A cotação da moeda norte-americana chegou a R$5,86, mas encerrou em R$5,67
por
GUILHERME DEPTULA ROCHA
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08/11/2024 - 12h

 

O dólar comercial teve forte alta na manhã da quarta-feira (6), mas caiu durante o dia. Às 9h, a moeda alcançou o valor de R$5,86. Porém, à tarde, recuou para R$5,67. A disparada recente se deu após a repercussão da vitória Donald Trump (Partido Republicano) nas eleições norte-americanas. 

Desde meados de outubro, a moeda estava se valorizando, o fato se deu devido à subida do ex-presidente nas pesquisas de intenção de voto. Conforme dados do jornal “The New York Times”, no início do mês passado, sua adversária, Kamala Harris (Partido Democrata), mantinha-se à frente, com 50% da preferência. Enquanto Trump, estava com 47%. 

Porém, nas últimas semanas, o republicano subiu nas pesquisas e se equiparou à democrata: ele alcançou 48%, contra 49% dela. Esse movimento foi batizado de “Trump Trade”. 

 

POR QUE O DÓLAR DISPAROU APÓS VITÓRIA DE TRUMP?

Aproposta de governo do presidente eleito é tida como inflacionária, a partir de políticas protecionistas. O programa prevê um aumento na taxa de juros e mais impostos para importação. A ideia é provocar migração de recursos para o mercado norte-americano, fortalecendo a moeda.

Após o resultado da eleição, o dólar disparou também em outros países. Segundo DXY, índice que monitora o câmbio da moeda norte-americana em outros mercados globais, houve uma alta de quase 2%.

 

POR QUE O DÓLAR CAIU NO FIM DO DIA?

O motivo ainda não é claro. Segundo o professor de economia da FGV, Marcelo Kfoury Moinhos, em entrevista ao “Jornal Nacional”, há uma expectativa na medida de corte de gastos fiscais. O pacote será anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ainda nesta semana.

Devido a vitória de Trump, o mercado acredita que o governo entregará um pacote “crível”. Porém, o  professor de economia aponta: “Se houver frustração no tamanho desse pacote de corte de gastos pode ser que (...) o real volte a desvalorizar.

 

FUTURO

Caso o presidente eleito cumpra com suas propostas de campanha, as projeções indicam uma alta do dólar para 2025. Devido às políticas protecionistas, poderá haver um aumento na tarifa para produtos importados, reduzindo as exportações brasileiras para os Estados Unidos.

 

Descubra como a agroecologia pode beneficiar a vida das famílias brasileiras no âmbito econômico e social
por
Jessica Castro
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05/11/2024 - 12h

Recordes de altas temperaturas e períodos de seca extensos foram aliados às causas das queimadas recentes no Brasil. Nos últimos meses, o país viveu um cenário alarmante com mais de 139 mil focos de queimadas, muitas delas criminosas, devastando biomas importantes para o ciclo climático. 

 

Atrás desses números, estão comunidades inteiras que sofrem as consequências diretas: ar irrespirável, perda de colheitas e deslocamento forçado. Grande parte dessas queimadas está ligada à expansão desenfreada do agronegócio, que, na busca por mais terras para cultivo de soja e pastagens, utiliza o fogo como ferramenta de desmatamento. 

 

Embora o agronegócio mova a economia, sua busca por crescimento muitas vezes ignora os impactos sociais e ambientais, e o momento agora é de olhar novas alternativas de cultivo, antes que seja tarde demais.

 

Uma opção que se apresenta é a Agroecologia. A prática é uma alternativa sustentável para a produção agrícola que integra conceitos ecológicos e sociais e tem como objetivo equilibrar o cultivo de alimentos com os ciclos naturais e promover a justiça social. 

 

Diferente dos métodos convencionais, ela não se limita ao uso de técnicas orgânicas, mas envolve uma transformação mais ampla das práticas agrícolas, considerando aspectos culturais, políticos e ambientais. Seu foco é a regeneração dos solos, a conservação da biodiversidade, a redução do uso de insumos químicos e a valorização dos saberes tradicionais das comunidades rurais.

 

Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace
Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace

 

Alternativa ao Agronegócio

 

A prática da agroecologia surge como uma alternativa ao modelo convencional do agronegócio, que prioriza a monocultura, o uso intensivo de agrotóxicos e a maximização dos lucros a curto prazo. 

Enquanto esse método é fortemente dependente de insumos externos e tecnologias que degradam o meio ambiente e podem esgotar os recursos naturais, a agroecologia foca na sustentabilidade a longo prazo. Ela propõe sistemas diversificados, que integram culturas diferentes, reflorestamento e técnicas de conservação de solo e água. 

Isso torna os sistemas mais resilientes a pragas e mudanças climáticas, reduzindo a dependência de produtos químicos e fertilizantes industrializados. Além disso, o sistema agroecológico valoriza a autonomia dos pequenos agricultores, promovendo  cada vez mais sistemas alimentares locais e uma dependência menor de cadeias longas de distribuição. O que contribui para a segurança alimentar, uma vez que as comunidades produzem e consomem alimentos de maneira mais justa e próxima de seus territórios.

 

O benefício econômico a quem produz e quem consome

 

Do ponto de vista econômico, a agroecologia tem mostrado forte potencial para ser uma opção interessante tanto para o país quanto para as famílias que aderem a este sistema. 

