Sem orientação adequada, donas de pequenos negócios relatam dificuldades para entender as mudanças na economia e veem sua renda ameaçada
por
Manuela Dias
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28/11/2025 - 12h

A falta de informação qualificada tem se tornado uma das principais barreiras para microempreendedoras brasileiras que dependem de insumos importados ou de produtos cujo preço varia conforme fatores globais. Em meio a mudanças recentes nas taxas, oscilações cambiais e aumento da burocracia para transações internacionais, muitas afirmam que não sabem onde buscar apoio técnico. É o caso de Danielle Nayara, maquiadora e microempreendedora, que iniciou seu negócio após deixar o emprego formal para trabalhar com eventos.

“Eu sempre gostei de maquiagem, mas nunca tinha pensado em maquiar outras pessoas. Só comecei depois de uma sugestão, fiz um curso e acabei me apaixonando pela profissão”, conta. Hoje, ela atende clientes em casa, em eventos e até pernoita em residências para preparar noivas e madrinhas. Mas apesar da agenda cheia, manter o negócio funcionando tem se tornado cada vez mais complexo.

Um desafio diário

Para Danielle, o principal custo do seu trabalho é a compra de materiais: produtos que sofrem variações constantes de preço, muitas delas impactadas por fatores externos. “Um produto que eu comprei por um valor semana passada já está mais caro hoje. Quando isso acontece, eu preciso ajustar meus preços, porque se não aumento, perco margem”, explica.

Ela relata que, muitas vezes, não entende o motivo dessas oscilações nem encontra informação clara sobre o que está influenciando o aumento. Esse descompasso entre preço e explicação não só dificulta o planejamento, como a impede de aproveitar oportunidades.

“A qualidade dos produtos é essencial. Se o material é ruim, não adianta eu ser boa. Só que para comprar produtos bons, eu preciso pesquisar muito. E os preços mudam rápido demais”, diz.

A falta de informação também interfere na profissionalização. Em eventos como a Beauty Fair, Danielle conseguiu adquirir produtos de alta qualidade com preço reduzido, mas admite que depende do acaso: “Eu fico sabendo por redes sociais. Se eu não vejo no Instagram ou no TikTok, eu perco a chance.”

Redes sociais como principal fonte

Como muitas microempreendedoras, Danielle se informa principalmente pelas redes sociais. “É onde está tudo hoje: Instagram, TikTok, WhatsApp. É ali que vejo notícias, promoções e mudanças”, afirma. O problema, segundo especialistas, é que essa dependência de canais informais deixa empreendedoras vulneráveis. Notícias sobre variações cambiais, tarifas, mudanças em importações ou novas regras para comercialização de cosméticos dificilmente chegam a essas mulheres de forma clara e estruturada. Isso faz com que muitas decisões sejam tomadas às cegas.

Economistas e organizações ligadas ao empreendedorismo feminino têm reiterado que a falta de informação clara é hoje um dos maiores riscos para pequenos negócios liderados por mulheres. À medida que insumos sofrem com oscilações globais, e que o comércio exterior se torna mais complexo, milhares de empreendedoras enfrentam um mercado imprevisível sem apoio técnico.

No caso de Danielle, o impacto ainda é administrável, mas ela admite a preocupação: “Eu tento acompanhar tudo, mas é difícil saber o que realmente vai afetar meu trabalho. Às vezes, descubro um aumento só quando chego na loja para comprar”, relata.

Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”.
“Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”. Reprodução: arquivo pessoal 

Força para manter o negócio! 

Apesar dos desafios impostos pela falta de informação, pelos custos instáveis e pelas mudanças constantes no mercado, mulheres como Danielle continuam sustentando seus negócios com esforço diário, intuição e dedicação. A realidade que enfrentam é marcada por incertezas, mas também por uma determinação que atravessa jornadas longas, madrugadas de trabalho e decisões tomadas sem o suporte adequado.

No fim das contas, o que sustenta esses negócios não é apenas acesso a crédito ou políticas públicas: é a força de mulheres que, todos os dias, escolhem continuar. A luta feminina, silenciosa ou coletiva, segue sendo a certeza em meio ao cenário incerto e continua provando que, quando essas mulheres resistem, elas transformam não só suas próprias histórias, mas também o futuro do empreendedorismo no país.

 

Transformando a vida de milhões de pessoas todo ano, merece mais reconhecimento e recursos para manter o Brasil vivo
por
Vítor Nhoatto
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28/11/2025 - 12h

Por Vítor Nhoatto

 

Uma das poucas certezas de todo ser humano, tal qual a morte, é a doença. Sabe aquele resfriado que vem junto ao seco do frio, uma ferida que infecciona depois de cair de bicicleta, até aquelas mais sérias que podem aparecer. Fato é que sem saúde não se vive, sendo um direito constitucional não por acaso. Sendo assim, é preciso que o acesso a essa necessidade tão básica quanto respirar e se alimentar seja universal, e não um bem a se comprar apenas por aqueles que podem.

Para isso então que existe o Sistema Único de Saúde (SUS), tão falado e muito mais presente na vida do que alguns podem sequer imaginar, ou querer. Para se ter uma ideia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador dos medicamentos disponíveis no país, de controle alimentar e hídrico, faz parte do SUS. Regulamentado em 1990, é responsável pelas vacinas e desenvolvimento científico ainda, e sabe os planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde (ANS), que os regula, também é integrante do sistema.

Para falar dessa diferença real na vida, antes é preciso até olhar nos papéis para lembrar já a quanto tempo ele é médico, enfermeiro, farmácia. De cabelos curtos hoje, depois de uma repaginada no visual devido ao câncer de pulmão que teve justamente na pandemia de COVID-19, Léia Marisa celebra que há dois anos consegue receber na AME Maria Zélia o micofenolato de Mofetila. Pois é, muitas vezes quando o nome é chique o preço é alto, uns R$500 por caixa, mil reais por mês gastos antes da papelada ficar pronta e ser aceita em 30 de novembro de 2023, já que a doença não espera os trâmites e filas.

A ex-professora, atual dona de casa e empresária a distância do seu restaurante, conta como o período de descoberta e tratamento do câncer, que levou até questões reumatológicas, e ajudou a descobrir uma artrite reumatoide, foi muito difícil. Entre dezenas de idas ao hospital de 2020 até 2023 até chegar ao diagnóstico, foram dias desgastantes, assustadores, e toda ajuda foi essencial, principalmente com os custos de sobreviver à doença. No caso dela, o tratamento do tumor foi feito em rede privada graças ao seu plano de saúde empresarial, que custa salgados R$5 mil reais ao mês. Só aqui são quase quatro salários mínimos, um privilégio muito grande, como ela destaca, olhando para um país em que apenas 7,60% da população ganha entre 5 e 10 salários como o Censo de 2022 do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística revela. 

