A festa que enche o Brasil de cores e os comerciantes de oportunidades
por
Nicole Domingos
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12/09/2025 - 12h

Por Nicole Domingos

 

O Carnaval, que se vende como festa e se compra como tradição, não é apenas desfile de rua, batuque de samba ou fantasia improvisada. É também uma virada de chave para o comércio, que transforma a purpurina em faturamento. Em janeiro de 2024, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), publicou que o ano de 2025 movimentaria mais de R$9 bilhões, reforçando seu posto como uma das datas mais rentáveis do calendário econômico. Na contabilidade da festa, cada rua cheia de foliões é também um corredor de consumo. As farmácias que dobram as prateleiras de protetor solar, os supermercados que multiplicam o estoque de bebidas, as lojas de fantasia que expõem brilhos e lantejoulas como se fossem joias de temporada. Roberto Devidis, representante de vendas para armarinhos e lojas de customização na rua 25 de março,  considera que o carnaval é uma espécie de Natal fora de época.

Nos bastidores da festa, empresários calculam margens, fornecedores disputam espaço nas prateleiras e pequenos comerciantes fazem de cada esquina uma oportunidade. Para Marlene Batista, dona de loja de armarinhos, não existe nenhum período em que cresce as vendas como nesse tempo. Ela diz que antes mesmo da virada do ano já recebe pedidos de escolas de samba, tanto de produtos para a confecção dos carros, quanto para as roupas que serão usadas na avenida. Além disso,  o carnaval cria um ambiente de consumo que vai além da festa. Aumenta o fluxo em bares e restaurantes, multiplica reservas em hotéis e aplicativos de hospedagem, movimenta aplicativos de transporte, gera impacto até nos varejos de eletrodomésticos, com vendas de caixas de som, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. A folia, nesse sentido, extrapola o sambódromo e se infiltra em cada detalhe da vida cotidiana.

O ambulante que vende água, cerveja e todo tipo de bebida no bloco, a costureira que aceita ideias improvisadas de fantasias, o maquiador que tem que sempre ter uma ideia nova e cores vibrantes, todos compõem a cadeia econômica do carnaval. Em uma reportagem postada pelo Ministério da Cultura fica claro como não só os empresários com suas lojas têm a oportunidade de garantir uma boa renda, mas também aqueles que precisam de momentos como esse para sobreviver, como ambulantes que trabalham com eventos sazonais.

Outro ponto relevante é a geração de empregos temporários. Segundo a revista Forbes, a folia deve impulsionar, ainda, o mercado de trabalho, com a criação de 300 mil postos temporários, no interior e no litoral do Estado de São Paulo. O coordenador do Núcleo de Pesquisa da Fhoresp, Luís Carlos Burbano, destaca que esses empregos geram renda imediata para as famílias, contribuindo para a dinamização da economia local. Para muitos trabalhadores, o Carnaval representa a chance de garantir uma renda extra no início do ano. Essa circulação de dinheiro não apenas aquece os centros urbanos, mas sustenta muitas famílias que, durante os quatro dias de festa, encontram mais renda do que em meses inteiros de trabalho formal.

O contraste, no entanto, se mantém: se o brilho é abundante nas grandes cidades turísticas, os municípios sem tradição carnavalesca mal percebem a onda econômica. O comércio local, nesses lugares, vê pouco ou nenhum aumento expressivo nas vendas. Em pesquisas são sempre mostradas locais como o Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Minas Gerais. É como se o Carnaval, enquanto festa, fosse universal, mas enquanto motor econômico fosse seletivo. Ainda assim, mesmo de forma desigual, a festa gera reflexos nacionais, movimentando cadeias de produção que alcançam diferentes regiões.

