Medida irá impactar benefícios que excedem limite constitucional recebidos pelos “funcionários de elite
por
Marcelo Barbosa
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06/12/2024 - 12h

 

O Governo enviou na segunda-feira (02), ao Congresso Nacional, a PEC que detalha uma série de medidas para conter os gastos das contas públicas. O intuito é gerar uma economia de mais de 300 bilhões até 2030.

A proposta visa alterações essenciais para aumentar a arrecadação e manter os limites do Arcabouço Fiscal. Uma das mudanças apresentadas está na redução dos chamados “supersalários” de servidores públicos.
 

Salário e adicionais no serviço público: regras e limites na teoria

Os servidores públicos têm um teto salarial estabelecido em R$44.008,52 mensais, além dos benefícios e adicionais, desde que observadas as regras específicas de cada caso.

O auxílio-moradia, por exemplo, é restrito a situações em que não haja imóvel funcional (cedido pela União para o funcionário público) disponível na localidade; o agente não more com outra pessoa que já ocupe um imóvel funcional ou receba o benefício; ou quando o servidor não possua residência própria na região.

Já o adicional de férias não pode superar um terço da remuneração e deve ser limitado a períodos de até 30 dias por exercício. Da mesma forma, as férias não aproveitadas só podem ser pagas em casos de demissão, aposentadoria ou falecimento, respeitando o limite de 30 dias por exercício.

Entre os auxílios mais comuns no cotidiano do servidor, o auxílio-alimentação tem seu valor máximo fixado em até 3% do teto salarial, o mesmo limite aplicado ao auxílio-transporte. Para filhos ou dependentes de até cinco anos, o auxílio-creche também é regulamentado, com um valor que não deve exceder 3% do teto por dependente.

Além disso, benefícios como o 13º salário, adicional noturno, remuneração por serviços extraordinários e aviso prévio proporcional ao tempo de serviço estão garantidos. Em ambientes de trabalho insalubres, o adicional de insalubridade é assegurado. Ressarcimentos relacionados ao exercício da função, como indenizações pelo uso de veículo próprio em serviço, são limitados a 7% do teto. Também está previsto o reembolso de mensalidades de planos de saúde, que pode chegar a até 5% do teto.

O salário-mínimo do trabalhador médio está em R$1.412 e, com as projeções do PIB para 2025, a previsão é de que chegue em R$ 1.525,00.  Professores, por exemplo, têm, em média, um salário de RS 4.250,00 reais, constatou o Glassdoor, uma plataforma online sobre o mercado de trabalho.  

No entanto, apesar do teto estabelecido ser de R$ 44.008,52 mensais, há diversas exceções e valores extras aos chamados “funcionários de elite”,  responsáveis por atuar em áreas específicas do setor público, como segurança, diplomacia e finanças, e que causam um rombo de até 3,9 bilhões de reais aos cofres públicos, de acordo com um estudo do CLP (Centro de Liderança Pública). 

 

Equipe econômica do governo Lula.
Projeto que pretende acabar com supersalarios enfrenta resistência de militares. Foto: Agência Brasil

Segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU), os salários dos militares reformados custam 16 vezes mais aos cofres públicos do que os aposentados do INSS. O gasto por pessoa com os militares foi de R$ 158,8 mil, enquanto o dos servidores públicos foi de R$ 69 mil e o dos aposentados do INSS foi de R$ 9.400.

A respeito do corte nos supersalários, a economista Cristina Helena Pinto de Mello pontua sobre o forte apelo público da proposta “Quando a gente pega o gasto do Governo com salários de toda a administração pública, incluindo o legislativo e o judiciário, que estão dentro dessa folha de pagamento, essa é uma das maiores despesas”, comenta, mas ressalta que os gastos com juros ainda ultrapassa o valor gasto com supersalários. 

Na segunda-feira (02) o presidente Lula se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, outros três ministros do Palácio do Planalto e líderes do Congresso para discutir o tema. 

No caso da aposentadoria dos militares, a resistência das forças armadas fizeram com que o Ministério da Fazenda recuasse e retirasse, temporariamente, a regra da PEC. Entre os pontos do texto que seriam debatidos, estavam o fim da chamada "morte fictícia", que assegura pensão a militares expulsos ou excluídos das Forças Armadas e uma uma transição mais longa para a adoção da idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares (o projeto apresentado pela equipe econômica sugere ampliação de 50 para 55 anos). A ideia é implementar uma regra progressiva, permitindo que a exigência de 55 anos seja atingida apenas em 2030.

O Congresso tem apenas três semanas de atividades antes do recesso para apreciar essas medidas, além de outras propostas relevantes, como o projeto que finaliza a reforma tributária e a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Entenda proposta de corte de gastos de R$ 70 bilhões anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad
por
Beatriz Alencar
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03/12/2024 - 12h

O texto do novo pacote de gastos e aumento da isenção do Imposto de Renda foi anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quinta-feira (28), e movimentou opiniões dentro do setor econômico e social, com dólar batendo o valor histórico de R$ 6,11.

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Ministro da Fazenda Fernando Haddad | Foto: Reprodução/Transmissão Ministério da Fazenda

Mas qual de fato é o objetivo desta pauta que demorou semanas para ser anunciada e o quê isso tem a ver com o salário mínimo e arcabouço fiscal?

Basicamente, a ideia de Haddad de fazer um pacote fiscal agora é tentar cortar R$ 70 bilhões para ajustar a explosão dos gastos públicos projetados para os próximos anos e garantir a sustentação do arcabouço fiscal, medida que tem como objetivo o equilíbrio entre arrecadação e despesas do governo, aprovada no ano passado. 

A primeira mudança citada pelo ministro para cumprir essas metas foi o reajuste no salário mínimo com a adequação aos limites do arcabouço fiscal e inflação, o que significa um ganho real entre 0,6% e 2,5%. Atualmente para o reajuste de salário, o Governo considera a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB) do país . 

De acordo com o Economista e pesquisador Emerson Braz, o abono salarial e o teto do reajuste do salário-mínimo são medidas que representam direitos dos trabalhadores que hoje possuem menor representatividade no Congresso Nacional:“ [Isso] faz com que sejam medidas que não sofram ajustes significativos em seus textos na fase de aprovação”.

Braz acrescenta que esse reajuste pode ser uma perda de ganhos reais para os trabalhadores: “Imaginando um cenário em que o PIB possa estar estagnado e o arcabouço apertado, o salário-mínimo (SM) poderá não ter alterações e afetar a economia”, explica. O que pode gerar um problema considerável na desigualdade social ou na superação da pobreza. 

Com o novo pacote, o abono salarial, que é um benefício concedido uma vez por ano ao trabalhador que recebe até dois salários mínimos (R$2.824,00), seria limitado para quem recebe até R$2.640,00 e corrigido pelo INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor. A medida, ao longo dos anos, irá reduzir a parcela beneficiada, já que o salário cairá gradualmente para um salário mínimo e meio por mês. 

