A festa que enche o Brasil de cores e os comerciantes de oportunidades
por
Nicole Domingos
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12/09/2025 - 12h

Por Nicole Domingos

 

O Carnaval, que se vende como festa e se compra como tradição, não é apenas desfile de rua, batuque de samba ou fantasia improvisada. É também uma virada de chave para o comércio, que transforma a purpurina em faturamento. Em janeiro de 2024, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), publicou que o ano de 2025 movimentaria mais de R$9 bilhões, reforçando seu posto como uma das datas mais rentáveis do calendário econômico. Na contabilidade da festa, cada rua cheia de foliões é também um corredor de consumo. As farmácias que dobram as prateleiras de protetor solar, os supermercados que multiplicam o estoque de bebidas, as lojas de fantasia que expõem brilhos e lantejoulas como se fossem joias de temporada. Roberto Devidis, representante de vendas para armarinhos e lojas de customização na rua 25 de março,  considera que o carnaval é uma espécie de Natal fora de época.

Nos bastidores da festa, empresários calculam margens, fornecedores disputam espaço nas prateleiras e pequenos comerciantes fazem de cada esquina uma oportunidade. Para Marlene Batista, dona de loja de armarinhos, não existe nenhum período em que cresce as vendas como nesse tempo. Ela diz que antes mesmo da virada do ano já recebe pedidos de escolas de samba, tanto de produtos para a confecção dos carros, quanto para as roupas que serão usadas na avenida. Além disso,  o carnaval cria um ambiente de consumo que vai além da festa. Aumenta o fluxo em bares e restaurantes, multiplica reservas em hotéis e aplicativos de hospedagem, movimenta aplicativos de transporte, gera impacto até nos varejos de eletrodomésticos, com vendas de caixas de som, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. A folia, nesse sentido, extrapola o sambódromo e se infiltra em cada detalhe da vida cotidiana.

O ambulante que vende água, cerveja e todo tipo de bebida no bloco, a costureira que aceita ideias improvisadas de fantasias, o maquiador que tem que sempre ter uma ideia nova e cores vibrantes, todos compõem a cadeia econômica do carnaval. Em uma reportagem postada pelo Ministério da Cultura fica claro como não só os empresários com suas lojas têm a oportunidade de garantir uma boa renda, mas também aqueles que precisam de momentos como esse para sobreviver, como ambulantes que trabalham com eventos sazonais.

Outro ponto relevante é a geração de empregos temporários. Segundo a revista Forbes, a folia deve impulsionar, ainda, o mercado de trabalho, com a criação de 300 mil postos temporários, no interior e no litoral do Estado de São Paulo. O coordenador do Núcleo de Pesquisa da Fhoresp, Luís Carlos Burbano, destaca que esses empregos geram renda imediata para as famílias, contribuindo para a dinamização da economia local. Para muitos trabalhadores, o Carnaval representa a chance de garantir uma renda extra no início do ano. Essa circulação de dinheiro não apenas aquece os centros urbanos, mas sustenta muitas famílias que, durante os quatro dias de festa, encontram mais renda do que em meses inteiros de trabalho formal.

O contraste, no entanto, se mantém: se o brilho é abundante nas grandes cidades turísticas, os municípios sem tradição carnavalesca mal percebem a onda econômica. O comércio local, nesses lugares, vê pouco ou nenhum aumento expressivo nas vendas. Em pesquisas são sempre mostradas locais como o Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Minas Gerais. É como se o Carnaval, enquanto festa, fosse universal, mas enquanto motor econômico fosse seletivo. Ainda assim, mesmo de forma desigual, a festa gera reflexos nacionais, movimentando cadeias de produção que alcançam diferentes regiões.

No fim, a conta é simples: o País veste fantasia, mas o comércio veste números. O carnaval continua sendo um dos maiores espetáculos do mundo, já que a matéria da Forbes explica que lugares com a fama do Rio de Janeiro atraí não só turistas brasileiros como também internacionais para a festa. E de acordo com Enio Miranda, diretor de Planejamento Estratégico do Núcleo de Pesquisa da Federação dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp),  o Carnaval está cada vez mais consolidado no calendário de eventos dos turistas estrangeiros.