No fim, a conta é simples: o País veste fantasia, mas o comércio veste números. O carnaval continua sendo um dos maiores espetáculos do mundo, já que a matéria da Forbes explica que lugares com a fama do Rio de Janeiro atraí não só turistas brasileiros como também internacionais para a festa. E de acordo com Enio Miranda, diretor de Planejamento Estratégico do Núcleo de Pesquisa da Federação dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp),  o Carnaval está cada vez mais consolidado no calendário de eventos dos turistas estrangeiros.

Na soma final, não se trata apenas de quatro dias de festa, mas de um ciclo econômico que começa semanas, ou até mesmo meses antes, se prolonga depois da Quarta-feira de Cinzas e reafirma a festa como um patrimônio não só cultural, mas também econômico do Brasil.

Indicador registrou crescimento da economia brasileira de 0,3% no segundo trimestre de 2025
por
Marcelo Barbosa
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20/08/2025 - 12h


O Banco Central (BC) divulgou nesta segunda-feira (18) os dados do IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil) referentes ao mês de junho. Os números mostraram uma queda de 0,1% em relação a maio, mas o resultado do segundo trimestre de 2025 se manteve positivo, com um crescimento de 0,3%. O IBC-BR é um dos indicadores oficiais da economia brasileira. Ele faz uma estimativa de crescimento levando em conta três setores: agropecuária, indústria e serviços. O índice foi criado para trazer números frequentes sobre a atividade econômica do Brasil e tem influência sobre as decisões financeiras do país, servindo de auxílio para políticas monetárias, como a taxa de juros (Selic).

Por exemplo, quando a taxa de juros está em patamares elevados, isso reduz a atividade econômica, o que se reflete nos números do indicador. Por isso, atualmente, ele é lido pelo mercado como a "prévia do PIB".

 
 

Fachada do Banco Central do Brasil em Brasília — Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
IBC-BR: agropecuária, indústria e serviços tem leve alta no segundo trimestre de 2025 (Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)

 

 

Retração da economia

Após quatro meses seguidos de bons resultados, maio registrou a primeira retração do ano, de 0,7% em relação a abril. Em junho, a queda foi de 0,1%. De acordo com o professor de economia Renan Silva, do IBMEC Brasília, "a alta deu-se devido à Selic, que chegou ao patamar de 15%”. Ele explicou que "o que corrobora para essa questão da taxa de juros restritiva é o fato de que os indicadores de inflação vêm arrefecendo. No último relatório Focus, do Banco Central, o IPCA já registra uma inflação, em 2025, de 4,95%, ante os 5,30%, que as projeções vinham indicando”.

 

Os dados oficiais do Banco Central confirmam que a agropecuária foi o principal fator para a retração no trimestre, com uma diminuição de 3,1% no período. Por outro lado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o destaque de junho foi o aumento de 0,3% no volume do setor de serviços. A produção industrial teve um recuo de 0,1% no mês, e as vendas no varejo também frustraram as expectativas, recuando 0,1% em comparação a maio. Sob a óptica do professor, o tarifaço de Donald Trump pode trazer efeitos adversos e "provocar uma redução intensa no segundo semestre”.

 

Nos últimos 12 meses, os números ficaram em 3,9%, o que representa uma desaceleração em face ao mesmo período, que marcou uma alta de 4,04%.

 

Para o futuro, Silva acredita que a retração na atividade econômica pode influenciar o COPOM (Comitê de Política Monetária) - órgão responsável por estabelecer as diretrizes da política monetária - a iniciar um novo ciclo na queda dos juros. "Esse ciclo restritivo já teve efeito, o que gerou como resultado a redução na atividade econômica”, conclui. A retração de 0,6% no terceiro trimestre de 2023 havia sido a última queda do indicador antes dos recuos registrados neste ano.

Alimentação e bebidas têm deflação em relação ao mês anterior, enquanto habitação sofreu alta devido ao aumento da conta de luz
por
Marcelo Barbosa P.
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13/08/2025 - 12h

O IBGE divulgou nesta terça-feira (12) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do país. Os dados apontam que houve um aumento de 0,26% no mês de julho, uma leve alta em comparação com a taxa de 0,24% registrada em junho. No ano, o IPCA já acumula desaceleração de 3,26% e, nos últimos 12 meses, de 5,23%.

