Do pastelzinho com caldo de cana à hora da xepa, as feiras livres fazem parte do cotidiano paulista de domingo a domingo.
por
Manuela Dias
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29/11/2025 - 12h

Por décadas, São Paulo acorda cedo ao som de barracas sendo montadas, caminhões descarregando frutas e vendedores afinando o gogó para anunciar promoções. De norte a sul, as feiras livres desenham um dos cenários mais afetivos da vida paulistana. Não é apenas o lugar onde se compra comida fresca: é onde se conversa, se briga pelo preço, se prova um pedacinho de melancia e se encontra o vizinho que você só vê ali, entre uma dúzia de banana e um pé de alface.

Juca Alves, de 40 anos, conta que vende frutas há 28 anos na zona norte de São Paulo e brinca que o relógio dele funciona diferente. “Minha rotina é a mesma todos os dias. Meu dia começa quando a cidade ainda está dormindo. Se eu bobear, o morango acorda antes de mim”.

Nas bancas de comida, o pastel é rei. “Se não tiver barulho de óleo estalando e alguém gritando não tem graça”, afirma dona Sônia, pasteleira há 19 anos junto com o marido e filhos. “Minha família cresceu ao redor de panelas de óleo e montes de pastéis. E eu fico muito realizada com isso.  

Quando o relógio se aproxima do meio dia, começa o momento mais esperado por parte do público: a famosa xepa. É quando o preço cai e a disputa aumenta. Em uma cidade acelerada como São Paulo, a feira livre funciona como uma pausa afetiva, um lembrete de que existe vida fora do concreto. E enquanto houver paulistanos dispostos a acordar cedo por um pastel quentinho e uma conversa boa, as feiras continuarão firmes, coloridas, barulhentas e deliciosamente caóticas.

Os cartazes com preços vão mudando conforme o dia.
Os cartazes com preços vão mudando conforme o dia. Foto: Manuela Dias/AGEMT
Vermelha, doce e gigante: a melancia é o coração das bancas nas feiras paulistanas.
Vermelha, doce e gigante: a melancia é o coração das bancas nas feiras paulistanas. Foto: Manuela Dias/AGEMT
A dupla que move a feira da Zona Norte de São Paulo.
A dupla que move a feira da Zona Norte de São Paulo. Foto: Manuela Dias/AGEMT
Entre frutas e verduras um respiro delicado: o corredor das flores.
Entre frutas e verduras um respiro delicado: o corredor das flores. Foto: Manuela Dias/AGEMT

 

Apresentação exclusiva acontece no dia 7 de setembro, no Palco Mundo
por
Jalile Elias
Lais Romagnoli
Marcela Rocha
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26/11/2025 - 12h

Elton John está de volta ao Brasil em uma única apresentação que promete marcar a edição de 2026 do Rock in Rio. O festival confirmou o britânico como atração principal do dia 7 de setembro, abrindo a divulgação do line-up com um dos nomes mais celebrados da música mundial.

A presença de Elton carrega um peso especial. Em 2023, o artista anunciou que deixaria as grandes turnês para ficar mais perto da família. Por isso, sua performance no Rock in Rio será a única na América Latina, transformando o show em um momento raro para os fãs de todo o continente.

Em um vídeo publicado na terça-feira (25) nas redes sociais, Elton John revelou o motivo para ter aceitado o convite de realizar o show em solo brasileiro. “A razão é que eu não vim ao Rio na turnê ‘Farewell Yellow Brick Road’, e eu senti que decepcionei muitos dos meus fãs brasileiros. Então, eu quero compensar isso”, explicou o britânico.

No mesmo dia de festival, outro grande nome da música sobe ao Palco Mundo: Gilberto Gil. Em clima de despedida com a turnê Tempo-Rei, que termina em março de 2026, o encontro dos dois artistas lendários torna a programação do festival ainda mais especial. 

Gilberto Gil se apresentará no Palco Mundo do Rock in Rio 2026 (Foto: Reprodução / Facebook Gilberto Gil)
Gilberto Gil se apresentará no Palco Mundo do Rock in Rio 2026 (Foto: Divulgação)

Além das atrações, o Rock in Rio prepara mudanças importantes na Cidade do Rock. O Palco Mundo, símbolo do festival, será completamente revestido de painéis de LED, somando 2.400 metros quadrados de tecnologia. A ideia é ampliar a imersão visual e criar novas possibilidades para os artistas.

