A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Com movimentação milionária, cenário competitivo de eSports tem ganhado cada vez mais atenção
por
Matheus Monteiro da Luz
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05/05/2023 - 12h

Nos últimos anos, o setor de games tem desfrutado de um crescimento expressivo em relação a público e investimentos. “Houve um período de hiato no cenário brasileiro com a queda das peculiaridades da lans houses. Esse cenário só apresentou recuperação em meados de 2009 com a vinda do CS:GO, League of Legends e novas publishers aqui para o Brasil, permitindo assim a entrada do investimento necessário para alavancar o cenário nacional”, conta Leo de Biase, entusiasta e pioneiro dos eSports no Brasil.

Impulsionado pelo crescente interesse dos brasileiros em competições de jogos eletrônicos, bem como pela evolução da tecnologia e pela popularidade dos jogos online, o setor tem se expandido rapidamente e se tornado cada vez mais importante para a economia do país.

“As marcas não viam esse local como algo interessante para ser investido e com isso os valores agregados acabavam sendo muito pequenos. Mas os games deixaram de ser algo de nicho, ou contracultura, para se tornar o mainstream. Isso atrai marcas não só relacionadas a games ou tecnologia, mas também atrai marcas de consumo, de carros e até mesmo bancos”, relata Leo.

Uma das principais evidências desse crescimento é o aumento das premiações em competições de eSports. Nos últimos anos, os prêmios oferecidos têm aumentado significativamente, atraindo cada vez mais jogadores profissionais e equipes para o mercado brasileiro. De acordo com um levantamento da consultoria especializada Newzoo, em 2020, o Brasil foi o 13º país com as maiores premiações em eSports do mundo, movimentando cerca de US$ 3,3 milhões.

Além disso, novos jogos ganharam popularidade e aumentaram a diversidade de opções em que tantos os jogadores como empresas podem investir seu tempo e dinheiro. Anteriormente, os jogos competitivos que faziam sucesso nacionalmente se limitavam ao CS:GO, LOL e Dota 2. Porém, nos últimos anos, Free Fire, Valorant, Overwatch, Fifa  e Rainbow 6 e Fortnite caíram nas graças dos jogadores, desenvolvendo um cenário competitivo bem consolidado no país.

Outro fator que tem contribuído para o crescimento do cenário brasileiro de eSports é a profissionalização das equipes e jogadores. Muitas organizações têm investido em treinamentos, infraestrutura e tecnologia para aprimorar o desempenho de seus jogadores e alcançar melhores resultados em competições. Além disso, muitos jogadores têm se dedicado exclusivamente aos eSports, tornando-se profissionais e se dedicando integralmente às competições e treinamentos.

Com todo esse crescimento, os eSports tem se tornado uma indústria cada vez mais importante para a economia do país. Além das premiações, o setor gera empregos e movimenta a economia de diversas formas, como com a venda de produtos relacionados aos jogos e equipamentos de jogos. Tudo isso torna os eSports um mercado em expansão e uma excelente oportunidade para empresas e investidores interessados em explorar o potencial dessa indústria.

“Quando a gente começou a apresentar números de gente grande, trabalho profissional, deixamos de ser apenas pessoas apaixonadas e agora  podemos contar com mais investimentos. Com isso conseguimos trazer profissionais de maior gabarito de outros segmentos para escalonar cada vez mais o nosso produto”, diz Leo sobre o motivo do crescimento dos eSports no Brasil.

Os eSports têm se tornado uma indústria cada vez mais importante para a economia global. De acordo com outro estudo da consultoria Newzoo, em 2021, a indústria de Esports movimentou  cerca de US$ 1,5 bilhão, um aumento de meio milhão em relação ao período pré-pandemia. Esse crescimento tem impactos significativos na economia de modo geral.

Uma das principais formas de impacto dos eSports na economia é a geração de empregos. A indústria de eSports emprega milhares de pessoas ao redor do mundo, desde jogadores profissionais até profissionais de marketing, produção de eventos, transmissão e gestão de equipes. Além disso, a indústria movimenta diversos setores, como tecnologia, transporte, turismo e alimentação, gerando empregos indiretos em diferentes áreas.