De acordo com o gestor de investimentos e especialista financeiro da WFlow, Guilherme Viveiros, a inflação surpreendeu positivamente. "O índice deste mês veio com o valor de 0,26%, enquanto o mercado via uma elevação de 0,36%". O mês de agosto também deve apresentar queda, com índices negativos o que, segundo Viveiros, "fez com que o mercado começasse a sondar uma possível queda dos juros ainda em 2025".

Entre os setores da economia que apresentaram deflação, ou seja, queda de preços, estão o grupo Alimentação e bebidas (-0,27%), Vestuário (-0,54%) e Comunicação (-0,09%). Em contrapartida, entre os maiores destaques da alta estão os grupos Habitação (0,91%) e Despesas Pessoais (0,76%). A alta do grupo Habitação foi impulsionada pela energia elétrica residencial, com variação de 3,04% - o maior impacto individual no índice do mês. Esse número se deve ao fato de que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) confirmou a bandeira tarifária de agosto, que será a Vermelha patamar 2, a mais cara do sistema. Como consequência disso, haverá um acréscimo de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos na conta de luz.

O grupo Transportes também teve aceleração, passando de 0,27% em junho para 0,35% em julho, impulsionado pela alta de 19,92% nas passagens aéreas. Por outro lado, os combustíveis tiveram uma queda de 0,64% no mês, com recuos no preço do etanol (-1,68%), do óleo diesel (-0,59%), da gasolina (-0,51%) e do gás veicular (-0,14%).

 Já o grupo Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no IPCA, registrou baixa pelo segundo mês consecutivo. A queda em julho foi impulsionada pela alimentação no domicílio, que caiu 0,69% com destaque para redução nos preços da batata-inglesa (-20,27%), da cebola (-13,26%) e do arroz (-2,89%).

 

Reprodução: Tânia Rego/Agência Brasil | Pessoas andando em um mercado
Reprodução: Tânia Rêgo| Pessoas escolhem frutas em um mercado


Rafael Prado, economista e analista de macroeconomia da Go Associados, chama a atenção para o fato de que o valor da inflação deste mês ainda é elevado em relação à meta de 4,5% ao ano. Segundo ele, o resultado deste mês é prova de que a política monetária pode atuar de maneira enfática nos dados. "Quando nós olhamos para os números desagregados do IPCA, vemos que existem grupos, como Habitação que foi impactado pela energia elétrica, que influenciaram para o aumento de julho". Para ele, isso ressalta a importância de "continuar com uma política monetária restritiva, para que a inflação continue caindo e volte ao intervalo de tolerância."

Já o professor de economia João Gabriel Araújo, do Ibmec Brasília, destaca o efeito Trump na economia brasileira. Segundo ele, a guerra tarifária vai ser um dos fatores determinantes para a queda dos preços no Brasil. "Com o anúncio das medidas para o Brasil, especialmente a tarifa de 50% sobre as importações, os produtores nacionais aumentaram os estoques para o mercado interno, reflexo da diminuição das exportações para os Estados Unidos antes da implementação da tarifa e do consequente aumento da oferta de bens no mercado doméstico".

O cálculo do IPCA foi realizado a partir da comparação dos preços coletados entre 1 e 30 de julho de 2025 com os preços vigentes entre 30 de maio e 30 de junho de 2025. O IPCA abrange famílias com rendimento monetário de 1 a 40 salários-mínimos. Já o INPC, que considera famílias com rendimento de 1 a 5 salários-mínimos, teve alta de 0,21% em julho, com acumulado de 3,30% no ano.

A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Segmento registra desempenho melhor que o período pré-pandemia e apresenta sinais da recuperação econômica.
por
Maiara Yokota
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27/04/2022 - 12h

Segundo os dados divulgados nesta quarta-feira (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o setor de varejo se manteve em alta, com um acumulado de 1,7%, nos últimos doze meses.

