Movimento apresenta mais de 1 milhão de assinaturas para a União Europeia
por
Thomas Fernandez
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22/09/2025 - 12h

 

O movimento “Stop Killing Game” criado por Ross Scott, do canal Accursed Farms, apresentou em 2025 mais de 1 milhão de assinaturas à União Europeia para exigir medidas que impeçam a remoção e desligamento de jogos digitais. A preservação é definida como um conjunto de ações voltado a manter a integridade de bens, documentos ou pessoas, tendo museus e centros históricos como instituições dedicadas a essa tarefa. 

No campo do entretenimento, os videogames se destacam como a indústria que mais cresce desde a década de 1950. Apesar do seu impacto econômico e cultural, eles recebem atenção limitada em políticas e práticas de preservação, diferente de outras formas de arte, como cinema, televisão e literatura. 

Devido a inacessibilidade de jogos comprados por consumidores, a proposta do movimento é simples, mas poderosa: proteger os consumidores e preservar os videogames, trazendo as práticas recorrentes de empresas que fecham os servidores ou retiram os jogos do mercado digital, apagando não apenas produtos, mas também capítulos de história cultural dos videogames.

Foto do criador do movimento, Stop Killing Games, Ross Scott
Ross Scott, criador do movimento Stop Killing Games.  Foto: REPRODUÇÃO/YOUTUBE Accursed Farms
 

A iniciativa se transformou em “Stop Destroying Videogames”, utilizando a Iniciativa de Cidadania Europeia, uma ferramenta disponível para cidadãos da União Europeia para levarem questões diretamente ao parlamento europeu. A petição foi registrada em junho do ano passado e começou a coletar assinaturas no dia 31 de julho de 2024. No mesmo dia, Scott, soltou um vídeo com o título "Europeans can save gaming!", que compartilha sobre como o movimento pode levar a criação de lei com um número alto de assinaturas e apoiadores. 

Ele destaca que a criação da lei não era uma certeza, entretanto, apontava que existem fatores, como: o alinhamento com outras políticas para consumidores e indefinições jurídicas nas práticas no meio dos games. Esses pontos reforçam que o sucesso está no futuro do movimento. Depois de alcançar 1 milhão de assinantes e realizar uma vistoria -  para desconsiderar menores de idade, duplicidades e pessoas fora da UE - a petição apresentou 97% de validação das assinaturas.

A preocupação é  quando um jogo é removido das lojas digitais ou tem os serviços online desligados, pois deixa de ser acessível para futuras gerações de gamers. Um dos casos mais conhecidos foi do “Project CARS 3”, lançado em 2020. O produto foi retirado de circulação para venda e fecharam os servidores, tornando-se praticamente inacessível. 

O mesmo ocorre com títulos de grandes estúdios como Ubisoft e EA, sendo uma tendência que preocupa colecionadores, consumidores e fãs. Diferente de filmes, livros e músicas, que possuem mais facilidade para sua preservação, os games dependem de vários fatores: chaves digitais, servidores e licenciamento contínuo para existir. Para isso, a preservação não exige somente de vontade cultural, mas também mudanças legais e regulatórias.

No Brasil, esse debate começou a ganhar relevância em 2024, com a aprovação do Marco Legal da Indústria de Jogos Eletrônicos (Lei nº 14.852/2024). Embora a lei tenha o intuito de incentivar o crescimento do setor no país e atrair investidores, ela também abre espaço para a reflexão sobre o ciclo de vida dos jogos e sua preservação como patrimônio cultural. A luta pela proteção e cuidados dos videogames não é apenas dos jogadores nostálgicos, mas também uma questão cultural e de direito de acesso.

O “Stop Killing Games” mostra que, diante da lógica do mercado, há fãs dispostos a lutar para que os jogos não desapareçam.Se no passado os museus se dedicaram a guardar fósseis, manuscritos e obras de arte, o futuro terá que olhar também para os consoles, cartuchos e CDs. Porque, como lembra o movimento, “ao desligar um jogo, não se mata apenas um software, se apaga uma parte da história”.

 

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Profissionais da área relatam dificuldade de valorização, ausência de políticas públicas e dependência do mercado internacional para manter a carreira
por
Fernanda Dias
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18/09/2025 - 12h

A escultura no Brasil ainda é um campo pouco explorado e com inúmeros desafios, como a falta de políticas públicas, a ausência de incentivo cultural e um universo ainda limitado de pessoas dispostas a investir em arte no país. Para manter a profissão viva, muitos artistas recorrem ao mercado internacional e às redes sociais como alternativa de divulgação.

No cenário brasileiro, a escultura não ocupa o mesmo espaço que outras linguagens artísticas, como a música ou as artes visuais mais populares. O escultor Rick Fernandes, que atua na área desde a década de 1990, observa que a profissão ainda carece de reconhecimento cultural. “O brasileiro não tem a mesma tradição que americanos e europeus em colecionar arte. Muitas vezes, as prioridades econômicas acabam afastando o público”, afirma.

Esse distanciamento é agravado pela falta de políticas voltadas à categoria. Projetos de incentivo que poderiam estimular a prática da escultura em escolas ou em comunidades raramente são aprovados. Fernandes relembra tentativas frustradas em 2015 e 2023 de levar oficinas para jovens da periferia e para pessoas com deficiência. “Os incentivos, em sua maioria, estão voltados para música e grandes eventos. Nichos como a escultura ficam esquecidos”, critica.

   Rick Fernandes produzindo sua peça - foto: https://www.rfstudiofx.com/


                    Rick Fernandes produzindo sua peça - foto: https://www.rfstudiofx.com/

No mercado, outro obstáculo é a dificuldade de concorrer com produtos industrializados ou importados. Segundo Fernandes isso faz que muitos escultores direcionem suas obras ao exterior, onde encontram colecionadores e compradores mais fiéis. O artista calcula que cerca de 80% de suas encomendas vêm de fora do Brasil. Mesmo com a popularização de novas tecnologias, como impressoras 3D, ele destaca que há demanda para trabalhos exclusivos, o que mantém a escultura tradicional relevante.

As redes sociais têm sido fundamentais para reduzir a distância entre artistas e público. Plataformas como o Instagram permitem que escultores apresentem seus portfólios, encontrem clientes e troquem experiências em comunidades digitais. “Muitos dos meus contatos surgiram através da rede. É uma vitrine essencial para quem vive da arte”, ressalta o escultor.

Além do mercado e do incentivo, a valorização da escultura ainda depende de uma mudança de percepção social sobre o trabalho manual e artístico. Para Fernandes, investir na formação desde cedo é o caminho. “Campanhas nas escolas de ensino fundamental poderiam fazer a diferença. As crianças têm fome de aprender coisas novas e a escultura poderia ser mais explorada nesse ambiente”, defende.

Apesar das dificuldades, Fernandes garante que nunca pensou em desistir, movido por “amor e diversão”. Além de manter o estúdio, ele atua como professor. Nem todos tiveram a mesma sorte. A artista Júlia Dias, por exemplo, faz esculturas desde 2006, mas até hoje não tem uma base fixa de clientes, vivendo em meio à instabilidade de demandas que atinge grande parte dos escultores.

O campo da escultura se divide em diferentes níveis de atuação. Enquanto alguns artistas trabalham com peças decorativas ou personalizadas para ocasiões como aniversários e eventos, outros produzem obras direcionadas a colecionadores e galerias. Essa variedade mostra como a atividade é ampla, mas também deixa claro que nem tudo recebe o mesmo valor: trabalhos voltados ao mercado de luxo encontram maior reconhecimento e retorno financeiro, enquanto produções mais populares ainda lutam por espaço e estabilidade.

Outro desafio está ligado ao custo e ao acesso a materiais de qualidade. Fernandes explica que utiliza plastilina para modelagem, moldes de silicone para a finalização e resina de poliestone para as peças finais, com acabamento em aerógrafo e pincel. Segundo ele, os materiais nacionais apresentam bom custo-benefício e já não ficam atrás dos importados. Ainda assim, os gastos para manter a produção podem ser elevados, principalmente para quem não conta com retorno constante do mercado.

