Declarações podem ser entregues por programa disponível no site da Receita Federal ou de forma online pelo e-CAC;
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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26/03/2025 - 12h

 

A Receita Federal liberou acesso à Declaração Anual do Imposto de Renda na segunda (17). Será possível realizar a entrega até às 23:59 do dia 30 de maio. 

A Declaração desempenha um papel fundamental na captação de recursos para que o Governo tenha controle sobre a arrecadação de dinheiro que financia serviços públicos.

Dentre as principais mudanças neste ano estão: 

  • A ampliação de isenção para rendimentos tributáveis 

O valor de rendimentos tributáveis anuais que obrigam a entrega da declaração subiu de R$ 30.639,90 para R$ 33.888,00.
 

  • A declaração obrigatória para mais situações envolvendo bens e investimentos no exterior  

  • Trusts e contratos estrangeiros: Quem possuía trusts ou contratos similares no exterior em 31 de dezembro de 2024 agora precisa declarar;

  • Regime de Transparência Fiscal: Quem optou por declarar bens e rendimentos de entidades controladas no exterior como se fossem pessoais precisa informar na declaração;

  • Atualização de imóveis a valor de mercado: Quem optou por atualizar o valor dos imóveis no Brasil conforme a lei de bens e imóveis no exterior deve declarar essa escolha.

  • Declaração pré-preenchida mais completa

A Receita Federal ampliou o cruzamento de dados disponíveis na declaração pré-preenchida. Neste ano, informações sobre criptoativos e transações imobiliárias também estarão incluídas. 

  • Mudanças no pagamento e parcelamento 

O imposto pode ser parcelado em até 8 vezes, mas agora o débito automático só pode ser ativado até 9 de maio para a primeira parcela. Depois disso, só vale a partir da segunda parcela. Débitos abaixo de R$ 10,00 não precisam ser pagos imediatamente e podem ser acumulados para exercícios futuros.

  • Autorização para terceiros com novas regras

É possível, neste ano, autorizar apenas uma pessoa física para acessar e transmitir a declaração, com validade de até seis meses.

Quem deve declarar Imposto de Renda? 

 

  • É obrigatório a declaração das seguintes pessoas:

  • Quem recebeu rendimentos tributáveis acima de R$ 33.888,00 em 2024. O valor é um pouco maior do que o da declaração do IR do ano passado (R$ 30.639,90) por conta da ampliação da faixa de isenção;

  • Contribuintes que receberam rendimentos isentos, não-tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte, cuja soma tenha sido superior a R$ 200 mil no ano passado;

  • Quem obteve, em qualquer mês de 2024, ganho de capital na alienação de bens ou direitos, sujeito à incidência do imposto, ou realizou operações em bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas cuja soma foi superior a R$ 40 mil, ou com apuração de ganhos líquidos sujeitas à incidência do imposto;

  • Quem teve isenção de imposto sobre o ganho de capital na venda de imóveis residenciais, seguido de aquisição de outro imóvel residencial no prazo de 180 dias;

  • Quem teve, em 2024, receita bruta em valor superior a R$ 169.440,00 em atividade rural;

  • Quem tinha, até 31 de dezembro de 2024, a posse ou a propriedade de bens ou direitos, inclusive terra nua, de valor total superior a R$ 800 mil;

  • Quem passou para a condição de residente no Brasil em qualquer mês e se encontrava nessa condição até 31 de dezembro de 2024;

  • Quem optou por declarar os bens, direitos e obrigações detidos por entidade controlada no exterior (ou seja, uma empresa ou organização no exterior que é controlada direta ou indiretamente por uma pessoa física ou jurídica residente no Brasil), como se fossem detidos diretamente pela pessoa física;

  • Quem possui a titularidade de trust e demais contratos regidos por lei estrangeira com características similares;

  • Quem atualizou bens imóveis pagando ganho de capital diferenciado (forma específica de tributação sobre o lucro obtido na venda de vens ou direitos) em dezembro/2024;

  • Quem auferiu rendimentos no exterior de aplicações financeiras e de lucros e dividendos;

  • Quem deseja atualizar bens no exterior.

 

Como calcular a parcela que deve ser declarada? 

 

Para fazer o cálculo é importante saber o que significam as seguintes informações: base de cálculo, alíquota e parcela a ser deduzida. Base de cálculo: São os rendimentos tributáveis do contribuinte. Isto é, são os valores recebidos como salários, aluguel, pensão, remuneração por trabalho, investimentos, bônus etc.

Alíquota: Trata-se da porcentagem cobrada em cima dos seus rendimentos. A alíquota do Imposto de Renda é progressiva: quanto mais você ganha, maior a alíquota. 

Parcela a deduzir: Valor subtraído de sua renda para o cálculo do imposto ser proporcional à sua faixa de ganho.

A Receita Federal fornece uma tabela progressiva com os valores mencionados. 

 

Fonte: Ministério da Fazenda 

 

Depois de somar todos os seus rendimentos tributáveis (salário, pensão, bônus) recebidos mensalmente, verifique em que faixa você se enquadra e faça o seguinte cálculo: Salário x Alíquota - Valor a deduzir do IR. 

Por exemplo: uma pessoa que recebe R $2.730,50, já descontado os valores do INSS, se enquadra na faixa de alíquota de 7,5% e deve pagar, anualmente, R $743,85 de imposto de renda. 

Cálculo: 2.730,50 x 7,5/100 - 142,80 = 61,9875 (esse é o valor mensal de imposto que deve ser pago, multiplique por 12 e você terá  R $743,85 que é o valor anual a ser pago). 

Se você é um profissional com registro em carteira, a empresa desconta o pagamento do IR mensalmente do seu salário, então caso o valor que você tenha em receita seja superior ao valor que deve ser pago, você será restituído, caso contrário, deve pagar a diferença.

 

Como declarar? 

 

O aplicativo “Meu Imposto de Renda” não está mais disponível para download em dispositivos móveis. Para quem deseja realizar a entrega dessa forma, é necessário baixar o aplicativo da Receita Federal. Pelo computador você pode realizar o download do programa de Declaração de Imposto de Renda no próprio site da Receita.  A entrega também pode ser feita de forma online pelo  serviço “Meu Imposto de Renda” no Centro Virtual de Atendimento da Receita (e-CAC). A declaração pré-preenchida estará disponível para os contribuintes a partir do dia 1º de abril. 

 

Quais são os documentos necessários?

 

Para declarar o Imposto de Renda corretamente, é essencial reunir documentos que comprovem rendimentos, bens, direitos, dívidas e pagamentos. Isso inclui informes financeiros, comprovantes de salários, pró-labore, lucros, aposentadorias, pensões, aluguéis, doações e heranças. Também são necessários o Livro Caixa, DARFs( Documento de Arrecadação de Receitas Federais) do Carnê-Leão e informes de programas fiscais como a Nota Fiscal Paulista. Para quem opera com renda variável, é indispensável o controle de compra e venda de ações, apuração mensal do imposto e DARFs correspondentes.  