Se aprofundando mais ainda nos fatos, de acordo com o estudo “Quanto custa o câncer” de 2023 do Observatório de Oncologia, do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, os custos de tratamento da doença quadruplicaram nos últimos três anos. Uma sessão de radioterapia ou quimioterapia custava quase R$800 em 2022, e dezenas são necessárias na maioria das vezes. Acrescentando nessa conta, consultas, tomografias e biópsias, mil reais ali e cinco acolá, o custo chega facilmente ultrapassa dezenas de milhares de reais. Isso é ainda mais preocupante tendo em conta a incidência do câncer na população, que segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) entre 2023 e 2025, 704 mil pessoas terão a doença como Marisa. 

E com isso que o SUS se mostra como algo tão relevante, oferecendo tratamento integral e gratuito contra todos os tipos de cânceres. Claro que muitos problemas existem, como destaca Marisa ao lembrar que quando estava no meio do tratamento enfrentou problemas com o plano de saúde, mas que só o medo de depender da demora do SUS caso fosse preciso, a preocupava muito. A saúde é o bem mais precioso para, o que para todos provavelmente deva ser, e por isso justamente que em 2012 a lei 12.732/12 obriga que o tratamento contra o câncer tem que ser iniciado em até 60 dias após o diagnóstico. 

Mas além disso, com os olhos marejados depois de navegar novamente no mar agitado que foi a jornada até a vida que tem hoje, curada e com o diagnóstico da sua doença crônica, ela volta e lembra que a diferença que não ter que pagar pelo Micofenolato que a mantém respirando faz.  Quando tinha que arcar com as despesas era como um fardo a mais imposto a ela, que considera a saúde hoje como o bem mais valioso. As idas mensais  ao posto são um alívio hoje para ela, destacando que o seu medicamento nunca faltou até então, mas que já presenciou pessoas na situação contrária e que não tinham como arcar pessoalmente com os gastos. Essa é uma realidade infelizmente, segundo fiscalização de 2023 da secretaria de contas do Estado de São Paulo, em quase metade dos postos visitados faltavam algum medicamento.

papéis
A cada seis meses Marisa tem que renovar a receita e toda a papelada para solicitação do seu medicamento junto a AME - Foto: Vítor Nhoatto

Milhões de uns

Mesmo que falte muito, afinal, só 4,16% do orçamento federal foi destinado à saúde em 2024 segundo o Painel do Orçamento Federal, a porcentagem vem aumentando desde 2022, e milhões de brasileiros são atendidos todos os dias. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes com um sistema universal de saúde, e 213 milhões dependem diretamente do SUS, segundo o Ministério da Saúde, que contabiliza em média 2,8 bilhões de atendimentos por ano, empregando 3,5 milhões de profissionais.

E mais um desses uns é Valdir Sousa, que do alto de seus 63 anos de idade é um típico caso brasieleiro. Com diabetes do tipo II há 20 anos e hipertenso, conta que se não fosse o acesso ao sistema gratuito, sua vida seria muito diferente, obviamente pelo lado financeiro, e muito também pelo bem-estar. O mineiro nascido em São João do Paraíso e que vive em São Paulo há décadas já viu tanto na vida, e com o passar do tempo o que todos querem e merecem é justamente qualidade de vida. Essa no caso, em grande parte possível graças a insulina que busca no posto na Freguesia do Ó e os comprimidos que cuidam do seu coração acelerado.

Justamente essa hipertensão que é a doença mais presente nos peitos animados dos brasileiros, e 52% da população é diagnosticada com alguma DCNTs, como revela a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Além disso, segundo dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como as de Valdir são tecnicamente chamadas, são as mais comuns no mundo e no Brasil, com o diabetes inclusive tendo aumentado 70% entre 2000 e 2019. 

Para contextualização, nos Estados Unidos existe há alguns anos o movimento nas redes sociais insulin4all, criado pela organização sem fins lucrativos T1 International, que denuncia os altos custos da insulina no país, onde um frasco de 10ml gira em torno de U$330. Tal situação vem levando inclusive pessoas a racionarem o medicamento, o que pode levar a complicações e até a morte em casos mais graves. Já no Brasil, o mesmo remédio é disponibilizado pelo SUS, e o preço máximo permitido por lei é de R$125,30. 

Diante desses dados e o envelhecimento da população fica claro como a saúde vai ser cada vez mais necessária, tal qual destaca o jovem de espírito Valdir, que já foi pedreiro e auxiliar de manutenção geral em uma lanchonete, justamente no Hospital das Clínicas. As histórias que já viu na maior referência de saúde pública brasileira enchem a sua mente, e as palavras saem inquietas sobre as melhorias que o SUS precisa e as pessoas merecem. Ele conta em meio a suspiros que quando precisa de exames mais urgentes, ou consultas em meio a crises, tem que recorrer ao plano de saúde da sua esposa, do qual é dependente, já que as unidades de saúde estão sempre cheias e a fila de espera passa de meses algumas vezes. 

Foi nessas passagens obrigadas pela rede privada que ele inclusive descobriu mais um integrante do seu pacote, a doença renal crônica há um ano. Porém, é no SUS que o acompanhamento com nutricionista, nefrologista e endocrinologista foi possível, uma rotina de cuidados essenciais para uma boa qualidade de vida para quem tem a condição. É graças a essa rede de profissionais e a farmácia popular que Valdir vai aproveitando com os dois filhos e a mulher os seus dias, frisando com a voz até meia trêmula, que sem isso não poderia se ter o seu direito de viver com saúde exercido plenamente.

medicamentos
São graças a compostos como esses que tanto Marisa ou Valdir, e os mais de 100 milhões de brasileiros com doenças crônicas podem viver bem tal qual a constituição garante - Foto: Vítor Nhoatto

 

Desigualdade, corrupção e desemprego juvenil deflagram uma revolta que expõe a fragilidade econômica profundamente enraizada.
por
Pedro Bairon
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14/11/2025 - 12h

Por Pedro Bairon

 

Na primeira semana de setembro de 2025, as ruas de Kathmandu foram tomadas por uma onda de protestos liderados pela chamada Geração Z, quando milhares de jovens se reuniram para denunciar a corrupção, o nepotismo e a desigualdade que dominam a vida pública do Nepal. O estopim foi a proibição de 26 plataformas de redes sociais incluindo Facebook, Instagram, X e YouTube, decretada pelo governo, uma medida que ativistas viram como um ataque à liberdade de expressão, Raj Rana, um nepalês que participou das recentes manifestações reafirma tal posição.

Os protestos rapidamente escalaram: confrontos com a polícia resultaram em uso ostensivos de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real, segundo Rana. No dia 9 de setembro, o primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou, pressionado pela magnitude da insatisfação dos jovens, porém, não se limitou ao veto digital. Por trás da indignação estava uma reclamação mais profunda: a escassez de empregos dignos, a persistência de elites privilegiadas (os chamados “nepo kids”) e a sensação de que, apesar de tanto crescimento econômico reportado, o Estado falhou em converter recursos em oportunidades para a maioria da população. De fato, segundo o Banco Mundial, mais de 80% da força de trabalho nepalesa está na informalidade, um número clássico de economias frágeis. O economista Karki Lama aponta que as remessas enviadas por nepaleses que trabalham no exterior (equivalentes a mais de um terço do PIB, segundo Fundo Monetário Internacional, FMI) sustentam o país, mas não geram empregos de qualidade e mantêm muitos jovens reféns de oportunidades materiais mínimas.

