Do pastelzinho com caldo de cana à hora da xepa, as feiras livres fazem parte do cotidiano paulista de domingo a domingo.
por
Manuela Dias
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29/11/2025 - 12h

Por décadas, São Paulo acorda cedo ao som de barracas sendo montadas, caminhões descarregando frutas e vendedores afinando o gogó para anunciar promoções. De norte a sul, as feiras livres desenham um dos cenários mais afetivos da vida paulistana. Não é apenas o lugar onde se compra comida fresca: é onde se conversa, se briga pelo preço, se prova um pedacinho de melancia e se encontra o vizinho que você só vê ali, entre uma dúzia de banana e um pé de alface.

Juca Alves, de 40 anos, conta que vende frutas há 28 anos na zona norte de São Paulo e brinca que o relógio dele funciona diferente. “Minha rotina é a mesma todos os dias. Meu dia começa quando a cidade ainda está dormindo. Se eu bobear, o morango acorda antes de mim”.

Nas bancas de comida, o pastel é rei. “Se não tiver barulho de óleo estalando e alguém gritando não tem graça”, afirma dona Sônia, pasteleira há 19 anos junto com o marido e filhos. “Minha família cresceu ao redor de panelas de óleo e montes de pastéis. E eu fico muito realizada com isso.  

Quando o relógio se aproxima do meio dia, começa o momento mais esperado por parte do público: a famosa xepa. É quando o preço cai e a disputa aumenta. Em uma cidade acelerada como São Paulo, a feira livre funciona como uma pausa afetiva, um lembrete de que existe vida fora do concreto. E enquanto houver paulistanos dispostos a acordar cedo por um pastel quentinho e uma conversa boa, as feiras continuarão firmes, coloridas, barulhentas e deliciosamente caóticas.

Os cartazes com preços vão mudando conforme o dia.
Os cartazes com preços vão mudando conforme o dia. Foto: Manuela Dias/AGEMT
Vermelha, doce e gigante: a melancia é o coração das bancas nas feiras paulistanas.
Vermelha, doce e gigante: a melancia é o coração das bancas nas feiras paulistanas. Foto: Manuela Dias/AGEMT
A dupla que move a feira da Zona Norte de São Paulo.
A dupla que move a feira da Zona Norte de São Paulo. Foto: Manuela Dias/AGEMT
Entre frutas e verduras um respiro delicado: o corredor das flores.
Entre frutas e verduras um respiro delicado: o corredor das flores. Foto: Manuela Dias/AGEMT

 

Apresentação exclusiva acontece no dia 7 de setembro, no Palco Mundo
por
Jalile Elias
Lais Romagnoli
Marcela Rocha
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26/11/2025 - 12h

Elton John está de volta ao Brasil em uma única apresentação que promete marcar a edição de 2026 do Rock in Rio. O festival confirmou o britânico como atração principal do dia 7 de setembro, abrindo a divulgação do line-up com um dos nomes mais celebrados da música mundial.

A presença de Elton carrega um peso especial. Em 2023, o artista anunciou que deixaria as grandes turnês para ficar mais perto da família. Por isso, sua performance no Rock in Rio será a única na América Latina, transformando o show em um momento raro para os fãs de todo o continente.

Em um vídeo publicado na terça-feira (25) nas redes sociais, Elton John revelou o motivo para ter aceitado o convite de realizar o show em solo brasileiro. “A razão é que eu não vim ao Rio na turnê ‘Farewell Yellow Brick Road’, e eu senti que decepcionei muitos dos meus fãs brasileiros. Então, eu quero compensar isso”, explicou o britânico.

No mesmo dia de festival, outro grande nome da música sobe ao Palco Mundo: Gilberto Gil. Em clima de despedida com a turnê Tempo-Rei, que termina em março de 2026, o encontro dos dois artistas lendários torna a programação do festival ainda mais especial. 