Apesar de não existirem editais exclusivos para escultores no Brasil, a categoria pode concorrer em programas de incentivo mais amplos voltados às artes visuais e à cultura. Iniciativas como os editais da Funarte (Fundação Nacional de Artes, do governo federal), o ProAC (Programa de Ação Cultural, mantido pelo governo de São Paulo)  e leis de incentivo fiscal possibilitam que projetos de escultura recebam apoio. No entanto, a concorrência é acirrada e a escultura segue como um nicho pouco contemplado, o que reforça a sensação de invisibilidade entre os artistas da área.

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Último final de semana do evento ficou marcado por performances que misturaram passado, presente e futuro
por
Jessica Castro
Vítor Nhoatto
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16/09/2025 - 12h

A segunda edição do festival The Town se despediu de São Paulo com um resultado positivo e bastante barulho. Durante os dias 12, 13 e 14 de setembro, pisaram nos palcos do Autódromo de Interlagos nomes como Backstreet Boys, Mariah Carey, Ivete Sangalo e Katy Perry.

Realizado a cada dois anos em alternância ao irmão consolidado Rock In Rio, é organizado também pela Rock World, da família do empresário Gabriel Medina. Sua primeira realização foi em 2023, em uma aposta de tornar a cidade da música paulista, e preencher o intervalo de um ano do concorrente Lollapalooza.

Mais uma vez em setembro, grandes nomes do cenário nacional e internacional atraíram 420 mil pessoas durante cinco dias divididos em dois finais de semana. O número é menor que o da estreia, com 500 mil espectadores, mas ainda de acordo com a organizadora do evento, o impacto na cidade aumentou. Foram movimentados R$2,2 bilhões, aumento de 21% segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Após um primeiro final de semana marcado por uma apresentação imponente do rapper Travis Scott no sábado (6), único dia com ingressos esgotados, e um domingo (7) energético com o rock do Green Day, foi a vez do pop invadir a zona sul da capital. 

Os portões seguiram abrindo ao meio dia, tal qual o serviço de transporte expresso do festival. Além disso, as opções variadas de alimentação, com opções vegetarianas e veganas, banheiros bem sinalizados e muitas ativações dos patrocinadores foram pontos positivos. No entanto, a distância entre o palco secundário (The One) e o principal (Skyline), além da inclinação do terreno no último, continuaram provocando críticas.

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Segundo estudo da FGV, 177 mil litros de chope e 106 mil hambúrgueres foram consumidos nos 5 dias de evento - Foto: Live Marketing News / Reprodução

Sexta-feira (12)

Jason Derulo animou o público na noite de sexta com um espetáculo cheio de energia e coreografias impactantes. Em meio a hits como “Talk Dirty”, “Wiggle” e “Want to Want Me”, o cantor mesclou pop e R&B destacando sua potência vocal, além de entregar muito carisma e sensualidade durante a apresentação.

A noite, aquecida por Derulo, ganhou clima nostálgico com os Backstreet Boys, que transformaram o palco em uma viagem ao auge dos anos 90. Ao som de clássicos como “I Want It That Way” e “As Long As You Love Me”, a plateia virou um grande coral emocionado, enquanto as coreografias reforçavam a identidade da boyband. Três décadas depois, o grupo mostrou que ainda sabe comandar multidões com carisma e sintonia.

Com novo visual, Luísa Sonza enfrentou o frio paulista com um figurino ousado e um show cheio de atitude no Palco The One. Além dos próprios sucessos que a consagraram no pop, a cantora surpreendeu ao incluir releituras de clássicos da música brasileira, indo de “Louras Geladas”, do RPM, a uma homenagem emocionante a Rita Lee com “Amor e Sexo”. A mistura de hits atuais, performances coreografadas e referências à MPB agitou a platéia.

E completando a presença de potências nacionais, Pedro Sampaio fez uma apresentação histórica para o público e para si, alegando que gastou milhões para tudo acontecer. A banda Jota Quest acalentou corações nostálgicos, e nomes em ascensão no cenário do funk e rap como Duquesa e Keyblack agitaram a platéia. 

Sábado (13)

No sábado (13), o festival reuniu diferentes gerações da música, com encontros que alternaram festa, emoção e mais nostalgia. Ivete Sangalo levou a energia de um carnaval baiano para o The Town. Colorida, divertida e sempre próxima da multidão, fez do show uma festa ao ar livre, com direito a roda de samba e participação surpresa de ritmistas que incendiaram ainda mais a apresentação. O repertório, que atravessa gerações, transformou a noite em um daqueles encontros em que ninguém consegue ficar parado.

Mais íntimo e afetivo, Lionel Richie trouxe outro clima para a noite fria da cidade da música. Quando sentou ao piano para entoar “Hello”, parecia que o festival inteiro tinha parado para ouvi-lo. A emoção foi tanta que, dois dias depois, o cantor usou as redes sociais para agradecer pelo carinho recebido em São Paulo, declarando que ainda sentia o amor do público brasileiro.

A diva Mariah Carey apostou no glamour e em seu repertório de baladas imortais. A performance, embora marcada por certa distância, encontrou momentos de brilho quando dedicou uma música ao público brasileiro, gesto que foi recebido com emoção. Hits como “Hero” e “We Belong Together” reafirmaram o status da cantora como uma das maiores vozes do pop mundial.

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Vestindo as cores do Brasil, Mariah manteve seu estilo pleno, o que não foi positivo dessa vez - Foto: Ellen Artie

O festival também abriu espaço para outras vozes marcantes. Jessie J emocionou em um show acústico intimista, feito apesar de estar em tratamento contra um câncer de mama — e que acabou sendo o único da cantora na América do Sul após o cancelamento das demais datas na América do Norte e Europa. 

Glória Groove incendiou o público com sua potência performática e visual, enquanto Criolo trouxe poesia afiada e versos de impacto, lembrando a força política do rap. MC Livinho levou o funk a outro patamar e anunciou seu novo projeto de carreira em R&B. Péricles encerrou sua participação em clima caloroso de roda de samba, onde cada espectador parecia parte de um grande encontro entre amigos.

Domingo (14)

Com Joelma, o The Town se transformou em um baile popular de cores, brilhos e danças frenéticas. A cantora revisitou sucessos da época da banda Calypso e apresentou a força de sua carreira solo, mas também abriu espaço para artistas nortistas como Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara. 

O gesto deu visibilidade a uma cena muitas vezes esquecida nos grandes festivais e reforçou sua identidade como representante da cultura amazônica. Com plateia recheada, a artista mostrou que a demanda é alta.

No início da noite, em um horário um pouco melhor que sua última apresentação no Rock In Rio, Ludmilla mobilizou milhares de pessoas no palco secundário. Atravessando hits de sua carreira como “Favela Chegou”, “É Hoje” e sucessos do Numanice, entregou presença de palco e coreografias sensuais. A carioca também surpreendeu a todos com a aparição da cantora estadunidense Victória Monet para a parceria “Cam Girl”.

Sem atrasos, às 20:30, foi a vez então de Camila Cabello levar ao palco o último show da C,XOXO tour. A performance da cubana foi marcada pelo seu carisma e declarações em português como “eu te amo Brasil” e “tenho uma relação muito especial com o Brasil [...] me sinto meio brasileira”. Hits do início de sua carreira solo animaram, como “Bad Kind Of Butterflies” e “Never Be The Same”, além de quase todas as faixas do seu último álbum de 2024, que dá nome à turnê, como “HE KNOWS” e “I LUV IT”. 

