A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Quinto maior produtor de lixo do mundo, com 2,1 mil toneladas por ano, Brasil recicla apenas 3% do material descartado
por
Andre Nunes, Ramon de Paschoa e Tabitha Ramalho
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18/06/2022 - 12h

O crescimento tecnológico não é novidade e cada vez mais as pessoas dependem de ferramentas eletrônicas, como o celular, que exerce a maioria das funções do dia a dia, como ligações de trabalho, entretenimento e compras on-line. 

O consumo mundial de aparelhos em 2021 cresceu em 125 milhões de unidades e no Brasil aproximadamente 109 milhões de usuários têm um smartphone, de acordo com um estudo feito em março de 2022 pela consultoria holandesa de dados Newzoo, ficando atrás da Indonésia, Estados Unidos, Índia e China.

Mesmo com uma opção de ótima qualidade, as propagandas fazem com que o público troque seu aparelho cada vez em menos tempo. Marcas como Apple e Samsung tendem a fazer seus lançamentos anuais e preparar eventos de escala global para anunciá-los. 

Uma tática desenvolvida pelos fabricantes de eletrônicos é a chamada obsolescência programada, em que o consumidor se sente forçado a comprar novos aparelhos, já que os produtos são produzidos propositalmente com durabilidade e qualidade menores, fazendo, consequentemente, o cliente consumir mais celulares, por exemplo, em curto prazo.

Embora tal descarte tenha ganhado destaque recentemente com os aparelhos eletrônicos, é uma prática que existe desde 1930, uma época em que os Estados Unidos  sofreram com a Grande Depressão, portanto, havia um incentivo para o modelo de mercado baseado na produção em série e no consumo, visando recuperar a economia do país.

Ao mesmo tempo que muitos fabricantes buscam encurtar o período de durabilidade, algumas marcas estão tentando alterar a ideia da obsolescência programada, a exemplo da Samsung. A gigante sul-coreana, após lançar os novos celulares Galaxy S22 e Galaxy Tab S8, teve como novidade que as atualizações de sistemas terão como foco afastar o consumo frenético dos aparelhos eletrônicos. 

Essa tática adotada pelas marcas faz com que muitas pessoas se policiem em relação ao desuso de aparelhos. Matéria publicada pelo South China Morning Post (SCMP) indica a probabilidade de 6 bilhões de celulares serem descartados até 2025. 

Na análise feita pela Global E-waste Statistics Partnership (GESP), entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), o descarte cresceu 21% no período de 2014 a 2019, o que representa 53,6 milhões de toneladas de resíduos. Apenas 17,4% desse material chegou às casas de reciclagem.

Já no cenário brasileiro, que se encontra em quinto lugar no ranking de maior produtor de lixo no mundo, 2,1 mil toneladas de eletrônicos são descartados anualmente e a reciclagem deste material equivale apenas a 3% do total. 

Nesta pequena porcentagem existem projetos que estão preocupados com a saúde ambiental, como o da ONG Trocafone, que instalou dois quiosques em São Paulo com objetivo de avaliar e analisar o valor que o usuário pode ter com a venda e entregar o dinheiro no mesmo instante. 

Outra iniciativa na mesma linha é a do Instituto Água e Terra (IAT), no Paraná, que está recolhendo equipamentos que já não estão mais em uso. A meta é que a campanha evite que os moradores façam o descarte de aparelhos em locais inadequados, como terrenos abandonados, já que esse tipo de equipamentos possui substâncias tóxicas. 

Mas, mesmo com serviços como o do IAT, a atitude mais comum ainda é a compra de novos celulares, e os motivos são os mais diversos. A enfermeira Vitória Guimarães, 26, por exemplo, trocou seu antigo aparelho porque já não atendia às suas necessidades. Já Renato Nascimbeni, 19, estudante de psicologia, troca de celular pelo simples gosto de comprar coisas novas e que proporcionam uma felicidade temporária.  

Pesquisa feita na plataforma Go2Mob com consumidores do Brasil revelou que 41,2% dos brasileiros de classe C e D trocaram de celular durante a pandemia. O estudo mostrou que 58,2% adquiriram um aparelho com média de preço de R$ 2.000, mesmo tendo renda inferior a R$ 1.000.

A mídia, querendo ou não, tem grande poder de influência nesse tipo de decisão, já que veicula um bombardeio diário de propagandas dos mais diversos itens. Muitas pessoas já trocaram de celular por receberem um e-mail de um novo aparelho nas lojas. Vitória, por exemplo, admite já ter substituído o celular após a marca ter enviado uma propaganda a ela.

