Declarações podem ser entregues por programa disponível no site da Receita Federal ou de forma online pelo e-CAC;
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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26/03/2025 - 12h

 

A Receita Federal liberou acesso à Declaração Anual do Imposto de Renda na segunda (17). Será possível realizar a entrega até às 23:59 do dia 30 de maio. 

A Declaração desempenha um papel fundamental na captação de recursos para que o Governo tenha controle sobre a arrecadação de dinheiro que financia serviços públicos.

Dentre as principais mudanças neste ano estão: 

  • A ampliação de isenção para rendimentos tributáveis 

O valor de rendimentos tributáveis anuais que obrigam a entrega da declaração subiu de R$ 30.639,90 para R$ 33.888,00.
 

  • A declaração obrigatória para mais situações envolvendo bens e investimentos no exterior  

  • Trusts e contratos estrangeiros: Quem possuía trusts ou contratos similares no exterior em 31 de dezembro de 2024 agora precisa declarar;

  • Regime de Transparência Fiscal: Quem optou por declarar bens e rendimentos de entidades controladas no exterior como se fossem pessoais precisa informar na declaração;

  • Atualização de imóveis a valor de mercado: Quem optou por atualizar o valor dos imóveis no Brasil conforme a lei de bens e imóveis no exterior deve declarar essa escolha.

  • Declaração pré-preenchida mais completa

A Receita Federal ampliou o cruzamento de dados disponíveis na declaração pré-preenchida. Neste ano, informações sobre criptoativos e transações imobiliárias também estarão incluídas. 

  • Mudanças no pagamento e parcelamento 

O imposto pode ser parcelado em até 8 vezes, mas agora o débito automático só pode ser ativado até 9 de maio para a primeira parcela. Depois disso, só vale a partir da segunda parcela. Débitos abaixo de R$ 10,00 não precisam ser pagos imediatamente e podem ser acumulados para exercícios futuros.

  • Autorização para terceiros com novas regras

É possível, neste ano, autorizar apenas uma pessoa física para acessar e transmitir a declaração, com validade de até seis meses.

Quem deve declarar Imposto de Renda? 

 

  • É obrigatório a declaração das seguintes pessoas:

  • Quem recebeu rendimentos tributáveis acima de R$ 33.888,00 em 2024. O valor é um pouco maior do que o da declaração do IR do ano passado (R$ 30.639,90) por conta da ampliação da faixa de isenção;

  • Contribuintes que receberam rendimentos isentos, não-tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte, cuja soma tenha sido superior a R$ 200 mil no ano passado;

  • Quem obteve, em qualquer mês de 2024, ganho de capital na alienação de bens ou direitos, sujeito à incidência do imposto, ou realizou operações em bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas cuja soma foi superior a R$ 40 mil, ou com apuração de ganhos líquidos sujeitas à incidência do imposto;

  • Quem teve isenção de imposto sobre o ganho de capital na venda de imóveis residenciais, seguido de aquisição de outro imóvel residencial no prazo de 180 dias;

  • Quem teve, em 2024, receita bruta em valor superior a R$ 169.440,00 em atividade rural;

  • Quem tinha, até 31 de dezembro de 2024, a posse ou a propriedade de bens ou direitos, inclusive terra nua, de valor total superior a R$ 800 mil;

  • Quem passou para a condição de residente no Brasil em qualquer mês e se encontrava nessa condição até 31 de dezembro de 2024;

  • Quem optou por declarar os bens, direitos e obrigações detidos por entidade controlada no exterior (ou seja, uma empresa ou organização no exterior que é controlada direta ou indiretamente por uma pessoa física ou jurídica residente no Brasil), como se fossem detidos diretamente pela pessoa física;

  • Quem possui a titularidade de trust e demais contratos regidos por lei estrangeira com características similares;

  • Quem atualizou bens imóveis pagando ganho de capital diferenciado (forma específica de tributação sobre o lucro obtido na venda de vens ou direitos) em dezembro/2024;

  • Quem auferiu rendimentos no exterior de aplicações financeiras e de lucros e dividendos;

  • Quem deseja atualizar bens no exterior.

 

Como calcular a parcela que deve ser declarada? 

 

Para fazer o cálculo é importante saber o que significam as seguintes informações: base de cálculo, alíquota e parcela a ser deduzida. Base de cálculo: São os rendimentos tributáveis do contribuinte. Isto é, são os valores recebidos como salários, aluguel, pensão, remuneração por trabalho, investimentos, bônus etc.

Alíquota: Trata-se da porcentagem cobrada em cima dos seus rendimentos. A alíquota do Imposto de Renda é progressiva: quanto mais você ganha, maior a alíquota. 

Parcela a deduzir: Valor subtraído de sua renda para o cálculo do imposto ser proporcional à sua faixa de ganho.

A Receita Federal fornece uma tabela progressiva com os valores mencionados. 

 

Fonte: Ministério da Fazenda 

 

Depois de somar todos os seus rendimentos tributáveis (salário, pensão, bônus) recebidos mensalmente, verifique em que faixa você se enquadra e faça o seguinte cálculo: Salário x Alíquota - Valor a deduzir do IR. 

Por exemplo: uma pessoa que recebe R $2.730,50, já descontado os valores do INSS, se enquadra na faixa de alíquota de 7,5% e deve pagar, anualmente, R $743,85 de imposto de renda. 

Cálculo: 2.730,50 x 7,5/100 - 142,80 = 61,9875 (esse é o valor mensal de imposto que deve ser pago, multiplique por 12 e você terá  R $743,85 que é o valor anual a ser pago). 

Se você é um profissional com registro em carteira, a empresa desconta o pagamento do IR mensalmente do seu salário, então caso o valor que você tenha em receita seja superior ao valor que deve ser pago, você será restituído, caso contrário, deve pagar a diferença.

 

Como declarar? 

 

O aplicativo “Meu Imposto de Renda” não está mais disponível para download em dispositivos móveis. Para quem deseja realizar a entrega dessa forma, é necessário baixar o aplicativo da Receita Federal. Pelo computador você pode realizar o download do programa de Declaração de Imposto de Renda no próprio site da Receita.  A entrega também pode ser feita de forma online pelo  serviço “Meu Imposto de Renda” no Centro Virtual de Atendimento da Receita (e-CAC). A declaração pré-preenchida estará disponível para os contribuintes a partir do dia 1º de abril. 

 

Quais são os documentos necessários?