A próxima edição também terá uma homenagem especial à Bossa Nova e um benefício pensado diretamente para o público, em que cada visitante poderá receber até 100% do valor do ingresso de volta em bônus, podendo ser usado em hotéis, gastronomia e experiências turísticas durante a estadia na cidade.

O Rock in Rio 2026 acontece nos dias 4, 5, 6, 7 e 11, 12 e 13 de setembro, no Parque Olímpico, no Rio de Janeiro. A venda geral dos ingressos começa em 9 de dezembro, às 19h, enquanto membros do Rock in Rio Club terão acesso à pré-venda a partir do dia 4, no mesmo horário.

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A socialite continuou tendo sua moral julgada no tribunal, mesmo após ter sido assassinada pelo companheiro
por
Lais Romagnoli
Marcela Rocha
Jalile Elias
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26/11/2025 - 12h
Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz. Foto: Divulgação
Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz em nova série. Foto: Reprodução/Divulgação HBO Max

Figurinha carimbada nas colunas sociais da época, Ângela Diniz virou capa das manchetes policiais após ser morta a tiros pelo então namorado, Doca Street. O feminicídio que marcou o país na década de 1970 ganha agora um novo olhar na série da HBO Ângela Diniz: Assassinada e Condenada.

Na produção, Marjorie Estiano interpreta a protagonista, enquanto Emilio Dantas assume o papel de Doca. O elenco ainda conta com Thelmo Fernandes, Maria Volpe, Renata Gaspar, Yara de Novaes e Tóia Ferraz.

Sob direção de Andrucha Waddington, a série se inspira no podcast A Praia dos Ossos, de Branca Viana. A obra, que leva o nome da praia onde o crime ocorreu, reconstrói não apenas o caso, mas também o apagamento em torno da própria vítima. Depoimentos de amigas de Ângela, silenciadas à época, servem como ponto de partida para revelar quem ela realmente era.

Seja pela beleza ou pela independência, a mineira chamava atenção por onde passava. Já os relatos sobre Doca eram marcados pelo ciúme obsessivo do empresário. O casal passava a véspera da virada de 1977 em Búzios quando, ao tentar pôr fim à relação, Ângela foi assassinada pelo companheiro.

Por dias, o criminoso permaneceu foragido, até que sua primeira aparição foi numa entrevista à televisão; logo depois, ele se entregou à polícia. Foram necessários mais de dois anos desde o assassinato para que Doca se sentasse no banco dos réus, num julgamento que se tornaria símbolo da luta contra a violência de gênero.

Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz, , enquanto Emilio Dantas assume o papel de Doca. Foto: Divulgação
Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz, enquanto Emilio Dantas assume o papel de Doca. Foto: Reprodução/Divulgação HBO Max

As atitudes, roupas e relações de Ângela foram usadas pela defesa como supostas “provocações” que teriam motivado o crime. Foi nesse episódio que Carlos Drummond de Andrade escreveu: “Aquela moça continua sendo assassinada todos os dias e de diferentes maneiras”.

Os advogados do réu recorreram à tese da “legítima defesa da honra” — proibida somente em 2023 pelo STF — numa tentativa de inocentá-lo. O argumento foi aceito pelo júri, e Doca recebeu pena de apenas dois anos de prisão, sentença que gerou revolta e fortaleceu movimentos feministas da época.

Sob forte pressão popular, um segundo julgamento foi realizado. Nele, Doca foi condenado a 15 anos, dos quais cumpriu cerca de três em regime fechado e dois em semiaberto. Em 2020, ele morreu aos 86 anos, em decorrência de um ataque cardíaco.

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Exposição reúne obras que exploram o inconsciente e a natureza como caminhos simbólicos de cura
por
KHADIJAH CALIL
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25/11/2025 - 12h

A Pinacoteca Benedicto Calixto, em Santos, apresenta de 14 de novembro a 14 de dezembro de 2025 a exposição “Bosque Mítico: Katia Canton e a Cura pela Arte”, que reúne um conjunto expressivo de pinturas, desenhos, cerâmicas, tapeçarias e azulejos da artista, sob curadoria de Carlos Zibel e Antonio Carlos Cavalcanti Filho. A Fundação que sedia a mostra está localizada no imóvel conhecido como Casarão Branco do Boqueirão em Santos, um exemplar da época áurea do café no Brasil. 

Ao revisitar o bosque dos contos de fadas como metáfora de transformação interior, Katia Canton revela o processo criativo como gesto de cura, reconstrução e transcendência.
 

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       “Casinha amarela com laranja” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.