O IBGE registra por meio do PMC (pesquisa mensal do comércio) dados que compõem a conjuntura econômica, sendo analisadas oito atividades, nas quais seis delas fecharam com números positivos no mês de fevereiro (esses dados são taxas de variações comparadas aos mesmos messes no ano anterior).

A pesquisa do comércio coletou três resultados: taxas de variações do ano vigente nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro; comparações dos meses de dezembro, janeiro e fevereiro com os do ano anterior e por fim o acumulado durante o ano e por 12 meses.

Na pesquisa referente aos meses de janeiro e fevereiro os setores que fecharam de forma positiva foram os seguintes: combustíveis e lubrificantes; hipermercado, supermercado, produção, alimentos, bebidas e fumo; supermercado e hipermercado; tecidos, vestidos e calçados; móveis e eletrônicos; livros, jornais, revistas e papelaria; veículos e motos, partes e peças.

Na contramão dos resultados positivos, material de construção e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria tiveram resultados negativos. Os setores de informática e escritório não tiveram variação no saldo.

Apesar do saldo negativo no setor de material de construção, houve uma variação de 0,1% entre os meses de janeiro e fevereiro. O setor de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e perfumaria obteve uma variação de 3%.

Livros, jornais, revistas e papelaria fecharam em -25,7% no mês de janeiro e em fevereiro reverteram o quadro negativo para 42,8%. Veículos e motos, partes e peças tiveram uma grande queda nas vendas marcando -6,6% em janeiro, já em fevereiro houve aumento de 5,2% nas vendas.

Combustíveis e lubrificantes tiveram um mês de janeiro parado registrando 0,3% nas vendas, porém, em fevereiro houve uma aceleração de 5,3%. Móveis e eletrônicos presenciaram no mês de janeiro uma baixa venda representada por –1,3%, em fevereiro o setor observou uma melhora, marcando 2,3%.

 

Valor da hortaliça subiu nos últimos meses depois de fortes chuvas na região Sul e Sudeste. Com diminuição nas vendas, os feirantes reclamam da redução de lucros.
por
Anna Cecília Nunes
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26/04/2022 - 12h

  

Consumidores de todo o Brasil estão notando o aumento disparado do preço da cenoura nos últimos meses que, inclusive, está virando memes nas redes sociais.

O Diretor Executivo do Instituto Brasileiro de Horticultura (Ibrahort), Manoel Oliveira, explica os reajustes no preço da cenoura: “O principal fator para o aumento de preço foi a forte intensidade das chuvas na safra deste ano. Muitas regiões, como São Gotardo (MG), uma das principais regiões produtoras de cenoura do país, foram muito impactadas, as chuvas dificultaram a colheita, sendo impossibilitada a entrada de caminhões e outros maquinários. Houve redução na área de plantio em relação à safra anterior, sendo assim, a oferta do produto também diminuiu, outro fator que impactou no preço final.”

De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os preços dos alimentos dispararam (2,51%). Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o valor da cenoura aumentou 45,65%.

A feirante da Zona Leste de São Paulo, Lúcia Nakazone, 62, garante que a mercadoria está perto de dar prejuízo. “Já chegamos a subir o valor de R$18 a R$20 e não estamos vendendo nem a metade. Para não sermos prejudicados, diminuímos a quantidade e a qualidade do produto - vendendo cenouras inferiores, que não são muito boas - assim conseguimos ter um pouco de lucro.”, lamenta Lúcia. 

 

Imagem de cenoura na feira em São Paulo (SP) .Créditos: Anna Cecília Nunes.

 

    O economista Marcos Henrique do Espírito Santo, professor de Economia e Relações Internacionais, afirma que o problema de safra também está relacionado ao aumento do valor dos fertilizantes, causado pelo conflito entre a Rússia e Ucrânia: “Isso vem acontecendo nos últimos 2 anos em função do aumento da taxa de câmbio, mas foi potencializado esse ano de 2022 a partir do conflito entre a Rússia e Ucrânia, o que fez os preços dispararem ainda mais. A partir do segundo semestre, podemos ver uma melhora relativa na taxa de câmbio, em função da pressão eleitoral.