 

Para declarar o Imposto de Renda corretamente, é essencial reunir documentos que comprovem rendimentos, bens, direitos, dívidas e pagamentos. Isso inclui informes financeiros, comprovantes de salários, pró-labore, lucros, aposentadorias, pensões, aluguéis, doações e heranças. Também são necessários o Livro Caixa, DARFs( Documento de Arrecadação de Receitas Federais) do Carnê-Leão e informes de programas fiscais como a Nota Fiscal Paulista. Para quem opera com renda variável, é indispensável o controle de compra e venda de ações, apuração mensal do imposto e DARFs correspondentes.  

No caso de bens e direitos, devem ser apresentados documentos de compra e venda de imóveis, matrícula, IPTU e comprovação de participação acionária. Informações sobre dívidas e ônus também precisam ser incluídas. Já os pagamentos e deduções devem ser comprovados por recibos de plano de saúde, despesas médicas e odontológicas, educação, previdência, doações e pagamentos a prestadores de serviços. Caso haja empregada doméstica registrada, é necessário o recibo com o número NIT, um código que permite que trabalhadores autônomos contribuam para o INSS.

Além disso, são exigidos dados pessoais e de dependentes, endereço atualizado, cópia da última declaração entregue, dados bancários e atividade profissional. Dependendo dos bens, podem ser solicitadas informações complementares, como inscrição municipal e registro em cartório para imóveis, Renavam(Registro Nacional de veículos automotores) para veículos e CNPJ da instituição financeira para contas e aplicações. Reunir tudo antecipadamente facilita a declaração e evita problemas com a Receita Federal.

                                                                   Prioridade na restituição 

O processo de restituição ocorre para que os colaboradores recebam valores pagos em excesso ao longo do ano para a Receita Federal. As prioridades no procedimento segue da seguinte forma: 

  • Idosos acima de 80 anos; 

  • Idosos entre 60 e 79 anos, deficicientes ou portadores de moléstia grave; 

  • Contribuintes que possuem como a maior fonte de renda o magistério;

  • Quem optou pela declaração pré-preenchida e/ou receber a restituição pelo pix.

  • Outros contribuintes

 

Dentro de cada grupo de prioridade, recebe primeiro quem entregar a declaração mais cedo. 

Calendário de restituição:

1° lote: 30 de maio

2° lote: 30 de junho

3° lote: 31 de julho

4° lote: 29 de agosto 

5° lote: 30 de setembro
 

Quem não declarar o imposto até o dia estabelecido, corre o risco de pagar multa que corresponde a 20% do imposto em pendência, tendo como valor mínimo de R$ 165,74.

O governo federal apresentou, na terça-feira (18), uma medida que determina a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil mensais. O texto ainda precisa passar por votação no Congresso Nacional e ainda propõe descontos para quem recebe entre R$ 5 mil e R$ 7 mil e taxação mínima para alta renda.  

As cobranças estão previstas para 2 de abril
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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10/03/2025 - 12h

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuou mais uma vez. Nessa última quinta-feira (06), o  mandatário adiou, para 2 de abril, o tarifaço de 25% sobre importações do México e Canadá que entrou em vigor nesta mesma semana (04).

Segundo Trump, os importadores norte-americanos não precisarão pagar tarifas sobre nenhum produto que se enquadre no USMCA, um acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá negociado em seu primeiro mandato.

O tratado abrange uma gama extensa de produtos e serviços. Entre eles, produtos agrícolas, manufaturados e de tecnologia.

Na rede social Truth Social, Trump justificou a decisão afirmando que o México tem “trabalhado duro” para garantir a segurança na fronteira: "Nosso relacionamento tem sido muito bom e estamos trabalhando duro, juntos, na fronteira, tanto em termos de impedir que estrangeiros ilegais entrem nos EUA quanto, da mesma forma, impedir o fentanil".

O tarifaço aos países é uma retaliação de Trump que julga que ambos não fazem o suficiente para conter a entrada de  imigrantes e do fentanil - uma espécie de analgésico mais forte que morfina e heroína e que a dependência é um problema de saúde pública nos EUA.

Sobre o Canadá, Trump escreveu na noite de quarta-feira que conversou com o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, mas não está "convencido" de que o governo canadense atuou o suficiente para resolver os problemas de entrada de fentanil e de imigrantes ilegais nos EUA.

Trump confirmou em 10% a elevação na taxa de cobranças contra a China e elevou a alíquota total de taxas para produtos chineses a 20% neste mandato.


Na mira de Donald Trump:

Apesar de não ter sido taxado diretamente, o Brasil pode sofrer com a imposição geral  de 25% para importações de aço e alumínio, que deve entrar em vigor no dia 12 de março.

Segundo dados do Governo Federal, em 2023, os EUA compraram 18% de todas as exportações brasileiras de ferro fundido, ferro ou aço. Em 2024 o país foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, em volume, de acordo com dados do Departamento de Comércio americano, atrás apenas do Canadá.

Além da taxa geral para esses produtos, Donald Trump também prometeu uma taxa recíproca a países que cobram dos EUA, citando o Brasil: "Em média, a União Europeia, China, Brasil, Índia, México, Canadá e inúmeras outras nações nos cobram tarifas muito mais altas do que cobramos deles, o que é extremamente injusto", disse Trump, em longo discurso no Congresso dos EUA, na terça-feira (4).”

Além de ferro e aço, o petróleo e o café são as principais exportações do Brasil para os estadunidenses.


Imagens: Agência Brasil

Medida irá impactar benefícios que excedem limite constitucional recebidos pelos “funcionários de elite
por
Marcelo Barbosa
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06/12/2024 - 12h

 

O Governo enviou na segunda-feira (02), ao Congresso Nacional, a PEC que detalha uma série de medidas para conter os gastos das contas públicas. O intuito é gerar uma economia de mais de 300 bilhões até 2030.

A proposta visa alterações essenciais para aumentar a arrecadação e manter os limites do Arcabouço Fiscal. Uma das mudanças apresentadas está na redução dos chamados “supersalários” de servidores públicos.
 

Salário e adicionais no serviço público: regras e limites na teoria

Os servidores públicos têm um teto salarial estabelecido em R$44.008,52 mensais, além dos benefícios e adicionais, desde que observadas as regras específicas de cada caso.

O auxílio-moradia, por exemplo, é restrito a situações em que não haja imóvel funcional (cedido pela União para o funcionário público) disponível na localidade; o agente não more com outra pessoa que já ocupe um imóvel funcional ou receba o benefício; ou quando o servidor não possua residência própria na região.

Já o adicional de férias não pode superar um terço da remuneração e deve ser limitado a períodos de até 30 dias por exercício. Da mesma forma, as férias não aproveitadas só podem ser pagas em casos de demissão, aposentadoria ou falecimento, respeitando o limite de 30 dias por exercício.

