Movimento apresenta mais de 1 milhão de assinaturas para a União Europeia
por
Thomas Fernandez
|
22/09/2025 - 12h

 

O movimento “Stop Killing Game” criado por Ross Scott, do canal Accursed Farms, apresentou em 2025 mais de 1 milhão de assinaturas à União Europeia para exigir medidas que impeçam a remoção e desligamento de jogos digitais. A preservação é definida como um conjunto de ações voltado a manter a integridade de bens, documentos ou pessoas, tendo museus e centros históricos como instituições dedicadas a essa tarefa. 

No campo do entretenimento, os videogames se destacam como a indústria que mais cresce desde a década de 1950. Apesar do seu impacto econômico e cultural, eles recebem atenção limitada em políticas e práticas de preservação, diferente de outras formas de arte, como cinema, televisão e literatura. 

Devido a inacessibilidade de jogos comprados por consumidores, a proposta do movimento é simples, mas poderosa: proteger os consumidores e preservar os videogames, trazendo as práticas recorrentes de empresas que fecham os servidores ou retiram os jogos do mercado digital, apagando não apenas produtos, mas também capítulos de história cultural dos videogames.

Foto do criador do movimento, Stop Killing Games, Ross Scott
Ross Scott, criador do movimento Stop Killing Games.  Foto: REPRODUÇÃO/YOUTUBE Accursed Farms
 

A iniciativa se transformou em “Stop Destroying Videogames”, utilizando a Iniciativa de Cidadania Europeia, uma ferramenta disponível para cidadãos da União Europeia para levarem questões diretamente ao parlamento europeu. A petição foi registrada em junho do ano passado e começou a coletar assinaturas no dia 31 de julho de 2024. No mesmo dia, Scott, soltou um vídeo com o título "Europeans can save gaming!", que compartilha sobre como o movimento pode levar a criação de lei com um número alto de assinaturas e apoiadores. 

Ele destaca que a criação da lei não era uma certeza, entretanto, apontava que existem fatores, como: o alinhamento com outras políticas para consumidores e indefinições jurídicas nas práticas no meio dos games. Esses pontos reforçam que o sucesso está no futuro do movimento. Depois de alcançar 1 milhão de assinantes e realizar uma vistoria -  para desconsiderar menores de idade, duplicidades e pessoas fora da UE - a petição apresentou 97% de validação das assinaturas.

A preocupação é  quando um jogo é removido das lojas digitais ou tem os serviços online desligados, pois deixa de ser acessível para futuras gerações de gamers. Um dos casos mais conhecidos foi do “Project CARS 3”, lançado em 2020. O produto foi retirado de circulação para venda e fecharam os servidores, tornando-se praticamente inacessível. 

O mesmo ocorre com títulos de grandes estúdios como Ubisoft e EA, sendo uma tendência que preocupa colecionadores, consumidores e fãs. Diferente de filmes, livros e músicas, que possuem mais facilidade para sua preservação, os games dependem de vários fatores: chaves digitais, servidores e licenciamento contínuo para existir. Para isso, a preservação não exige somente de vontade cultural, mas também mudanças legais e regulatórias.

No Brasil, esse debate começou a ganhar relevância em 2024, com a aprovação do Marco Legal da Indústria de Jogos Eletrônicos (Lei nº 14.852/2024). Embora a lei tenha o intuito de incentivar o crescimento do setor no país e atrair investidores, ela também abre espaço para a reflexão sobre o ciclo de vida dos jogos e sua preservação como patrimônio cultural. A luta pela proteção e cuidados dos videogames não é apenas dos jogadores nostálgicos, mas também uma questão cultural e de direito de acesso.

O “Stop Killing Games” mostra que, diante da lógica do mercado, há fãs dispostos a lutar para que os jogos não desapareçam.Se no passado os museus se dedicaram a guardar fósseis, manuscritos e obras de arte, o futuro terá que olhar também para os consoles, cartuchos e CDs. Porque, como lembra o movimento, “ao desligar um jogo, não se mata apenas um software, se apaga uma parte da história”.

 

Tags:
Profissionais da área relatam dificuldade de valorização, ausência de políticas públicas e dependência do mercado internacional para manter a carreira
por
Fernanda Dias
|
18/09/2025 - 12h

A escultura no Brasil ainda é um campo pouco explorado e com inúmeros desafios, como a falta de políticas públicas, a ausência de incentivo cultural e um universo ainda limitado de pessoas dispostas a investir em arte no país. Para manter a profissão viva, muitos artistas recorrem ao mercado internacional e às redes sociais como alternativa de divulgação.

No cenário brasileiro, a escultura não ocupa o mesmo espaço que outras linguagens artísticas, como a música ou as artes visuais mais populares. O escultor Rick Fernandes, que atua na área desde a década de 1990, observa que a profissão ainda carece de reconhecimento cultural. “O brasileiro não tem a mesma tradição que americanos e europeus em colecionar arte. Muitas vezes, as prioridades econômicas acabam afastando o público”, afirma.

Esse distanciamento é agravado pela falta de políticas voltadas à categoria. Projetos de incentivo que poderiam estimular a prática da escultura em escolas ou em comunidades raramente são aprovados. Fernandes relembra tentativas frustradas em 2015 e 2023 de levar oficinas para jovens da periferia e para pessoas com deficiência. “Os incentivos, em sua maioria, estão voltados para música e grandes eventos. Nichos como a escultura ficam esquecidos”, critica.

   Rick Fernandes produzindo sua peça - foto: https://www.rfstudiofx.com/


                    Rick Fernandes produzindo sua peça - foto: https://www.rfstudiofx.com/

No mercado, outro obstáculo é a dificuldade de concorrer com produtos industrializados ou importados. Segundo Fernandes isso faz que muitos escultores direcionem suas obras ao exterior, onde encontram colecionadores e compradores mais fiéis. O artista calcula que cerca de 80% de suas encomendas vêm de fora do Brasil. Mesmo com a popularização de novas tecnologias, como impressoras 3D, ele destaca que há demanda para trabalhos exclusivos, o que mantém a escultura tradicional relevante.