“Iniciativas como as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA) mostram como os consumidores podem se tornar co-produtores, garantindo acesso a alimentos saudáveis e frescos, enquanto os agricultores têm mais segurança e menos desperdício”, comenta Paulo Moruzzi, professor adjunto do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq, na USP.

Moruzzi ainda pontua que o fortalecimento da relação do consumidor com a produção agroecológica pode impulsionar o fomento de políticas públicas que ampliem o acesso à alimentação sustentável.
 

Outro benefício econômico da prática é  a redução dos custos com insumos químicos, como fertilizantes e agrotóxicos, o que alivia o orçamento dos pequenos produtores; ou práticas como a rotação das culturas que permite  uma produção contínua sem prejudicar o solo ao longo do ano, garantindo uma renda estável  ao diminuir os riscos associados à dependência de uma única safra, característica comum no agronegócio.

 

Ao reduzir a pressão de utilização dos recursos naturais, além da contribuição efetiva para o meio ambiente a longo prazo, pode evitar gastos públicos na recuperação de áreas degradadas e mitigação de desastres ambientais. Além disso, a agroecologia pode impulsionar a economia local, pois promove cadeias curtas e regionais de produção. Assim, reduz a dependência do país de alimentos importados e fortalece os mercados internos.

 

Para as famílias agricultoras, a transição para este método de cultivo significa mais independência e resiliência frente às flutuações de mercado e mudanças climáticas. A segurança alimentar é ampliada, e o valor agregado dos produtos agroecológicos pode aumentar os lucros, já que esses produtos têm um apelo crescente entre consumidores conscientes, dispostos a pagar mais por alimentos produzidos de forma sustentável.

A agroecologia está profundamente enraizada no cotidiano de comunidades quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais no Brasil. Esses grupos, que possuem uma relação ancestral com a terra, cultivam alimentos de maneira sustentável e em harmonia com o meio ambiente. 

Mas a prática não é exclusividade dessas comunidades, ela também é adotada pela agricultura familiar e por assentamentos e acampamentos da reforma agrária. Hoje, cerca de 77% dos comércios agropecuários do país são familiares, segundo dados do Anuário da Agricultura Familiar de 2023, e muitos deles estão integrando práticas agroecológicas para preservar o solo e valorizar a biodiversidade do local onde produzem.

Essas iniciativas promovem um modelo de agricultura que valoriza o saber local e protege biomas únicos e super importantes para o equilíbrio climático do país, como o Cerrado e a Amazônia. 

A agroecologia fortalece o vínculo entre quem produz e quem consome, criando relações de consumo mais justas e solidárias. Isso ocorre, em grande parte, por meio de feiras agroecológicas e programas de políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que compra alimentos de pequenos produtores para fornecer refeições nas escolas. Essas teias garantem que o alimento chegue de maneira saudável e acessível às mesas, enquanto geram renda e fortalecem famílias agricultoras ao mesmo tempo.

Outros olhares para o consumo de alimentos

A conexão entre a agroecologia e o modo de consumo vai além da idealização de uma produção agrícola sustentável, aqui refletimos também a forma como nos relacionamos com os alimentos, os recursos naturais e as comunidades que os produzem. Esse conceito reflete a necessidade de repensarmos não só a maneira como consumimos, mas também as implicações sociais, ambientais e econômicas envolvidas no processo.

Esse olhar diferenciado para o consumo de alimentos inclui para além da valorização de produtos orgânicos produzidos por um sistema agroecológico, as métricas de quanto desperdiçamos e consumimos exacerbadamente. A agroecologia não se limita à produção sustentável, mas envolve uma conscientização mais ampla sobre a forma como os alimentos são utilizados ao longo da cadeia, desde a produção até o descarte.

O consumo consciente, nesse sentido, diz respeito a um repensar em nossos hábitos alimentares, para garantir que tudo o que consumimos não acabe em desperdício, uma prática que impacta seriamente o meio ambiente e os recursos naturais e o bolso do consumidor. 

 

Precisamos perceber que a quantidade de alimentos comprados e descartados repousa diretamente em impactos socioambientais porque contribui para a emissão de gases de efeito estufa e esgotamento dos solos. Portanto, como e o que comemos pode fazer uma grande diferença.

 

Em entrevista, o professor Paulo Moruzzi destaca a importância do Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro, data que marca a criação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), que completa 79 anos. Ele ressalta: “Nos últimos anos, esta organização multilateral tem insistido em suas orientações para os debates em torno dos problemas agroalimentares mundiais sobre a importância da busca simultânea de preservação ambiental e de garantia do direito humano à alimentação adequada. Desde 2019, a FAO promove a década da agricultura familiar, visando favorecer sistemas alimentares resistentes às mudanças climáticas e indutores de desenvolvimento territorial inclusivo, protegendo a biodiversidade, o meio ambiente e a cultura." 

 

A agroecologia passa a não ser apenas um modelo de produção, mas um convite para repensar o ciclo de vida dos alimentos e nosso papel dentro dele, promovendo uma relação mais responsável e equilibrada com o meio ambiente.