Gilberto Gil se apresentará no Palco Mundo do Rock in Rio 2026 (Foto: Reprodução / Facebook Gilberto Gil)
Gilberto Gil se apresentará no Palco Mundo do Rock in Rio 2026 (Foto: Divulgação)

Além das atrações, o Rock in Rio prepara mudanças importantes na Cidade do Rock. O Palco Mundo, símbolo do festival, será completamente revestido de painéis de LED, somando 2.400 metros quadrados de tecnologia. A ideia é ampliar a imersão visual e criar novas possibilidades para os artistas.

A próxima edição também terá uma homenagem especial à Bossa Nova e um benefício pensado diretamente para o público, em que cada visitante poderá receber até 100% do valor do ingresso de volta em bônus, podendo ser usado em hotéis, gastronomia e experiências turísticas durante a estadia na cidade.

O Rock in Rio 2026 acontece nos dias 4, 5, 6, 7 e 11, 12 e 13 de setembro, no Parque Olímpico, no Rio de Janeiro. A venda geral dos ingressos começa em 9 de dezembro, às 19h, enquanto membros do Rock in Rio Club terão acesso à pré-venda a partir do dia 4, no mesmo horário.

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A socialite continuou tendo sua moral julgada no tribunal, mesmo após ter sido assassinada pelo companheiro
por
Lais Romagnoli
Marcela Rocha
Jalile Elias
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26/11/2025 - 12h
Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz. Foto: Divulgação
Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz em nova série. Foto: Reprodução/Divulgação HBO Max

Figurinha carimbada nas colunas sociais da época, Ângela Diniz virou capa das manchetes policiais após ser morta a tiros pelo então namorado, Doca Street. O feminicídio que marcou o país na década de 1970 ganha agora um novo olhar na série da HBO Ângela Diniz: Assassinada e Condenada.

Na produção, Marjorie Estiano interpreta a protagonista, enquanto Emilio Dantas assume o papel de Doca. O elenco ainda conta com Thelmo Fernandes, Maria Volpe, Renata Gaspar, Yara de Novaes e Tóia Ferraz.

Sob direção de Andrucha Waddington, a série se inspira no podcast A Praia dos Ossos, de Branca Viana. A obra, que leva o nome da praia onde o crime ocorreu, reconstrói não apenas o caso, mas também o apagamento em torno da própria vítima. Depoimentos de amigas de Ângela, silenciadas à época, servem como ponto de partida para revelar quem ela realmente era.

Seja pela beleza ou pela independência, a mineira chamava atenção por onde passava. Já os relatos sobre Doca eram marcados pelo ciúme obsessivo do empresário. O casal passava a véspera da virada de 1977 em Búzios quando, ao tentar pôr fim à relação, Ângela foi assassinada pelo companheiro.

Por dias, o criminoso permaneceu foragido, até que sua primeira aparição foi numa entrevista à televisão; logo depois, ele se entregou à polícia. Foram necessários mais de dois anos desde o assassinato para que Doca se sentasse no banco dos réus, num julgamento que se tornaria símbolo da luta contra a violência de gênero.

Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz, , enquanto Emilio Dantas assume o papel de Doca. Foto: Divulgação
Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz, enquanto Emilio Dantas assume o papel de Doca. Foto: Reprodução/Divulgação HBO Max

As atitudes, roupas e relações de Ângela foram usadas pela defesa como supostas “provocações” que teriam motivado o crime. Foi nesse episódio que Carlos Drummond de Andrade escreveu: “Aquela moça continua sendo assassinada todos os dias e de diferentes maneiras”.

Os advogados do réu recorreram à tese da “legítima defesa da honra” — proibida somente em 2023 pelo STF — numa tentativa de inocentá-lo. O argumento foi aceito pelo júri, e Doca recebeu pena de apenas dois anos de prisão, sentença que gerou revolta e fortaleceu movimentos feministas da época.

Sob forte pressão popular, um segundo julgamento foi realizado. Nele, Doca foi condenado a 15 anos, dos quais cumpriu cerca de três em regime fechado e dois em semiaberto. Em 2020, ele morreu aos 86 anos, em decorrência de um ataque cardíaco.

