Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
por
Maria Clara Palmeira
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27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

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Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

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A incerteza quanto ao fim das salas de cinema e início da diminuição em massa de consumidores
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Chiara Renata Abreu
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18/06/2025 - 12h

A recente chegada dos streamings pode acabar com os cinemas. Internacionalmente, as plataformas têm se mostrado cada vez mais aptas a abalar seus concorrentes. 

Depois da pandemia, os donos dos cinemas sentiram a diminuição de movimento, que preocupa não só a indústria, mas a sociedade em si. Filmes e curtas fazem parte da formação da cultura de civilizações, e a incerteza de sua existência atormenta. Os streamings ganharam força no período de quarentena, ocupando o espaço que as salas obtinham. O conforto de estar em sua própria casa, poder parar o filme a qualquer momento e a variedade no catálogo são alguns dos principais motivos do aumento da modalidade segundo pesquisas da Cinepop, site especializado em cinema. 

De acordo com pesquisas da revista O Globo, a área do cinema conseguiu em 2023 superar as dificuldades e recuperar alguns de seus fregueses, mas os números seguem abaixo do que estavam antes da pandemia. Segundo o analista de mercado Marcelo J. L. Lima em entrevista para a revista, a crise é mundial, com ressalvas em países como França, Índia, Coreia do Sul e China, que tem menor influência de Hollywood. Ainda, a reportagem aponta que parte da fraqueza hoje encontrada na indústria se fez depois de 1980, a partir do início da migração dos cinemas de rua para os de shopping. Em 2008 apenas 27% deles eram fora dos centros de comércio. 

Em entrevista para O Globo, Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), apontou que os cinemas estão em apenas 8% dos municípios brasileiros, apenas 451 de um total de 5.565 cidades. A volta dos cinemas de rua poderia diminuir o desequilíbrio das salas, gerando uma maior popularização do cinema. Segundo Raíssa Araújo Ferreira, estudante de cinema na Belas Artes, “os cinemas estão se perdendo. Antigamente existiam vários cinemas de rua, de mais fácil acesso. Hoje está acontecendo uma elitização das salas. Elas estão, por exemplo, muito longe das periferias e concentradas nos shoppings, então existe todo o gasto com a locomoção. O cinema se torna um lugar de privilégio”. 

“O cinema é a sétima arte. Ela é um conjunto de todas as outras artes, e o cinema é vivo. Ele é sempre atual. Ele é sempre de todas as épocas. Então nada que é vivo vai desaparecer sem deixar vestígios. O cinema tem muito o que falar. É como se as salas estivessem adormecidas. Elas não estão mortas, mas sim apagadas”, comenta a aluna. 

A jovem complementa com ideias para a volta do triunfo das salas de cinema. “Acho que precisamos reinventar as salas. Apostar em programações mais diversas, ingressos mais acessíveis, novas salas mais perto da periferia e espalhar o cinema pelas cidades do Brasil. Criar o desejo de ir ao cinema, como um acontecimento, e trazer experiências mais imersivas, como convidar atores para, antes da sala de cinema, falarem sobre o filme. Trazer também eventos para apoiar o cinema de rua, investindo nas produções independentes e criando lugares públicos. Assim, as salas vão se reposicionar e oferecer algo que o sofá de casa ou a cama não oferece”. 

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A história do grupo que ultrapassou as barreiras sonoras pode ser vista no centro de SP até o fim de agosto
por
Por Guilbert Inácio
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26/06/2025 - 12h

A exposição “O Quinto Elemento”, em homenagem aos 35 anos do notório grupo de rap Racionais MC’s, está em cartaz desde o dia 06 de dezembro de 2024, no Museu das Favelas, no Pátio do Colégio, região central da cidade de São Paulo. A mostra era para ter sido encerrada em 31 de maio de 2025, mas, devido ao sucesso, vai agora até 31 de agosto.

A imagem mostra um painel os quatros membros dos Racionais MC's
Em 2024, o museu ganhou o prêmio de Projeto Especial da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) pela exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Museu das Favelas

O Museu das Favelas está localizado no Centro histórico de São Paulo, mas esse nem sempre foi o seu endereço. Inaugurado no dia 25 de novembro de 2022, no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas ficou 23 meses no local até trocar de lugar com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, no dia 26 de agosto de 2024.  

Fechado por três meses, o museu reabriu no dia 06 de dezembro de 2024, já com a nova exposição dos Racionais MC’s. Em entrevista à AGEMT, Eduardo Matos, um dos educadores do museu, explicou que a proposta da exposição chegou neles por meio de Eliane Dias, curadora da exposição, CEO da Boogie Naipe, produtora dos Racionais e esposa do Mano Brown. Eduardo complementou que o museu trocou de lugar para ter mais espaço para a mostra, já que no Campos Elísios não teria espaço suficiente para implantar a ideia. 