A performance potente e animada, que mesclou reggaeton e eletrônica, ainda contou com o funk “Tubarão Te Amo” e uma versão acapella de “Ai Se Eu Te Pego” de Michel Teló. Seguindo, logo após “Señorita”, parceria com o seu ex-namorado, Shawn Mendes, ela cantou “Bam Bam”, brincando com a plateia que aquela canção era para se livrar das pessoas negativas. Vestindo uma camiseta do Brasil e com uma bandeira, encerrou o show de uma hora e meia com “Havana”.

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Com coreografia, grande estrutura metálica e vocais potentes, Camila entregou um show de diva pop - Foto: Taba Querino / Estadão

Para encerrar o festival, Katy Perry trouxe espetáculo em grande escala, mas não deixou faltar momentos de intimidade. A apresentação iniciada pontualmente às 23h15 teve direito a pirotecnias, muitos efeitos especiais e um discurso emocionante da cantora sobre a importância de trazer sua turnê para a América do Sul. 

Em meio a cenários lúdicos, trocas de figurino e um repertório recheado de hits, Katy Perry chamou o fã André Bitencourt ao palco para cantarem juntos “The One That Got Away”, o que levou o público ao delírio. O show integrou a turnê The Lifetimes World Tour, e deixou a impressão de que a artista fez questão de entregar em São Paulo um dos capítulos mais completos dessa jornada.

No último dia, outros públicos foram contemplados também, com o colombiano J Balvin, dono de hits como “Mi Gente”, e uma atmosfera poderosa com IZA de cleópatra ocupando o palco principal no início da tarde. Dennis DJ agitou com funk no palco The One e, completando a proposta do festival de dar espaço a todos os ritmos e artistas, Belo e a Orquestra Sinfônica Heliópolis marcaram presença no palco Quebrada. 

A cidade da música em solo paulista entregou o que prometia, grandes estruturas e um line up potente, mas ainda segue construindo sua identidade e se aperfeiçoando. A terceira edição já foi inclusive confirmada para 2027 pelo prefeito Ricardo Nunes e a vice-presidente da Rock World, Roberta Medina em coletiva na segunda-feira (15).

Festival reúne multidões, entrega shows históricos e consagra marco na cena musical brasileira
por
Khadijah Calil
Lais Romagnoli
Yasmin Solon
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10/09/2025 - 12h

Com mais de 100 mil pessoas por dia, o The Town estreou no último fim de semana, 6 e 7 de setembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

Travis Scott encerrou o sábado (6) no palco Skyline com um show eletrizante, enquanto Lauryn Hill emocionava fãs no palco The One ao lado dos filhos YG e Zion Marley. No domingo (7), os destaques ficaram por conta de Green Day e Iggy Pop, além de apresentações de Bad Religion, Capital Inicial e CPM 22.

O festival retoma a programação nos dias 12, 13 e 14 de setembro, com shows de Backstreet Boys, Mariah Carey, Lionel Richie e Katy Perry.

“The Flight”: o balé aéreo que surpreendeu no The Town. Foto: Khadijah Calil
“The Flight”: o balé aéreo que surpreendeu no The Town. Foto: Khadijah Calil 
Fãs aguardam o início dos shows no gramado do Autódromo de Interlagos. Foto: Khadijah Calil
Fãs aguardam o início dos shows no gramado do Autódromo de Interlagos. Foto: Khadijah Calil 
Espalhados pelo Autódromo de Interlagos, brinquedos e atrações visuais oferecem ao público momentos de lazer entre os shows. Foto: Khadijah Calil
Espalhados pelo Autódromo de Interlagos, brinquedos e atrações visuais oferecem ao público momentos de lazer entre os shows. Foto: Khadijah Calil 
Capital Inicial leva o rock nacional ao palco Factory, na abertura do segundo dia. Foto: Khadijah Calil
Palco Factory, que recebeu o Capital Inicial na abertura do segundo dia. Foto: Khadijah Calil 
Palco Skyline iluminado durante o show de encerramento do sábado (6). Foto: Lais Romagnoli
Palco Skyline iluminado durante o show de encerramento do sábado (6). Foto: Lais Romagnoli
Iluminação e cenografia transformam Interlagos durante a primeira edição do festival. Foto: Lais Romagnoli
Iluminação e cenografia transformam Interlagos durante a primeira edição do festival. Foto: Lais Romagnoli
Matuê leva o trap nacional ao palco The One no primeiro dia de festival. Foto: Yasmin Solon
Matuê leva o trap nacional ao palco The One no primeiro dia de festival. Foto: Yasmin Solon
Público lota a Cidade da Música durante o primeiro fim de semana do The Town. Foto: Yasmin Solon
Público lota a Cidade da Música durante o primeiro fim de semana do The Town. Foto: Yasmin Solon

 

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Colombiana ficou conhecida por misturar crítica social, poesia e arte
por
Khadijah Calil
Lais Romagnoli
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09/09/2025 - 12h

 

Da Colômbia para o Edifício Pina Luz, Beatriz González ganha uma homenagem em celebração aos seus mais de 60 anos de carreira. Na Pinacoteca de São Paulo, a exposição Beatriz González: a imagem em trânsito reúne mais de 100 trabalhos da artista, produzidos desde a década de 1960.

Beatriz González
Beatriz González trabalha em sua obra 'Telón de la móvil y cambiante naturaleza', de 1978. Foto: Reprodução.

Reconhecida como uma das maiores personalidades da arte latino-americana, a colombiana se destacou ao transformar peças de mobiliário em pinturas. Com a política e cultura de seu país como inspiração, Beatriz combina crítica social e poesia em suas telas, como em Yolanda nos Altares, onde representa agricultores que lutavam pela devolução de suas terras, roubadas por um grupo paramilitar. 

A artista tem sua primeira mostra individual no Brasil espalhada por sete salas da Pinacoteca. A última vez que suas obras foram expostas no Brasil foi em 1971, na 11ª Bienal de São Paulo.

Logo no início da mostra, o público se depara com um espaço dedicado à reprodução e circulação artística na mídia. Um dos trabalhos mais icônicos da artista, Decoración de interiores, marca presença na sala. Uma cortina estampada com o retrato do então presidente da época (1978-1982), Julio César Turbay, questiona o peso da hierarquia presidencial.

Obra
'A Última Mesa'. Foto: Reprodução

 

Do conflito armado colombiano até suas vivências em comunidades indígenas, González extrai registros da imprensa para suas pinceladas. Entre as obras expostas, Los Suicidas del Sisga toma forma a partir de um caso real sobre um duplo suicídio cometido por um casal, refletindo sobre os códigos que vinculam a imagem à crônica policial e sua reprodução nos meios de comunicação de massa. Mais tarde, Beatriz passa a focar na iconografia política colombiana, como a tomada do Palácio da Justiça.

No catálogo, também estão releituras de clássicos contemporâneos. Entre elas, González dá uma nova cara a Mulheres no jardim, de Claude Monet, em Sea culto, siembre árboles regale más libros.

A série Pictogramas particulares encerra a exposição. Nela, a colombiana lança luz sobre a migração forçada, desastres ambientais e a violência nos territórios rurais. A partir de placas de trânsito, a artista representa hipóteses de crise social.

Em cartaz até 1º de fevereiro de 2026, a mostra conta com curadoria de Pollyana Quintella e Natalia Gutiérrez.

Serviço:

  • Local: edifício Pina Luz
  • Data: de 30 de agosto até 1 de fevereiro de 2026
  • Endereço: Praça da Luz, 2, Bom Retiro, São Paulo — SP
  • Valor: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada). Gratuito aos sábados
  • Horário de funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 18h
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O projeto une duas culturas periféricas, contando um pouco da história dos artistas
por
Guilbert Inácio
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20/02/2025 - 12h

O EP, “Falando com as Favelas”, lançado na última segunda-feira (17), tem chamado a atenção do público corintiano. O projeto tem quatro faixas, trazendo, por meio do funk e do futebol, uma mensagem sobre superação e fomento de cultura para as periferias do mundo.