Outra mudança que causou grande movimentação de opiniões foi a medida sobre o Imposto de Renda. Hoje, aqueles que ganham até R$ 2259,20 por mês não pagam imposto. A nova proposta prevê que a isenção será estendida para quem ganha até R$ 5 mil. Só essa alteração deve gerar um impacto de R$ 35 bilhões por ano nas contas da União.

“Essa é uma medida muito interessante e necessária. Pessoas que ganham até R$ 5 mil consomem a maior parte da sua renda e, ao sofrerem menos tributação, terão como destinar maior parte para o consumo, mantendo a economia aquecida”, argumenta o economista.

Como uma forma de cobrir essa isenção, o governo pretende aumentar a tributação para os rendimentos acima de R$50 mil e R$ 1 milhão mensais, como a forma “mais justa” de compensar a queda de arrecadação com a nova faixa de isenção, de acordo com Haddad.

“A alteração na alíquota do IR não deve ser vista apenas com o objetivo de equidade de renda, mas como um instrumento de manter a demanda (de mercado) aquecida”, acrescenta Braz.

O pacote também prevê a reforma das emendas parlamentares, que limita o crescimento das emendas impositivas ao arcabouço fiscal, estabelecendo um teto para o aumento das despesas parlamentares. Além disso, 50% dos recursos das emendas de comissão deverão ser destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

O texto apresentado pela equipe econômica também propõe mudanças na aposentadoria de militares. A medida sugere uma padronização da contribuição dos militares ao Fundo de Saúde e o fim da chamada “morte fictícia”, que garante uma espécie de pensão vitalícia para a família de um militar que foi expulso das forças, na mesma condição de falecimento do servidor. 

Alterações nos benefícios sociais como o Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC), também foram citadas no texto. Agora, passarão a ter mais regulações, como comprovação por biometria do beneficiado.

“O fato é que a comunicação do Governo para anunciar medidas de austeridade e controle das contas públicas junto com a medida de isenção do IR tornou o cenário caótico”, comenta o economista.

Após um mês de reuniões e tratativas, o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, explicou que o debate do pacote fiscal será prioridade nas próximas semanas, antes do recesso de fim de ano no Senado. A proposta ainda pode sofrer mudanças nas aplicações ou exclusões de medidas.

Brasil passa por um momento decisivo entre mudanças para arrecadamento e corte de gastos
por
Maria Eduarda dos Anjos
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19/11/2024 - 12h

A penúltima reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) aconteceu semana passada e sua ata, publicada no dia 12, apresenta a decisão unânime de elevar a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) a 0,5 pontos percentuais, levando a taxa de juros básico do país de 10,75% para 11,25%. 

Esse aumento vem como medida para, principalmente, conter a inflação, produto do balanço negativo entre os ganhos e gastos do Estado brasileiro, além de responder de forma defensiva à recente eleição de Donald Trump.

Primeiro, é importante entender o que o COPOM, SELIC, juros básicos e inflação significam na vida do brasileiro. O Copom é um grupo composto pelo presidente do Banco Central (BC) e seus diretores que, a cada 45 dias, decidem a taxa básica de juros da economia, a Selic. 

A taxa básica é a principal forma do BC tentar conter a inflação econômica. Na balança, são ponderados o estado das contas públicas, a situação internacional política e monetária, estado da inflação, movimentação do mercado de trabalho entre outros fatores, tudo para assegurar que o reajuste do juros contenha a inflação, não desvalorize o real perante outras moedas e não diminua o poder de compra da população. 

Uma das razões para o aumento da Selic é a diferença entre o gasto e o arrecadamento público de R$7,3 bilhões até setembro de 2024. Para exterminar esse déficit primário, o BC sobe o juros básico, ou seja, a promessa de valorização de seus ativos, e vende tais ativos aos bancos. 

Dessa forma, o Banco Central consegue caixa de forma mais imediata e oferece a promessa de lucro futuro para os bancos. O problema é que esse ciclo se repete e cria uma bola-de-neve. 

A economista e professora da PUC SP, Cristina Helena, explica que “o governo pega dinheiro emprestado todo mês para cobrir o déficit, que não conta com o valor dos juros dos demais empréstimos que já pegou, mas que precisa quitar simultaneamente”. O juros aumenta para pagar,também, o que já foi criado no passado pela mesma barganha que se repete.“ A conta da dívida tá fora do resultado primário, aí o montante a ser pago não para de crescer”. 

Essa medida para maior arrecadação vem junto com o pacote de corte de gastos públicos, que será anunciado por Fernando Haddad depois da reunião do G20. Representantes das pastas de Saúde, Educação, Previdência, Trabalho e Desenvolvimento Social foram chamados para discutir as reduções, já que detém a maior parte de recursos federais. 

Quando o assunto extrapola o doméstico, a eleição de Donald Trump é um fator central. O presidente já anunciou que pretende impor uma tarifa de 10% ou mais sobre todo produto importado do país, uma medida protecionista para privilegiar o mercado interno.

 

Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT
Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT

 Enquanto o aumento da Selic pode ajudar a manter o valor do Real no mercado internacional, a negociação tende ao soft power. “ O Brasil e os Estados Unidos são bons parceiros comerciais um ao outro, mas o Trump não quer só um bom parceiro comercial, ele também pede por um aliado que não seja mercado para a China, por exemplo. A América Latina vêm se beneficiando de compras mais baratas de produtos chineses e venda de minérios mais barato”, explica Cristina. 

Apesar de haver um plano de metas pelo qual a política monetária deveria se guiar, as medidas atuais de arrecadação precisam ser redesenhadas pela sua falta de efetividade, avalia a economista.Até o fim do ano,é previsto o aumento de mais 0,25 pontos para o juros básico, isso reverbera diferentemente entre compradores de títulos do governo e a população média: “ Meio ponto percentual é pouco do ponto de vista de contenção inflacionária e é muito para as famílias, e isso vira uma taxa enorme nos cartões de crédito e cheque especial”.

A cotação da moeda norte-americana chegou a R$5,86, mas encerrou em R$5,67
por
GUILHERME DEPTULA ROCHA
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08/11/2024 - 12h

 

O dólar comercial teve forte alta na manhã da quarta-feira (6), mas caiu durante o dia. Às 9h, a moeda alcançou o valor de R$5,86. Porém, à tarde, recuou para R$5,67. A disparada recente se deu após a repercussão da vitória Donald Trump (Partido Republicano) nas eleições norte-americanas. 

Desde meados de outubro, a moeda estava se valorizando, o fato se deu devido à subida do ex-presidente nas pesquisas de intenção de voto. Conforme dados do jornal “The New York Times”, no início do mês passado, sua adversária, Kamala Harris (Partido Democrata), mantinha-se à frente, com 50% da preferência. Enquanto Trump, estava com 47%. 

Porém, nas últimas semanas, o republicano subiu nas pesquisas e se equiparou à democrata: ele alcançou 48%, contra 49% dela. Esse movimento foi batizado de “Trump Trade”. 

 

POR QUE O DÓLAR DISPAROU APÓS VITÓRIA DE TRUMP?