No caso de bens e direitos, devem ser apresentados documentos de compra e venda de imóveis, matrícula, IPTU e comprovação de participação acionária. Informações sobre dívidas e ônus também precisam ser incluídas. Já os pagamentos e deduções devem ser comprovados por recibos de plano de saúde, despesas médicas e odontológicas, educação, previdência, doações e pagamentos a prestadores de serviços. Caso haja empregada doméstica registrada, é necessário o recibo com o número NIT, um código que permite que trabalhadores autônomos contribuam para o INSS.

Além disso, são exigidos dados pessoais e de dependentes, endereço atualizado, cópia da última declaração entregue, dados bancários e atividade profissional. Dependendo dos bens, podem ser solicitadas informações complementares, como inscrição municipal e registro em cartório para imóveis, Renavam(Registro Nacional de veículos automotores) para veículos e CNPJ da instituição financeira para contas e aplicações. Reunir tudo antecipadamente facilita a declaração e evita problemas com a Receita Federal.

                                                                   Prioridade na restituição 

O processo de restituição ocorre para que os colaboradores recebam valores pagos em excesso ao longo do ano para a Receita Federal. As prioridades no procedimento segue da seguinte forma: 

  • Idosos acima de 80 anos; 

  • Idosos entre 60 e 79 anos, deficicientes ou portadores de moléstia grave; 

  • Contribuintes que possuem como a maior fonte de renda o magistério;

  • Quem optou pela declaração pré-preenchida e/ou receber a restituição pelo pix.

  • Outros contribuintes

 

Dentro de cada grupo de prioridade, recebe primeiro quem entregar a declaração mais cedo. 

Calendário de restituição:

1° lote: 30 de maio

2° lote: 30 de junho

3° lote: 31 de julho

4° lote: 29 de agosto 

5° lote: 30 de setembro
 

Quem não declarar o imposto até o dia estabelecido, corre o risco de pagar multa que corresponde a 20% do imposto em pendência, tendo como valor mínimo de R$ 165,74.

O governo federal apresentou, na terça-feira (18), uma medida que determina a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil mensais. O texto ainda precisa passar por votação no Congresso Nacional e ainda propõe descontos para quem recebe entre R$ 5 mil e R$ 7 mil e taxação mínima para alta renda.  

As cobranças estão previstas para 2 de abril
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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10/03/2025 - 12h

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuou mais uma vez. Nessa última quinta-feira (06), o  mandatário adiou, para 2 de abril, o tarifaço de 25% sobre importações do México e Canadá que entrou em vigor nesta mesma semana (04).

Segundo Trump, os importadores norte-americanos não precisarão pagar tarifas sobre nenhum produto que se enquadre no USMCA, um acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá negociado em seu primeiro mandato.

O tratado abrange uma gama extensa de produtos e serviços. Entre eles, produtos agrícolas, manufaturados e de tecnologia.

Na rede social Truth Social, Trump justificou a decisão afirmando que o México tem “trabalhado duro” para garantir a segurança na fronteira: "Nosso relacionamento tem sido muito bom e estamos trabalhando duro, juntos, na fronteira, tanto em termos de impedir que estrangeiros ilegais entrem nos EUA quanto, da mesma forma, impedir o fentanil".

O tarifaço aos países é uma retaliação de Trump que julga que ambos não fazem o suficiente para conter a entrada de  imigrantes e do fentanil - uma espécie de analgésico mais forte que morfina e heroína e que a dependência é um problema de saúde pública nos EUA.

Sobre o Canadá, Trump escreveu na noite de quarta-feira que conversou com o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, mas não está "convencido" de que o governo canadense atuou o suficiente para resolver os problemas de entrada de fentanil e de imigrantes ilegais nos EUA.

Trump confirmou em 10% a elevação na taxa de cobranças contra a China e elevou a alíquota total de taxas para produtos chineses a 20% neste mandato.


Na mira de Donald Trump:

Apesar de não ter sido taxado diretamente, o Brasil pode sofrer com a imposição geral  de 25% para importações de aço e alumínio, que deve entrar em vigor no dia 12 de março.

Segundo dados do Governo Federal, em 2023, os EUA compraram 18% de todas as exportações brasileiras de ferro fundido, ferro ou aço. Em 2024 o país foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, em volume, de acordo com dados do Departamento de Comércio americano, atrás apenas do Canadá.

Além da taxa geral para esses produtos, Donald Trump também prometeu uma taxa recíproca a países que cobram dos EUA, citando o Brasil: "Em média, a União Europeia, China, Brasil, Índia, México, Canadá e inúmeras outras nações nos cobram tarifas muito mais altas do que cobramos deles, o que é extremamente injusto", disse Trump, em longo discurso no Congresso dos EUA, na terça-feira (4).”

Além de ferro e aço, o petróleo e o café são as principais exportações do Brasil para os estadunidenses.


Imagens: Agência Brasil

Medida irá impactar benefícios que excedem limite constitucional recebidos pelos “funcionários de elite
por
Marcelo Barbosa
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06/12/2024 - 12h

 

O Governo enviou na segunda-feira (02), ao Congresso Nacional, a PEC que detalha uma série de medidas para conter os gastos das contas públicas. O intuito é gerar uma economia de mais de 300 bilhões até 2030.

A proposta visa alterações essenciais para aumentar a arrecadação e manter os limites do Arcabouço Fiscal. Uma das mudanças apresentadas está na redução dos chamados “supersalários” de servidores públicos.
 

Salário e adicionais no serviço público: regras e limites na teoria

Os servidores públicos têm um teto salarial estabelecido em R$44.008,52 mensais, além dos benefícios e adicionais, desde que observadas as regras específicas de cada caso.

O auxílio-moradia, por exemplo, é restrito a situações em que não haja imóvel funcional (cedido pela União para o funcionário público) disponível na localidade; o agente não more com outra pessoa que já ocupe um imóvel funcional ou receba o benefício; ou quando o servidor não possua residência própria na região.

Já o adicional de férias não pode superar um terço da remuneração e deve ser limitado a períodos de até 30 dias por exercício. Da mesma forma, as férias não aproveitadas só podem ser pagas em casos de demissão, aposentadoria ou falecimento, respeitando o limite de 30 dias por exercício.

Entre os auxílios mais comuns no cotidiano do servidor, o auxílio-alimentação tem seu valor máximo fixado em até 3% do teto salarial, o mesmo limite aplicado ao auxílio-transporte. Para filhos ou dependentes de até cinco anos, o auxílio-creche também é regulamentado, com um valor que não deve exceder 3% do teto por dependente.