Tarso Oliveira, jornalista e historiador com pós-graduação em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira, comentou que a gratuidade do museu é um convite para periferia conhecer a sua própria história e que, quando falamos de Racionais MC's, falamos de uma história dentro da história da cultura hip-hop, que salvou várias gerações fadadas a serem esquecidas e massacradas pelo racismo estrutural no Brasil. “Nós temos oportunidades de escrever a nossa narrativa pelas nossas mãos e voltada para o nosso povo. Isso é a quebra fundamental do epistemicídio que a filósofa Sueli Carneiro cita como uma das primeiras violências que a periferia sofre.”, afirma o historiador. 

O Quinto Elemento

Basta subir as escadas para o segundo andar do museu, para iniciar a imersão ao mundo dos Racionais. Na entrada, à sua direita, é possível ouvir áudios do metrô, com o anúncio das estações. Uma delas, a estação São Bento da linha 1-Azul, foi o berço do hip-hop em São Paulo, na década de 1980. À esquerda está um som com músicas dos Racionais, uma trilha que você irá ouvir em todos os espaços da exposição.

A imagem apresenta três placas, em sequência, com os dizeres "X", "Racionais MC's" e "Vida Loka".
Placas semelhantes às placas com nomes de rua trazem as letras do grupo. Foto: Guilbert Inácio.

No primeiro espaço, podemos ver o figurino do Lorde Joker, além de uma breve explicação da presença recorrente na obra do grupo da figura do palhaço em apresentações e músicas como “Jesus Chorou”, em que Mano Brown canta: “Não entende o que eu sou. Não entende o que eu faço. Não entende a dor e as lágrimas do palhaço.”

A imagem mostra uma fantasia laranja de um palhaço. Ao lado, há uma televisão.
O figurino é usado em shows pelo dançarino de break Jorge Paixão. Foto: Guilbert Inácio. 

Ao adentrar o segundo espaço, você mergulha na ancestralidade do grupo. Primeiro vemos imagens e um pouco da história das mães dos quatro membros, Dona Benedita, mãe e avó de Ice Blue; Dona Ana, mãe do Mano Brown; Dona Maria José, mãe de KL Jay e Dona Natalícia, mãe de Edi Rock. Todas elas são muito importantes para o grupo e ganharam, inclusive, referências em músicas como “Negro Drama” em que Brown canta: “Aí Dona Ana, sem palavra. A senhora é uma rainha, rainha”. 

É nessa área que descobrimos o significado do nome da exposição. Há um painel no local com um exame de DNA dos quatro integrantes que revela o ponto de encontro entre eles ou o quinto elemento – a África.

A imagem mostra um painel com o exame de DNA dos quatro membros dos Racionais MC's
Na “Selva de Pedra”, antes de todos se conhecerem, todos já estavam conectados por meio da ancestralidade. Foto: Guilbert Inácio.

O título se torna ainda mais significativo quando lembramos que a cultura hip-hop é composta por quatro elementos: rap, beat, break dance e grafite. O quinto elemento seria o conhecimento e a filosofia transmitida pelos Racionais, grupo já imortalizado na cultura brasileira, sobretudo na cultura periférica. 

Na terceira área, podemos conhecer um pouco de Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown; Paulo Eduardo Salvador, mais conhecido como Ice Blue; Edivaldo Pereira Alves, o Edi Rock e, por fim, Kleber Geraldo Lelis Simões, o KL Jay. Entre os inúmeros objetos, temos o quimono de karatê de Blue e o trombone de seu pai, a CDC do KL Jay, rascunhos de letras de Brown e Edi Rock.

A imagem mostra um bicicleta BMX azul
Primeira BMX de Edi Rock. Foto: Guilbert Inácio. 

O próximo espaço é o “Becos do som e do Tempo”, que está dividido em vários pequenos slots que mostram a trajetória musical do grupo. Podemos ver rascunhos de letras, registros de shows e a história de algumas músicas, além de alguns prêmios conquistados durante a carreira do grupo. 

Algumas produções expostas são “Holocausto Urbano” (1990); “Escolha seu Caminho” (1992); “Raio X do Brasil” (1993); “Sobrevivendo no Inferno” (1997); “Nada Como um Dia Após o outro Dia” (2002).

A imagem mostra um painel com os dizeres "Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição" e uma foto dos quatro membros dos Racionais MC's. Ao lado, há fotos individuais dos membros.
O grupo confirmou um novo álbum para este ano, mas ainda não divulgou o título da obra nem a data de lançamento. Foto: Guilbert Inácio.

Nos próximos espaços, tem uma área sobre o impacto cultural, um cinema que exibe shows e o local “Trutas que se Foram” em homenagem a várias personalidades da cultura hip-hop que já morreram. A exposição se encerra no camarim, onde estão disponíveis alguns papéis e canetas para quem quiser deixar um registro particular na exposição.