Entre os auxílios mais comuns no cotidiano do servidor, o auxílio-alimentação tem seu valor máximo fixado em até 3% do teto salarial, o mesmo limite aplicado ao auxílio-transporte. Para filhos ou dependentes de até cinco anos, o auxílio-creche também é regulamentado, com um valor que não deve exceder 3% do teto por dependente.

Além disso, benefícios como o 13º salário, adicional noturno, remuneração por serviços extraordinários e aviso prévio proporcional ao tempo de serviço estão garantidos. Em ambientes de trabalho insalubres, o adicional de insalubridade é assegurado. Ressarcimentos relacionados ao exercício da função, como indenizações pelo uso de veículo próprio em serviço, são limitados a 7% do teto. Também está previsto o reembolso de mensalidades de planos de saúde, que pode chegar a até 5% do teto.

O salário-mínimo do trabalhador médio está em R$1.412 e, com as projeções do PIB para 2025, a previsão é de que chegue em R$ 1.525,00.  Professores, por exemplo, têm, em média, um salário de RS 4.250,00 reais, constatou o Glassdoor, uma plataforma online sobre o mercado de trabalho.  

No entanto, apesar do teto estabelecido ser de R$ 44.008,52 mensais, há diversas exceções e valores extras aos chamados “funcionários de elite”,  responsáveis por atuar em áreas específicas do setor público, como segurança, diplomacia e finanças, e que causam um rombo de até 3,9 bilhões de reais aos cofres públicos, de acordo com um estudo do CLP (Centro de Liderança Pública). 

 

Equipe econômica do governo Lula.
Projeto que pretende acabar com supersalarios enfrenta resistência de militares. Foto: Agência Brasil

Segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU), os salários dos militares reformados custam 16 vezes mais aos cofres públicos do que os aposentados do INSS. O gasto por pessoa com os militares foi de R$ 158,8 mil, enquanto o dos servidores públicos foi de R$ 69 mil e o dos aposentados do INSS foi de R$ 9.400.

A respeito do corte nos supersalários, a economista Cristina Helena Pinto de Mello pontua sobre o forte apelo público da proposta “Quando a gente pega o gasto do Governo com salários de toda a administração pública, incluindo o legislativo e o judiciário, que estão dentro dessa folha de pagamento, essa é uma das maiores despesas”, comenta, mas ressalta que os gastos com juros ainda ultrapassa o valor gasto com supersalários. 

Na segunda-feira (02) o presidente Lula se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, outros três ministros do Palácio do Planalto e líderes do Congresso para discutir o tema. 

No caso da aposentadoria dos militares, a resistência das forças armadas fizeram com que o Ministério da Fazenda recuasse e retirasse, temporariamente, a regra da PEC. Entre os pontos do texto que seriam debatidos, estavam o fim da chamada "morte fictícia", que assegura pensão a militares expulsos ou excluídos das Forças Armadas e uma uma transição mais longa para a adoção da idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares (o projeto apresentado pela equipe econômica sugere ampliação de 50 para 55 anos). A ideia é implementar uma regra progressiva, permitindo que a exigência de 55 anos seja atingida apenas em 2030.

O Congresso tem apenas três semanas de atividades antes do recesso para apreciar essas medidas, além de outras propostas relevantes, como o projeto que finaliza a reforma tributária e a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Entenda proposta de corte de gastos de R$ 70 bilhões anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad
por
Beatriz Alencar
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03/12/2024 - 12h

O texto do novo pacote de gastos e aumento da isenção do Imposto de Renda foi anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quinta-feira (28), e movimentou opiniões dentro do setor econômico e social, com dólar batendo o valor histórico de R$ 6,11.

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Ministro da Fazenda Fernando Haddad | Foto: Reprodução/Transmissão Ministério da Fazenda

Mas qual de fato é o objetivo desta pauta que demorou semanas para ser anunciada e o quê isso tem a ver com o salário mínimo e arcabouço fiscal?

Basicamente, a ideia de Haddad de fazer um pacote fiscal agora é tentar cortar R$ 70 bilhões para ajustar a explosão dos gastos públicos projetados para os próximos anos e garantir a sustentação do arcabouço fiscal, medida que tem como objetivo o equilíbrio entre arrecadação e despesas do governo, aprovada no ano passado. 

A primeira mudança citada pelo ministro para cumprir essas metas foi o reajuste no salário mínimo com a adequação aos limites do arcabouço fiscal e inflação, o que significa um ganho real entre 0,6% e 2,5%. Atualmente para o reajuste de salário, o Governo considera a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB) do país . 

De acordo com o Economista e pesquisador Emerson Braz, o abono salarial e o teto do reajuste do salário-mínimo são medidas que representam direitos dos trabalhadores que hoje possuem menor representatividade no Congresso Nacional:“ [Isso] faz com que sejam medidas que não sofram ajustes significativos em seus textos na fase de aprovação”.

Braz acrescenta que esse reajuste pode ser uma perda de ganhos reais para os trabalhadores: “Imaginando um cenário em que o PIB possa estar estagnado e o arcabouço apertado, o salário-mínimo (SM) poderá não ter alterações e afetar a economia”, explica. O que pode gerar um problema considerável na desigualdade social ou na superação da pobreza. 

Com o novo pacote, o abono salarial, que é um benefício concedido uma vez por ano ao trabalhador que recebe até dois salários mínimos (R$2.824,00), seria limitado para quem recebe até R$2.640,00 e corrigido pelo INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor. A medida, ao longo dos anos, irá reduzir a parcela beneficiada, já que o salário cairá gradualmente para um salário mínimo e meio por mês. 

Outra mudança que causou grande movimentação de opiniões foi a medida sobre o Imposto de Renda. Hoje, aqueles que ganham até R$ 2259,20 por mês não pagam imposto. A nova proposta prevê que a isenção será estendida para quem ganha até R$ 5 mil. Só essa alteração deve gerar um impacto de R$ 35 bilhões por ano nas contas da União.

“Essa é uma medida muito interessante e necessária. Pessoas que ganham até R$ 5 mil consomem a maior parte da sua renda e, ao sofrerem menos tributação, terão como destinar maior parte para o consumo, mantendo a economia aquecida”, argumenta o economista.

Como uma forma de cobrir essa isenção, o governo pretende aumentar a tributação para os rendimentos acima de R$50 mil e R$ 1 milhão mensais, como a forma “mais justa” de compensar a queda de arrecadação com a nova faixa de isenção, de acordo com Haddad.

“A alteração na alíquota do IR não deve ser vista apenas com o objetivo de equidade de renda, mas como um instrumento de manter a demanda (de mercado) aquecida”, acrescenta Braz.