Além disso, benefícios como o 13º salário, adicional noturno, remuneração por serviços extraordinários e aviso prévio proporcional ao tempo de serviço estão garantidos. Em ambientes de trabalho insalubres, o adicional de insalubridade é assegurado. Ressarcimentos relacionados ao exercício da função, como indenizações pelo uso de veículo próprio em serviço, são limitados a 7% do teto. Também está previsto o reembolso de mensalidades de planos de saúde, que pode chegar a até 5% do teto.

O salário-mínimo do trabalhador médio está em R$1.412 e, com as projeções do PIB para 2025, a previsão é de que chegue em R$ 1.525,00.  Professores, por exemplo, têm, em média, um salário de RS 4.250,00 reais, constatou o Glassdoor, uma plataforma online sobre o mercado de trabalho.  

No entanto, apesar do teto estabelecido ser de R$ 44.008,52 mensais, há diversas exceções e valores extras aos chamados “funcionários de elite”,  responsáveis por atuar em áreas específicas do setor público, como segurança, diplomacia e finanças, e que causam um rombo de até 3,9 bilhões de reais aos cofres públicos, de acordo com um estudo do CLP (Centro de Liderança Pública). 

 

Equipe econômica do governo Lula.
Projeto que pretende acabar com supersalarios enfrenta resistência de militares. Foto: Agência Brasil

Segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU), os salários dos militares reformados custam 16 vezes mais aos cofres públicos do que os aposentados do INSS. O gasto por pessoa com os militares foi de R$ 158,8 mil, enquanto o dos servidores públicos foi de R$ 69 mil e o dos aposentados do INSS foi de R$ 9.400.

A respeito do corte nos supersalários, a economista Cristina Helena Pinto de Mello pontua sobre o forte apelo público da proposta “Quando a gente pega o gasto do Governo com salários de toda a administração pública, incluindo o legislativo e o judiciário, que estão dentro dessa folha de pagamento, essa é uma das maiores despesas”, comenta, mas ressalta que os gastos com juros ainda ultrapassa o valor gasto com supersalários. 

Na segunda-feira (02) o presidente Lula se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, outros três ministros do Palácio do Planalto e líderes do Congresso para discutir o tema. 

No caso da aposentadoria dos militares, a resistência das forças armadas fizeram com que o Ministério da Fazenda recuasse e retirasse, temporariamente, a regra da PEC. Entre os pontos do texto que seriam debatidos, estavam o fim da chamada "morte fictícia", que assegura pensão a militares expulsos ou excluídos das Forças Armadas e uma uma transição mais longa para a adoção da idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares (o projeto apresentado pela equipe econômica sugere ampliação de 50 para 55 anos). A ideia é implementar uma regra progressiva, permitindo que a exigência de 55 anos seja atingida apenas em 2030.

O Congresso tem apenas três semanas de atividades antes do recesso para apreciar essas medidas, além de outras propostas relevantes, como o projeto que finaliza a reforma tributária e a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Entenda proposta de corte de gastos de R$ 70 bilhões anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad
por
Beatriz Alencar
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03/12/2024 - 12h

O texto do novo pacote de gastos e aumento da isenção do Imposto de Renda foi anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quinta-feira (28), e movimentou opiniões dentro do setor econômico e social, com dólar batendo o valor histórico de R$ 6,11.

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Ministro da Fazenda Fernando Haddad | Foto: Reprodução/Transmissão Ministério da Fazenda

Mas qual de fato é o objetivo desta pauta que demorou semanas para ser anunciada e o quê isso tem a ver com o salário mínimo e arcabouço fiscal?

Basicamente, a ideia de Haddad de fazer um pacote fiscal agora é tentar cortar R$ 70 bilhões para ajustar a explosão dos gastos públicos projetados para os próximos anos e garantir a sustentação do arcabouço fiscal, medida que tem como objetivo o equilíbrio entre arrecadação e despesas do governo, aprovada no ano passado. 

A primeira mudança citada pelo ministro para cumprir essas metas foi o reajuste no salário mínimo com a adequação aos limites do arcabouço fiscal e inflação, o que significa um ganho real entre 0,6% e 2,5%. Atualmente para o reajuste de salário, o Governo considera a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB) do país . 

De acordo com o Economista e pesquisador Emerson Braz, o abono salarial e o teto do reajuste do salário-mínimo são medidas que representam direitos dos trabalhadores que hoje possuem menor representatividade no Congresso Nacional:“ [Isso] faz com que sejam medidas que não sofram ajustes significativos em seus textos na fase de aprovação”.

Braz acrescenta que esse reajuste pode ser uma perda de ganhos reais para os trabalhadores: “Imaginando um cenário em que o PIB possa estar estagnado e o arcabouço apertado, o salário-mínimo (SM) poderá não ter alterações e afetar a economia”, explica. O que pode gerar um problema considerável na desigualdade social ou na superação da pobreza. 

Com o novo pacote, o abono salarial, que é um benefício concedido uma vez por ano ao trabalhador que recebe até dois salários mínimos (R$2.824,00), seria limitado para quem recebe até R$2.640,00 e corrigido pelo INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor. A medida, ao longo dos anos, irá reduzir a parcela beneficiada, já que o salário cairá gradualmente para um salário mínimo e meio por mês. 

Outra mudança que causou grande movimentação de opiniões foi a medida sobre o Imposto de Renda. Hoje, aqueles que ganham até R$ 2259,20 por mês não pagam imposto. A nova proposta prevê que a isenção será estendida para quem ganha até R$ 5 mil. Só essa alteração deve gerar um impacto de R$ 35 bilhões por ano nas contas da União.

“Essa é uma medida muito interessante e necessária. Pessoas que ganham até R$ 5 mil consomem a maior parte da sua renda e, ao sofrerem menos tributação, terão como destinar maior parte para o consumo, mantendo a economia aquecida”, argumenta o economista.

Como uma forma de cobrir essa isenção, o governo pretende aumentar a tributação para os rendimentos acima de R$50 mil e R$ 1 milhão mensais, como a forma “mais justa” de compensar a queda de arrecadação com a nova faixa de isenção, de acordo com Haddad.

“A alteração na alíquota do IR não deve ser vista apenas com o objetivo de equidade de renda, mas como um instrumento de manter a demanda (de mercado) aquecida”, acrescenta Braz.

O pacote também prevê a reforma das emendas parlamentares, que limita o crescimento das emendas impositivas ao arcabouço fiscal, estabelecendo um teto para o aumento das despesas parlamentares. Além disso, 50% dos recursos das emendas de comissão deverão ser destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

O texto apresentado pela equipe econômica também propõe mudanças na aposentadoria de militares. A medida sugere uma padronização da contribuição dos militares ao Fundo de Saúde e o fim da chamada “morte fictícia”, que garante uma espécie de pensão vitalícia para a família de um militar que foi expulso das forças, na mesma condição de falecimento do servidor. 

Alterações nos benefícios sociais como o Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC), também foram citadas no texto. Agora, passarão a ter mais regulações, como comprovação por biometria do beneficiado.

