Cantora compra as próprias masters após seis anos disputando e não precisará regravar discos antigos
por
Luis Henrique Oliveira
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03/06/2025 - 12h

Na última sexta-feira (30), Taylor Swift anunciou em carta aberta para os fãs que readquiriu o direito de suas músicas, expressando a felicidade de ter a posse de suas gravações após seis anos de disputa. 

"Tenho chorado de alegria em intervalos aleatórios desde que descobri que isso está realmente acontecendo. [...] Toda música que eu já fiz… agora pertence… a mim ", escreveu a artista. 

Cantora Taylor Swift com os discos "Taylor Swift" (2006), "Fearless" (2008), "Speak Now" (2010), "Red" (2012), "1989" (2014) e "Reputation" (2017)
Taylor Swift junto dos seus seis primeiros álbuns para anúncio da recuperação. Foto: Reprodução/X/@taylorswift13

 

Swift havia perdido os direitos autorais dos primeiros seis discos (o autointitulado “Taylor Swift”, “Fearless”, “Speak Now”, “Red”, “1989” e “Reputation”, em ordem de lançamento) em 2019, quando a gravadora Big Machine Records, que detinha suas masters, foi vendida para o empresário Scooter Braun. 

Na época, Taylor disse que não teve a chance de comprar o próprio catálogo e descreveu a situação como “o pior cenário possível”. Um ano depois, em 2020, Braun revendeu os direitos para a Shamrock Holdings por cerca de US$300 milhões. A cantora alegou que, novamente, não houve a possibilidade de compra e declarou em comunicado oficial que essa foi a segunda vez em que sua arte foi vendida sem o seu conhecimento.

A lide pela recuperação de suas masters influenciou outros cantores a exigirem contratos que deixem o controle de seus catálogos para si mesmos, como por exemplo Olivia Rodrigo. “É tão libertador poder dizer o que você quer, se expressar e poder controlar sua vida e sua arte”, disse em entrevista para o Today Show.

A luta de artistas pelo direito de suas canções não é um caso isolado. Nos anos 1990, Prince travou uma batalha  pelo controle de suas masters contra a Warner Bros. Records, chegando a escrever a palavra “escravo” em seu rosto como forma de protesto e a mudar seu nome artístico por um símbolo inominável, que misturava os sinais dos gêneros feminino e masculino,  sendo chamado de “O Artista Anteriormente Conhecido Como Prince” durante sete anos. 

No Brasil, Gilberto Gil ganhou um processo contra a mesma gravadora, reivindicando para si o direito de assumir a gestão de seu catálogo musical.

 

A volta por cima

Taylor Swift aproveitou uma brecha contratual que permitia a regravação de seus primeiros álbuns e começou a relança-los como meio de dominar sua discografia. Intitulados Taylor’s Version – ou “versão da Taylor”, em tradução livre, o projeto se iniciou em 2021 com o disco “Fearless”, que garantiu o álbum do ano para a cantora em 2008. 

Além das faixas já conhecidas pelo público, a regravação ainda contou com seis músicas inéditas, originalmente descartadas na primeira versão, apelidadas de “From The Vault” (“Direto do Cofre”, em tradução livre) pela artista.

Em novembro do mesmo ano, Swift lançou o “Red (Taylor’s Version)” e alavancou a qualidade das regravações, dirigindo um curta-metragem para a versão de 10 minutos da canção All Too Well, um clipe para a faixa From The Vault “I Bet You Think About Me” e fechando uma parceria com a rede de cafés Starbucks. A possibilidade de reviver as eras antigas da cantora animou os fãs, que ficaram ávidos pelas regravações posteriores, criando teorias sobre quando sairiam as próximas. 

Cantora Taylor Swift usando um body rosa durante o ato "Lover", na turnê The Eras Tour
Taylor Swift possui a turnê mais lucrativa da história. Foto: Reprodução/X/@taylorswoft13

 

O relançamento dos álbuns “Speak Now” e “1989” só vieram depois, em 2023. Nesse intervalo de tempo, Taylor lançou os CDs inéditos “Midnights” e “The Tortured Poets Department” sob a gravadora Republic Records, além de entrar em turnê com a bilionária The Eras Tour, que celebrava cada fase da carreira. 

“Reputation” e o debut “Taylor Swift” não chegaram a ver a luz do dia, uma vez que a cantora conseguiu comprar o catálogo novamente com a Shamrock. Na carta divulgada, ela explica que já regravou todo o álbum de estreia e gosta de como ele soa agora. Em contrapartida, não chegou a trabalhar em um quarto do Reputation. 

“O álbum foi tão específico para aquele momento da minha vida, e eu continuava esperando reencontrar aquele apoio emocional para recriá-lo. Toda aquela postura desafiadora, aquele espírito inquebrável – eu precisava reencontrar isso para fazer o Rep TV.”, escreveu. Ela não desanima sobre a possibilidade de relançar eles e diz que “esses dois álbuns ainda poderão ter seus momentos de renascimento, quando a hora certa chegar, se isso for algo que vocês [fãs] ficariam animados em ver. Mas se acontecer, não será mais a partir de um lugar de tristeza e saudade do que eu gostaria de ter”. 

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13 canções solo e três faixas conjuntas celebram o 10º aniversário de um dos grupos mais influentes do K-pop
por
Ana Julia Bertolaccini
Natália Perez
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29/05/2025 - 12h

Os 13 membros do grupo de K-pop, Seventeen, comemoraram  dez anos de sucesso com um álbum que combina as palavras em inglês 'birthday' (aniversário) e 'burst' (estouro) para expressar a energia única do grupo. Lançado na última segunda-feira (26), “Happy Burstday”, expõe o desejo contínuo do grupo de se reinventar e se aventurar em novos estilos, sem perder a essência. 

Dez anos atrás, em 26 de maio de 2015, o recém formado “Seventeen”, até então administrado pela pequena empresa Pledis Entertainment, fez seu debut com o hit "Adore U” (아낀다). Apesar de serem muito novos - o membro mais velho, S.Coups, tinha apenas 19 anos na época - o grupo sempre fez questão de produzir suas próprias músicas. 

Woozi, principal produtor do grupo, carrega até hoje o recorde de artista mais novo a se tornar parte da Associação de Copyright Musical Coreana (KOMCA) com créditos em composição, arranjo e produção em quase 200 canções. 