Porém, é preciso  tomar cuidado com esse tipo de dívida, pois a longo prazo o que deveria ser uma felicidade se torna um problema. Quase oito em cada dez famílias no Brasil estão com dívidas, em atraso ou não. Essa é a maior proporção de endividados desde o início da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em 2010, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).      
 

Na Avenida Paulista, artesãos e outros trabalhadores buscam alternativas ao emprego com carteira
por
Helena Sereza, Isabela Lago, Julio Cesar Ferreira
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16/06/2022 - 12h

A pandemia do coronavírus fez com que muitas áreas fossem afetadas, como a da saúde, o saneamento e, sobretudo, da economia. No contexto brasileiro não foi diferente, com impacto sobretudo nos mais pobres. A edição mais recente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do  IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), mostra que o número de desempregados atingiu 11,3 milhões entre os meses de fevereiro e abril deste ano. No primeiro trimestre de 2021, quando os efeitos da pandemia eram ainda mais severos, esse contingente era de 15,2 milhões de pessoas — o pico do desemprego —, representando 14,9% dos trabalhadores.

Além disso, houve uma maior informalidade e um aumento de trabalhadores sem carteira assinada. No terceiro trimestre de 2021, o número de trabalhadores por conta própria totalizou 25,5 milhões, um aumento de 3,3% em relação ao terceiro trimestre do ano. Trata-se de um acréscimo de 4 milhões de pessoas entre as que trabalham por conta própria.

A artesã Aparecida de Fátima Costa, 67, moradora de São Bernardo do Campo, conta que quando se aposentou em 2002, deixando o emprego na Telefônica Brasil, queria adotar uma nova atividade para que pudesse passar o tempo. Por isso, começou a fazer artesanato para vender na vizinhança.

Há um mês, ela expõe seus produtos todo domingo na Avenida Paulista. Vai  com a irmã, Rita das Graças Costa Salles, que faz toucas e cachecóis junto com a amiga Maria Sebastiana Pires, também artesã. Fátima pontua que a prefeitura autoriza o comércio de artesanatos na avenida, e, por esse motivo, nunca tiveram problemas com a Polícia Militar.

As artesãs Aparecida de Fátima, Rita das Graças e Maria Sebastiana vendendo suas produções na Avenida Paulista.
As artesãs Aparecida de Fátima, Rita das Graças e Maria Sebastiana vendendo suas produções na Avenida Paulista. Foto de Julio Cesar Ferreira.

 

Entretanto, com a pandemia a sua produção foi afetada. “Fiz menos artesanatos, pois perdi um pouco a energia. Isso no começo, por conta das notícias, mas depois fui me adaptando e voltei a produzir”, relembra Aparecida. Porém, mesmo que goste de produzir sua arte, para ela só vender seus artesanatos não ‘quebra o galho’ financeiramente, fazendo com que precise ter outra atividade remunerada nos dias de semana, trabalhando em home office na Via Varejo.

Valéria é outra vendedora de artesanatos que pode ser encontrada na Paulista. A atividade, que já realiza há cinco anos, foi completamente impossibilitada para ela por quase dois anos, e a forma que encontrou de dar continuidade foi migrar para as redes sociais.

Não quis abrir mão do artesanato, porém acabou fazendo outros serviços informais para se manter. “As pessoas não estão pensando em arte por conta da situação ruim, tanto da saúde, ‘de morte’. Por mais que a arte transmita algo bom, financeiramente, para mim, foi muito ruim”, diz Valéria. E completa: “Eu acredito que todos que vendem aqui perto estão da mesma maneira. Quem tá aqui acredita que vai melhorar. Todos têm a mesma sintonia”. 

Lucas Silveira, de 25 anos, também descreve sua experiência como vendedor de bebidas na rua. Há mais de cinco anos na atividade, o jovem obtém com as vendas uma renda extra para casa, já que nos dias de semana trabalha de carteira assinada em uma empresa de telemarketing.

Durante a pandemia, Lucas continuou trabalhando com o seu comércio ambulante. Ele cita o auxílio emergencial como fundamental para a sua renda familiar, já que durante o isolamento não estava formalmente contratado.

Lucas Silveira, 25 anos, vendedor ambulante nos fins de semana e atendente de telemarketing na semana.
Lucas Silveira, 25 anos, vendedor ambulante nos fins de semana e atendente de telemarketing na semana. Foto de Julio Cesar Ferreira.

 

Dados da Pnad mostram que 70% dos ambulantes receberam o benefício do governo durante os primeiros meses da pandemia. Contudo, com a redução do auxílio e as novas regras criadas em 2021, inúmeros brasileiros dizem que não foi o suficiente para manter a renda familiar, considerando as altas taxas de desemprego e inflação no país. 