O pacote também prevê a reforma das emendas parlamentares, que limita o crescimento das emendas impositivas ao arcabouço fiscal, estabelecendo um teto para o aumento das despesas parlamentares. Além disso, 50% dos recursos das emendas de comissão deverão ser destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

O texto apresentado pela equipe econômica também propõe mudanças na aposentadoria de militares. A medida sugere uma padronização da contribuição dos militares ao Fundo de Saúde e o fim da chamada “morte fictícia”, que garante uma espécie de pensão vitalícia para a família de um militar que foi expulso das forças, na mesma condição de falecimento do servidor. 

Alterações nos benefícios sociais como o Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC), também foram citadas no texto. Agora, passarão a ter mais regulações, como comprovação por biometria do beneficiado.

“O fato é que a comunicação do Governo para anunciar medidas de austeridade e controle das contas públicas junto com a medida de isenção do IR tornou o cenário caótico”, comenta o economista.

Após um mês de reuniões e tratativas, o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, explicou que o debate do pacote fiscal será prioridade nas próximas semanas, antes do recesso de fim de ano no Senado. A proposta ainda pode sofrer mudanças nas aplicações ou exclusões de medidas.

Brasil passa por um momento decisivo entre mudanças para arrecadamento e corte de gastos
por
Maria Eduarda dos Anjos
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19/11/2024 - 12h

A penúltima reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) aconteceu semana passada e sua ata, publicada no dia 12, apresenta a decisão unânime de elevar a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) a 0,5 pontos percentuais, levando a taxa de juros básico do país de 10,75% para 11,25%. 

Esse aumento vem como medida para, principalmente, conter a inflação, produto do balanço negativo entre os ganhos e gastos do Estado brasileiro, além de responder de forma defensiva à recente eleição de Donald Trump.

Primeiro, é importante entender o que o COPOM, SELIC, juros básicos e inflação significam na vida do brasileiro. O Copom é um grupo composto pelo presidente do Banco Central (BC) e seus diretores que, a cada 45 dias, decidem a taxa básica de juros da economia, a Selic. 

A taxa básica é a principal forma do BC tentar conter a inflação econômica. Na balança, são ponderados o estado das contas públicas, a situação internacional política e monetária, estado da inflação, movimentação do mercado de trabalho entre outros fatores, tudo para assegurar que o reajuste do juros contenha a inflação, não desvalorize o real perante outras moedas e não diminua o poder de compra da população. 

Uma das razões para o aumento da Selic é a diferença entre o gasto e o arrecadamento público de R$7,3 bilhões até setembro de 2024. Para exterminar esse déficit primário, o BC sobe o juros básico, ou seja, a promessa de valorização de seus ativos, e vende tais ativos aos bancos. 

Dessa forma, o Banco Central consegue caixa de forma mais imediata e oferece a promessa de lucro futuro para os bancos. O problema é que esse ciclo se repete e cria uma bola-de-neve. 

A economista e professora da PUC SP, Cristina Helena, explica que “o governo pega dinheiro emprestado todo mês para cobrir o déficit, que não conta com o valor dos juros dos demais empréstimos que já pegou, mas que precisa quitar simultaneamente”. O juros aumenta para pagar,também, o que já foi criado no passado pela mesma barganha que se repete.“ A conta da dívida tá fora do resultado primário, aí o montante a ser pago não para de crescer”. 

Essa medida para maior arrecadação vem junto com o pacote de corte de gastos públicos, que será anunciado por Fernando Haddad depois da reunião do G20. Representantes das pastas de Saúde, Educação, Previdência, Trabalho e Desenvolvimento Social foram chamados para discutir as reduções, já que detém a maior parte de recursos federais. 

Quando o assunto extrapola o doméstico, a eleição de Donald Trump é um fator central. O presidente já anunciou que pretende impor uma tarifa de 10% ou mais sobre todo produto importado do país, uma medida protecionista para privilegiar o mercado interno.

 

Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT
Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT

 Enquanto o aumento da Selic pode ajudar a manter o valor do Real no mercado internacional, a negociação tende ao soft power. “ O Brasil e os Estados Unidos são bons parceiros comerciais um ao outro, mas o Trump não quer só um bom parceiro comercial, ele também pede por um aliado que não seja mercado para a China, por exemplo. A América Latina vêm se beneficiando de compras mais baratas de produtos chineses e venda de minérios mais barato”, explica Cristina. 

Apesar de haver um plano de metas pelo qual a política monetária deveria se guiar, as medidas atuais de arrecadação precisam ser redesenhadas pela sua falta de efetividade, avalia a economista.Até o fim do ano,é previsto o aumento de mais 0,25 pontos para o juros básico, isso reverbera diferentemente entre compradores de títulos do governo e a população média: “ Meio ponto percentual é pouco do ponto de vista de contenção inflacionária e é muito para as famílias, e isso vira uma taxa enorme nos cartões de crédito e cheque especial”.

Raramente lucrativa, compra e venda de ativos no mesmo dia se tornou o novo parque de diversões de investidores de primeira viagem
por
Mariana Meyer
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05/07/2021 - 12h

Investir não é um privilégio de quem tem muito dinheiro (apesar de ter sido por muito tempo). Hoje, muitos brasileiros e brasileiras podem alocar parte do seu suado salário em produtos outrora vistos como inatingíveis, como é o caso de ações.

De uns tempos para cá, em especial nos últimos dois anos, a Bolsa de Valores Brasileira – a B3 – percebeu um aumento significativo de investidores pessoa física. No ano passado, foram registrados 3 milhões de novos CPFs operando no Ibovespa – uma verdadeira explosão de investidores já que, três anos antes, em 2017, esse número era de apenas 600 mil.

Um dos principais motivadores desse movimento foi a queda vertiginosa da taxa básica de juros, a Selic, ao longo dos últimos anos, chegando a 2% em 2020, e, hoje, a 3,50%. Para um país que viu seus juros baterem a casa dos dois dígitos, esse cenário não é nada mau.

A migração quase que forçada de produtos de renda fixa – que não apresentam, como já apresentaram, taxas de retorno tão altas – para a renda variável veio acompanhada de uma nova tendência: a prática do day trade.

Mas vamos ao básico: o que é day trade?

 

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Crédito: Getty Images/iStockphoto

Trata-se da compra e venda (ou vice-versa) de ativos que começam e terminam no mesmo pregão. O lucro dessas operações se dá quando o preço médio da venda é maior que o da compra, depois de descontados todos os custos.

