos 20 mil investidores monitorados num período de cinco anos, 92,1% desistiram da prática, e das 1.558 pessoas que persistiram em fazer as operações day trade por mais de 300 pregões, 91% ficaram no prejuízo. Juntas, elas perderam um total de R$ 68,4 milhões – uma média de R$ 35,90 por dia (sem contar as taxas cobradas pelas corretoras).

“As pessoas que fazem day trade não melhoram com o tempo. Em qualquer atividade normal, o profissional vai melhorando com a experiência. No day trade não, e isso aparece de maneira muito clara nos dados. A chance de ganhar cai com o tempo. Nenhuma outra atividade é assim, você faz, faz, faz e não melhora. Só cassino, que é pura sorte. Day trade é igual, pura sorte. Se fosse algo que dependesse de habilidade, o certo seria que, à medida que vai treinando, a pessoa fosse melhorando, mas não é o que acontece”,  alerta Giovannetti.

Investir é uma prática que demanda tempo (e muita paciência). O day trade, ao contrário do que se acredita ainda, é uma operação nociva para aqueles e aquelas que querem construir o seu patrimônio com segurança.

Preocupação com consumo consciente provoca aumento generalizado na procura por produtos de beleza sustentáveis
por
Laura Moraes e Fernanda Maia
|
05/07/2021 - 12h
Divulgação: Frepik
Divulgação: Frepik

A pandemia serviu de catalisador para diversas tendências que já vinham crescendo nos últimos anos, e a procura por produtos ecológicos, manufaturados a partir de matéria-prima natural, muitas vezes orgânica e vegana, é uma delas. Uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group no final de 2020, com mais de 3 mil pessoas em oito países diferentes, mostrou que 70% dos participantes estão mais conscientes de que a atividade humana ameaça o meio ambiente do que antes da pandemia da Covid 19, e que 75% dos entrevistados consideram as questões ambientais tão preocupantes quanto as questões de saúde.

Esse padrão de comportamento afeta diretamente as escolhas de consumo em geral, e também está presente no mercado da beleza, o que estimula o segmento de cosméticos naturais. Marcas artesanais, com produtos de composição natural e acondicionados em embalagens simples e sustentáveis, estão em voga, contrapondo-se à gigantesca indústria da beleza tradicional.

O mercado de cosméticos tradicional mundial movimenta R$ 10,9 bilhões  por ano e coloca o Brasil na quarta posição entre os países que mais consomem produtos de beleza (atrás de Estados Unidos, China e Japão). Da mesma forma, o país também é o quarto que mais produz lixo plástico, de acordo com levantamento do WWF (Fundo Mundial para a Natureza), feito em março de 2019. A preocupação com a composição dos produtos, mas também com a composição das embalagens, é o motivo pelo qual muitos consumidores procuram alternativas mais amigáveis tanto para o meio ambiente e como para a própria saúde.

“A sustentabilidade é um caminho sem volta. A indústria de cosméticos tradicional está defasada e ultrapassada, porque as pessoas estão cada vez mais antenadas e preocupadas com assuntos que há 15, 20 anos não eram debatidos. As empresas atendem à demanda dos consumidores, então cabe a eles exigir empresas mais responsáveis e sustentáveis”, afirma Stephanie Racy, criadora da AmoKarité, marca de maquiagens feitas à mão, com produtos 100% naturais e veganos.

Racy criou a marca em 2020, e no primeiro ano de funcionamento, que se deu integralmente na pandemia, teve um faturamento de R$ 400 mil. A aposta em vendas online, a forte presença nas redes sociais,  as maquiagens multifuncionais e sustentáveis e, finalmente, as embalagens com materiais alternativos ao plástico são os fatores que contribuíram para o sucesso da marca. Hoje, o empreendimento já conta com uma fábrica, localizada em Gonçalves, no sul de Minas.

De acordo com uma pesquisa de 2019 da Nielsen Brasil, a partir do monitoramento de compras de 8.300 lares brasileiros, o segmento "verde" concentra 18,2% do faturamento total do mercado de higiene e beleza. Apesar de ainda baixa, a tendência é de alta ao longo dos anos, principalmente em um país  com tanta biodiversidade quanto o Brasil.

Segundo Eduardo Pagani, gerente de desenvolvimento do LNBio(Laboratório Nacional de Biociência), atualmente há 600 plantas catalogadas que são usadas pela indústria de cosméticos, mas ainda estão sendo desenvolvidas pesquisas com mais de mil outras plantas. “Temos um mercado para produtos naturais com grandes oportunidades de desenvolvimento, inovação e geração de negócios”, afirma o gerente.

Foi pensando nisso que a cosmetologista Julia Tartari criou a Mona Loja em 2018. A curiosidade sobre pigmentos, texturas e cuidados com a pele a fez criar seu próprio material de trabalho a partir de substâncias naturais como manteigas, óleos, ceras e ativos vegetais. Alguns dos produtos, por exemplo, são à base de cera de abelha e de carnaúba, manteiga de cupuaçu e óleo de jojoba.