As redes sociais têm sido fundamentais para reduzir a distância entre artistas e público. Plataformas como o Instagram permitem que escultores apresentem seus portfólios, encontrem clientes e troquem experiências em comunidades digitais. “Muitos dos meus contatos surgiram através da rede. É uma vitrine essencial para quem vive da arte”, ressalta o escultor.

Além do mercado e do incentivo, a valorização da escultura ainda depende de uma mudança de percepção social sobre o trabalho manual e artístico. Para Fernandes, investir na formação desde cedo é o caminho. “Campanhas nas escolas de ensino fundamental poderiam fazer a diferença. As crianças têm fome de aprender coisas novas e a escultura poderia ser mais explorada nesse ambiente”, defende.

Apesar das dificuldades, Fernandes garante que nunca pensou em desistir, movido por “amor e diversão”. Além de manter o estúdio, ele atua como professor. Nem todos tiveram a mesma sorte. A artista Júlia Dias, por exemplo, faz esculturas desde 2006, mas até hoje não tem uma base fixa de clientes, vivendo em meio à instabilidade de demandas que atinge grande parte dos escultores.

O campo da escultura se divide em diferentes níveis de atuação. Enquanto alguns artistas trabalham com peças decorativas ou personalizadas para ocasiões como aniversários e eventos, outros produzem obras direcionadas a colecionadores e galerias. Essa variedade mostra como a atividade é ampla, mas também deixa claro que nem tudo recebe o mesmo valor: trabalhos voltados ao mercado de luxo encontram maior reconhecimento e retorno financeiro, enquanto produções mais populares ainda lutam por espaço e estabilidade.

Outro desafio está ligado ao custo e ao acesso a materiais de qualidade. Fernandes explica que utiliza plastilina para modelagem, moldes de silicone para a finalização e resina de poliestone para as peças finais, com acabamento em aerógrafo e pincel. Segundo ele, os materiais nacionais apresentam bom custo-benefício e já não ficam atrás dos importados. Ainda assim, os gastos para manter a produção podem ser elevados, principalmente para quem não conta com retorno constante do mercado.

Apesar de não existirem editais exclusivos para escultores no Brasil, a categoria pode concorrer em programas de incentivo mais amplos voltados às artes visuais e à cultura. Iniciativas como os editais da Funarte (Fundação Nacional de Artes, do governo federal), o ProAC (Programa de Ação Cultural, mantido pelo governo de São Paulo)  e leis de incentivo fiscal possibilitam que projetos de escultura recebam apoio. No entanto, a concorrência é acirrada e a escultura segue como um nicho pouco contemplado, o que reforça a sensação de invisibilidade entre os artistas da área.

Tags:
Último final de semana do evento ficou marcado por performances que misturaram passado, presente e futuro
por
Jessica Castro
Vítor Nhoatto
|
16/09/2025 - 12h

A segunda edição do festival The Town se despediu de São Paulo com um resultado positivo e bastante barulho. Durante os dias 12, 13 e 14 de setembro, pisaram nos palcos do Autódromo de Interlagos nomes como Backstreet Boys, Mariah Carey, Ivete Sangalo e Katy Perry.

Realizado a cada dois anos em alternância ao irmão consolidado Rock In Rio, é organizado também pela Rock World, da família do empresário Gabriel Medina. Sua primeira realização foi em 2023, em uma aposta de tornar a cidade da música paulista, e preencher o intervalo de um ano do concorrente Lollapalooza.

Mais uma vez em setembro, grandes nomes do cenário nacional e internacional atraíram 420 mil pessoas durante cinco dias divididos em dois finais de semana. O número é menor que o da estreia, com 500 mil espectadores, mas ainda de acordo com a organizadora do evento, o impacto na cidade aumentou. Foram movimentados R$2,2 bilhões, aumento de 21% segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Após um primeiro final de semana marcado por uma apresentação imponente do rapper Travis Scott no sábado (6), único dia com ingressos esgotados, e um domingo (7) energético com o rock do Green Day, foi a vez do pop invadir a zona sul da capital. 

Os portões seguiram abrindo ao meio dia, tal qual o serviço de transporte expresso do festival. Além disso, as opções variadas de alimentação, com opções vegetarianas e veganas, banheiros bem sinalizados e muitas ativações dos patrocinadores foram pontos positivos. No entanto, a distância entre o palco secundário (The One) e o principal (Skyline), além da inclinação do terreno no último, continuaram provocando críticas.

1
Segundo estudo da FGV, 177 mil litros de chope e 106 mil hambúrgueres foram consumidos nos 5 dias de evento - Foto: Live Marketing News / Reprodução

Sexta-feira (12)

Jason Derulo animou o público na noite de sexta com um espetáculo cheio de energia e coreografias impactantes. Em meio a hits como “Talk Dirty”, “Wiggle” e “Want to Want Me”, o cantor mesclou pop e R&B destacando sua potência vocal, além de entregar muito carisma e sensualidade durante a apresentação.

A noite, aquecida por Derulo, ganhou clima nostálgico com os Backstreet Boys, que transformaram o palco em uma viagem ao auge dos anos 90. Ao som de clássicos como “I Want It That Way” e “As Long As You Love Me”, a plateia virou um grande coral emocionado, enquanto as coreografias reforçavam a identidade da boyband. Três décadas depois, o grupo mostrou que ainda sabe comandar multidões com carisma e sintonia.

