A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
|
24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
|
10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
|
12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
|
05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
|
22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

N/A
Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

N/A
Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Segundo Eduardo Fagnani, ao vetar imposto sobre grandes fortunas, Congresso contraria interesses da população
por
Dayres Vitoria e Milena Camargo
|
14/04/2023 - 12h

 

Ainda que previsto na Constituição Federal, o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) nunca chegou a ser regulamentado no Brasil. Já são cerca de 33 anos que a taxa segue sem sair do papel. Ainda que seja uma das alternativas consideradas por especialistas como uma das mais promissoras para transformar o cenário dos altos índices de desigualdades, no Brasil, a implantação não vai adiante.

Ao todo, são ao menos 37 projetos apresentados na Câmara dos Deputados e no Senado que propõem a criação efetiva do IGF. O primeiro deles foi destaque ainda em 2008, de acordo com um levantamento realizado pela CNN Business. 

Das 37 propostas, ainda segundo o levantamento da CNN Business, 18 delas foram elaboradas durante a pandemia como uma possível solução para as fortes consequências que a crise da Covid-19 trouxe à população brasileira.

Mesmo em um cenário como o que foi enfrentado, onde recentemente bateu-se a marca de 700 mil óbitos de brasileiros pela doença, a crise não foi considerada motivo para a taxação ir adiante ou dar seus primeiros passos rumo à regulamentação. Até hoje, todas as propostas seguem paradas no Poder Legislativo. 
 

POR QUE ESTÃO PARADAS?

Para o economista  e especialista em política tributária Eduardo Fagnani,  a taxação nunca deu certo na sociedade brasileira porque a bancada do Congresso, em sua maioria, não representa os interesses da população:

 “O Congresso brasileiro, infelizmente, representa  setores da elite. É uma política que consegue eleger muitos parlamentares que defendem interesses corporativos, interesses empresariais, portanto, há uma resistência muito grande para aprovação de qualquer medida que amplie a tributação sobre as altas riquezas.” 

Ainda na visão de Fagnani,a política é uma relação de forças, em que geralmente vencem os mais poderosos. Proporcionalmente, a população de baixa renda é muito mais tributada do que os ricos, o que já seria uma exemplificação desta relação desigual de poder.  Para ele, o grande problema no país é a carga tributária ainda ser muito mal distribuída. Isto acontece, segundo Fagnani, porque 50% do que o Brasil arrecada vem de tributação sobre o consumo. 

“Enquanto nos Estados Unidos é somente 17% a tributação sobre consumo, no Brasil é 50%. Nós capturamos uma parcela da renda dos mais pobres muito mais do que as dos mais ricos. Por outro lado, nós tributamos pouco a renda e a riqueza. No Brasil é somente 23% do que é arrecadado. Nos EUA, é 60%”,  diz Fagnani. 

Segundo o economista, a principal justificativa para a não aprovação da taxação utilizada, principalmente, por economistas e especialistas do mercado, é a provável evasão de capitais do Brasil. Com uma tributação como o Imposto sobre Grandes Fortunas, empresas que investem e possuem capital aqui tirariam rapidamente suas riquezas e as levariam para fora. 

No entanto, para o professor, a atitude de autoconveniência não seria, nem de longe, algo novo a ser feito pelos que possuem maior poder aquisitivo. “Dinheiro lá fora todos os ricos têm, em paraísos fiscais. O dinheiro já está lá exatamente para não pagar imposto”, comenta. Logo, para Fagnani a alegação da evasão fiscal poderia ser contornada se de fato a taxação fosse de interesse da grande maioria do Congresso Nacional brasileiro.   

 

Créditos: Stock Photos
Créditos: Stock Photos 

 

IGF EM OUTROS PAÍSES

 O Imposto sobre Grandes Fortunas foi criado e extinto em diversos países durante anos. Potências como Alemanha, Áustria, Grécia, Holanda e Espanha foram algumas das que ao menos uma vez aderiram à taxação. Nas décadas de 60, 70 e 80, muitos países tomaram a frente da iniciativa. 

Contudo, hoje, a taxação do IGF é vigente apenas em três dos 38 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), entidade que tem por objetivo estimular o progresso econômico e o comércio mundial. 