A imagem mostra uma pequena placa com a foto da Dina Di e os dizeres: "Dina Di. Cria da área 019, como as quebradas conhecem a região de Campinas, no interior de São Paulo, Viviane Lopes Matias, a Dina Di, foi uma das mulheres mais importantes do rap no Brasil. Dina era a voz do grupo Visão de Rua. Dona de uma voz forte, assim como sua personalidade, a rapper nasceu em 19 de fevereiro de 1976 e morreu em 19 de março de 2010. Foi uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no rap nacional. Dina nos deixou por causa de uma infecção hospitalar, que a atingiu 17 dias após o parto de sua segunda filha, Aline."
Nomes como Sabotage, Chorão, WGI, entre outros são homenageados na exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Segundo Eduardo, a exposição está movimentando bastante o museu, com uma média de 500 a 800 pessoas por dia. Ele conta que o ápice da visitação foi um dia em que 1500 pessoas apareceram no local. O educador complementa que, quando a exibição chegou perto da sua primeira data de encerramento, em maio, as filas para visitar o espaço aumentaram consideravelmente. O que ajudou a administração a decidir pela prorrogação.  

Eduardo também destaca que muitas pessoas vão ao museu achando que ele é elitizado, mas a partir do momento em que eles veem que o Museu das Favelas é acolhedor, com funcionários dispostos a tirar suas dúvidas e com temas que narram o cotidiano da população brasileira, tudo muda. 

 “Dá para sentir que o pessoal se sente acolhido, e tendo um movimento desse com um grupo que é das favelas, das quebradas, que o pessoal se identifica, é muito melhor. Chama atenção e o pessoal consegue ver que o museu também é lugar da periferia”, conclui. 

Impacto Cultural

Os Racionais surgiram em 1988 e, durante todo o trajeto da exposição, podemos ver o quão importante eles são até hoje para a cultura brasileira, seja por meio de suas músicas que denunciaram e denunciam o racismo, a violência do Estado e a miséria na periferia – marcada pela pobreza e pela criminalidade –, seja ocupando outros espaços como as provas nacionais e vestibulares.

A imagem mostra duas provas do Exame do Ensino Médio de 2023 com os trechos "Até no lixão nasce Flor" e É só questão de tempo, o fim do sofrimento".".
Trechos de Vida Loka, parte I e II nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023 (ENEM). Foto: Guilbert Inácio. 

Em 2021, foi ao ar a primeira temporada do podcast Mano a Mano, conduzido por Brown e a jornalista Semayat Oliveira, que chegou a sua terceira temporada em 2025.

Inclusive, o podcast, que já teve inúmeros convidados da cultura e da política vai virar  um livro, homônimo. A publicação sairá pela Companhia das Letras, que já publicou o livro “Sobrevivendo no Inferno”, em 2017. 

Segundo Tarso, o grupo representa a maior bandeira que a cultura negra e periférica já levantou nesse país, visto por muitos como super-heróis do gueto contra um sistema racista e neoliberal; além de produtores de uma música capaz de mudar a atitude e a perspectiva das pessoas, trazendo autoestima, além de muito conhecimento. 

“Um dos principais motivos do grupo se manter presente no cenário cultural é não se acomodar com a "força da camisa", como cita o Blue.  E sempre buscar ir além artisticamente, fazendo com que seus fãs tendam a ir para o mesmo caminho e continuem admirando sua arte e missão.”, finaliza Tarso. 

 

Serviço

O Museu das Favelas é gratuito e está aberto de terça a domingo, das 10h às 17h, com permanência permitida até às 18h. A retirada dos ingressos pode ser online ou na recepção do museu. Além da exposição “O Quinto Elemento”, também é possível visitar as exibições “Sobre Vivências” e “Favela é Giro”, nos mesmos horários.

Temáticas são abordadas desde os anos 60 no Japão e continuam exploradas até hoje
por
LUCCA CANTARIM DOS SANTOS
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16/06/2025 - 12h

“O sonífero”, projeto criado por Lucca Cantarim, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) , tem por objetivo combater a visão reacionária a respeito de temas de gênero no entretenimento.

Trazendo a história da presença de personagens de diversas sexualidades e gêneros nos mangás e animes dentro da mídia japonesa, o autor trás uma reflexão leve, descontraída, porém importante a respeito de uma representatividade tão importante.

Os sete artigos que compõem o projeto estão disponíveis para serem lidos no site “Medium”, no perfil autoral de Lucca. Os textos contém entrevistas com pesquisadores, fãs e até mesmo leitores de dentro da comunidade LGBT que se identificam e se abrem sobre a importância da representatividade para eles.