Na soma final, não se trata apenas de quatro dias de festa, mas de um ciclo econômico que começa semanas, ou até mesmo meses antes, se prolonga depois da Quarta-feira de Cinzas e reafirma a festa como um patrimônio não só cultural, mas também econômico do Brasil.

Indicador registrou crescimento da economia brasileira de 0,3% no segundo trimestre de 2025
por
Marcelo Barbosa
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20/08/2025 - 12h


O Banco Central (BC) divulgou nesta segunda-feira (18) os dados do IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil) referentes ao mês de junho. Os números mostraram uma queda de 0,1% em relação a maio, mas o resultado do segundo trimestre de 2025 se manteve positivo, com um crescimento de 0,3%. O IBC-BR é um dos indicadores oficiais da economia brasileira. Ele faz uma estimativa de crescimento levando em conta três setores: agropecuária, indústria e serviços. O índice foi criado para trazer números frequentes sobre a atividade econômica do Brasil e tem influência sobre as decisões financeiras do país, servindo de auxílio para políticas monetárias, como a taxa de juros (Selic).

Por exemplo, quando a taxa de juros está em patamares elevados, isso reduz a atividade econômica, o que se reflete nos números do indicador. Por isso, atualmente, ele é lido pelo mercado como a "prévia do PIB".

 
 

Fachada do Banco Central do Brasil em Brasília — Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
IBC-BR: agropecuária, indústria e serviços tem leve alta no segundo trimestre de 2025 (Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)

 

 

Retração da economia

Após quatro meses seguidos de bons resultados, maio registrou a primeira retração do ano, de 0,7% em relação a abril. Em junho, a queda foi de 0,1%. De acordo com o professor de economia Renan Silva, do IBMEC Brasília, "a alta deu-se devido à Selic, que chegou ao patamar de 15%”. Ele explicou que "o que corrobora para essa questão da taxa de juros restritiva é o fato de que os indicadores de inflação vêm arrefecendo. No último relatório Focus, do Banco Central, o IPCA já registra uma inflação, em 2025, de 4,95%, ante os 5,30%, que as projeções vinham indicando”.

 

Os dados oficiais do Banco Central confirmam que a agropecuária foi o principal fator para a retração no trimestre, com uma diminuição de 3,1% no período. Por outro lado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o destaque de junho foi o aumento de 0,3% no volume do setor de serviços. A produção industrial teve um recuo de 0,1% no mês, e as vendas no varejo também frustraram as expectativas, recuando 0,1% em comparação a maio. Sob a óptica do professor, o tarifaço de Donald Trump pode trazer efeitos adversos e "provocar uma redução intensa no segundo semestre”.

 

Nos últimos 12 meses, os números ficaram em 3,9%, o que representa uma desaceleração em face ao mesmo período, que marcou uma alta de 4,04%.

 

Para o futuro, Silva acredita que a retração na atividade econômica pode influenciar o COPOM (Comitê de Política Monetária) - órgão responsável por estabelecer as diretrizes da política monetária - a iniciar um novo ciclo na queda dos juros. "Esse ciclo restritivo já teve efeito, o que gerou como resultado a redução na atividade econômica”, conclui. A retração de 0,6% no terceiro trimestre de 2023 havia sido a última queda do indicador antes dos recuos registrados neste ano.

Alimentação e bebidas têm deflação em relação ao mês anterior, enquanto habitação sofreu alta devido ao aumento da conta de luz
por
Marcelo Barbosa P.
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13/08/2025 - 12h

O IBGE divulgou nesta terça-feira (12) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do país. Os dados apontam que houve um aumento de 0,26% no mês de julho, uma leve alta em comparação com a taxa de 0,24% registrada em junho. No ano, o IPCA já acumula desaceleração de 3,26% e, nos últimos 12 meses, de 5,23%.

De acordo com o gestor de investimentos e especialista financeiro da WFlow, Guilherme Viveiros, a inflação surpreendeu positivamente. "O índice deste mês veio com o valor de 0,26%, enquanto o mercado via uma elevação de 0,36%". O mês de agosto também deve apresentar queda, com índices negativos o que, segundo Viveiros, "fez com que o mercado começasse a sondar uma possível queda dos juros ainda em 2025".