Esses protestos, segundo analistas, não são apenas uma manifestação política: são um grito de alerta sobre a saúde estrutural da economia nepalesa. A relação entre a frustração juvenil e as debilidades econômicas torna-se evidente à medida que se examina o modelo de desenvolvimento vigente no país. A economia nepalesa há muito tempo depende fortemente das remessas de migrantes para manter sua liquidez externa e financiar o consumo interno. Para Lama, entretanto, essa dependência representa um fracasso de capacidade produtiva nacional, não há trabalho suficiente internamente, e a migração torna-se quase inevitável. Mas a crise das ruas tem um custo direto para a economia. Um relatório recente do Banco Mundial alerta que a turbulência política pode reduzir fortemente o crescimento econômico em 2025-26: a previsão foi ajustada para 2,1%, com possibilidade de contração se a instabilidade persistir. O documento prevê ainda uma queda nas chegadas de turistas, um golpe duplo para o Nepal, que depende fortemente do turismo para gerar divisas e emprego formal. A erosão da confiança dos investidores já se tornou palpável. A Federação da Indústria do Nepal (FNCCI), por exemplo, emitiu um apelo para que o novo governo garanta segurança e estabilidade para os negócios, destacando que o setor privado é vital para a recuperação. Segundo esse mesmo apelo, as perdas com os danos materiais causados pelos protestos já afetam indústrias, propriedades e a cadeia de valor do turismo, hotéis, guias, transportes, tudo foi afetado.

Além disso, a insatisfação juvenil encontra respaldo em dados econômicos estruturais que expõem fragilidades profundas. O Nepal registra uma das maiores taxas de desemprego entre jovens na região: cerca de 20 %, segundo o mais recente relatório do IBGE Países. A falta de emprego qualificado, o baixo investimento em infraestrutura produtiva e a fraca diversificação industrial criam uma economia incapaz de absorver seu capital humano mais o peso das remessas, embora vital, é paradoxal: elas sustentam a economia, mas corroem o potencial de desenvolvimento autônomo. Conforme observa a New Humanitarian, muitos jovens veem sua saída como única rota possível, enquanto outros permanecem para protestar contra um sistema que lhes fecha portas. A migração, nesse contexto, deixa cicatrizes na cena política, no tecido social e nas finanças públicas.

O choque dos protestos também traz riscos no balanço externo. A volatilidade gerada pelas manifestações mobiliza redes de capital para fora do país, deixando o Nepal vulnerável a choques cambiais e restringindo sua capacidade de investir em longo prazo. A perda de turistas, a recomposição mais lenta de reservas cambiais e a alta cautela dos investidores estrangeiros são efeitos colaterais duradouros desse momento de ruptura. Do ponto de vista fiscal, a crise exige que o governo interino encontre um delicado equilíbrio. Por um lado, há pressão para responder às demandas dos jovens por mais transparência, combate à corrupção e reforma política. Por outro, há necessidade urgente de restaurar a confiança dos mercados, garantir fluxo de investimentos e sustentar a receita pública. Se o Estado optar por cortes agressivos para manter a disciplina fiscal, pode abrir mão de sua capacidade de gerar empregos, exatamente aquilo que a Geração Z exige. Por outro lado, expandir gastos sem controle também pode agravar vulnerabilidades já existentes. A situação contemporânea do Nepal também reflete um dilema geopolítico. Localizado entre Índia e China, o país sempre foi estratégico para ambos. A instabilidade recente pode frear projetos bilaterais de infraestrutura e perturbar o plano de desenvolvimento sustentável que muitos observadores internacionais defendiam para a nação. Além disso, a falta de boas políticas industriais internas limita sua capacidade de atrair investimento direto que não dependa exclusivamente de remessas ou do turismo.

Embora a revolta da Geração Z tenha derrubado um governo, ela colocou a economia nepalesa sob os holofotes: o modelo baseado em remessas e fluxo turístico é funcional, mas frágil. A instabilidade desencadeada pelos protestos expôs o dilema clássico de economias dependentes: crescer, mas sem construir uma base real de produção, oportunidades e institucionalidade. Se o novo governo quiser responder ao grito dos jovens, terá de investir não apenas na reconstrução política, mas sobretudo na transformação econômica: criando empregos, promovendo reformas estruturais e reduzindo a dependência de fatores que escapam ao controle interno. Sem isso, o Nepal pode voltar a caminhar, mas continuará sobre uma ponte frágil, com vento forte acima e abismo profundo abaixo.

Videogames se aproximam de artigos de luxo devido aos elevados custos
por
Lucca Cantarim dos Santos
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07/11/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Quem acompanha o cenário dos videogames vem se surpreendendo com a alta nos preços dos jogos nestes últimos meses. Com valores que vão desde R$ 249,95, valor do jogo “Hundred Line – Last line of defense”, lançado em abril de 2025, até R$ 499,99, preço do jogo Mario Kart World, que chegou às lojas em junho do mesmo ano. Esses preços têm dificultado cada vez mais o acesso dos fãs aos jogos que desejam, uma vez que acaba sendo inviável para muitos precisar gastar tanto dinheiro sempre que querem jogar um jogo novo. A estudante de sistemas de computação Gabrielle Rodrigues afirma sempre se arrepender de pagar caro em um jogo no dia do lançamento e acabar ficando sem dinheiro para comprar uma roupa ou até mesmo uma passagem do Rio de Janeiro até São Paulo para visitar seus entes queridos. Já o estudante Gabriel Merino alega sentir cada vez mais que não consegue comprar jogos no lançamento, precisando esperar diversos meses até uma baixa no preço ou promoção para finalmente ter acesso ao produto.

Fazer um jogo é um processo extremamente caro, e para a desenvolvedora independente “Dumativa”, responsável por jogos brasileiros como “Enigma do Medo” e “Lenda do Herói”, esse é o principal motivo para o aumento no custo do produto final. Já para Juno Cecílio, CEO da “Gixer Entertainment”, outra desenvolvedora independente, criadora do projeto “Changer Seven”, que se encontra em desenvolvimento atualmente, existe um fator ainda mais sensível.

 

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"Changer Seven", jogo de Juno Cecílio                                                 Foto:Divulgação/Gixer

 

Juno defende que existe uma estratégia de mercado mais agressiva por parte das empresas, que almejam maximizar sua receita em cima de um público fiel e cada vez mais disposto a pagar por franquias conhecidas. O grande problema, é que não existe um teto que defina até onde uma corporação queira ganhar, o que acaba sucateando o setor. O desenvolvedor faz um comparativo com outros setores no Brasil, como o de faculdades, que são compradas, demitem o corpo docente e substituem-no por profissionais mais baratos e revendem para o próximo, que fará o mesmo. Esse caso pode se observar na faculdade Anhembi Morumbi, que sofreu demissões e perdas massivas na grade horária após ser comprada pelo grupo Ânima Educação em 2021, como afirma uma matéria publicada na UOL em 2023.