Aproposta de governo do presidente eleito é tida como inflacionária, a partir de políticas protecionistas. O programa prevê um aumento na taxa de juros e mais impostos para importação. A ideia é provocar migração de recursos para o mercado norte-americano, fortalecendo a moeda.

Após o resultado da eleição, o dólar disparou também em outros países. Segundo DXY, índice que monitora o câmbio da moeda norte-americana em outros mercados globais, houve uma alta de quase 2%.

 

POR QUE O DÓLAR CAIU NO FIM DO DIA?

O motivo ainda não é claro. Segundo o professor de economia da FGV, Marcelo Kfoury Moinhos, em entrevista ao “Jornal Nacional”, há uma expectativa na medida de corte de gastos fiscais. O pacote será anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ainda nesta semana.

Devido a vitória de Trump, o mercado acredita que o governo entregará um pacote “crível”. Porém, o  professor de economia aponta: “Se houver frustração no tamanho desse pacote de corte de gastos pode ser que (...) o real volte a desvalorizar.

 

FUTURO

Caso o presidente eleito cumpra com suas propostas de campanha, as projeções indicam uma alta do dólar para 2025. Devido às políticas protecionistas, poderá haver um aumento na tarifa para produtos importados, reduzindo as exportações brasileiras para os Estados Unidos.

 

Descubra como a agroecologia pode beneficiar a vida das famílias brasileiras no âmbito econômico e social
por
Jessica Castro
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05/11/2024 - 12h

Recordes de altas temperaturas e períodos de seca extensos foram aliados às causas das queimadas recentes no Brasil. Nos últimos meses, o país viveu um cenário alarmante com mais de 139 mil focos de queimadas, muitas delas criminosas, devastando biomas importantes para o ciclo climático. 

 

Atrás desses números, estão comunidades inteiras que sofrem as consequências diretas: ar irrespirável, perda de colheitas e deslocamento forçado. Grande parte dessas queimadas está ligada à expansão desenfreada do agronegócio, que, na busca por mais terras para cultivo de soja e pastagens, utiliza o fogo como ferramenta de desmatamento. 

 

Embora o agronegócio mova a economia, sua busca por crescimento muitas vezes ignora os impactos sociais e ambientais, e o momento agora é de olhar novas alternativas de cultivo, antes que seja tarde demais.

 

Uma opção que se apresenta é a Agroecologia. A prática é uma alternativa sustentável para a produção agrícola que integra conceitos ecológicos e sociais e tem como objetivo equilibrar o cultivo de alimentos com os ciclos naturais e promover a justiça social. 

 

Diferente dos métodos convencionais, ela não se limita ao uso de técnicas orgânicas, mas envolve uma transformação mais ampla das práticas agrícolas, considerando aspectos culturais, políticos e ambientais. Seu foco é a regeneração dos solos, a conservação da biodiversidade, a redução do uso de insumos químicos e a valorização dos saberes tradicionais das comunidades rurais.

 

Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace
Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace

 

Alternativa ao Agronegócio

 

A prática da agroecologia surge como uma alternativa ao modelo convencional do agronegócio, que prioriza a monocultura, o uso intensivo de agrotóxicos e a maximização dos lucros a curto prazo. 

Enquanto esse método é fortemente dependente de insumos externos e tecnologias que degradam o meio ambiente e podem esgotar os recursos naturais, a agroecologia foca na sustentabilidade a longo prazo. Ela propõe sistemas diversificados, que integram culturas diferentes, reflorestamento e técnicas de conservação de solo e água. 

Isso torna os sistemas mais resilientes a pragas e mudanças climáticas, reduzindo a dependência de produtos químicos e fertilizantes industrializados. Além disso, o sistema agroecológico valoriza a autonomia dos pequenos agricultores, promovendo  cada vez mais sistemas alimentares locais e uma dependência menor de cadeias longas de distribuição. O que contribui para a segurança alimentar, uma vez que as comunidades produzem e consomem alimentos de maneira mais justa e próxima de seus territórios.

 

O benefício econômico a quem produz e quem consome

 

Do ponto de vista econômico, a agroecologia tem mostrado forte potencial para ser uma opção interessante tanto para o país quanto para as famílias que aderem a este sistema. 

“Iniciativas como as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA) mostram como os consumidores podem se tornar co-produtores, garantindo acesso a alimentos saudáveis e frescos, enquanto os agricultores têm mais segurança e menos desperdício”, comenta Paulo Moruzzi, professor adjunto do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq, na USP.

Moruzzi ainda pontua que o fortalecimento da relação do consumidor com a produção agroecológica pode impulsionar o fomento de políticas públicas que ampliem o acesso à alimentação sustentável.
 

Outro benefício econômico da prática é  a redução dos custos com insumos químicos, como fertilizantes e agrotóxicos, o que alivia o orçamento dos pequenos produtores; ou práticas como a rotação das culturas que permite  uma produção contínua sem prejudicar o solo ao longo do ano, garantindo uma renda estável  ao diminuir os riscos associados à dependência de uma única safra, característica comum no agronegócio.

 

Ao reduzir a pressão de utilização dos recursos naturais, além da contribuição efetiva para o meio ambiente a longo prazo, pode evitar gastos públicos na recuperação de áreas degradadas e mitigação de desastres ambientais. Além disso, a agroecologia pode impulsionar a economia local, pois promove cadeias curtas e regionais de produção. Assim, reduz a dependência do país de alimentos importados e fortalece os mercados internos.

 

Para as famílias agricultoras, a transição para este método de cultivo significa mais independência e resiliência frente às flutuações de mercado e mudanças climáticas. A segurança alimentar é ampliada, e o valor agregado dos produtos agroecológicos pode aumentar os lucros, já que esses produtos têm um apelo crescente entre consumidores conscientes, dispostos a pagar mais por alimentos produzidos de forma sustentável.

A agroecologia está profundamente enraizada no cotidiano de comunidades quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais no Brasil. Esses grupos, que possuem uma relação ancestral com a terra, cultivam alimentos de maneira sustentável e em harmonia com o meio ambiente. 

Mas a prática não é exclusividade dessas comunidades, ela também é adotada pela agricultura familiar e por assentamentos e acampamentos da reforma agrária. Hoje, cerca de 77% dos comércios agropecuários do país são familiares, segundo dados do Anuário da Agricultura Familiar de 2023, e muitos deles estão integrando práticas agroecológicas para preservar o solo e valorizar a biodiversidade do local onde produzem.

Essas iniciativas promovem um modelo de agricultura que valoriza o saber local e protege biomas únicos e super importantes para o equilíbrio climático do país, como o Cerrado e a Amazônia. 

A agroecologia fortalece o vínculo entre quem produz e quem consome, criando relações de consumo mais justas e solidárias. Isso ocorre, em grande parte, por meio de feiras agroecológicas e programas de políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que compra alimentos de pequenos produtores para fornecer refeições nas escolas. Essas teias garantem que o alimento chegue de maneira saudável e acessível às mesas, enquanto geram renda e fortalecem famílias agricultoras ao mesmo tempo.