Imagem do preço da cenoura no mercado. Créditos: Anna Cecília Nunes 


Considerando os gastos de moradia, alimentação, saúde, educação, higiene, vestuário e lazer, o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) calcula que o salário mínimo, no mês de março, deveria ser de R$ 6.394,76 para sustentar uma família de quatro pessoas. A inflação, é um problema generalizado que corrói a renda dos trabalhadores, principalmente aqueles com vulnerabilidade financeira, porque a inflação se dá na medida dos bens de consumo do dia a dia. Para que isso melhore, devemos mudar o regimento macroeconômico, para pensar em crescimento ao longo prazo”, explica Marcos Henrique.



 

No dia 24 de fevereiro, a votação sobre a legalização dos jogos de azar no Brasil foi concluída pela Câmara dos Deputados. O que muda se a legalização virar lei?
por
Gustavo Oliveira de Souza
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26/04/2022 - 12h

História

O estado brasileiro sempre teve uma relação muito complicada com os jogos de azar. O primeiro registro de proibição se dá no ano de 1917 e só foi legalizada no ano de 1934, por Getúlio Vargas, mas proibida novamente no ano de 1946, por Eurico Gaspar Dutra, após muita pressão das classes mais conservadoras e da Igreja Católica. A lei 9215/46 proíbe qualquer prática e exploração dos jogos no país, na vigência do artigo 50 e dos parágrafos da Lei das Contravenções Penais, no argumento de que a jogatina fere a moral e os bons costumes.

Mesmo sendo proibidos, os jogos de azar como os cassinos, o jogo do bicho e os bingos nunca pararam suas atividades e os jogadores continuam gastando fortunas nos jogos. Os cassinos movimentam áreas nobres das cidades do país em hotéis e mansões, enquanto os bingos e o jogo do bicho são consumidos pelas classes mais pobres nos bares e quintais dos moradores.

Mas a pior parte da proibição é o fato das casas de apostas e os cassinos serem controladas pelo crime organizado e pelas milícias e são elas que definem os prêmios, valores e transformam os jogadores em reféns, já que as apostas também são controladas por eles.

Opiniões sobre o assunto

Perguntando sobre o assunto para algumas pessoas, foi possível obter respostas muito semelhantes. Muitas pessoas são favoráveis à legalização, e defendem que a legalização traria muita renda para o país, e também traria um pouco mais de segurança, já que mesmo sendo proibidas, muitas pessoas continuaram jogando de forma clandestina trazendo muito risco a própria vida, e também argumentam que cada ser humano é livre para poder se viciar no que quiser, e por isso também era necessário maior conhecimento da população sobre o assunto: ‘ Em minha opinião seria muito bom a legalização. As bancas teriam que aumentar os prêmios e ter atrativos parecidos com os jogos da Caixa (Econômica Federal)’, disse um dos entrevistados, que optou por não revelar sua identidade.

Em pergunta sobre o motivo da proibição, um perguntado respondeu: ‘A proibição só existe porque o controle está na mão de quem não está no poder que no caso os políticos e eles não conseguem ter a “fatia do bolo”.’ Essa fala reforça o fato de que a população geral concorda com a legalização.

Expectativas para o futuro

A expectativa é para que a legalização seja formalizada o mais breve possível. Na Câmara, o projeto foi votado e aprovado, e espera pela aprovação no senado. Cada estado poderá ter um cassino, exceto Rio de Janeiro e Minas Gerais, que poderão ter duas, e São Paulo, que poderá ter três. A tributação também foi um ponto que gerou uma polêmica, já que um dos deputados propôs o valor do Tributo de competência da União, que de 17% passaria a ser de 30%. 

