A partir da segunda metade do século 20, diversos esportes passaram a se preocupar em expandir sua influência mercadológica. Há, inclusive, competição entre campeonatos da mesma modalidade. Parte dessa briga foi trazer maior conforto ao consumidor, o que gerou o processo chamado de “arenização”.
O processo de arenização anda de mãos dadas com questões de segurança e outros aspectos sociais, mas tem um fundo extremamente atrelado à economia, isso por conta de seus impactos diretos no preço do ingresso.
Antes de qualquer coisa, no exterior a existência de ligas é algo comum nos campeonatos de mais alto nível e foi um sistema de organização das competições visando maior equidade na distribuição financeira entre times. Nos Estados Unidos é o padrão, porém na construção da cultura desportiva o futebol é recente, diferentemente da Europa. A grande chave foi a criação da Premier League na Inglaterra em 1992, atualmente a principal liga do esporte no mundo.
A Premier League foi fundamental para uma revolução no futebol disputado na Inglaterra, tanto no jogo em si como nas arquibancadas. Primeiramente, a reputação dos clubes mudou completamente de status ao redor do mundo, tornando-se mais populares ao redor do mundo, atraindo mais astros para um cenário muito briguento e de prática pouco vistosa. Teoricamente, não condizia um esporte com uma melhora tão grande no desempenho com os estádios que recebiam as partidas, além das torcidas vistas como violentas presentes no entorno do espetáculo.
Nasce um movimento de modernização dos estádios, muito aliado também à Copa do Mundo. Em 1994, por exemplo, nos Estados Unidos, boa parte dos estádios sede perderam brilho e caíram no desuso pouco depois, sendo demolidos (caso do Pontiac Silverdome em Detroit) ou foram revitalizados (Stanford em Palo Alto). Em 2002 (no Japão e na Coreia do Sul) e em 2006 (Alemanha) foi perceptível o aumento de arenas no cenário do futebol, que se espalharam pelo mundo.
Não seria diferente nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. O Beira-Rio do Internacional, por exemplo, foi completamente reformado, assim como o Maracanã, que perdeu a geral, o setor mais popular do estádio, com ingressos extremamente baratos.
Modernas, as arenas têm custos exorbitantes de construção e operação, o que acaba por diminuir a capacidade de público. Em troca existe um conforto muito maior para quem frequenta, tanto em um sentido de ir e vir, quanto dentro do estádio. Tudo isso contribui para o preço cobrado para um ingresso de jogo.
Algo muito perceptível na Neo Química Arena, por exemplo, é a presença em massa da torcida corintiana nos setores Norte (notadamente das torcidas organizadas, sem cadeiras e de preço popular), Sul (evidentemente o lado oposto, atrás do gol e, portanto, o segundo mais barato), Leste (de maior capacidade se comparado aos outros dois e um pouco mais de “luxo”). O mesmo não pode ser dito do setor Oeste, o mais luxuoso da arena e que, se o jogo não for de apelo gigante, se torna um mar de cadeiras brancas, como descreve Martim Moura, estudante de jornalismo da Cásper Líbero e torcedor do Corinthians.
O torcedor relata uma experiência na Arena, mas em jogo de Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2022 quando se deparou: “com um verdadeiro deserto”. Moura lembra que foi sua primeira vez no setor Norte, com o preço inferior, mas na competição estava longe de ser barato. A impressão que ficou foi de: “um público pífio para um jogo importante da Seleção Brasileira e na maior metrópole do país”. De fato, para um estádio com capacidade de 45 mil pessoas, 22.080 é muito pouco. Vale dizer que o número de torcedores presentes foi inflado, já que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), distribuiu 8 mil ingressos para profissionais da saúde.
A razão desse vazio é sem dúvidas o preço cobrado por uma cadeira, especialmente no atual momento de crise econômica. Voltando para o Corinthians, o sócio adimplente do plano “Minha História” (o segundo mais caro do “Fiel Torcedor”, o programa de sócios do clube) teria de desembolsar R$ 100 para uma partida da décima primeira rodada (de trinta e oito jogos, sendo somente dezenove de mando corintiano) do Campeonato Brasileiro no setor oeste inferior lateral. Se optar por uma cadeira central do mesmo setor seriam R$ 400, já que o lugar não foi disponibilizado dentro de seu benefício de assinante. Se aliar aos R$ 240 cobrados na mesma cadeira lateral para a partida da oitava rodada (treze dias de separação), são R$ 340 gastos em somente duas partidas.