 

Prévia do IPCA-15 sobe 0,54%, puxada por alta nos preços de energia e alimentos, e reforça expectativa de novo aumento na Selic em novembro
por
Otávio Rodrigues Preto
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30/10/2024 - 12h

A prévia da inflação oficial de outubro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) e divulgada pelo IBGE na última quinta-feira (24), surpreendeu o mercado ao registrar uma alta de 0,54%, acima das expectativas dos analistas, que previam 0,50%. Esse resultado trouxe um impacto significativo para a economia brasileira, pressionando tanto o câmbio quanto o mercado de juros, além de influenciar o desempenho da bolsa de valores.

A alta do IPCA-15 foi impulsionada principalmente pelo aumento de 1,72% no grupo Habitação, com destaque para a elevação de 5,29% nos preços da energia elétrica residencial. A aplicação da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que adiciona R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos, foi o principal fator para o encarecimento da energia. Outros itens também contribuíram para a pressão inflacionária, como o gás de botijão, que subiu 2,17%, e os alimentos, que tiveram alta de 0,87%. Entre os produtos alimentícios, destacaram-se o contrafilé (5,42%) e o café moído (4,58%).

No acumulado de 12 meses, a prévia da inflação passou de 4,12% em setembro para 4,47% em outubro, ficando próxima do teto da meta de 4,50% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para 2024. Essa aceleração aumenta a expectativa de que o Banco Central (BC), sob a liderança de Roberto Campos Neto, intensifique o ritmo de alta da taxa Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 5 e 6 de novembro, e espera-se um aumento de 0,50 ponto percentual.

Dólar - Unsplash.com
Dólar - Unsplash.com

Enquanto isso, o mercado reagiu com nervosismo à divulgação dos dados. O dólar atingiu R$ 5,70 na manhã de quinta-feira, refletindo as preocupações com a inflação e o futuro da política monetária. O índice Ibovespa, por sua vez, abriu em queda, pressionado pelo cenário interno, apesar de um ambiente positivo nas bolsas internacionais, com altas nos mercados europeus e Wall Street indicando uma abertura no verde.

Além de Habitação e Alimentação, o grupo de Saúde e cuidados pessoais também registrou alta de 0,49%, influenciado pelo reajuste dos planos de saúde. O único setor a apresentar queda foi Transportes, com uma redução de 0,33% nos preços, devido principalmente à queda nas tarifas de passagens aéreas (-11,40%) e transporte público, reflexo de medidas de gratuidade durante as eleições municipais.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Decisão visa evitar problemas para o Novo Banco de Desenvolvimento em meio às sanções contra a Rússia e fortalecer o papel do Brasil no bloco econômico.
por
Otávio Rodrigues Preto
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30/10/2024 - 12h

O presidente russo, Vladimir Putin, confirmou na última quinta-feira (24) a proposta de manter o Brasil na liderança do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), principal instituição financeira do BRICS, por mais cinco anos, garantindo a continuidade de Dilma Rousseff na presidência do banco. O atual mandato de Dilma, iniciado em março de 2023, terminaria em julho de 2025, mas a extensão foi sugerida para evitar possíveis complicações relacionadas à guerra na Ucrânia.

Segundo Putin, a decisão de manter Dilma no cargo tem o objetivo de preservar a estabilidade do NDB, considerando que as sanções impostas à Rússia devido ao conflito poderiam prejudicar a atuação da instituição caso um executivo russo assumisse a presidência. "Não queremos transferir todos os problemas associados à Rússia para instituições em cujo desenvolvimento estamos interessados", afirmou o presidente russo.

Pelo regime de rodízio do NDB, a Rússia seria a próxima a indicar o presidente do banco, que tem sede em Xangai, na China, e gerencia cerca de US$ 33 bilhões em financiamentos para projetos nos países do BRICS e no Sul Global. No entanto, Putin optou por abrir mão da indicação russa, favorecendo o Brasil, que também está à frente do G20 este ano e assumirá a presidência do BRICS em 2025.

Os paísesque fazem parte do BRICS
Os países que fazem parte do BRICS - Reprodução Canva

Dilma Rousseff, que substituiu Marcos Troyjo na liderança do NDB, destacou recentemente a importância do banco em expandir os investimentos nos países do bloco e defender o uso de moedas locais para o financiamento. "É crucial disponibilizar financiamento em moeda local através de plataformas específicas", afirmou durante a última cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia.

A proposta de extensão do mandato ainda precisa ser formalmente aprovada pelos governadores do banco, que representam os países membros. Caso seja confirmada, a continuidade de Dilma reforçará o papel do Brasil no cenário internacional, especialmente no momento em que o país lidera grandes fóruns multilaterais, como o G20 e o BRICS.
 

Crise relacionada ao sanduíche Quarterão resulta em 75 casos de infecção e medidas preventivas em diversos estados dos EUA, afetando o valor de mercado da empresa.
por
Otávio Rodrigues Preto
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30/10/2024 - 12h

Um surto de infecções pela bactéria E. coli, associado ao consumo do sanduíche Quarterão, levou as ações do McDonald’s a uma queda acentuada na bolsa de Nova York, com os papéis recuando até 9% na última terça-feira (22) e acumulando perdas de quase 8% na semana. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos informou que 75 pessoas em dez estados foram infectadas pela bactéria, resultando na morte de um indivíduo no Colorado. Além disso, uma criança está internada com complicações graves relacionadas à síndrome hemolítico-urêmica.