 Burst Stage, um show sem igual 

Para comemorar uma década da formação do grupo, o Seventeen preparou um show especial gratuito nomeado como “B-Day: Party Burst Stage” que aconteceu no domingo (25). De forma inédita para um grupo de K-pop, toda a estrutura para o show foi montada na ponte Jamsu sobre o rio Han, ponto central da metrópole de Seul, na Coreia do Sul. 

A performance de quase 2 horas contou com músicas marcantes do grupo, fogos de artifício e a primeira apresentação ao vivo das novas músicas do álbum, que só seria lançado no dia seguinte. As autoridades sul-coreanas estimam que o evento reuniu cerca de 60 mil Carats, nome dado aos fãs do grupo. O show também foi transmitido online de maneira simultânea pelos canais oficiais do grupo. 

“Performar aqui é realmente impressionante”, comentou o integrante DK durante a apresentação. “É tudo graças às nossas Carats. Nada disso seria possível sem vocês”, completou.

Mesmo após uma década de carreira juntos, os membros reafirmam o compromisso de manter o grupo unido. "Seventeen desafiará a eternidade", declarou o membro Hoshi durante o fanmeeting do grupo em Osaka, ocorrido em março. A frase foi tão marcante que se tornou adorno do exterior do prédio da sede da HYBE, atual empresa do grupo no centro de Seul. 

Além do palco, outras áreas no entorno da ponte foram preparadas para receber os fãs, como o parque Banpo Hangang que transmitiu o show por grandes telões. Alguns fãs foram além, assistindo a apresentação em barcos alugados no rio.

Durante o fim de semana, um espaço chamado “Seventeen History Zone” funcionou como uma espécie de museu da trajetória do Seventeen, colocando em exibição os aneis de grupo de cada um dos membros, que se reúnem em uma cerimônia de troca de aneis a cada novo álbum completo lançado.

Mensagem para o Brasil

A jornalista Isabela Gadelha, da CNN Brasil, conseguiu uma entrevista exclusiva com o Seventeen para o quadro “K-tudo CNN” e um vídeo especial para os fãs brasileiros. Em live na última terça-feira (27), foi ao ar uma matéria completa sobre os dez anos de carreira e o lançamento do novo álbum, com perguntas e respostas que explicam como é a convivência entre os membros do grupo e mostram um pouco da singularidade de cada um deles.  De acordo com DINO, o integrante mais novo da formação, todos convivem como irmãos, sem formalidade. 

Isabela, que já é jornalista de Kpop há 3 anos, contou à Agemt que conseguiu unir sua paixão ao profissionalismo nas perguntas da entrevista e aproveitou para tirar dúvidas pessoais sobre o grupo, que é um dos seus favoritos da indústria. 

“Eu sinto que ainda não caiu a ficha porque foi tudo muito rápido. Imagina quantos veículos no mundo todo estão tentando? Tive a oportunidade de tirar dúvidas minhas como fã, como a questão da linguagem informal deles e as reuniões mensais que eles fazem. É meio surreal porque ser fã de um grupo que é muito famoso torna tudo mais difícil de conseguir”, relatou. 

“Isa” conta que sempre fica um pouco nervosa antes de ouvir um álbum de um artista que ama e sempre se questiona: “e se, dessa vez, eu não gostar?”. Apesar disso, ela afirma que o Seventeen sempre a surpreende positivamente. Para ela, o “Happy Burstday” chamou a atenção especialmente pelos solos, que foram uma maneira dos fãs conhecerem melhor cada integrante. “Alguns até me surpreenderam com o gênero que escolheram cantar. Wonwoo, por exemplo, eu não esperava uma música tão doce”, disse. 

De acordo com a jornalista, ser um grupo autoproduzido e com liberdade criativa é o grande diferencial. “Eles se inspiram na vida pessoal, na amizade, nas interações com os fãs e nas fases de vida que vivem. Canções como 'Kidult', 'Circles' e 'I don't understand but I love you' nasceram assim e se tornam ainda mais especiais para nós fãs.”

Responsável pela entrevista e por trazer a mensagem em vídeo de 4 membros do grupo aos fãs brasileiros, Isabela disse que ficou muito feliz ao ter a possibilidade de aproximá-los do Brasil. “Em 10 anos de carreira eles nunca vieram ao Brasil e uma mensagem como essa dá uma esperança de que ‘vem aí’, sabe? Espero que mais interações venham no futuro! Queria eles no Brasil, dançando Super versão Forró, tomando uma caipirinha”, finaliza. 

Faixa a faixa: uma análise de Happy Burstday

Com um conceito ousado e inspirações artísticas visuais e musicais que remetem a um estilo mais alternativo, o single promocional “THUNDER” tem um refrão chiclete e um instrumental um pouco mais barulhento do que o estilo de música que o Seventeen costuma apresentar. 
Embora ainda não chegue a ser considerado um “panelaço”-  maneira como os fãs se referem a canções mais energéticas do Kpop - nota-se um fundo mais marcante e eletrônico em sua composição, que é viciante e cativante. 

A ideia de comemoração está presente em todo o disco. Um conceito que não é assim tão novo, uma vez que o grupo já trouxe a ideia de celebrar os maiores hits e composições mais importantes de toda a sua carreira no álbum “Seventeen is Right Here”, lançado em 29 de abril de 2024. Apesar disso, é visível que eles não vivem apenas de passado e sempre incorporam novidade e criatividade às suas obras. 

O “Happy Burstday” é composto por 16 faixas, sendo três delas gravadas em conjunto (com exceção de Jeonghan que já cumpria serviço militar quando as gravações se iniciaram). As outras 13músicas são solos de cada um dos integrantes, incluindo as canções de Wonwoo e Jeonghan, que terminaram de gravá-las antes do alistamento. 

“HBD” parece uma canção de aniversário pensada exatamente para o Seventeen. Seu instrumental, no entanto, lembra um pouco o Pop-Rock de Avril Lavigne e 5 Seconds of Summer, mas sem deixar de lado as características exclusivas do pop coreano. A terceira música do álbum, com todos os integrantes e produzida por Pharrell Williams, “Bad Influence”, é menos alegre e divertida e brinca com um ritmo mais sedutor. A faixa foi trilha sonora do desfile da Louis Vuitton na Paris Fashion Week na França, em janeiro deste ano. 