Isso considerando o fato de que as partidas do Campeonato Brasileiro são consideravelmente mais baratas que as da Libertadores da América. Para a maioria daqueles que conseguiam acompanhar várias partidas seguidas no estádio, nesta realidade a situação fica inviável.
Se o estádio em favor faz diferença competitiva para o time, com o apoio da torcida sufocando o adversário, por qual motivo os times aceitam cadeiras vazias, lutam firmemente contra os protestos das torcidas e não abaixam o preço para lotar as arenas? Vinícius Sabbag, estudante de economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo e estagiário na S&P Global Ratings, aponta justamente o custo de operação e, além disso, um fator que é muito vinculado ao esporte e ao amor dos torcedores:
“O clube é monopolista, ou seja, só ele é capaz de disponibilizar um certo bem no mercado. Nesse caso é a cadeira do time dele. Não é um produto que várias empresas podem vender, no qual o preço é ditado por uma combinação dessas produções”.
Sendo assim, todos os preços de ingresso (seja de torcedor comum até o plano mais caro de um sócio-torcedor) são pensados para maximizar o lucro. Abaixar o preço, mesmo que para vender mais espaços, representa uma diminuição no potencial de receita. Além disso, o custo de operação das arenas é maior e, quanto mais pessoas presentes, mais caro ainda, devido a itens como segurança, luz, limpeza e serviços de alimentação. “Quanto menor o preço, mais gente vai querer comprar, só que é necessário encontrar um equilíbrio. Será que ele produz mais por um preço menor ou ele produz menos e vende em um preço mais caro? Quanto é necessário abaixar o preço para mudar tanto a demanda?”, reflete Sabbag.
Sempre o dinheiro cobrado por uma entrada em partidas de futebol foi pauta, mas nos últimos anos a discussão se intensificou, considerando a realidade financeira do brasileiro. Por diversas razões econômicas, não só ligadas ao país mas no mercado mundial do futebol, o torcedor está sendo cada vez mais afastado do ambiente que pertence.
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Com as restrições de distanciamento social sendo flexibilizadas e os impactos econômicos do período de dois anos da Covid-19 sendo publicados, percebemos que os estúdios de tatuagem vivem um período de crescimento e renovação. Para analisar esta situação, sintetizamos algumas informações colhidas neste podcast. Ouça aqui
Durante a pandemia, os pequenos estabelecimentos comerciais foram os que mais sofreram com a inflação e os impactos econômicos da Covid-19, segundo estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Uma outra pesquisa, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mostrou que o aumento no preço de insumos e mercadorias, seguido pela alta dos combustíveis, aluguéis e energia elétrica, são os fatores que mais pressionam os negócios de pequeno porte no país.
“A pesquisa fez uma estimativa de que 50 milhões de brasileiros que ainda não empreendem, mas querem abrir um negócio. Desse total, um terço teria sido motivado pela pandemia”, disse o presidente do Sebrae, Carlos Melles, em entrevista para a CNN.
Ainda segundo o Sebrae, as micro e pequenas empresas (MPE) puxaram a criação de empregos formais em 2021. Dos cerca de 2,5 milhões de postos de trabalho formais criados no Brasil, 1,8 milhão, o equivalente a 71% do total, originou-se em pequenos negócios.
O Brasil registrou um número recorde de abertura de pequenos negócios no ano passado. Foram mais de 3,9 milhões de empreendimentos, aumento de 19,8% em relação a 2020. Do total de Cadastros Nacionais de Pessoas Jurídicas (CNPJs) criados no ano passado, 3,1 milhões optaram por ser Microempreendedor Individual (MEI), o que corresponde a 80% dos negócios abertos.
Os jovens irmãos empreendedores Kaique, 25, e Leonam, 19, criaram um negócio de pasteis durante a pandemia. Localizado no Tucuruvi, Zona Norte de São Paulo, o empreendimento foi inaugurado neste ano e sofreu, de cara, com o aumento dos produtos utilizados nas obras.