Outros olhares para o consumo de alimentos

A conexão entre a agroecologia e o modo de consumo vai além da idealização de uma produção agrícola sustentável, aqui refletimos também a forma como nos relacionamos com os alimentos, os recursos naturais e as comunidades que os produzem. Esse conceito reflete a necessidade de repensarmos não só a maneira como consumimos, mas também as implicações sociais, ambientais e econômicas envolvidas no processo.

Esse olhar diferenciado para o consumo de alimentos inclui para além da valorização de produtos orgânicos produzidos por um sistema agroecológico, as métricas de quanto desperdiçamos e consumimos exacerbadamente. A agroecologia não se limita à produção sustentável, mas envolve uma conscientização mais ampla sobre a forma como os alimentos são utilizados ao longo da cadeia, desde a produção até o descarte.

O consumo consciente, nesse sentido, diz respeito a um repensar em nossos hábitos alimentares, para garantir que tudo o que consumimos não acabe em desperdício, uma prática que impacta seriamente o meio ambiente e os recursos naturais e o bolso do consumidor. 

 

Precisamos perceber que a quantidade de alimentos comprados e descartados repousa diretamente em impactos socioambientais porque contribui para a emissão de gases de efeito estufa e esgotamento dos solos. Portanto, como e o que comemos pode fazer uma grande diferença.

 

Em entrevista, o professor Paulo Moruzzi destaca a importância do Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro, data que marca a criação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), que completa 79 anos. Ele ressalta: “Nos últimos anos, esta organização multilateral tem insistido em suas orientações para os debates em torno dos problemas agroalimentares mundiais sobre a importância da busca simultânea de preservação ambiental e de garantia do direito humano à alimentação adequada. Desde 2019, a FAO promove a década da agricultura familiar, visando favorecer sistemas alimentares resistentes às mudanças climáticas e indutores de desenvolvimento territorial inclusivo, protegendo a biodiversidade, o meio ambiente e a cultura." 

 

A agroecologia passa a não ser apenas um modelo de produção, mas um convite para repensar o ciclo de vida dos alimentos e nosso papel dentro dele, promovendo uma relação mais responsável e equilibrada com o meio ambiente.

 

Através da confecção e venda de produtos feitos com materiais recicláveis, instituto une cuidado ambiental ao empoderamento feminino
por
Esther Ursulino
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29/11/2022 - 12h

Por Esther Ursulino

O Instituto Inovar Solução Sustentável é uma ONG (Organização Não Governamental) que promove a capacitação profissional de mulheres em situação de vulnerabilidade social. O principal objetivo da iniciativa é torná-las empreendedoras para que, a partir disso, adquiram independência financeira e autoestima. Em uma sede localizada no bairro Jardim Aliança, em Osasco, voluntárias do projeto ensinam outras mulheres a confeccionar produtos a partir de materiais recicláveis; estimulando a consciência ambiental e a sustentabilidade financeira.

A ONG surgiu em 2011 através de Mona Chamma, que à época trabalhava no setor de responsabilidade social da Givaudan, uma multinacional que produz aromas e fragrâncias. A funcionária idealizou a criação de um projeto de geração de renda sustentável e apresentou sua ideia à empresa, que apoiou a iniciativa ao arcar com todos os seus custos. Assim, surgiu o Instituto Givaudan – que mais tarde mudaria seu nome para Instituto Inovar Solução Sustentável.

Após a aquisição de máquinas e uma sede, um grupo de mulheres iniciou a confecção de sacolas com caixas de leite e suco. Depois, começaram a utilizar banners, caixas de papelão e uniformes industriais para produzirem, além de sacolas, sapateiras, necessaires, porta-maquiagens, capas para notebook etc. Assim, o que antes era lixo passou a ser luxo. 

O que era lixo hoje é luxo!
O que era lixo hoje é luxo!
Macacão industrial transformado em acessórios úteis
Macacão industrial transformado em acessórios úteis 
Produção
Mulheres produzem bolsas com banners doados por empresas e pessoas físicas

A partir de 2016, a organização viu a necessidade de se tornar independente em relação à Givaudan para dar o primeiro passo rumo ao empreendedorismo. Como pais que veem seus filhos “criarem asas”, a multinacional foi se afastando aos poucos da ONG, a fim de proporcionar a autonomia do projeto e, ao mesmo tempo, garantir que ele continuasse funcionando. O processo de emancipação se iniciou em 2017, quando o Instituto Givaudan mudou de endereço. No ano seguinte, a ONG abriu seu CNPJ e passou a se chamar Instituto Inovar Solução Sustentável.

Sua autonomia veio, de fato, em 2022 – quando a empresa de essências interrompeu os auxílios financeiros destinados ao projeto. A Givaudan, porém, continua uma fiel parceira e cliente da cooperativa socioambiental, comprando peças, divulgando o trabalho das mulheres e abrindo as portas da firma para vendas. Hoje, a organização sem fins lucrativos utiliza a renda adquirida com a comercialização de seus produtos para pagar o aluguel de sua sede, contas de água, energia e alimentação; além de uma ajuda de custo para as voluntárias. 

Joseneide Tavares, atual presidente da ONG
Joseneide Tavares, atual presidente da ONG Inovar Solução Sustentável

Joseneide Tavares, atual presidente da Inovar, está desde a fundação do Instituto. A empreendedora, que atua como costureira há 40 anos, conta que sempre sonhou em ter um projeto social voltado para o cuidado ambiental e o empoderamento feminino. Por isso, apesar das dificuldades, sente satisfação em fazer parte da ONG junto a outras colaboradoras. Segundo ela, cada uma contribui de alguma forma, seja na área da administração, assistência, comunicação, marketing, ensino etc.  Neide, como é conhecida, destaca que no instituto chegam muitas mulheres em situação de desemprego, dependência financeira, violência doméstica, baixa escolaridade e vulnerabilidade psicológica. Por isso, o grupo promove palestras, assistência social e capacitação profissional, a fim de despertar a autoestima daquelas que chegam até a cooperativa. 

Integrantes e voluntárias da ONG
Integrantes e colaboradoras do Instituto Inovar Solução Sustentável

Graziele Santos, que está na Inovar Sustentável desde 2021, conta que antes de conhecer a instituição sentia-se perdida. Acostumada com uma rotina de trabalho, ela havia sido demitida em junho daquele ano, e por isso passou a ficar apenas em casa, sem ter outros meios para se socializar. Ao comentar que estava em busca de uma ocupação, uma amiga lhe passou o número da ONG e ela marcou uma visita para conhecer o trabalho da cooperativa. Lá, aprendeu a como higienizar materiais, cortar e costurar peças. Através disso, passou a gerar sua própria renda. “Na Inovar aprendi como é importante esse trabalho de interação e empoderamento, levando essas mulheres a se sentirem pertencentes à sociedade por seus próprios meios de sustento. Com esse projeto, todos saímos ganhando: meu bairro, o meio ambiente e eu!”, enfatiza. 