Com novo visual, Luísa Sonza enfrentou o frio paulista com um figurino ousado e um show cheio de atitude no Palco The One. Além dos próprios sucessos que a consagraram no pop, a cantora surpreendeu ao incluir releituras de clássicos da música brasileira, indo de “Louras Geladas”, do RPM, a uma homenagem emocionante a Rita Lee com “Amor e Sexo”. A mistura de hits atuais, performances coreografadas e referências à MPB agitou a platéia.

E completando a presença de potências nacionais, Pedro Sampaio fez uma apresentação histórica para o público e para si, alegando que gastou milhões para tudo acontecer. A banda Jota Quest acalentou corações nostálgicos, e nomes em ascensão no cenário do funk e rap como Duquesa e Keyblack agitaram a platéia. 

Sábado (13)

No sábado (13), o festival reuniu diferentes gerações da música, com encontros que alternaram festa, emoção e mais nostalgia. Ivete Sangalo levou a energia de um carnaval baiano para o The Town. Colorida, divertida e sempre próxima da multidão, fez do show uma festa ao ar livre, com direito a roda de samba e participação surpresa de ritmistas que incendiaram ainda mais a apresentação. O repertório, que atravessa gerações, transformou a noite em um daqueles encontros em que ninguém consegue ficar parado.

Mais íntimo e afetivo, Lionel Richie trouxe outro clima para a noite fria da cidade da música. Quando sentou ao piano para entoar “Hello”, parecia que o festival inteiro tinha parado para ouvi-lo. A emoção foi tanta que, dois dias depois, o cantor usou as redes sociais para agradecer pelo carinho recebido em São Paulo, declarando que ainda sentia o amor do público brasileiro.

A diva Mariah Carey apostou no glamour e em seu repertório de baladas imortais. A performance, embora marcada por certa distância, encontrou momentos de brilho quando dedicou uma música ao público brasileiro, gesto que foi recebido com emoção. Hits como “Hero” e “We Belong Together” reafirmaram o status da cantora como uma das maiores vozes do pop mundial.

2
Vestindo as cores do Brasil, Mariah manteve seu estilo pleno, o que não foi positivo dessa vez - Foto: Ellen Artie

O festival também abriu espaço para outras vozes marcantes. Jessie J emocionou em um show acústico intimista, feito apesar de estar em tratamento contra um câncer de mama — e que acabou sendo o único da cantora na América do Sul após o cancelamento das demais datas na América do Norte e Europa. 

Glória Groove incendiou o público com sua potência performática e visual, enquanto Criolo trouxe poesia afiada e versos de impacto, lembrando a força política do rap. MC Livinho levou o funk a outro patamar e anunciou seu novo projeto de carreira em R&B. Péricles encerrou sua participação em clima caloroso de roda de samba, onde cada espectador parecia parte de um grande encontro entre amigos.

Domingo (14)

Com Joelma, o The Town se transformou em um baile popular de cores, brilhos e danças frenéticas. A cantora revisitou sucessos da época da banda Calypso e apresentou a força de sua carreira solo, mas também abriu espaço para artistas nortistas como Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara. 

O gesto deu visibilidade a uma cena muitas vezes esquecida nos grandes festivais e reforçou sua identidade como representante da cultura amazônica. Com plateia recheada, a artista mostrou que a demanda é alta.

No início da noite, em um horário um pouco melhor que sua última apresentação no Rock In Rio, Ludmilla mobilizou milhares de pessoas no palco secundário. Atravessando hits de sua carreira como “Favela Chegou”, “É Hoje” e sucessos do Numanice, entregou presença de palco e coreografias sensuais. A carioca também surpreendeu a todos com a aparição da cantora estadunidense Victória Monet para a parceria “Cam Girl”.

Sem atrasos, às 20:30, foi a vez então de Camila Cabello levar ao palco o último show da C,XOXO tour. A performance da cubana foi marcada pelo seu carisma e declarações em português como “eu te amo Brasil” e “tenho uma relação muito especial com o Brasil [...] me sinto meio brasileira”. Hits do início de sua carreira solo animaram, como “Bad Kind Of Butterflies” e “Never Be The Same”, além de quase todas as faixas do seu último álbum de 2024, que dá nome à turnê, como “HE KNOWS” e “I LUV IT”. 

A performance potente e animada, que mesclou reggaeton e eletrônica, ainda contou com o funk “Tubarão Te Amo” e uma versão acapella de “Ai Se Eu Te Pego” de Michel Teló. Seguindo, logo após “Señorita”, parceria com o seu ex-namorado, Shawn Mendes, ela cantou “Bam Bam”, brincando com a plateia que aquela canção era para se livrar das pessoas negativas. Vestindo uma camiseta do Brasil e com uma bandeira, encerrou o show de uma hora e meia com “Havana”.

3
Com coreografia, grande estrutura metálica e vocais potentes, Camila entregou um show de diva pop - Foto: Taba Querino / Estadão

Para encerrar o festival, Katy Perry trouxe espetáculo em grande escala, mas não deixou faltar momentos de intimidade. A apresentação iniciada pontualmente às 23h15 teve direito a pirotecnias, muitos efeitos especiais e um discurso emocionante da cantora sobre a importância de trazer sua turnê para a América do Sul. 

Em meio a cenários lúdicos, trocas de figurino e um repertório recheado de hits, Katy Perry chamou o fã André Bitencourt ao palco para cantarem juntos “The One That Got Away”, o que levou o público ao delírio. O show integrou a turnê The Lifetimes World Tour, e deixou a impressão de que a artista fez questão de entregar em São Paulo um dos capítulos mais completos dessa jornada.

No último dia, outros públicos foram contemplados também, com o colombiano J Balvin, dono de hits como “Mi Gente”, e uma atmosfera poderosa com IZA de cleópatra ocupando o palco principal no início da tarde. Dennis DJ agitou com funk no palco The One e, completando a proposta do festival de dar espaço a todos os ritmos e artistas, Belo e a Orquestra Sinfônica Heliópolis marcaram presença no palco Quebrada. 