“O fato é que a comunicação do Governo para anunciar medidas de austeridade e controle das contas públicas junto com a medida de isenção do IR tornou o cenário caótico”, comenta o economista.

Após um mês de reuniões e tratativas, o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, explicou que o debate do pacote fiscal será prioridade nas próximas semanas, antes do recesso de fim de ano no Senado. A proposta ainda pode sofrer mudanças nas aplicações ou exclusões de medidas.

Brasil passa por um momento decisivo entre mudanças para arrecadamento e corte de gastos
por
Maria Eduarda dos Anjos
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19/11/2024 - 12h

A penúltima reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) aconteceu semana passada e sua ata, publicada no dia 12, apresenta a decisão unânime de elevar a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) a 0,5 pontos percentuais, levando a taxa de juros básico do país de 10,75% para 11,25%. 

Esse aumento vem como medida para, principalmente, conter a inflação, produto do balanço negativo entre os ganhos e gastos do Estado brasileiro, além de responder de forma defensiva à recente eleição de Donald Trump.

Primeiro, é importante entender o que o COPOM, SELIC, juros básicos e inflação significam na vida do brasileiro. O Copom é um grupo composto pelo presidente do Banco Central (BC) e seus diretores que, a cada 45 dias, decidem a taxa básica de juros da economia, a Selic. 

A taxa básica é a principal forma do BC tentar conter a inflação econômica. Na balança, são ponderados o estado das contas públicas, a situação internacional política e monetária, estado da inflação, movimentação do mercado de trabalho entre outros fatores, tudo para assegurar que o reajuste do juros contenha a inflação, não desvalorize o real perante outras moedas e não diminua o poder de compra da população. 

Uma das razões para o aumento da Selic é a diferença entre o gasto e o arrecadamento público de R$7,3 bilhões até setembro de 2024. Para exterminar esse déficit primário, o BC sobe o juros básico, ou seja, a promessa de valorização de seus ativos, e vende tais ativos aos bancos. 

Dessa forma, o Banco Central consegue caixa de forma mais imediata e oferece a promessa de lucro futuro para os bancos. O problema é que esse ciclo se repete e cria uma bola-de-neve. 

A economista e professora da PUC SP, Cristina Helena, explica que “o governo pega dinheiro emprestado todo mês para cobrir o déficit, que não conta com o valor dos juros dos demais empréstimos que já pegou, mas que precisa quitar simultaneamente”. O juros aumenta para pagar,também, o que já foi criado no passado pela mesma barganha que se repete.“ A conta da dívida tá fora do resultado primário, aí o montante a ser pago não para de crescer”. 

Essa medida para maior arrecadação vem junto com o pacote de corte de gastos públicos, que será anunciado por Fernando Haddad depois da reunião do G20. Representantes das pastas de Saúde, Educação, Previdência, Trabalho e Desenvolvimento Social foram chamados para discutir as reduções, já que detém a maior parte de recursos federais. 

Quando o assunto extrapola o doméstico, a eleição de Donald Trump é um fator central. O presidente já anunciou que pretende impor uma tarifa de 10% ou mais sobre todo produto importado do país, uma medida protecionista para privilegiar o mercado interno.

 

Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT
Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT

 Enquanto o aumento da Selic pode ajudar a manter o valor do Real no mercado internacional, a negociação tende ao soft power. “ O Brasil e os Estados Unidos são bons parceiros comerciais um ao outro, mas o Trump não quer só um bom parceiro comercial, ele também pede por um aliado que não seja mercado para a China, por exemplo. A América Latina vêm se beneficiando de compras mais baratas de produtos chineses e venda de minérios mais barato”, explica Cristina. 

Apesar de haver um plano de metas pelo qual a política monetária deveria se guiar, as medidas atuais de arrecadação precisam ser redesenhadas pela sua falta de efetividade, avalia a economista.Até o fim do ano,é previsto o aumento de mais 0,25 pontos para o juros básico, isso reverbera diferentemente entre compradores de títulos do governo e a população média: “ Meio ponto percentual é pouco do ponto de vista de contenção inflacionária e é muito para as famílias, e isso vira uma taxa enorme nos cartões de crédito e cheque especial”.

Mulheres gastam mais tempo que homens com tarefas domésticas; especialista explica que prática é lucrativa ao sistema econômico
por
Isabel Bartolomeu Simão
Juliana Costa de Sousa
Sabrina Alvares Legramandi
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20/04/2023 - 12h

Muitas vezes esquecido, o tempo gasto com atividades domésticas também gera lucro à economia capitalista. O trabalho do cuidado, como é chamado esse tipo de ocupação, está diretamente ligado a questões relacionadas à reprodução social da força de trabalho, tratando-se de atividades como criação dos filhos, alimentação, limpeza e assistência a idosos e enfermos.  

Embora possam ser desempenhadas por homens e mulheres, essas tarefas foram historicamente identificadas   como responsabilidade feminina, levando as mulheres a uma sobrecarga que gera falta de tempo para seu próprio cuidado.  

Um dos problemas é que, mesmo as mulheres sendo designadas ao trabalho doméstico, elas também são chefes de família. Com essa realidade, subempregos e atividades informais se tornaram mais comuns, comprometendo a equalização entre homens e mulheres, a qualificação feminina e os benefícios que são concedidos pela inserção no mercado de trabalho, como a aposentadoria e outras formas de seguro.  

Para Dayana Dimitrov, de 37 anos, moradora de Osasco e mãe de quatro filhos (duas meninas, de 4 e 14 anos, e dois meninos, de 11 e 19), a rotina segue um padrão: “Acordo cedo, limpo a casa, depois vou fazer almoço e dou banho na Alice [a filha mais nova] pra levar ela pra escola. Volto pra casa pra terminar de limpar e depois pego a Alice na escola e faço a janta”.  

Ela ainda fala sobre sua relação com o marido e a falta de apoio familiar, “Aqui em casa é só eu mesma pra fazer tudo. A única coisa que ele [marido] faz é colocar o lixo na rua”.  

Questionada sobre o seu tempo de lazer, Dayana comenta que às vezes é possível aproveitar os finais de semana, mas que gostaria de poder viajar mais com as crianças e fazer uma faculdade de Pedagogia. 

 A realidade de Dayana é como a de outras mulheres e demonstra como o trabalho de cuidado impacta diretamente o sistema político, econômico e social da população mundial.  

Segundo as organizações Think Olga e Oxfam, que lutam pela equidade de gênero e a diminuição de desigualdades sociais, estudos apontam que, em escala mundial, todos os dias, meninas e mulheres dedicam cerca de 12,5 bilhões de horas às atividades de cuidado não remuneradas.  

Na América Latina, a ONU (Organização das Nações Unidas) mostra que, no último ano, as mulheres direcionaram 19,6% de seu tempo às tarefas domésticas e de cuidado.  