Os três países correspondem Espanha, Noruega e Suíça. Os dois últimos aplicam a taxação descentralizada e com arrecadação feita pelos governos regionais, sendo cobrada apenas de pessoas físicas. No entanto, o potencial de arrecadação, em ambos, permanece sendo baixo. Logo, os impostos sobre riquezas eventualmente ainda representam uma parcela muito pequena das receitas tributárias.

Na Suíça, as receitas tributárias individuais sobre o patrimônio líquido corresponderam a apenas 1% do PIB, em 2016. Na Espanha o valor foi ainda menor: 0,2%. Na Noruega as alíquotas são de 0,7% para as comunas e 0,15% para o governo central. Já na Suíça os impostos variam de 0,3% a 1%.

Entre eles, a Espanha já chegou a extinguir o IGF de 2008 a 2012. Atualmente, é o único país, dentre as três grandes potências, que apresenta cobrança de imposto centralizado, com alíquotas progressivas, que variam de 0,5% a 2,5%.

 

DESIGUALDADES NO BRASIL 

Segundo um estudo realizado em 2021 pelo World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades Mundiais), o Brasil permanece sendo um dos países mais desiguais do mundo. De acordo com os dados: os 10% mais ricos no Brasil ganham quase 59% da renda nacional total, os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que os 10% mais ricos, a metade mais pobre no Brasil possui menos de 1% da riqueza do país e  1% mais rico possui quase a metade da fortuna patrimonial brasileira (em 2021, praticamente a metade (48,9%) da riqueza nacional). 

Para Olga Hianni, doutoranda em economia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o sistema tributário brasileiro é excepcionalmente anômalo.

Segundo a especialista, o Brasil é um dos únicos países a não taxar os dividendos de acionistas de empresas de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF). Para acrescentar, o país também não taxa grandes fortunas. Além disso, no pagamento do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ), é possível deduzir da parte tributável dos lucros uma parte relacionada aos juros sobre o capital próprio (JSCP). Ações como estas dificultam, e muito, um sistema tributário justo que auxilie na redução das desigualdades do país. 

Frente às estatísticas, sugestões de políticas alternativas precisariam rapidamente ser implantadas para que as desigualdades fossem minimizadas no  decorrer do tempo. Uma melhor redistribuição da riqueza e renda deveria ser um dos focos centrais para solucionar o problema, que confirma sérios problemas nas estruturas tributárias do país e que essencialmente resultam em um peso muito maior para os mais pobres.  

Em suma, para Hianni, há dois fatores que agravam a situação de desigualdade no Brasil: a tributação indireta e a direta. De acordo a profissional, ambas tributações são prejudiciais às camadas mais pobres da sociedade. Para ela, é necessário uma reforma tributária efetiva que solucione os problemas citados e proporcione crescimento econômico e redução das desigualdades de renda no país. 

A economista ainda conclui: “É urgente que o Brasil compreenda que, enquanto não pensarmos em um sistema tributário para crescimento econômico e distribuição de renda, não seremos um país desenvolvido e com bem-estar geral”. 

Nova versão do programa traz mudanças, como o acréscimo de R$ 150 por criança de até 6 anos e R$ 50 para menores de 18 anos
por
Barbara Ferreira
Marina Laurentino
Michelle Batista Gonçalves
|
14/04/2023 - 12h

Levando adiante uma promessa de campanha, o governo Lula relançou, no dia 28 de março, o Bolsa Família. Em sua nova edição, o programa, que vem para substituir o Auxílio Brasil, renasce com algumas regras para a fiscalização de fraudes e buscando sua ampliação. Esse retorno do benefício é voltado às famílias em situação de vulnerabilidade econômica e social, as quais receberão, no mínimo, R$ 600 cada uma. 

O programa contará com novos acréscimos. Cada beneficiário irá receber o adicional de R$ 150 por criança de até 6 anos e R$ 50 para jovens menores de 18 anos (regularmente matriculados na escola) e mulheres gestantes cadastradas.  

As famílias não podem ficar mais de 24 meses sem atualizar o cadastro no CadÚnico. Também é necessário informar quando acontecer alguma mudança de endereço, telefone e composição familiar (nascimento, falecimento, casamento ou adoção). 