 

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                 “Chapeuzinho triste” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                 “O estrangeiro” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.         
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                                                            “Menina e pássaro” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                                                     “Duas casinhas numa ilha” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                                                             “Os sete gatinhos” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                                                                         “Floresta” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.

 

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Festival celebra os três anos de existência com homenagem ao pensamento de Frantz Fanon e a imaginação radical da cultura periférica
por
Marcela Rocha
Jalile Elias
Isabelle Maieru
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25/11/2025 - 12h

Reconhecido como um dos principais espaços da cultura periférica em São Paulo, o Museu das Favelas completa três anos de atividades no mês de novembro. Para comemorar, a instituição elaborou uma programação especial gratuita que combina memória, arte periférica e reflexão crítica.

Segundo o governo do Estado, o Museu das Favelas já recebeu mais de 100 mil visitantes desde sua fundação em 2022. Localizado no Pátio do Colégio, a abertura da agenda de aniversário ocorre nesta terça-feira (25) com a mostra “ImaginaÇÃO Radical: 100 anos de Frantz Fanon”, dedicada ao médico e filósofo político martinicano.

Fachada do Museu das Favelas. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Fachada do Museu das Favelas. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Autor de “Os condenados da terra” e “Pele negra, máscaras brancas”, Fanon contribuiu para a análise dos efeitos psicológicos do colonialismo, considerando algumas abordagens da psiquiatria e psicologia ineficazes para o tratamento de pessoas racializadas. A exposição em sua homenagem ficará em cartaz até 24 de maio de 2026.

Ainda nos dias 25 e 26 deste mês, o festival oferecerá o ciclo “Papo Reto” com debates entre intelectuais francófonos e brasileiros, em parceria com o Instituto Francês e a Festa Literária das Periferias (Flup). A programação continua no dia 27 com a visita "Abrindo Fluxos da Imaginação Radical”. 

Em 28 de novembro, o projeto “Baile tá On!” promove uma conversa com o artista JXNV$. Já no dia 29, será inaugurada a sala expositiva “Esperançar”, que apresenta arte e tecnologia como forma de mapear territórios periféricos.

O encerramento do festival será no dia 30 de novembro com a programação “Favela é Giro”, que ocupa o Largo Pátio do Colégio com DJs e performances culturais.

 

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“Se deus escutasse as mulheres pretas e pobres, o mundo seria muito diferente”
por
Artur Maciel Rodrigues
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03/07/2023 - 12h

(Atores do musical reverenciado pela presença, fonte propria)
 

“A cor púrpura, o musical” é uma fiel adaptação da peça da Broadway baseada no livro de Alice Walker “The color purple”. Com boa atuação, ótimas canções e uma trilha sonora sem igual, e ainda assim contendo mudanças que deixam a história mais atual para quem conhece apenas a história do filme de 1985. 

A obra conta a história de Celie (Amanda Vicente), uma mulher negra do sul americano que passa seus dias com sua irmã Nellie (Lola Borges) na casa de sua família, até que um dia seu pai a negocia para se casar com Mister (Wladimir Pinheiro) e cuidar de seus filhos. Casada com ele, Celie sofre abusos psicológicos e físicos. Ainda assim, ela consegue adquirir inspiração com Sofia (Erika Affonso), esposa de Harpo (Caio Giovani). Sofia também acaba desenvolvendo um complicado relacionamento com Shug Avery (Flavia Santana), uma antiga amante de Mister.

Com elenco totalmente preto, e destaque especial para a atuação de Lilian Valeska e para a canção final de Wladimir Pinheiro — que trazem à tona o quão emocionante e profundamente espiritual o musical consegue ser. O retrato da obra na relação da fé em Deus e o conflito com o martírio, além da busca pela independência feminina e amor próprio, emancipação coletiva e representação LGBTQ+ são pontos altos. 

O uso de cor é um dos pilares da peça, além da exploração da iluminação e da trilha sonora, feita por Thalisson Rodrigues. A acessibilidade também foi grande importância para os produtores — com dias específicos contados com intérpretes de libras e audiodescrição.

Em entrevista, a espectadora Terezinha Silva Leite afirma que ”Achei muito interessante, porém o detalhezinho das duas se beijando é novo, no filme não mostrou essa parte…”. O palco pequeno também foi criticado, uma vez que é ocupado em sua maioria pelo cenário, que serve como as casas que Celie vive. A réplica também é palco de danças e de momentos humorísticos no fundo da cena. E por fim, a duração de três horas e interlúdio de curtos 15 minutos, deixa o espectador exausto ao fim da obra. 