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Exposição reúne obras que exploram o inconsciente e a natureza como caminhos simbólicos de cura
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KHADIJAH CALIL
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25/11/2025 - 12h

A Pinacoteca Benedicto Calixto, em Santos, apresenta de 14 de novembro a 14 de dezembro de 2025 a exposição “Bosque Mítico: Katia Canton e a Cura pela Arte”, que reúne um conjunto expressivo de pinturas, desenhos, cerâmicas, tapeçarias e azulejos da artista, sob curadoria de Carlos Zibel e Antonio Carlos Cavalcanti Filho. A Fundação que sedia a mostra está localizada no imóvel conhecido como Casarão Branco do Boqueirão em Santos, um exemplar da época áurea do café no Brasil. 

Ao revisitar o bosque dos contos de fadas como metáfora de transformação interior, Katia Canton revela o processo criativo como gesto de cura, reconstrução e transcendência.
 

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       “Casinha amarela com laranja” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.

 

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                 “Chapeuzinho triste” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                 “O estrangeiro” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.         
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                                                            “Menina e pássaro” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                                                     “Duas casinhas numa ilha” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                                                             “Os sete gatinhos” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                                                                         “Floresta” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.

 

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Festival celebra os três anos de existência com homenagem ao pensamento de Frantz Fanon e a imaginação radical da cultura periférica
por
Marcela Rocha
Jalile Elias
Isabelle Maieru
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25/11/2025 - 12h

Reconhecido como um dos principais espaços da cultura periférica em São Paulo, o Museu das Favelas completa três anos de atividades no mês de novembro. Para comemorar, a instituição elaborou uma programação especial gratuita que combina memória, arte periférica e reflexão crítica.

Segundo o governo do Estado, o Museu das Favelas já recebeu mais de 100 mil visitantes desde sua fundação em 2022. Localizado no Pátio do Colégio, a abertura da agenda de aniversário ocorre nesta terça-feira (25) com a mostra “ImaginaÇÃO Radical: 100 anos de Frantz Fanon”, dedicada ao médico e filósofo político martinicano.

Fachada do Museu das Favelas. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Fachada do Museu das Favelas. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Autor de “Os condenados da terra” e “Pele negra, máscaras brancas”, Fanon contribuiu para a análise dos efeitos psicológicos do colonialismo, considerando algumas abordagens da psiquiatria e psicologia ineficazes para o tratamento de pessoas racializadas. A exposição em sua homenagem ficará em cartaz até 24 de maio de 2026.

Ainda nos dias 25 e 26 deste mês, o festival oferecerá o ciclo “Papo Reto” com debates entre intelectuais francófonos e brasileiros, em parceria com o Instituto Francês e a Festa Literária das Periferias (Flup). A programação continua no dia 27 com a visita "Abrindo Fluxos da Imaginação Radical”. 

Em 28 de novembro, o projeto “Baile tá On!” promove uma conversa com o artista JXNV$. Já no dia 29, será inaugurada a sala expositiva “Esperançar”, que apresenta arte e tecnologia como forma de mapear territórios periféricos.

O encerramento do festival será no dia 30 de novembro com a programação “Favela é Giro”, que ocupa o Largo Pátio do Colégio com DJs e performances culturais.

 

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Confira como foi a organização e os shows do primeiro dia do festival
por
Julia Naspolini
Pedro Menezes
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04/04/2025 - 12h

 

Conhecido pelos seus grandes shows, mas também pela lama, o Lollapalooza fez jus à sua fama na sexta-feira (28). Mesmo com riscos de raios e pausas por causa do clima - o que levou a atrasos nos shows - a chuva não conseguiu tomar o posto de headliner. O público resistiu até o final da noite para prestigiar os shows de Jão, Rüfüs du Sol  e Olivia Rodrigo.