Entre os setores da economia que apresentaram deflação, ou seja, queda de preços, estão o grupo Alimentação e bebidas (-0,27%), Vestuário (-0,54%) e Comunicação (-0,09%). Em contrapartida, entre os maiores destaques da alta estão os grupos Habitação (0,91%) e Despesas Pessoais (0,76%). A alta do grupo Habitação foi impulsionada pela energia elétrica residencial, com variação de 3,04% - o maior impacto individual no índice do mês. Esse número se deve ao fato de que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) confirmou a bandeira tarifária de agosto, que será a Vermelha patamar 2, a mais cara do sistema. Como consequência disso, haverá um acréscimo de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos na conta de luz.

O grupo Transportes também teve aceleração, passando de 0,27% em junho para 0,35% em julho, impulsionado pela alta de 19,92% nas passagens aéreas. Por outro lado, os combustíveis tiveram uma queda de 0,64% no mês, com recuos no preço do etanol (-1,68%), do óleo diesel (-0,59%), da gasolina (-0,51%) e do gás veicular (-0,14%).

 Já o grupo Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no IPCA, registrou baixa pelo segundo mês consecutivo. A queda em julho foi impulsionada pela alimentação no domicílio, que caiu 0,69% com destaque para redução nos preços da batata-inglesa (-20,27%), da cebola (-13,26%) e do arroz (-2,89%).

 

Reprodução: Tânia Rego/Agência Brasil | Pessoas andando em um mercado
Reprodução: Tânia Rêgo| Pessoas escolhem frutas em um mercado


Rafael Prado, economista e analista de macroeconomia da Go Associados, chama a atenção para o fato de que o valor da inflação deste mês ainda é elevado em relação à meta de 4,5% ao ano. Segundo ele, o resultado deste mês é prova de que a política monetária pode atuar de maneira enfática nos dados. "Quando nós olhamos para os números desagregados do IPCA, vemos que existem grupos, como Habitação que foi impactado pela energia elétrica, que influenciaram para o aumento de julho". Para ele, isso ressalta a importância de "continuar com uma política monetária restritiva, para que a inflação continue caindo e volte ao intervalo de tolerância."

Já o professor de economia João Gabriel Araújo, do Ibmec Brasília, destaca o efeito Trump na economia brasileira. Segundo ele, a guerra tarifária vai ser um dos fatores determinantes para a queda dos preços no Brasil. "Com o anúncio das medidas para o Brasil, especialmente a tarifa de 50% sobre as importações, os produtores nacionais aumentaram os estoques para o mercado interno, reflexo da diminuição das exportações para os Estados Unidos antes da implementação da tarifa e do consequente aumento da oferta de bens no mercado doméstico".

O cálculo do IPCA foi realizado a partir da comparação dos preços coletados entre 1 e 30 de julho de 2025 com os preços vigentes entre 30 de maio e 30 de junho de 2025. O IPCA abrange famílias com rendimento monetário de 1 a 40 salários-mínimos. Já o INPC, que considera famílias com rendimento de 1 a 5 salários-mínimos, teve alta de 0,21% em julho, com acumulado de 3,30% no ano.

A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Nos últimos 12 meses, comer no Brasil ficou 11,71% mais caro
por
Vitor Simas Ribeiro da Costa, Lucca Fresqui, João Pico
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05/04/2022 - 12h

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de março mostrou pela primeira vez com clareza os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre a inflação no Brasil. A alta da inflação dos alimentos compromete o poder de compra dos brasileiros e dificulta cada vez mais o acesso à cesta básica. 

Nos últimos 12 meses, comer no Brasil ficou 11,71% mais caro, destaca o IBGE. Entre os itens que foram mais afetados, a cenoura mostrou a maior variação mensal, de 45,65%, seguida de tomate (15,46%) e das frutas (6,34%). 