O principal critério para fazer parte do Bolsa Família é que cada integrante da família tenha renda per capita de até R$ 218. Isso significa: somar toda a renda gerada pelas pessoas da família, por mês, e dividir pelo número de pessoas que a compõem. Para receber o benefício, esse valor final não pode ser superior a R$ 218.  As famílias que já eram beneficiadas pelo Auxílio Brasil não precisarão passar por um novo cadastro: se já possuírem o Cadastro Único atualizado, irão migrar automaticamente.

Em meados dos anos 2000, o Brasil enfrentava uma grande dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), acarretando uma crise de confiança no país e, consequentemente, impactando suas reservas.  

Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), foram selados acordos de auxílio desse fundo, criando quatro tipos de programas sociais: Bolsa Alimentação, Bolsa Escola, Auxílio Gás e Cartão Alimentação. Quando assume, em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decide manter o pacote de ajuda do FMI, criando o Plano Nacional de Acesso à Alimentação (PNAA), unificando-o aos demais programas criados pelo governo FHC. Na mesma época, o Banco Mundial oferece um piloto do programa “Oportunidade”, que existia no México, contribuindo para a origem do Bolsa Família no Brasil.  

Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), este programa é uma transferência de renda, isto é, uma mensalidade do governo no valor médio de R$ 170. Era destinado para famílias que se encaixavam nos seguintes requisitos: o responsável familiar deveria ter mais de 16 anos de idade e não obter CNPJ vinculado ao seu nome; ter renda máxima de R$ 210 e estar inscrito no Cadastro Único (CadÚnico).  

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, em 2011, durante o governo de Dilma Rousseff, o Bolsa Família foi vinculado ao Brasil Sem Miséria (programa que oferecia oportunidades de qualificação aos beneficiários) e retirou, entre 2011 e 2016, cerca de 22 milhões de pessoas da extrema pobreza. O Bolsa Família se tornou pioneiro na redução da desigualdade social: dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontam que, em 2015, o programa beneficiou 14 milhões de famílias em todo o país e, em 2018, retirou cerca de 3,4 milhões da situação de extrema pobreza. 

Em seu primeiro modelo, ao aderir ao programa, havia condições importantes para a manutenção e incentivo ao desenvolvimento educacional e da saúde: frequência escolar de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos; crianças deviam estar com a vacinação em dia; e era necessário haver acompanhamento de saúde de mulheres que amamentavam ou estavam gestantes. Seu objetivo era promover a segurança alimentar, combater a fome, desigualdade social e fornecer serviços públicos às pessoas em condição de extrema pobreza. 

“O dinheiro era pouco, mas ajudava. Eu conseguia comprar algumas coisas que meu dinheiro não dava… frutas, verduras ou até pagar uma conta mais barata”, afirma dona Marli Rodrigues, dona de casa, de 53 anos, que recebeu o benefício por quatro anos. 

O Brasil possui um ciclo geracional de pobreza, ou seja, pais pobres têm filhos pobres que terão filhos pobres, e esse ciclo vai se repetindo, levando a pobreza a passa de geração em geração. Segundo a professora de economia Camila Kimie Ugino, da PUC-SP, programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, são essenciais para a mudança desse cenário. 

“Essa política é extremamente importante para combater a desigualdade de renda e tentar eliminar a pobreza e a extrema pobreza. Um estudo publicado pelo IPEA, em 2019, aponta que, em 2017, houve uma redução de 25% na extrema pobreza e 15% na pobreza, o que significa que mais de 3,4 milhões de pessoas haviam superado a extrema pobreza, e 3,2 milhões, a pobreza devido aos resultados do programa.” 

Alguns economistas vêm levantando a hipótese da criação de um Bolsa Família 2.0, no qual haveria uma padronização de perfis dos beneficiários, classificando-os por região de moradia, estados e cidades — junto aos Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) — para aplicação de um valor que promova uma qualidade de vida mais equitativa entre os beneficiários. 

O custo de vida tem variações baseadas em localização geográfica, demografia e outros fatores. Um determinado valor tem diferentes “pesos” dependendo do local onde as famílias vivem, portanto, os custos de vida dos beneficiários são diferentes, sendo necessário sanar esse déficit. 