Basicamente, são operações de curto prazo, isto é, os day traders precisam acertar, em frações de segundos, minutos ou horas, a direção do mercado e de algumas ações. Nesse caso, são ignorados os fundamentos das empresas, já que uma oscilação diária do preço de uma ação nada tem a ver com a boa (ou má) gestão de uma empresa, ou com o seu plano de negócio.

A analista Aline Tavares, da casa de análise de investimentos Spiti, explica que a prática do day trade acontece há tempos na Bolsa – desde a época do pregão viva- voz, em que operadores, confinados em um salão lotado, compravam e vendiam no grito e fazendo gestos com as mãos.

Com o fim do pregão viva-voz, atrelado à popularização das plataformas digitais de negociação, e o aumento do número de investidores pessoa física na Bolsa, o day trade começou a se popularizar e se tornar acessível.

Dados da própria B3 indicam um aumento impressionante de operações day trade no país, principalmente em 2020, o ano da pandemia. Em 2017, foram contabilizadas 143 mil operações desse tipo. Em 2018, elas subiram para 236 mil. Em 2019, 482 mil. De repente, no ano passado, ocorreu um salto surpreendente para 1,140 milhão de operações day trade.

É claro que esse movimento não surgiu do nada.

Tavares explica que a pandemia foi um fator determinante, já que grande parte da população brasileira sofreu uma brusca redução de sua renda. Além disso, o isolamento social contribuiu para que navegássemos ainda mais nas redes sociais – a morada dos day trades amadores, que oferecem soluções mágicas e mirabolantes para ganhar dinheiro.

Segundo o LinkedIn, a maior rede social profissional do mundo, “investidor day trader” tornou-se a nona profissão emergente no Brasil em 2020.

Não à toa – há um sem-número de histórias de pessoas que investiram boa parte de sua renda (se não toda) para investir em cursos online de day trade e, claro, para operar na Bolsa.

O problema é que esse tipo de operação – complexa e de alto risco – “virou moda” e passou a ser vista como uma máquina instantânea de fazer dinheiro. O day trade passou a ser utilizado de forma indiscriminada como promessa de lucro rápido – um verdadeiro cassino com acesso liberado.

Porém, um estudo conduzido em 2019 pelos pesquisadores e economistas da Fundação Getúlio Vargas Bruno Giovannetti e Fernando Chague mostra que 97% das pessoas que investem na Bolsa perdem dinheiro, e, quem ganha, leva menos de R$ 300 por dia.

Os economistas atestaram que, dos 20 mil investidores monitorados num período de cinco anos, 92,1% desistiram da prática, e das 1.558 pessoas que persistiram em fazer as operações day trade por mais de 300 pregões, 91% ficaram no prejuízo. Juntas, elas perderam um total de R$ 68,4 milhões – uma média de R$ 35,90 por dia (sem contar as taxas cobradas pelas corretoras).

“As pessoas que fazem day trade não melhoram com o tempo. Em qualquer atividade normal, o profissional vai melhorando com a experiência. No day trade não, e isso aparece de maneira muito clara nos dados. A chance de ganhar cai com o tempo. Nenhuma outra atividade é assim, você faz, faz, faz e não melhora. Só cassino, que é pura sorte. Day trade é igual, pura sorte. Se fosse algo que dependesse de habilidade, o certo seria que, à medida que vai treinando, a pessoa fosse melhorando, mas não é o que acontece”,  alerta Giovannetti.

Investir é uma prática que demanda tempo (e muita paciência). O day trade, ao contrário do que se acredita ainda, é uma operação nociva para aqueles e aquelas que querem construir o seu patrimônio com segurança.

Preocupação com consumo consciente provoca aumento generalizado na procura por produtos de beleza sustentáveis
por
Laura Moraes e Fernanda Maia
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05/07/2021 - 12h
Divulgação: Frepik
Divulgação: Frepik

A pandemia serviu de catalisador para diversas tendências que já vinham crescendo nos últimos anos, e a procura por produtos ecológicos, manufaturados a partir de matéria-prima natural, muitas vezes orgânica e vegana, é uma delas. Uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group no final de 2020, com mais de 3 mil pessoas em oito países diferentes, mostrou que 70% dos participantes estão mais conscientes de que a atividade humana ameaça o meio ambiente do que antes da pandemia da Covid 19, e que 75% dos entrevistados consideram as questões ambientais tão preocupantes quanto as questões de saúde.

Esse padrão de comportamento afeta diretamente as escolhas de consumo em geral, e também está presente no mercado da beleza, o que estimula o segmento de cosméticos naturais. Marcas artesanais, com produtos de composição natural e acondicionados em embalagens simples e sustentáveis, estão em voga, contrapondo-se à gigantesca indústria da beleza tradicional.

O mercado de cosméticos tradicional mundial movimenta R$ 10,9 bilhões  por ano e coloca o Brasil na quarta posição entre os países que mais consomem produtos de beleza (atrás de Estados Unidos, China e Japão). Da mesma forma, o país também é o quarto que mais produz lixo plástico, de acordo com levantamento do WWF (Fundo Mundial para a Natureza), feito em março de 2019. A preocupação com a composição dos produtos, mas também com a composição das embalagens, é o motivo pelo qual muitos consumidores procuram alternativas mais amigáveis tanto para o meio ambiente e como para a própria saúde.

“A sustentabilidade é um caminho sem volta. A indústria de cosméticos tradicional está defasada e ultrapassada, porque as pessoas estão cada vez mais antenadas e preocupadas com assuntos que há 15, 20 anos não eram debatidos. As empresas atendem à demanda dos consumidores, então cabe a eles exigir empresas mais responsáveis e sustentáveis”, afirma Stephanie Racy, criadora da AmoKarité, marca de maquiagens feitas à mão, com produtos 100% naturais e veganos.

Racy criou a marca em 2020, e no primeiro ano de funcionamento, que se deu integralmente na pandemia, teve um faturamento de R$ 400 mil. A aposta em vendas online, a forte presença nas redes sociais,  as maquiagens multifuncionais e sustentáveis e, finalmente, as embalagens com materiais alternativos ao plástico são os fatores que contribuíram para o sucesso da marca. Hoje, o empreendimento já conta com uma fábrica, localizada em Gonçalves, no sul de Minas.

De acordo com uma pesquisa de 2019 da Nielsen Brasil, a partir do monitoramento de compras de 8.300 lares brasileiros, o segmento "verde" concentra 18,2% do faturamento total do mercado de higiene e beleza. Apesar de ainda baixa, a tendência é de alta ao longo dos anos, principalmente em um país  com tanta biodiversidade quanto o Brasil.