Mas ele também aponta para outro fator, que também é abordado pela Dumativa, a falta de regionalização do preço. Quando um jogo chega no Brasil apenas convertido pela taxa do dólar, sem considerar a realidade do poder de compra local, ele acaba se tornando um produto quase que de luxo, e é nessas situações que observamos preços como os R$ 500,00 de Mario Kart World. A maioria dos jogos independentes já consideram fatores regionais quando lançam seus produtos em outros países, mas as produções de empresas grandes, como Nintendo, Ubisoft e Activision não, o que agrava uma ideia de “ganância” por parte dessas empresas.

Oferecer preços acessíveis ao consumidor é importante por inúmeros fatores, e um deles é justamente oferecer a experiência de jogo para um público mais amplo. Para muitos fãs de videogames, é extremamente doloroso, apesar de não chegar a um estágio extremo, ser privado de jogar algum jogo que goste devido ao seu custo elevado.

Gabrielle, por exemplo, diz que se sentiria mal caso fosse impedida de comprar um lançamento que estivesse com vontade de jogar. Ela alega que tem vontade de jogar o “Persona 3 Reload” a cerca de um ano, mas até hoje não o fez devido ao alto custo do jogo. Ela conta que até pensou em piratear a mídia apenas para consumo, e pagar por ela quando tivesse a oportunidade – igual já fez com outras franquias – mas que os sistemas que as empresas andam colocando em seus produtos, dificultam muito a pirataria. Gabriel Merino passa por uma situação similar, ficaria chateado caso não conseguisse comprar um jogo devido ao preço, mas também não compraria um jogo à preços exorbitantes mesmo se tivesse as condições para isso.

Lançar os jogos à preços acessíveis é essencial para que essas pessoas consigam consumir a mídia que desejam sem precisar se arriscar na pirataria ou pagar valores elevados. Além disso, é essencial para a criação de um consumo saudável. Nas palavras de Juno, quando um jogo lança à um preço compatível com a realidade do brasileiro, ele vende mais e ajuda a fortalecer o mercado e a comunidade local, e a trazer mais espaço para as empresas no País. Um exemplo foi o “Hollow Knight: Silksong”, lançado pela Team Cherry em setembro desse ano. O preço de R$ 60,00 cobrado pela mídia fez com que ela vendesse muitas unidades em um único dia – culminando na queda dos servidores da plataforma de compras Steam.

As empresas e publicadoras são as primeiras que podem participar na criação de um preço mais acessível e justo para o bolso da população. Grandes empresas e distribuidoras (Nintendo, Ubisoft, Microsoft) podem ajudar aprimorando a regionalização de preços, levando em conta o poder de compra de cada país; aprimorar a educação e formação de talentos, o que em longo prazo reduz o custo de produção global; oferecer programas de incentivo e parcerias com estúdios locais, o que acaba por gerar mais empregos, e visibilidade.

Quanto às empresas independentes, não se pode transferir as mesmas responsabilidades, uma vez que estas não tem o mesmo poder financeiro que as “gigantes do setor”. No entanto, elas podem e devem estabelecer métodos de acessibilidade nos preços de seus jogos, e algumas já tomam as providências, apesar de este ser um dos maiores desafios para essas instituições.

A Dumativa têm feito uso dos sistemas de financiamento coletivo em seus lançamentos, isso ajuda as empresas a terem uma base financeira mais sólida antes mesmo do lançamento, além de estabelecer uma relação saudável com empresa e consumidor, a partir do sistema de recompensas e conteúdo adicional dependendo de quanto cada pessoa optou por investir no jogo, além do próprio produto completo após o lançamento.

Já Juno, da Gixer, amplia ainda mais sua visão, para ele, jogos independentes não precisam competir com os grandes lançamentos em preço, na realidade, esses lançamentos têm de entregar valor percebido, autenticidade e qualidade dentro de seu escopo. Além disso, ele acredita que uma das melhores formas de equilibrar as contas sem depender do preço cheio é a diversificação de fontes de receita, e podem fazer isso por meio do lançamento de edições digitais com bônus, participação em festivais e até mesmo outros tipos de produto, como colecionáveis, histórias em quadrinho e até trilhas sonoras.

Outra ajuda também pode vir das próprias lojas, plataformas como a Steam se destacam quando o assunto é tornar seus preços mais acessíveis. Além da abundância de promoções, principalmente em datas comemorativas, que podem levar um preço de R$ 200,00 a R$ 40,00, a plataforma criou um sistema de famílias, que permite que um grupo de pessoas compartilhem a mesma biblioteca, podendo jogar jogos que pertencem à conta de terceiros (desde que inseridos na mesma família, cujo limite de pessoas é seis).

 

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Logo da loja digital Steam                                                                           Foto: Divulgação/Steam

 

Para Gabrielle Rodrigues e Gabriel Merino, que participam da mesma família alegam o quão benéfico isso é para eles, ambos afirmam como conseguiram ter mais acesso à jogos que não conseguiriam ter de outra forma, além da possibilidade de repartir os custos com os membros do grupo. Gabrielle afirma que financeiramente a família Steam é algo divino.

 

Movimento nas lojas aumentam conforme as épocas temáticas do ano vão chegando
por
Nathalia de Moura
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24/10/2025 - 12h

Por Nathalia de Moura

 

Entre o vai e vem e o sobe e desce das pessoas, a 25 de Março é o centro das vendas, principalmente em épocas como Carnaval, Natal e Halloween. Cores, brilhos, formas, luzes, ocupam as fachadas das lojas fazendo cada cliente lembrar que as bruxas chegam em 31 de outubro, o Papai Noel dará o ar da graça em 25 de dezembro e o Carnaval em breve tomará conta das ruas do País. 

A correria para atender o cliente que precisa de uma abóbora laranja e gigante, a atenção para cortar o tecido para a roupa do velhinho do Polo Norte ou até mesmo separar as lantejoulas para a confecção da fantasia faz parte do dia a dia das vendedoras do centro de São Paulo. Marlene tem 53 anos e veio atrás dos sonhos na capital paulista aos 16. Hoje fala com muito carinho no orgulho em fazer parte desses momentos. Com um sorriso, mas a voz embargada e os olhos marejados, relembra a dificuldade de se iniciar nesse mundo dos produtos de aviamentos e sazonais. Sempre sonhou em ter o que possui hoje, e mesmo com tantos patrões desacreditando de seu potencial, conseguiu ir atrás daquilo que a motivava: a arte do artesanato.

Os produtos chegam na loja e dali, são transformados em grandes realizações. Ela conta que nada é mais gratificante do que poder ajudar alguém que nem sabia o que estava procurando e encontra ali no seu estabelecimento. Na correria dos dias, as horas passam, a agitação aumenta, o fluxo cresce. Cada cliente fica um tempo observando aquele ambiente repleto de oportunidades. Oportunidade de fazer algo diferente do ano anterior, a chance de colocar uma cor diferente na decoração, de enfeitar a casa com pisca-pisca ou até fazer a festa temática do dia das bruxas que não aconteceu antes.

Na salinha apertada, rodeada de papelada importante e também do quadro estampando a foto da sua família, Marlene contava que proporcionar produtos de qualidade aos clientes a transforma. Pode ser que o Papai Noel não seja vendido hoje, que a abóbora gigante ainda passe despercebida ou o letreiro de “Feliz Natal” não seja usado, mas ela segue acreditando que cada fio, botão ou glitter pode ser utilizado em outros momentos justamente para não ser desperdiçado.