As produções solo são bem autênticas e distintas umas das outras, provando mais uma vez que eles são um grupo versátil e que sabe trabalhar com diferentes gêneros musicais e manifestações artísticas. “Shake if off”, primeira música solo de Mingyu, um dos rappers do grupo, se inspira no estilo tech house, uma evolução da música eletrônica. A canção foi classificada como inapropriada para transmissão na KBS (Korean Broadcasting System), um dos principais canais do país. O motivo é a letra, que segundo a emissora, possui “expressões sexualmente sugestivas”. 

“Skyfall (THE 8 solo)”  também traz influências eletrônicas, mas com uma forte identidade pessoal que já é conhecida de outras composições, como “Orbit”, faixa de seu projeto solo “Stardust” lançado em dezembro de 2024.

As batidas aceleradas e divertidas de “Gemini” de Jun e “Trigger” de Dino reforçam a estética de comemoração. Já Hoshi, apesar de ser visto sempre como a presença mais elétrica do grupo nos shows e apresentações, retomou um pouco da estética teatral e sensual na nova canção “Damage”, que foi co-produzida por Timbaland, um ícone dos anos 2000. 

“Happy Virus” traz a voz inconfundível de DK como centro da composição, que como de costume, transmite a sensação de conforto. “Jungle”, de S.Coups, é o que era esperado do líder da unit de Hip Hop do Seventeen, com uma batida mais forte, que acompanha sua autenticidade ao cantar. Vernon trouxe mais um pouco do “Pop rock” em “Shining Star” com um instrumental mais pesado e a forte presença da guitarra em uma faceta mais romântica do gênero. 

“Destiny”, do principal compositor do grupo e líder da vocal line, Woozi, é uma das músicas mais emocionantes do álbum. De acordo com Bumzu, um dos principais nomes por trás de diversas canções do Seventeen ao longo da carreira, “foi uma música feita através de muito pensamento”. 

No mesma linha musical estão “Raindrops” de Seungkwan, “Fortunate Change” de Joshua e “Coincidence” de Jeonghan, esta que emociona os fãs com um instrumental mais clássico, somado a maneira sensível de cantar, a qual já não é executada ao vivo desde que o integrante iniciou o serviço militar em 26 de setembro do ano passado. 

Por fim, 99,9% do membro Wonwoo segue com a inspiração tradicional e clássica, com o piano e instrumentos de sopro em evidência, colocando a emoção como ponto central da composição, diferentemente do que costuma ser apresentado por ele, que também é parte da unit de Hip Hop do grupo. 

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Seventeen em imagem promocional para o álbum “Happy Burstday”. (Foto: Instagram/@saythename_17)
 


Recordes nos Charts

A expectativa pelo mais novo comeback do Seventeen foi visível já na liberação do pré-salvamento de “Happy Burstday”. O Spotify, por exemplo, divulgou no dia 21 de maio que o álbum estava entre os dez mais aguardados do mês na plataforma, ao lado de nomes como Lorde, Ed Sheeran e Green Day.

Segundo a SVT Billboard, logo nas primeiras horas de lançamento, a faixa principal do álbum, “THUNDER”, alcançou o primeiro lugar em 22 países - inclusive no Brasil no ITunes. A música também se tornou a primeira no TOP 100 da MelOn, principal plataforma de streaming musical coreana. Ao longo do primeiro dia, as 16 faixas do álbum atingiram o topo do ranking da plataforma. Poucas horas depois, o Seventeen estabeleceu um recorde como o primeiro grupo idol no país a ocupar simultaneamente as 16 primeiras posições do ranking com todas as músicas de um mesmo álbum. 

Além disso, a plataforma Hanteo registrou mais de 2.260.000 cópias vendidas nas primeiras 24 horas. O número não só é o maior de 2025 até o momento, como também coloca “Happy Burstday” entre os dez mais vendidos no dia de estreia em toda a história da plataforma, ranking que já contava com a presença de outros cinco álbuns do Seventeen: FML (2023); Seventeen Heaven (2023); Spill The Feels (2024) e 17 is Right Here (2024). Os dois primeiros citados, respectivamente, ocupam o primeiro e segundo lugar com mais de 3.200.000 cópias vendidas nas primeiras 24 horas de lançamento.   
 

 

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Banda faz uma pausa na carreira, suspende shows em novembro e apresentação na COP30
por
Lucca Andreoli
João Pedro Lindolfo
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26/05/2025 - 12h
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023 Imagem: Raph_PH
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023
Imagem: Raph_PH

A banda Coldplay cancelou a turnê que faria no Brasil em novembro deste ano, que incluiria cerca de dez apresentações. De acordo com o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o grupo decidiu fazer uma pausa na carreira e, por isso, suspendeu toda a agenda na América do Sul. 

No entanto, não houve pronunciamento ou qualquer confirmação oficial até agora. A banda era aguardada para uma apresentação na COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém (PA). 

Em 2022 a banda passou pelo festival Rock in Rio e em 2023 esteve no Brasil pela última vez para 11 shows. A apresentação na COP30 seria a primeira vez da banda no Pará, algo que Chris Martin, vocalista do grupo, já demonstrava interesse. 

No ano de 2021, em uma postagem no X (antigo twitter) sobre ações climáticas, o cantor mencionou o governador do Pará, Helder Barbalho, convidando-o para assistir ao show deles no Global Citizen.

Durante a passagem da banda no Brasil em 2023, os integrantes tiveram um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que o convite para a COP30 foi feito.

Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023— Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução
Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023 — Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução

De acordo com o colunista, a apresentação em Belém ainda deve acontecer, informação garantida pelo governo paraense. A dúvida que resta é se Chris Martin estará sozinho ou acompanhado pelo grupo.

Reconhecido por projetos globais e atuação ambiental, deixa seu legado em imagens
por
Iasmim Silva
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23/05/2025 - 12h

Sebastião Salgado, um dos maiores fotógrafos da história, morreu aos 81 anos nesta sexta-feira (23). A informação foi confirmada em nota pelas redes sociais do projeto ambiental, Instituto Terra, fundado por ele e sua esposa, a ambientalista Lélia Wanick.