A cidade da música em solo paulista entregou o que prometia, grandes estruturas e um line up potente, mas ainda segue construindo sua identidade e se aperfeiçoando. A terceira edição já foi inclusive confirmada para 2027 pelo prefeito Ricardo Nunes e a vice-presidente da Rock World, Roberta Medina em coletiva na segunda-feira (15).

Festival reúne multidões, entrega shows históricos e consagra marco na cena musical brasileira
por
Khadijah Calil
Lais Romagnoli
Yasmin Solon
|
10/09/2025 - 12h

Com mais de 100 mil pessoas por dia, o The Town estreou no último fim de semana, 6 e 7 de setembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

Travis Scott encerrou o sábado (6) no palco Skyline com um show eletrizante, enquanto Lauryn Hill emocionava fãs no palco The One ao lado dos filhos YG e Zion Marley. No domingo (7), os destaques ficaram por conta de Green Day e Iggy Pop, além de apresentações de Bad Religion, Capital Inicial e CPM 22.

O festival retoma a programação nos dias 12, 13 e 14 de setembro, com shows de Backstreet Boys, Mariah Carey, Lionel Richie e Katy Perry.

“The Flight”: o balé aéreo que surpreendeu no The Town. Foto: Khadijah Calil
“The Flight”: o balé aéreo que surpreendeu no The Town. Foto: Khadijah Calil 
Fãs aguardam o início dos shows no gramado do Autódromo de Interlagos. Foto: Khadijah Calil
Fãs aguardam o início dos shows no gramado do Autódromo de Interlagos. Foto: Khadijah Calil 
Espalhados pelo Autódromo de Interlagos, brinquedos e atrações visuais oferecem ao público momentos de lazer entre os shows. Foto: Khadijah Calil
Espalhados pelo Autódromo de Interlagos, brinquedos e atrações visuais oferecem ao público momentos de lazer entre os shows. Foto: Khadijah Calil 
Capital Inicial leva o rock nacional ao palco Factory, na abertura do segundo dia. Foto: Khadijah Calil
Palco Factory, que recebeu o Capital Inicial na abertura do segundo dia. Foto: Khadijah Calil 
Palco Skyline iluminado durante o show de encerramento do sábado (6). Foto: Lais Romagnoli
Palco Skyline iluminado durante o show de encerramento do sábado (6). Foto: Lais Romagnoli
Iluminação e cenografia transformam Interlagos durante a primeira edição do festival. Foto: Lais Romagnoli
Iluminação e cenografia transformam Interlagos durante a primeira edição do festival. Foto: Lais Romagnoli
Matuê leva o trap nacional ao palco The One no primeiro dia de festival. Foto: Yasmin Solon
Matuê leva o trap nacional ao palco The One no primeiro dia de festival. Foto: Yasmin Solon
Público lota a Cidade da Música durante o primeiro fim de semana do The Town. Foto: Yasmin Solon
Público lota a Cidade da Música durante o primeiro fim de semana do The Town. Foto: Yasmin Solon

 

Tags:
Colombiana ficou conhecida por misturar crítica social, poesia e arte
por
Khadijah Calil
Lais Romagnoli
|
09/09/2025 - 12h

 

Da Colômbia para o Edifício Pina Luz, Beatriz González ganha uma homenagem em celebração aos seus mais de 60 anos de carreira. Na Pinacoteca de São Paulo, a exposição Beatriz González: a imagem em trânsito reúne mais de 100 trabalhos da artista, produzidos desde a década de 1960.

Beatriz González
Beatriz González trabalha em sua obra 'Telón de la móvil y cambiante naturaleza', de 1978. Foto: Reprodução.

Reconhecida como uma das maiores personalidades da arte latino-americana, a colombiana se destacou ao transformar peças de mobiliário em pinturas. Com a política e cultura de seu país como inspiração, Beatriz combina crítica social e poesia em suas telas, como em Yolanda nos Altares, onde representa agricultores que lutavam pela devolução de suas terras, roubadas por um grupo paramilitar. 

A artista tem sua primeira mostra individual no Brasil espalhada por sete salas da Pinacoteca. A última vez que suas obras foram expostas no Brasil foi em 1971, na 11ª Bienal de São Paulo.

Logo no início da mostra, o público se depara com um espaço dedicado à reprodução e circulação artística na mídia. Um dos trabalhos mais icônicos da artista, Decoración de interiores, marca presença na sala. Uma cortina estampada com o retrato do então presidente da época (1978-1982), Julio César Turbay, questiona o peso da hierarquia presidencial.

Obra
'A Última Mesa'. Foto: Reprodução

 

Do conflito armado colombiano até suas vivências em comunidades indígenas, González extrai registros da imprensa para suas pinceladas. Entre as obras expostas, Los Suicidas del Sisga toma forma a partir de um caso real sobre um duplo suicídio cometido por um casal, refletindo sobre os códigos que vinculam a imagem à crônica policial e sua reprodução nos meios de comunicação de massa. Mais tarde, Beatriz passa a focar na iconografia política colombiana, como a tomada do Palácio da Justiça.

No catálogo, também estão releituras de clássicos contemporâneos. Entre elas, González dá uma nova cara a Mulheres no jardim, de Claude Monet, em Sea culto, siembre árboles regale más libros.

A série Pictogramas particulares encerra a exposição. Nela, a colombiana lança luz sobre a migração forçada, desastres ambientais e a violência nos territórios rurais. A partir de placas de trânsito, a artista representa hipóteses de crise social.

Em cartaz até 1º de fevereiro de 2026, a mostra conta com curadoria de Pollyana Quintella e Natalia Gutiérrez.