A investigação conduzida pelo Food and Drug Administration (FDA) e pelo CDC ainda não identificou definitivamente a fonte do surto, mas as suspeitas recaem sobre as cebolas fatiadas utilizadas nos sanduíches, provenientes de um fornecedor único que atende a três centros de distribuição. Por precaução, o McDonald’s está removendo temporariamente o Quarterão de seus cardápios em regiões afetadas, incluindo Colorado, Kansas, Utah e partes de outros estados.

Lanche Quarterão
Lanche Quarterão - Reprodução Mc Donald's

O impacto na empresa foi severo, com uma perda estimada de mais de US$ 20 bilhões em valor de mercado nos últimos dias. A crise afetou a confiança dos investidores e acendeu um alerta para a cadeia de fast food e seus concorrentes. Redes como Burger King e Yum Manufacturers, responsável por Taco Bell, Pizza Hut e KFC, também adotaram medidas preventivas, removendo temporariamente as cebolas cruas de seus produtos.

A bactéria E. coli, presente no ambiente e no trato intestinal de animais, pode causar doenças graves quando ingerida, especialmente através de alimentos contaminados. Os sintomas variam de cólicas e diarreia a complicações mais severas, como insuficiência renal. A cepa responsável pelo surto, E. coli 0157:H7, é particularmente perigosa.

Para o McDonald’s, o surto de E. coli ocorre em um ano já desafiador, com as vendas globais em queda e os consumidores pressionados pela inflação, optando por alternativas mais econômicas. Em resposta, a empresa lançou uma promoção de refeição por US$ 5 para atrair clientes, mas o Quarterão foi excluído dessa oferta. As ações tomadas visam conter os prejuízos e restaurar a confiança dos consumidores e investidores.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Evento realizado nos dias 27 e 28 de junho reuniu grandes companhias do setor, autoridades, agricultores familiares
por
Ester Taragona
Nicolas Damazio
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05/07/2024 - 12h

Se autointitulando de ‘o maior evento de cultura agro do mundo’ o Global Agribusiness Forum, Festival, Food and Fun (GAFFFF), organizado pela Datagro, tradicional consultoria brasileira voltada ao agronegócio, reuniu em dois dias e em diversos ambientes do Allianz Parque o que poderiam ser eventos separados do setor.

 

De congresso com políticos e autoridades brasileiras e internacionais, à exposição de empresas, feira de pequenos produtores e até mega shows de sertanejo em um palco que dividia espaço com estandes e grelhas de fogo de chão.

 

Um pouco confuso? Provavelmente. O festival se propôs a concentrar propostas distintas, direcionadas para públicos distintos, se fiando no agro como elemento comum para unir todos eles.

 

Em uma plenária, no sétimo andar do complexo, foram realizados os painéis do fórum. A abertura oficial contou com falas do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), além dos diretores da empresa organizadora e de representantes do executivo estadual e federal, como o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Guilherme Piai Filizola, e do secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Roberto Perosa.

 

Único governador a comparecer, Eduardo Leite (PSDB-RS) participou do primeiro painel, mediado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, onde destrinchou as medidas e iniciativas promovidas por seu governo para a reconstrução do Rio Grande do Sul após o desastre climático que assolou o estado no mês de maio, com tempestades que transbordaram rios e devastaram cidades inteiras.

 

Durante sua fala, Leite adiantou, ainda, que no dia seguinte (28/6), o ministro da Secretaria Extraordinária de Apoio a Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, anunciaria um novo repasse de recursos do Governo Federal ao Estado.

 

O governador alegou haver uma insatisfação do agronegócio gaúcho com o que foi oferecido de recursos até o momento. Segundo ele, 50 mil agricultores e 4 mil pecuaristas foram diretamente impactados pelos efeitos da tragédia.

 

Outra presença de destaque foi o comissário de agricultura da União Europeia Janusz Wojciechowski, que veio ao Brasil em meio a polêmicas em relação ao Green Deal, pacote de exigências do bloco para a compra de alimentos de países exportadores, como o Brasil.

Com vigência prevista para 1 de janeiro de 2025, o acordo é visto como draconiano por especialistas por estabelecer regras rígidas demais que, em muitas vezes, podem ser impossíveis de ser atendidas.

 

Em coletiva de imprensa antes do painel que participou, Wojciechowski destacou a importância dos agricultores brasileiros na tarefa de alimentar o mundo. Questionado sobre a possibilidade de uma eventual revisão do inicio do acordo, o comissário ponderou que por conta do recente processo eleitoral na União Europeia, é necessário aguardar alguns meses até que se possam se estabelecer expectativas.

 

Ele reforçou, ainda, que mais do que exigências rigorosas, é preciso que os produtores recebam suporte financeiro para que adotem praticas sustentáveis.

 

Alguns andares abaixo, onde costumam acontecer os jogos de futebol, foram montadas tendas onde diversos pequenos produtores divulgavam e vendiam suas produções. Queijos, embutidos, licores, orgânicos e hortaliças, entre outros produtos exibidos, eram, em grande parte, produzida no Estado de São Paulo. Além dos agricultores familiares e micro agroindustriais, empresas do setor expunham seus produtos em estandes ao redor.

 

Representando o F de Food, também na área do campo aconteceram os workshops de cortes de carne na Arena Fogo. O destaque ficou para uma área de fogo de chão, pratica de assar carnes tradicional na região Sul do Brasil, mas com um requinte tecnológico: ao invés de grelhas verticais e estáticas, as enormes costelas bovinas eram grelhadas em quatro grandes giroscópios que, ao se manter em constante movimento, redirecionavam a gordura da carne para o alimento, além de assá-la uniformemente.