A economista pontua: “É preciso lembrar que a conjuntura mudou. Estamos num período cujas condições econômicas e sociais das famílias foram muito deterioradas”.

Ausência de organização está entre as causas; especialistas dão dicas de planejamento para evitar contas no vermelho
por
João Serradas
Otavio Preto
Thomaz Cintra
|
14/04/2023 - 12h

A falta de planejamento financeiro está entre os principais motivos para o endividamento de boa parte da população. Por isso é de extrema importância que as pessoas tenham em mente noções básicas de educação financeira. Com algumas técnicas simples, é possível aprender a gerenciar o dinheiro de maneira eficaz e evitar cair em armadilhas ou situações delicadas. 

Quando se refere a essa população menos favorecida, a educação financeira se torna uma grande ferramenta, os ajudando a lidar com as despesas diárias. Porém, nem tudo é fácil, já que muitas dessas pessoas sofrem certos empecilhos que as impedem de se aprofundarem sobre o tema ou que fazem de suas vidas mais difíceis em relação à prática do estudo financeiro. 

Um dos motivos para esta situação ocorrer é justamente a falta de renda. Muitas pessoas vivem com salários baixos ou irregulares, o que dificulta o pagamento de despesas e a formação de uma reserva financeira. Quando surge uma emergência, como uma doença ou um acidente, muitas pessoas são forçadas a recorrer a empréstimos para cobrir suas despesas, o que pode levar a um endividamento insustentável. A partir desse momento, torna-se quase impossível a chance de poder ter o privilégio de guardar ou investir uma certa quantia de dinheiro. 

E apesar da faixa salarial dos brasileiros ser o grande indicador de dívidas, várias pessoas com diferentes rendas, até mesmo aquelas com uma situação mais favorável, sofreram as consequências do endividamento no último ano. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em março deste ano, cerca de 78,3%de famílias brasileiras estão endividadas. Entre os mais pobres o número é ainda maior, sendo 80%. A pesquisa considera como dívidas as contas a vencer em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa. A partir disso, é notável o fato de as pessoas enfrentarem desafios em relação à gestão de suas dívidas com as despesas mensais. 

O professor de Economia José Geraldo Portugal, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), diz que administrar as finanças com dívidas já existentes não é uma tarefa fácil, mas existe solução.  “O principal desafio para uma boa administração financeira por parte de uma pessoa é obter a compatibilidade entre despesas e receitas totais, ao longo do tempo. A melhor estratégia é ter sempre presente o grau de comprometimento da nossa renda antes de assumir uma nova despesa.”  Além disso, ele ressalta a importância de as pessoas terem consciência em relação ao que se compra, estando atentas a gastos desnecessários e compras em excesso. “mas, sobretudo, ter uma avaliação clara do que realmente precisamos de modo a evitar compras de impulso.” 

Partindo disso, é necessário que não somente as pessoas de renda mais baixa como toda a população em geral, tenham como foco a execução de um planejamento doméstico em suas vidas,. adotando hábitos financeiros saudáveis e que não pesam em suas rotinas.  Economizar no consumo de gás e luz e reduzir os gastos no mercado, são medidas simples que podem ser implementadas rapidamente e, com o tempo, mostrarão resultados. Desse modo, a consciência financeira tende a mudar, viabilizando planos e estratégias mais elaboradas.  Entretanto, mesmo com algumas pessoas se esforçando e buscando melhorar seus quadros financeiros, existem aquelas que ficam pelo caminho e acabam, uma hora ou outra, retornando ao acúmulo de dívidas e se encontrando novamente em uma situação preocupante. 

Segundo Cristiano Sousa, assessor de planejamento financeiro da Andaluz Investimentos, o pior erro que alguém pode cometer é não conhecer suas finanças, ou seja, não ter os próprios gastos mensais mapeados. Deste modo, as pessoas acabam assumindo prestações que são maiores que a capacidade de honrá-las. Para Cristiano, a divisão ideal da renda seria a seguinte: 50% para os custos fixos, 30% para qualidade de vida e 20% para reserva de emergência e investimentos.  Como qualidade de vida, o assessor se refere a objetivos de longo prazo, como um carro, uma casa própria e outros desejos que cada um possa ter. Já a reserva de emergência, é necessária para imprevistos, como um acidente, uma doença ou qualquer outra situação que não esteja nos planos.  