Disponível em: https://medium.com/@luccacantarim/list/o-sonifero-d19af775653e

 

Cantor passou pelo Rio de Janeiro e São Paulo em outubro com ingressos esgotados
por
Sophia Pietá Milhorim
Isabella Santos
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13/11/2023 - 12h

Um dos maiores cantores da atualidade, The Weeknd, trouxe para o Brasil a sua tão esperada turnê “After Hours Til Dawn”, passando pelas capitais Rio de Janeiro e São Paulo. Esgotando os ingressos apenas nos primeiros dias de venda, o artista criou um espetáculo distópico e tecnológico com estrutura gigantesca nos estádio de Nilton Santos e Allianz Parque.

 

Para mais de 150 mil pessoas, The Weeknd cantou seus maiores sucessos e proporcionou um show grandioso com os recursos de efeitos especiais e fashionistas. Abel Tesfaye utilizou uma máscara prata e um braço de ferro para adentrar no universo futurista em que seu show se passa. A turnê no Brasil começou pelo Rio de Janeiro, o show aconteceu no dia 07 de outubro para mais de 61 mil pessoas em apresentação única na cidade, lotando o estádio.

Já em São Paulo, The Weeknd lotou dois dias seguidos, 10 e 11 de outubro, com mais de 48 mil pessoas em cada um e diversos famosos marcando presença. A turnê era para ter sido realizada em 2020 mas devido a pandemia de COVID-19 foi adiada para 2023. Já em 2022, o artista fez uma pausa para se dedicar a uma outra paixão: o cinema.

O nome de sua turnê faz referência aos últimos dois álbuns do cantor: After Hours (2020) e Dawn FM (2022). Mas a setlist traz muito além desses dois projetos, The Weeknd passa por canções desde o início de sua carreira, feats com outros artistas como a Rosália e os mais recentes lançamentos. O total são 42 faixas em um show espetacular e de grandiosidade absurda.

 

Os três shows no Brasil contarão com uma série de novidades como realidade aumentada, NFTs, benefícios exclusivos para o público e estruturas tecnológicas nunca vistas no país antes. The Weeknd proporcionou um verdadeiro espetáculo ao milhares de fãs e trouxe o poder da magia das músicas aos estádios brasileiros em shows viralizados na internet.

https://vm.tiktok.com/ZMjcwc31L/

https://vm.tiktok.com/ZMjcwWdG4/

 

Autora Rafaela Silva aponta dificuldades para a representatividade de negros na literatura
por
Raissa Santos Cerqueira
Ana Clara Farias
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09/11/2023 - 12h

“Quando há pessoas falando sobre nós, sobre nossas vivências e sobre nossos corpos podemos nos ver naquele espaço”, afirmou Rafaela Silva (24) sobre a crescente produção de obras literárias que têm enfoque na representação positiva da população negra. O crescimento de livros com protagonistas negros e o aumento da procura por eles nos mercados levou títulos como “Lendários”, de Tracy Deonn e “Agora que ele se foi”, por Elizabeth Acevedo a ganharem espaço nas estantes de leitores pelo mundo todo. A divulgação que livros com protagonismo negro receberam durante os temos de confinamento fez com que mais livros que abordam a vida de pessoas afrodescendentes se tornassem cada vez mais populares. 

Nos últimos anos, houve um crescimento exponencial na quantidade de personagens negros, tanto em obras literárias, quanto cinematográficas, os personagens vêm ganhando destaque se tornando protagonistas, ou pontos importantes da história. Ainda assim a comunidade enfrenta alguns desafios para que sejam devidamente representados “Alguns conseguimos perceber que a pessoa apenas colocou um personagem de minoria para dizer que tem” Ressalta a escritora, e completa “Ainda precisamos cobrar das pessoas escreverem sobre pessoas pretas e isso é cansativo”. 

O número de autores negros publicados no Brasil ainda é considerado baixo, se comparado com a quantidade de autores brancos. Por consequência, os personagens desses autores também são brancos, o que aponta a falta de representatividade. De acordo com os dados das maiores editoras brasileiras, segundo uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), entre 1965 e 2014, 70% dos autores são homens e, dessa porcentagem, 90% são brancos. Esse estudo revela que a escalada para uma cultura representativa de autores negros ainda é uma longa caminhada.

Rafaela, nascida em São Carlos e formada em Linguística pela Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), também ressalta que, mesmo com os pontos negativos, a inserção de pessoas negras nessas obras é algo a se comemorar, além de se esforçar para sempre ter negros em suas obras. Em todas as suas histórias publicadas na Amazon, sendo elas: “Apito final”, “Meu lugar” e “As cores do nosso amor”, Rafaela colocou personagens negros em posição de protagonismo “É a minha reparação histórica” afirmou ela. “Todas as minhas obras escritas até aqui abordam o racismo, sei que parece cansativo, mas sempre que vou escrever trago minhas vivências e isso reflete muito nas minhas obras” explicou a autora. 