Ao andar pelas lojas, percebemos os olhares atentos nas promoções, o barulho dos comentários ao ver uma peça exposta ou as perguntas em relação aos preços. Para lá ou para cá, a multidão toma conta dos ambientes. Mesmo antes dos dias de comemoração, as pessoas fazem questão de irem em busca do que procuram o quanto antes. Mas sempre tem os que preferem comprar aos 45 minutos do segundo tempo. Na pressa para conseguir atender todos os clientes, Elen, funcionária que enfrenta todas as épocas corridas de venda do ano, fala que em alguns momentos, não consegue dar a atenção que as pessoas merecem. Seu olhar acompanhava a chegada e a saída dos clientes na loja. A atenção é máxima em um lugar que a exige a todo tempo.

No meio das linhas, botões e tecidos, a cearense de sotaque presente e forte expressa que nem imagina as diversas possibilidades que podem sair dali na sacola de cada pessoa. Uma linha pode se tornar mais de uma peça no Carnaval do Sambódromo do Anhembi ou nos bloquinhos pela cidade. E quando ela pensa nisso, os olhos até brilham em saber que, de alguma forma, fez parte daquilo.

A oferta e a demanda não param, assim como a agitação que só o ambiente da mais conhecida rua de comércio paulistana é capaz de proporcionar. Pelas ruas da 25 de março andam jovens, idosos, mulheres e homens carregando pequenas sacolas ou grandes volumes de mercadorias. De um lado o consumidor, do outro o vendedor. Ambos sabem que precisam um do outro, principalmente nessas épocas agitadas do comércio. Para Marlene, inspirar pessoas com seu empreendimento é motivo de orgulho. Em meio aos elogios que sua loja recebe, ela sempre sai com o sentimento de missão cumprida ao ver seus clientes com as sacolas recheadas de produtos que farão a diferença em épocas que se tornam especiais nas particularidades de cada um.

Pequenas empresas reagem e retomam investimentos interrompidos na pandemia
por
Victor Oliveira Trovão
Larissa Isabella
Livia Veiga
Bárbara More
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04/07/2023 - 12h

Mais do que nunca, a área de estética encontra movimentação constante no mundo, em especial no Brasil. O mercado de beleza e cuidados pessoais anualmente movimenta bilhões de reais, configurando o ramo como um dos mais influentes no país. A atividade passa por uma grande transformação ao surgirem diversas pequenas empresas, produtos com novas tecnologias, e, principalmente, profissionais como cabeleireiros, esteticistas, designers de sobrancelhas, micropigmentadoras e outras especialidades.

De acordo com Reginaldo de Andrade, consultor de negócios do Sebrae SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), existem muitos fatores por trás disso, dentre eles o autocuidado:
“O brasileiro se preocupa muito com (auto)imagem, por isso se desponta como um dos maiores consumidores de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos do mundo”, explica.

Segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) junto com o Instituto FSB Pesquisa, em 2021 o Brasil se tornou o terceiro maior consumidor de produtos estéticos, ficando apenas atrás dos Estados Unidos e China. A coordenadora do curso de Estética na Faculdade Anhanguera, Gisele Costa, analisa a força do setor no país: “O brasileiro em sua maioria cultua a beleza, é vaidoso, quer reverter sinais de envelhecimento, ter um corpo dentro de padrões estéticos imposto pela sociedade”.

Esse crescimento foi notório mesmo durante a pandemia da Covid-19, que teve início em 2020. Na época, os profissionais precisaram estagnar seus atendimentos e diminuí-los para se encaixarem nas medidas de saúde. Em outra perspectiva, Reginaldo acredita que o fim da pandemia trouxe mudanças ao setor dado o surgimento de novas técnica, tendências e tecnologias, o que aponta crescimento. 

A pandemia  gerou ondas de desemprego e levou muitas pessoas a buscarem novas fontes de renda. Assim, muitos cidadãos decidiram começar a empreender e abriram seus próprios estabelecimentos. Segundo o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020, realizado pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), cerca de 50 milhões de brasileiros que não empreendiam antes da Covid-19 tinham planos de abrir um negócio nos próximos três anos.

Logo no primeiro semestre de 2022, quando as medidas de isolamento social foram reduzidas por conta da queda do número de casos, foram abertas mais de duas milhões de empresas no Brasil e uma boa parte do negócio informal decidiu se regularizar, apontam dados da Receita Federal. O Sebrae indica que em 2023 existem cerca de 6,4 milhões de estabelecimentos no Brasil e 99% deles são micro e pequenas empresas (MPE). Alguns microempreendedores ressaltam que a pandemia teve seus pontos positivos e negativos para os negócios.

A esteticista Beatriz Fraider, de 21 anos, conta que apenas conseguiu retomar os atendimentos após o fim do lockdown e precisou tomar o dobro de cuidado com paramentação e higiene ao receber os clientes. Porém, conseguiu ver o seu negócio florescer no período da Covid-19: “A pandemia foi o momento em que nós mais crescemos. Muita gente começou a procurar uma maneira de aumentar a autoestima, então, como havia apenas olhos e sobrancelhas livres das máscaras, começamos a ter bastante procura”.

Em contrapartida, a designer de sobrancelhas Samantha Fidalgo Carvalho, de 34 anos, sofreu um forte impacto financeiro durante os dois anos de pandemia: “Tive que sair do local em que estava meu estúdio, pois não consegui acordo com o proprietário, meus parceiros profissionais não queriam assumir a divisão de contas por não saber quanto tempo teríamos de pandemia. Tive que me desfazer do meu estúdio em dias, colocando minha mobília na garagem de casa, sem local para ir, sem saber como iria procurar uma nova sala, pois não podia sair de casa. Tinha medo da Covid e contas chegando normalmente”.

A profissional conta que precisou abrir uma sala comercial de tamanho bem menor em outro bairro e passou cerca de quatro meses sem trabalhar, vivendo do dinheiro que era mantido em uma reserva. Samantha afirma que nunca se recuperou completamente do prejuízo: “Agora que as empresas já estão voltando com os trabalhos presenciais, os atendimentos começaram a ter mais procura, mas o que mais impacta hoje é a economia. Como os preços de tudo estão muito altos, as clientes não estão dando preferência à estética, pois o meu serviço é um valor relativamente alto, além de ser um supérfluo, não é uma necessidade básica, então pode adiar na lista de prioridade delas”.

Os desafios enfrentados pelos profissionais que trabalham no setor estético são muitos. Além da questão financeira e mercadológica, também há o fator da profissionalização: “O investimento com os estudos é alto, o profissional precisa se manter atualizado num setor que se inova constantemente; a remuneração, como em qualquer profissão, nem sempre é adequada; há muita concorrência e fidelizar clientes cada vez mais exigentes e bem informados sobre esse universo da beleza é um grande desafio”, analisa Gisele Costa. A coordenadora também ressalta que se trata de uma área ampla, que não se limita ao público feminino: “Os estudantes não procuram cursos especificamente como ‘estética feminina’, apesar de serem as mulheres o maior público. Quem está ingressando na área vê uma oportunidade de crescimento profissional e procura dentro da estética um nicho para atuar com que tem maior afinidade. 