Serviço:

  • Local: edifício Pina Luz
  • Data: de 30 de agosto até 1 de fevereiro de 2026
  • Endereço: Praça da Luz, 2, Bom Retiro, São Paulo — SP
  • Valor: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada). Gratuito aos sábados
  • Horário de funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 18h
Tags:
Documentário I’m Not a Robot instiga o telespectador a refletir sobre a evolução das máquinas
por
Vítor Nhoatto
|
08/04/2025 - 12h

Não sou um robô, uma etapa de checagem comum ao navegar na internet e uma sentença obviamente verdadeira, ou talvez não. O curta-metragem de co-produção holandesa e belga de mesmo nome, problematiza o chamado teste Captcha, quando a protagonista Lara (Ellen Parren, produtora musical, entra em uma crise existencial ao não conseguir provar sua humanidade.

Logo de cara o enredo de Victoria Warmerdam, também diretora da obra,  pode parecer apenas cômico, e a interpretação de Parren colabora para essa atmosfera. Os diálogos curtos e a indignação diante de uma suposta certeza de Lara prendem a atenção do telespectador ao fazer com que haja identificação com a situação. Provavelmente todos nós já erramos um destes testes simples em algum momento.

A história com pouco mais de 20 minutos continua com a indicação que a personagem tem a chance de ser 87% um robô, segundo um quiz online, e a essência incômoda da ficção científica começa a reluzir. Conversas entre humano e máquina existem há cerca de 60 anos, com a criação do chatbot Eliza, e com o avançar dos anos é cada vez mais comum, de fato.

Seja aquele número para marcar consultas ou o serviço de atendimento ao cliente das operadoras, a Inteligência Artificial rodeia as esferas da vida cotidiana e vem evoluindo rapidamente. Tome como exemplo o robô humanoide que já foi capa de revista e é considerada cidadã saudita, Sophia, da Hanson Robotics desenvolvido em 2015. Ou ainda os influencers virtuais com milhões de seguidores do Instagram hoje como a carismática Lu da empresa de varejo brasileira, Magazine Luiza.

Robô Sophia
Sophia foi inclusive ao Talk Show do apresentador norte-americano Jimmy Fallon - Foto: Hanson Robotics / Divulgação

Parece que a barreira entre o físico e digital, natural e artificial vem sendo quebrada, como aborda a obra de Margareth Boarini, “Dos humanos aos humanos digitais e os não humanos”, lançada em julho do ano passado pela editora Estação das Letras e Cores. O primeiro livro da doutora em tecnologias da inteligência e mestre em comunicação se aprofunda nesses casos de coexistência entre robôs e pessoas, porém, até onde se sabe as diferenças entre máquinas e humanos são perceptíveis, ainda. 

Mas como uma boa teoria de ficção científica, o documentário explora justamente um possível futuro da humanidade, em que máquinas e humanos serão indistinguíveis, A saga de Lara por respostas acaba com a revelação de que Daniël (Henry van Loon), marido da personagem, a encomendou sob medida há alguns anos, como se faz com uma roupa hoje.

Suas memórias, sentimentos e até mesmo relações com outras pessoas, ou robôs, são todas fabricadas, como uma versão muito mais avançada do robô Sophia. A comédia permeia a narrativa um tanto quanto impensável aos olhos de hoje, mas curiosa. A seriedade da executiva da empresa que fabricou Lara, Pam (Thekla Reuten) cria uma atmosfera cômica ao assunto, completada pela tranquilidade que Daniël fala sobre sua “aquisição”.

Parren entrega uma atuação que transborda indignação, e o trabalho cinematográfico é inteligente, com cortes que acompanham a visão de Lara. Sobre o ambiente que o filme se passa, todas as gravações foram no CBR Building em Bruxelas, e a ambientação feita com cores vibrantes e apenas carros de época no estacionamento propõe um contraste entre antigo e moderno, frio e robótico, quente e humano. 

O desfecho se dá com o desejo da protagonista de ser dona do próprio destino, relegando o fato de não poder morrer antes de seu “dono”. Isso pode ser visto talvez como uma negação em aceitar a única coisa que a diferencia de um humano, ou como uma mensagem da autora da obra sobre uma rebelião das máquinas.

Fato é que Lara se joga do topo do prédio, em um take muito inteligente por parte da direção ao filmar de cima, e que apesar de pesado e grotesco consegue ser engraçado e não desagradável aos olhos. Tal qual uma morte comum, há muito sangue saindo do corpo, as necessidades fisiológicas também são como de humanos, mas após alguns instantes a robô volta à vida.

Lara e Daniel em um Volkswagen Fusca azul
Com cinematografia cativante e enredo inesperado, é um Sci-Fi cômico e dramático - Foto: Indie Shorts Mag / Reprodução

Incômodo e perspicaz são boas palavras para definir a quinta produção de Warmerdam, que a fez faturar uma série de prêmios internacionais incluindo o Oscar de Melhor Curta-metragem deste ano. Sua produção também se destaca por ser carbono neutro, com o plantio de uma agrofloresta na Holanda para compensar as emissões de gás carbônico (CO2) da obra.

I’m Not a Robot está disponível de forma gratuita no YouTube desde o dia 15 de novembro de 2025 no canal The New Yorker, com legendas apenas em inglês ou holandês. Mesmo com essa barreira linguística, o choque final é inevitável, e a reflexão provavelmente também, se o seu cérebro não estiver se perguntando se você pode ser também um robô.

Da vitrola ao Spotify, a relevância do algoritmo no mercado digital
por
Clara Dell' Armelina e Isabela Fabiana
|
07/04/2025 - 12h

“As redes sociais são fundamentais para determinar o sucesso de certas músicas”, destaca o doutor em Musicologia pela Universidade de São Paulo, Thiago Souza, conhecido popularmente por Thiagson, ressaltando a mudança que o mundo digital provocou na maneira de fazer e consumir música. "As redes sociais devolveram o lado social e imagético da música, algo que foi um tanto esquecido no século XX”, e acrescenta, com "o surgimento do Spotify, a imaterialidade finalmente dominou a indústria musical, dando adeus para os discos e CDs, “com a era do streaming tudo está nas nuvens”, diz o musicólogo .