Segundo Eduardo Pagani, gerente de desenvolvimento do LNBio(Laboratório Nacional de Biociência), atualmente há 600 plantas catalogadas que são usadas pela indústria de cosméticos, mas ainda estão sendo desenvolvidas pesquisas com mais de mil outras plantas. “Temos um mercado para produtos naturais com grandes oportunidades de desenvolvimento, inovação e geração de negócios”, afirma o gerente.

Foi pensando nisso que a cosmetologista Julia Tartari criou a Mona Loja em 2018. A curiosidade sobre pigmentos, texturas e cuidados com a pele a fez criar seu próprio material de trabalho a partir de substâncias naturais como manteigas, óleos, ceras e ativos vegetais. Alguns dos produtos, por exemplo, são à base de cera de abelha e de carnaúba, manteiga de cupuaçu e óleo de jojoba.

“Com a Mona quero desconstruir a funcionalidade da maquiagem como uma ferramenta de correção, de aperfeiçoamento e de uma beleza padrão. Por isso, minha pesquisa é voltada a desenvolver produtos que sejam coloridos, acessíveis, sustentáveis e plurais para que sejam constantemente ressignificados pelas próprias clientes.” comenta Tartari.

Mesmo com o sucesso, a indústria de cosméticos naturais ainda atrai um nicho de consumidores bastante restrito. A questão do uso vai além da estética e popularidade da marca, pois envolve uma questão de educação socioambiental. Uma pesquisa realizada pelo Observatório Brasileiro de Economia e Mercados Agroecológicos e Orgânicos (Obema), com 305 consumidores de produtos naturais, catalogou os atributos considerados “mais importantes” e “menos importantes” entre os entrevistados. A valorização do produto dentro do grupo social a que pertence o consumidor e os selos de certificações na embalagem são os fatores de menor interesse no nicho. Enquanto isso, a  eficiência do produto e os ingredientes que não impactam negativamente a saúde do indivíduo seguem como prioridade na hora do consumo.

Fonte: Obema UFRGS
Fonte: Obema UFRGS

“Comecei a utilizar produtos naturais aos 18 anos, a partir do momento em que comecei a estudar seus benefícios, sem agredir minha saúde. Acredito que a divulgação desses produtos ainda é baixa. É importante que as pessoas discutam o tema e incentivem cada vez mais o uso desses produtos, para que de fato haja repercussão nos nossos grupos sociais'', comenta Bianca Lopresti, atriz e consumidora de produtos orgânicos.

Dados da Pnad Contínua, do IBGE, mostram números crescentes de precarização, subocupação e desistência pela procura
por
Anna Baisi e Maria Paula de Sá
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05/07/2021 - 12h
Taxa de desemprego no Brasil bate recorde no primeiro trimestre. Foto: Dario Oliveira/Estadão Conteúdo/Divulgação
Foto: Dario Oliveira/Estadão Conteúdo/Divulgação

A taxa de desemprego no Brasil, para o 1º trimestre de 2021, de janeiro a março, cresceu para 14,7%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados pelo IBGE no dia 27 de maio. Isso significa que 14,8 milhões de brasileiros estão à procura por trabalho no país, e esse é o maior número de toda série histórica desde o início da contagem, em 2012.

No levantamento anterior, referente ao trimestre anterior (outubro a dezembro de 2020), o resultado representa um aumento de 6,3%. Isto é, indica que, neste momento, cerca de 880 mil desocupados passaram a procurar emprego. Em relação ao ano passado, o número aumentou 15,2%, frente ao mesmo trimestre, que fechou com 12,8 milhões de pessoas, significando 1,956 milhão de pessoas a mais procurando trabalho.

Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e ex-diretor técnico do Dieese, afirma que a taxa de desemprego já vinha bastante elevada antes da pandemia. Ele aponta também para o aumento dos chamados desalentados, categoria que abrange as pessoas que, embora sem um trabalho, não são computadas como desempregadas, porque não estavam procurando quando foram contatadas pelo IBGE.

No contingente de pessoas desalentadas - grupo de pessoas que não buscam trabalho, mas que gostariam de conseguir uma vaga e estavam disponíveis para trabalhar -, somou 6 milhões neste 1º trimestre de 2021, o maior número desde o início da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012, quando os desalentados somavam 1,9 milhão.

Isto significa uma estabilidade em relação ao trimestre de outubro e dezembro de 2020. Em um ano (janeiro a março de 2020), quando a taxa foi estimada em 4,3%, o resultado, por outro lado, foi de elevação.

"O fato da economia não gerar postos de trabalho coloca as pessoas na condição de desistir de procurar, apesar de precisar de um posto de trabalho. Então, o desalento e o desemprego crescem com a pandemia", diz Ganz Lúcio.

O sociólogo acrescenta que, sempre que os desalentados saírem da sua situação e passarem a ter uma postura ativa de procura de emprego, a tendência é que aumente a pressão sobre a taxa de desemprego. 

"Um outro cenário: a taxa de desemprego permanece elevada sem necessariamente crescer, mas também permanece muito elevado o contingente de pessoas desalentadas que não vão procurar emprego, e também que continuaram sem procurar trabalho, o que poderá ter como consequência o aumento da pobreza, da miséria e da fome no país", reflete.

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a população ocupada (trabalhando) no país chegou a 85,7 milhões no trimestre de janeiro a março de  2021, e, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (janeiro a março de 2020), este indicador apresentou queda, com redução de  6,573 mil pessoas. 

Trabalho informal x trabalho formal

Existem diversas formas de um trabalho ser considerado informal. O que vai determinar isso é a não assinatura na carteira, ou seja, não ter vínculo empregatício e benefícios trabalhistas como férias, licença-maternidade, aposentadoria, seguro- desemprego, entre outros. Porém, vale destacar que quem se dedica ao trabalho informal, pode sofrer certa instabilidade financeira.

Por outro lado, o trabalho considerado formal é aquele que é registrado  dentro da CLT, no qual o funcionário pode contar com proteção e amparo das leis trabalhistas. Neste, há uma maior estabilidade financeira, garantida por um salário pago mensalmente, além de benefícios como auxílio-alimentação e transporte, plano de saúde  etc.

No Brasil, porém, nem sempre há uma escolha em relação ao trabalho informal. Por muitas vezes, os profissionais acabam não tendo alternativa, e, em meio a vagas cada vez mais concorridas e que exigem um alto nível de qualificação, a solução é recorrer à informalidade, não amparada pela CLT.

Uberização do trabalho

Atualmente, o trabalho informal nem sempre é uma opção. O fenômeno de “uberização” das relações de trabalho se dá através de uma exploração de mão de obra por  poucas e grandes empresas de aplicativos e plataformas digitais. Elas têm como principal característica a ausência de vínculos empregatícios com os trabalhadores.