“Com a Mona quero desconstruir a funcionalidade da maquiagem como uma ferramenta de correção, de aperfeiçoamento e de uma beleza padrão. Por isso, minha pesquisa é voltada a desenvolver produtos que sejam coloridos, acessíveis, sustentáveis e plurais para que sejam constantemente ressignificados pelas próprias clientes.” comenta Tartari.

Mesmo com o sucesso, a indústria de cosméticos naturais ainda atrai um nicho de consumidores bastante restrito. A questão do uso vai além da estética e popularidade da marca, pois envolve uma questão de educação socioambiental. Uma pesquisa realizada pelo Observatório Brasileiro de Economia e Mercados Agroecológicos e Orgânicos (Obema), com 305 consumidores de produtos naturais, catalogou os atributos considerados “mais importantes” e “menos importantes” entre os entrevistados. A valorização do produto dentro do grupo social a que pertence o consumidor e os selos de certificações na embalagem são os fatores de menor interesse no nicho. Enquanto isso, a  eficiência do produto e os ingredientes que não impactam negativamente a saúde do indivíduo seguem como prioridade na hora do consumo.

Fonte: Obema UFRGS
Fonte: Obema UFRGS

“Comecei a utilizar produtos naturais aos 18 anos, a partir do momento em que comecei a estudar seus benefícios, sem agredir minha saúde. Acredito que a divulgação desses produtos ainda é baixa. É importante que as pessoas discutam o tema e incentivem cada vez mais o uso desses produtos, para que de fato haja repercussão nos nossos grupos sociais'', comenta Bianca Lopresti, atriz e consumidora de produtos orgânicos.

Dados da Pnad Contínua, do IBGE, mostram números crescentes de precarização, subocupação e desistência pela procura
por
Anna Baisi e Maria Paula de Sá
|
05/07/2021 - 12h
Taxa de desemprego no Brasil bate recorde no primeiro trimestre. Foto: Dario Oliveira/Estadão Conteúdo/Divulgação
Foto: Dario Oliveira/Estadão Conteúdo/Divulgação

A taxa de desemprego no Brasil, para o 1º trimestre de 2021, de janeiro a março, cresceu para 14,7%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados pelo IBGE no dia 27 de maio. Isso significa que 14,8 milhões de brasileiros estão à procura por trabalho no país, e esse é o maior número de toda série histórica desde o início da contagem, em 2012.

No levantamento anterior, referente ao trimestre anterior (outubro a dezembro de 2020), o resultado representa um aumento de 6,3%. Isto é, indica que, neste momento, cerca de 880 mil desocupados passaram a procurar emprego. Em relação ao ano passado, o número aumentou 15,2%, frente ao mesmo trimestre, que fechou com 12,8 milhões de pessoas, significando 1,956 milhão de pessoas a mais procurando trabalho.

Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e ex-diretor técnico do Dieese, afirma que a taxa de desemprego já vinha bastante elevada antes da pandemia. Ele aponta também para o aumento dos chamados desalentados, categoria que abrange as pessoas que, embora sem um trabalho, não são computadas como desempregadas, porque não estavam procurando quando foram contatadas pelo IBGE.

No contingente de pessoas desalentadas - grupo de pessoas que não buscam trabalho, mas que gostariam de conseguir uma vaga e estavam disponíveis para trabalhar -, somou 6 milhões neste 1º trimestre de 2021, o maior número desde o início da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012, quando os desalentados somavam 1,9 milhão.

Isto significa uma estabilidade em relação ao trimestre de outubro e dezembro de 2020. Em um ano (janeiro a março de 2020), quando a taxa foi estimada em 4,3%, o resultado, por outro lado, foi de elevação.

"O fato da economia não gerar postos de trabalho coloca as pessoas na condição de desistir de procurar, apesar de precisar de um posto de trabalho. Então, o desalento e o desemprego crescem com a pandemia", diz Ganz Lúcio.

O sociólogo acrescenta que, sempre que os desalentados saírem da sua situação e passarem a ter uma postura ativa de procura de emprego, a tendência é que aumente a pressão sobre a taxa de desemprego. 

"Um outro cenário: a taxa de desemprego permanece elevada sem necessariamente crescer, mas também permanece muito elevado o contingente de pessoas desalentadas que não vão procurar emprego, e também que continuaram sem procurar trabalho, o que poderá ter como consequência o aumento da pobreza, da miséria e da fome no país", reflete.

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a população ocupada (trabalhando) no país chegou a 85,7 milhões no trimestre de janeiro a março de  2021, e, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (janeiro a março de 2020), este indicador apresentou queda, com redução de  6,573 mil pessoas. 