“O setor da construção civil cresceu durante a pandemia e não parou, porém o aumento da matéria-prima (ferro, inox, alumínio, areia, pedra, etc) estava crescendo também. O preço desses itens aumentava 5% todo mês, alguns 7%, toda vez que ia atrás comprar”, afirma Kaique.
Segundo ele, os preços subiam muito e atrapalharam a abertura do negócio: “O valor estimado da construção do estabelecimento foi duas vezes maior do que o preço estabelecido no início do projeto, por conta desse aumento das matérias-primas básicas para erguer o local.”
Após erguer o local, que teve de ser aberto antecipadamente por conta da necessidade de fazer o dinheiro girar, para não ficar no prejuízo e se complicar, os irmãos avaliam que será necessário readaptar o preço dos pasteis. Leonam explica o porquê:
“O preço do produto final, o pastel, aumentou muito por conta dos ingredientes usados. O pastel custava sete reais antes da pandemia, agora está em nove e será necessário ir para dez, aumentando cerca de 42% em relação ao que era antes. Então, a pandemia influenciou muito nesse aumento”.
A principal proposta, para se diferenciar dos pasteis da feira, foi a criação de um produto que, mesmo não sendo lucrativo, atrai os clientes para o estabelecimento
“Nossa ideia é equiparar os preços com os da feira, para manter nossos clientes. Abaixamos o preço de algo, mesmo que não nos beneficie. Por exemplo, nossa aposta é o pastel especial, onde você monta o pastel com quantos ingredientes quiser. É um preço maior, mas é personalizado e com o tamanho maior também. É uma forma de manter um cliente pagando dez, onde ele já pagou cinco anteriormente”, explica Kaique.
Por fim, Leonam contou sobre as entregas, que diminuíram por devido aos problemas econômicos que o Brasil vive por causa, entre outros motivos, da inflação:
“Sobre o consumo, é uma média de 270 entregas por final de semana. Nesses últimos meses, abaixou para 180. É uma redução grande, cerca de 30%”.
O Sebrae adverte em seu site sobre os perigos da inflação. Com o aumento de preços nas contas de energia, combustíveis, alimentação, dólar, aluguel e matérias-primas (mencionado pelos irmãos Leonam e Kaique), somado a toda a crise já enfrentada nos últimos anos devido à pandemia, crescem os desafios aos pequenos negócios, o que exige dos empreendedores muito mais cuidado, planejamento e inteligência na gestão.
Por fim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do Brasil, ficou em 0,47% em maio, após alta de 1,06% em abril. A inflação atingiu 11,73% no acumulado de 12 meses e 4,78% no acumulado do ano.
Tokens não fungíveis, traduzindo NFTs, são basicamente bens digitais não equiparáveis, logo, não fungíveis, que tomaram a internet e a economia. Ocupando o universo da arte, música e cinema, levantando o questionamento de valorização da arte. Os NFTs, sendo códigos da blockchain, uma espécie de livro-razão das transações do mundo cripto, são altamente controlados e limitados e têm características que aumentam seu valor de mercado.
A nova realidade do Metaverso, uma camada da realidade que integra os mundos reais e virtuais, trouxe pautas como as criptomoedas, uma tentativa de unificar a moeda mundial e principalmente os NFTs, que surpreenderam muitas pessoas por ser valor de mercado. Os tokens não fungíveis se popularizaram pelas artes virtuais, mas hoje elas tomam o mundo da música, cinema e até moda. Em uma palestra para a plataforma My Oxygen, o CEO da Educbank Lars Jàner, explica que o alto valor agregado às NFTs vem da sua exclusividade, visto que uma NFT tem pouquíssimas cópias e são exatamente não fungíveis, não pode ser trocado nem substituído, além de transitarem em um ambiente que envolve criptomoedas, um produto com valor agregado mais elevado, o que inegavelmente o transforma em algo elitizado e inacessível.
O valor agregado aos NTFs pode ser entendido por diversas razões, muitas das quais vão além da arte em si. Pela primeira vez as NFts possibilitam prova de posse sobre arquivos digitais, isto pelo uso da tecnologia blockchain. Cada contrato de NFT possui um código criptografado que o identifica, como um “endereço” pertencente ao dono, tal código é único e não pode ser replicado, nem copiado. Ademais, blockchain é uma plataforma descentralizada, apenas visa registrar dados de transações dentro de um mercado específico, seus documentos e arquivos são públicos. Desta forma, torna-se fácil identificar a fonte do um NFT, como a quem ele pertence atualmente.