Memphis e MC Hariel, de óculos, estão centralizados. Há pessoas ao redor dos dois fazendo diferentes sinais com as mãos
Memphis Depay e MC Hariel com um grupo de pessoas em Gana / Foto: Renan Miranda

Sobre o EP

Além das faixas, o projeto tem videoclipes em que boa parte das gravações foram feitas em Gana e Vila Aurora, periferia da zona norte da capital paulista, onde Hariel nasceu e cresceu.

Na primeira faixa, “Falando com as Favelas”, Hariel fala sobre a necessidade de acesso à cultura e informação nas comunidades e a importância de ouvir e fomentar os sonhos das crianças, os quais podem auxiliá-las a seguir um rumo diferente do ambiente hostil em que vivem, fazendo um paralelo com uma parte na qual Memphis aborda seus traumas de infância. 

O jogador foi abandonado pelo pai aos quatro anos de idade, apanhava dos filhos de seu padrasto, começou a consumir e traficar drogas ainda na adolescência, mas tudo isso foi superado quando começou a jogar futebol. O holandês reforça na música que seu propósito é maior do que fama, e por isso doa sua alma para as crianças que buscam um futuro melhor.

A segunda faixa, “Peita do Coringão”, traz um outro artista, MC Marks. A música fala um pouco sobre a experiência de viver o Corinthians, trazendo o icônico "poropopó", um dos cantos da torcida alvinegra, a qual canta o jogo todo apoiando o time, além de reconhecer a raça e as origens do time no povo. "Alegria do povo, que vestiu preto e branco, foi pra rua de novo, olha o bando de louco", canta MC Marks.

MC Hariel, de óculos, está em cima de um carro com as mãos para o alto. Há uma pessoa ao seu lado segurando uma bandeira do Corinthians. Ao redor do carro, há pessoas com mascaras.
Bandeira do Corinthians estampa vários takes dos videoclipes do EP / Foto: Renan Miranda

 

A terceira faixa “Suor e Sangue” é um funk superação. O destaque fica para a frase: "quem é bom, não tem que ser bonzinho" dita ao Hariel por sua mãe, Karin Christine, a qual ele se refere na música como "a guerreira” que o guiou. Ao “Altas Horas”, o artista comentou que, quando era criança, sua mãe deixava o rádio o dia inteiro ligado, e isso o ajudou a entender melhor o mundo da música. Assim como Memphis que ascendeu pelo futebol, Hariel ascendeu pelo Funk.

O EP finaliza com a faixa “Renascer” com uma pegada sentimental e otimista. A música retoma as dificuldades de Memphis e Hariel na vida, reforçando que, mesmo que as pessoas desacreditem de seu futuro e matem sua esperança, é bom crer que o amanhecer trará algo melhor e que o sorriso das crianças curam o medo e a tristeza do passado.

Dois personagens distintos se unem no projeto, mas como eles se ligam?

Em um ambiente fechado, Memphis está sentado, abraçando uma criança. Outras crianças aparecem ao lado e ao fundo.
Memphis presente em seu projeto social com crianças ganesas / Foto: Boris Letterie

Memphis é um jogador holandês que começou sua carreira como profissional aos 17 anos, em 2011, no PSV Eindhoven (Holanda). Com a boa atuação no clube, o jogador foi convocado para a seleção holandesa para jogar a Copa do Mundo de 2014, aqui no Brasil.

Um ano depois, Memphis saiu do PSV e foi para a Inglaterra jogar no Manchester United, onde jogou por 1 ano e meio. De lá pra cá, o holandês passou por Lyon (França), Barcelona (Espanha) e Atlético de Madrid (Espanha). 

O jogador também tem um projeto social, Memphis Foundation, que apoia e fomenta o acesso à educação, esporte e cultura para 24 mil jovens cegos e surdos de Gana, país em que o holandês tem raízes familiares.

Em 2024, perto do fim de seu contrato com o time de Madrid, Memphis ficou livre para negociar com outros clubes, surgindo assim o interesse do Corinthians.

Memphis, que começou carreira musical em 2018, tem uma música chamada “2 Corinthians 5:7”. Embora a referência seja bíblica, a música inflamou a torcida corintiana que clamou pela sua vinda.
 
Pedro Silveira, diretor financeiro do timão, foi o principal responsável pela contratação do holandês. Em setembro de 2024, em busca de novos ares, Memphis desembarcou no Brasil para jogar no clube do Parque São Jorge cuja casa, Neo Química Arena, já era uma velha conhecida do holandês.

Em 2014, no terceiro jogo da Holanda na fase de grupos, contra o Chile, Memphis marcou seu primeiro gol no estádio alvinegro sem saber que, dez anos depois, esse estádio seria sua casa. O jogador, atualmente, soma oito gols e sete assistências com a camisa do Corinthians, time de coração de MC Hariel.

Hariel Denaro Ribeiro, conhecido popularmente como MC Hariel, é filho de Celso Ribeiro, membro da banda “Raíces da América”. A infância do cantor foi em um ambiente cercado pela música, mas também por drogas. Seu pai morreu por causa de dependência química. Seus tios também tinham vícios e sua mãe era alcoólatra, mas conseguiu sair do vício para cuidar do filho. Hariel contou à Marcelo Taz, em entrevista ao programa “Provoca” da TV Cultura, que sua mãe o incentivou a seguir um rumo diferente dos seus familiares.

O artista antes de fazer sucesso com o funk, em sua adolescência, chegou a trabalhar como entregador de pizza, operador de telemarketing, auxiliar de gesseiro, entre outras profissões. 

Hariel começou a carreira musical com 11 anos, mas o sucesso veio aos 15, em 2014, com a música "Passei Sorrindo". Hoje, com 16,7 milhões de seguidores no Instagram e 7,9 milhões de ouvintes mensais no Spotify, Hariel acumula hits como “Lei do Retorno”, “Maçã Verde”, "Vergonha pra Mídia" e “Ilusão Cracolândia”. Seu último projeto, foi o álbum “Funk Superação” trazendo feats de diferentes nichos da cena musical como Gilberto Gil, Kyan, IZA, Péricles e Ice Blue.

Hariel tem uma música em homenagem ao Corinthians, “Manto do Timão”, e em 2021, fez um show na live de comemoração de 111 anos do clube alvinegro. Na ocasião, o cantor evitou cantar a frase “Jack de Maçã Verde” de uma de suas músicas e tirou o símbolo da Lacoste, patrocinadora do funkeiro, do Boné, em respeito ao clube preto e branco cujo rival, Palmeiras, tem o verde como cor principal.

“Não sei quando me tornei corintiano, não sei se nasci corintiano ou se o Corinthians nasceu em mim, só sei que antes de ser corintiano eu não existia. Parabéns Corinthians, obrigado por tudo. De glórias e vitórias, 111 anos. Sempre altaneiro és do Brasil o clube mais brasileiro.” Hariel, horas antes da live, em seu Instagram.

O encontro de Memphis com Hariel se deu por meio do DJ André Nine que, ao saber do interesse do jogador de conhecer artistas brasileiros, convidou Hariel a ir a um estúdio conhecer o jogador. Hariel contou ao Serginho Groisman no programa “Altas Horas” da Globo que foi ao estúdio para conhecer um ídolo, mas encontrou um parceiro de composição. 

A sintonia de ambos foi imediata e no dia do encontro, os dois fizeram três músicas que compõem o EP. Memphis também contou no programa que já conhecia o trabalho de Hariel e que juntos, eles têm uma mensagem importante para passar ao mundo.

Memphis tem um apreço pela cultura brasileira e já visitou algumas periferias e favelas do estado de São Paulo. No “Altas Horas”, ele conta que conhece periferias na Holanda e em Gana, mas queria conhecer as do Brasil, por entender que há distinções entre as localidades. Ele complementa que foi bem recebido pelos brasileiros e que, para ele, é importante esse contato com as pessoas.
 