(Cenário em que a peça ocorre, fonte Rafael Nogueira, Uol)

 

Acessibilidade também foi um tema de grande importância com certos dias contados com intérpretes de libras e audiodescrição. O musical está no final de temporada, sendo as últimas apresentações nos dias 30 de junho, 1 e 2 de julho.

 Durante as despedidas dos atores, Flávia Santana comentou que será a primeira mulher negra a ser produtora de uma peça da Broadway. Seu próximo  trabalho junto com o diretor, Tadeu Aguiar,  "O incidente", é a adaptação em português de "American son"-  trata sobre um casal negro buscando notícias de seu filho em uma delegacia. Assim como “A cor púrpura”, promete trazer um retrato de como o racismo atinge todos os relacionamentos na sociedade, sejam eles conjugais e sociais. E para quem ainda não viu à adaptação da obra de Alice walker ganha desconto para ver a outra peça 

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Superproduções da Marvel arrebataram o público, mas entraram em declínio com desgaste de sua fórmula
por
Gabriel Cordeiro
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30/06/2023 - 12h

A  empresa de quadrinhos de super-heróis fundada por Stan Lee, que conta com heróis e grupos  como Homem-Aranha, Hulk e os X-Men passou por uma grave crise financeira nos anos 90, e por isso se viu vendendo os direitos de seus principais heróis para outras empresas, como o Quarteto Fantástico e os X-Men para a Fox e o Homem-Aranha para a Sony. Com a crise se estendendo até os anos 2000, a Casa das Ideias decide se arriscar e iniciar projetos cinematográficos com personagens menos famosos do que aqueles que tinham perdido seus direitos, fazendo acordos bancários para a realização dos filmes, com a contraparte sendo os próprios personagens –  resumindo, caso "Homem de Ferro" não desse retorno, os direitos dele seriam dos bancos.

Robert Downey Jr. como Tony Stark em Homem de Ferro (Reprodução / Marvel)

Robert Downey Junior no filme “Homem de Ferro”, de 2008. (Foto: Reprodução Marvel)

E é desta forma incerta que se inicia seu Universo Compartilhado, em 2008, com o filme “Homem de Ferro” introduzindo tudo que conhecemos, como as cenas pós-créditos e a famosa formula Marvel . O filme foi muito bem recebido pelo público, arrecadando US$ 585 milhões  e gerando lucro. Depois disso, sua sequência, “Homem de Ferro 2”, também teve bons números, chegando a superar o antecessor. Seguindo com os filmes situados no mesmo universo e se conectando, o estúdio chegou ao seu primeiro grande sucesso,  “Os Vingadores”, que passou da casa do bilhão, US$ 1,5 bilhão em bilheteria. com o filme inovando com os personagens da famosa equipe sendo introduzidos em produções anteriores como Capitão América, Thor e Hulk. 

E o sucesso foi se consolidando cada vez mais ao longo dos anos, com franquias menos conhecidas nos quadrinhos se tornando filmes lucrativos, como “Guardiões da Galáxia”, e a retomada de direitos que haviam sido vendidos. Esta recuperação se deu com a compra da Fox pela Disney (detentora dos direitos da Marvel) e um acordo com a Sony para o uso da imagem do Homem-Aranha nos cinemas. Além disso, após 21 produções, todas interconectadas, a Marvel conseguiu, com sua conclusão de saga no filme “Vingadores:Ultimato”, alcançar a marca de segundo filme com maior bilheteria da história, arrecadando US$ 2,8 bilhões, atrás apenas de Avatar. Com isso, a Marvel se tornou a franquia mais lucrativa da história dos cinemas.

Mesmo sendo um inegável sucesso, o Universo Cinematográfico Marvel (UCM) tem seus problemas e, nos últimos tempos, vem apresentando resultados negativos. A “formula Marvel” já mostrava sinais de que estava saturada para o público desde a sequência  Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, “Thor: Amor e Trovão” e “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre”, todos lançados em 2022, que não atingiram a casa do bilhão em arrecadação. internacional.https://www.correiodopovo.com.br/image/policy:1.980229:1675174087/Homem-Formiga-3.jpg?f=2x1&$p$f=2300daa&w=1200&$w=9c05b01

Imagem de Homem Formiga e a Vespa: Quantumania. Foto: Divulgação Marvel Studios

“Grande parte do porquê da queda recente vem devido às falhas de design e pós-produção, somados ao mau uso dos efeitos especiais. Além disso, os enredos estão previsíveis e entediantes, com um claro desgaste da tradicional formula Marvel’”, diz o colecionador e aficionado por quadrinhos Guilherme Sansone, que assistiu a todas as produções do UCM. Em sua análise, vistos individualmente, os filmes da Marvel perdem importância, parecendo apenas mais uma engrenagem para a grande máquina”.