Livro 1
Ilustração dos personagens de "Apito Final" por: Maria Luísa Pitombeira

Além da questão da inclusão, a literatura negra também é necessária porque ela é capaz de desbancar padrões e estereótipos relacionados à cultura e ao povo afro-brasileiro. Quando contadas por escritores negros, as histórias têm um ponto de vista próprio de pessoas que vivem diariamente essa cultura sem reforçar os padrões criados pelo ponto de vista branco e eurocêntrico.

Apesar da pouca representatividade, existem autores negros relevantes e essenciais para a história literária do Brasil. Entre eles, podemos citar Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Machado de Assis — considerado o maior escritor brasileiro —, Lima Barreto, entre muitos outros grandes nomes da literatura no país. Esses autores, que são atemporais, trazem em suas obras histórias com perspectivas únicas, contando sobre suas vivências e acontecimentos por eles presenciados.

 

Cantora e compositora nipo-americana destrincha a experiência feminina de transitar a vida nos detalhes
por
Maria Eduarda Camargo
Bianca Novais
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07/11/2023 - 12h

 

“You're growing tired of me. And all the things I don't talk about”. Montagem: Bianca Novais.
“You're growing tired of me. And all the things I don't talk about”. Montagem: Bianca Novais.

Be The Cowboy completa cinco anos de lançamento em 2023. O álbum sucessor de Puberty 2 aborda a continuação de um eu-lírico em comum – que mescla a estética ruidosa de colagens da década de 1990 e um quê do universo e da dor feminina. 

Para o álbum Puberty 2, que finaliza com a música A Burning Hill, o eu-lírico termina na promessa de um final de melancolia e tranquilidade. O instrumental, que se mistura muito com o de Memento Mori, lançado em 2013 por Crywank, utiliza de sons mais acústicos e simplórios – estética que se esvai completamente em Be The Cowboy.
 

 

Geyser, faixa inaugural, abre o álbum com sons sintéticos, mas um eu-lírico muito conectado ainda com Burning Hill. Mitski explora as nuances de um amor despedaçante, além de uma melancolia cálida, enquanto explica a promessa de um “eu” que procura por mais, conectando-se com o título do álbum, como explica em entrevista:
 

 

 

O single do álbum, Nobody, é explorado pela artista como a despersonalização de si e esse sentimento de solidão que é carregado por todo o álbum, e também por outros trabalhos da artista.
 

 

 

 

Já no título que finaliza o álbum, o piano acompanha a lentidão da artista e inicia um novo eu-lírico. Neste, Mitski explora o esvair de sua juventude e a entrada ao desconhecido, algo que retoma em seu próximo trabalho, especialmente nas primeiras faixas Valentine, Texas e Working for the Knife (2022), de Laurell Hill, em que Mitski realmente torna-se o “Caubói”.

 

“I used to think i’d be done by 20. Now at 29, the road ahead appears the same. Though maybe at 30 I’ll see a way to change”. Montagem: Bianca Novais.
“I used to think i’d be done by 20. Now at 29, the road ahead appears the same. Though maybe at 30 I’ll see a way to change”. Montagem: Bianca Novais.


 

 

 

 

 

 

Explore a extraordinária jornada do inventor do avião nesta cativante exposição
por
Giulia Palumbo
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06/11/2023 - 12h

O Museu Catavento apresenta a exposição "Santos Dumont: Entre Máquinas e Sonhos" em comemoração ao 150º aniversário do nascimento do renomado inventor do avião. A exibição vai além da aviação, explorando a vida e as conquistas de Santos Dumont em diversos aspectos, incluindo sua significativa contribuição para as ciências, especialmente engenharia, aeronáutica e física.

Dentre os destaques, os visitantes terão a oportunidade de admirar réplicas em tamanho real de duas de suas criações mais icônicas: o Demoiselle e o 14-bis, que foi o primeiro avião a voar no mundo. Além disso, um caça F5 da Aeronáutica estará em exibição. Todos os aviões foram construídos pelo Museu Aeroespacial e farão parte do acervo permanente do Catavento.

Santos Dumont, em imagem que faz parte de mostra do Museu Catavento, em SP — Foto: Divulgação
Santos Dumont, em imagem que faz parte de mostra do Museu Catavento, em SP — Foto: Divulgação

Os visitantes poderão explorar as primeiras incursões de Santos Dumont no mundo da mecânica, que incluem automóveis, motocicletas e inovações engenhosas. Através de painéis visuais interativos detalhados e dioramas, a exposição retrata o surgimento das diversas paixões de Dumont que o conduziram a se tornar um ilustre inventor, com destaque para seu tempo em Paris, na França.