Memphis e outras pessoas estão em frente a um muro, no qual há uma pintura do jogador
Memphis em frente ao grafite do coletivo Raxa Kuka no bairro Jardim Sílvio Sampaio de Taboão da Serra, São Paulo / Foto: Rodrigo Coca

No EP, embora os artistas sejam de contextos históricos distintos, ambos se ligam no Brasil pelas suas raízes familiares, sociais, culturais e profissionais.

"BRASIL há noites em que derramo lágrimas porque você me permitiu ser eu mesmo sem julgamento e isso me toca profundamente, OBRIGADO. O Brasil me faz perceber que estou me curando de minhas cicatrizes profundas no momento, e essa nova jornada parece um novo começo de vida! Meu primeiro projeto musical com @mchariel é para as pessoas que precisam de cura, para as pessoas que amam música e para todos que querem se unir. Falando com as Favelas está se movendo com o espírito da luz! Estamos todos juntos nisso.” Memphis na última terça-feira (18), em seu perfil do Instagram.

 

 

 

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Confira horários, atrações, personalidades e games do festival
por
Marcelo Barbosa
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06/12/2024 - 12h

O maior evento de cultura pop da América latina está de volta e, mais uma vez, traz personalidades de destaque no mundo do entretenimento. As atrações estão para acontecer entre os dias 4 e 8 de dezembro no São Paulo Expo, Zona Sul da cidade de São Paulo. É possível acompanhar diversos palcos, com diferentes temáticas para todos os gostos.


multidão andando na CCXP de 2019/ Imagem: site CCXP
Multidão andando na edição de 2019/ Imagem: Site da CCXP

Na noite de quarta-feira (4), a abertura oficial contou com a pré-estreia de “O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim”. Já na quinta (5), o destaque fica por conta da presença de Vincent Martella, ator e dublador norte-americano famoso pelo papel em “Todo Mundo Odeia o Chris”. Outro convidado de peso é Misha Collins, conhecido por interpretar o anjo Castiel na série “Supernatural”, além de atuar como ativista e escritor.

O Palco Thunder by Claro tv+, com capacidade para 3 mil pessoas, será repleto de grandes atrações, incluindo artistas nacionais e internacionais do cinema e da televisão. Também estão programadas pré-estreias, lançamentos de trailers e rodas de conversa. Já no Palco Ultra, o foco será em debates e palestras, como a de Geoff Johns, roteirista e produtor renomado no universo dos quadrinhos e do cinema; sobretudo, da DC Comics.

Na sexta-feira (6), o evento contará com a participação de Giancarlo Esposito, ator norte-americano que deu vida ao icônico personagem Gus Fring em “Breaking Bad”. Outra atração será uma mesa com representantes da produtora Gullane, responsável por filmes como “Bicho de Sete Cabeças” e pela série “Senna”, além de novos projetos como “Motel Destino” e a animação “Arca de Noé”.

No sábado (7), os atores Matheus Nachtergaele e Selton Mello debaterão sobre a aguardada sequência de “O Auto da Compadecida”, explorando as novas aventuras dos inesquecíveis personagens João Grilo e Chicó.

Encerrando a programação no domingo (8), acontecerá a pré-estreia de “Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa”, produção da Mauricio de Sousa Produções dirigida por Fernando Fraiha. O elenco principal, incluindo Isaac Amendoim (Chico Bento) e Anna Julia Dias (Rosinha), estará presente nos debates. O filme chegará aos cinemas em 9 de janeiro.


                                                               ingressos

Os ingressos variam conforme a modalidade escolhida. A opção mais completa, por R$ 3,3 mil, inclui passeio guiado antes da abertura oficial e acesso prioritário aos quatro dias de evento. Ingressos individuais custam R$ 200, enquanto o pacote para os quatro dias sai por R$ 800. Outras opções incluem pacotes VIP, com preços entre R$ 1,8 mil e R$ 2,5 mil, que oferecem atividades exclusivas, descontos e fotos ou autógrafos de artistas convidados.


A CCXP é inspirada na Comic Con que ocorre em San Diego (California) anualmente. Ela chegou ao Brasil em 2014 trazida pelas empresas Omelete Company, Piziitoys e Chiaroscuro Studios. Desde então, ela se tornou um dos maiores festivais de cultura pop do mundo.

 

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Caracterizada como a sociedade da audição ansiosa, veja como a produção musical mudou nos últimos anos
por
Vítor Nhoatto
|
03/12/2024 - 12h

Foi-se o tempo em que 3 minutos eram pouco para uma história ser contada em forma de música. Com a chegada das redes sociais e a dinamicidade de hoje o comportamento humano mudou, e a forma como se faz uma canção também. A atenção precisa ser captada rapidamente e quanto maior for o número de plays melhor, afinal, tempo é dinheiro.

Economia da atenção

O psicólogo Herbert Simon criou o termo ‘economia da atenção' na década de 1970 para se referir a essa nova conjuntura social ocasionada pela aceleração da comunicação. Criou-se uma disputa do foco dos usuários devido a abundância de informações e distrações o tempo todo. Cada vez há mais textos, os quais se tornam menores e mais diretos. E os áudios inundam os smartphones, sendo escutados na velocidade 2 para não se perder tempo.

A atenção das pessoas é um recurso limitado como define o autor, e com um bombardeamento de dados e estímulos cada vez maior, mais difícil é fazer com que alguém pare e perceba algo de fato. No caso da música, já nos primeiros segundos o ouvinte deve ser surpreendido para não ‘pular’ a faixa, e nada mais longo que três minutos.

Considera-se com isso a audição das novas gerações como ansiosa e a indústria musical inevitavelmente teve de se adaptar, como alega Luiza Studart, responsável pela área de parcerias com as plataformas de streaming da distribuidora Believe Brasil. “Enquanto antes víamos músicas com 3 versos, ponte e refrão, hoje temos faixas que já começam no refrão buscando chamar a atenção do público”.

Faixas como ‘Bohemian Rhapsody’ do Queen e ‘Mirrors’ de Justin Timberlake, ambas com mais de 5 minutos de duração, provavelmente seriam diminuídas hoje. Além disso, seus formatos seriam diferentes para diminuir o risco de o ouvinte ficar entediado ainda no verso.

Um levantamento da revista norte-americana Billboard de 2022 constata esse movimento nas últimas décadas. O tempo médio das músicas da Hot 100 - uma das mais importantes paradas de sucesso do mundo - diminuiu de 4:10 em 2000 para 3:07 em 2022. Além disso, das dez músicas mais tocadas naquele ano, quase metade tinham menos de 3 minutos.

Para Yngryty Nascimento, estudante, produtora de conteúdo digital e streamer desde 2021, a sua relação com a música é fortemente impactada pela lógica atual. “No meu dia a dia eu não costumo ouvir músicas tão longas, tenho “mania” de pular a música e quase nunca escuto inteira porque eu enjoo facilmente”. 

Era da viralização

pessoa segurando celular com música tocando na tela
Plataformas de streaming e as redes sociais mudaram o formato de consumo musical e diminuíram as músicas - Foto: Splash / fhavlik

Não bastando esses novos padrões comportamentais, os índices de desempenho comercial e popular das músicas também mudaram. Não se contam mais apenas quantos CDs são vendidos  ou quantas reproduções um artista teve nas rádios, mas a quantidade de streams que seus trabalhos possuem nas plataformas e se esses viralizaram.

Definida como a grande repercussão de algo nas mídias digitais, é hoje o principal meio para que uma música faça sucesso. E como o desempenho comercial é uma necessidade econômica, os artistas e gravadoras precisam se adaptar. Já demos algumas sugestões na produção musical pensando em deixar a música mais "comercial", comenta Luiza Studart.

A remuneração nas plataformas se dá pelo número de ‘streams’ que uma música recebe, ou seja, quanto mais ‘plays’ maior será o retorno financeiro. Para se ter uma ideia, a remuneração varia entre U$0,003 e U$0,005 por cada reprodução no Spotify, plataforma de música online com maior número de usuários no Brasil.