A questão da repetição da fórmula e da serialização já foi duramente criticada por renomados diretores, como Martin Scorsese (vencedor do Oscar por “Os Infiltrados”). "Isso não é cinema. Honestamente, o mais próximo que posso pensar deles, por mais bem feitos que sejam, com atores fazendo o melhor que podem dentro das circunstâncias, é em parque de diversões”, escreveu Scorcese, em artigo para o New York Times. Outro famoso cineasta, Francis Ford Coppola (diretor da trilogia “O Poderoso Chefão”), concordou publicamente com a opinião de Scorsese, em entrevista ao canal de televisão France 24. “Não conheço alguém que tire algo ao ver o mesmo filme repetidas vezes. Martin foi gentil quando disse que não é cinema. Ele não chegou a dizer [que os filmes da Marvel] são desprezíveis, o que eu acabei de dizer que são”, afirmou Coppola.

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Martin Scorsese. Foto: Featureflash Photo Agency / Shutterstock.com

A estudante de cinema Isabela Kuhar é menos rígida do que os dois cineastas. “Não existem regras do que deve ou não ser um filme, só existem diversos gêneros diferentes, mas acredito que a experiência seja a mesma da que temos quando vemos um filme bom ou ruim de qualquer outro filme nessa categoria. Não acho que os filmes estejam saturados, só acho que se tornaram uma verdadeira indústria e deixou de se importar com a qualidade, deixando as produções menos individualizadas e mais como um produto a ser consumido”, afirma.

Para o público em geral, o excesso de produções também pode acabar afastando muitos telespectadores casuais. “É desanimador tentar se aventurar em um universo tão extenso e já estabelecido”, diz Rodrigo Oliveira, de 19 anos, acrescentando que, ao assistir “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, sentiu que lhe faltavam informações para acompanhar a trama. “Dificilmente tirei experiências singulares dos filmes da Marvel”, afirma Oliveira.  

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O primeiro álbum de Katy Perry que a lançou como um dos maiores ícones pop da indústria
por
Catarina Pace
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29/06/2023 - 12h

Há 15 anos, Katheryn Elizabeth Hudson, mais conhecida como Katy Perry, se lançava oficialmente na indústria musical. Depois do disco Katy Hudson, que não alcançou sucesso, Katy se tornou um dos garotos em One Of The Boys e não gritou quando viu uma aranha, mas com certeza gritou quando se tornou a primeira artista pop perfect da época. No formato pin-up girl, a artista saiu do coral da igreja para o mundo do pop, se arriscando em músicas com temáticas não tão religiosas, algo que cantores e boybands já exploravam profundamente naquela época. 

Quando escolheu a guitarra ao invés do balé, Katy já estava decidida em ser uma inspiração para a nova geração de fãs do pop rock. Com sete milhões de discos vendidos, o álbum foi o primeiro da californiana com a Capitol Records e tem 13 faixas, em que os famosos hits Waking Up In Vegas, Thinking of You e Hot N Cold, estão presentes. A última, que da data de seu lançamento ocupou a posição #2 na loja virtual do iTunes e a #3 no Hot 100 da Billboard, é considerada o segundo maior hit de sua carreira. 

Autora: Catarina Pace
Katy Perry com figurino do clipe de Waking Up In Vegas
Imagem: [Divulgação]

I Kissed a Girl também esteve nas paradas, sendo número #1 na Billboard Hot 100 e permaneceu no topo durante 7 semanas a partir de seu lançamento. O single vendeu mais de 11 milhões de cópias mundialmente. Repleto de diferentes batidas e ritmos, a nostalgia já era real no primeiro álbum de sucesso mundial da cantora. Apesar da maioria das faixas serem animadas, como em todo álbum da californiana, a melancolia não deixa de estar presente. 

No disco, Katy comove com Thinking Of You e I’m Still Breathing, demonstrando seu talento vocal. A primeira pode ser considerada um prelúdio da icônica The One That Got Away de seu álbum seguinte, lançado em 2010, Teenage Dream. É uma balada romântica que esbanja vocais e sentimentalismo. Já a segunda não tem medo de abordar explicitamente temas como suicídio e questionamentos sobre a própria vida da cantora, mas marca uma nova era – seu renascimento como pessoa e artista. 