A causa da morte foi leucemia grave decorrente de complicações da malária que contraiu na Indonésia, em 2010, quando trabalhava no seu ensaio “Gênesis”.

Nascido em 1944, em Aimorés (MG), formou-se em economia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Com mestrado pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorado pela Universidade de Paris, trabalhava na Organização Internacional do Café (OIC) quando em 1973 deixou o emprego para se dedicar exclusivamente à fotografia, o que até o momento era apenas um hobbie incentivado por sua esposa que, em 1970, o presenteou com a câmera Pentax Spotmatic 2. 

foto, Xamã Yanomami em ritual antes da subida do Pico da Neblina
Xamã Yanomami em ritual antes da subida do Pico da Neblina. Reprodução: Instagram/Sebastião Salgado.

Além de percorrer 120 países, ser reconhecido mundialmente, ter livros publicados, documentários e exposições eternizando seus feitos fotográficos, assumiu, com o Instituto Terra, uma autorresponsabilidade ativa abrindo frentes de ação prática para o reflorestamento da Mata Atlântica, educação ambiental e promoção do desenvolvimento sustentável da bacia do Rio Doce.

Suas obras buscam elevar a dignidade humana com um olhar sensível para os povos originários, as raízes da Amazônia e a dura vida dos trabalhadores rurais. Com esse objetivo, registrou diferentes realidades ao redor do mundo com um foco voltado à pobreza, às injustiças e à beleza humana, retratadas em seus ensaios mais reconhecidos nos livros “Trabalhadores” (1993), “Terra” (1997), “Êxodos” (2000), “Gênesis” (2013) e “Amazônia” (2021).

Imagem em preto e branco da serra pelada mostrando milhares de garimpeiros
Serra Pelada, 1986. Reprodução: Instagram/Sebastião Salgado.

Conhecido pela sua marca registrada com fotos em preto e branco, contou histórias do Brasil e de outros países através dos seus ensaios fotográficos documentais, sendo o mais emblemático deles o da Serra Pelada, a maior mina de ouro a céu aberto do mundo, localizada no leste do Pará. Salgado a visitou em 1986 e capturou com maestria um cenário brutal em termos sociais, ambientais e econômicos.

Em “Trabalhadores”, seu registro histórico mundialmente conhecido, ele retrata trabalhadores industriais e agrícolas oprimidos da América do Sul, buscando reconhecer homens e mulheres em condições precárias de trabalho e má remuneração, na obra é exposta a resistência dessas pessoas contra as probabilidades ao seu redor.

Trabalhadores de empurrando uma carroça, um deles com um bebê na costa. Alguns andando ao lado. Trabalhadores da industria de carvão na India. Foto em preto e branco
Trabalhadores de indústria de carvão na Índia, 1994. Reprodução: Instagram/Sebastião Salgado.
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“Minhas fotografias são um vetor entre o que acontece no mundo e as pessoas que não têm como presenciar o que acontece. Espero que a pessoa que entrar numa exposição minha não saia a mesma” o fotógrafo relatou em entrevista ao jornal Zero Hora, no ano de 2014.  

Foi membro da Academia de Belas-Artes de Paris, embaixador da Boa Vontade do UNICEF, membro honorário estrangeiro da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos desde 1992, recebeu a Medalha do Centenário e Bolsa Honorária da Royal Photographic Society (HonFRPS) em 1993, e a Comenda da Ordem do Rio Branco no Brasil.

Sebastião morava em Paris, na França, com sua esposa, com quem teve dois filhos, Juliano e Rodrigo. Juliano Salgado é cineasta e foi codiretor do documentário “O Sal da Terra”, premiado no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem, a obra retrata a trajetória de Salgado desde seus primeiros ensaios até “Gênesis”. 

Chegou à França com a esposa, no final da década de 1960, como exilado político. Fugindo da repressão imposta pela ditadura militar no Brasil, o casal teve seus passaportes cassados pelo regime. Para permanecer legalmente no país, precisaram recorrer a uma liminar na Justiça. “Nós nos tornamos refugiados aqui na França, e depois imigrantes”, relembrou Salgado em postagem no Instagram, ao falar sobre seus sentimentos em relação à situação de imigrantes refugiados.

Sebastião Salgado construiu um dos mais importantes legados para a história do fotojornalismo e deixa documentada em suas fotografias uma vida de luta através do ativismo humanitário e ambiental.

 

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Festival ocupa o Parque Ibirapuera com programação que inclui música pop e eletrônica
por
João Pedro Lindolfo
Lucca Fresqui
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21/05/2025 - 12h

O C6 Fest 2025, que acontece entre os dias 22 e 25 de maio no Parque Ibirapuera, em São Paulo, chega à sua quarta edição neste ano. O festival busca em sua curadoria, focar na diversidade de estilos e valorizar nomes tanto do cenário nacional, quanto do internacional.

Nesta edição, o evento mantém o mesmo formato: dois dias dedicados ao jazz e a uma programação de shows em palcos tanto ao ar livre quanto em espaços fechados.

Apesar do nome recente, a história do C6 Fest começou há exatos 40 anos, com o famoso Free Jazz Festival, formado pelas irmãs Sylvia e Monique Gardenberg, fundadoras da Dueto Produções. Nos anos 2000 o projeto assumiu o nome de Tim Festival, e ressurgiu em 2023 com apoio da agência C6 Bank.

A curadoria continua ainda sob a supervisão de Monique Gardenberg, que aposta em um formato mais intimista e artístico. O festival se destaca por promover shows baseados no contexto mais artístico do que no entretenimento de massa.

A expectativa para esse ano é de que o público alcance mais de 27 mil visitantes, número superior ao da edição anterior(2024).

Para acomodar melhor as atrações e facilitar a parte técnica, o festival ampliou a programação para quatro dias. Os shows ao ar livre acontecem em diferentes áreas do parque, como a Arena Heineken (em frente ao auditório) e a Tenda Metlife, próxima ao edifício Pacubra.

Entre os nomes internacionais confirmados estão os franceses do Air, que apresentam o icônico “Moon Safari” na íntegra, além da lenda do funk Nile Rodgers acompanhado da banda Chic. O festival também traz Wilco, referência do rock alternativo norte-americano, e os britânicos do Pretenders. Outros destaques incluem o retorno explosivo do Gossip, liderado por Beth Ditto, e o pop de Perfume Genius.