Esses são os chamados trabalhadores por conta própria, e, na categoria, estão 23,8 milhões de brasileiros, apresentando um crescimento de 2,4% na comparação com o trimestre anterior, significando a adição de 565 mil pessoas neste contingente. Em relação ao mesmo período do ano passado, o indicador, neste trimestre, apresentou estabilidade.

Imagem da capa: 

Valdecir Galor/SMCS/Divulgação

Novos arranjos, como PIX, iniciadores de pagamento e Open Banking, prometem competição entre bancos e comodidade para clientes
por
Camila Barros
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05/07/2021 - 12h
O sistema de transferência via WhatsApp começou a funcionar em maio
O sistema de transferência via WhatsApp começou a funcionar em maio.

O serviço de transferência de dinheiro via WhatsApp começou a funcionar no mês de maio. O WhatsApp Pay, como ficou conhecido, foi liberado pelo Banco Central (BC) em 31 de março, na esteira de aprovações de medidas que diversificam o sistema financeiro no Brasil. Ainda no primeiro semestre de 2021, a autarquia planeja lançar novidades para o PIX e dar início à 2ª fase da implementação do Open Banking.

O WhatsApp Pay se tornou possível com a aprovação, em outubro de 2020, dos iniciadores de pagamento (Pisp). Com esse arranjo, é possível que uma instituição faça o recurso sair da conta do pagador e cair na do recebedor mesmo sem deter acesso direto à conta de nenhum deles.

Em nota, o BC afirmou que “as autorizações concedidas poderão abrir novas perspectivas de redução de custos para os usuários de serviços de pagamentos”.

A instituição vem acelerando suas apostas em novas tecnologias depois dos indicativos positivos de aderência ao PIX: em abril deste ano, foram feitas mais transações com ele do que com TED, DOC, boletos e cheques somados. Em 6 meses de funcionamento, o PIX movimentou R$ 1,1 trilhão, com mais de um bilhão de operações e 75 milhões de brasileiros (45% da população) usando a tecnologia.

 

PIX vs. WhatsApp Pay

Assim como o PIX, o WhatsApp Pay se propõe a trazer mais facilidade e rapidez nas transferências. Segundo Arthur Igreja, especialista em tecnologia, inovação e finanças, existem intersecções grandes entre os dois sistemas.

De acordo com a assessoria do BC, no entanto, os dois serviços não são concorrentes. “O PIX foi instituído para buscar atingir objetivos públicos, como redução de custos para usuários finais, apoiar o processo de inclusão financeira e oferecer para a população um instrumento de pagamento que seja universal em termos de utilização”, afirma a autarquia, “os arranjos de pagamento privados possuem objetivos privados e o Banco Central atua apenas para evitar distorções no mercado e para avaliar a segurança mínima do arranjo”.

Para o futuro, segundo a assessoria do aplicativo de mensagens instantâneas, “o plano é trabalhar com o Banco Central para integrar o PIX aos pagamentos no WhatsApp”. A previsão é que, seguindo o cronograma estabelecido no Open Banking, em agosto de 2021 o PIX passe a aceitar iniciadores de pagamento como participantes.

Aderência

Segundo Arthur Igreja, o maior entrave para a aderência dos usuários às novas ferramentas é a desconfiança em relação a segurança. “Existe ainda muito forte no imaginário das pessoas os problemas de segurança do WhatsApp”, aponta. Além disso, ele relembra que foi necessário algum tempo e muita divulgação para a população digerir e entender como funcionava PIX. Com o WhatsApp Pay, assim como para outros iniciadores de pagamento no mercado, o processo deverá ser o mesmo.

Crise econômica e sanitária fortalece paradigmas sociais que submetem as mulheres à síndrome da impostora
por
Luíza Feniar Migliosi
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04/07/2021 - 12h
Ilustração: Icons 8 from Ouch!
Ilustração: Icons 8 from Ouch!

A desigualdade de gênero antecede o surgimento da Covid-19, mas a pandemia evidenciou a fragilidade que o mercado de trabalho representa para as mulheres. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgados em abril de 2021, o percentual de mulheres que trabalhavam foi de 45,8% no terceiro trimestre de 2020, aproximando-se do nível mais baixo já registrado desde 1990, que corresponde a 44,2%.

Ao comparar esse trimestre do ano passado com o mesmo período de 2019, que registrava 53,3% na participação, a queda das mulheres no mercado de trabalho foi de 7,5 pontos percentuais. Para os homens, no mesmo período, houve um recuo de 6,1 pontos percentuais – de 71,8% para 65,7%.

A equidade de gênero encontrou uma barreira inconciliável com a pandemia. A segregação ocupacional foi um dos parâmetros mais evidenciados durante esse período. Segundo dados do Ipea, as áreas em que há mais mulheres trabalhando foram as que mais perderam população ocupada. As trabalhadoras femininas estão mais presentes em categorias específicas, como, por exemplo, estética, serviços de limpeza doméstica e empresarial, comércio, turismo e serviços em geral. A divisão na área de atuação reforça os padrões sociais.

A crise sanitária e econômica acentuou as distâncias salariais entre os gêneros. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo IBGE, revelou que, ao ocupar cargos de gerência ou direção, o rendimento médio das mulheres foi de R$ 32,35 por hora em 2020. Para os homens, R$ 45,83. A diferença de R$ 13,48 superou a observada em 2019, que correspondia a R$ 9,21. Os dados também comprovam que os salários inferiores permaneceram para cargos com formação em nível superior, com pagamentos em torno de R$ 5 mil para mulheres e R$ 8 mil para os homens.

Para a psicóloga Fernanda Reis, a sociedade contribui para falta de confiança das mulheres. “Por décadas, as mulheres viveram em rotinas em que se expor de maneira espontânea e assertiva trazia muitos prejuízos, como rótulos de promiscuidade e, até mesmo, punições sociais, por motivos financeiros, de classes entre outros. Além disso, nota-se em maior intensidade a necessidade de agradar e de aceitação”, conclui.

Artigo publicado na Harvard Business Review, que viralizou na internet, escrito por Ruchika Tulshyan, premiada estrategista de inclusão, escritora e contribuinte do New York Times, e Jodi-Ann Burey, escritora e oradora, mostrou que o ambiente de trabalho tem influência direta nas discrepâncias de desempenho e responsabilidades entre os gêneros. Essa falta de autoconfiança pode ser resultado da chamada síndrome da impostora.