Outro impacto importante é o aumento das receitas das empresas envolvidas na indústria de eSports. Grandes empresas, como fabricantes de hardware e periféricos, patrocinadores, desenvolvedores de jogos e empresas de streaming, têm visto suas receitas crescerem significativamente devido ao aumento do interesse na modalidade. Além disso, as competições de eSports têm atraído a atenção de grandes marcas, que investem em publicidade e patrocínio de eventos, gerando mais receita para o setor.

Além disso, a indústria de eSports tem um impacto positivo na imagem e reputação dos países que sediam grandes eventos. As competições atraem um grande público de diferentes partes do mundo, aumentando a visibilidade e a reputação dos países que sediam esses eventos. Além disso, a realização de competições pode gerar benefícios econômicos para as cidades-sede, desde a rede hoteleira até o comércio local.

Produtos destinados ao público feminino custam em média 12% a mais que itens masculinos similares
por
Ana Kézia Andrade
Bruna Parrillo
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04/05/2023 - 12h
Arte por: Bruna Parrillo
Arte por: Bruna Parrillo

 

A "taxa rosa" é uma atividade comercial que envolve a venda de produtos específicos para mulheres, muitas vezes a preços mais elevados do que os equivalentes masculinos. Esta prática tem sido cada vez mais criticada por ativistas, que argumentam ser uma forma de discriminação de gênero e exploração financeira das mulheres. 

A prática foi amplamente discutida na mídia após uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) em 2016, revelando que os produtos com embalagens cor- de rosa para mulheres custavam em média 12% a mais do que os produtos equivalentes com embalagens azuis. A prática, além de reforçar o estereótipo social de que a mulher é consumista, impacta negativamente as finanças de uma classe que, apesar de pagar mais pelos seus produtos, ganha em média 22% a menos que os homens, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

O estudo realizado pelo IDEC gerou indignação em todo o país,  motivando uma série de ações e discussões sobre o assunto. A partir disso, foi criado o Projeto de Lei 4.240/2019, que proíbe a cobrança de preços diferentes por gênero em serviços e produtos. Ainda assim, a taxa rosa continua sendo uma prática comum em muitas lojas e comércios em todo o mundo. 

As empresas que praticam a taxa rosa geralmente justificam a diferença de preços entre produtos para homens e mulheres com a diferença de custo de produção, alegam que os produtos para mulheres têm custo adicional por causa da embalagem e marketing. Informam que, por possuírem maior demanda e especificidade, obrigam as empresas a cobrarem preços mais elevados.  

Essas justificativas são frequentemente questionadas por especialistas e ativistas. Thatiane Piscitelli, coordenadora do grupo de estudos Gênero e Tributação da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), afirma que a parcela da população que possui um rendimento inferior, também é mais prejudicada, pois utiliza todo o valor recebido para consumir produtos básicos: “Essas pessoas são tributadas integralmente na sua renda, então, proporcionalmente, o mais pobre paga mais. Quando a gente olha para a pirâmide de distribuição de renda no Brasil, quem são as pessoas mais pobres? São as mulheres e, especificamente, as negras”. 

Além da fiscalização intensiva de órgãos de defesa do consumidor contra a prática, a conscientização social sobre o problema para que se denuncie a “taxa rosa”, uma vez que é uma prática constitucionalmente ilegal, afim de atenuar este ônus social que persegue o gênero feminino. A diferença de preços, além de inconstitucional, não é justa, pois perpetua a desigualdade de gênero., A discriminação também está escancarada na alíquota de impostos de produtos de uso predominantemente feminino, como: absorventes menstruais e tampões (27,25%), coletores menstruais (33,75%) e, pílulas anticoncepcionais (30%), que são mais taxados que fraldas geriátricas (9,25%), preservativos (9,25%) e Viagra (18%). 

A consequência das altas alíquotas na tributação de absorventes é transformar um produto de uso essencial, em um item inacessível para uma parcela da sociedade. A falta de acesso a itens básicos de higiene íntima, revela uma situação comum entre pessoas que menstruam no Brasil, a pobreza menstrual. O Instituto de Pesquisa Locomotiva, em parceria com a marca de absorvente Always, aponta que 52% das pessoas que menstruam já sofreram com a pobreza menstrual e 35% afirmam que a compra de itens de higiene pessoal pesa na renda mensal.  