O produtor britânico A.G. Cook, conhecido pelo trabalho com Charli XCX no disco “Brat”, representa a vanguarda da música eletrônica, enquanto o grupo The Last Dinner Party, revelação do art pop britânico, marca presença com um show bastante aguardado. 

Completam a seleção internacional nomes como Stephen Sanchez, jovem norte-americano que resgata o charme retrô das baladas dos anos 50, a cantora Cat Burns com seu soul pop intimista, a paquistanesa Arooj Aftab fundindo tradição e jazz contemporâneo, Brian Blade com sua Fellowship Band, a inventiva Meshell Ndegeocello, e o coletivo ganês SuperJazzClub, trazendo uma visão afro-futurista da música urbana.

Já entre os artistas brasileiros, destaca-se o show especial de Seu Jorge, intitulado “Baile à La Baiana”, o pianista Amaro Freitas, um dos maiores nomes do jazz nacional, a cantora Agnes Nunes, com sua nova MPB, o bandolinista Hamilton de Holanda, o multi-instrumentista Mestrinho, além dos DJs Marky e Della Juices, representantes da cena eletrônica nacional.

 

Line-up e horários de cada show no festival.
Line-up e horários de cada show no festival. Foto: Divulgação/C6Fest

 

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Com a proximidade de dezembro, os filmes natalinos ganham cor em formatos variados, de animação até ação
por
Gisele Cardoso dos Santos
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28/11/2024 - 12h

A aproximação do fim do ano trouxe os lançamentos natalinos para os cinemas e para o canal de streaming Netflix. Entre os gêneros é possível encontrar comédia romântica, ação e fantasia. O elenco também é variado nas produções de fim de ano, com: Lindsay Lohan, Ian Harding, Dwayne Jonhson e Chris Evans.

Um amor feito de neve

O filme conta a história de uma jovem viúva que enfrenta o luto pela morte de seu marido. Com a ajuda da magia do Natal, Kathy reencontra a felicidade quando seu boneco de neve cria vida e se torna um grande companheiro. Porém, com o passar do inverno, seu amor pode desaparecer junto com a neve. O filme está disponível na Netflix, tendo sido lançado em 13 de novembro.

Um amor feito de neve foi lançado em 13 de novembro. Foto: Divulgação/Netflix
Um amor feito de neve foi lançado em 13 de novembro. Foto: Divulgação/Netflix

 

Aquele Natal

“Aquele Natal” é um filme de animação para a família. A história narra o natal mais complicado do Papai Noel, quando uma nevasca quase arruinou as comemorações de fim de ano das famílias de Wellington. Porém, em busca de um milagre de Natal, os cidadãos se lembram do que é mais precioso na data. Pode ser assistido pela Netflix a partir de 04 de dezembro.

Aquele Natal será lançado em 04 de dezembro. Foto: Divulgação/Netflix
Aquele Natal será lançado em 04 de dezembro. Foto: Divulgação/Netflix

Sintonia de Natal

Lançado em 07 de novembro pela Netflix, “Sintonia de Natal” traz um triângulo amoroso entre Leyla, James e Teddy.

Ela conhece James no ano anterior em um aeroporto, em um encontro proporcionado por voos atrasados na noite de Natal. Apaixonados, eles combinam de se encontrar no especial de Natal de um grupo musical no ano seguinte, mas os ingressos acabaram  esgotando. Em busca de encontrar seu amado, ela consegue ajuda de Teddy, um assistente pessoal que vai abalar a sua certeza sobre quem é o par perfeito.

Sintonia do Natal foi lançado em 07 de novembro. Foto: Divulgação/Netflix
Sintonia do Natal foi lançado em 07 de novembro. Foto: Divulgação/Netflix

Nosso segredinho

Ao conhecer a família do novo namorado na noite de Natal, Avery, interpretada por Lindsay Lohan, descobre que seu ex, é o atual namorado de sua cunhada Katie. Juntos, eles concordam em não contar sobre essa saia justa e lutam para guardar esse segredo. O filme foi lançado em 27 de novembro, na Netflix.

Nosso segredinho será lançado em 27 de novembro. Foto: Divulgação/Netflix
Nosso segredinho será lançado em 27 de novembro. Foto: Divulgação/Netflix

No Ritmo do Natal

A comédia romântica conta sobre uma ex-bailarina que retorna para a cidade da sua família ao descobrir que o estabelecimento de seus pais está prestes a fechar as portas. Para impedir que isso aconteça, ela monta uma apresentação com garçons bailarinos e aposta todas as suas fichas na noite de natal. Está disponível desde 20 de novembro também na Netflix.

No Ritmo do Natal foi lançado em 20 de novembro. Foto: Divulgação/Netflix
No Ritmo do Natal foi lançado em 20 de novembro. Foto: Divulgação/Netflix

Operação Natal

Saindo da sala de estar e entrando nas salas de cinema, a produção “Operação Natal” foge do tradicional e apresenta uma história natalina de aventura. Nessa história, o papai noel é “Das Neves”, um senhor forte e descolado. Porém, ele é raptado e cabe ao caçador de elite, Jack O’Malley (Chris Evans) e Callum Drift (Dwayne Johnson) trazê-lo de volta.

Operação Natal foi lançado em 7 de novembro. Foto: Divulgação/Warner Bros Pictures
Operação Natal foi lançado em 7 de novembro. Foto: Divulgação/Warner Bros Pictures
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Aos 18 anos, mineira fecha contrato vitalício com uma das mais importantes casas de ópera do mundo
por
Gisele Cardoso dos Santos
|
28/11/2024 - 12h

A jovem Luciana se tornou a primeira brasileira da história a entrar na Ópera de Paris. Seu contrato garante o vínculo até os seus 42 anos, considerada a idade média de aposentadoria para bailarinas na França.

 

Com sua trajetória no ballet iniciada aos 3 anos, a jovem passou pela Petite Danse no Rio de Janeiro, onde se destacou e chamou a atenção tanto das professoras quanto dos internautas. Depois de muitos prêmios e festivais nacionais, Luciana se apresentou em Nova York para a YAPG 2018 e ficou entre as 12 melhores do mundo. Já em 2021, foi uma das 70 bailarinas que representaram o Brasil no Prixx de Lausanne, uma das maiores competições mundiais do ballet clássico, presidida na Suíça.