Fátima Freitas, assistente social voluntária do Instituto Inovar, conta que a consciência ambiental cultivada na sede da organização se expande para a comunidade do entorno. Através de um projeto de horta comunitária promovido pelo instituto em parceria com a escola municipal Sônia Maria de Almeida Fernandes, crianças entram em contato com a natureza e aprendem a cultivar os alimentos para depois consumi-los. Dessa forma, os pequenos da EMEI do bairro Jardim Baronesa aprendem, desde cedo, a importância de preservar em vez de destruir. 

Por ser uma organização sem fins lucrativos, o Instituto Inovar Solução Sustentável depende, exclusivamente, da venda de seus produtos para manter seus custos. Além disso, a renda das empreendedoras que fazem parte da cooperativa também depende da comercialização das peças. Atualmente a instituição precisa de uma sede maior, máquinas de costura, móveis e equipamentos – como projetores, para serem utilizados em palestras; e computadores, para a inclusão digital das mulheres que fazem parte da Inovar. Há também demanda por psicólogos, professores de informática e profissionais da costura que estejam dispostos a colaborar com a ONG.

Justamente por ter essas demandas, a organização busca parcerias com empresas, voluntários e clientes que auxiliem na expansão, aperfeiçoamento e permanência do projeto. Para ser um parceiro ou voluntário é preciso entrar em contato via email contato@institutoinovarsustentavel.org.br ou pelos telefones do instituto: 11 36982343 (fixo) 11 974461328 (WhatsApp). Doações financeiras podem ser feitas através do site: <https://institutoinovarsustentavel.org.br/>. Pelos perfis @inovarsustentaveloficial (Instagram) e @Instituto Inovar Solução Sustentável (Facebook) também é possível entrar em contato, acompanhar as ações da iniciativa e adquirir os produtos de base reutilizável. Vale lembrar que a divulgação  é outra importante forma de ajudar o projeto a alcançar mais pessoas e, assim, continuar empoderando mulheres através da economia sustentável.

costuraAo fundo banners doados por empresas e pessoas físicas, à frente bolsas confeccionadas com os banners.

 

Aplicativo de viagens explora mão-de-obra e repassa ainda menos ao trabalhador
por
Isabela Mendes Dos Santos
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02/12/2022 - 12h

Por Isabela Mendes dos Santos

Os motoristas do aplicativo de viagens Uber têm sofrido com o aumento da precarização do trabalho pela plataforma nos últimos meses. Com a elevação da tarifa sobre o valor das corridas e a redução dos direitos, os trabalhadores se veem desamparados pelo do aplicativo. A falha da Uber em oferecer condições de trabalho dignas a seus associados não é novidade. Em março deste ano, por exemplo, a empresa constava na lista de aplicativos que não provêm boas condições laborativas, ao lado de outras plataformas conhecidas por ofertarem trabalho semelhante, num movimento chamado de “uberização do trabalho”. São elas: iFood, 99, Get Ninjas, Rappi e Uber Eats, ramo da companhia voltado para o delivery de comida. O estudo foi elaborado pelo Oxford Internet Institute em parceria com WZB Berlin Social Science Centre, e foi denominado “Fairwork Brasil 2021”.

No mesmo mês, a plataforma anunciou um reajuste de 6,5% na taxa a ser retida nas corridas e, com o aumento constante no preço dos combustíveis, para muitos motoristas, o trabalho – que já era precário – passou a não compensar mais.

Perguntado sobre as condições para trabalhar oferecidas pela empresa, Marcello Del Vecchio, estudante de Geografia na Universidade de São Paulo (USP), metalúrgico e motorista da Uber aos finais de semana, diz não considerar justo as condições a que a empresa submete os motoristas, e cita a alta nos combustíveis como um fator decisivo para muitos trabalhadores abandonarem a plataforma que, em sua opinião, fez com que a Uber aumentasse ainda mais a tarifa cobrada sobre as corridas. Ele também menciona o fato do aplicativo não oferecer qualquer garantia em casos de acidente ou roubo do veículo, o que expõe ainda mais as desvantagens de trabalhar com a plataforma. 

No entanto, devido à atual conjuntura econômica do País, marcado por 9,5 milhões de desempregados, 4,3 milhões de desalentados e um aumento histórico no número de trabalhadores na informalidade, isto é, aderindo à chamada “pejotização” ou à onda forçada dos MEIs (microempreendedores individuais), Marcello confessa ainda ser necessário se submeter às corridas exaustivas e mal-remuneradas para complementar a renda mensal. “A Uber nesse momento é o que me salva", declarou Marcello. O estudante confessa que já dependeu muito do dinheiro arrecadado com o aplicativo para colocar em dia suas contas pessoais e pagar até mesmo financiamentos.

Antônio Visentainer, que hoje atua na área de construção civil, também afirma já ter tido que recorrer à Uber para "quebrar um galho". De acordo com o seu relato, entre 2016 e 2017, após ter que fechar sua cafeteria de mais de 20 anos, Antônio se viu desamparado enfrentando dificuldades financeiras que o levaram a entrar para a plataforma de corridas. Ele afirma não ter encontrado outra alternativa na época, já que não possuía formação superior e precisava regularizar suas contas o mais rápido possível.

Hoje, ainda na informalidade, ele alega não ter tido grandes mudanças na situação financeira, e acrescenta que precisou vender o carro com o qual fazia Uber para quitar uma parte de suas dívidas. Antônio descreve seu emprego atual como "bicos de trabalho braçal" e diz que, para seus 61 anos idade, serviços como esse são, em grande maioria, prejudiciais à saúde física. Ele ressalta já ter quebrado três vértebras da coluna durante expediente devido à sobrecarga de peso.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 39,3 milhões de trabalhadores sem carteira, alcançando uma taxa de informalidade superior a 40%. 

Em dezembro do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei (PL)  1665/2020 que garantia seguro contra acidentes e afastamento por infecção pela covid-19 a entregadores de aplicativos como iFood, Loggi, Rappi e Uber Eats, ou seja, plataformas de entregas. O aplicativo de viagens, porém, não foi incluído no projeto. Apesar do aparente avanço, a proposta não configurava vínculo empregatício entre o autônomo e a plataforma, e foi pensada para durar apenas até o fim da pandemia no País, decretado em maio deste ano pelo Ministério da Saúde. 
 

Como o capitalismo está engolindo o meio ambiente, e com ele, todos nós
por
Catharina Morais
Sophia Razel
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21/11/2022 - 12h

 

Charge de: Latuff
Charge de: Latuff

 

 

Por: Catharina Morais, Leticia Alcântara e Sophia Razel

 

“Nada de grandioso entra na vida dos mortais sem uma maldição”, a frase anterior pertence ao dramaturgo grego Sófocles.  O capitalismo em sua essência prega ferrenhamente um livre e infinito consumo, onde é dado ao ser humano, o poder de ter, logo ser, tudo aquilo que desejar, entretanto, como consumir infinitamente em um planeta com recursos finitos? E quando a grandiosidade de um ideal destrói o mundo palpável e real? 