Como pai de um filho de três anos de idade, a principal preocupação de Lucas e de seus colegas “da rua” é o prejuízo causado pela repressão policial.

“É muito prejuízo, só [a carreta usada] custa mais de R$ 300, o isopor R$ 90, sem contar os produtos.” diz o jovem. O vendedor enxerga a situação dos ambulantes como “normal”, mas reconhece que no início do confinamento houve um grande aumento nos casos de violência policial.

O setor informal, descrito pelo IBGE como as unidades econômicas “com baixo nível de organização, com alguma ou nenhuma divisão entre trabalho e capital como fatores de produção, e em pequena escala, sendo ou não formalmente constituídas”, é o que mais reflete a situação econômica no momento devido à vulnerabilidade de quem atua nele.

Vendendo sua arte desde os 16 anos, Sarah Soares diz que o artesanato é sua principal fonte de renda. Aos 39, ela conta que a pandemia foi complicada para todos os artesãos, já que tal categoria não teve “respaldo algum de nenhum órgão artístico ou governamental”.

Sarah nem sempre trabalhou na rua. Dos 23 anos de seu negócio, sete foram em uma loja localizada em Pinheiros, porém passou por dificuldades com a fiscalização por ser confundida como vendedora de produtos falsificados. Ao retornar às ruas, diz ter sido muito bem recebida. A artesã também ensina arte para jovens de comunidades.

 

Sarah Soares, artista independente que vende na Avenida Paulista.
Sarah Soares, artista independente. Foto de Julio Cesar Ferreira.

A artista trabalha aos fins de semana na rua, e nos dias da semana cuida de hortas comunitárias, que hoje representam parte dos seus rendimentos. Sarah recorda que, em governos anteriores, ela conseguia trabalhar de domingo a domingo apenas com sua arte. Mesmo assim, é ela que sustenta sua família: hoje a artesã tem três filhas e três casas ao redor do Brasil.

Os vendedores ambulantes e os artesãos, protegidos por iniciativas como a da Avenida Paulista, representam um dos grupos de trabalhadores mais vulneráveis da população, e seu aumento e suas condições de trabalho são reflexos do momento econômico atual.

Copas do Mundo, arenização e monopólio de espaço geram 'mar de cadeiras' em setores vazios dos estádios
por
Gabriel Aragão Rodrigues Pereira
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15/06/2022 - 12h

A partir da segunda metade do século 20, diversos esportes passaram a se preocupar em expandir sua influência mercadológica. Há, inclusive, competição entre campeonatos da mesma modalidade. Parte dessa briga foi trazer maior conforto ao consumidor, o que gerou o processo chamado de “arenização”.

O processo de arenização anda de mãos dadas com questões de segurança e outros aspectos sociais, mas tem um fundo extremamente atrelado à economia, isso por conta de seus impactos diretos no preço do ingresso.

Antes de qualquer coisa, no exterior a existência de ligas é algo comum nos campeonatos de mais alto nível e foi um sistema de organização das competições visando maior equidade na distribuição financeira entre times. Nos Estados Unidos é o padrão, porém na construção da cultura desportiva o futebol é recente, diferentemente da Europa. A grande chave foi a criação da Premier League na Inglaterra em 1992, atualmente a principal liga do esporte no mundo.

A Premier League foi fundamental para uma revolução no futebol disputado na Inglaterra, tanto no jogo em si como nas arquibancadas. Primeiramente, a reputação dos clubes mudou completamente de status ao redor do mundo, tornando-se mais populares ao redor do mundo, atraindo mais astros para um cenário muito briguento e de prática pouco vistosa. Teoricamente, não condizia um esporte com uma melhora tão grande no desempenho com os estádios que recebiam as partidas, além das torcidas vistas como violentas presentes no entorno do espetáculo.

Nasce um movimento de modernização dos estádios, muito aliado também à Copa do Mundo. Em 1994, por exemplo, nos Estados Unidos, boa parte dos estádios sede perderam brilho e caíram no desuso pouco depois, sendo demolidos (caso do Pontiac Silverdome em Detroit) ou foram revitalizados (Stanford em Palo Alto). Em 2002 (no Japão e na Coreia do Sul) e em 2006 (Alemanha) foi perceptível o aumento de arenas no cenário do futebol, que se espalharam pelo mundo.

Não seria diferente nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. O Beira-Rio do Internacional, por exemplo, foi completamente reformado, assim como o Maracanã, que perdeu a geral, o setor mais popular do estádio, com ingressos extremamente baratos.