 

Como e porquê o principal furo na carteira é, atualmente, a conta do mercado, e as outras opções que temos para esse problema inevitável
por
Maria Eduarda dos Anjos
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26/04/2022 - 12h

Na mesa de toda família, antes mesmo da comida, está a discussão sobre seu preço. Além das comparações costumeiras entre qual mercado cobra mais barato em um produto, momentos de crise econômica e política forçam a deliberação do que entrará ou não na lista daquele mês. As restrições impostas pelo surto de Covid-19 nos últimos dois anos limitaram a exportação de alimentos e dos fatores que tornam possível a produção, como grãos e fertilizantes. Durante a pandemia, a Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, responsável por acompanhar o aumento do valor nominal (preço de venda entre países, sem considerar o impacto da inflação) dos produtos, registrou aumento de 24% entre fevereiro de 2021 e fevereiro de 2022. Isso sem contar a inflação interna do país, que molda o que os economistas chamam de preço real e estão nas prateleiras do mercado. Nem tudo é política externa e preço do dólar- inclusive, muito tem a ver com os impostos internos que vão em cima do preço de produção e a orientação do mercado brasileiro quanto à preferência à exportação. Dentro de casa, o Agro só é Pop na TV.

O esqueleto da maçã

Da semente ao caixa do mercado, há fazendeiros, fatores climáticos, disponibilidade de energia e inflação. O preço nominal conta com o impacto dos fatores pré-inflação. No Brasil, a crise hídrica pesou tanto na conta de luz quanto na de mercado, como relata o professor Tiago Sayão, da Ibmec, para o Jornal Extra. “Em prol de manter a integridade do sistema, todo o custo está sendo repassado ao consumidor”.

Imagem de reprodução

Além disso, a inflação supera o aumento do salário. Em capitais como São Paulo o salário mínimo de 2022 de R $1.212,00 não cobre o valor de duas cestas básicas, cuja estimativa é durar, em uma família de quatro pessoas, por 10 dias. De mãos dadas, os impostos sobre produtos recheiam as etiquetas. Aqueles com a mudança mais alarmante, que tem ligação direta com o comércio do produto, é o ICMS (Imposto sobre Consumo de Mercadorias e Serviços) e o IPI (Imposto sobre produtos Industrializados). Em 2021, no estado de São Paulo, o nutricionista Alexander Marcellus Carregosa apurou que orgânicos carregam entre 10% e 25% de ICMS. Isso quer dizer que, com o quilo do tomate por volta de R$10 e o ICMS de 22%, R $2,20 são do governo pelo simples ato da compra. Conforme o passar dos anos, essas alíquotas foram desaparecendo das Notas Fiscais para não assustar o cliente com a disparidade do valor de compra do fornecedor e a quantia cobrado no mercado.

Qual galinha enche o papo?

Do macro pro micro, a posição do Brasil como um mercado de commodities global também interfere no valor dos alimentos. O modo de produção do Agronegócio e a Agricultura Familiar têm tamanhos desproporcionais à sua importância na segurança alimentar nacional. O Agro, jóia preciosa do PIB - ano passado, participou em 27,4 % do Produto total- é focado no mercado externo, que têm demanda o suficiente para sustentarem uma monocultura para vender em altíssimas quantias. O que há na fruteira dos brasileiros vem da agricultura familiar,que abastece 70% do consumo interno segundo o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Mesmo com tal importância não possui metade do investimento em infraestrutura. As commodities, frutos da monocultura, tiveram um boom durante a pandemia e se tornaram predatórias à existência das famílias do campo. Elias, pequeno produtor de tomates na região de Itapecerica da Serra, relata que teve sua produção reduzida pela metade por falta de público nas feiras livres. “ Eu estava lá, com máscara, com luva, tudo certo, só que as pessoas não queriam sair de casa, então a feira não rendia. Aí dependendo da distância eu nem ia; à feira de quinta e segunda eu larguei ” O período pós pandêmico não promete recuperação instantânea; Veruza, produtora de hortaliças de Biritiba Mirim, conta que “no pós-pandemia, tudo foi aumentando: insumo, combustível, tudo. A entrega mais próxima que faço é 100 KM de onde eu moro, então aumentou muito, e não é um valor que eu possa repassar no meu produto, então está sendo mais difícil administrar o pós-pandemia do que durante [a pandemia]” . A valorização alta do dólar em relação ao real fez ainda mais preferível a venda externa do que interna, que causa escassez e encarecimento da dieta brasileira, consequentemente contribuindo para o aumento de insegurança alimentar, como apresenta o estudo o Agro não é pop e muito menos tudo, da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) em parceria com a FES Brasil.