Foto: Lucas Fresqui

Foto por Lucas Fresqui
Foto por Lucca Fresqui.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em fevereiro deste ano, a inflação da cesta básica, medida pela variação no preço de 13 alimentos que a compõem, atingiu 2,02%, o dobro do IPCA registrado no mês, de 1,01%. Os maiores aumentos de preços registrados foram da batata inglesa (23,49%) e do feijão (4,77%). A alta nos preços de alimentos é uma tendência global de instabilidade econômica e política, A inflação é agravada por problemas internos de cada país, como a desvalorização cambial e a negligência sobre questões ambientais.

O aumento dos combustíveis também pressionou o índice, com aceleração da gasolina (2,34% para 4,99%) e etanol (-2,18% para 1,13%). Na ponta, critério que indica a tendência dos preços, os itens sobem 9,63% e 6,0%, respectivamente, e sinalizam pressão para abril. Saiba mais

 

Impacto já chega à tarifa de ônibus e supera crises históricas, dificultando ainda mais a rotina dos brasileiros
por
Carolina Raciunas, Henrique Baptista e Isabela Gama
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29/03/2022 - 12h

Em meio à crise econômica e à guerra entre Rússia e Ucrânia, os brasileiros têm visto um forte aumento no preço dos combustíveis. De acordo com uma pesquisa feita pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), na última semana de março de 2022, o preço máximo do litro da gasolina vendida no Brasil chegou a quase R $9,00. Especialistas apontam que o Preço de Paridade Internacional (PPI) adotado pela Petrobras desde 2016 também colabora para o impacto negativo na mobilidade urbana do País.

Após o dia 24 de fevereiro, quando foi anunciado o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, os preços dos combustíveis sofreram impacto em todo o mundo, já que o país presidido por Putin é responsável pela exportação diária de cerca de 7 milhões de barris de petróleo. Na segunda semana do mês de março, o valor do barril chegou a quase US$140, o que indica forte aumento quando em comparação com o preço anterior à escalada do conflito, que era de US$ 101,29.

A importância da Rússia para a venda internacional do combustível fóssil se dá pelo fato de que o país é o terceiro maior produtor mundial de petróleo, e o segundo maior exportador. Com isso, mudanças geopolíticas impactam diretamente o comércio mundo afora, como aconteceu em 2014, durante a anexação da Crimeia ao território russo. Segundo o especialista da Valor Investimentos, Davi Lelis, na época, o valor do barril chegou ao que hoje seria equivalente a US $112. A atual tensão entre a Rússia e a Ucrânia tem sido amplamente observada e a expectativa é de que haja queda nos preços conforme o conflito seja amenizado. 

Pesquisadores apontam que, apesar da guerra ter alavancado o preço dos combustíveis no Brasil, o País já enfrentava uma crise. Tal fator está diretamente relacionado à postura adotada pelo Oriente Médio de diminuir a oferta de petróleo para conter os preços frente à menor demanda devido ao isolamento social adotado como medida de contenção da pandemia de Covid-19.

Com o avanço da vacinação, a maior flexibilização dessas ações e consequente aumento da mobilidade urbana, a retomada da oferta não conseguiu acompanhar o intenso aumento da demanda, elevando os preços dos combustíveis. No Brasil, a organização adotada colabora para a escalada de preços. Desde 2016, a Petrobras utiliza a política do Preço de Paridade Internacional, que é quando as refinarias vendem os combustíveis para as distribuidoras a partir de um valor paralelo ao mercado internacional, definido pela cotação do barril e pelo câmbio. A companhia argumenta que a política é seguida para maximizar o lucro e manter o mercado competitivo.

Frentista abastece carro/ Getty Images
Frentista abastece carro/ Getty Images 

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Petrobras fornece 70% dos combustíveis consumidos pelo Brasil. Dessa forma, em meio à crise gerada pela pandemia, à instabilidade internacional impulsionada pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e ao atual quadro político nacional, os preços sofrem aumento ainda maior no Brasil.

A PPI não tem sido negativamente debatida como um dos principais desencadeadores do aumento do preço dos combustíveis apenas atualmente. Em 2018, a alta no valor gerou a greve dos caminhoneiros, a qual suspendeu temporariamente a atividade de diversos setores da economia brasileira.