O nascimento do digital popularizou o consumo e produção de músicas mundialmente. No século XX, o que parecia impossível, agora torna-se mais viável: antes, eram poucas as pessoas capazes de lançar-se no mercado musical, o processo era longo e exigia até mesmo sorte. Envolvendo participação em festivais, produção de disco, etc.. Isto é, o jeito de produzir música era caro e complexo. Mas o de consumir também, dependendo da compra de discos e CDs, que rodavam em aparelhos específicos, como vitrolas e rádios.  

Atualmente, a situação se reconstruiu. Com as redes sociais, todos podem lançar uma música. O YouTube, por exemplo, tornou o processo mais fácil e popular. Assim como também a própria maneira de ouvir música tornou-se mais simples, é preciso um toque para abrir um aplicativo. Porém, o controle por algoritmos também fez parte desta reconstrução do meio musical. 

“Muito se fala sobre como os algoritmos funcionam. Mas, o grande problema é que não existe uma transparência. As empresas não compartilham dados reais de como a coisa funciona. Podemos aprender a observar como o algoritmo se comporta, mas não há certeza. No fundo tá todo mundo dando um tiro no escuro”, expõe Thiagson Souza. “Antes a música era uma experiência muito mais social, isso tornava a música uma experiência mais rara".

"Com o surgimento das gravações e reproduções, a música foi se separando cada vez mais do ser humano e foi virando um produto comercializado em discos, fitas e depois MP3 e streaming”, comenta Thiago a respeito de um indústria musical que busca a venda e a massificação do objeto musical em detrimento de sua aura e originalidade. "A música ainda parece ser uma espécie de aposta que permite uma considerável ascensão social. Mas, há muitos artistas que se preocupam mais com o produto do que com os lucros”, diz.

A rede social apresenta um papel de relevância na indústria da música moderna, pois tornou-se a principal vitrine dos cantores. Se uma música viraliza no Tik Tok, os produtores atingem, então, sua principal meta, fazer dinheiro. Todos os artistas se veem cada vez mais entregues ao mercado, porque as redes e os algoritmos são quem define a popularidade “merecida” para aquela música.   

Tags:
Confira como foi a organização e os shows do primeiro dia do festival
por
Julia Naspolini
Pedro Menezes
|
04/04/2025 - 12h

 

Conhecido pelos seus grandes shows, mas também pela lama, o Lollapalooza fez jus à sua fama na sexta-feira (28). Mesmo com riscos de raios e pausas por causa do clima - o que levou a atrasos nos shows - a chuva não conseguiu tomar o posto de headliner. O público resistiu até o final da noite para prestigiar os shows de Jão, Rüfüs du Sol  e Olivia Rodrigo.

 

Olivia Rodrigo

As saias brilhantes, os sutiãs vermelhos aparecendo e até mesmo as capas de chuva roxas denunciavam que a maior parte das pessoas estavam ali para ver ela: Olivia Rodrigo. Uma plateia diversa que reuniu de pré-adolescentes até adultos com looks inspirados nos clipes da cantora. Com um outfit inédito da Roberto Cavalli — sexy, jovem e rebelde, assim como seu show —, a artista entoou seus hits para a multidão. Os fãs sabiam letra por letra, até mesmo das músicas menos famosas. Após anos de espera, ela finalmente veio ao Brasil com sua segunda turnê mundial: Guts World Tour.

Os vocais da cantora eram bons em momentos mais lentos, como em “Traitor” e “Happier”, mas, naturalmente, a americana derrapava nas músicas mais agitadas, combinadas a coreografias. Porém, isso não atrapalhou a experiência. Apesar de não ter backing vocals no palco, o público servia como um coral, cobrindo qualquer nota que saísse fora do tom. 

Ao tocar seu maior hit, “Driver 's License”, ela admitiu que a plateia do Lolla 25 era a mais alta que já presenciou em toda a carreira. E mais uma vez os brasileiros receberam o elogio de melhor público do mundo, quando o grito de “Olivia eu te amo” de milhares de vozes emocionou a americana de apenas 22 anos.

Olivia Rodrigo com uma guitarra vermelha em seu show no Lollapalooza
Olivia Rodrigo em seu momento rock do show.  Foto: Divulgação/Grupo Approach

 

 

Girl In Red

Marie Ulven Ringheim, conhecida como Girl In Red, entrou no palco com atraso devido à pausa por risco de raios na região. Mas, foi recebida por um público caloroso que não se incomodou com a chuva no início do show, que logo parou e foi substituída por um lindo arco-íris - digno do pop sáfico da cantora. 

A norueguesa arriscou um português para agradecer aos brasileiros por dançarem nas músicas animadas e cantarem toda a letra de seus hits como “I Wanna Be Your Girlfriend”. Já em inglês, ela impactou ao afirmar “God is gay”, Deus é gay, em tradução livre.  

Girl In Red com microfone se apresentando
Girl In Red e sua grande presença no palco.  Foto: Iwi Onodera/ Brazil News

 

 

Rüfüs du Sol

Após 6 anos do seu último Lolla Brasil, o trio australiano retornou ao festival como headliner do palco Samsung Galaxy. Mesmo com o line-up do dia mais voltado para música pop, Rüfüs du Sol conseguiu animar o público brasileiro com seus hits eletrônicos. Em meio a lama, os brasileiros dançaram ao som de “Music is Better” e fizeram coro com “Inner Bloom”. 

Tyrone Lindqvist, vocalista, James Hunt, baterista e Jon George, tecladista, disseram ao longo do show que estavam muito felizes de voltar ao Brasil e agradeceram ao público pela presença. 