Uma pesquisa feita pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), por sua vez, constatou que quase 60% das mulheres que relatam não estar no mercado de trabalho devido às responsabilidades familiares vivem em domicílios com bebês, crianças e jovens até os 15 anos de idade.  

Enquanto isso, no Brasil, o tempo médio semanal dedicado às atividades domésticas ou de cuidado pode chegar a 26 horas, como acontece na realidade de mulheres negras que vivem na Paraíba. No país, a média semanal é de 22 horas para mulheres negras e de 20,7 horas para mulheres brancas. 

 A pesquisa feita pelo IBGE em 2019 demonstra a importância da realização do recorte racial e regional para compreender os efeitos de tais questões na vivência de cada mulher.  

  Duplo impacto 

 A monetização do trabalho doméstico realizado pelas mulheres parece ser uma realidade distante em uma sociedade capitalista, já que não pagar por essa dupla jornada torna o sistema ainda mais lucrativo.  

Camila Kimie Ugino, professora de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), cita um estudo da professora Hildete Pereira de Melo, uma das referências do estudo do feminismo sob a perspectiva econômica no Brasil. Conforme Hildete, em 2017, o trabalho doméstico não remunerado teve um impacto equivalente a 11% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.  

Além disso, a Oxfam estima que esse tipo de trabalho rende três vezes mais que a indústria tecnológica no mundo. O valor chega a US$ 10,8 trilhões, o equivalente a mais de R$ 55 trilhões na cotação atual.  

Porém, não é apenas na perspectiva mundial que o exercício dessa categoria de ocupação tem um impacto significativo. Um estudo da OIT (Organização Internacional do Trabalho), divulgado em 2019, mostrou que as mulheres gastam 3,2 vezes mais tempo do que os homens realizando trabalhos domésticos sem remuneração. Isso equivale a 4 horas e 25 minutos por dia, comparados a 1 hora e 23 minutos dos homens, como aponta Camila.  

A professora ressalta a importância de dar protagonismo às mulheres quando a questão é debatida. “A responsabilidade, no geral, recai somente sobre as mulheres e isso é parte estrutural do desenvolvimento capitalista”, pontua.  

  Na Justiça 

Recentemente, a questão do trabalho não pago realizado em casa foi parar na Justiça na Espanha. Como contou a jornalista Luciana Garbin no jornal O Estado de S.Paulo, um tribunal no país condenou um homem a pagar pouco mais de € 200 mil, que equivale a cerca de R$ 1 milhão, mais uma pensão mensal de € 500, ou R$ 2,7 mil, à ex-esposa por trabalhos domésticos não remunerados.  

A sentença levou em consideração a importância que ela teve no crescimento da carreira do ex-marido, que é empresário e dono de uma rede de academias. Conforme Luciana, a mulher contou ao jornal Málaga Hoy que não podia trabalhar fora, mas chegava a atuar dez horas por dia nos negócios do homem.  

Camila Ugino explica que, no Brasil, também é possível que essa função seja monetizada e mais bem tratada. O primeiro passo, segundo ela, é equalizar os salários de homens e mulheres. Depois, compartilhar os cuidados feitos em casa.  

“É um processo lento, que exige um debate que extrapola o ambiente familiar. É uma questão social”, diz. Outro ponto é usar o aparato jurídico e estatal para tornar a questão possível, de acordo com a professora.  

Já existem alguns benefícios para mulheres que realizam trabalho doméstico sem remuneração no Brasil. Donas de casa têm direito à aposentadoria através da contribuição ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Além disso, como lembra Luciana Garbin, a violência patrimonial, quando o agressor controla os bens pessoais da vítima, é prevista na Lei Maria da Penha.   

Camila lamenta, porém, a maneira como o tema é debatido. "Quem precisa fazer este debate, infelizmente, são as mulheres, largamente prejudicadas”, diz.  

Fenômeno musical intensifica a venda de produtos sul-coreanos no país; álbuns e lightsticks são alguns dos destaques
por
Livia Veiga Andrade
Victor Trovão
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19/04/2023 - 12h

A globalização promoveu o desenvolvimento de conexões dinâmicas entre países. Ao longo de anos, a arte se transformou, chegando ao ponto de conseguir traçar uma forte relação com a movimentação da economia. Com uma crescente popularidade, o Korean Pop, mais conhecido por sua sigla K-Pop, se tornou um fenômeno mundial.

Para além da música, o sucesso dos cantores e dançarinos sul-coreanos movimentou a economia da Coreia do Sul, de forma notória. O estilo musical alcança um número expressivo de pessoas diariamente e movimenta um mercado de bilhões de dólares.

No momento, a Coreia do Sul é uma das maiores potências culturais na medida em que seus produtos conquistam o mercado externo, inclusive o Brasil. Neste aspecto, a Coreia se torna um dos únicos países do mundo que tem como objetivo se tornar líder na exportação da cultura popular.

Entre as consequências deste fenômeno está a abertura de diversas lojas de produtos do universo do K-pop, alimentadas pelo consumo contínuo dos fãs pelo mundo. Há poucos anos, no Brasil, a única opção para adquirir produtos de origem sul-coreana era através da importação, até hoje com um custo muito alto.

Com a alta demanda desde o estouro do estilo musical, o mercado percebeu a possibilidade de lucro através de lojas on-line. Nicolly Stolze, dona da loja Hopescolor, e Risa Madeiro, dona da Akiyama Store, foram fãs que notaram essa carência e decidiram abrir os seus próprios negócios.

A ideia [de criar a loja] surgiu em 2020, porém, a Hopescolor existe desde 2017. A princípio a Hopescolor era uma conta no Instagram onde eu criava designs do grupo BTS apenas por diversão [...] Vi que a indústria do K-Pop no Brasil era muito carente de produtos criativos e acessíveis para os fãs, portanto, estava decidida a criar itens de alta qualidade, únicos e especiais”, conta Nicolly.

Risa teve uma ideia bastante parecida. Em 2016, ela já havia notado a carência que os fãs de K-pop tinham e decidiu criar a sua própria loja baseada na criação de confiança entre ela e o cliente.

Conhecido mundialmente, o grupo masculino do gênero musical BTS é um dos mais importantes agentes desta transformação econômica. Dados recentes do Yahoo Finanças mostraram que o grupo tem impacto direto no PIB (Produto Interno Bruto) da Coreia do Sul. Em 2021, o grupo gerou mais de US$ 11 bilhões para a economia do país, o que significa cerca de 0,3 % do PIB.

Ao longo de anos de investimentos consideráveis na cultura e na tecnologia, no presente a Coreia do Sul é a quarta maior economia da Ásia e a décima primeira maior do mundo com um PIB de US$ 1,811 trilhão. Em relação ao gênero musical, é inegável como ele promoveu a configuração da nação que existe hoje.