Trabalho informal x trabalho formal

Existem diversas formas de um trabalho ser considerado informal. O que vai determinar isso é a não assinatura na carteira, ou seja, não ter vínculo empregatício e benefícios trabalhistas como férias, licença-maternidade, aposentadoria, seguro- desemprego, entre outros. Porém, vale destacar que quem se dedica ao trabalho informal, pode sofrer certa instabilidade financeira.

Por outro lado, o trabalho considerado formal é aquele que é registrado  dentro da CLT, no qual o funcionário pode contar com proteção e amparo das leis trabalhistas. Neste, há uma maior estabilidade financeira, garantida por um salário pago mensalmente, além de benefícios como auxílio-alimentação e transporte, plano de saúde  etc.

No Brasil, porém, nem sempre há uma escolha em relação ao trabalho informal. Por muitas vezes, os profissionais acabam não tendo alternativa, e, em meio a vagas cada vez mais concorridas e que exigem um alto nível de qualificação, a solução é recorrer à informalidade, não amparada pela CLT.

Uberização do trabalho

Atualmente, o trabalho informal nem sempre é uma opção. O fenômeno de “uberização” das relações de trabalho se dá através de uma exploração de mão de obra por  poucas e grandes empresas de aplicativos e plataformas digitais. Elas têm como principal característica a ausência de vínculos empregatícios com os trabalhadores.

Esses são os chamados trabalhadores por conta própria, e, na categoria, estão 23,8 milhões de brasileiros, apresentando um crescimento de 2,4% na comparação com o trimestre anterior, significando a adição de 565 mil pessoas neste contingente. Em relação ao mesmo período do ano passado, o indicador, neste trimestre, apresentou estabilidade.

Imagem da capa: 

Valdecir Galor/SMCS/Divulgação

Novos arranjos, como PIX, iniciadores de pagamento e Open Banking, prometem competição entre bancos e comodidade para clientes
por
Camila Barros
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05/07/2021 - 12h
O sistema de transferência via WhatsApp começou a funcionar em maio
O sistema de transferência via WhatsApp começou a funcionar em maio.

O serviço de transferência de dinheiro via WhatsApp começou a funcionar no mês de maio. O WhatsApp Pay, como ficou conhecido, foi liberado pelo Banco Central (BC) em 31 de março, na esteira de aprovações de medidas que diversificam o sistema financeiro no Brasil. Ainda no primeiro semestre de 2021, a autarquia planeja lançar novidades para o PIX e dar início à 2ª fase da implementação do Open Banking.

O WhatsApp Pay se tornou possível com a aprovação, em outubro de 2020, dos iniciadores de pagamento (Pisp). Com esse arranjo, é possível que uma instituição faça o recurso sair da conta do pagador e cair na do recebedor mesmo sem deter acesso direto à conta de nenhum deles.

Em nota, o BC afirmou que “as autorizações concedidas poderão abrir novas perspectivas de redução de custos para os usuários de serviços de pagamentos”.

A instituição vem acelerando suas apostas em novas tecnologias depois dos indicativos positivos de aderência ao PIX: em abril deste ano, foram feitas mais transações com ele do que com TED, DOC, boletos e cheques somados. Em 6 meses de funcionamento, o PIX movimentou R$ 1,1 trilhão, com mais de um bilhão de operações e 75 milhões de brasileiros (45% da população) usando a tecnologia.

 

PIX vs. WhatsApp Pay

Assim como o PIX, o WhatsApp Pay se propõe a trazer mais facilidade e rapidez nas transferências. Segundo Arthur Igreja, especialista em tecnologia, inovação e finanças, existem intersecções grandes entre os dois sistemas.

De acordo com a assessoria do BC, no entanto, os dois serviços não são concorrentes. “O PIX foi instituído para buscar atingir objetivos públicos, como redução de custos para usuários finais, apoiar o processo de inclusão financeira e oferecer para a população um instrumento de pagamento que seja universal em termos de utilização”, afirma a autarquia, “os arranjos de pagamento privados possuem objetivos privados e o Banco Central atua apenas para evitar distorções no mercado e para avaliar a segurança mínima do arranjo”.

Para o futuro, segundo a assessoria do aplicativo de mensagens instantâneas, “o plano é trabalhar com o Banco Central para integrar o PIX aos pagamentos no WhatsApp”. A previsão é que, seguindo o cronograma estabelecido no Open Banking, em agosto de 2021 o PIX passe a aceitar iniciadores de pagamento como participantes.

Aderência

Segundo Arthur Igreja, o maior entrave para a aderência dos usuários às novas ferramentas é a desconfiança em relação a segurança. “Existe ainda muito forte no imaginário das pessoas os problemas de segurança do WhatsApp”, aponta. Além disso, ele relembra que foi necessário algum tempo e muita divulgação para a população digerir e entender como funcionava PIX. Com o WhatsApp Pay, assim como para outros iniciadores de pagamento no mercado, o processo deverá ser o mesmo.