Apesar das dificuldades, os esteticistas encontram força para continuar a exercer a profissão no amor que sentem em ver a satisfação dos clientes com o resultado final: “Vi que esse trabalho mudava a vida das mulheres, deixava elas felizes consigo mesmas, tão realizadas, que me fez perceber que, através do meu trabalho, eu poderia levar alegria e realização para alguém”, reflete Samantha.
 

Apesar da impressão de sucesso, modelo adotado em 2022 apresenta graves problemas
por
Lucca Ranzani
Gustavo Zarza
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04/07/2023 - 12h

A SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Vasco da Gama foi criada em 2022, em parceria com a empresa americana 777 Partners, que investiu R$ 700 milhões para ter 70% de participação societária. A proposta da empresa é aportar mais R$ 120 milhões em setembro e outros R$ 390 milhões até o fim de 2024. O Vasco da Gama SAF prevê sua autossustentabilidade a partir de 2025.

No entanto, mesmo após o aporte milionário da SAF, o clube encontra dificuldades em honrar alguns compromissos e tenta renegociar essas condições. O Vasco priorizou manter o funcionamento do clube, com os salários e as parcelas da dívida em dia, e, para isso, teve que descumprir prazos e renegociar pagamentos.

Os atrasos de pagamentos do Vasco ficaram evidentes com os contratos de dois jogadores, Andrey Santos e Léo Pelé. A dívida com Andrey é referente às comissões dos empresários. O clube tem uma dívida pendente de R$ 12 milhões relativa à venda do jogador ao Chelsea e ainda não pagou duas das três parcelas combinadas com o volante.

Em relação ao jogador Léo Pelé, o Vasco atrasou o pagamento de parte da segunda parcela da compra do zagueiro que pertencia ao São Paulo. O clube também atrasou parcelas em compras de outros atletas, mesmo depois do aporte feito pela 777 Partners na transformação em SAF.

O site oficial do Vasco da Gama disponibiliza informações financeiras, incluindo balancetes e demonstrações contábeis. Em 2022, a SAF publicou um balanço com um déficit de R$ 594 milhões. De agosto a dezembro do último ano, a receita operacional líquida do Vasco SAF foi de R$ 47,4 milhões. A rubrica considera direitos de transmissão, bilheteria, marketing, programa de sócio torcedor e outras fontes de renda. Em 2022, a equipe disputou a Série B do Brasileirão pelo segundo ano consecutivo.

De acordo com o colunista Rodrigo Mattos, do UOL, após a transformação em SAF, o Vasco fechou 2022 com um prejuízo de R$ 88 milhões. O valor tem a ver com as dívidas assumidas pela 777 Partners como parte do acordo de aquisição do futebol do clube. O primeiro balanço da era SAF mostra o tamanho do desafio do fundo norte-americano na reestruturação do futebol cruz-maltino.

Em outro artigo, Rodrigo Mattos menciona que, no meio de 2022, mesmo na Série B, a torcida do Vasco vivia uma onda de otimismo com a criação da SAF e o aporte da 777 Partners. No entanto, os primeiros meses de 2023 mostraram que a realidade é um pouco diferente.

O colunista observou que, em 2023, o Vasco perdeu para o Santos em casa por 1 x 0 e terminou a 6ªrodada em 16º lugar, próximo da zona de rebaixamento. O início do campeonato revelou fragilidades do time vascaíno, algumas já conhecidas no Campeonato Carioca e na eliminação da Copa do Brasil. A torcida perdeu a paciência.

Em março, o portal GE noticiou que o Conselho de Administração da SAF se reuniu para reavaliar as projeções de receitas, que, na opinião de alguns membros, estavam abaixo do esperado. Isso ocorreu porque a arrecadação nos primeiros meses do ano foi baixa, o que dificultou o cumprimento dos prazos.

A eliminação precoce do Vasco na segunda fase da Copa do Brasil, para o ABC, teve um grande impacto no orçamento, já que o clube esperava avançar pelo menos mais duas fases na competição. Além disso, a venda de um jogador gerou uma discussão com parte dos credores do RCE sobre a destinação dessa receita, o que gerou insegurança jurídica e afetou os investidores.

O CEO da SAF, Luiz Mello, afirmou em um evento em Brasília que a situação tem sido difícil devido aos constantes problemas jurídicos. No entanto, o Vasco espera que a situação se normalize no segundo semestre com um novo aporte da 777, de R$ 120 milhões, e com a expectativa de aumento das receitas nos próximos meses.

Analisando o balanço financeiro da SAF do Vasco da Gama, é possível identificar alguns desafios que o clube enfrentará no futuro. A recuperação das receitas é fundamental para equilibrar as finanças, e isso passa por um desempenho esportivo mais consistente, que permita a participação em competições de maior visibilidade e a conquista de títulos.

Segundo técnica do Dieese, a cada R$ 1 de reajuste, há um impacto de mais de R$ 730 milhões no repasse à população
por
Aline Freitas
Luan Leão
Tábata Santos
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03/07/2023 - 12h

No último dia 1º de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou, em ato organizado pelas centrais sindicais no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, o aumento do salário mínimo de R$ 1.302 para R$ 1.320. O reajuste de R$ 18  garante um aumento real (descontada a inflação) de 2,8% em 2023. De acordo com o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), enviado pelo governo ao Congresso, a previsão é de que o salário mínimo seja de R$ 1.389 em 2024.

Além do aumento real no salário mínimo, houve a alteração do valor por hora trabalhada para R$ 6 e o diário para R$ 44. O Imposto de Renda também sofreu mudanças: agora, apenas as pessoas que recebem mais de dois salários mínimos, o equivalente a R$ 2.640, deverão declarar à Receita Federal.

Apesar das medidas anunciadas e das falas do presidente contrapondo o reajuste à falta de aumento  anual durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), entidades políticas, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), classificaram o aumento como abaixo do esperado.
 

Em nota, a CUT afirmou: “Os cálculos do Dieese [Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos] mostram que, se o Programa de Valorização do Salário Mínimo não tivesse sido interrompido, hoje o valor deveria ser de R$ 1.382,71. O que significa uma valorização de 6,2%”.

Já a CTB declarou que o anúncio "fere as expectativas do movimento sindical". "Não dá para silenciar diante dos fatos e nós não devemos nos calar. O salário mínimo vigente no Brasil está anos-luz de distância do que deveria ser, com base no cálculo do Dieese (R$ 6.641,58). Temos que considerar o estágio de profunda desigualdade em que estamos, com uma realidade que assusta a milhões de famílias, dada a insegurança alimentar e o flagelo social. É urgente que o governo tome para si essa bandeira fundamental que foi utilizada como moeda forte na campanha", disse o presidente Adilson Araújo.

 

Os R$ 18 na prática

Adriana Marcolino, socióloga e técnica do Dieese, afirmou à Agência Maurício Tragtemberg que, a cada R$ 1 de reajuste, há um impacto de mais de R$ 730 milhões no repasse para a população.