Segundo dados divulgados pelo o IBGE, cerca de 29,4% da população brasileira vive na linha de extrema pobreza, que, por definição do Banco Mundial, corresponde a uma renda mensal de R$ 168. Eliane, uma mulher em situação de vulnerabilidade, comenta sobre sua indignação com a falta de acesso aà itens essenciais de higiene feminina. “Nos postos em que distribuem preservativos, também poderiam distribuir absorventes, né? Os homens são protegidos de tudo, enquanto nós passamos o  vexame de usar panos para nos limpar.” 

Em 2022, o Governo Federal aprovou uma lei que deu início ao Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, para assegurar o acesso gratuito ade  absorventes e outros cuidados básicos de saúde menstrual para mulheres vulneráveis e de baixa renda, mas nenhuma ação foi tomada até o momento. Por esse motivo, o trabalho de organizações como o “Fluxo Sem Tabu” é essencial para restaurar a dignidade de milhares de brasileiras na  luta contra a pobreza menstrual.  

A fundadora do “Fluxo Sem Tabu", Luana Escamilla, reforça que a dignidade menstrual é uma questão de saúde pública e falta de informação sobre o nosso próprio corpo. “A higiene menstrual é uma questão de saúde pública que foi silenciada por anos. Nós temos que falar sobre nossos corpos, sobre menstruação e higiene. A desinformação e a falta de itens básicos já afetaram e continuam afetando a saúde de milhares de mulheres e pessoas que menstruam em situação de vulnerabilidade social. O ‘Fluxo Sem Tabu’ acredita que nada deveria impedir alguém de mudar o mundo e vamos continuar na luta pelo fim da pobreza menstrual.” 

O projeto faz ações para facilitar o acesso aos absorventes, promovendo a dignidade menstrual. O programa “Fluxo todo mês” distribui itens de higiene íntima para três regiões do Brasil: Norte, Nordeste e Sudeste, além de promover rodas de conversa com especialistas e acompanhar o desenvolvimento de cada comunidade atendida. Em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, deu início ao projeto-piloto “Vending Machine", uma máquina que distribui absorventes de forma gratuita e atende mais de 400 beneficiadas. Enquanto essas pessoas não tiverem o apoio e proteção do Governo Federal e as alíquotas enxergarem itens de higiene pessoal como supérfluos, cada ação faz diferença.  
 

Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirma que aumento da faixa de isenção vai dar maior poder aquisitivo à população mais vulnerável
por
Henrique Alexandre
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28/04/2023 - 12h

Depois de meses de debate, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, confirmou nesta sexta-feira, 28, que o governo vai aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda para Pessoas Físicas (IRPF). Anteriormente, quem tinha o direto a isenção eram profissionais que recebiam até R$ 1.903,98. Agora, o valor máximo para a renúncia do imposto é de R$ 2.112,00, mas, para quem recebe o valor de R$ 2.640,00, haverá um desconto de R$ 528 sobre o imposto pago na fonte.

Segundo o governo, essa medida é momentânea e a intenção é de que até o final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a faixa de isenção chegue em R$ 5.000,00.

“Há o compromisso do presidente Lula de isentar do IR salários de até R$ 5 mil, até o fim do governo. Por enquanto, os salários de até R$ 2.640, a partir de 1º de maio, não terão retenção do IR. Durante o mandato, vamos voltar a falar de isenção quando a condição econômica permitir”, disse o ministro em cerimônia de assinatura do reajuste salarial dos servidores do Executivo Federal.

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Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, diz que a medida “ajudará muito” no poder aquisitivo da classe trabalhadora – José Cruz/Agência Brasil

 

BRASILEIROS BENEFICIADOS

Com a medida, 13,7 milhões de brasileiros já deixarão de pagar o IR a partir do mês que vem, de acordo com informações da Secretaria da Receita Federal. Este número representa  quase 40% dos contribuintes.

O trabalhador não precisará tomar nenhuma medida para garantir a isenção. Isso porque, segundo a Receita Federal, a isenção será concedida de maneira automática.