Segundo Sousa, é necessário realizar investimentos para que o dinheiro renda de alguma maneira. Investimentos em renda fixa, por exemplo, são considerados os mais seguros hoje. Entre as suas possibilidades está adquirir títulos de empresas e, após um período estipulado, receber o dinheiro de volta com alguma rentabilidade. O assessor também recomenda “se pagar primeiro”, ou seja, fazer os investimentos e separar a reserva de emergência logo no início do mês, evitando que os aportes deixem de ser feitos devido a outros gastos.  

Uma grande aliada no processo de educação financeira é a tecnologia. A cada ano que passa, novas ferramentas são desenvolvidas e isso se intensificou após o surgimento do coronavírus, quando  as pessoas tiveram que se adaptar e procurar resolver suas tarefas diárias, como trabalho e estudos, de forma remota, totalmente online. O uso da tecnologia diariamente facilitou muito a vida das pessoas. Utilizar os aparelhos e aplicativos digitais para aprender sobre educação financeira e gerenciar suas contas e gastos, reduz o tempo que necessário para administrar as finanças pessoais, pois muitas tarefas podem ser realizadas com o auxílio de aplicativos.

Outra coisa muito importante é o hábito de usar as ferramentas simples de seu celular, como o bloco de notas. Ter controle das entradas e saídas do  dinheiro, saber onde e como está gastando é essencial, pois num momento de crise será possível identificar quais gastos podem ser cortados e quais não devem ser cortados. Portugal também reforça a importância dos usos da tecnologia nesse processo. Ele defende a ideia de as pessoas utilizarem mecanismos de consulta financeira e aplicativos voltados para a educação financeira, esclarecendo as dúvidas e mostrando os melhores caminhos para o usuário. 

Cristiano Sousa diz que é possível confiar nas ferramentas digitais. Ele destaca a existência de diversos aplicativos que auxiliam a população, como a própria planilha do Google. As planilhas são ótimas aliadas quando se trata de conhecer os próprios gastos, já que, ao anotar os seus custos mensais, como alimentação, vestuário e prestações, a pessoa terá noção de seu poder de compra. “Eu gosto de usar a própria planilha do Google., Eu compartilho com a minha esposa e por lá nós temos um controle maior”, conta o assessor da Andaluz.

Grande parte das pessoas que têm problemas financeiros podem ser associadas à falta de educação financeira, e muitos dos indivíduos presentes nesse grupo são representantes da classe de baixa renda no Brasil. Por isso, é de extrema importância que haja investimentos por parte do Estado na área, analisando esse cenário atualmente, essa parece ser a melhor solução. 

Presidência do BC ignora Planalto e descontenta setores industriais
por
Rodrigo Lozano Ferreira
|
08/04/2023 - 12h

 

Em 22 de março, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), anunciou a taxa básica de juros da economia (Selic) em 13,75%, mantendo o mesmo valor desde agosto de 2022, apesar da forte pressão de Lula para diminuição da taxa..

 

Por decreto do ex-presidente, Jair Bolsonaro, o Banco Central se tornou autônomo em 2021. Por essa razão, o novo governo não tem autoridade para mudar a presidência da instituição, atualmente ocupada por Roberto Campos Neto, que deverá se manter no cargo até 31 de dezembro de 2024, indicado por Bolsonaro e forte opositor de Lula.

 

Em entrevista à Carta Capital, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), acusa Campos Neto de boicotar o governo de Lula: “É fundamental dizer que o senhor Campos Neto é um bolsonarista. Esse cara está boicotando o governo, essa é que é a verdade”. 

 

“Se o Banco Central não fizer uma redução, mesmo que mínima, vai ser uma decisão não técnica, mas política”, afirma o colunista da UOL e professor de jornalismo na PUC-SP Leonardo Sakamoto à UOL NEWS.

 

O presidente da FIESP (Federação da Indústria do Estado de São Paulo), Josué Gomes, representando o setor industrial brasileiro, já declarou, em fevereiro, apoio a Lula no combate contra a taxa de juros. Com o aumento da taxa de juros, as indústrias recebem menos demanda, ao mesmo tempo em que encarece investimentos. Para manter seus lucros e expandir suas indústrias, a taxa de juros deve baixar.