 

Para completar a experiência, um grande palco, também no gramado, recebeu uma apresentação visual que remetia à Festa do Peão de Barretos, maior e mais importante rodeio do Brasil e shows de dupla sertaneja como Chitãozinho e Xororó na primeira noite e Jorge e Mateus na segunda, responsáveis por fechar a maratona de programação deste ‘agropallozza’.

Em decisão unânime, Comitê resiste à pressão do presidente Lula e mantém taxa em 10,50%
por
Sônia Xavier
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20/06/2024 - 12h

 

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, na última quarta-feira (19), pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 10,50% ao ano. 

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, resistiu à pressão de Lula, que criticou duramente a cadência dada nas reduções, em entrevista  à Rádio CBN na véspera (18). 

De acordo com o presidente, Campos Neto tem lado político e trabalha para prejudicar o Brasil. 

"Temos uma situação que não necessita dessa taxa de juros. Que é uma taxa proibitiva de investimento no setor produtivo. É preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação. A inflação está controlada, vamos trabalhar em cima do real", acrescentou o chefe do Estado. 

O colegiado justificou a manutenção com base na persistência das pressões inflacionárias globais, uma maior resiliência na inflação de serviços, além da desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada.

Analisando esses fatores, somados à elevada incerteza sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos, o Comitê concluiu que "o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes". 

Outro motivo destacado pelo Copom foi a elevação das projeções de inflação. Na semana anterior, a projeção do indicador dada pelo Boletim Focus do BC era de 3,90% para 2024. Na estimativa divulgada pelo Boletim, na última segunda-feira (17), o índice subiu para 3,96%.

 

Lula em entrevista à Rádio Veredinha, em Fortaleza (CE)
O presidente Lula critica decisão do Banco Central em entrevista à Rádio Veredinha de Fortaleza (CE). Foto: Reprodução/ Canal Gov. 

 

 

Depois do resultado, o presidente Lula voltou a se manifestar contra a manutenção da taxa. Em entrevista à Rádio Verdinha, de Fortaleza (CE), ele disse que a decisão só prejudica o povo brasileiro: “Quanto mais a gente pagar em juro, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro", argumenta.

A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) também se manifestou contrária à decisão do Copom, a qual considerou “inadequada” e “excessivamente conservadora”: “neste momento, a decisão só irá impor restrições adicionais à atividade econômica – com reflexos negativos sobre o emprego e a renda –, sem que o quadro inflacionário exija tamanho sacrifício.” 

O Comitê volta a se reunir em 45 dias para uma nova reunião sobre a taxa básica de juros, mas não sinalizou, no comunicado, se haverá cortes nos próximos encontros.

Entenda como a festa junina movimenta a economia brasileira
por
Annanda Deusdará
Helena Barra
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20/06/2024 - 12h

Antes conhecida como festa joanina, a celebração que tinha referência a São João, teve seu nome alterado e passou a chamar-se festa junina, em referência ao mês de junho, em que ocorre. 

A origem da Festa Junina tem relação direta com as celebrações pagãs realizadas na Europa no solstício de verão, que tinham como objetivo homenagear os deuses da natureza e da fertilidade e afastar os maus espíritos das colheitas. Posteriormente, a festa foi incorporada pelo cristianismo e passou a fazer parte do calendário festivo do catolicismo.

A comemoração chegou ao Brasil com a colonização portuguesa e era realizada em homenagem a santos como São João e Santo Antônio. Atualmente, a Festa Junina possui caráter popular e é comemorada em todas as regiões do país, sendo associada a símbolos típicos de áreas rurais como o chapéu de palha e o vestido de “chita”.

Importância econômica

As festas juninas são responsáveis por impulsionar a economia através do aumento do turismo nacional, das decorações e da alimentação. Com isso, também geram empregos temporários, que atendem a grande demanda da época.

De acordo com dados do Ministério do Turismo as celebrações geraram, em 2023, uma receita de cerca de R$6 bilhões em todo o país, o que representa um aumento de 76% em relação à 2022, quando foram gerados mais de R$ 3,4 bilhões em retorno financeiro.

Neste ano, os dados oficiais do país ainda não foram divulgados, entretanto, alguns estudos como o do Centro de Inteligência da Economia do Turismo, que está ligado à Secretaria de Turismo e Viagens paulista, revelam uma estimativa de movimentação de R$318,8 milhões no período para o estado de São Paulo.

Para João Francisco dos Santos, vendedor de milho que tem como ponto de venda fixo a porta da universidade PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), a celebração ocupa um lugar muito importante na sua vida financeira: “As festas juninas ajudam a gente a ganhar um dinheiro extra para sobreviver durante as férias, quando a faculdade fecha as portas”. 

Além disso, o grande número de eventos para os quais é chamado para participar faz com que mais pessoas tenham uma forma de sustento nesse período. "A gente sozinho não dá conta e acaba contratando até 10 pessoas a mais", comenta o vendedor, que trabalha com apenas mais um parceiro nos dias em que não há celebração.