Com inúmeros lançamentos musicais todos os meses, os outros grupos femininos e masculinos agitam a economia coreana com a venda de álbuns recheados de fotos conceituais e photocards colecionáveis. O anúncio da venda desses produtos sempre causa o aumento da procura no mercado por lojas que estejam vendendo-os por preços acessíveis.

O item oficial mais vendido nos últimos seis meses foi o álbum FACE, do cantor Jimin do BTS, que foi lançado oficialmente no mês de março, porém, a pré-venda se iniciou em fevereiro, revela a dona da Hopescolor.

Apesar da alta procura dessas vendas, os fãs de K-pop podem se deparar com alguns desafios em adquiri-los por um preço acessível. Variando sempre por conta do dólar, as lojas encontram certa dificuldade em abaixar os valores, já que se trata de um produto exportado.

Na hora de realizar a compra, o cliente recebe apenas o preço final, mas, para as lojas, é necessário considerar alguns pontos para definir tal número. Segundo Risa, da Akiyama Store, é preciso sempre pensar no custo de frete, a variação do dólar e o custo do próprio trabalho, além de sempre haver a necessidade de embrulhar bem o produto para que não haja avarias durante o processo de entrega.

Cada lojinha, como os fãs costumam chamar carinhosamente, encontra uma forma diferente para tentar equilibrar os valores. Risa e Nicolly, por exemplo, trabalham com o dropshipping, que consiste em comprar a encomenda através dos sites oficiais de vendas coreanas, enviar o produto para a casa de um sul-coreano de extrema confiança que já trabalhe com a loja, para que assim seja mandado para o Brasil e distribuído nas casas dos clientes.

“O K-pop contribuiu com muita visibilidade em termos da cultura coreana que não era tão forte no mundo como no Brasil. No entanto, agora eles estão conseguindo disseminar para o mundo inteiro. Então a própria visibilidade que o K-pop dá pra Coreia com certeza ajuda muito na economia”, explica o internacionalista brasileiro, Matheus Bertol, que vive na Coreia há oito anos e acompanhou os acontecimentos na esfera do estilo musical.

Os resultados da exportação são significativos no Brasil, dada a intensificação das relações econômicas entre os países. A oportunidade de negócio é estimulada a partir do consumo dos fãs brasileiros, que gera receita positiva aos empreendedores. Em 2022, a Hopescolor faturou cerca de R$ 380 mil durante o ano. Tudo indica que, neste ano, as vendas serão ainda maiores, a julgar pelo faturamento de R$ 114 mil registrado no primeiro trimestre.

Mais do que nunca, a Coreia do Sul é considerada um exemplo de sucesso na indústria criativa ao apresentar retornos significativos para a economia nacional. Além de números, o fenômeno apresenta outra importante consequência, o crescimento do chamado soft power no mundo, na medida em que passa a influenciar e persuadir outras nações por meio do poder de suas ideias e sua própria cultura, uma abordagem que diverge do tradicional uso da força.

O cenário atual é inteligente de um ponto de vista estratégico, o que colabora com a construção de uma perspectiva positiva no futuro. A fórmula mágica do K-pop não ganhou apenas prestígio internacional, em especial no Brasil, como se transformou em uma commodity para a nação coreana.

“No momento, é do interesse dos criadores de conteúdo coreanos o K-pop em geral porque dá muito dinheiro. A Coreia é um dos países mais capitalistas, tudo é acerca do dinheiro, então talvez tudo tenha chances de aumentar bastante nos próximos anos”, expõe Bertol.

Jogadores do Palmeiras são vítimas de golpe e perdem milhões aplicados no mercado de criptoativos
por
Lucca Ranzani
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14/04/2023 - 12h

No último dia 13 de março, o programa Fantástico, da TV Globo, expôs o caso de um golpe de criptomoedas que jogadores e ex-jogadores do Palmeiras sofreram por parte de uma empresa de investimentos que prometeu lucros acima do comum. 
Os jogadores que sofreram o golpe foram Gustavo Scarpa (atualmente joga no Nottingham Forest da Inglaterra), Weverton e Myke, ambos do Palmeiras. Os atletas se envolveram com a empresa Xland por conta do jogador Willian Bigode (atualmente no Athletico Paranaense), que apresentou a empresa para os colegas de profissão com a garantia de que iria ter um grande retorno financeiro. 

Os jogadores investiram valores milionários (aproximadamente R$ 11 milhões), com a promessa de lucrar cerca de 5% ao mês, uma porcentagem que nenhuma outra forma de investimento oferece hoje. Após um tempo, os jogadores tentaram sacar os valores que imaginaram ter lucrado. Entretanto, quando questionada, a empresa não dava explicações claras, apresentando inúmeras desculpas e fazendo promessas de que no dia X iria ser feito o saque.  

Scarpa ouviu em uma das vezes que cobrou a empresa que ele teria somente R$ 2 mil disponíveis, sendo que tinha investido mais de R$6 milhões. Com isso, ele resolveu entrar na Justiça contra a Xland cobrando os valores prometidos. Porém é bastante difícil recuperar os investimentos realizado, tanto o Gustavo quanto os outros jogadores envolvidos pelo fato de o ramo de criptomoedas não terem uma regulamentação específica e acaba sendo praticamente uma terra sem leis.  

O proprietário da empresa Xland, Gabriel Nascimento, afirma em entrevista ao Fantástico que tem uma garantia financeira em forma de alexandritas, um tipo de pedra preciosa que, segundo ele, é avaliada em R$ 2 bilhões. Porém, recentemente surgiu uma informação de que a empresa apresentou a nota fiscal em que informa que foram gastos somente R$ 6 mil nelas.   

As criptomoedas são moedas digitais que utilizam criptografia para garantir a segurança das transações e controlar a criação de novas unidades. Elas são descentralizadas, ou seja, não são controladas por nenhum governo ou instituição financeira centralizada, e podem ser usadas para diversas finalidades, como compras online, transferências de valores, investimentos e até mesmo para fins especulativos. 

Para Alexandre Vilarinho, planejador financeiro, os jogadores, por terem uma carreira curta, em relação a carreiras como jornalistas ou empresários, e por receberem frequentemente um alto salário em relação à média da população brasileira – somado à falta de educação financeira –     acabam caindo em golpes. Muitos recebem indicações de amigos e parentes sobre indicando formas de investimento pelo fato de os atletas receberem um alto salário. "Às vezes alguns amigos estão recebendo comissão por indicação e por isso acabam sugerindo para os atletas.” 

No caso dos jogadores do Palmeiras, provavelmente foi um caso de esquema de pirâmide, onde o atleta Willian Bigode acabou entrando no esquema da empresa, recebeu algum lucro por ter praticamente só ele investido e, com a falsa sensação de estar em um investimento seguro, indicou para os colegas de time. 
Esse caso serve como um alerta para os riscos envolvidos no mercado de criptomoedas. “É importante que os investidores estejam cientes dos riscos e realizem suas transações com cuidado, escolhendo corretoras confiáveis e realizando pesquisas sobre as criptomoedas antes de investir. Além disso, é necessário haver uma regulamentação mais clara e eficiente para evitar fraudes e proteger os investidores.” 