Modernas, as arenas têm custos exorbitantes de construção e operação, o que acaba por diminuir a capacidade de público. Em troca existe um conforto muito maior para quem frequenta, tanto em um sentido de ir e vir, quanto dentro do estádio. Tudo isso contribui para o preço cobrado para um ingresso de jogo.

Algo muito perceptível na Neo Química Arena, por exemplo, é a presença em massa da torcida corintiana nos setores Norte (notadamente das torcidas organizadas, sem cadeiras e de preço popular), Sul (evidentemente o lado oposto, atrás do gol e, portanto, o segundo mais barato), Leste (de maior capacidade se comparado aos outros dois e um pouco mais de “luxo”). O mesmo não pode ser dito do setor Oeste, o mais luxuoso da arena e que, se o jogo não for de apelo gigante, se torna um mar de cadeiras brancas, como descreve Martim Moura, estudante de jornalismo da Cásper Líbero e torcedor do Corinthians.

O torcedor relata uma experiência na Arena, mas em jogo de Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2022 quando se deparou: “com um verdadeiro deserto”. Moura lembra que foi sua primeira vez no setor Norte, com o preço inferior, mas na competição estava longe de ser barato. A impressão que ficou foi de: “um público pífio para um jogo importante da Seleção Brasileira e na maior metrópole do país”. De fato, para um estádio com capacidade de 45 mil pessoas, 22.080 é muito pouco. Vale dizer que o número de torcedores presentes foi inflado, já que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), distribuiu 8 mil ingressos para profissionais da saúde.

A razão desse vazio é sem dúvidas o preço cobrado por uma cadeira, especialmente no atual momento de crise econômica. Voltando para o Corinthians, o sócio adimplente do plano “Minha História” (o segundo mais caro do “Fiel Torcedor”, o programa de sócios do clube) teria de desembolsar R$ 100 para uma partida da décima primeira rodada (de trinta e oito jogos, sendo somente dezenove de mando corintiano) do Campeonato Brasileiro no setor oeste inferior lateral. Se optar por uma cadeira central do mesmo setor seriam R$ 400, já que o lugar não foi disponibilizado dentro de seu benefício de assinante. Se aliar aos R$ 240 cobrados na mesma cadeira lateral para a partida da oitava rodada (treze dias de separação), são R$ 340 gastos em somente duas partidas.

Isso considerando o fato de que as partidas do Campeonato Brasileiro são consideravelmente mais baratas que as da Libertadores da América. Para a maioria daqueles que conseguiam acompanhar várias partidas seguidas no estádio, nesta realidade a situação fica inviável.

Se o estádio em favor faz diferença competitiva para o time, com o apoio da torcida sufocando o adversário, por qual motivo os times aceitam cadeiras vazias, lutam firmemente contra os protestos das torcidas e não abaixam o preço para lotar as arenas? Vinícius Sabbag, estudante de economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo e estagiário na S&P Global Ratings, aponta justamente o custo de operação e, além disso, um fator que é muito vinculado ao esporte e ao amor dos torcedores:

“O clube é monopolista, ou seja, só ele é capaz de disponibilizar um certo bem no mercado. Nesse caso é a cadeira do time dele. Não é um produto que várias empresas podem vender, no qual o preço é ditado por uma combinação dessas produções”.

Sendo assim, todos os preços de ingresso (seja de torcedor comum até o plano mais caro de um sócio-torcedor) são pensados para maximizar o lucro. Abaixar o preço, mesmo que para vender mais espaços, representa uma diminuição no potencial de receita. Além disso, o custo de operação das arenas é maior e, quanto mais pessoas presentes, mais caro ainda, devido a itens como segurança, luz, limpeza e serviços de alimentação. “Quanto menor o preço, mais gente vai querer comprar, só que é necessário encontrar um equilíbrio. Será que ele produz mais por um preço menor ou ele produz menos e vende em um preço mais caro? Quanto é necessário abaixar o preço para mudar tanto a demanda?”, reflete Sabbag.

Sempre o dinheiro cobrado por uma entrada em partidas de futebol foi pauta, mas nos últimos anos a discussão se intensificou, considerando a realidade financeira do brasileiro. Por diversas razões econômicas, não só ligadas ao país mas no mercado mundial do futebol, o torcedor está sendo cada vez mais afastado do ambiente que pertence.