  Dentre tantas, uma das maiores problemáticas do capitalismo é a negligência em relação às questões ambientais. A degradação ambiental é inerente ao capitalismo pois, para se ter um acúmulo constante e cíclico de riquezas, se faz necessária uma produção tão constante quanto, e um planeta composto por recursos finitos, não comporta uma produtividade infinita.  Como explica a professora doutora da graduação em Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Leslie Denise Beloque, uma das essências da economia capitalista é a busca pelo lucro, e este lucro vem através do ciclo de produção e consumo, logo produzir e vender, implicando desta forma em um consumo equivalente ao ciclo. Para obter êxito, neste modelo cria-se toda uma cultura de consumo em massa.

 A fim de entender como se dá o esgotamento dos recursos naturais, é necessário antes compreender como se mantém esse mecanismo, que é pautado exatamente neste princípio de consumo massivo. Desde muito cedo o fetichismo das mercadorias e as artimanhas capitalistas inserem no imaginário humano, o desejo de consumir, isto não se limitando apenas aquilo necessário para sobrevivência, mas principalmente transferindo aos objetos sensações de prazer, e status social. Os slogans das marcas são a maior prova disto, slogans comerciais e bordões que viram febre e que todos conhecem, que não servem apenas para vender itens, mas para comercializar e personificar emoções, sejam elas referentes à imagem que se tem de si mesmo, como aquela que é passada à sociedade.

Deixando menos abstrato é possível citar clichês como: “Red Bull te dá asas” se referindo a bebida energética, “Você não é você quando está com fome” da marca de chocolates Snickers, “Abra a felicidade” da Coca-Cola, o “Think Different ( pense diferente)” da marca de eletrônicos Apple, entre diversos outros, que como mencionado, transmitem  estados de espírito  a objetos que podem ser mercados.

Pensando que as tendências são cíclicas, aquilo que faz sentido no hoje, não serve mais no amanhã, logo criando novos desejos, que tornam inúteis os anteriores. Diferente dos desejos de consumo que são intermitentes, os recursos naturais, porém, são impermanentes.  José Alberto Silva, geógrafo graduado pela Universidade de São Paulo, pontua que o próprio termo meio ambiente usualmente falado, já merece uma crítica pois exprime uma ideia de que o ambiente é passível de instrumentalização, sendo possível aos seres humanos explorá-lo e modificá-lo.

Como disse o geógrafo, a relação entre o meio ambiente e o ser humano sempre foi uma questão complexa, contudo, no momento atual, as relações capitalistas sobre o  ambiente têm causado efeitos depredadores em escala sempre crescente, transformando a situação já conhecida em um episódio crítico para nossa sobrevivência. 

A busca ilimitada e frenética por recursos naturais e o aumento, cada vez maior, das relações de produção capitalistas, globalizadas, impuseram um ritmo de produção e consumo incompatível com o ritmo da natureza. Os efeitos devastadores deste padrão atingem uma escala de efeito sobre o meio ambiente, superior a qualquer outro modo de produção anterior. Nesse momento, as indústrias abusam de um objetivo onde o importante é um alto grau das forças produtivas. Mas essas, ao operarem num ritmo avassalador, acabam sobrecarregando a natureza. 

Lucro constante

O objetivo de lucro constante, faz com que as produções de mercadorias tenham que sempre ser em ritmo muito elevado, gerando uma depredação dos recursos naturais em larga escala, e a intensidade dos efeitos causados pelas relações de produção capitalistas atingem todo o globo. Então, com uma presença muito maior do que em momentos anteriores, pela primeira vez na história, a humanidade se encontra alcançando níveis de causa e efeito nunca antes experimentados. Isso tudo, em virtude ao modo de produção dominante baseado na utilização dos recursos naturais de forma desenfreada, alheio aos ritmos de reprodução da natureza. 

A crise ambiental aparece, assim, como aquela capaz de lembrar à humanidade – ou ao menos àqueles que insistem nesse modo de produção ilimitada – que existem limites físicos, orgânicos e químicos para a sua expansão. 

Contudo, a exploração do homem e da natureza até o seu esgotamento não reflete uma contradição do capitalismo, já que, no seu plano econômico, o próprio capital faz com que essa crise já atinja variados grupos sociais, de forma desigual. A mesma, reflete as contradições clássicas inerentes ao modo de produção capitalista. A globalização do capital acentua ainda mais tais contradições em nível global, caracterizando o cenário de crise. 

O avanço feroz sobre a natureza na busca pela produção de valor, resulta numa mercantilização inimaginável de todas as formas da vida humana. São exemplos disso, a privatização de recursos naturais antes comunais (terra, água, ar), além da degradação e poluição dos ambientes naturais em ritmos alarmantes. 

Preocupada basicamente com o crescimento econômico e o fluxo monetário, a economia muitas vezes deixa de lado o fato de que a biosfera é finita e que é preciso ajustar-se aos limites da natureza.  As pessoas estão usando os recursos naturais cada vez mais e não estão dando tempo suficiente para que o planeta possa se recuperar. Isso se torna mais evidente por causa do aumento do desmatamento - que tem modificado o clima e o regime hídrico de algumas regiões do País -, erosão do solo, emissão de CO2, o aquecimento do planeta e outros. 

Esse consumo negligente, faz com que a cada ano os recursos sejam esgotados cada vez mais cedo. De acordo com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), a atual superexploração dos recursos naturais está criando um enorme déficit. Anualmente, são consumidos 20% a mais de recursos em comparação à quantidade regenerada, e esse percentual não para de aumentar.

            O consumo descontrolado dos recursos gera diversos impactos, como por exemplo o desaparecimento dos habitats essenciais para a fauna e flora, ou seja, a extinção de espécies. Existem cerca de 30 milhões de espécies animais e vegetais diferentes no mundo e, dessas, aproximadamente 26 mil estavam ameaçadas de extinção, segundo pesquisa de 2018 da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Também são provocados reflexos na área da saúde pelo mesmo fator: se as florestas não forem preservadas, haverá menos sumidouros de carbono - denominação dada aos lugares, atividades ou processos em que as quantidades de CO2 absorvido são maiores do que as emissões - e, portanto, mais poluição do ar. 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), nove em cada dez pessoas no mundo respiram ar com altos níveis de poluição e sete milhões de pessoas morrem anualmente por conta da contaminação. Atualmente, muitas empresas incorporam em seus discursos o vocabulário ecológico, promovendo o discurso de políticas de imagem verde. Entretanto, ocultam e banalizam os danos e as contradições ocasionados por elas mesmas, de modo que o discurso capitalista – que visa somente o crescimento e os interesses do mercado - contribui para desviar a atenção dos conflitos ecológicos gerados. 

 

Mudanças

Esses fatores implicam em mudanças profundas no modo de vida do planeta. Se o atual ritmo de exploração dos recursos do planeta continuar, não haverá recursos suficientes para a preservação da vida. O desafio atual é conseguir mudar essa lógica e optar por uma sociedade economicamente e ambientalmente equilibrada, onde um novo modelo de desenvolvimento consiga conciliar economia e a conservação da natureza. 

Sendo assim, além de soluções tecnológicas e políticas, é necessário que haja uma trasnformação de comportamento dos indivíduos, de modo que o estilo de vida das pessoas seja reestruturado. Porém, a principal dúvida é: estaremos dispostos a mudanças em nossos padrões de comportamento?