Outras opções na mesa

A Agricultura Familiar resiste e vive nas brechas e organizações que as permitem. A produção carrega a principal diferença do Agro em sua filosofia, que vê a comida como base da vida, não moeda de troca. As famílias do campo dependem integralmente da renda gerada por seu cultivo e comercializam em menor escala, sem a adição de alguns dos impostos pagos por supermercados e aquela margem de lucro das grandes lojas, que pode chegar a quintuplicar o valor agregado. Cooperativas, institutos e assentamentos de terra como o MST, que tratam a dieta com respeito, são alternativas mais econômicas e saudáveis para os preços galopantes dos mercados. Em São Paulo, o Instituto Feira Livre, na República, põe nas gôndolas o preço exato cobrado pelo produtor e pede por uma doação voluntária de 35% do valor da compra no caixa, para manter bancar a manutenção do local.“ O Feira Livre surgiu da ideia de fazer uma economia solidária, de colocarmos nossos produtos à mostra e não barganha-los [com os fornecedores]”. E o mais importante é vender sem veneno. Então tudo que temos aqui é de pequenos produtores, tudo vem da agricultura familiar”, explica Michele, uma das associadas do Instituto. "A gente quer ter uma economia limpa, em que as pessoas consigam entender como funcionamos. Aqui temos uma lousa que fica exposta ao público, para saberem para onde vai os 35% da contribuição]. Ainda na capital, o CEAGESP abre sua feira livre nos finais de semana para o público, e o Raizs, que expande sua cobertura para produtos orgânicos de limpeza e utensílios domésticos, entrega a domicílio.

Instituto Feira Livre. Foto autoral. 

Entender as políticas de terra dos quatro cantos no Brasil é importante para saber o porquê a fome cresce e os preços aumentam em um país cuja exportação aumentou durante a Pandemia. As crises nos mais diversos setores durante 2020 e 2021 prometem reverberar pelos próximos anos a vir. Enquanto não se atinge a normalidade, cabe à população garantir o prato na mesa da forma que for possível e para o futuro, entender a alimentação pelo que é: um ato político.

*imagem 1: Plantação de soja.Reprodução. Fonte.

"É um trabalho minucioso, feito com muito amor. Cada peça é muito importante para a gente", diz a curadora do I Need Brechó
por
Clara Maia
Flavia Cury
Larissa Soler
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26/04/2022 - 12h

Estima-se que só da região do Brás, em São Paulo, 16 caminhões por dia de lixo têxtil saem com destino a aterros sanitários, equivalente a 45 toneladas. Em escala mundial esse número torna-se insustentável para o planeta. Urge uma mudança na escala de produção de tecidos. Como resposta, brechós e varejos se tornam cada vez mais comuns juntamente com o discurso de uma moda consciente e inteligente. 
O vídeo a seguir compara preços, qualidade e a importância dada as roupas entre fast fashion (lojas comuns de alta produção e baixa qualidade) e brechós. Marcas que aparecem nos vídeos: Lojas fast fashion no shopping Bourbon em São Paulo, Brechó Capricho a toa, e I Need Brechó.

 

Araras do brechó
Araras de roupas do I Need Brechó / Foto: Clara Maia