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Na contramão da maior parte dos setores da economia, estúdios de tatuagem conseguem resultados animadores após medidas de flexibilização em relação a pandemia de Covid-19
por
Gabriel Lourenço Schiavoni
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09/06/2022 - 12h

Com as restrições de distanciamento social sendo flexibilizadas e os impactos econômicos do período de dois anos da Covid-19 sendo publicados, percebemos que os estúdios de tatuagem vivem um período de crescimento e renovação. Para analisar esta situação, sintetizamos algumas informações colhidas neste podcast. Ouça aqui 

Aumento de matérias-primas prejudica planejamento e se torna entrave para novos negócios
por
Gabriel Yudi Gati Isii
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09/06/2022 - 12h

Durante a pandemia, os pequenos estabelecimentos comerciais foram os que mais sofreram com a inflação e os impactos econômicos da Covid-19, segundo estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Uma outra pesquisa, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mostrou que o aumento no preço de insumos e mercadorias, seguido pela alta dos combustíveis, aluguéis e energia elétrica, são os fatores que mais pressionam os negócios de pequeno porte no país. 

“A pesquisa fez uma estimativa de que 50 milhões de brasileiros que ainda não empreendem, mas querem abrir um negócio. Desse total, um terço teria sido motivado pela pandemia”, disse o presidente do Sebrae, Carlos Melles, em entrevista para a CNN.

Ainda segundo o Sebrae, as micro e pequenas empresas (MPE) puxaram a criação de empregos formais em 2021. Dos cerca de 2,5 milhões de postos de trabalho formais criados no Brasil, 1,8 milhão, o equivalente a 71% do total, originou-se em pequenos negócios.

O Brasil registrou um número recorde de abertura de pequenos negócios no ano passado. Foram mais de 3,9 milhões de empreendimentos, aumento de 19,8% em relação a 2020. Do total de Cadastros Nacionais de Pessoas Jurídicas (CNPJs) criados no ano passado, 3,1 milhões optaram por ser Microempreendedor Individual (MEI), o que corresponde a 80% dos negócios abertos.

Os jovens irmãos empreendedores Kaique, 25, e Leonam, 19, criaram um negócio de pasteis durante a pandemia. Localizado no Tucuruvi, Zona Norte de São Paulo, o empreendimento foi inaugurado neste ano e sofreu, de cara, com o aumento dos produtos utilizados nas obras.

O setor da construção civil cresceu durante a pandemia e não parou, porém o aumento da matéria-prima (ferro, inox, alumínio, areia, pedra, etc) estava crescendo também. O preço desses itens aumentava 5% todo mês, alguns 7%, toda vez que ia atrás comprar”, afirma Kaique.

Segundo ele, os preços subiam muito e atrapalharam a abertura do negócio:O valor estimado da construção do estabelecimento foi duas vezes maior do que o preço estabelecido no início do projeto, por conta desse aumento das matérias-primas básicas para erguer o local.”

Após erguer o local, que teve de ser aberto antecipadamente por conta da necessidade de fazer o dinheiro girar, para não ficar no prejuízo e se complicar, os irmãos avaliam que será necessário readaptar o preço dos pasteis. Leonam explica o porquê:

“O preço do produto final, o pastel, aumentou muito por conta dos ingredientes usados. O pastel custava sete reais antes da pandemia, agora está em nove e será necessário ir para dez, aumentando cerca de 42% em relação ao que era antes. Então, a pandemia influenciou muito nesse aumento”.

A principal proposta, para se diferenciar dos pasteis da feira, foi a criação de um produto que, mesmo não sendo lucrativo, atrai os clientes para o estabelecimento

Nossa ideia é equiparar os preços com os da feira, para manter nossos clientes. Abaixamos o preço de algo, mesmo que não nos beneficie. Por exemplo, nossa aposta é o pastel especial, onde você monta o pastel com quantos ingredientes quiser. É um preço maior, mas é personalizado e com o tamanho maior também. É uma forma de manter um cliente pagando dez, onde ele já pagou cinco anteriormente”, explica Kaique.

Por fim, Leonam contou sobre as entregas, que diminuíram por devido aos problemas econômicos que o Brasil vive por causa, entre outros motivos, da inflação:

Sobre o consumo, é uma média de 270 entregas por final de semana. Nesses últimos meses, abaixou para 180. É uma redução grande, cerca de 30%”.

O Sebrae adverte em seu site sobre os perigos da inflação. Com o aumento de preços nas contas de energia, combustíveis, alimentação, dólar, aluguel e matérias-primas (mencionado pelos irmãos Leonam e Kaique), somado a toda a crise já enfrentada nos últimos anos devido à pandemia, crescem os desafios aos pequenos negócios, o que exige dos empreendedores muito mais cuidado, planejamento e inteligência na gestão.

Por fim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do Brasil, ficou em 0,47% em maio, após alta de 1,06% em abril. A inflação atingiu 11,73% no acumulado de 12 meses e 4,78% no acumulado do ano.