Algumas sugestões apontadas pelos especialistas para tentar diminuir o impacto no planeta são:

Preservar o capital natural ao restaurar os ecossistemas deteriorados e seus serviços;

Melhorar os sistemas de produção ao reduzir consideravelmente os objetos, materiais e recursos utilizados no desenvolvimento da vida humana e o volume de resíduos nos sistemas de produção;

Gerenciar os recursos de modo sustentável, e potencializar a produção de energia renovável;

Reduzir a dependência de combustíveis fósseis, buscando fontes de energias menos poluentes, ampliar o uso de energias renováveis, aplicar novos padrões na coleta de lixo, também são outras medidas que contribuem para desacelerar os efeitos causados.

A economia não pode mais deixar de lado as questões ambientais e somente perseguir a ideia de crescimento ininterrupto, pregando um progresso a qualquer custo. É preciso mudar o rumo da produção intensa e frenética que compromete o futuro do planeta e, consequentemente, da humanidade. A partir do momento em que o sistema econômico vigente não é mais compatível com o sistema ecológico oferecido pela natureza, gerando graves crises ambientais, se faz necessária uma nova adaptação dessas relações, em que seja feita uma distribuição mais ética dos recursos, respeitando os ecossistemas.

Entretanto, um conjunto de fatores fora das mesas é o que determina o sucesso e o fracasso nesse meio
por
Guilherme Silvério Tirelli
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11/11/2022 - 12h

Por Guilherme Tirelli

Milhares de espectadores, o coração batendo mais forte, a uma mão da glória eterna. Para os amantes, o barulho das fichas é paralisante e ensurdecedor. Nesse dia, poderia ser ouvido do outro lado do salão. A tensão estava no ar e qualquer decisão errada poderia colocar em risco a trajetória de uma vida de trabalho. Esse era o cenário da mesa final do Main Event da World Series Of Poker - WSOP, principal série de torneios do circuito mundial. Um bracelete conquistado é como se fosse uma taça de Copa do Mundo, sonho de consumo de todos os jogadores que já se aventuraram em uma mesa. Foi assim que o amador Chris Bryan chocou o planeta e transformou para sempre o Poker. Após vencer um satélite – uma espécie de etapa classificatória para um torneio maior – o americano derrotou a desconfiança da maioria e sagrou-se o campeão em 2003, arrematando o prêmio de US$ 2,5 milhões. Foram 838 jogadores que não foram páreos para a então zebra. A partir desse momento, tudo mudou. O “efeito Moneymaker”, apelido atribuído ao jogador após conseguir a façanha de derrotar os profissionais, atingiu o esporte.

Mesa final da WSOP
Mesa Final de evento da WSOP

Desde então, milhares de jogadores ao redor do planeta buscam replicar os passos do amador campeão para, enfim, colocar seu nome na prateleira dos melhores do mundo. Em contrapartida, ainda existe uma nuvem de preconceitos acerca da legalidade do Poker. A forte ligação com os cassinos, não joga a favor, levando em consideração que esses lugares remetem aos famigerados jogos de azar. Entretanto, na realidade, o esporte consiste em uma mínima parcela de sorte combinada a muita disciplina, dedicação, estudo, habilidade, técnica, psicologia aplicada, além da probabilidade. É bem comum nos depararmos com as mesmas figurinhas marcadas fazendo sucesso nos torneios mais importantes ao redor do globo.

No fim, salvo alguma exceção, os mesmos cinco ou dez jogadores são os mais lucrativos. É irreal afirmar que essas são as pessoas mais sortudas que existem – alguma coisa de diferente eles fazem em comparação com os outros. Talvez tenham investigado a fundo o jogo a ponto de descobrirem detalhes que podem ter passado despercebidos aos olhos dos seus principais oponentes. No entanto, é fato que o Poker ganha novos desdobramentos a cada dia. A cobertura e repercussão da mídia também tem contribuído para que o esporte ganhe mais espaço. Contudo, ainda é cedo para afirmar que a percepção cultural a respeito das grandes apostas (High-Stakes) tenha mudado do dia para a noite.

No início do século XX, o Poker foi declarado ilegal no estado de Nevada, nos Estados Unidos. No entanto, após o esporte ter sido considerado mais um jogo de habilidade do que de azar, as autoridades da Califórnia determinaram que as leis não poderiam ser aplicadas nesse caso. Essa decisão foi o ponto de partida para o desenvolvimento e ganho de popularidade do esporte. No ano de 1931, ele é finalmente legalizado em cassinos no estado americano, o que marca o início do fenômeno “Las Vegas”. A partir desse momento, toda e qualquer mesa, seja ela online ou no cassino, passa a seguir um conjunto de normas estritas e medidas que priorizam a segurança dos jogadores e promotores dos eventos.

Fenômeno Las Vegas
Fenômeno "Las Vegas" atingiu o poker

É esse caráter de evento esportivo internacional que marca um dos lados mais fascinantes do Poker. Jogadores de cada canto do planeta, decks de cartas embaralhados pelas mãos velozes e precisas dos dealers. Foco, concentração e tranquilidade são ferramentas essenciais para alcançar o sucesso. É possível vislumbrar-se dentro desse meio badalado e repleto de celebridades. Entretanto, os bastidores do cotidiano de um vencedor requer muito sacrifício. Um exemplo claro disso é o ex-jogador Fedor Holtz. Determinado a ser bem-sucedido, o alemão chocou a todos quando anunciou que daria uma pausa no auge da carreira, aos 22 anos. Hoje, com 29, seu currículo é ainda mais incontestável. São US$ 36,2 milhões em prêmios ao vivo, sem contar seus ganhos online.

O talento e competência do alemão, eleito o melhor jogador do mundo em 2015 e 2016 é outro componente que atesta a existência de uma ciência por trás desse esporte. O que há na verdade é uma grande diferença entre o profissional e os “gamblers” (apostadores). Enquanto os primeiros seguem toda uma lógica racional, regras de bankroll - (saldo disponível para jogar) - e passam horas do lado de fora das mesas estudando o jogo, para o gambler, nada disso importa. Eles são apostadores natos que perderiam carros, imóveis, joias e bens por serem obsessivos. Saber lidar com suas emoções é a chave para tomar as melhores decisões a longo prazo. É exatamente por conta disso que um é bem-sucedido e o outro volta para casa endividado.

O filme Rounders: Cartas sobre a mesa, dirigido por John Dahl e estrelado por Matt Damon e Edward Norton traz à tona essa questão. No longa-metragem, os protagonistas desempenham papéis completamente opostos no decorrer da trama. Enquanto Mike é um talentoso jogador de Poker, seu amigo Worm é um apostador compulsivo. Após perder uma quantia de dinheiro em uma mão, Mike decide afastar-se das mesas e arranjar um emprego que lhe daria estabilidade. Porém, precisando de dinheiro depois de sair da prisão, Worm retorna as mesas a fim de recuperar o que perdeu. Após destacar toda trajetória e crescimento do personagem de Damon, a película tem em seu desfecho uma mensagem muito importante: O poker foi, é, e sempre será o mesmo jogo.