 

Pequenos empreendedores e empresários, pelo mesmo motivo, perdem com o juros elevado, assim como a classe trabalhadora. “Para quem vive de salário, é predatório, uma barbárie que lembra uma violência escravocrata”, afirma Daniel Calazans, secretário geral da CUT-SP e dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

 

A pressão que o governo Lula exerce sobre o BC, no momento, além de uma tentativa de conter a degradação imediata das condições de vida do povo brasileiro, reafirma o desejo do presidente, expresso durante a campanha, de industrializar o Brasil e criar uma economia forte.

 

Diversas fábricas e montadoras automotivas já estão diminuindo a carga de trabalho, antecipando férias, e outras medidas para diminuir os gastos. Em última medida, Calazans acredita  na possibilidade de indústrias fecharem temporariamente e voltarem em outro momento, neste caso, muitos trabalhadores perderiam emprego, como já tem acontecido nos últimos anos. "Agora vemos o impacto do juros, a população está vendo”, afirma o sindicalista, hoje 80% da população brasileira, acredita que Lula age bem ao pressionar pela queda de juros, segundo pesquisa Datafolha (02/04).

Com variação de 0,1% frente ao último trimestre, a taxa de desemprego se mantém estável, mas especialistas alertam sobre a expectativa de aumento nos próximos meses
por
MARIA LUIZA DA CRUZ ARAUJO
|
23/03/2023 - 12h

Por Malu Araújo, Sônia Xavier

O aumento de 0,1% representa o número da mão de obra ociosa no Brasil. Imagem- Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.
O aumento de 0,1% representa o número da mão de obra ociosa no Brasil. Imagem- Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.

 

O relatório da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar), na última sexta-feira (17), mostrou que a taxa de desemprego no Brasil aumentou para 8,4%, no período de novembro a janeiro. A taxa se encontrava em 8,3% no trimestre anterior, correspondente aos meses de agosto a outubro.

Apesar do acréscimo de 0,1% no índice de desocupação, a taxa foi a menor para o período desde 2015.   Para alguns especialistas da área, o acréscimo viria a ser uma “faca de dois gumes”, porque ao mesmo tempo que ela representa certa estabilidade para o mercado no momento, não deixa de ser uma dado preocupante, uma vez que se trata da mão de obra ociosa no Brasil neste momento.

A pesquisa apontou uma queda no número de pessoas desempregadas em cerca de 3 milhões, no ano passado, 12 milhões de brasileiros estavam inativos.

Ainda na comparação anual, o relatório mostrou uma queda de 22,5% na taxa de subutilização - dados que se referem a pessoas desocupadas, subocupadas e desalentadas (quando já desistiram de procurar emprego). Atualmente, cerca de 21,5 milhões de pessoas se enquadram nessa categoria.   

Outro indicador analisado pelo IBGE e que apresentou melhora foi o da Renda Média, razão entre a soma da renda mensal domiciliar per capita e número de residentes, que teve seu rendimento habitual acrescido em 1,6% no trimestre, colocando o salário médio em R $2.835.

Para o professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Renan Pieri, é importante ficar atento a essas taxas porque refletem a dinamicidade do mercado. "O número de subutilizados nos ajuda a entender melhor o mercado de trabalho", analisa Renan.

Em paralelo, a professora de economia da PUC-SP, Renata Moura Sena, avalia que o possível aumento  na taxa de desemprego está atrelado tanto ao contexto nacional,  que considera o aumento na taxa de juros, e à inflação crescente, tanto ao global, com as crises nos sistemas bancários dos Estados Unidos e da Europa. "Um eventual aumento na taxa de desemprego com mais restrições de crédito, com empresas investindo menos e, eventualmente, com a quebra de empresas", diz Sena.

A economista também destaca o impacto negativo que isso dá sobre o mercado. "Quando você tem uma redução do consumo, você tem as empresas tendo que produzir menos porque vão vender menos e isso é um ciclo muito negativo para economia", analisa a professora.

Apesar do relatório apresentar essa pequena variação, esse “é um dado que a gente precisa observar atentamente”, finaliza a professora Renata Sena.