Outro ponto a ser destacado é a necessidade de educação financeira para o uso das criptomoedas. Muitas pessoas ainda não entendem completamente como elas funcionam e os riscos envolvidos, o que pode levar a decisões precipitadas e perdas financeiras significativas. É fundamental haver uma maior disseminação de informações e uma conscientização sobre os cuidados necessários para investir em criptomoedas de forma segura. 

Um dos principais desafios das criptomoedas é sua volatilidade e falta de estabilidade em relação às moedas tradicionais. As criptomoedas são altamente voláteis e podem sofrer grandes flutuações de preço em um curto período, o que pode levar a perdas significativas para os investidores. 

Em entrevista para a revista Exame, o cofundador da Fuse Capital, João Zecchin,  disse que, a maioria dos golpes envolvendo os criptos ativos já são famosos no mercado financeiro e estão voltados a vulnerabilidades dos próprios investidores. Eles vão desde a prática de phishing para obtenção de dados pessoais até as pirâmides financeiras, mas costumam ter um ponto em comum: a promessa de "ganhos estratosféricos" com esses ativos. 
Victor Jorge, professor do MBA in company da FGV e sócio do escritório Jorge Advogados, aconselhou, na mesma entrevista à Exame, que os investidores interessados em criptomoedas façam um exame aprofundado de cada ativo.  

“Existem diversos mecanismos, softwares e ferramentas, que identificam a origem dos cripto ativos, se é espúria, se tem risco, se é pirâmide, mas demanda um interesse, leitura e interpretação. A transparência dá segurança, mas precisa conseguir interpretar, porque nem todos têm esse conhecimento”, disse Jorge. 

Por isso, sempre que se deparar com promessas de ganhos altos e garantidos, é importante ficar alerta e pesquisar antes de optar pela oferta de investimento. Além disso, sempre é preciso pesquisar sobre as corretoras e pessoas que fazem as recomendações de investimento, e procurar por empresas confiáveis e associadas a companhias conhecidas no mercado. 

Com isso é necessário se tomar cuidado com modelos de investimentos, pesquisar em lugares de confiança, em mídias especializadas, e dar prioridade a investimentos seguros, mesmo que não ofereçam lucros altos.  

Trabalhadores trocam refeições por salgados; alimentos e bebidas acumulam alta de 6,35% nos últimos doze meses
por
Gustavo Zarza e Sophia G.Dolores
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28/04/2023 - 12h

De acordo com a consultoria Kantar, responsável por monitorar o consumo de alimentos fora de casa em sete regiões metropolitanas do país, a troca de refeições por salgados se tornou uma alternativa comum. Em 2022, os brasileiros dessas regiões consumiram 170 milhões a mais de salgados prontos em relação ao período pré-pandemia. No entanto, essa mudança de hábito tem suas consequências. Enquanto o consumo de salgados prontos aumentou, o de refeições diminuiu expressivamente. Isso significa que muitas pessoas estão deixando de se alimentar de forma adequada e saudável, optando por opções mais práticas e baratas, mas que podem comprometer a saúde a longo prazo. 

Outra pesquisa, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que a inflação de alimentos e bebidas acumula alta de 6,35% nos 12 meses encerrados em abril, segundo o IPCA-15. 

Além da inflação nos preços dos alimentos, outro fator que tem contribuído para o aumento do consumo de salgados entre os trabalhadores é a falta de ajuste no valor do vale-refeição. Um levantamento realizado em março de 2023 pela Sodexo Benefícios e Incentivos mostrou que o saldo do vale-refeição dura, em média, 11 dias, enquanto as empresas consideram cerca de 22 dias para o depósito do crédito. Isso significa que os trabalhadores têm arcado com metade das refeições do mês por conta própria. 

Embora algumas empresas tenham aumentado o valor dos benefícios neste ano, segundo a Sodexo, o aumento não acompanhou o custo médio das refeições fora de casa, o que tem levado muitos trabalhadores a fazer escolhas "mais baratas" na hora de se alimentar nos intervalos de suas atividades. Por sua vez, esse desequilíbrio tem contribuído para o aumento da compra de salgados prontos. 

terminal barra funda
Terminal da Barra Funda

É o caso de Kelly, moradora da cidade de São Paulo que enfrenta o transporte público todos os dias para chegar à Barra Funda, terminal conhecido na região metropolitana que reúne num mesmo complexo linhas de ônibus municipais, intermunicipais, interestaduais, internacionais e metropolitanos, trens e metrô, além de preencher seu espaço interno e externo com comércios que facilitam a vida dos mais de 40 mil trabalhadores que passam por ali todos os dias.  

Kelly conta que almoça na rua todos os dias pois não tem tempo de preparar suas refeições em casa, e, com o aumento dos preços de alimentos, lamenta não pensar tanto em sua saúde, mas sim no seu bolso durante a escolha de suas refeições. "Utilizo o VR todos os dias, mas te garanto que se investir em pratos que me dão mais sustância, nem dez dias ele dura. Chega no fim do mês eu finjo fazer uma dieta intermitente pois não sobra nem para os salgados." 

É claro que a alta dos preços dos alimentos tem afetado não apenas o bolso dos consumidores, mas também o desempenho dos comércios de rua, como bares, restaurantes e lanchonetes. Com o aumento dos preços, muitos desses estabelecimentos têm tido dificuldades para manter seus negócios, já que precisam lidar com a queda no número de clientes e com o aumento dos custos. Isso tem levado muitos comerciantes a buscar alternativas para reduzir os gastos e manter seus estabelecimentos funcionando. 

Uma das estratégias adotadas tem sido a redução do cardápio, oferecendo apenas os pratos mais populares e com menor custo. Além disso, a maioria desses comércios têm optado por investir em opções mais acessíveis, como salgados e sanduíches, que têm maior margem de lucro e agradam a um público mais amplo. Gustavo, por exemplo, que trabalha como garçom em uma das lanchonetes ao redor do Terminal Barra Funda, relata que cada dia mais estudantes e trabalhadores de obras procuram opções de lanches e salgados para matar sua fome. Questionado sobre a diminuição de preço dos PF’s (pratos feitos) para ajudar no consumo, ele conta que a gerência até tentou, mas não seguiu com o plano. “Para a gente não compensa diminuir o preço.  o pessoal vem em busca de salgado, aí a gente continua fazendo, né? Difícil diminuir, os preços. Na verdade, eles só aumentam.”  