Esse parâmetro é inclusive usado como estratégia pelos artistas e gravadoras. Uma música mais direta e com cerca de 2 minutos instiga o ouvinte a escutá-la novamente, desse modo, melhorando a viabilidade do trabalho e diminuindo o risco de dar prejuízo para a empresa distribuidora ou artista independente. 

Existem exceções à regra, mas essas são artistas com uma carreira já consolidada e com uma grande base de fãs como Taylor Swift ou Coldplay, garantindo um número de reproduções alto. Para a grande maioria, no entanto, principalmente para artistas em ascensão e independentes, a atenção tem que ser capturada rapidamente e o volume de produção precisa ser alto para não caírem no esquecimento.

Velocidade digital

Continuando essa aceleração digital e rompimento de barreiras espaciais e temporais, uma espécie de nova onde de redes sociais tomou forma. Nos últimos 5 anos houve um aumento expressivo de plataformas de vídeo curtos como Tik Tok e Kwai. Nelas, o principal diferencial são os chamados ‘challenges’, as famosas dancinhas. 

Diante disso, tornou-se quase indispensável para os artistas um bom desempenho nelas também, por meio de letras sob medida, 30 segundos, e batidas dançáveis. “Existe até o termo agora música para Tik Tok que são justamente músicas com refrões grudentos e menores”, comenta Yngryty Nascimento, que já foi contratada da plataforma Kwai em 2021.

O impulsionamento que uma faixa ganha ao ser usada em memes no Instagram ou Twitter é hoje comparável ao seu uso nas redes de vídeos curtos. Segundo levantamento feito pela Winnin, inteligência artificial que analisa tendências nas redes sociais, em 2020, 7 das 10 músicas mais tocadas no Spotify viralizaram antes no Tik Tok. 

Pensando nisso, plataformas de música e de vídeos inclusive adicionaram funcionalidades específicas para tal portabilidade.  O recurso ‘adicionar a app de música’ no caso do Tik Tok surgiu pela demanda de encontrar aquela faixa viral também nos aplicativos de música. Do outro lado da moeda, o compartilhamento direto do Spotify para a rede de vídeos curtos a partir de novembro deste ano foi criado.

A sociedade segue se transformando, e a música inevitavelmente irá acompanhar os novos caminhos traçados, e estas mudanças não necessariamente impactam na qualidade das músicas. Apesar disso, artistas como Beyoncé e Anitta já criticaram abertamente as limitações criativas dessa briga por atenção. 

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Premiação celebrará os maiores nomes da música em 12 de dezembro
por
Sophia Razel
Letícia Alcântara
|
02/12/2024 - 12h
Cantora Sabrina Carpenter apoiada em um carro azul cantando
Sabrina Carpenter, indicada a melhor artista feminina - Foto: Daniel DeSlover/Sipa USA)

Na segunda-feira (25/11), foram divulgados os indicados ao Billboard Music Awards 2024. A cerimônia anual, organizada pela revista americana Billboard, celebra os principais artistas do ano com base em seu desempenho nas paradas musicais. As indicações consideram lançamentos feitos no período de 28 de outubro de 2023 a 19 de outubro de 2024.

Entre os nomes de destaque, estão artistas do pop, como Taylor Swift e Sabrina Carpenter, além dos representantes do country, Morgan Wallen e Zach Bryan, que lideram as nomeações. Bryan é o mais indicado, com 18 categorias, seguido por Taylor Swift, a artista feminina mais premiada da história do evento, com 16 indicações. Morgan Wallen recebeu 13 nomeações, enquanto Sabrina Carpenter aparece com nove.

Outro destaque desta edição é a banda de rock Linkin Park. O grupo, que esse ano retornou as atividades com uma nova formação, tendo Emily Armstrong nos vocais, concorre em cinco categorias: “Duo/Banda (geral)”, “Duo/Banda (rock)”, “Artista de Rock”, “Artista de Hard Rock” e “Canção de Hard Rock”. 

Além das categorias tradicionais, o Billboard Music Awards de 2024 também reconhece a ascensão de novos gêneros. Exemplo disso são as categorias de canção K-pop e Afrobeats, que destacam artistas como JungKook (BTS) e Tyla.  

A cerimônia, apresentada pela atriz e comediante Michelle Buteau, ocorrerá no dia 12 de dezembro, às 22h, no horário de Brasília. A premiação será transmitida no Paramount+. 

Confira abaixo a lista completa dos indicados: 

Melhor artista

Zach Bryan
Sabrina Carpenter
Drake
Taylor Swift
Morgan Wallen

Melhor revelação

Benson Boone
Tommy Richman
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims

Melhor artista masculino

Zach Bryan
Luke Combs
Drake
Post Malone
Morgan Wallen

Melhor artista feminina

Sabrina Carpenter
Billie Eilish
Chappell Roan
Taylor Swift
SZA

Melhor duo/grupo

Blink-182
Coldplay
Fuerza Regida
Linkin Park
Stray Kids

Melhor artista Billboard 200

Zach Bryan
Drake
Taylor Swift
SZA
Morgan Wallen

Melhor artista Hot 100

Zach Bryan
Sabrina Carpenter
Billie Eilish
Taylor Swift
Morgan Wallen

Melhor compositor Hot 100

Amy Allen
Jack Antonoff
Zach Bryan
Kendrick Lamar
Taylor Swift

Melhor produtor Hot 100

Jack Antonoff
Zach Bryan
Daniel Nigro
Finneas O’Connell
Taylor Swift

Melhor artista de streaming

Zach Bryan
Sabrina Carpenter
Kendrick Lamar
Taylor Swift
Morgan Wallen

Melhor artista na rádio

Sabrina Carpenter
Doja Cat
Taylor Swift
SZA
Morgan Wallen

Melhor artista em vendas

Jelly Roll
Jung Kook
Shaboozey
Taylor Swift
Teddy Swims

Melhor artista Billboard Global 200

Sabrina Carpenter
Billie Eilish
Ariana Grande
Taylor Swift
The Weeknd

Melhor artista Billboard Global (EUA)