A exposição é patrocinada pelo Grupo Ultra, por meio de suas empresas Ultragaz, Ultracargo e Ipiranga e da Embraer, com apoio da Força Aérea Brasileira e do Museu Aeroespacial, Museu Paulista, Instituto Cultural Santos Dumont e da Fundação Casa de Cabangu, responsável pela administração do Museu Casa Natal de Santos Dumont. Através de detalhados painéis visuais interativos e dioramas, a mostra apresenta o nascimento das muitas inquietações de Dumont que o transformaram em um grande inventor, tendo em Paris, na França, pontos marcantes. Toda a exposição explora a conexão entre o inventor do avião e a missão do Museu Catavento, de despertar o interesse pela ciência e tecnologia.
Seu ponto de partida explora os interesses iniciais de Santos Dumont pela ciência e pela mecânica, mostrando experiências realizadas na fazenda de café de sua família.A exposição busca ressaltar a conexão entre o inventor do avião e a missão do Museu Catavento, que é despertar o interesse do público pela ciência e tecnologia.
Por fim, a exposição contará com uma área dedicada a oficinas de blocos de montar, atividades pensadas para o público infantojuvenil. Haverá também quiz sobre a vida de Santos Dumont e oficina de aviões de papel, onde os visitantes poderão interagir e experimentar diferentes aspectos das técnicas de voo. Uma plataforma de lançamento estará disponível para desafiar os entusiastas do voo a testarem suas criações.

Serviço: Exposição "Santos Dumont: Entre Máquinas e Sonhos"
Preço: R$15,00
Data: 29 de setembro a 7 de abril de 2024
Horário de funcionamento: Das 9h às 17h (a bilheteria fecha às 16h)
Local: Museu Catavento, Avenida Mercúrio, Parque Dom Pedro II, s/n

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O Pixo como resposta a invisibilidade na periferia
por
José Pedro dos Santos
Renan Barcellos
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31/10/2023 - 12h

                                     

Por ser o principal centro econômico do Brasil, a cidade de São Paulo tem, aproximadamente, 12,5 milhões de habitantes. Entre eles, existem várias personalidades, cada qual com a sua opinião sobre o que ocorre na cidade. Sendo o melhor sistema governamental existente até a atualidade, a democracia tem como objetivo principal atender a vontade da maioria. No entanto, diversos temas são discutidos a anos na região, principalmente aqueles mais polêmicos, sobretudo quando envolve diferentes atores paulistanos. Eleito em 2016, o ex-prefeito João Doria, teve como uma das suas principais pautas a temática do Pixo (forma escrita pelos praticantes) nas ruas paulistanas. Filiado ao Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), com posicionamento mais atrelado as pautas conservadas de direita, o tucano foi duro no combate dessa prática.

Porém, todo esse contexto reacendeu debates sobre o pragmatismo estrutural esperado da cidade mais desenvolvida do país. Diversos questionamentos sobre esse aspecto da cidade já se tornaram patrimônio cultural, principalmente entre os mais jovens. Exemplo disso é a famosa frase do rapper Criolo. ‘’Não existe amor em SP’’, embora seja uma frase curta, exprime o sentimento de milhares de cidadãos que enxergam nesse objetivismo corporativista da metrópole, a causa da falta de afeto nas relações interpessoais do cotidiano, chegando a citar a pichação em sua letra.

O Pixo caracteriza-se como outro elemento cultural que gera polêmicos debates em São Paulo. As medidas radicais do psdbista contra a prática, geraram novos questionamentos sobre a falta de espaço cultural que propicie voz para aqueles que são jogados a margem da sociedade e que enxergam na pichação, a possibilidade de serem escutados.

               Diversas manifestações contra o radicalismo político do ex-prefeito surgiram visando questionar as medidas contra a cultura, frases como ‘’Cidade de concreto’’ ou ‘’Cidade cinza’’ passaram a ser ainda mais presentes entre os paulistanos, gerando debates entre aqueles a favor do ato e aqueles contrários, ou seja, a dualidade do Pixo.

critica as ações repressivas de João Doria

Representados pelo ex-prefeito e govenador, as classes ricas, mais influente em questões políticas devido a sua riqueza, apoiam a guerra contra os pichadores, defendendo as penas exercidas por Doria, argumentando que a pichação tira a seriedade da cidade e afirmando que o Pixo não se caracteriza como arte, ou seja, desclassificando qualquer caráter cultural.

Todavia, a pixação já apresenta longo histórico de cunho social. Inspiradas nas Runas Anglo-Saxônicas, formadoras do primeiro alfabeto europeu, o Futhorc, as primeiras manifestações de pichação, da forma como ela é conhecida no contexto contemporâneo, começaram a surgir na década de 80, com o movimento Punk Rock. Sua percepção de demarcação de um território público com escritas favoráveis as eclosões culturais que denunciavam as torturas físicas e sociais sofridas por minorias e os dilemas morais vivenciados por jovens revolucionários, compactuava com as pichações encontradas na década de 60, durante a Ditadura Militar, que, no entanto, não utilizavam as inspirações do alfabeto Futhorc.