Apesar de hoje Katy Perry ser uma das artistas que protege a causa LGBTQIA+ com unhas e dentes, no ano de lançamento do álbum, se envolveu com polêmicas por conta das faixas Ur So Gay e I Kissed a Girl, duas músicas que abordam sexualidade. A primeira segue alguns padrões de opinião da época para o tipo de comportamento masculino, que como diz a música era “tão gay e nem gosta de homens”. Por outro lado, I Kissed a Girl abriu as portas para ela e outras mulheres se libertarem dos padrões heteronormativos da época, como uma canção sobre experiência e ousadia. Tanto a música quanto o videoclipe puderam consagrar a cantora como um ícone dentro da comunidade. 

Com o tom desafiador e irônico do título do álbum, ela conseguiu inovar, e com sua imaginação desenvolvida, criou um mundo só dela. Através de seu olhar penetrante e seu batom vermelho, ela produziu sua própria estética, que pode ir desde docinhos e piscinas de plástico, até as icônicas nuvens coloridas.  

Autora: Catarina Pace
Katy Perry e seu estilo pin-up girl
Imagem: [Divulgação]

Certamente o estilo de pin-up girl perdurou até hoje. A estética de 1940 acompanhou Katy durante sua carreira e foi um marco desse álbum em específico, o que o diretor de arte do disco, Ed Sherman, conseguiu caracterizar muito bem no disco. Era a imagem dela que garotos e garotas queriam ter nas paredes de seus quartos. Na época de seu lançamento, One Of The Boys consagrou Katy Perry não só como uma das maiores cantoras pop da indústria, mas como uma performista de mão cheia. 

Logo em 2008, ano de lançamento do álbum, ela participou da Vans Warped Tour, um festival anual que ocorreu de 1995 a 2019. Depois dele, Katy se preparou para sua primeira turnê solo, a Hello Katy Tour. Lotado de referências de seu próprio projeto e em um palco com um gigante coração rosa, a turnê lançou a artista com performances temáticas e cheias de vida.

Para quem tem saudade dos grandiosos espetáculos que a diva pop fazia no começo da carreira, ela relembrou toda sua carreira e desenvolveu números inéditos para seus shows residentes em Las Vegas, de 2021 até o início deste ano. Com cogumelos e privadas gigantes, Katy Perry fez história mesmo vestindo lacres de latinhas. Intitulada de PLAY, a série de shows em Las Vegas foi mais uma demonstração da artista gigante que Katy foi e ainda é. Seus fãs, os katycats, podem ficar orgulhosos de tudo o que sua california girl construiu até aqui, mesmo sem um Grammy em mãos.

Autora: Catarina Pace
Katy Perry em uma das apresentações da residência PLAY
Imagem: [Divulgação]

One Of The Boys foi o início da carreira meteórica de uma menina que queria mudar sua música e personalidade. Em um mundo próprio, Katy criou uma série de histórias que se conectaram e vieram para tornar a indústria musical menos cinza. Sob seu nome artístico, 15 anos anos se passaram e em 2023, Katheryn sabe exatamente quem foi e quem é hoje. “Está tudo bem em dizer que você não era tão evoluído como humano 5 anos atrás quanto você é agora. Ninguém pode fazer você sentir ou acreditar em algo sobre si que você já não sinta”, relatou Katy em entrevista ao The Guardian. Desde o começo ela garantiu seu lugar no mundo e se tornou uma artista icônica, que com certeza é um pôster que ninguém quer tirar da parede. 

 

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Tecnologia atrai novo público a museus, mas pode estimular relação superficial com obras
por
Yasmin Solon
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28/06/2023 - 12h

As chamadas exposições imersivas fazem parte da arte digital contemporânea. Sua proposta é trazer ao público uma experiência intensa em um ambiente multissensorial, que faz uso de recursos como projeções sincronizadas de vídeo, luzes, sons, trilhas sonoras e por vezes até essências olfativas. Entretanto, os debates sobre esta tendência dividem tanto o público quanto os críticos. Alguns acham que as exposições imersivas tornam a arte mais conhecida, outros temem que o real sentido das obras esteja sendo trocado por objetivos mercadológicos.