Conceito desenvolvido pelas psicólogas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, foi denominado, originalmente, como “imposter phenomenon” (“fenômeno impostor”, em tradução livre), em 1978. A pesquisa concluiu que as mulheres duvidavam de suas habilidades e sentiam-se como fraudes, questionando seu desempenho, conquistas e elogios. “Apesar das notáveis ​​realizações acadêmicas e profissionais, as mulheres que vivenciam o fenômeno impostor persistem em acreditar que realmente não são brilhantes e enganam quem pensa o contrário”, postula o estudo publicado pela Georgia State University.

Para a analista júnior de atendimento ao cliente, Geysa Losovoi, a ansiedade começou com os processos seletivos no final da graduação. Quando conquistou o estágio, foi obrigada a lidar com situações em que as questões de gênero eram predominantes. “Eu atuava na área de manutenção predial de um banco e presenciei diversos eventos que colocavam minha capacidade em prova. Não pelos meus superiores, mas, por vezes, pelos meus pares e pelos operadores.”

Apesar do seu trabalho atual ter um ambiente mais acolhedor e apresentar muitas referências de liderança feminina, Geysa ainda se sente insegura. Durante as conversas com sua chefe, ainda questiona suas atitudes e a possibilidade de ser demitida. “Inclusive, no primeiro dos feedbacks, não consegui conter meu medo e chorei na frente dela”, relata a analista.

A maioria das mulheres experimentam a síndrome da impostora durante grande parte da vida. Na faculdade, seja pela procura do primeiro estágio ou por participar das associações estudantis, o período de início de carreira coloca em xeque a bagagem desenvolvida durante a vida acadêmica. “A sensação de incapacidade, como podemos dizer, ou também senso de desvalia, pode nos impedir e lentificar algumas decisões e mudanças que precisam ser feitas em nossas vidas. Pensamos em um comprometimento maior se há prejuízo em vários eixos da vida da pessoa, como trabalho, família e relacionamentos”, conclui a psicóloga Fernanda Reis.

Lívia* é analista júnior da área comercial e relatou que, durante o final do segundo ano do seu curso, iniciou uma depressão leve e precisou procurar ajuda psicológica, o que a fez perceber que “a faculdade criou questões com a síndrome da impostora, não se achar capaz o bastante para lidar com tudo, se sentir inferior”. A experiência do primeiro estágio também contribuiu para que permanecesse receosa nos trabalhos futuros. “Principalmente, porque meu primeiro estágio foi no banco, um ambiente muito masculino. Sofri por ser mulher e estagiária. Senti que era menor e criei um medo de me desenvolver lá dentro.” 

Todavia, essa não é a única área marcada pela segregação ocupacional. Para Aline*, arquiteta recém-formada, por trabalhar em um campo de criatividade, a comparação acompanha todos os processos. “Acredito que foi quando fui idealizar o primeiro projeto da minha carreira que me deparei com a síndrome de impostora de fato, porque era a primeira vez que eu estava desenhando algo que era fruto da minha própria bagagem”, diz.

Além disso, a arquiteta relata que as redes sociais são fatores de grande impacto para as inseguranças. O Instagram, meio muito utilizado para divulgar projetos, foi a principal ferramenta que a fez questionar sua capacidade, já que a realidade da mídia transmite uma fluidez sem esforços que, segundo Aline, contribui para reforçar a sensação de impostora. “Não se mostra o lado B da coisa, mas, mesmo sabendo disso, é difícil não comparar com a minha realidade. Como meus colegas estão tão bem-sucedidos, tão seguros, e eu estou aqui, mergulhada na ansiedade sem conseguir dar um passo nos meus projetos?”, questiona.

“Uma vez que a síndrome está instaurada, ela irá repercutir em todos os eixos psicológicos, bem como a forma de enfrentamento sobre eles. É por essa razão que é importante o esclarecimento de altas expectativas e formação de uma comunicação e ação assertiva com si mesma e com os outros. Respeitando seus limites e buscando autocuidado”, conclui a psicóloga Fernanda Reis.

Livia acabou saindo do estágio para iniciar um intercâmbio em 2019. Retornou em julho do ano passado e, devido à crise sanitária, não encontrou o emprego que queria. “Acho que, inclusive, a própria pandemia me influenciou a não terminar processos que seriam bons para mim por esgotamento emocional. A pandemia afetou muito as minhas oportunidades e situações a que me submeti”. Ela teve que aceitar um contrato de trabalho por MEI (Microempreendedor Individual), recebendo menos do que no primeiro estágio e trabalhando por mais horas.

Para Helena*, estagiária de comunicação corporativa, o ambiente atual de trabalho ajudou a restaurar a seu segurança, apesar de acreditar que só poderá confirmar caso seja efetivada. Porém, a experiência de desvalorização aconteceu na empresa júnior no início da faculdade. “Nesse caso em específico, acredito que o que pegou foi que era uma primeira experiência profissional e que eu já estava lidando com o desafio de construir um cargo do zero, mas ao longo da gestão, muitas vezes, eu sentia que minha opinião não era ouvida ou levada a sério por ser mulher, o que também acabava influenciando.” Ao mesmo tempo, Helena enfrentou uma sobrecarga, já que seus colegas tinham em mente que ela poderia lidar com todo trabalho.

O Informe de Percepção de Gênero, feito pelo LinkedIn em 2019, apontou que as mulheres sentem que precisam preencher todos os requisitos para se candidatar a uma vaga. Para os homens, preencher 60% dos requisitos já é suficiente. Jhenyffer Coutinho descobriu esse dado, em 2018, durante um workshop de liderança feminina. Aliando-o ao fato de que aproximadamente 7 milhões de mulheres perderam seus empregos durante a pandemia, ela fundou a “Se Candidate, Mulher!”, empresa de capacitação comportamental que ajuda com segurança e performance no processo seletivo.

“A gente também teve a menor taxa de participação da mulher nos últimos 30 anos. Quando uma empresa tem que priorizar um homem ou uma mulher, entende que a dedicação do homem vai ser maior porque ele não tem outras coisas para tomar conta. Esse dado foi reflexo de tudo que aconteceu desde o início da pandemia globalmente, mas com bastante força no Brasil”, reforça a CEO. Além disso, Jhenyffer evidencia o trabalho que espera a mulher depois do seu expediente, que, segundo a filósofa Silvia Federici, pode ser designado como “trabalho não remunerado”, como cuidado da casa, dos filhos ou do marido, destinados socialmente às mulheres.

Apesar das mulheres demonstrarem força e ambição, ser rotulada com a síndrome da impostora é um fardo para carregar. Essa dinâmica de cobrar da mulher autoconfiança não é significativa se o ambiente de trabalho e a sociedade não possibilitam espaço e segurança para seu desenvolvimento.

 

*Nomes Fictícios