As celebrações atraem turistas de diversas partes do Brasil, principalmente para cidades do Nordeste, que se destacam por manter tradições como as danças de quadrilhas, o forró e a culinária típica – gerando renda para comerciantes, artesãos e prestadores de serviços. É o que acontece em cidades e estados como Caruaru, Pernambuco,Campina Grande e Paraíba.

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Festa de Caruaru, edição de 2023/Reprodução: Asces- Unita (Centro Universitário Tabosa de Almeida)

Levantamentos feitos pelo Sebrae e pelo Jornal da Paraíba mostram como os governos municipais investiram na festa nos últimos anos. No período compreendido entre 2022 e 2023, a estimativa de injeção econômica das cidades de Caruaru e Campina Grande para o evento variou entre R$ 300 e R$ 400 milhões.

O turismo rodoviário também tem contribuído para essa movimentação econômica. Segundo a Associação Brasileira de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), a movimentação prevista para o ano passado foi de mais de 300 mil passageiros transportados para os principais destinos que abrigam o evento no país.

Com relação ao setor de alimentos, os produtos juninos também sofrem com aumentos consecutivos, seja devido à entressafra (período entre o fim da colheita e início do plantio), à alta do dólar ou à própria inflação. 

Os festejos são impactados pela instabilidade econômica, e essa realidade não é algo recente.Em pesquisa realizada em 2023, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), os preços dos ingredientes utilizados no preparo dos principais pratos e quitutes tradicionais desse período aumentaram em média 11,41% nos últimos 12 meses. 

No mesmo período de alta dos produtos juninos, o IPCA-15, índice considerado uma prévia da inflação oficial, acumulou um aumento de 4,07%.

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Comidas típicas de Festas Juninas/Reprodução: Abode Stock 

Apesar de ganhar mais no período junino devido ao grande número de vendas, João conta que o milho fica mais caro devido ao aumento da procura, "[O preço] aumenta em média uns 70%. Quando chega junho, tudo que é de festa junina aumenta". 

Ele também comenta como é dividido o lucro, " Nós fazemos a festa e damos 30% para o local e os outros 70% ficam para nós", comenta o vendedor, que participa das comemorações desde 2008.

 

Importância Cultural 

Apesar da capital paulista não ser um dos principais destinos quando o assunto é festa junina, a época não passa despercebida na cidade. O destaque da cidade são as quermesses, que misturam às tradições nordestinas com a influência italiana na região, fazendo com que as mesas dos eventos misturem pinhão, quentão, pizza e focaccia.  

O destaque das celebrações em São Paulo também é percebido por quem trabalha nelas, como destaca João, “Agora está crescendo no Brasil inteiro, principalmente em São Paulo, a festa junina tem muita força”.

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Casal com roupas típicas de festa junina, se prepara para dançar quadrilha – Foto: Fabiano Pedro

 

No Brasil, a prática de soltura de balões, indicam o início das comemorações, com as fogueiras compondo o cenário. A festa conta com danças típicas, como as quadrilhas, que tem origem nas danças de salão na França e consistem basicamente numa bailada de casais caracterizados com as famosas vestimentas de caipira, ao som do forró. Outra característica marcante dessa festividade é a produção de comidas à base de milho e amendoim, também fazem parte da tradição,bebidas como quentão e vinho quente. Já as brincadeiras como a pescaria, tomba lata e saltar a fogueira, trazem a diversão para o evento e pessoas de todas as idades participam. 

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Brincadeira típica da festa junina “Tomba Lata” em escola - Foto: Reprodução/magicstareventos

Além de trazer divertimento a quem participa, as festas juninas também têm a função de preservar tradições, valorizar a cultura local e fortalecer os laços comunitários, socialmente e economicamente. 

A importância das comemorações vão além da economia, trazendo memórias afetivas para as pessoas. “Ela lembra muito a terra da gente, o lugar que a gente nasceu, porque lá rola muita festa junina", conta João, que é baiano de nascença e hoje vive em São Paulo.

Bom desempenho do setor de serviço pessoal e de comércio intensificaram crescimento do indicador
por
Beatriz Alencar
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11/06/2024 - 12h


O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2024, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgados na última terça-feira (4).  

PIB
PIB cresce 0,8% no primeiro trimestre de 2024 | Foto: Agência Brasil

O PIB é o indicador utilizado para avaliar o crescimento econômico de um país. O aumento do índice, neste trimestre, sugere uma melhora na economia brasileira após dois períodos de estagnação. Segundo o pesquisador e economista Emerson Braz, “ter bons resultados no PIB indica que a economia está melhor e que a qualidade de vida das pessoas está melhorando”.

Colocando em valores, o PIB brasileiro produziu R$ 2,7 trilhões nesses três primeiros meses do ano. Os setores mais determinantes para o crescimento foram comércio e consumo das famílias. 

O setor de consumo impactou nos números porque, de acordo com o economista, “estamos com o mercado de trabalho aquecido e, com mais empregos, maior o nível de consumo das famílias”. 

Em relação ao mesmo período do ano passado, o setor de agropecuária apresentou queda da influência no PIB. Para Braz, um dos principais motivos para este recuo é a crise climática: “[Os desequilíbrios ambientais] impactaram bastante sobre a soja e o milho, commodities significativas para a pauta exportadora do agro”, pontua.