Segundo Eduardo Fagnani, ao vetar imposto sobre grandes fortunas, Congresso contraria interesses da população
por
Dayres Vitoria e Milena Camargo
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14/04/2023 - 12h

 

Ainda que previsto na Constituição Federal, o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) nunca chegou a ser regulamentado no Brasil. Já são cerca de 33 anos que a taxa segue sem sair do papel. Ainda que seja uma das alternativas consideradas por especialistas como uma das mais promissoras para transformar o cenário dos altos índices de desigualdades, no Brasil, a implantação não vai adiante.

Ao todo, são ao menos 37 projetos apresentados na Câmara dos Deputados e no Senado que propõem a criação efetiva do IGF. O primeiro deles foi destaque ainda em 2008, de acordo com um levantamento realizado pela CNN Business. 

Das 37 propostas, ainda segundo o levantamento da CNN Business, 18 delas foram elaboradas durante a pandemia como uma possível solução para as fortes consequências que a crise da Covid-19 trouxe à população brasileira.

Mesmo em um cenário como o que foi enfrentado, onde recentemente bateu-se a marca de 700 mil óbitos de brasileiros pela doença, a crise não foi considerada motivo para a taxação ir adiante ou dar seus primeiros passos rumo à regulamentação. Até hoje, todas as propostas seguem paradas no Poder Legislativo. 
 

POR QUE ESTÃO PARADAS?

Para o economista  e especialista em política tributária Eduardo Fagnani,  a taxação nunca deu certo na sociedade brasileira porque a bancada do Congresso, em sua maioria, não representa os interesses da população:

 “O Congresso brasileiro, infelizmente, representa  setores da elite. É uma política que consegue eleger muitos parlamentares que defendem interesses corporativos, interesses empresariais, portanto, há uma resistência muito grande para aprovação de qualquer medida que amplie a tributação sobre as altas riquezas.” 

Ainda na visão de Fagnani,a política é uma relação de forças, em que geralmente vencem os mais poderosos. Proporcionalmente, a população de baixa renda é muito mais tributada do que os ricos, o que já seria uma exemplificação desta relação desigual de poder.  Para ele, o grande problema no país é a carga tributária ainda ser muito mal distribuída. Isto acontece, segundo Fagnani, porque 50% do que o Brasil arrecada vem de tributação sobre o consumo. 

“Enquanto nos Estados Unidos é somente 17% a tributação sobre consumo, no Brasil é 50%. Nós capturamos uma parcela da renda dos mais pobres muito mais do que as dos mais ricos. Por outro lado, nós tributamos pouco a renda e a riqueza. No Brasil é somente 23% do que é arrecadado. Nos EUA, é 60%”,  diz Fagnani. 

Segundo o economista, a principal justificativa para a não aprovação da taxação utilizada, principalmente, por economistas e especialistas do mercado, é a provável evasão de capitais do Brasil. Com uma tributação como o Imposto sobre Grandes Fortunas, empresas que investem e possuem capital aqui tirariam rapidamente suas riquezas e as levariam para fora. 

No entanto, para o professor, a atitude de autoconveniência não seria, nem de longe, algo novo a ser feito pelos que possuem maior poder aquisitivo. “Dinheiro lá fora todos os ricos têm, em paraísos fiscais. O dinheiro já está lá exatamente para não pagar imposto”, comenta. Logo, para Fagnani a alegação da evasão fiscal poderia ser contornada se de fato a taxação fosse de interesse da grande maioria do Congresso Nacional brasileiro.   

 

Créditos: Stock Photos
Créditos: Stock Photos 

 

IGF EM OUTROS PAÍSES

 O Imposto sobre Grandes Fortunas foi criado e extinto em diversos países durante anos. Potências como Alemanha, Áustria, Grécia, Holanda e Espanha foram algumas das que ao menos uma vez aderiram à taxação. Nas décadas de 60, 70 e 80, muitos países tomaram a frente da iniciativa. 

Contudo, hoje, a taxação do IGF é vigente apenas em três dos 38 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), entidade que tem por objetivo estimular o progresso econômico e o comércio mundial. 

Os três países correspondem Espanha, Noruega e Suíça. Os dois últimos aplicam a taxação descentralizada e com arrecadação feita pelos governos regionais, sendo cobrada apenas de pessoas físicas. No entanto, o potencial de arrecadação, em ambos, permanece sendo baixo. Logo, os impostos sobre riquezas eventualmente ainda representam uma parcela muito pequena das receitas tributárias.

Na Suíça, as receitas tributárias individuais sobre o patrimônio líquido corresponderam a apenas 1% do PIB, em 2016. Na Espanha o valor foi ainda menor: 0,2%. Na Noruega as alíquotas são de 0,7% para as comunas e 0,15% para o governo central. Já na Suíça os impostos variam de 0,3% a 1%.

Entre eles, a Espanha já chegou a extinguir o IGF de 2008 a 2012. Atualmente, é o único país, dentre as três grandes potências, que apresenta cobrança de imposto centralizado, com alíquotas progressivas, que variam de 0,5% a 2,5%.

 

DESIGUALDADES NO BRASIL 

Segundo um estudo realizado em 2021 pelo World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades Mundiais), o Brasil permanece sendo um dos países mais desiguais do mundo. De acordo com os dados: os 10% mais ricos no Brasil ganham quase 59% da renda nacional total, os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que os 10% mais ricos, a metade mais pobre no Brasil possui menos de 1% da riqueza do país e  1% mais rico possui quase a metade da fortuna patrimonial brasileira (em 2021, praticamente a metade (48,9%) da riqueza nacional). 

Para Olga Hianni, doutoranda em economia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o sistema tributário brasileiro é excepcionalmente anômalo.

Segundo a especialista, o Brasil é um dos únicos países a não taxar os dividendos de acionistas de empresas de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF). Para acrescentar, o país também não taxa grandes fortunas. Além disso, no pagamento do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ), é possível deduzir da parte tributável dos lucros uma parte relacionada aos juros sobre o capital próprio (JSCP). Ações como estas dificultam, e muito, um sistema tributário justo que auxilie na redução das desigualdades do país. 

Frente às estatísticas, sugestões de políticas alternativas precisariam rapidamente ser implantadas para que as desigualdades fossem minimizadas no  decorrer do tempo. Uma melhor redistribuição da riqueza e renda deveria ser um dos focos centrais para solucionar o problema, que confirma sérios problemas nas estruturas tributárias do país e que essencialmente resultam em um peso muito maior para os mais pobres.  

Em suma, para Hianni, há dois fatores que agravam a situação de desigualdade no Brasil: a tributação indireta e a direta. De acordo a profissional, ambas tributações são prejudiciais às camadas mais pobres da sociedade. Para ela, é necessário uma reforma tributária efetiva que solucione os problemas citados e proporcione crescimento econômico e redução das desigualdades de renda no país. 

A economista ainda conclui: “É urgente que o Brasil compreenda que, enquanto não pensarmos em um sistema tributário para crescimento econômico e distribuição de renda, não seremos um país desenvolvido e com bem-estar geral”.