As exposições imersivas puderam trazer uma experiência única aos visitantes. Rafael Reisman, CEO da Blaist Entreteniment, foi fundador e curador de grandes projetos de sucesso no Brasil. Desde a primeira, Elvis Experience em 2012, até as recentes “Space Adventure”, “Beyond Van Gogh”, “Van Gogh 8K”, “Frida Kahlo” e “The Art of Bansky”.  

Reisman explicou em entrevista à AGEMT como esses eventos são montados: “As exposições, que geralmente ficam quatro meses em cada cidade selecionada, são complexas. Envolve toda uma curadoria cinematográfica e tecnológica de alta performance.” O empresário ainda disse que Beyond Van Gogh contou com mais de 70 projetores a laser de última geração, conectados a servidores de alto desempenho, sendo necessária “muita dedicação de um time grande”.  

Para o CEO, as exposições tiveram um grande alcance pelo “ineditismo”. “As pessoas se interessaram porque foi uma novidade completa aqui, é uma experiência completamente diferente de ir ao museu tradicional”, completou ele. As exposições tiveram grande alcance nas redes sociais, o que contribuiu muito para a divulgação dos projetos. Além de conquistar quem já era fã do artista em exposição, as redes sociais proporcionaram um conhecimento e um interesse de outras pessoas que até então poderiam nem saber sobre seus trabalhos. Reisman concordou em dizer que “as redes influenciaram completamente as exposições, sendo excelentes ferramentas de divulgação”.  

O público, que pode estar mais interessado em registrar o momento e postar, se sente influenciado a fazê-lo mesmo quando o artista em exposição critica fortemente a arte elitista, como Bansky, e o capitalismo, como Kahlo.  As empresas responsáveis pelos projetos veem uma boa opção para lucrar e então, cada vez mais, a programação dos museus inclui ambientesinstagramáveis, fazendo incluir pessoas que talvez, a princípio, não se interessam pelo que acontece na exposição, mas pelo ato de publicar que esteve presente.  

Mesmo assim, apesar da polêmica que pode ser interpretada como arte clássica e arte contemporânea, e agora também digital, existe um público ainda excluído do debate e das exposições. Apesar de as redes sociais propagarem os projetos, o preço dos ingressos é determinante para transformar a vontade em realização, e nesse tipo de exposição não há uma inclusão total.  

Reisman explicou que o preço elevado dos ingressos é justificado pelas altas tecnologias usadas, que ele qualifica como “caríssimas”. Mesmo assim, o CEO explicou que alguns projetos, como “Beyond Van Gogh”, que tem ingressos até R$ 90, tinham iniciativas para tornar a experiência mais acessível: “Às segundas, terças e quartas-feiras tinham ingressos a partir de R$ 35, não é tão caro. Obviamente, os horários e os dias mais concorridos refletiam em preços mais elevados, mas tentamos e conseguimos muito bem dar o acesso a todos. O empresário precisa lucrar e retornar os valores que os projetos demandam, a própria tecnologia é caríssima”.  

Controvérsias à parte, a nova modalidade merece ser visitada porque, assim como disse Reisman, “é cultura”, e as pessoas deveriam conhecer o que pode estar cada vez mais infiltrado no cotidiano moderno. 

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Ministro de Giorgia Meloni criou lei para aumentar ingressos de museus e chamou Dante Alighieri de 'fundador do pensamento de direita'
por
Felipe Abel Horowicz Pjevac
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24/06/2023 - 12h

A cultura faz parte da identidade de um país. Os aspectos culturais de qualquer nação ajudam a definir de fato quem ela é, e isso pode ser observado nas mais diversas faces do dia a dia vivido no local.

Ao falar de Itália, já surgem na mente os filmes com mafiosos e diálogos fortes, a tarantella e as comidas tradicionais. Voltando para o passado, são notórias as contribuições culturais advindas da civilização romana antiga, com obras faraônicas como o Coliseu ou a Torre de Pisa. É fato que a cultura ocidental em si vem em grande parte da península italiana, derivando de lá conceitos a respeito de religião (a exemplo do Vaticano), política, filosofia, arte e ciência.

A relação entre o governo e a cultura na Itália sempre foi feita de maneira muito forte, com o Estado bancando obras e produções culturais que elevaram o país ao patamar  de nação tão reconhecida nessa área. No entanto, após o trauma do fascismo, o assunto foi poucas vezes tocado nos anos seguintes.