“Considerando que todo esse recurso vá ser utilizado no mercado interno, a cada R$ 1 de reajuste há a possibilidade de gerar cerca de 18.383 mil empregos, o que também adiciona ao PIB (Produto Interno Bruto) um valor de R$ 1,3 bilhão", explica. "Em relação à arrecadação tributária, esse valor significa um incremento de R$ 333 milhões. Já em relação à massa salarial, o aumento é de R$ 476 milhões”, completa a socióloga.

Ainda de acordo com um estudo do Dieese, cerca de 54 milhões de pessoas serão afetadas pelo aumento real, das quais 22,7 milhões   diretamente. Nesse grupo, o departamento considera os empregados do setor público e privado registrados em carteira, servidores públicos, aposentados, pensionistas e beneficiários de programas sociais. Outros 31,3 milhões de brasileiros serão afetados indiretamente. Nesses casos, o estudo considera pessoas que residem em domicílios onde pelo menos uma delas é diretamente beneficiada pelo reajuste. 

Ainda sobre os impactos, Júlio Pires, economista e professor da PUC-SP, afirma que o setor de trabalho informal também é atingido. “Existe uma espécie de efeito sinalização mediante o qual, através do aumento do salário mínimo real, os trabalhadores do setor informal também são beneficiados. Isso porque esse aumento serve como referência para esse setor”, avalia.

 

Histórico

Ao comentar a insatisfação sobre o baixo valor do aumento neste início de governo, o economista relembra o primeiro mandato do presidente Lula. "O primeiro reajuste no governo de 2003 também foi baixo, e, com o avanço da economia, foi aumentando com o tempo", explica Pires.

No primeiro e segundo governo do atual presidente, entre os anos de 2003 e 2010, o salário mínimo passou de R$ 240 para R$ 510, mantendo um histórico de reajuste acima da inflação.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi apenas em 2015, no governo Dilma Rousseff (PT), que o reajuste do salário mínimo ficou abaixo da inflação, com o valor de R$ 788, um aumento de 8,84%, contra  10,67% registrados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Durante o período de Michel Temer na presidência, entre 2016 e 2019,  o salário subiu de R$ 880 para R$ 998, e mesmo assim não acompanhou a inflação durante o período, que chegou a marcar 9,32% ao final do mandato, a inflação era de 2,76%.

Nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, os dois índices estavam praticamente equiparados, com um leve sobressalto do mínimo, que estava em R$ 1.039 em 2020, ante uma inflação de 4,52%. Em 2021, a inflação atingiu dois dígitos (10,06%) e era quase o dobro do aumento de 5,26%, que elevou o salário para R$ 1.100.

O último aumento real do salário mínimo ocorreu em 2019, o único dos últimos seis anos.

No dia 5 de maio, o presidente Lula enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei (PL) que estabelece uma nova política de valorização do salário mínimo. De acordo com o PL, o salário mínimo seria corrigido pela variação do Índice Nacional dos Preços ao Consumidor (INPC) acumulado nos 12 meses encerrados em novembro do ano anterior. O projeto prevê ainda que, caso seja positiva, haja um acréscimo da taxa de crescimento real do PIB.

A expectativa do governo é de que a política beneficie cerca de 40 milhões de pessoas. O impacto fiscal orçamentário esperado para 2024 foi de R$ 18,1 bilhões. Para 2025, a expectativa é de R$ 25,2 bilhões e em 2026, de R$ 39,1 bilhões.

De janeiro a junho, moeda recuou 9,27%; especialistas discutem efeitos na economia brasileira
por
Enrico Souto
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02/07/2023 - 12h
Fotografia de seis notas de 100 dólares alinhadas.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O dólar tem registrado repetidas quedas em seu valor. Desde o início do governo Lula, em janeiro, até o fim de junho, a moeda norte-americana caiu 9,27%, terminando o primeiro semestre em R$ 4,7889.

A queda do dólar no primeiro semestre contraria a tendência dos quatro últimos anos, quando a moeda norte-americana saltou de R$ 3,87, no início do governo Bolsonaro, para R$ 5,28, no fim de 2022, um avanço de 36,4%. Nesse mesmo período, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), alcançou 26,93%, a maior variação desde o primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014)

Contudo, a conjuntura brasileira entrou em metamorfose, o que também alterou as perspectivas econômicas do país. André Luis Campedelli, doutor e especialista em macroeconomia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afere como Bolsonaro  adotava uma política internacional isolacionista, que priorizava países que seguissem sua mesma agenda ideológica e rompia com uma tradição de décadas de diplomacia do Brasil – o que também afetava o investimento externo no real. Um indício disso se apresenta em um levantamento encomendado pelo Correio Braziliense, que aponta que, em cinco meses de mandato, Lula se reuniu com o dobro de chefes de estado que Bolsonaro no mesmo período.

“Uma maior segurança em relação à estabilidade política nacional também faz com que a entrada de capital seja maior para o Brasil”, afirma Campedelli. O economista ainda menciona a alta do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, como um indício da desvalorização do dólar. O índice registrou um avanço de 7,61% de janeiro a junho, o melhor desempenho para um primeiro semestre desde 2019.

Estados Unidos e a economia externa

Segundo Campedelli, a instabilidade da economia internacional, causada sobretudo pela Guerra da Ucrânia, faz com que o mercado procure por novas fontes de investimento. O economista afirma que a Rússia era considerada um importante porto seguro de capital especulativo e, apesar de ter sido uma decisão repudiada pelo presidente Lula, a manutenção da taxa básica de juros, a taxa Selic, a valores elevados faz do Brasil uma nova alternativa para este tipo de aplicação. “A combinação de problemas em outros países com um cenário brasileiro favorável fez com que o atual governo expandisse as políticas de exportação, o que impulsiona nossa moeda”, aponta.

O dólar também é fortemente influenciado pelas movimentações da economia estadunidense. No dia 14 de junho, o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, anunciou que manteria a atual taxa de juros do país, entre 5% e 5,25%. A decisão foi tomada após dez aumentos seguidos, que ocorreram desde março de 2022.

Segundo Claudemir Galvani, mestre e professor de economia política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a estabilização dos juros estadunidenses têm efeitos positivos para o Brasil: “Os Estados Unidos passam por um período de alta inflação e desemprego”. O especialista ainda comenta como, agora que a taxa de juros do país se firmou, com intuito de controlar os gastos públicos, os recursos que seriam aplicados lá, por ser considerado um mercado mais seguro, começam a ser direcionados a países de terceiro mundo, como Brasil, México e Chile, com taxas mais elevadas.

O futuro da moeda

Mas, afinal de contas, a baixa no valor do dólar é um efeito circunstancial ou uma tendência para os próximos anos? Para Campedelli, ainda que possam existir incertezas, a taxa de câmbio deve continuar caindo. “Como os Estados Unidos manterão uma política de não aumentar seus juros por um tempo, ao mesmo tempo que a taxa Selic no Brasil deve ser mantida ao menos até a próxima reunião do Banco Central, continuaremos observando uma queda vertiginosa no dólar para os próximos meses.”