O setor industrial também apresentou queda em relação ao trimestre imediatamente anterior. Porém, “no último mês o estado puxou um bom resultado (+10,6%) [no mercado financeiro] guiado pelo setor da indústria de petróleo e derivados”, o que deverá influenciar nos próximos resultados do PIB, acredita Braz. 

Em 2023, a indústria extrativa cresceu 8,7%, sendo o segundo maior crescimento no ano referido.

Para o próximo trimestre de 2024, a tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul poderá impactar o setor econômico devido a importância da região para a indústria de alimentos. O estado gaúcho é responsável por 70% da produção de grãos do país.

“Os olhos devem estar voltados para o setor de alimentos e seu impacto sobre a inflação, visto sua grande relevância no fornecimento para todo o país”, explicou Emerson.

Apesar disso, “o mercado financeiro tem estado de olho no risco fiscal, visto o receio do aumento das despesas do governo com medidas de recuperação”, acrescenta o pesquisador. 

Braz  ainda ressalta que, nesse momento, priorizar um acompanhamento “na condução da política monetária para um juro real menos danoso aliado ao mercado de trabalho em alta é o que ditará o ritmo do crescimento em 2024”.

Com o uso de moedas sociais, instituições bancárias populares da grande SP auxiliam no fortalecimento da economia local
por
Isabela Mendes Dos Santos
|
01/06/2024 - 12h

Em busca de um caminho para driblar a marginalização, comunidades periféricas da Grande São Paulo têm aderido às iniciativas de Economia Solidária, especificamente aos bancos comunitários de desenvolvimento, cujos principais objetivos giram em torno do fortalecimento da economia local e impulsionamento dos territórios em foco através do chamado microcrédito solidário.

Os bancos comunitários nasceram no Brasil, em 1998, em Fortaleza, no Ceará, através do Banco Palmas, criado do zero pela comunidade do bairro Conjunto Palmeiras. 

Foto da fachada do Banco Palmas, primeiro banco comunitário do Brasil. Reprodução: https://blog.acerto.com.br/informacoes-bancarias/banco-palmas/
Foto da fachada do Banco Palmas, primeiro banco comunitário do Brasil.
Reprodução: https://blog.acerto.com.br/informacoes-bancarias/banco-palmas/

Desde então, o país construiu aproximadamente 103 bancos comunitários de desenvolvimento, de acordo com o site do Instituto Bancos Palmas com dados da Rede Brasileira de Bancos Comunitários. Desses, 23 estão localizados na região sudeste, estando sete situados no estado de São Paulo. Apenas cinco, entretanto, estão associados à Rede Paulista de Bancos Comunitários, nascida durante a pandemia da covid-19 com o intuito de incentivar e garantir a resistência dessas instituições.

Em São Paulo, especificamente, essas iniciativas são provenientes da luta habitacional, que liderou o projeto intitulado “Moradia Solidária”, desenvolvido nos anos de 2007, 2008 e 2009 em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), através do Laboratório de Extensão (Labex) e da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), contando com apoio da Secretaria Nacional de Economia Popular e Solidária (Senaes) vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Assim surgiram os bancos Paulo Freire, na Cidade Tiradentes (ZL); Tonato, que fica em Carapicuíba; Cacimba, localizado em São Miguel Paulista (ZL); Padre Leo Commissari, situado em São Bernardo do Campo; e a Agência de Desenvolvimento Local "Sociedade Alternativa", no Jardim Taboão, próximo à divisa com Taboão da Serra. 

Esses cinco BCDs estão hoje associados à Rede Paulista, que é coordenada por Hamilton Rocha, sociólogo formado pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). De acordo com ele, o banco comunitário é, primeiramente, um movimento, um arranjo e uma tecnologia social que é feita com um processo determinado e de uma forma determinada que tem princípios muito concretos – mas é também um serviço financeiro que tem como objetivo a geração de trabalho e renda.

 

Mapa da área de ação dos BCDs em São Paulo. Fonte: Rede Brasileira de Bancos Comunitários. Elaboração própria.
Mapa da área de ação dos BCDs em São Paulo. Fonte: Rede Paulista de Bancos Comunitários. Elaboração própria.

A Rede da qual faz parte trabalha não só com a integração dos BCDs de São Paulo, mas também com qualquer grupo que tenha interesse em fundar seu próprio banco. Por isso, relatou, a entidade também ministra cursos de formação sobre como criar um banco comunitário e sobre outros temas envolvendo finanças solidárias. Até agora, foram seis edições do treinamento preparatório para a criação de um BCD — que costuma ter pelo menos duas turmas ao ano e duração média de sete meses, segundo Hamilton.

“Para mim foi importante fazer o curso porque com ele a gente conseguiu planejar melhor as atividades do banco e montar estratégias no bairro, levar com maior empenho o nosso trabalho na região. Recomendo o curso porque ele é muito explicativo, muito bom, vai mostrar como é a realidade de um banco comunitário”, afirma Dora Ferreira, uma das gestoras do banco Paulo Freire, em vídeo publicado no perfil da Rede Paulista nas redes sociais.

Ainda, um dos cursos mais recentes tem como foco a energia solar solidária para mulheres, que engloba benefícios tanto do ponto de vista econômico como de inclusão profissional da população feminina no setor. A adesão ao curso, conforme o sociólogo, surpreendeu os integrantes da Rede, já que mulheres de todo o Brasil e de diferentes agrupamentos da sociedade — como assentamentos, grupos universitários e comunidades quilombolas — participaram da programação.