Tancredi Moretti, italiano de 24 anos que trabalha como gerente-geral na Secretaria Municipal de Cultura de Milão, explica: “A Itália passou a sofrer um preconceito muito forte no continente europeu nos anos que seguiram a Segunda Guerra Mundial, e tudo o que era exportado daqui era recebido com estranheza pelos estrangeiros. Precisamos passar por um período de ‘desintoxicação cultural’, e foi bem difícil”.

Em 1974, o governo de Aldo Moro criou o 'Ministério dos Bens Culturais e do Meio Ambiente', encarregado das pastas culturais e educacionais, e esse ministério foi mudando de nome até se assumir como 'Ministério da Cultura' apenas em março de 2021.

“O nosso país sempre foi um exportador de cultura refinada, mas também tinha muito material bruto mal-aproveitado por aqui. Atores, diretores e ideias brilhantes não tinham recursos disponíveis para criar. O surgimento do ministério foi um grande ponto de partida para aqueles que vivem da cultura aqui na Itália”, continua Tancredi.

Recentemente, no entanto, o país europeu enfrentou uma crise econômica profunda que afetou esses investimentos e a atenção dada a essas pautas, influenciada pela ascensão do regime de extrema-direita de Giorgia Meloni no final de 2022.

“Sempre que penso no Brasil, lembro da Renata Bueno, a deputada brasileira que trouxe para cá o projeto Pró-Cultura importado do Brasil (referindo-se à Lei Rouanet) para incentivar auxílio privado a iniciativas culturais em troca de crédito tributário e eventuais isenções de impostos. Em 2015, época em que isso foi instituído, ouço falar que foi um grande alívio, mas hoje estamos sentindo na pele as restrições que Meloni tenta constantemente impor a esse projeto.”

O ministro da Cultura, Gennaro Sangiuliano, nomeado por Meloni, já deu diversas declarações polêmicas e duvidosas a respeito de sua pauta nos oito meses de cargo até agora, como dizer que o poeta Dante Alighieri, um dos escritores de todos os tempos, foi o "fundador do pensamento de direita”.

Além disso, Sangiuliano criticou logo ao assumir o cargo a entrada gratuita em museus italianos, e já instituiu um projeto de lei que aumenta obrigatoriamente o preço das entradas a museus em um euro para, segundo ele, 'auxiliar em um fundo de emergência'.   

 

A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni e seu ministro da Cultura Gennaro Sangiuliano

 

A medida foi duramente criticada, pois, além de afastar muitos italianos desses espaços (uma pesquisa da ISTAT mostra que apenas 12% dos cidadãos italianos já frequentaram museus em 2023, uma redução de quase dez pontos percentuais em relação aos 21,7% de junho de 2022), gerou o fechamento de diversos museus até então gratuitos de pequeno e médio porte que não possuíam estrutura suficiente para começar a cobrar ingressos.

“Os últimos anos foram bem estremecedores para essa relação entre Estado e cultura por aqui. Eu mesmo sou da comuna de Portofino, onde foi produzido o lindo filme ‘Um Sonho de Primavera’, e nossa cidade tinha uma secretaria de Cultura, assim como a maioria das cidades italianas. Especialmente nos últimos dez anos, com a crise política e os cortes de verbas, sobraram só as secretarias maiores, como em Roma ou aqui em Turim, para trabalhar junto com o Ministério”, ressalta Tancredi.

O jovem acrescenta que pessoas mais velhas afirmam enxergar semelhanças entre o governo Meloni e o regime fascista em relação às questões culturais: “Há uma quantidade grande de integrantes do governo Meloni, não só aqueles relacionados à cultura, que em diversos momentos fazem declarações assustadoras ou cogitam um plano de governo muito mais radical nesse ponto”.

O antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, por exemplo, já chegou a afirmar que “a Itália precisa ser cuidadosa e responsável, pois há certas portas que se forem abertas aos estrangeiros podem acabar com a identidade do país”. Essa supervalorização do produto italiano reprimindo aquilo que vem de fora foi uma das características marcantes da cultura no governo de Mussolini.

Tancredi finaliza relatando que não acredita em uma perspectiva de melhora no cenário a curto ou médio prazo: “Além da enorme crise econômica e dos embates políticos constantes interferindo, Giorgia conseguiu fazer o povo acreditar que a cultura é um ótimo lugar para se tirar dinheiro estatal e reinvesti-lo em outras áreas. Esse tipo de pensamento causa danos que não se consertam apenas com a troca de ministros ou chefes. No momento, uma maior ajuda da iniciativa privada pode ser muito bem-vinda. Durante a pandemia, a Itália não produziu quase nada, e é difícil retomar esse processo.

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