 

Olivia Rodrigo

As saias brilhantes, os sutiãs vermelhos aparecendo e até mesmo as capas de chuva roxas denunciavam que a maior parte das pessoas estavam ali para ver ela: Olivia Rodrigo. Uma plateia diversa que reuniu de pré-adolescentes até adultos com looks inspirados nos clipes da cantora. Com um outfit inédito da Roberto Cavalli — sexy, jovem e rebelde, assim como seu show —, a artista entoou seus hits para a multidão. Os fãs sabiam letra por letra, até mesmo das músicas menos famosas. Após anos de espera, ela finalmente veio ao Brasil com sua segunda turnê mundial: Guts World Tour.

Os vocais da cantora eram bons em momentos mais lentos, como em “Traitor” e “Happier”, mas, naturalmente, a americana derrapava nas músicas mais agitadas, combinadas a coreografias. Porém, isso não atrapalhou a experiência. Apesar de não ter backing vocals no palco, o público servia como um coral, cobrindo qualquer nota que saísse fora do tom. 

Ao tocar seu maior hit, “Driver 's License”, ela admitiu que a plateia do Lolla 25 era a mais alta que já presenciou em toda a carreira. E mais uma vez os brasileiros receberam o elogio de melhor público do mundo, quando o grito de “Olivia eu te amo” de milhares de vozes emocionou a americana de apenas 22 anos.

Olivia Rodrigo com uma guitarra vermelha em seu show no Lollapalooza
Olivia Rodrigo em seu momento rock do show.  Foto: Divulgação/Grupo Approach

 

 

Girl In Red

Marie Ulven Ringheim, conhecida como Girl In Red, entrou no palco com atraso devido à pausa por risco de raios na região. Mas, foi recebida por um público caloroso que não se incomodou com a chuva no início do show, que logo parou e foi substituída por um lindo arco-íris - digno do pop sáfico da cantora. 

A norueguesa arriscou um português para agradecer aos brasileiros por dançarem nas músicas animadas e cantarem toda a letra de seus hits como “I Wanna Be Your Girlfriend”. Já em inglês, ela impactou ao afirmar “God is gay”, Deus é gay, em tradução livre.  

Girl In Red com microfone se apresentando
Girl In Red e sua grande presença no palco.  Foto: Iwi Onodera/ Brazil News

 

 

Rüfüs du Sol

Após 6 anos do seu último Lolla Brasil, o trio australiano retornou ao festival como headliner do palco Samsung Galaxy. Mesmo com o line-up do dia mais voltado para música pop, Rüfüs du Sol conseguiu animar o público brasileiro com seus hits eletrônicos. Em meio a lama, os brasileiros dançaram ao som de “Music is Better” e fizeram coro com “Inner Bloom”. 

Tyrone Lindqvist, vocalista, James Hunt, baterista e Jon George, tecladista, disseram ao longo do show que estavam muito felizes de voltar ao Brasil e agradeceram ao público pela presença. 

Rufus du Sol se apresentando
Jon George no piano, Tyrone Lindqvist na guitarra e James Hunt na bateria.  Foto: Divulgação/Lollapalooza

 

 

Empire of the Sun

Empire of the Sun subiu ao palco com estrutura e roupas psicodélicas que, juntamente com as músicas, provocaram uma viagem na imaginação do duo. A audiência se animava ao identificar, nas músicas, os 15 segundos virais do TikTok, mas, eles provaram ser muito mais do que isso. “Walking on a Dream” fez todos levantarem seus celulares e cantarolar o refrão. Para além da cenografia extravagante — com robôs reflexivos dançando —, os vocais de Luke Stelle eram poderosos.

Empire of the Sun no Lolla 25
Vocalista e guitarrista, Luke Steele, durante show no Lollapalooza. Fonte:  AgNews/Van Campos.

 

 

Jão

No último show antes de um prometido hiato, Jão mostrou todo o seu potencial e colocou fogo em tudo. “Eu sou um popstar”, atestou ele. Em um repertório pensado para ser um presente aos fãs, o cantor incluiu “:( (Nota de Voz 8)”, que não cantava há cinco anos, mas retirou grandes hits que um público diversificado do festival pede, como “Vou Morrer Sozinho” ou “Pilantra”, parceria com Anitta.