Rufus du Sol se apresentando
Jon George no piano, Tyrone Lindqvist na guitarra e James Hunt na bateria.  Foto: Divulgação/Lollapalooza

 

 

Empire of the Sun

Empire of the Sun subiu ao palco com estrutura e roupas psicodélicas que, juntamente com as músicas, provocaram uma viagem na imaginação do duo. A audiência se animava ao identificar, nas músicas, os 15 segundos virais do TikTok, mas, eles provaram ser muito mais do que isso. “Walking on a Dream” fez todos levantarem seus celulares e cantarolar o refrão. Para além da cenografia extravagante — com robôs reflexivos dançando —, os vocais de Luke Stelle eram poderosos.

Empire of the Sun no Lolla 25
Vocalista e guitarrista, Luke Steele, durante show no Lollapalooza. Fonte:  AgNews/Van Campos.

 

 

Jão

No último show antes de um prometido hiato, Jão mostrou todo o seu potencial e colocou fogo em tudo. “Eu sou um popstar”, atestou ele. Em um repertório pensado para ser um presente aos fãs, o cantor incluiu “:( (Nota de Voz 8)”, que não cantava há cinco anos, mas retirou grandes hits que um público diversificado do festival pede, como “Vou Morrer Sozinho” ou “Pilantra”, parceria com Anitta.

 

 

Jão no Lolla 25
 Jão anima a plateia no Lolla 25.  Foto: Luiz Gabriel Franco/g1

 

Tags:
Um dos maiores sucessos do teatro musical mundial ganha nova adaptação oficial em São Paulo e atrai milhares de fãs
por
Julia Naspolini
|
02/04/2025 - 12h

Na sexta-feira, 21 de março, a nova adaptação brasileira de Wicked estreou no teatro Renault em São Paulo. A peça está em cartaz pela terceira vez no Brasil, com versões em 2016 e 2023, e está sob o comando da direção de Ronny Dutra e com a liderança das atrizes Myra Ruiz e Fabi Bang. O musical já vendeu mais de 80 mil ingressos para sua temporada que vai até 8 de junho, e já é sucesso nas redes sociais.

Após, sucesso de bilheteria do filme ano passado, que ganhou até o Oscar (2025) de Melhor Designer de Produção e Melhor Figurino, o espetáculo estreia entre o sucesso do primeiro filme e a espera do segundo - já que foram divididos em ato 1, filme 1 e ato 2, filme 2. Dessa forma, a plateia mistura-se entre fãs antigos da peça, que estreou na Broadway em 2003, e fãs novos, que conheceram através do filme

A montagem conta uma história que antecede o enredo do clássico, Mágico de Oz. E se desenvolve na trama da Elphaba, a Bruxa Má do Oeste, e da Glinda, a Bruxa Boa do Norte. O musical, através de uma trilha sonora premiada, conta como elas se conheceram, e mesmo sendo completamente diferentes, criaram uma amizade verdadeira. Essa nova versão brasileira promete apresentar essa história de forma ainda mais especial para os fãs.

A produção teve 19 milhões de reais em investimento para cenário, profissionais de música, figurino, iluminação e ilusionismo para tornar o espetáculo uma experiência ainda mais imersiva para o público.

Elphaba e Glinda agradecendo o público
Elphaba, Myra Ruiz, a esquerda da foto e Glinda, Fabi Bang, a direita da foto nos agradecimentos após o espetáculo.   Foto: Reprodução/Instagram @wickedbrasil

Receber no país obra oficial desse porte, além de ser um grande presente para os fãs, é um marco para o teatro musical brasileiro e para os artistas do país. Afinal, as personagens já viraram verdadeiros clássicos. Roberto Montezuma, professor de canto e especialista em preparação vocal para teatro musical, é o preparador de Tabatha Almeida, uma das Elphabas escolhidas para compor o elenco desta versão, e conta a emoção do processo. Apesar de também ser cantor lírico, ele confessou que seu maior sonho profissional seria preparar alguém para o papel de Bruxa Má do Oeste. 

“Categorizar uma Elphaba,  gravar uma Elphaba seria talvez a coisa mais importante que eu faria na minha vida, profissionalmente falando. Em verdade, eu perdi a conta de quantas vezes eu já chorei de alegria de lembrar que a Tabatha vai fazer a Elphaba”, alegra-se Montezuma.

Tabatha é aluna de Roberto há alguns anos e eles passaram pelo processo de audição juntos. Ele conta, que sempre disse para ela que um dia faria a Elphaba, mas nem ela acreditava. Ao refletir sobre essa super produção, Roberto comenta como é uma emoção diferente assistir ao vivo essa obra e ver como o teatro emociona. “Você vê ela voando, cara, você tá enxergando um cabo ali e você acha incrível de qualquer forma, maravilhoso de qualquer forma, sabe? É inclusive muito mais impactante do que ver uma tela. Porque é real, é físico, tá ali”, diz. 

Mas, para ele, a melhor consequência de Wicked Brasil 2025, é a valorização do teatro musical no Brasil, o aumento da visibilidade e de fãs para essa área teatral. Assim, tornar uma arte acessível para todos. “Acho que isso talvez seja a maior importância que esse Wicked pode trazer, fomentar uma nova ideia de mercado, porque as pessoas vão ver que tem público. O público é só de Wicked ou o público é de teatro musical? Acho que isso talvez seja o legado mais importante da peça. É muito importante para o cenário como um todo e principalmente é muito importante para fomentar também peças menores”, ressalta Montezuma para AGEMT. 