 

                                                                                                                                                                         Alfabeto Anglo-Saxônico (Futhorc)                                                                                                                                                                                      

 

    

                           Pixo contrário a Ditadura Militar (1964-1985)

Choque, ex-pichador da década de 80, com vasto repertório na modalidade, destaca que inicialmente a pichação encontrada na cidade de São Paulo tinha cunho político, sobretudo a partir dos anos 60, com a instauração da Ditadura Militar. Frases como ‘’abaixo a Ditadura’’ não apresentavam nenhuma preocupação estética no formato das letras, o enfoque era na mensagem e não na sua grafia. Somente a partir da década de 80, com a consolidação da Contracultura no Brasil, a pichação, segundo a visão de Choque, tomou a perspectiva de utilizar a estética encontrada no logo de bandas como Iron Maiden em suas letras e o objetivo de ser um marco nos patrimônios públicos que denuncie a existência dos marginalizados para toda a sociedade. O pichador afirma que essa ressignificação, a forma na qual a simples cópia das escritas de povos bárbaro de milhares de anos atrás para os povos bárbaros de São Paulo, é um exemplo caricato de antropofagia.

Assim, a incultura encontrada na atual elite paulistana, representada pela ignorância política de João Doria, torna-se compreensiva, já que ambas são consequências sociais herdadas por seus antepassados, a classe burguesa que a décadas comanda e enriquece a custas dos mais pobres. Ou seja, o Pixo incomoda-os por questionar o seu poder e prestígio social, logo, não deve ser considerado um fator cultural, na perspectiva elitista e opressora desse grupo social.

Todo esse enredo permite concluir que a dualidade do Pixo pode ser sintetizada em um confronto entre os ricos e os pobres, mas especificamente pela opressão dos primeiros em relação aos segundos. A mesma elite que demoniza e invalida a pichação, estereotipando os praticantes como pobres, desinformados e marginais, não demonstra qualquer tipo de remorso com relação as condições insalubres encontradas nas periferias brasileiras, como os esgotos a céu aberto, a fome, a miséria, a opressão policial, a falta de educação e o tráfico. Dessa forma, todo esse contexto caótico e desumano faz com que a síndrome de invisibilidade seja presente na vida de milhões de jovens que encontram no Pixo, uma forma de serem escutados.

Djan, pichador ainda em atividade e um dos maiores nomes do Pixo paulista, enxerga a pichação como uma forma de afrontar a hipocrisia da classe burguesa. O incomodo com a situação encontrada nos patrimônios públicos pichados em lugares ricos da cidade, contra a indiferença em fatores caricatos da periferia, como a falta de saneamento básico, são fatores cruciais, no olhar de Djan, para a existência da pichação. Para seus adeptos, a intenção do Pixo é justamente chegar nos ricos e denunciar a existência dos marginalizados. Ele destaca também que a pichação é responsável por ensinar uma geração que não encontra no sistema educacional brasileiro, representado pelas escolas, o necessário para a sua sobrevivência parente uma sociedade opressiva. Djan destaca que a pichação ensina seus descendentes a sobreviverem sem dinheiro, se locomover pela cidade e saber lidar contra a repressão social simbolizada na violência policial, além de ser uma forma de expressão responsável por tirar inúmeros jovens do crime.

A hipocrisia citada por Djan é exemplificada no caso da prisão do pichador mineiro Goma, V em 2016. Ao não contribuir com as investigações policiais que caçavam o pichador Maru, Goma foi acusado por fornecer materiais para a pichação, crime ambiental e apologia ao tráfico. O pichador ao afirmar para a polícia que não obtinha informações sobre Maru foi preso por apologia, já que ele tinha uma loja que vendia material para a prática do pixo, além de vender peças de roubas que tinham folhas de maconha como estampa. Goma afirma que foi preso com pessoas que mataram, roubaram e traficavam, fazendo com que além do sentimento de injustiça, o pichador sentisse um constante medo do sistema prisional.

Goma em atividade na madrugada de Belo Horizonte

Juntamente dele, a polícia interrogou outro famoso pichador de Minas Gerais, conhecido por Sadok, preso por quatro meses junto de Goma em 2010, devido a pichação. Porém, o mesmo não estava mais na atividade do Pixo durante a segunda prisão de Goma. Sadok afirma que a polícia apresentou pichações as quais ele não conhecia e, mesmo não estando mais em atividade, o pichador foi chamado para prestar depoimento, sofrendo constantes ameaças de prisão durante esse processo.