 

 

Jão no Lolla 25
 Jão anima a plateia no Lolla 25.  Foto: Luiz Gabriel Franco/g1

 

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Um dos maiores sucessos do teatro musical mundial ganha nova adaptação oficial em São Paulo e atrai milhares de fãs
por
Julia Naspolini
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02/04/2025 - 12h

Na sexta-feira, 21 de março, a nova adaptação brasileira de Wicked estreou no teatro Renault em São Paulo. A peça está em cartaz pela terceira vez no Brasil, com versões em 2016 e 2023, e está sob o comando da direção de Ronny Dutra e com a liderança das atrizes Myra Ruiz e Fabi Bang. O musical já vendeu mais de 80 mil ingressos para sua temporada que vai até 8 de junho, e já é sucesso nas redes sociais.

Após, sucesso de bilheteria do filme ano passado, que ganhou até o Oscar (2025) de Melhor Designer de Produção e Melhor Figurino, o espetáculo estreia entre o sucesso do primeiro filme e a espera do segundo - já que foram divididos em ato 1, filme 1 e ato 2, filme 2. Dessa forma, a plateia mistura-se entre fãs antigos da peça, que estreou na Broadway em 2003, e fãs novos, que conheceram através do filme

A montagem conta uma história que antecede o enredo do clássico, Mágico de Oz. E se desenvolve na trama da Elphaba, a Bruxa Má do Oeste, e da Glinda, a Bruxa Boa do Norte. O musical, através de uma trilha sonora premiada, conta como elas se conheceram, e mesmo sendo completamente diferentes, criaram uma amizade verdadeira. Essa nova versão brasileira promete apresentar essa história de forma ainda mais especial para os fãs.

A produção teve 19 milhões de reais em investimento para cenário, profissionais de música, figurino, iluminação e ilusionismo para tornar o espetáculo uma experiência ainda mais imersiva para o público.

Elphaba e Glinda agradecendo o público
Elphaba, Myra Ruiz, a esquerda da foto e Glinda, Fabi Bang, a direita da foto nos agradecimentos após o espetáculo.   Foto: Reprodução/Instagram @wickedbrasil

Receber no país obra oficial desse porte, além de ser um grande presente para os fãs, é um marco para o teatro musical brasileiro e para os artistas do país. Afinal, as personagens já viraram verdadeiros clássicos. Roberto Montezuma, professor de canto e especialista em preparação vocal para teatro musical, é o preparador de Tabatha Almeida, uma das Elphabas escolhidas para compor o elenco desta versão, e conta a emoção do processo. Apesar de também ser cantor lírico, ele confessou que seu maior sonho profissional seria preparar alguém para o papel de Bruxa Má do Oeste. 

“Categorizar uma Elphaba,  gravar uma Elphaba seria talvez a coisa mais importante que eu faria na minha vida, profissionalmente falando. Em verdade, eu perdi a conta de quantas vezes eu já chorei de alegria de lembrar que a Tabatha vai fazer a Elphaba”, alegra-se Montezuma.

Tabatha é aluna de Roberto há alguns anos e eles passaram pelo processo de audição juntos. Ele conta, que sempre disse para ela que um dia faria a Elphaba, mas nem ela acreditava. Ao refletir sobre essa super produção, Roberto comenta como é uma emoção diferente assistir ao vivo essa obra e ver como o teatro emociona. “Você vê ela voando, cara, você tá enxergando um cabo ali e você acha incrível de qualquer forma, maravilhoso de qualquer forma, sabe? É inclusive muito mais impactante do que ver uma tela. Porque é real, é físico, tá ali”, diz. 

Mas, para ele, a melhor consequência de Wicked Brasil 2025, é a valorização do teatro musical no Brasil, o aumento da visibilidade e de fãs para essa área teatral. Assim, tornar uma arte acessível para todos. “Acho que isso talvez seja a maior importância que esse Wicked pode trazer, fomentar uma nova ideia de mercado, porque as pessoas vão ver que tem público. O público é só de Wicked ou o público é de teatro musical? Acho que isso talvez seja o legado mais importante da peça. É muito importante para o cenário como um todo e principalmente é muito importante para fomentar também peças menores”, ressalta Montezuma para AGEMT. 