Luciana se mudou para o Rio de Janeiro aos 9 anos. Foto: Reprodução/Instagram Luciana Sagioro
Luciana se mudou para o Rio de Janeiro aos 9 anos. Foto: Reprodução/Instagram Luciana Sagioro

Com sua participação, a bailarina conseguiu o terceiro lugar no geral e o primeiro lugar como melhor performance artística, categoria que era decidida por voto público. A mineira, com apenas 15 anos, já saiu da competição com sua bolsa garantida na Escola de Dança da Ópera de Paris, na qual agora foi contratada.

 

A Ópera Nacional de Paris, foi fundada em 1669 e realiza suas apresentações de ballet no teatro Palais Garnier. A ópera é reconhecida mundialmente por seus espetáculos como: Paquita, Swan Lake, Don Quixote, La Bayadère, La Source e Giselle.

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Talitha Barros, chef do Conceição Discos, não apenas cozinha; ela transforma a comida em uma declaração resistência
por
Laura Paro
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27/11/2024 - 12h

 

Tudo é político quando você é uma mulher. Essa é a frase em um dos quadros expostos na parede roxa do restaurante Conceição Discos, localizado no bairro de Santa Cecília da capital paulista. Um fogão poderoso cercado por um balcão chama a atenção, por exalar o cheiro de comida brasileira vindo dali; a cozinheira, que usa um turbante, cozinha enquanto conversa com as pessoas que sentam à sua frente. Entre uma prosa e outra com os seus clientes, que são recebidos sempre com cumprimentos calorosos, ela prepara o prato do dia a ser servido no restaurante. E o cheiro… O cheiro exala a sua paixão por cozinhar, que pode ser sentida já ao entrar no local. É um lugar de cozinha afetuosa.

Talitha Barros é a dona e chef do restaurante Conceição Discos, localizado em Santa Cecília. Foto: Laura Paro/Arquivo pessoal.
Talitha Barros é a dona e chef do restaurante Conceição Discos, localizado em Santa Cecília.
Foto: Laura Paro/Arquivo pessoal.

Talitha Barros é nascida na periferia da zona sul de São Paulo, neta de indígena e a chef que usa turbante por trás das quatro bocas do fogão, utilizado para preparar a comida do restaurante paulistano. A especialidade da casa é servir arroz em diferentes pratos: um ingrediente que parece simples, mas que se torna único a cada combinação – abóbora, costelinha, camarão, baião de dois… E por aí vai. Tudo isso, com a opção de complementar com um ovo frito, que também parece simples, mas é o que há de especial no restaurante.

O cheiro de comida boa e caseira ecoa pelo ambiente e antes mesmo de entrar no restaurante, já é possível ouvir os belos vocais de Nina Simone – uma das artistas escolhidas para compor a trilha sonora do Conceição Discos que, como o nome entrega, também vem da paixão pela música. O local dispõe, além da culinária brasileira, de uma bancada de discos de vinil à venda e de uma vitrola que toca durante o dia. A escolha da trilha sonora que traz resistência cultural, o ambiente caloroso e o cheiro de comida brasileira já dizem muito sobre o restaurante, e também sobre a chef.

Com o sonho de ser antropóloga para cuidar das heranças culturais dos povos nativos, Talitha Barros se encontrou na gastronomia – seguindo com o mesmo sonho, mas dessa vez, envolvendo a arte de cozinhar. Ela diz que sua paixão pela comida brasileira vem nos pequenos detalhes e na valorização de ingredientes que parecem básicos demais, mas que são versáteis: no Conceição Discos, por exemplo, um simples ovo frito é capaz de transformar a finalização de qualquer prato do cardápio.

Foi essa vontade de expressar sua própria identidade que a levou a criar um espaço onde a comida não é apenas uma receita, mas uma forma de contar um pouco de sua história. Ela começou como ajudante de sushiman e depois passou por restaurantes italianos e franceses, mas a vontade de ter algo com a sua própria identidade era maior. Decidiu abrir um restaurante que também contasse um pouco da sua história e de onde veio, e por isso a escolha da comida brasileira: rica em sabores, mesmo com poucos ingredientes; música boa e feita por artistas importantes da indústria musical, a maioria com um histórico de luta e resistência (como Nina Simone, que foi ativista pelos direitos de pessoas pretas nos Estados Unidos); e, ainda, um local formado totalmente por mulheres, desde a cozinha até as atendentes.

Ao sentar no balcão, é possível observar o modo de preparo da chef e todos os utensílios de cozinha que ela utiliza. Foto: Laura Paro/Arquivo pessoal.
Ao sentar no balcão, é possível observar o modo de preparo da chef e todos os utensílios de cozinha que ela utiliza.
Foto: Laura Paro/Arquivo pessoal.

Ao sentar no balcão de frente para ela, os frequentadores assíduos costumam pedir um refrescante de hibisco para começar a jornada gastronômica no restaurante. O prato do dia? Arroz de carne assada. A chef, enquanto prepara a comida a ser servida, de frente para o fogão, ela compartilha um sorriso com um cliente; com outros que já conhece, compartilha histórias, ou até mesmo conta sobre a sua última viagem.

Após alguns minutos, a comida chega na mesa e todo o cheiro aconchegante espalhado pelo ambiente alcança o paladar. A reação dos clientes é sempre única e grande parte, até comem de olhos fechados. É como se estivessem se alimentando de uma história, como se a boa prosa com a cozinheira se transformasse em uma comida afetuosa, que acolhe. O arroz, que parece tão simples, ganha outra dimensão quando, enquanto é preparado, é acompanhado de boas conversas, regadas de histórias. Os pratos não são apenas comida; são uma continuidade de algo maior, que começa nas mãos de Talitha, que, ao colocar a comida na mesa, também coloca um pouco de si mesma.

Aqui, não se trata apenas de alimentar corpos, mas de nutrir a alma. E a alma, para Talitha, tem um gosto muito particular, um gosto que é, ao mesmo tempo, doce e amargo, forte e delicado. Esse é o gosto da resistência, também presente na história da chef: uma mulher periférica, que carrega um legado especial por parte dos seus avós e que ama a culinária de onde veio – a brasileira.