Além de representar o caso de opressão contra a população periférica, o caso de Goma demonstra a hipocrisia que a classe política e a elite econômica cometem contra a sociedade mineira, já que uma das acusações que resultaram na prisão do pichador foi de crime ambiental, sendo que foi nesse mesmo estado em que a empresa Samarco Mineração, com aval do governo de Minas Gerais, intensificou suas atividade próximas a Barragem de Fundão, que rompeu-se no ano de 2015, resultando em danos imensuráveis para a biodiversidade local e na morte de 19 pessoas. O caso foi utilizado para defender a liberdade de Goma, que passou a ser visto como herói por parte da cultura de rua mineira, chegando a ser homenageado nas letras dos MC’s FBC, Clara Lima e Djonga, integrantes do famoso coletivo de Rap mineiro DV TRIBO.

‘’DV TRIBO, BH, 2016

Salve Goma

PJL a todos os pichadores presos injustamente’’

FBC – DVERSOS II

‘’Com dispô pra subir, depor e cuspir
Desapontando, cumprindo tratos
Se tratando em construir ou desconstruir
Fato forte a refletir é que eu rimei esses verso tudo
E o Goma ainda não tá aqui’’

Clara Lima - Diáspora

‘’157, 33
Vi vários cara assinar sem nem saber escrever
Sadok e Goma na cidade inteira
Prenderam os piores, pergunta lá pra ver
Muito cara certo entrou na vida errada
Dinheiro sujo compra roupa limpa
Essa é a prova que os opostos se atraem
Igual polícia e um preto na parede
Coisa que não entendo junto ainda’'

Djonga – O cara de Óculos pt. Bia Nogueira (Histórias da minha área)

 Pixo em solidariedade a Goma e condenação à Samarco pelo desastre de Mariana

Manifestação em defesa da liberdade de Goma, em Belo Horizonte (MG)

Após 8 meses preso, Goma teve a sua liberdade provisória liberada. Em contrapartida, foi obrigado a cumprir prisão domiciliar com o uso de uma tornozeleira que para ele significa tristeza e incapacidade, limitando várias de suas atividades, fato que o fez parar de pichar, demonstrando o uso opressivo do aparelho governamental contra a população períferica, fato que não ocorre contra as classes mais ricas. Mesmo não obtendo a liberdade total, continuando na posição de vítima perante a opressão do Estado, diferentemente do ocorrido com os responsáveis pela tragédia de Mariana, a flexibilização da pena de Goma foi resultado direto da manifestação realizada por outros pichadores, fato perfeitamente explicado na fala de uma das maiores referências do pixo no Rio de Janeiro, Naldo.

O pichador carioca afirma categoricamente que a intenção do governo é justamente deixar o povo sem informação. Porém a população periférica não é burra, ela apresenta capacidade de ver o que apresentado no jornal e interpretar os fatos. Ele acredita que o que resta para essa parte do povo é justamente protestar, demonstrar a sua indignação e sua existência atras dos muros. Segundo ele a intenção é justamente incomodar, mostrar que mesmo com todo o sistema ao seu favor a classe política não está isenta a críticas.

Recentemente, no estado de São Paulo, outra medida autoritária dos governantes contra um pichador gerou novas polêmicas no mundo do Pixo. Mauro Neri foi preso pela polícia militar, a mando de João Doria, ao retirar a camada de tinta cinza que cobria uma de suas obras. O pichador afirma que estava apenas removendo o cinza de uma obra sua que apresentava a autorização do dono do muro para ser realizada. Mesmo assim, acabou por ser preso em flagrante pela polícia. Seu caso gerou a mesma comoção que o do Goma, já que a classe artística periférica já iniciou protestos favoráveis a liberdade do pichador, utilizando do Pixo como ferramenta de manifestação. Neri ainda afirma que sua prisão, apesar de toda injustiça, apresenta um saldo positivo. Segundo ele para o vândalo ser criminalizado é positivo, já que deixa explicito toda a injustiça e desigualdade que permeia a sociedade brasileira, fazendo com que mais pessoas passem a ser adeptas do movimento.

Obra feita no contexto da prisão de Neri que questiona a perseguição de João Doria contra os pichadores

Toda essa conjuntura demonstra que a guerra contra os pichadores não se trata de uma guerra equânime entre o Estado e criminosos. Trata-se de uma perseguição específica contra a forma de manifestação dos mais pobres por parte da elite brasileira, que condena o ato, porém não procura entender tudo que ele representa. A pichação é um sintoma de um país desigual, que não pune as grandes empresas, como no caso da Samarco, mas persegue aqueles que são completamente renegados de auxílio do governo, se tornando vítimas da invisibilidade social citada por Dimenstein. O questionamento continuará existindo enquanto os governantes negligenciarem qualquer atenção aos direitos constitucionais de todo cidadão, ausentes nos lugares mais pobres, sem qualquer tipo de discriminação. Enquanto isso, o Pixo continuará sendo a síntese da vida do periférico.

 

 

 

 

 

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