O impacto mais perceptível dessa movimentação será na inflação, que já tem observado quedas. O IPCA de maio ficou em 0,23% – menor que o de abril deste ano e o de maio de 2022 (0,61% e 0,47%, respectivamente). “Como a inflação do Brasil é baseada em custos, e vários de nossos insumos são importados, o dólar caro contribuía muito para as altas desse índice. Agora que temos visto uma decaída, o preço de outros produtos, como combustíveis, também deve diminuir”, avalia Campedelli.

Porém, para Galvani, ainda não é suficiente. Para ele, o real poderá ser considerado uma moeda valorizada assim que alcançar valores entre R$ 4,40 e R$ 4,50: “É importante que tenhamos uma moeda forte, pois isso significa que ela acumula maior valor para o exterior, dando ao Brasil e ao brasileiro um maior poder de compra. Entretanto, é necessário que haja um equilíbrio, pois, quanto menor o valor de uma moeda em relação ao dólar, mais prejudicadas são as exportações, visto que outros países lucrarão menos com a compra de seus produtos”.

Já Campedelli concorda com o perigo, mas acredita que essa não deva ser uma preocupação a curto prazo. “Nossa taxa de câmbio estava extremamente elevada, muito acima do que podemos observar historicamente com o real. Mesmo que tenhamos nosso mercado perdendo certa competitividade, acredito que o custo da produção nacional irá compensar essas circunstâncias. Não adianta fomentar a competição se você não tem o valor necessário para produzir no país”, finaliza.

Especialistas alertam para possíveis impactos nas vendas externas caso doença se espalhe
por
Thomaz Cintra
João Serradas
Otávio Preto
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30/06/2023 - 12h

Na segunda-feira (12/6), o Ministério da Agricultura e Pecuária confirmou mais um caso de gripe aviária com alta patogenicidade (H5N1), desta vez no estado do Rio de Janeiro. Ao todo, até aquele momento, foram diagnosticadas 31 aves com a doença, além de outras 11 que estavam em observação.  

Cada novo diagnóstico de H5N1 acende mais ainda a luz vermelha no mercado avícola, já que a doença é famosa por se propagar com facilidade dentre as aves, com alto índice de mortalidade.  

O ministério responsável pela área declarou emergência zoossanitária em todo o território nacional. De acordo com o comunicado, a medida tem como objetivo evitar que a doença chegue à produção de aves de subsistência e comercial, além de preservar a fauna e a saúde humana.  

Além de declarar estado de alerta, o ministério publicou no Diário Oficial da União a Medida Provisória (MP) 1.177, que disponibilizou crédito de R$ 200 milhões para o enfrentamento da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP). 

“Com o estado de emergência zoossanitária em vigor no país e a confirmação de casos de Influenza Aviária em aves silvestres em quatro estados, as ações de controle e contenção da doença serão intensificadas. Assim, o crédito extraordinário será aplicado no Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa). A MP é assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet”, disse o ministério, em nota. 

Esse setor em específico da economia, movimentou mais de R$ 215 milhões em 2022, e exportou aproximadamente 4.800 milhões de toneladas de aves para diversos países, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABBA). 

Em 2023, até abril, já foram exportadas 435 mil toneladas de frango.  

Vale ressaltar que o Brasil é maior exportador de frangos do mundo;  

Confira a tabela abaixo (mil ton):

tabela gripe aviária

 

Professor de economia da Anhembi Morumbi e da FMU, Marcos Henrique do Espírito Santo, explicou que a gripe aviária está muito concentrada em animais silvestres, mas é justamente por conta do alto índice da doença que o país está em fase emergencial. Segundo ele, caso muitas aves de abate passem a ser contaminadas, o Brasil teria um problema internacional, pois muitos países importadores criariam uma barreira sanitária, suspendendo as importações de aves brasileiras. 

Para contornar esse grande obstáculo que o país enfrentaria, seria necessário investir em um amplo processo de vacinação para os animais, porém, ainda sem a possibilidade de exportar aos países que teriam fechado suas portas ao Brasil. E tudo isso, como o próprio professor diz, “geraria um pandemônio no setor”. Mas este cenário ainda está distante, muito por conta do sistema de vigilância sanitária. 

No meio de maio, quando foram confirmados os primeiros casos de gripe aviária em território nacional, os principais frigoríficos listados no Ibovespa despencaram: Marfrig (MRFG3) desabou 10,07% nos últimos 12 meses; JBS (JBSS3), dona da Seara e Friboi, chegou a cair 5,78%; Minerva Foods (BEEF3) -5,89%; BRF, dona da Sadia e Perdigão, chegou a afundar 9,17%. 

De acordo com Guto Gioielli, especialista em commodities, a gripe aviária só afetará significativamente o mercado de proteínas do Brasil, caso contamine de forma expressiva os principais produtos relacionados à exportação, como galinhas poedeiras, frangos, perus, e, de modo geral, aves que são criadas em confinamento para industrialização. Ele comenta que, ainda no mês de junho, não houve nenhum problema em termos de produção que possa afetar esse negócio, apesar do estado de alerta. Marcos também observa que o Brasil não é visto pelo resto do mundo como um país que detém a H5N1, por conta de a doença estar em sua fase inicial em solo brasileiro, por isso, ainda é possível que as empresas nacionais, produzam, abatam e exportem as aves. 

Guto ainda diz que, se, em algum momento, tivermos um crescimento grande nos casos da doença, terão de ser suspensas as exportações de produtos avícolas, e, consequentemente, as aves terão de ser abatidas. E não somente isso: depois que as aves, já mortas, forem retiradas, os aviários terão de ficar vazios por ao menos 60 dias para que o local seja desinfetado, gerando um prejuízo ainda maior para os avicultores, que, além de perderem seus produtos, irão perder também muito tempo até poderem começar a criação das aves novamente. 

Se o Brasil realmente atingir um ponto crítico em relação à doença, os consumidores também terão muitos problemas, pois, além de não poder mais consumir frango, por exemplo, terão que ir atrás de outra fonte de proteína, como os ovos. E, quando as pessoas começarem a comprar ovos em massa, os preços do produto aumentarão.  

Diante da preocupação crescente em relação à gripe aviária e seu potencial de se tornar uma nova pandemia, o Instituto Butantan iniciou o desenvolvimento de uma vacina contra a doença. O primeiro lote já está pronto para os testes pré-clínicos, que serão realizados em laboratório. No entanto, é importante destacar que o processo de desenvolvimento de uma vacina é demorado e passa por diversas etapas, incluindo os testes clínicos em humanos, que demandam autorização da Anvisa. 

 A influenza aviária é altamente contagiosa e, embora a transmissão para humanos seja atualmente limitada, o aumento de casos tem deixado as autoridades sanitárias em alerta. A doença pode ser grave e tem alta taxa de mortalidade. Portanto, o desenvolvimento de uma vacina eficaz é essencial para prevenir a propagação da gripe aviária e proteger a saúde pública. É fundamental que as autoridades e instituições de pesquisa continuem dedicando esforços para o avanço do desenvolvimento da vacina e o aprimoramento das estratégias de prevenção e controle da doença.