Filme Rounders
Pôster do filme "Rounders", dirigido por John Dahl

O filme, entretanto, assim como a novela "A força do querer", exibida pela TV Globo em 2017, também levantam uma série de debates importantes. Ambas as narrativas trazem personagens compulsivos e suscetíveis ao vício. O assunto é delicado e precisa ser abordado com muita responsabilidade, uma vez que ele não é exclusivo do Poker. Álcool, cafeína e celular são exemplos de fatores que podem causar dependência. Da mesma maneira que não se pode abusar deles, com as cartas a história é a mesma. É por esse motivo que a psicologia e a parte emocional desempenham um papel essencial nessa área. Portanto, não é por acaso que os times investem muito tempo e dinheiro nisso. É comum as grandes equipes contarem com psicólogos, nutricionistas e preparadores trabalhando em conjunto com os atletas, a fim de prepará-los para qualquer tipo de adversidade que eles podem encontrar nas mesas.

Amparados pelos times, os jogadores são capazes de performar no mais alto nível. As ferramentas disponibilizadas pelas equipes, tais como softwares e programas, são utilizadas em massa para destrinchar milhares de mãos a todo momento. O processo consiste em analisar uma parte do histórico recente dos jogadores e mapear todos os pontos cegos, além das probabilidades de vitória. De acordo com Luís Tirelli, jogador profissional de Poker e membro do Brazilian Poker Crew – BrPc, todo esse processo é vital para os atletas tomarem decisões lucrativas a médio e longo prazo.

 

Além do BrPc, outros times desempenham papel de destaque no cenário internacional. Também por esse motivo, o Poker tornou-se o esporte individual que mais cresce no planeta. Apenas no Brasil, como sugere o CEO da Betsson, André Gelfi, mais de R$ 10 milhões são movimentados nas mesas anualmente. Com a pandemia do Coronavírus, os números aumentaram exponencialmente, já que muitas pessoas encontraram nesse esporte, um novo hobby. Além disso, com a suspensão dos torneios e as portas dos cassinos fechadas, a alternativa que a maioria dos milionários encontraram foi aventurar-se nos feltros online. Apenas nesse ano, o SCOOP – Sprint Championship of Online Poker, série de eventos promovida pela PokerStars, distribuiu mais de US$ 75 milhões em prêmios. Já o WCOOP – World Championship of Online Poker, mais US$ 85 milhões.

Esses números retratam um mercado em constante ebulição. A pandemia apenas alavancou o crescimento do esporte. Figuras como Neymar e Ronaldo, são grandes responsáveis pelo engajamento das plataformas e popularização do esporte. O atual camisa 10 da seleção brasileira inclusive ampliou seu acordo com a PokerStars e ganhou uma atração no site. O Neymar Jr – Kickoff permite aos jogadores uma imersão ao Poker atrelada ao futebol. O lucro demasiado da marca provém de uma taxa, chamada de “Rake”. Em cada mão, seja ela jogada online ou Live, parte do montante apostado pelos jogadores é retida pelos sites e cassinos. Portanto, não existe mágica. É dessa maneira que os sites obtém o lucro.

Sorte ou Azar?

Um dos principais levantamentos realizados pela empresa americana de software, Cigital, analisou 103 milhões de mãos de Poker online. Em 76% delas, o vencedor ganhou sem precisar mostrar suas cartas no final da rodada. Logo, a sorte não é um fator essencial para tornar-se bem-sucedido. No fim da história, ele é um esporte da mente, jogado também com o coração. O melhor jogador do mundo não é aquele que sabe mais sobre o jogo, ou o que tem mais habilidade, nem mesmo o mais focado e calculista. No fim, os amadores são presas fáceis, pois não aprofundam seu conhecimento, os bons jogadores lucram com o baralho, mas os melhores, eles não jogam as cartas, mas sim os oponentes. É isso que transforma o Poker em um dos certames mais célebres do planeta.

Como é possível conciliar o bem-estar social e manter o crescimento do PIB?
por
Lucas Santoro Galvani
Matheus Pogiolli de Oliveira
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04/11/2022 - 12h

Desde o lançamento do Programa Auxílio Brasil no dia 29/12/2021, através da Lei n°14.284, foi marcada a extinção e “repaginação” do até então vigente Programa Bolsa Família, operante no país desde do ano de 2003. A tentativa da gestão Bolsonaro de se apropriar de um programa social tão significante às vésperas de um ano eleitoral foi evidente. Apesar do valor do programa ter passado por um aumento de 33%, vale ressaltar que, durante os 3 anos prévios do governo, o valor manteve-se estagnado, inclusive durante a crise econômica e sanitária acarreta pela pandemia da COVID-19.

Para poder utilizar o Auxílio Brasil, é requerido que a família beneficiária tenha como renda familiar per capita R$105,00. Ou seja, aproximadamente 11% do atual salário mínimo, cujo valor atual é de R$1.212,00. Pensando nisso, surge uma questão catalisadora: será que o subsídio, agora de R$600,00, é suficiente acerca do contexto inflacionário atual do Brasil?

Segundo dados de setembro de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA acumulado do último ano foi de 7,17%. Um aumento significante e que por si só não expressa a realidade da maioria da população. Segundo uma nota técnica elaborada pela IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em conjunto com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e do Cepea/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), as commodities agrícolas brasileiras alcançaram valores recordes no ano de 2022. Itens como o milho, o trigo, a soja, o café e outros insumos de extrema importância para a alimentação cotidiana, sofreram uma elevação drástica em seus custos, que contribuiu imensamente com a volta do Brasil ao mapa da fome.

O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado em junho deste ano, apresentou dados alarmantes sobre a fome no território nacional. São, ao todo, 33,1 milhões de brasileiros que passam fome. Este valor representa pouco mais de 15% do número de habitantes da nação, além de demonstrar um aumento de 20% referente aos dados de 2020.

Tendo em vista isso, como os programas assistencialistas atuais conflitam tanto com o que há de mais básico para o ser humano? Para Marcelo Cintra, economista e analista de M&A, a principal prioridade do país não deveria ser as questões orçamentárias. “Acredito que, por mais que o Brasil esteja passando por um momento econômico muito delicado, é essencial que as necessidades básicas da população sejam atendidas, por mais que a conta chegue alguma hora”. Segundo Marcelo Cintra, existem inúmeros fatores que afetam diretamente no orçamento da nação, como é o caso das sanções à Rússia por parte do Ocidente e a pandemia, mas que as políticas assistencialistas necessitam coexistir juntamente com a economia de maneira simbiótica.

Em relação a um possível acréscimo na “renda mínima” brasileira, Marcelo Cintra afirma “é necessário que os programas de renda auxiliar sejam condizentes ao cenário econômico e cambiantes conforme os índices inflacionários e outros fatores macroeconômicos, juntamente com o salário mínimo”. Portanto, é necessário que o Estado saiba conciliar, harmonicamente, o orçamento com as necessidades fisiológicas de cada indivíduo.