Além disso, a mobilidade urbana tem sido limitada, afetando também motoristas de carro, moto e quem trabalha com serviços de transporte por aplicativo.  Sérgio*, motorista da Uber, contou que o aumento da gasolina impactou fortemente seu trabalho, diminuindo o lucro obtido em cada corrida. Além disso, ele relatou que a empresa comunicou uma mudança na política de repasse do valor adquirido nas corridas: “A Uber divulgou que nós receberíamos um acréscimo de 60 centavos a cada dez reais de lucro, mas, na prática, nós não sentimos diferença, principalmente porque está cada vez mais caro abastecer o carro”.

Agora, os brasileiros que dependem do transporte público também estão sentindo no bolso o impacto dessa crise. No dia 10 de março, a Petrobras comunicou um reajuste de 24,9% do óleo diesel nas distribuidoras. Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), os aumentos acumulados pelo combustível já elevaram em 10,6% os custos da locomoção por ônibus só neste ano, e podem crescer ainda mais, caso o poder público não compense a correção do diesel.

*O entrevistado não quis informar seu nome completo.

 

Busca de modelos capazes de conter a degradação ambiental cresce enquanto pesquisas preveem 10 bilhões de pessoas no planeta até 2100
por
Allan Henrique
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10/07/2021 - 12h

A população mundial tende a aumentar nos próximos anos a níveis alarmantes, de acordo com pesquisa da da ONU. Embora positivo para a economia, esse crescimento preocupa muito ambientalmente. O nível de desmatamento, queima de combustíveis e emissão de gás carbônico na Terra vem aumentando cada vez mais e muitos estudos já indicam que os danos ao meio ambiente caminham a passos largos para serem insustentáveis. Sendo assim, diversas medidas já vêm sendo discutidas em prol de um desenvolvimento sustentável, gerando pautas como o Acordo de Paris e a Agenda da ONU. Essas ações, entretanto, podem não chegar a tempo. Uma outra alternativa muito discutida entre analistas é o decrescimento econômico, que consiste na diminuição da população e da economia.

A pesquisa da Organização das Nações Unidas, de 2019, previa que a população mundial alcançaria 10,9 bilhões de pessoas até 2100. Um outro estudo, do Instituto de Medição e Avaliação de Saúde (IHME), da Universidade de Washington, indica dados mais otimistas, com a população crescendo para 9,7 bilhões até 2064 e depois caindo para 8,8 bilhões até 2100. Ainda assim, as duas pesquisas mostram um aumento populacional em comparação aos atuais 7,6 bilhões. Uma população mundial maior representa mais emissões de carbono e maior pressão na produção de alimentos, ambos sendo extremamente prejudiciais ao planeta e intensificando o Efeito Estufa. Além disso, o avanço tecnológico, traduzido por exemplo na produção de carros e aparelhos eletrônicos, também demanda muito desmatamento, com diversas árvores sendo derrubadas, extração de minerais que exigem quantidades absurdas de água etc.

Com a urgência de renovar os recursos naturais antes de os danos se tornarem irreversíveis, diversas medidas já foram discutidas e tomadas a fim de iniciar um desenvolvimento sustentável. Em 2015, 195 países assinaram o Acordo de Paris, que visa reduzir a emissão de gases de efeito estufa. O Brasil ratificou sua entrada em setembro de 2016, com suas principais metas sendo diminuir até 2025 os níveis de emissão de gases de efeito estufa em 37% comparado aos níveis de 2005 e em 43% até 2030. Em junho de 2017, porém, os Estados Unidos, um dos maiores poluidores do planeta, saíram do acordo, gerando grande preocupação mundial. Também em 2015, 193 nações assinaram a Agenda 2030, pela ONU, com objetivos mais amplos, como erradicar a pobreza, alcançar a paz mundial, mas também com o tópico de desenvolvimento sustentável: “Proteger o planeta da degradação, sobretudo por meio do consumo e da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e tomando medidas urgentes sobre a mudança climática, para que ele possa suportar as necessidades das gerações presentes e futuras”.