Elphaba voando no espetáculo
Elphaba desafiando a gravidade.    Foto: Reprodução/Instagram @wickedbrasil

 

Tags:
Novo filme de Bong Joon-Ho não emplaca em bilheteria, mas apresenta crítica social necessária
por
Davi de Almeida Madi Rezende
|
31/03/2025 - 12h

 

"Mickey 17”, nova produção estrelada por Robert Pattinson, estreou nos cinemas no último dia 6. Dirigida pelo sul-coreano Bong Joon-Ho, mente por trás de Parasita - vencedor do Oscar de melhor filme em 2019 - a obra aposta em um gênero e tom fora do comum na filmografia do cineasta. A produção é uma ficção científica bem-humorada, mas que carrega uma crítica social clara e direcionada ao governo dos EUA.

A história segue a rotina de Mickey Barnes (Robert Pattinson), um jovem estadunidense que na busca por dinheiro, decide se associar a uma expedição espacial em busca de um planeta substituto à Terra. Neste programa, o protagonista assume a função de um “descartável” - um funcionário selecionado especificamente para missões e experimentos nos quais a única certeza é que não retornará com vida. Sua particularidade, porém, é que Mickey pode ter seu corpo recriado artificialmente por uma máquina quantas vezes for necessário, mantendo sua memória intacta. Desta forma, o “descartável” pode ser enviado à morte inúmeras vezes, sempre retornando como se nada tivesse acontecido.

Robert Pattinson em trajes de astronauta no espaço em foto de divulgação do filme "Mickey 17"
(Robert Pattinson em cena do filme “Mickey 17” Foto: Divulgação/Warner Bros.)

 

O Filme é uma adaptação direta do romance literário "Mickey 7", de Edward Ashton, lançado em 2023, e era esperado como uma das grandes promessas da temporada. Com a direção de Bong Joon-Ho e um elenco estrelado, a obra tinha tudo para ser destaque entre os lançamentos do ano. Entretanto, a estreia de “Mickey 17” ficou bem abaixo do esperado pelo estúdio de produção. O fracasso inicial da obra pode ser entendido através da principal temática da narrativa, a sua crítica social, mas também pela forma como apresenta seu subtexto. Apesar de uma distopia aparentemente divertida, o filme tem como segunda camada uma analogia caricatural e satírica a um modelo de um governo fascista já conhecido. 

Na história, o protagonista é chefiado pelo candidato à presidência Kenneth Marshall, que lidera a exploração espacial terráquea. O governo do personagem interpretado por Mark Ruffalo é uma clara alusão ao regime ditatorial nazista, com cenas que relembram discursos eugenistas de defesa de uma suposta “raça pura”,  saudações e simbolos similares aos propagados pelo nazismo. Sua figura, propriamente dita, flerta com uma caricatura de Hitler, Trump e até mesmo Elon Musk, tanto em aparência quanto em ações, enviando a população da Terra ao espaço e espalhando um discurso de ódio à raças diferentes da sua, da mesma forma como o atual presidente dos EUA faz com os imigrantes.

Nesta analogia, Mickey representa a força de produção deste governo, a mão humana necessária para que os planos corram bem, mas que não deixa de ser descartável e facilmente substituível. Sua função está na mais baixa categoria social, e é frequentemente a razão da maioria das piadas do filme, mas também propõe uma reflexão ao espectador: quando sua vida é descartável, qual valor você tem para a sociedade? 

Mark Ruffalo e Toni Collette em sala de jantar em foto de divulgação do filme "Mickey 17"
(Mark Ruffalo e Toni Collette em cena do filme “Mickey 17” Foto: Divulgação/Warner Bros.)

 

Apesar do universo criativo adaptado pelo diretor, a crítica social retratada é exposta de forma tão óbvia que domina o filme, deixando pouco espaço para uma história que não seja essa. A obra busca colocar tanta relevância para seu segundo plano crítico que acaba não dando espaço para mais nada. Ao fim, a sensação deixada para o espectador é que a história de Mickey é um pouco rasa e tudo que o filme quer é apresentar sua crítica a todo momento, saturando sua própria ideia perto do fim.

Mesmo com pontos negativos, o saldo da obra é positivo, já que mesmo podendo ter desenvolvido com mais profundidade algumas ideias do universo distópico proposto no livro de Edward Ashton, a proposta é bem produzida. O que se segue da obra, e também o que interessa a quem assiste, é a maneira como Bong Joon-Ho espalha suas críticas e analogias de forma bem humorada na trama. O filme tem um tom diferente de Parasita, mais divertido e com uma ambientação incomum, agradando os fãs de ficção científica. Ainda assim, a obra contém momentos, por mais breves que sejam, de tensão, mostrando que o diretor sul-coreano sabe deixar o espectador “na ponta da cadeira”. 

Robert Pattinson deitado em maca de hospital usando um capacete e recebendo uma injeção em foto de divulgação do filme "Mickey 17"
(Robert Pattinson em cena do filme "Mickey 17" Foto: Divulgação/Warner Bros.)

O filme é um grande experimento do diretor em um novo gênero e tom, deixando sua criatividade correr solta com as possibilidades do Sci-Fi propostas pelo livro. As piadas e momentos de humor seguem os padrões do romance de 2023 e são bem colocados, de forma a tirar boas risadas ao mesmo tempo que propõe as reflexões críticas do roteiro. A grande caricatura do nazi-fascismo é exagerada, mas essa é a proposta, impressionar com o absurdo e talvez assim esclarecer as similaridades de alguns elementos com a realidade. O filme diverte para então chocar.

A força que a produção demonstra nas bilheterias em seu mês de estreia decepciona as previsões, mas precisa viver com essa realidade ao apresentar uma crítica tão clara ao país de seu principal público consumidor, os EUA. Apesar disso, em um mundo onde os comportamentos de governos como o de Trump se aproximam cada vez mais do absurdo, críticas claras, óbvias e caricaturais talvez sejam o meio necessário de alertar. “Mickey 17” pode ser um filme que passa batido nos olhos do povo agora, mas futuramente se espera que sua proposta seja refletida, quando a tempestade passar.

Tags: