Se autointitulando de ‘o maior evento de cultura agro do mundo’ o Global Agribusiness Forum, Festival, Food and Fun (GAFFFF), organizado pela Datagro, tradicional consultoria brasileira voltada ao agronegócio, reuniu em dois dias e em diversos ambientes do Allianz Parque o que poderiam ser eventos separados do setor.
De congresso com políticos e autoridades brasileiras e internacionais, à exposição de empresas, feira de pequenos produtores e até mega shows de sertanejo em um palco que dividia espaço com estandes e grelhas de fogo de chão.
Um pouco confuso? Provavelmente. O festival se propôs a concentrar propostas distintas, direcionadas para públicos distintos, se fiando no agro como elemento comum para unir todos eles.
Em uma plenária, no sétimo andar do complexo, foram realizados os painéis do fórum. A abertura oficial contou com falas do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), além dos diretores da empresa organizadora e de representantes do executivo estadual e federal, como o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Guilherme Piai Filizola, e do secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Roberto Perosa.
Único governador a comparecer, Eduardo Leite (PSDB-RS) participou do primeiro painel, mediado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, onde destrinchou as medidas e iniciativas promovidas por seu governo para a reconstrução do Rio Grande do Sul após o desastre climático que assolou o estado no mês de maio, com tempestades que transbordaram rios e devastaram cidades inteiras.
Durante sua fala, Leite adiantou, ainda, que no dia seguinte (28/6), o ministro da Secretaria Extraordinária de Apoio a Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, anunciaria um novo repasse de recursos do Governo Federal ao Estado.
O governador alegou haver uma insatisfação do agronegócio gaúcho com o que foi oferecido de recursos até o momento. Segundo ele, 50 mil agricultores e 4 mil pecuaristas foram diretamente impactados pelos efeitos da tragédia.
Outra presença de destaque foi o comissário de agricultura da União Europeia Janusz Wojciechowski, que veio ao Brasil em meio a polêmicas em relação ao Green Deal, pacote de exigências do bloco para a compra de alimentos de países exportadores, como o Brasil.
Com vigência prevista para 1 de janeiro de 2025, o acordo é visto como draconiano por especialistas por estabelecer regras rígidas demais que, em muitas vezes, podem ser impossíveis de ser atendidas.
Em coletiva de imprensa antes do painel que participou, Wojciechowski destacou a importância dos agricultores brasileiros na tarefa de alimentar o mundo. Questionado sobre a possibilidade de uma eventual revisão do inicio do acordo, o comissário ponderou que por conta do recente processo eleitoral na União Europeia, é necessário aguardar alguns meses até que se possam se estabelecer expectativas.
Ele reforçou, ainda, que mais do que exigências rigorosas, é preciso que os produtores recebam suporte financeiro para que adotem praticas sustentáveis.
Alguns andares abaixo, onde costumam acontecer os jogos de futebol, foram montadas tendas onde diversos pequenos produtores divulgavam e vendiam suas produções. Queijos, embutidos, licores, orgânicos e hortaliças, entre outros produtos exibidos, eram, em grande parte, produzida no Estado de São Paulo. Além dos agricultores familiares e micro agroindustriais, empresas do setor expunham seus produtos em estandes ao redor.
Representando o F de Food, também na área do campo aconteceram os workshops de cortes de carne na Arena Fogo. O destaque ficou para uma área de fogo de chão, pratica de assar carnes tradicional na região Sul do Brasil, mas com um requinte tecnológico: ao invés de grelhas verticais e estáticas, as enormes costelas bovinas eram grelhadas em quatro grandes giroscópios que, ao se manter em constante movimento, redirecionavam a gordura da carne para o alimento, além de assá-la uniformemente.
Para completar a experiência, um grande palco, também no gramado, recebeu uma apresentação visual que remetia à Festa do Peão de Barretos, maior e mais importante rodeio do Brasil e shows de dupla sertaneja como Chitãozinho e Xororó na primeira noite e Jorge e Mateus na segunda, responsáveis por fechar a maratona de programação deste ‘agropallozza’.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, na última quarta-feira (19), pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 10,50% ao ano.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, resistiu à pressão de Lula, que criticou duramente a cadência dada nas reduções, em entrevista à Rádio CBN na véspera (18).
De acordo com o presidente, Campos Neto tem lado político e trabalha para prejudicar o Brasil.
"Temos uma situação que não necessita dessa taxa de juros. Que é uma taxa proibitiva de investimento no setor produtivo. É preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação. A inflação está controlada, vamos trabalhar em cima do real", acrescentou o chefe do Estado.
O colegiado justificou a manutenção com base na persistência das pressões inflacionárias globais, uma maior resiliência na inflação de serviços, além da desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada.
Analisando esses fatores, somados à elevada incerteza sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos, o Comitê concluiu que "o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes".
Outro motivo destacado pelo Copom foi a elevação das projeções de inflação. Na semana anterior, a projeção do indicador dada pelo Boletim Focus do BC era de 3,90% para 2024. Na estimativa divulgada pelo Boletim, na última segunda-feira (17), o índice subiu para 3,96%.
Depois do resultado, o presidente Lula voltou a se manifestar contra a manutenção da taxa. Em entrevista à Rádio Verdinha, de Fortaleza (CE), ele disse que a decisão só prejudica o povo brasileiro: “Quanto mais a gente pagar em juro, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro", argumenta.
A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) também se manifestou contrária à decisão do Copom, a qual considerou “inadequada” e “excessivamente conservadora”: “neste momento, a decisão só irá impor restrições adicionais à atividade econômica – com reflexos negativos sobre o emprego e a renda –, sem que o quadro inflacionário exija tamanho sacrifício.”
O Comitê volta a se reunir em 45 dias para uma nova reunião sobre a taxa básica de juros, mas não sinalizou, no comunicado, se haverá cortes nos próximos encontros.
Antes conhecida como festa joanina, a celebração que tinha referência a São João, teve seu nome alterado e passou a chamar-se festa junina, em referência ao mês de junho, em que ocorre.
A origem da Festa Junina tem relação direta com as celebrações pagãs realizadas na Europa no solstício de verão, que tinham como objetivo homenagear os deuses da natureza e da fertilidade e afastar os maus espíritos das colheitas. Posteriormente, a festa foi incorporada pelo cristianismo e passou a fazer parte do calendário festivo do catolicismo.
A comemoração chegou ao Brasil com a colonização portuguesa e era realizada em homenagem a santos como São João e Santo Antônio. Atualmente, a Festa Junina possui caráter popular e é comemorada em todas as regiões do país, sendo associada a símbolos típicos de áreas rurais como o chapéu de palha e o vestido de “chita”.
Importância econômica
As festas juninas são responsáveis por impulsionar a economia através do aumento do turismo nacional, das decorações e da alimentação. Com isso, também geram empregos temporários, que atendem a grande demanda da época.
De acordo com dados do Ministério do Turismo as celebrações geraram, em 2023, uma receita de cerca de R$6 bilhões em todo o país, o que representa um aumento de 76% em relação à 2022, quando foram gerados mais de R$ 3,4 bilhões em retorno financeiro.
Neste ano, os dados oficiais do país ainda não foram divulgados, entretanto, alguns estudos como o do Centro de Inteligência da Economia do Turismo, que está ligado à Secretaria de Turismo e Viagens paulista, revelam uma estimativa de movimentação de R$318,8 milhões no período para o estado de São Paulo.
Para João Francisco dos Santos, vendedor de milho que tem como ponto de venda fixo a porta da universidade PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), a celebração ocupa um lugar muito importante na sua vida financeira: “As festas juninas ajudam a gente a ganhar um dinheiro extra para sobreviver durante as férias, quando a faculdade fecha as portas”.
Além disso, o grande número de eventos para os quais é chamado para participar faz com que mais pessoas tenham uma forma de sustento nesse período. "A gente sozinho não dá conta e acaba contratando até 10 pessoas a mais", comenta o vendedor, que trabalha com apenas mais um parceiro nos dias em que não há celebração.
As celebrações atraem turistas de diversas partes do Brasil, principalmente para cidades do Nordeste, que se destacam por manter tradições como as danças de quadrilhas, o forró e a culinária típica – gerando renda para comerciantes, artesãos e prestadores de serviços. É o que acontece em cidades e estados como Caruaru, Pernambuco,Campina Grande e Paraíba.
Levantamentos feitos pelo Sebrae e pelo Jornal da Paraíba mostram como os governos municipais investiram na festa nos últimos anos. No período compreendido entre 2022 e 2023, a estimativa de injeção econômica das cidades de Caruaru e Campina Grande para o evento variou entre R$ 300 e R$ 400 milhões.
O turismo rodoviário também tem contribuído para essa movimentação econômica. Segundo a Associação Brasileira de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), a movimentação prevista para o ano passado foi de mais de 300 mil passageiros transportados para os principais destinos que abrigam o evento no país.
Com relação ao setor de alimentos, os produtos juninos também sofrem com aumentos consecutivos, seja devido à entressafra (período entre o fim da colheita e início do plantio), à alta do dólar ou à própria inflação.
Os festejos são impactados pela instabilidade econômica, e essa realidade não é algo recente.Em pesquisa realizada em 2023, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), os preços dos ingredientes utilizados no preparo dos principais pratos e quitutes tradicionais desse período aumentaram em média 11,41% nos últimos 12 meses.
No mesmo período de alta dos produtos juninos, o IPCA-15, índice considerado uma prévia da inflação oficial, acumulou um aumento de 4,07%.
Apesar de ganhar mais no período junino devido ao grande número de vendas, João conta que o milho fica mais caro devido ao aumento da procura, "[O preço] aumenta em média uns 70%. Quando chega junho, tudo que é de festa junina aumenta".
Ele também comenta como é dividido o lucro, " Nós fazemos a festa e damos 30% para o local e os outros 70% ficam para nós", comenta o vendedor, que participa das comemorações desde 2008.
Importância Cultural
Apesar da capital paulista não ser um dos principais destinos quando o assunto é festa junina, a época não passa despercebida na cidade. O destaque da cidade são as quermesses, que misturam às tradições nordestinas com a influência italiana na região, fazendo com que as mesas dos eventos misturem pinhão, quentão, pizza e focaccia.
O destaque das celebrações em São Paulo também é percebido por quem trabalha nelas, como destaca João, “Agora está crescendo no Brasil inteiro, principalmente em São Paulo, a festa junina tem muita força”.
No Brasil, a prática de soltura de balões, indicam o início das comemorações, com as fogueiras compondo o cenário. A festa conta com danças típicas, como as quadrilhas, que tem origem nas danças de salão na França e consistem basicamente numa bailada de casais caracterizados com as famosas vestimentas de caipira, ao som do forró. Outra característica marcante dessa festividade é a produção de comidas à base de milho e amendoim, também fazem parte da tradição,bebidas como quentão e vinho quente. Já as brincadeiras como a pescaria, tomba lata e saltar a fogueira, trazem a diversão para o evento e pessoas de todas as idades participam.
Além de trazer divertimento a quem participa, as festas juninas também têm a função de preservar tradições, valorizar a cultura local e fortalecer os laços comunitários, socialmente e economicamente.
A importância das comemorações vão além da economia, trazendo memórias afetivas para as pessoas. “Ela lembra muito a terra da gente, o lugar que a gente nasceu, porque lá rola muita festa junina", conta João, que é baiano de nascença e hoje vive em São Paulo.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2024, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgados na última terça-feira (4).
O PIB é o indicador utilizado para avaliar o crescimento econômico de um país. O aumento do índice, neste trimestre, sugere uma melhora na economia brasileira após dois períodos de estagnação. Segundo o pesquisador e economista Emerson Braz, “ter bons resultados no PIB indica que a economia está melhor e que a qualidade de vida das pessoas está melhorando”.
Colocando em valores, o PIB brasileiro produziu R$ 2,7 trilhões nesses três primeiros meses do ano. Os setores mais determinantes para o crescimento foram comércio e consumo das famílias.
O setor de consumo impactou nos números porque, de acordo com o economista, “estamos com o mercado de trabalho aquecido e, com mais empregos, maior o nível de consumo das famílias”.
Em relação ao mesmo período do ano passado, o setor de agropecuária apresentou queda da influência no PIB. Para Braz, um dos principais motivos para este recuo é a crise climática: “[Os desequilíbrios ambientais] impactaram bastante sobre a soja e o milho, commodities significativas para a pauta exportadora do agro”, pontua.
O setor industrial também apresentou queda em relação ao trimestre imediatamente anterior. Porém, “no último mês o estado puxou um bom resultado (+10,6%) [no mercado financeiro] guiado pelo setor da indústria de petróleo e derivados”, o que deverá influenciar nos próximos resultados do PIB, acredita Braz.
Em 2023, a indústria extrativa cresceu 8,7%, sendo o segundo maior crescimento no ano referido.
Para o próximo trimestre de 2024, a tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul poderá impactar o setor econômico devido a importância da região para a indústria de alimentos. O estado gaúcho é responsável por 70% da produção de grãos do país.
“Os olhos devem estar voltados para o setor de alimentos e seu impacto sobre a inflação, visto sua grande relevância no fornecimento para todo o país”, explicou Emerson.
Apesar disso, “o mercado financeiro tem estado de olho no risco fiscal, visto o receio do aumento das despesas do governo com medidas de recuperação”, acrescenta o pesquisador.
Braz ainda ressalta que, nesse momento, priorizar um acompanhamento “na condução da política monetária para um juro real menos danoso aliado ao mercado de trabalho em alta é o que ditará o ritmo do crescimento em 2024”.
Em busca de um caminho para driblar a marginalização, comunidades periféricas da Grande São Paulo têm aderido às iniciativas de Economia Solidária, especificamente aos bancos comunitários de desenvolvimento, cujos principais objetivos giram em torno do fortalecimento da economia local e impulsionamento dos territórios em foco através do chamado microcrédito solidário.
Os bancos comunitários nasceram no Brasil, em 1998, em Fortaleza, no Ceará, através do Banco Palmas, criado do zero pela comunidade do bairro Conjunto Palmeiras.
Desde então, o país construiu aproximadamente 103 bancos comunitários de desenvolvimento, de acordo com o site do Instituto Bancos Palmas com dados da Rede Brasileira de Bancos Comunitários. Desses, 23 estão localizados na região sudeste, estando sete situados no estado de São Paulo. Apenas cinco, entretanto, estão associados à Rede Paulista de Bancos Comunitários, nascida durante a pandemia da covid-19 com o intuito de incentivar e garantir a resistência dessas instituições.
Em São Paulo, especificamente, essas iniciativas são provenientes da luta habitacional, que liderou o projeto intitulado “Moradia Solidária”, desenvolvido nos anos de 2007, 2008 e 2009 em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), através do Laboratório de Extensão (Labex) e da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), contando com apoio da Secretaria Nacional de Economia Popular e Solidária (Senaes) vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Assim surgiram os bancos Paulo Freire, na Cidade Tiradentes (ZL); Tonato, que fica em Carapicuíba; Cacimba, localizado em São Miguel Paulista (ZL); Padre Leo Commissari, situado em São Bernardo do Campo; e a Agência de Desenvolvimento Local "Sociedade Alternativa", no Jardim Taboão, próximo à divisa com Taboão da Serra.
Esses cinco BCDs estão hoje associados à Rede Paulista, que é coordenada por Hamilton Rocha, sociólogo formado pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). De acordo com ele, o banco comunitário é, primeiramente, um movimento, um arranjo e uma tecnologia social que é feita com um processo determinado e de uma forma determinada que tem princípios muito concretos – mas é também um serviço financeiro que tem como objetivo a geração de trabalho e renda.
A Rede da qual faz parte trabalha não só com a integração dos BCDs de São Paulo, mas também com qualquer grupo que tenha interesse em fundar seu próprio banco. Por isso, relatou, a entidade também ministra cursos de formação sobre como criar um banco comunitário e sobre outros temas envolvendo finanças solidárias. Até agora, foram seis edições do treinamento preparatório para a criação de um BCD — que costuma ter pelo menos duas turmas ao ano e duração média de sete meses, segundo Hamilton.
“Para mim foi importante fazer o curso porque com ele a gente conseguiu planejar melhor as atividades do banco e montar estratégias no bairro, levar com maior empenho o nosso trabalho na região. Recomendo o curso porque ele é muito explicativo, muito bom, vai mostrar como é a realidade de um banco comunitário”, afirma Dora Ferreira, uma das gestoras do banco Paulo Freire, em vídeo publicado no perfil da Rede Paulista nas redes sociais.
Ainda, um dos cursos mais recentes tem como foco a energia solar solidária para mulheres, que engloba benefícios tanto do ponto de vista econômico como de inclusão profissional da população feminina no setor. A adesão ao curso, conforme o sociólogo, surpreendeu os integrantes da Rede, já que mulheres de todo o Brasil e de diferentes agrupamentos da sociedade — como assentamentos, grupos universitários e comunidades quilombolas — participaram da programação.
“A gente identificou que, para gerar atividades econômicas com boa remuneração, que chamamos de valor agregado, ou seja, para que os salários e os preços sejam melhores, precisamos de capacitação profissional”, explicou. O foco, disse ele, é melhorar a qualidade de vida dos moradores. Por isso, o trabalho é feito com setores estratégicos, como luz solar, captação e tratamento de água, hortas comunitárias, farmácia viva, robótica, tecnologia da informação e games. “Ainda não podemos oferecer tudo isso, mas é a nossa estratégia de movimento como rede”, ressaltou Hamilton.
Atualmente, a Rede Paulista conta com uma parceria com o Instituto Federal de São Paulo (IFSP) para o oferecimento de cursos profissionalizantes para diferentes grupos comunitários. Em maio, foi realizado o primeiro encontro de formação nos territórios promovido pelo IFSP, que reuniu professores interessados e as comunidades que se inscreveram no projeto a fim de organizar as atividades de formação nos locais. A reunião contou com a participação de Ladislau Dowbor, economista e professor da PUC-SP, para uma conversa sobre a situação econômica do país e a importância dessa preparação, das atividades econômicas e das finanças solidárias nas comunidades.
Moedas sociais como agentes de transformação
Para além dos cursos de capacitação, os bancos comunitários dispõem de uma tecnologia essencial para o fortalecimento das economias locais: a moeda social. Ela funciona como uma “quermesse” de festa junina: o indivíduo troca seu dinheiro por fichas que são reconhecidas pelos comerciantes e, a partir de então, pode usá-las para adquirir itens nas vendas locais, estimulando suas atividades e contribuindo para a autonomia da região.
A paridade cambial das moedas sociais de qualquer tipo é “um para um”, isto é, um Real (R$ 1) equivale a uma unidade monetária da moeda social emitida pelo banco comunitário local. Ao trocar o Real pela moeda social, o objetivo imediato é restringir seu uso para um território, fazendo com que os moradores gastem seu dinheiro apenas nele.
Caso um indivíduo troque a moeda social de seu banco pelo Real, há uma espécie de “penalização”, que consiste no pagamento de uma taxa pela retirada do dinheiro. De acordo com o líder da Rede, esta penalização funciona como um incentivo para que os moradores não comprem fora de seu território, incluindo os comerciantes. Segundo Hamilton, os bancos comunitários têm o poder de emissão de moeda social apenas num território determinado, delimitado a 65 mil pessoas.
Na tentativa de conectar com mais eficiência os indivíduos de cada comunidade às instituições bancárias locais, a Rede Brasileira de Bancos Comunitários desenvolveu um aplicativo móvel batizado de “e-dinheiro”, que concentra as transações financeiras feitas através dos bancos comunitários em todo o país, facilitando a atividade e fomentando os chamados Fundos Rotativos Solidários de cada grupo comunitário.
Funciona assim: 2% de todos os valores administrados na plataforma digital é retido para os fundos, que servem como uma espécie de “poupança comum”. Esse dinheiro é direcionado para o desenvolvimento dos territórios vinculados a cada banco comunitário, visando servir essencialmente às necessidades das pessoas que usufruem dessas instituições. É possível, por exemplo, reverter as quantias coletadas em alimentos para as famílias que precisam dentro da comunidade.
Também é possível, com o dinheiro, organizar e oferecer cursos profissionalizantes para os moradores, com o custeio integral do maquinário e materiais necessários para tal. Investimentos que tragam, no geral, mais oportunidades e qualidade de vida para os habitantes locais podem ser “bancados” com os valores disponíveis nos fundos. Dentre as alternativas encontradas para fazer as finanças solidárias girarem nas comunidades paulistas, está a “e-lojinha”, que consiste numa loja virtual com produtos dos empreendedores locais que podem ser comprados online através da utilização de moedas sociais.
Para Henrique Pavan, doutor em Economia pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisador do tema, o banco comunitário é feito de baixo para cima, isto é, pela aspiração popular. Sobre as taxas de juros para a concessão de microcrédito, ele afirma que, em São Paulo, essa política varia – enquanto alguns bancos comunitários cobram uma taxa mínima, outros não a cobram sobre o crédito para consumo, que é, na maior parte das vezes, utilizado para custear despesas com alimentação.
“Em suma, a questão dos bancos comunitários é tipicamente brasileira, resultado de uma periferização, uma exclusão, que faz as pessoas buscarem soluções populares com outras lógicas mais horizontais”, conclui Henrique.