O cumprimento desses acordos, no entanto, vai na contramão do processo de crescimento econômico mundial, que depende da extração exagerada de recursos naturais e não está pronto para uma transição em prol de um desenvolvimento sustentável antes dos danos ao meio ambiente se tornarem irreversíveis, como diz o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves:

São iniciativas muito bonitinhas, muito bem intencionadas, só que não têm funcionado. O que a gente fala é que esse desenvolvimento sustentável é um oximoro, porque, se tem desenvolvimento, não é sustentável, não existe nenhum exemplo no mundo de desenvolvimento econômico que seja sustentável. Todo desenvolvimento é degradador do meio ambiente. Se a economia continuar crescendo e a população continuar crescendo, o meio ambiente vai ser destruído. Por isso digo uma frase: o enriquecimento do ser humano se dá às custas do empobrecimento do meio ambiente, e essa equação tem que ser mudada”.

Alguns analistas indicam que a economia já atingiu seu ápice e não há espaço para crescimento sem a degradação da natureza, e propõem um novo modelo de economia, o decrescimento demo-econômico.

Em artigo para o site Ecodebate, José Eustáquio explica que esse decrescimento significa pensar na diminuição da população mundial e da economia:

“Numa situação hipotética, vamos imaginar que haja uma redução da população de 0,3% ao ano e uma redução de 0,1% ao ano do PIB entre 2024 e 2100. Haveria um aumento da renda per capita de US$ 18,4 mil para US$ 21,5 mil, em 76 anos, um aumento de 17%. No mesmo período a população mundial cairia de 8 bilhões para 6,4 bilhões de habitantes (uma queda de 20% em 76 anos) e o PIB teria uma queda de US$ 147,3 trilhões para US$ 136,4 trilhões (uma redução de 7,4% em 76 anos). Ou seja, se a redução da população acontecer em ritmo mais rápido do que a queda do montante de bens e serviços produzidos anualmente, então o decrescimento demo-econômico poderia acontecer com prosperidade e aumento da renda per capita e aumento do bem-estar social e ambiental”.

Pixabay
Pixabay

Aliado a uma distribuição de renda adequada e a medidas sustentáveis, o decrescimento econômico poderia fazer com que o planeta avançasse social e ecologicamente. Além da óbvia diminuição de poluição gerada pelo ser humano individualmente, medidas como reflorestamento, mudança da dieta alimentar  para o veganismo e a eliminação de agrotóxicos e fertilizantes na agricultura também devem estar em pauta.

A liberdade de ser diferente a cada dia da semana estimula o negócio das laces
por
Isabella Marinho
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05/07/2021 - 12h
Foto: Vladimir Yelizarov
Foto: Vladimir Yelizarov

 

Com a recente participação de Camilla de Lucas na última edição do Big Brother Brasil e com as aparições da cantora Ludmilla em seus shows, é possível perceber uma mudança constante: seus cabelos estão sempre diferentes. Ruivas, loiras, morenas, lisas, onduladas, crespas e com comprimentos curtos e longos, as mulheres vêm encontrando em acessórios como as laces a versatilidade de ser quem quiserem a qualquer momento.

A diferença, que muitos não conhecem, entre uma lace e uma peruca está essencialmente em sua touca, a parte que imita o couro cabeludo. A touca da lace consiste em uma tela fina sobre a qual são costurados os fios de cabelo com uma pinça específica. A variedade no mundo desse acessório é de impressionar. Entre Front Lace, Full Lace, laces de cabelo humano, artificial ou orgânico e laces específicas para exercícios físicos e festas, há um ponto em comum: o resultado de sua aplicação é muito natural. Elas são produzidas de forma a permitir à pessoa que está utilizando o acessório a realização de qualquer tipo de penteado e a repartição do cabelo da maneira que achar melhor. A supervisora técnica da Salon Line, Shirlei Oliveira, em entrevista para o Correio Braziliense, disse: “Elas são fáceis de usar, podendo ser colocadas ou removidas em qualquer lugar, sem o auxílio de um profissional”.

Assim como há uma variedade de tipos de lace, também existe uma variação no preço das peças. De acordo com entrevista à Forbes da fundadora da loja Lady Laces, Lady Valiante, os acessórios, que são parecidos com as perucas, podem custar de R$ 150 a R$ 4 mil. Essa diferença no preço é reflexo do material usado para a confecção da lace e a sua finalidade. As laces de cabelo natural custam a partir de R$ 700 e podem chegar a R$ 8 mil, tendo como média de preço R$ 2 mil, enquanto as de cabelo orgânico são vendidas no máximo por R$ 800.