Sabrina Carpenter
Billie Eilish
Ariana Grande
Taylor Swift
The Weeknd

Melhor artista de R&B

Brent Faiyaz
Tommy Richman
SZA
Tyla
The Weeknd

Melhor artista masculino de R&B

Brent Faiyaz
Tommy Richman
The Weeknd

Melhor artista feminino de R&B

Muni Long
SZA
Tyla

Melhor turnê de R&B

Chris Brown
Bruno Mars
Usher

Melhor rapper

Drake
Future
Kendrick Lamar
Metro Boomin
Travis Scott

Melhor rapper masculino

Drake
Kendrick Lamar
Travis Scott

Melhor rapper feminina

Doja Cat
GloRilla
Nicki Minaj

Melhor turnê de rap

Nicki Minaj
Travis Scott
$uicideboy$

Melhor artista de country

Zach Bryan
Luke Combs
Post Malone
Chris Stapleton
Morgan Wallen

Melhor artista masculino de country

Zach Bryan
Luke Combs
Morgan Wallen

Melhor artista feminino de country

Beyoncé
Megan Moroney
Lainey Wilson

Melhor duo/grupo country

Zac Brown Band
The Red Clay Strays
Treaty Oak Revival

Melhor turnê de country

Zach Bryan
Kenny Chesney
Luke Combs

Melhor artista de rock

Zach Bryan
Hozier
Jelly Roll
Noah Kahan
Linkin Park

Melhor duo/grupo de rock

Good Neighbours
Linkin Park
The Red Clay Strays

Melhor artista de hard rock

Bad Omens
HARDY
Linkin Park

Melhor turnê de rock

Coldplay
The Rolling Stones
Bruce Springsteen & The E Street Band

Melhor artista latino

Bad Bunny
Fuerza Regida
Junior H
KAROL G
Peso Pluma

Melhor artista latino masculino

Bad Bunny
Junior H
Peso Pluma

Melhor artista latino feminino

KAROL G
Shakira
Kali Uchis

Melhor duo/grupo latino

Eslabon Armado
Fuerza Regida
Grupo Frontera

Melhor turnê latina

Bad Bunny
KAROL G
Luis Miguel

Melhor artista global de kpop

ENHYPEN
Jimin
Jung Kook
Stray Kids
TOMORROW X TOGETHER

Melhor turnê de kpop

ENHYPEN
SEVENTEEN
TOMORROW X TOGETHER

Melhor afrobeats

Asake
Burna Boy
Rema
Tems
Tyla

Melhor artista de música eletrônica

Beyoncé
The Chainsmokers
Charli XCX
Dua Lipa
Calvin Harris

Melhor artista cristão

Lauren Daigle
Elevation Worship
Forrest Frank
Brandon Lake
Anne Wilson

Melhor artista gospel

Kirk Franklin
Maverick City Music
Chandler Moore
Naomi Raine
CeCe Winans

Melhor álbum Billboard 200

Zach Bryan – “Zach Bryan”
Drake – “For All the Dogs”
Noah Kahan – “Stick Season”
Taylor Swift – “1989 (Taylor’s Version)”
Taylor Swift – “The Tortured Poets Department”

Melhor trilha sonora

“Hazbin Hotel: Season One”
“Trolls: Band Together”
Twisters: The Album”
“Wish”
“Wonka”

Melhor álbum de R&B

Chris Brown – “11:11”
Brent Faiyaz – “Larger Than Life”
PARTYNEXTDOOR – “PARTYNEXTDOOR 4 (P4)”
Bryson Tiller – “Bryson Tiller”
Tyla – “Tyla”

Melhor álbum de rap

21 Savage – “american dream”
Drake – “For All the Dogs”
Future & Metro Boomin – “WE DON’T TRUST YOU”
Nicki Minaj – “Pink Friday 2”
Rod Wave – “Nostalgia”

Melhor álbum country

Beyoncé – “Cowboy Carter”
Zach Bryan – “The Great American Bar Scene”
Zach Bryan – “Zach Bryan”
Chris Stapleton – “Higher”
Bailey Zimmerman – “Religiously. The Album.”

Melhor álbum de rock

Zach Bryan – “The Great American Bar Scene”
Zach Bryan – “Zach Bryan”
Hozier – “Unheard (EP)”
Noah Kahan – “Stick Season”
Dolly Parton– “Rockstar”

Melhor álbum de hard rock

Bring Me The Horizon – “POST HUMAN: NeX GEn”
Falling In Reverse – “Popular Monster”
HARDY – “Quit!!”
Pearl Jam – “Dark Matter”
Sleep Token – “Take Me Back to Eden”

Melhor álbum latino

Bad Bunny – “nadie sabe lo que va a pasar mañana”
Fuerza Regida – “Pa Las Baby’s Y Belikeada”
Grupo Frontera – “El Comienzo”
Junior H – “$AD BOYZ 4 LIFE II”
KAROL G – “MAÑANA SERÁ BONITO (BICHOTA SEASON)”

Melhor álbum de kpop

ATEEZ – “THE WORLD EP.FIN: WILL”
Jung Kook – “GOLDEN”
Stray Kids – “ROCK-STAR
Stray Kids – “Ate: Mini Album”
TOMORROW X TOGETHER – “The Name Chapter: FREEFALL”

Melhor álbum de eletrônica/dance

Charli XCX – “BRAT”
Jungle – “Volcano”
Odetari – “XXIII SORROWS”
Troye Sivan – “Something to Give Each Other”
John Summit – “Comfort in Chaos”

Melhor álbum cristão

Elevation Worship – “CAN YOU IMAGINE?”
Forrest Frank – “CHILD OF GOD”
Brandon Lake – “COAT OF MANY COLORS”
Maverick City Music, Chandler Moore & Naomi Raine – “The Maverick Way Complete: Complete Vol 02”
Katy Nichole – “Jesus Changed My Life”

Melhor álbum gospel

Kirk Franklin – “Father’s Day”
Koryn Hawthorne – “On God”
Maverick City Music, Chandler Moore & Naomi Raine – “The Maverick Way Complete: Complete Vol 02”
CeCe Winans – “More Than This”
Naomi Raine – “Cover The Earth: Live in New York”

Melhor canção Hot 100

Benson Boone – “Beautiful Things”
Jack Harlow – “Lovin on Me”
Post Malone feat. Morgan Wallen – “I Had Some Help”
Shaboozey – “A Bar Song (Tipsy)”
Teddy Swims – “Lose Control”

Melhor canção de streaming

Zach Bryan feat. Kacey Musgraves – “I Remember Everything”
Kendrick Lamar – “Not Like Us”
Post Malone feat. Morgan Wallen – “I Had Some Help”
Shaboozey – “A Bar Song (Tipsy)”
Teddy Swims – “Lose Control”

Melhor canção de rádio

Benson Boone – “Beautiful Things”
Jack Harlow – “Lovin on Me”
Tate McRae – “Greedy”
Taylor Swift – “Cruel Summer”
Teddy Swims – “Lose Control”

Canção mais vendida

Benson Boone – “Beautiful Things”
Jung Kook – “Standing Next to You”
Post Malone feat. Morgan Wallen – “I Had Some Help”
Shaboozey – “A Bar Song (Tipsy)”
Teddy Swims – “Lose Control”

Melhor colaboração

Zach Bryan feat. Kacey Musgraves – “I Remember Everything”
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar – “Like That”
Post Malone feat. Morgan Wallen – “I Had Some Help”
Taylor Swift feat. Post Malone – “Fortnight”
Morgan Wallen feat. ERNEST – “Cowgirls”

Melhor canção Billboard Global

Benson Boone – “Beautiful Things”
Sabrina Carpenter – “Espresso”
Tate McRae – “Greedy”
Taylor Swift – “Cruel Summer”
Teddy Swims – “Lose Control”

Melhor canção Billboard Global (EUA)

Benson Boone – “Beautiful Things”
Sabrina Carpenter – “Espresso”
Tate McRae – “Greedy”
Taylor Swift – “Cruel Summer”
Teddy Swims – “Lose Control”

Melhor canção R&B

4batz feat. Drake – “act ii: date @ 8 (remix)”
Muni Long – “Made for Me”
Tommy Richman – “MILLION DOLLAR BABY”
SZA – “Saturn”
Tyla – “Water”

Melhor canção de rap

Doja Cat – “Agora Hills”
Doja Cat – “Paint the Town Red”
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar – “Like That”
Jack Harlow – “Lovin on Me”
Kendrick Lamar – “Not Like Us”

Melhor canção country

Zach Bryan feat. Kacey Musgraves – “I Remember Everything”
Dasha – “Austin”
Post Malone feat. Morgan Wallen – “I Had Some Help”
Shaboozey – “A Bar Song (Tipsy)”
Morgan Wallen – “Thinkin’ Bout Me”

Melhor canção de rock

Zach Bryan – “Pink Skies”
Zach Bryan feat. Kacey Musgraves – “I Remember Everything”
Djo – “End of Beginning”
Hozier – “Too Sweet”
Noah Kahan – “Stick Season”

Melhor canção de hard rock

Falling In Reverse feat. Jelly Roll – “All My Life”
Falling In Reverse, Tech N9ne & Alex Terrible – “Ronald”
HARDY – “Psycho”
Linkin Park – “The Emptiness Machine”
Superheaven – “Youngest Daughter”

Melhor canção latina

Bad Bunny – “MONACO”
Bad Bunny & Feid – “PERRO NEGRO”
FloyyMenor & Cris MJ – “Gata Only”
KAROL G & Peso Pluma – “QLONA”
Xavi – “La Diabla”