Porque tudo é político quando você é mulher. E, nesse espaço, o político está também em cada ingrediente escolhido por Talitha para colocar no prato e em cada história que ela traz para o balcão. O simples ato de cozinhar, para ela, não se limita a um gesto de sustento. Cozinhar, para ela, é a representação de um espaço de afirmação e empoderamento.

O quadro "Tudo é político quando você é uma mulher" é exposto em uma prateleira na parede do restaurante.
O quadro "Tudo é político quando você é uma mulher" é exposto em uma prateleira na parede do restaurante.
Foto: Laura Paro/Arquivo pessoal.

Como mulher, Talitha sabe que cada prato que sai da sua cozinha é também um manifesto. É uma resposta às desigualdades, um posicionamento sobre o valor da comida simples, mas sofisticada na sua raiz. A valorização do arroz e do ovo, ingredientes essenciais que muitas vezes são vistos como “básicos”, é a celebração de uma gastronomia que carrega uma identidade própria; para ela, cada grão de arroz é como um pedaço da história do Brasil, um pedaço de um país que está sempre tentando ser redefinido, mas que, através da comida, encontra uma maneira de se afirmar.

E quando ela coloca esse arroz no prato, acompanhado de uma costelinha de porco suculenta, ou de um bacalhau, ela nos ensina que a comida pode ser muito mais do que um simples ato de sustento. A comida é história, é luta e também é poesia. E isso é trazido por ela no dia a dia dentro da cozinha, na interação com os clientes e na visível paixão que tem por cozinhar.

Cada prato que sai do fogão de quatro bocas do Conceição Discos é uma maneira de afirmar sua identidade, de afirmar sua luta enquanto chef e principalmente, como mulher. Porque no fundo, o que Talitha oferece não é apenas o sabor inconfundível de um arroz bem feito, mas uma história de resistência e de afirmação. Uma história que é, antes de tudo, política, pois enquanto mulher, sua presença ali, seu espaço conquistado na culinária paulistana, não é só uma escolha de carreira. Mas um verdadeiro ato político.

Ao entrar no Conceição Discos, entra-se não apenas em um restaurante. Mas sim em um espaço onde a comida é política, onde o gosto é resistência, onde a música é história, e onde, acima de tudo, o acolhimento é feito de afeto – o tipo de afeto que transforma, que cura e que, em cada prato, conta a história de uma mulher que escolheu fazer da sua cozinha um lugar de potência.

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“Se não tiver diversão, a gente nem toca”, diz o vocalista da banda de Classic Rock, Outshine
por
Vitória Nunes de Jesus
|
25/11/2024 - 12h

A vida noturna de São Paulo é conhecida por sua variedade, abrangendo desde baladas sofisticadas até bares de rock, com opções para todos os gostos e estilos. A Rua Augusta é considerada um dos polos mais ecléticos da cidade, oferece bares, casas noturnas, botecos e locais para música ao vivo. São tantas opções que muitas vezes os paulistas não sabem nem aonde ir.

Para os rockeiros, um bairro interessante é Pinheiros, existem desde bares grandes com bandas e suas performances, vestimentas que imitam artistas até pubs menores que também contam com shows de bandas covers.

As bandas são o que “anima o rolê” e fazem você e seu grupo de amigos perceberem se fizeram a escolha certa do lugar. Quanto mais música, melhor.

Para saber mais sobre o universo das bandas cover, André, o vocalista da banda Outshine, conta um pouco sobre algumas histórias que ele e seus parceiros de palco já passaram. “Somos quatro amigos: André Rima (vocalista), Alex Resende (guitarrista), Fábio Lourenço (contrabaixo) e Cristopher Ribeiro (baterista). Estamos juntos desde 2016. Na adolescência, cada um tinha sua banda, a gente se reuniu para essa banda no final de 2016 com o final da banda de cada um e coincidiu de cada integrante tocar um instrumento e formar a Outshine.”

André diz que a banda procura se manter atualizada nas músicas atuais para montar os repertórios dos shows, mas também não os seguem à risca, vão observando o que o público vai gostando mais. “A gente fica ligado na atualidade, o que tem agradado ao pessoal e também na temperatura do show. Se um ritmo vai agradando, a gente vai puxando para aquele lado. Tudo depende muito do público que está naquele dia, no show, a idade, se gostam mais de um rock pesado, mais leve, pop, a gente vai soltando as músicas e vai vendo a receptividade e às vezes, na hora mesmo, a gente muda a ordem das músicas para se adequar ao que está rolando naquele dia”.

O vocalista da Outshine diz que não tem idade quando o assunto é música boa. “Linkin Park e System of a Down, essas duas bandas a gente pode estar tocando em uma festa de debutante ou de aposentados que vão querer escutar. É impressionante a força que essas duas bandas têm”.

Apesar de algumas vezes o público ter a impressão de algumas bandas cover quererem seguir à risca a imagem dos cantores imitados, André diz que sua banda é diferente, ainda mais por cantarem diversas músicas de várias bandas. “Sempre adicionamos coisas nossas, timbres nossos, a minha voz também é diferente, nunca vai ser igual a do cantor, então sempre faço alguma graça”.

Imagem: arquivo pessoal
Imagem: arquivo pessoal

André relembra que o principal para manter a banda é sentimento pela música. “Se não tiver diversão a gente nem toca. No caso dessa banda, os integrantes não vivem de música, a gente já viveu uma época, mas no período da pandemia não deu para tocar, então cada um seguiu uma carreira. Depois da pandemia a gente continuou tocando por diversão e amor à música”.

Pesquisas mostram a desvalorização e os estigmas sociais da profissão. Uma pesquisa realizada em 2021 pela Record Union apontou que 73% dos músicos independentes relataram problemas de saúde mental devido ao estresse financeiro e à desvalorização da carreira. Outra pesquisa feita em 2020 da Casa de Música do Porto revelou que 42% das pessoas acreditam que a música não é uma “profissão séria”.

Questionado por sofrer preconceito como músico, André diz não ser discriminado em seu meio. “Existe preconceito fora do lugar do show. Músico geralmente é chamado de vagabundo se não ganha muito dinheiro ou não faz muito sucesso, não é um bom músico. A gente não pensa assim, existem faixas e faixas de sucesso que você pode ter na música e formas de se ganhar dinheiro também com música que dá para viver em qualquer lugar do mundo. Desde que você se dedique para música, o mesmo tempo que você se dedica para um trabalho qualquer, você ganha um bom dinheiro”.