Mudanças culturais

Mais do que a praticidade do acessório, as recentes mudanças em como se consome no Brasil e no mundo acarretam o sucesso de certos produtos. A sustentabilidade e o consumo consciente estão cada vez mais presentes na mente do consumidor. Na moda, por exemplo, movimentos como o slow fashion e o consumo nos brechós têm ocupado espaço e chamado atenção do público. No mundo dos cabelos, movimentos de aceitação e de autodescobrimento estão abrindo caminho no mercado. Atualmente, é fácil encontrar produtos diferenciados e produzidos de forma mais independente e sustentável, dependendo do nicho no qual se está inserido. O produto final que está sendo adquirido não é mais o único filtro utilizado para a sua aquisição.

Ao começar a assumir responsabilidade pelos impactos que suas compras têm no meio ambiente, uma parcela dos consumidores começou a procurar entender toda a produção por trás daquela mercadoria. Quem  está produzindo, onde comprar, como foi confeccionada e o quão danoso é o seu descarte para o planeta são questões que estão permeando o interesse do público. Preocupações desse tipo estimulam a procura de empreendedores autônomos e sustentáveis ao invés de grandes conglomerados.

Além das questões moral e sustentável, o significado do produto adquirido passou a ocupar espaço no mundo dos negócios. O empoderamento da mulher, por exemplo, vende e muito. No entanto, há uma diferença entre comprar uma camiseta bordada com jargões feministas em inglês, que provavelmente passará despercebida, e comprar um produto que auxilia, de fato, a mulher preta a existir em qualquer espaço que ela queira da forma que ela achar melhor.

As laces ajudam as mulheres a se enxergarem de formas distintas abrindo as portas para que  se vejam em diferentes nichos e cargos nos quais  normalmente não se veem representadas. Elas assumem suas identidades sem diminuir a sua autoestima no meio-tempo, vão se conhecendo e experimentando diferentes opções e versões de si mesmas. Afinal, a mudança tem um ar de libertação e as mulheres, ao se apropriarem da sua liberdade, pretendem explorá-la a fundo após tantos anos sendo empurradas e submetidas a alisamentos e procedimentos extremamente danosos aos fios.

No entanto, ao mesmo tempo que o movimento da aceitação ajuda a aumentar as vendas, ele é um processo individual e, em alguns casos, primeiro uma mulher precisa se ver e se sentir segura em um lugar de cabelo liso, para que, então, ela perceba que pode ocupar esse mesmo lugar com seu cabelo natural, seja ele qual for.

As laces permitem que esse processo aconteça sem mudanças drásticas e permanentes. A trancista Esther Gomes, em entrevista à Universa, explica que as laces, assim como as tranças, são uma maneira mais segura de uma mulher passar pela transição capilar e que é uma escolha pessoal utilizar essas estratégias para lidar com o processo. "Isso não anula amarmos nosso cabelo crespo”, diz a trancista.

Foto da capa: Adrian Fernández

Raramente lucrativa, compra e venda de ativos no mesmo dia se tornou o novo parque de diversões de investidores de primeira viagem
por
Mariana Meyer
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05/07/2021 - 12h

Investir não é um privilégio de quem tem muito dinheiro (apesar de ter sido por muito tempo). Hoje, muitos brasileiros e brasileiras podem alocar parte do seu suado salário em produtos outrora vistos como inatingíveis, como é o caso de ações.

De uns tempos para cá, em especial nos últimos dois anos, a Bolsa de Valores Brasileira – a B3 – percebeu um aumento significativo de investidores pessoa física. No ano passado, foram registrados 3 milhões de novos CPFs operando no Ibovespa – uma verdadeira explosão de investidores já que, três anos antes, em 2017, esse número era de apenas 600 mil.

Um dos principais motivadores desse movimento foi a queda vertiginosa da taxa básica de juros, a Selic, ao longo dos últimos anos, chegando a 2% em 2020, e, hoje, a 3,50%. Para um país que viu seus juros baterem a casa dos dois dígitos, esse cenário não é nada mau.