Entretanto, o valor de uma NFT vai além de sua prova de posse: comunidade e status são tão importantes quanto. Muitos NFTs servem como ingressos para certas comunidades. Qualquer um que prove ter um NFT Bored Ape Yacht Club, por exemplo, é bem vindo a um grupo no qual pode participar de reuniões privadas, receber convites para eventos sociais e trocar informações com outros proprietários do NFT BAYC - estes grupos incluem diversas celebridades.
Status rege nossa dinâmica social, principalmente dentro das redes sociais. Proprietários de NFTs passaram a usá-los nos meios digitais para revelar algo sobre sua identidade, seja uma identificação pessoal com a imagem em certo NFT, ou apenas o fato de terem dinheiro suficiente para possuí-lo. O dono de um dos NFTs Crypto Punks recusou uma oferta de 9,5 milhões de dólares por seu NFT, alegando: “nossas identidades online são tão fortes - se não mais poderosas - do que nossas personalidades da vida real.”.
Outro aspecto que agrega grande valor aos Tokens não fungíveis é sua escassez. Muitos colecionadores veem beleza no número ou tamanho de uma coleção, um estilo de NFT em que só há outros 100 do mesmo grupo pode valer muito mais do que um estilo em que há 1000 parecidas.
Quando se fala sobre valorização da arte dentro dos NFTs, tende-se a ressaltar a elitização, mas também a valorização do artista em si. Como explica Lars Jàner, a partir dos NFTs, os artistas passaram a ter uma autenticidade em sua obra, tal como algo que prove que aquilo de fato é deles. Além das comissões ganhas, os chamados Royalties, em cada transação feita na blockchain surge a possibilidade de um contato direto do criador com os compradores da obra.
Por outro lado, desconsiderando a valorização dos artistas que transformam suas obras em NTFs, atualmente, vê-se preconceito direcionado às artes virtuais. Levanta-se a discussão: Tokens não fungíveis devem ou não ser considerados arte? Visto que, muitos dos desenhos representados nos NFTs são muito mais simples artisticamente e tecnicamente do que um afresco de Michelangelo, por exemplo, ou levam minutos para serem criados. Entretanto, não se pode excluir um artista e todo o processo criativo por trás de uma obra por fatores superficiais - como o tempo de criação. Logo, essa é uma discussão que tende para ambos os lados e não existe como dizer se deve ou não ser enquadrado como arte.
Os NFTs têm ganhado novas formas de manifestação. Agora estão espalhadas no mundo da música, como versões de álbuns; no universo da moda com peças de roupas espalhadas pela blockchain; modelos usando dos tokens como convites para clubes com conteúdos exclusivos e até com finalidades beneficentes, como NFTs criadas para doar fundos aos afetados pela guerra da Ucrânia. Logo, os tokens se mostram cada vez mais versáteis e revolucionários, ocupando diversas áreas do mercado e ganhando espaço dentro do nosso futuro.
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NFTs mais reconhecidos
Uma das coleções de NFTs mais famosas é o Bored Ape Yacht Club (BAYC), criada por Yuga Labs, lançada em abril de 2021. A coleção conta com 10.000 NTFs com imagens de macacos feitos de forma programática, ou seja, há uma variedade de acessórios, peças de roupa, fundos, tipos de pelo e expressões faciais que podem ser unificadas para formar um macaco específico. Alguns itens são mais raros que outros, assim agregam valor aos tokens. Yuga Labs ainda criou mais duas coleções irmãs, a Mutant Ape Yacht Club (MAYC) e a Bored Ape Kennel Club (BAKC).

Outra coleção de sucesso é a chamada CryptoPunks, criada pela empresa Larva Labs, em 2017, como um projeto experimental. Estes NFTs estão entre os precursores do movimento de valorização deste tipo de arte, compõem o grupo dos mais caros já vendidos, um deles por 23 milhões de dólares. As 10.000 ilustrações retratadas são personagens pixelizados inspirados pelo movimento punk, construídas com a mesma técnica que os NFTs BAYC.