As projeções do órgão mostram que o governo deixará de arrecadar R$ 3,2 bilhões neste ano. Em 2024, o valor renunciado será de R$ 6 bilhões.

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Presidente Lula tenta colocar em prática promessa de campanha relacionada ao IR - José Cruz/Agência Brasil

 

AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO

Em relação ao salário mínimo, o ministro do Trabalho disse que só falta a assinatura do presidente Lula para o valor de R$ 1.320,00 entrar em vigor – atualmente, a base salarial é de R$ 1.302,00. O aumento foi decidido depois da reunião do atual presidente com centrais sindicais e a equipe econômica, nesta quinta-feira (27).

Segundo Paulo Marinho, o governo conversará com o Congresso para que, a partir de 2024, a valorização do salário mínimo leve em conta a inflação do ano anterior e também a variação do PIB de dois anos antes.

Decisão do Banco Central de manter Selic em 13,75% revela conflito entre duas visões antagônicas
por
Enrico Souto e Thaís Leoni
|
28/04/2023 - 12h

“É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha a explicação que deram para a sociedade brasileira”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante posse de Aloizio Mercadante na presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O atual Presidente da República tem assumido com força, desde o início do seu mandato, um tom combativo contra o Banco Central que, através do Comitê de Política Monetária (Copom), decidiu por unanimidade, em duas reuniões consecutivas, manter o nível da taxa Selic em 13,75%, onde se encontra estacionada desde agosto de 2022.  

Quase três meses depois da primeira reunião do Copom, os atritos entre Lula e Roberto Campos Neto, presidente da autoridade monetária, só fizeram piorar. Para Lula, estabilizar a taxa em um patamar tão elevado, em um momento tão crítico para a economia brasileira, é um descaso com a população. Ele chegou, inclusive, a questionar a legitimidade da autonomia do BC, afirmando que seria do interesse de empresários manter os juros altos. 

 

Aliados do presidente reforçaram suas críticas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acredita que “houve uma reação do Banco Central às atitudes do governo anterior no período eleitoral, que ensejou aumento da taxa de juros”. Já Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, fez um apelo ao BC, pedindo por “um gesto positivo, a favor do Brasil” 

 

A taxa Selic 

A Selic, é a taxa básica de juros de economia, sendo um valor referencial para fixação de juros cobrados por instituições financeiras. A sigla remete ao Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Seu sistema é uma plataforma do Banco Central, em que são realizadas as operações de compra e venda de títulos federais. A oferta dos títulos é como se o Estado estivesse pegando empréstimos com investidores (pessoas físicas, bancos ou empresas) para pagar suas dívidas.  

Na prática, a média dos juros cobrados do governo pelo dinheiro que foi emprestado é a taxa Selic. Para o Banco Central, ela é a principal ferramenta para o controle de inflação, e interfere diretamente no uso de crédito e na tomada de empréstimos. Quanto mais alto os juros, maior o custo para pegar dinheiro emprestado, assim, cria-se uma pressão para redução do consumo. 

 

 

 

Se ocorre uma diminuição de demanda pela aquisição de bens e serviços, a tendência é que a inflação caia ou entre em estagnação.  

Apesar do veredito do Copom, que decidiu manter a Selic em 13,75% pela quinta vez consecutiva, Lula declarou que continuará lutando para que não aconteça esse aumento. Ele classifica a taxa como absurda e afirma que o país não tem inflação de demanda, o que impactou no mercado de tal forma que a curva de juros e câmbio se modificou.   

De acordo com o Copom, a decisão de manter a Selic tem se dado porque existe um cenário turbulento na economia e no sistema bancário global, o que pode causar pressão para as questões inflacionárias globais. O arcabouço fiscal e a inflação ao consumidor também são uma preocupação. 

 

Por trás do conflito 

Para Marcos Henrique do Espírito Santo, professor e mestre em economia política, a motivação para a definição da taxa Selic está na visão econômica do Banco Central, que ainda é muito ortodoxa. “A organização se apoia em um receituário monetarista, que enxerga na inflação um dos únicos problemas da economia. Então, com o argumento de conter a inflação, a taxa de juros é elevada, que é um modus operandi posto em prática desde a pandemia”, afirma.  