A migração quase que forçada de produtos de renda fixa – que não apresentam, como já apresentaram, taxas de retorno tão altas – para a renda variável veio acompanhada de uma nova tendência: a prática do day trade.

Mas vamos ao básico: o que é day trade?

 

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Crédito: Getty Images/iStockphoto

Trata-se da compra e venda (ou vice-versa) de ativos que começam e terminam no mesmo pregão. O lucro dessas operações se dá quando o preço médio da venda é maior que o da compra, depois de descontados todos os custos.

Basicamente, são operações de curto prazo, isto é, os day traders precisam acertar, em frações de segundos, minutos ou horas, a direção do mercado e de algumas ações. Nesse caso, são ignorados os fundamentos das empresas, já que uma oscilação diária do preço de uma ação nada tem a ver com a boa (ou má) gestão de uma empresa, ou com o seu plano de negócio.

A analista Aline Tavares, da casa de análise de investimentos Spiti, explica que a prática do day trade acontece há tempos na Bolsa – desde a época do pregão viva- voz, em que operadores, confinados em um salão lotado, compravam e vendiam no grito e fazendo gestos com as mãos.

Com o fim do pregão viva-voz, atrelado à popularização das plataformas digitais de negociação, e o aumento do número de investidores pessoa física na Bolsa, o day trade começou a se popularizar e se tornar acessível.

Dados da própria B3 indicam um aumento impressionante de operações day trade no país, principalmente em 2020, o ano da pandemia. Em 2017, foram contabilizadas 143 mil operações desse tipo. Em 2018, elas subiram para 236 mil. Em 2019, 482 mil. De repente, no ano passado, ocorreu um salto surpreendente para 1,140 milhão de operações day trade.

É claro que esse movimento não surgiu do nada.

Tavares explica que a pandemia foi um fator determinante, já que grande parte da população brasileira sofreu uma brusca redução de sua renda. Além disso, o isolamento social contribuiu para que navegássemos ainda mais nas redes sociais – a morada dos day trades amadores, que oferecem soluções mágicas e mirabolantes para ganhar dinheiro.

Segundo o LinkedIn, a maior rede social profissional do mundo, “investidor day trader” tornou-se a nona profissão emergente no Brasil em 2020.

Não à toa – há um sem-número de histórias de pessoas que investiram boa parte de sua renda (se não toda) para investir em cursos online de day trade e, claro, para operar na Bolsa.

O problema é que esse tipo de operação – complexa e de alto risco – “virou moda” e passou a ser vista como uma máquina instantânea de fazer dinheiro. O day trade passou a ser utilizado de forma indiscriminada como promessa de lucro rápido – um verdadeiro cassino com acesso liberado.

Porém, um estudo conduzido em 2019 pelos pesquisadores e economistas da Fundação Getúlio Vargas Bruno Giovannetti e Fernando Chague mostra que 97% das pessoas que investem na Bolsa perdem dinheiro, e, quem ganha, leva menos de R$ 300 por dia.

Os economistas atestaram que, dos 20 mil investidores monitorados num período de cinco anos, 92,1% desistiram da prática, e das 1.558 pessoas que persistiram em fazer as operações day trade por mais de 300 pregões, 91% ficaram no prejuízo. Juntas, elas perderam um total de R$ 68,4 milhões – uma média de R$ 35,90 por dia (sem contar as taxas cobradas pelas corretoras).

“As pessoas que fazem day trade não melhoram com o tempo. Em qualquer atividade normal, o profissional vai melhorando com a experiência. No day trade não, e isso aparece de maneira muito clara nos dados. A chance de ganhar cai com o tempo. Nenhuma outra atividade é assim, você faz, faz, faz e não melhora. Só cassino, que é pura sorte. Day trade é igual, pura sorte. Se fosse algo que dependesse de habilidade, o certo seria que, à medida que vai treinando, a pessoa fosse melhorando, mas não é o que acontece”,  alerta Giovannetti.

Investir é uma prática que demanda tempo (e muita paciência). O day trade, ao contrário do que se acredita ainda, é uma operação nociva para aqueles e aquelas que querem construir o seu patrimônio com segurança.