Por fim, um estilo diferente dos NFTs vistos acima. Xcopy é o pseudônimo de um artista que cria tokens. Seu estilo tende mais ao lado artístico, sendo que ele próprio cria cada uma de suas animações ao invés de um programa. No início de 2022, negociou três de suas NFTs por 5 milhões de dólares.


Nos últimos meses, a inflação tem esvaziado os carrinhos de supermercado dos brasileiros. Com isso, consumidores de baixa renda têm optado por alternativas mais viáveis economicamente, optando por pechinchar com feirantes em vez de comparar etiquetas de preços nas prateleiras.
Segundo levantamento do IBGE, divulgado no dia 11 de maio, os setores de transporte e de alimentação e bebidas são os mais afetados pela alta de 1,06% no índice de preços de abril. A alta nos combustíveis - principalmente a gasolina, que ocupa maior peso (6,71%) no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - tem contribuído ainda mais com o aumento de preços nos demais setores da cadeia produtiva brasileira.
Em razão do aumento das despesas com combustíveis, o frete se torna mais caro e, consequentemente, impacta o preço final de produtos de diversos setores. É com base nisso que se justificam, dentre outros motivos, as altas de preços de alimentos para consumo domiciliar, como batata-inglesa (18,28%), leite longa-vida (10,31%) e seus derivados, tomate (10,18% no mês; 103,26% ao ano), óleo de soja (8,24%), farinha de trigo (7,34%), carnes (1,02% no mês; 8,06% ao ano), entre outros itens que já não cabem mais na lista de muitos consumidores.
Em visita da Agemt à feira livre da rua Ministro Godói, em Perdizes, foram entrevistados, no dia 10 de maio, feirantes e consumidoras presentes durante o horário da “xepa” (período final das vendas, quando os preços e a qualidade dos produtos oferecidos são menores). Mediante as altas da gasolina e de diversos alimentos, a lista de compras precisou ser reduzida e alguns consumidores passaram a frequentar as feiras livres de seus bairros, a fim de negociarem preços melhores diretamente com o vendedor.
É o caso de Denise, que prefere comprar frutas e legumes na feira, já que “nos supermercados os preços são bem mais caros”. Ela relata que precisou substituir itens de sua lista de compras por opções mais acessíveis, trocando a carne vermelha por legumes, carne de frango e de porco. “Estou aproveitando as férias para vir nos horários de xepa, que é quando consigo pechinchar mais”.
Ainda assim, os preços altos assustam consumidores que estavam acostumados a comprar determinados produtos e que já não o fazem mais, prevendo usar o dinheiro para riscar outros itens da lista. “Eu costumava comprar brócolis, mas ultimamente não tenho mais levado porque o preço aumentou muito”, conta Rita, que já frequentava feiras tradicionais desde antes da pandemia. Recentemente, ela tem encontrado dificuldade em comprar as mesmas variedades de antes. Segundo dados do IBGE, o brócolis registrou alta de 35,7% em abril.
Do outro lado da moeda, feirantes se esforçam para driblar a inflação e oferecer preços atrativos aos consumidores em meio ao castigo da inflação. “Não cobrem dos meus colegas”, pede Gilson, vendedor de mandioca em duas feiras durante a semana. “Eles não têm culpa. O preço aumenta porque o do diesel aumenta e o transporte fica caro, principalmente de frutas, que vêm de outros estados”.

O feirante explica que, para vender mais, busca fazer descontos por quantidade. “Eu costumo vender 1 [unidade de mandioca descascada e cortada na hora] por 6 [reais] e 2 por 10. Eu tento manter o mesmo preço que era antes da pandemia”. Em 2021, a mandioca foi um dos produtos mais impactados pela inflação, acumulando 48,1%.
Leandro, por sua vez, trabalha em três feiras diferentes, durante cinco dias na semana, mantendo sua barraca de hortaliças e alho-poró. Experiente no ramo, ele relata que o aumento dos preços impactou na frequência de consumidores, o que não vem acontecendo nas feiras mais populares. “Lá [nos bairros mais pobres], o povo vai mais à feira, principalmente os mais velhos que sempre vão e compram mais. Por aqui [em Perdizes] costuma ter mais gente no começo ou no final, que é quando o preço está mais baixo. Mas é porque o produto já não é dos melhores e aí tem que abaixar [o preço] mesmo pra vender”.