“A gente identificou que, para gerar atividades econômicas com boa remuneração, que chamamos de valor agregado, ou seja, para que os salários e os preços sejam melhores, precisamos de capacitação profissional”, explicou. O foco, disse ele, é melhorar a qualidade de vida dos moradores. Por isso, o trabalho é feito com setores estratégicos, como luz solar, captação e tratamento de água, hortas comunitárias, farmácia viva, robótica, tecnologia da informação e games. “Ainda não podemos oferecer tudo isso, mas é a nossa estratégia de movimento como rede”, ressaltou Hamilton.

Atualmente, a Rede Paulista conta com uma parceria com o Instituto Federal de São Paulo (IFSP) para o oferecimento de cursos profissionalizantes para diferentes grupos comunitários. Em maio, foi realizado o primeiro encontro de formação nos territórios promovido pelo IFSP, que reuniu professores interessados e as comunidades que se inscreveram no projeto a fim de organizar as atividades de formação nos locais. A reunião contou com a participação de Ladislau Dowbor, economista e professor da PUC-SP, para uma conversa sobre a situação econômica do país e a importância dessa preparação, das atividades econômicas e das finanças solidárias nas comunidades.


Moedas sociais como agentes de transformação

Para além dos cursos de capacitação, os bancos comunitários dispõem de uma tecnologia essencial para o fortalecimento das economias locais: a moeda social. Ela funciona como uma “quermesse” de festa junina: o indivíduo troca seu dinheiro por fichas que são reconhecidas pelos comerciantes e, a partir de então, pode usá-las para adquirir itens nas vendas locais, estimulando suas atividades e contribuindo para a autonomia da região.

 

Mulher segurando cédulas da moeda social do banco União Sampaio. Reprodução: https://periferiaemmovimento.com.br/banco-comunitario-lanca-moeda-social-digital-no-campo-limpo/
Mulher segurando cédulas do banco União Sampaio, no Campo Limpo.
Reprodução: https://periferiaemmovimento.com.br/banco-comunitario-lanca-moeda-social-digital-no-campo-limpo/ 

A paridade cambial das moedas sociais de qualquer tipo é “um para um”, isto é, um Real (R$ 1) equivale a uma unidade monetária da moeda social emitida pelo banco comunitário local. Ao trocar o Real pela moeda social, o objetivo imediato é restringir seu uso para um território, fazendo com que os moradores gastem seu dinheiro apenas nele.

Caso um indivíduo troque a moeda social de seu banco pelo Real, há uma espécie de “penalização”, que consiste no pagamento de uma taxa pela retirada do dinheiro. De acordo com o líder da Rede, esta penalização funciona como um incentivo para que os moradores não comprem fora de seu território, incluindo os comerciantes. Segundo Hamilton, os bancos comunitários têm o poder de emissão de moeda social apenas num território determinado, delimitado a 65 mil pessoas.

Na tentativa de conectar com mais eficiência os indivíduos de cada comunidade às instituições bancárias locais, a Rede Brasileira de Bancos Comunitários desenvolveu um aplicativo móvel batizado de “e-dinheiro”, que concentra as transações financeiras feitas através dos bancos comunitários em todo o país, facilitando a atividade e fomentando os chamados Fundos Rotativos Solidários de cada grupo comunitário. 

Captura de tela do aplicativo virtual "e-dinheiro", usado para fazer pagamento em moedas sociais. Reprodução: https://www.institutobancopalmas.org/palmas-e-dinheiro/
Banner com captura de tela explicativa do app "e-dinheiro", usado para fazer pagamentos em moedas sociais. Reprodução: https://www.institutobancopalmas.org/palmas-e-dinheiro/


Funciona assim: 2% de todos os valores administrados na plataforma digital é retido para os fundos, que servem como uma espécie de “poupança comum”. Esse dinheiro é direcionado para o desenvolvimento dos territórios vinculados a cada banco comunitário, visando servir essencialmente às necessidades das pessoas que usufruem dessas instituições. É possível, por exemplo, reverter as quantias coletadas em alimentos para as famílias que precisam dentro da comunidade. 

Também é possível, com o dinheiro, organizar e oferecer cursos profissionalizantes para os moradores, com o custeio integral do maquinário e materiais necessários para tal. Investimentos que tragam, no geral, mais oportunidades e qualidade de vida para os habitantes locais podem ser “bancados” com os valores disponíveis nos fundos. Dentre as alternativas encontradas para fazer as finanças solidárias girarem nas comunidades paulistas, está a “e-lojinha”, que consiste numa loja virtual com produtos dos empreendedores locais que podem ser comprados online através da utilização de moedas sociais.

Para Henrique Pavan, doutor em Economia pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisador do tema, o banco comunitário é feito de baixo para cima, isto é, pela aspiração popular. Sobre as taxas de juros para a concessão de microcrédito, ele afirma que, em São Paulo, essa política varia – enquanto alguns bancos comunitários cobram uma taxa mínima, outros não a cobram sobre o crédito para consumo, que é, na maior parte das vezes, utilizado para custear despesas com alimentação.

“Em suma, a questão dos bancos comunitários é tipicamente brasileira, resultado de uma periferização, uma exclusão, que faz as pessoas buscarem soluções populares com outras lógicas mais horizontais”, conclui Henrique.