Melhor canção de kpop

ILLIT – “Magnetic”
Jimin – “Who”
Jung Kook – “Standing Next to You”
Jung Kook feat. Jack Harlow – “3D”
LE SSERAFIM – “Perfect Night”

Melhor canção afrobeats

Adam Port & Stryv feat. Malachiii – “Move”
Tems – “Me & U”
Tyla – “Truth or Dare”
Tyla –“Water”
Tyla, Gunna & Skillibeng – “Jump”

Melhor canção dance/eletrônica

Dua Lipa – “Houdini”
Dua Lipa – “Illusion”
Kenya Grace – “Strangers”
Ariana Grande – “yes, and?”
Marshmello & Kane Brown – “Miles on It”

Melhor canção cristã

Elevation Worship feat. Brandon Lake, Chris Brown & Chandler Moore – “Praise”
Forrest Frank – “GOOD DAY”
Josiah Queen – “The Prodigal”
Seph Schlueter – “Counting My Blessings”
Tauren Wells with We The Kingdom & Davies – “Take It All Back”

Melhor canção gospel

Koryn Hawthorne “Look at God”
Maverick City Music, Chandler Moore & Naomi Raine – “God Problems”
Maverick City Music, Chandler Moore & Naomi Raine ft. Tasha Cobbs Leonard – “In the Room”
Victor Thompson X Gunna feat. Ehis ‘D’ Greatest – “THIS YEAR (Blessings)”
CeCe Winans – “That’s My King”

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A nova temporada da série explora o transtorno alimentar, a importância de ajuda médica e de parentes para o tratamento
por
Annanda Deusdará
|
29/11/2024 - 12h

“Heartstopper”, série composta por três temporadas e dirigida por Euros Lyn, é uma adaptação do livro homônimo da autora Alice Oseman. A obra retrata a vida dos adolescentes Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor), descobrindo que estão apaixonados e lidando com as dificuldades da vida escolar e amorosa, além da homofobia. Outro ponto importante é o valor da amizade, mostrando também a vida de outros personagens que rodeiam o casal.

Durante toda a trama, Charlie apresenta problemas com comida, como na segunda temporada, nos episódios quatro e cinco, em que ele pula refeições e acaba desmaiando pela fraqueza. Apesar disso, o tema só foi aprofundado agora na terceira temporada, pautando a anorexia em todos os episódios. Entre eles, destaca-se o quarto episódio que aborda a internação do personagem, sendo dividido pelo ponto de vista dele e do Nick.

Apesar da busca pelo corpo perfeito ser o principal causador da doença, existem outros fatores como a predisposição genética, depressão e síndrome do pânico. Esse é o caso de Charlie, sua anorexia tem relação com outro transtorno mental, o transtorno obsessivo compulsivo (TOC). No quarto episódio, seu terapeuta declara a seguinte frase: "comer a coisa certa, na hora certa e nas circunstâncias certas". Sua condição também desencadeou automutilação, quando as crises se intensificaram.

No primeiro episódio, a questão é introduzida quando o casal conversa e Nick fala sobre suspeitar que o seu namorado tenha anorexia, já que sua relação com a comida havia piorado, mas Charlie nega. Em seguida Nick conversa com sua tia - que é psiquiatra - sobre o problema e qual a melhor forma de ajudar o parceiro. A profissional reforça que além do apoio, ele precisaria de ajuda médica, dizendo: "Ele precisa de mais do que o namorado de 16 anos”. Enquanto isso, Charlie pesquisa a respeito dos sintomas da doença e decide procurar um médico.

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Momento em que Charlie parte para a Clínica de transtornos mentais
Foto: Reprodução/Netflix

No terceiro episódio, o personagem apresenta muita fraqueza e cansaço pela falta de alimentação. Apesar de ainda ser resistente para falar sobre a anorexia, ele decide pedir ajuda dos pais e começar o tratamento. A trama retrata nesse momento que o problema de Charlie não está ligado à pressão estética. "Ouço uma voz na minha cabeça, que não é minha e ela diz que coisas ruins vão acontecer se eu comer ou fizer algo errado", declara.

Já na metade da série, há um episódio quase que inteiramente dedicado à doença, com narração dividida entre Charlie e Nick, lembrando ao espectador que apesar da nova temporada ter um foco maior em um personagem, ela ainda é sobre o romance e o relacionamento dos dois no meio das adversidades. Em setembro, Charlie vai ao médico e encaminham ele a uma clínica de distúrbios alimentares, mas ele só poderá fazer a consulta em janeiro.

A falta de acompanhamento faz a situação piorar, ele passa a comer menos, ficar mais irritado e faltar às aulas. No mês seguinte, ele decide se internar em uma clínica psiquiátrica para transtornos mentais, onde tem terapia semanalmente e acompanhamento nutricional. A série ressalta que a melhora é gradual e não acontece de repente. “A clínica não curou magicamente meu transtorno, mas me tirou do fundo do poço", afirma Charlie.

Até o momento, apenas sua família e seu namorado sabiam da sua doença, entretanto, ele escolhe contar aos amigos. Eles decidiram fazer uma caixa com vários objetos afetivos e memoráveis sobre o personagem que mostravam o quanto se importavam, como um documentário feito por Tao (William Gao) e uma pintura feita por Elle (Yasmin Finney). A cena reforçou a importância de se ter uma rede de apoio, que auxilia o indivíduo a passar por momentos difíceis.

A mudança no semblante de Charlie conforme o tempo passa é perceptível, ele fica mais leve e mais confiante, isso é perceptível através das suas falas e postura corporal. Em janeiro, o personagem volta para a escola, na qual ele havia saído em outubro após a internação. Seis meses após os acontecimentos, ele conseguiu completar três meses sem recaídas. 

Apesar da questão estética não ser o causador da doença, ela ainda é um problema. Charlie sente vergonha do seu corpo devido às cicatrizes causadas pela automutilação e tem medo de que Nick o ache nojento, abordando também a questão da auto-aceitação.

No final da trama, ele apresenta uma melhora na relação com os pais e um amadurecimento tanto em relação ao seu transtorno, com maior controle dos pensamentos intrusivos e aceitação do seu corpo, como em seu namoro com Nick, entendendo que cultivar as amizades é fundamental para não criar uma dependência emocional. 

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Foto do casal com seus amigos em um zoológico, comemorando os 16 anos de Nick, antes do início do tratamento. Foto: Reprodução/Netflix

​​​​​​O que é anorexia e como tratar?

É um distúrbio alimentar que pode provocar problemas físicos graves, como problemas estomacais, cardíacos e desnutrição. Um dos principais causadores da doença, vêm da pressão estética e do desejo pelo emagrecimento, o que leva a pessoa a fazer exercícios exagerados e pular refeições. A doença provoca uma distorção de imagem, fazendo com que o indivíduo se enxergue com o peso maior que o real.

De acordo com Táki Cordás, coordenador do programa de transtornos alimentares do Hospital da Universidade de São Paulo (USP), atualmente 15 milhões de pessoas sofrem de algum transtorno alimentar, destes 2 milhões têm anorexia. A faixa etária mais afetada são jovens entre 14 e 17 anos, com 95% dos casos entre as mulheres. Entre os homens o espaçamento é um pouco maior, sendo de 12 a 20 anos. Segundo o portal do Dr.Drauzio Varella, em casos de desnutrição extrema o índice de mortalidade varia entre 15% e 20%.

Para o tratamento, é necessário fazer acompanhamento médico com um terapeuta e um nutricionista, para tratar as causas físicas e mentais causadas pela doença. A reintrodução alimentar deve ser feita de forma gradual para evitar complicações. Em alguns casos, é necessário que a internação hospitalar seja realizada. Não existem medicações específicas para a anorexia, entretanto podem ser ofertados remédios que tratam as causas subjacentes, como a ansiedade e a depressão.

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