O vocalista da banda diz que a Outshine não pretende lançar músicas próprias nos repertórios de seus shows ou seguir outros caminhos musicais. “Cada um de nós tem seus trabalhos próprios. Já tive meus CDs gravados, mas nessa banda é exclusivamente comercial”.

Por fim, André relembra uma história engraçada que a banda viveu em um show. “Foi uma situação muito embaraçosa que aconteceu em Campos do Jordão, num bar, que uma gringa, da Holanda subiu no palco e abaixou as calças e virou para o público enquanto a gente estava tocando. Foi o momento mais engraçado da banda”.

Cumprindo o propósito de alegrar a vida do público e mantendo o seu, que é o amor pela música, bandas cover continuam dando um show por São Paulo e colecionando histórias para contar.

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O evento de música eletrônica promete agitar a capital paulista reunindo grandes nomes brasileiros e globais na primeira quinzena de dezembro
por
Majoi Costa
Nicole Conchon
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22/11/2024 - 12h

 

 

 

Edições antigas da Boiler Room em colagem. Foto: Boiler Room ArchivesV
Edições antigas da Boiler Room em colagem. Foto: Boiler Room Archives

 

 

 

 

 

O Boiler Room, evento de música eletrônica reconhecido por suas festas secretas e transmissões ao vivo, desembarca em São Paulo no dia 13 de dezembro. O local ainda não foi compartilhado, mas nomes como DJ Magal, AKAI, Danny Daze, Suelen Mesmo e DJ Caio Prince são alguns já confirmados pelo programa. 

 

A festa promete ser um marco para os fãs do gênero,  reunindo DJs internacionais e nacionais em um local surpresa, criando uma experiência imersiva e exclusiva para o público. Com sua tradição de apresentações intensas e energéticas, o evento reflete a constante evolução da cena eletrônica global, proporcionando aos paulistanos uma oportunidade rara de vivenciar o conceito único do Boiler Room ao vivo.

Foto: Ryan Buchanan
Foto: Ryan Buchanan

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Surgimento do Boiler Room 

O Boiler Room foi fundado em 2010 por um grupo de britânicos com a ideia de criar uma plataforma que unisse música eletrônica e a cultura de clubbing, que se refere ao conjunt de práticas, comportamentos e valores associados à cena de clubes noturnos e festas eletrônicas, se tornando um estilo de vida que geralmente é associada a gêneros musicais como techno, house, trance e outros estilos eletrônicos. 

 

O conceito era simples, mas inovador: reunir DJs em performances ao vivo e transmiti-las para o mundo, com foco na energia visceral dos clubes underground. Com uma estética minimalista e sem grandes ostentações, o Boiler Room capta a essência da música eletrônica em sua forma mais crua, colocando o público no centro da experiência

 

Inicialmente, o Boiler Room se destacou por sua abordagem alternativa à forma como a música eletrônica era consumida. Ao contrário dos grandes shows de DJ transmitidos de maneira convencional, as festas do Boiler Room eram mais descontraídas, sem palco elevado, com o público ao lado dos artistas, criando uma atmosfera de proximidade e troca de energia única. A transmissão ao vivo das performances pelo YouTube rapidamente atraiu fãs de todo o mundo, fazendo com que o Boiler Room se tornasse uma das maiores plataformas de música eletrônica do planeta. 

 

O Boiler Room chegou ao Brasil pela primeira vez em 2013 e contou com grandes nomes consagrados na cena como o DJ Zegon, Gui Boratto, Ney Faustini e Nomumbah. Nos anos seguintes, como 2017 e 2019, foi a vez de Djonga, Rincon Sapiência, Linn da Quebrada e a Mamba Negra (coletivo underground paulista), Cashu e Badsista levarem suas músicas e sets em São Paulo e no Rio de Janeiro pela plataforma. 

 

A importância do Boiler Room 

O Boiler Room desempenha um papel crucial na democratização da música eletrônica, por meio das transmissões ao vivo. Além disso, oferece um palco para artistas emergentes e consagrados, de diferentes vertentes do gênero. Ao longo dos anos, o evento tem sido um catalisador de novas formas de produzir e criar shows, dando visibilidade a sons alternativos e experimentais, ao mesmo tempo em que se celebra os ícones do underground.

Além de promover o talento musical, o Boiler Room também é uma vitrine para a cultura clubbing e das festas de dança, celebrando não apenas a música, mas o ambiente e a comunidade que ela cria. Cada evento tem um caráter único, sendo das plataformas de vídeo online, com a produção visual cuidadosamente projetada para refletir a vibração e o espírito do evento. 

 

 

DJ Larinhx na Boiler Room do Rio de Janeiro em 2023. Foto: Boiler Room Archives

 

 

 

 

O Boiler Room em São Paulo

 

São Paulo tem uma forte ligação com a cultura da música eletrônica, devido à sua diversidade cultural, infraestrutura de vida noturna e influência global. A cidade atrai pessoas do mundo todo, criando um ambiente ideal para a música eletrônica  florescer e se expandir. E, embora o Boiler Room tenha se tornado uma plataforma de renome mundial, sua presença na cidade ainda era um sonho distante para muitos fãs. 

 

Para os artistas locais, o evento representou uma oportunidade única de visibilidade, tanto para aqueles que puderam se apresentar ao lado de grandes nomes internacionais quanto para os que participaram das transmissões ao vivo.

O preço e os locais onde acontecem os boilers variam muito. Pela alta demanda, a organização do evento não divulgou tudo no momento em que o local é anunciado, mas vão aos poucos compartilhando as atrações e os valores. Em 2023, o ingresso variou entre 50 a 100 reais. E os locais, em festas fechadas como DGTL, The Edge ou até em locais que ocorrem as festas da Mamba Negra, no caso de São Paulo. 

 

O impacto cultural da Boiler Room vai além da música. Ela traz à tona discussões sobre a cena underground, a autenticidade das festas e o crescimento da cena eletrônica em um mundo cada vez mais digital e globalizado. Em um momento em que as festas de grande porte dominam o mercado, a Boiler Room se destaca por manter viva a essência das raves e das festas clandestinas que marcaram a história da música eletrônica.

 

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