Entretanto, de acordo com ele, essa não passa de uma falácia. O argumento seria que a taxa de juros controla a inflação que, baseada na demanda, cresce conforme o consumo aumenta e o mercado se aquece. “Mas a inflação com que lidamos no Brasil hoje tem origem em oferta e custos – no choque entre o petróleo e outras commodities, por exemplo – e, nesse caso, o controle que a taxa de juros teria é pequeno”, pontua 

Segundo Marcos, o conflito também revela fortes interesses políticos. “Hoje, o Brasil é o maior pagador de juros do mundo, o que faz com que, para os grandes investidores, o país tenha se tornado um verdadeiro paraíso financeiro. E, como a liderança do BC sempre tem uma relação íntima com os bancos, essa taxa se torna uma conveniência”, acrescenta. 

Sendo assim, a curto prazo, a diminuição da taxa Selic sinalizaria o barateamento do crédito no país, abrindo espaço para que a roda da economia volte a girar, sobretudo no varejo, que é um dos setores mais afetados por este contexto, como mostrou o caso Americanas. “Agora, a longo prazo, aí sim, a diminuição da taxa Selic pode ser um excelente auxiliar para o crescimento econômico”, avalia.  

Marcos conclui reiterando que, dentro da economia, não existem julgamentos morais, como ‘certo’ e ‘errado’, e sim matrizes teóricas diferentes e, a partir do choque entre elas, ditarão quais interesses ganham e quais perdem: “Nesse caso, o conflito se estabelece entre quem está a favor de um diagnóstico que beneficia o mercado financeiro, e quem está a favor do crescimento econômico, da distribuição de renda e de um maior investimento pú

Lojas de fábrica e menores despesas com aluguel e marketing estão entre os fatores que tornam os produtos no bairro mais acessíveis
por
Anna Cecília Nunes
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28/04/2023 - 12h

Os preços das roupas variam de país para país e dependem de uma série de fatores, como a demanda, o custo de produção, os impostos e as políticas de comércio. No entanto, os preços de roupas no Brasil frequentemente são mais  elevados do que em alguns outros países, devido a uma combinação de fatores, como a alta carga tributária, a falta de competitividade no mercado devido à escassez de concorrência em algumas áreas e o custo de transporte e importação.   

Além disso, o valor do dólar em relação ao real também pode afetar o preço das roupas importadas, tornando-as mais caras para os consumidores brasileiros. Na edição mais recente do Índice Zara –  pesquisa realizada pelo banco BTG Pactual que compara os preços de produtos vendidos pela marca Zara em diversos países do mundo –, o Brasil ficou em segundo lugar, perdendo apenas para a Turquia. Algumas regiões, no entanto, continuam sinônimo de roupas acessíveis, como o bairro paulistano do Brás.  

O presidente da Alobrás (Associação de Lojistas do Brás), Fauze Yunes,  explica por que as roupas de lá são mais baratas. Segundo ele, a economia do Brás funciona normalmente, ou seja, dentro da legislação que rege o comércio formal. “De maneira geral, as roupas possuem preço bom, ou mais barato do que na maioria dos lugares, porque muitas lojas do Brás são lojas de fábrica, o que permite praticarmos melhores preços”, diz Yunes. 

Pessoa vendo o preço de uma roupa.
População mais pobre procura alternativas para fugir da inflação das roupas - Créditos: Skaman 306   
 

De acordo com o dirigente, comparadas às roupas da Zara, existem outros fatores que fazem com que seja mais barato comprar no Brás, como as menores despesas dos lojistas em itens como marketing e aluguel. “O Brás massivamente é um comércio popular a céu aberto”, observa Yunes, acrescentando que, por esse motivo, os comerciantes da região não têm os mesmos custos que os instalados em shopping centers.  

Jackson Barbosa de Oliveira, 55, é comerciante no Brás e explica o que permite que os lojistas vendam as peças de roupas mais baratas que em outros lugares. “Os impostos são reduzidos devido à concentração de boxes na mesma região. Lugares que deveriam ser uma loja se transformam em vários boxes.  Isso reduz os impostos, que são divididos entre pequenos empreendedores.