Elphaba voando no espetáculo
Elphaba desafiando a gravidade.    Foto: Reprodução/Instagram @wickedbrasil

 

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Novo filme de Bong Joon-Ho não emplaca em bilheteria, mas apresenta crítica social necessária
por
Davi de Almeida Madi Rezende
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31/03/2025 - 12h

 

"Mickey 17”, nova produção estrelada por Robert Pattinson, estreou nos cinemas no último dia 6. Dirigida pelo sul-coreano Bong Joon-Ho, mente por trás de Parasita - vencedor do Oscar de melhor filme em 2019 - a obra aposta em um gênero e tom fora do comum na filmografia do cineasta. A produção é uma ficção científica bem-humorada, mas que carrega uma crítica social clara e direcionada ao governo dos EUA.

A história segue a rotina de Mickey Barnes (Robert Pattinson), um jovem estadunidense que na busca por dinheiro, decide se associar a uma expedição espacial em busca de um planeta substituto à Terra. Neste programa, o protagonista assume a função de um “descartável” - um funcionário selecionado especificamente para missões e experimentos nos quais a única certeza é que não retornará com vida. Sua particularidade, porém, é que Mickey pode ter seu corpo recriado artificialmente por uma máquina quantas vezes for necessário, mantendo sua memória intacta. Desta forma, o “descartável” pode ser enviado à morte inúmeras vezes, sempre retornando como se nada tivesse acontecido.

Robert Pattinson em trajes de astronauta no espaço em foto de divulgação do filme "Mickey 17"
(Robert Pattinson em cena do filme “Mickey 17” Foto: Divulgação/Warner Bros.)

 

O Filme é uma adaptação direta do romance literário "Mickey 7", de Edward Ashton, lançado em 2023, e era esperado como uma das grandes promessas da temporada. Com a direção de Bong Joon-Ho e um elenco estrelado, a obra tinha tudo para ser destaque entre os lançamentos do ano. Entretanto, a estreia de “Mickey 17” ficou bem abaixo do esperado pelo estúdio de produção. O fracasso inicial da obra pode ser entendido através da principal temática da narrativa, a sua crítica social, mas também pela forma como apresenta seu subtexto. Apesar de uma distopia aparentemente divertida, o filme tem como segunda camada uma analogia caricatural e satírica a um modelo de um governo fascista já conhecido. 

Na história, o protagonista é chefiado pelo candidato à presidência Kenneth Marshall, que lidera a exploração espacial terráquea. O governo do personagem interpretado por Mark Ruffalo é uma clara alusão ao regime ditatorial nazista, com cenas que relembram discursos eugenistas de defesa de uma suposta “raça pura”,  saudações e simbolos similares aos propagados pelo nazismo. Sua figura, propriamente dita, flerta com uma caricatura de Hitler, Trump e até mesmo Elon Musk, tanto em aparência quanto em ações, enviando a população da Terra ao espaço e espalhando um discurso de ódio à raças diferentes da sua, da mesma forma como o atual presidente dos EUA faz com os imigrantes.

Nesta analogia, Mickey representa a força de produção deste governo, a mão humana necessária para que os planos corram bem, mas que não deixa de ser descartável e facilmente substituível. Sua função está na mais baixa categoria social, e é frequentemente a razão da maioria das piadas do filme, mas também propõe uma reflexão ao espectador: quando sua vida é descartável, qual valor você tem para a sociedade? 

Mark Ruffalo e Toni Collette em sala de jantar em foto de divulgação do filme "Mickey 17"
(Mark Ruffalo e Toni Collette em cena do filme “Mickey 17” Foto: Divulgação/Warner Bros.)

 

Apesar do universo criativo adaptado pelo diretor, a crítica social retratada é exposta de forma tão óbvia que domina o filme, deixando pouco espaço para uma história que não seja essa. A obra busca colocar tanta relevância para seu segundo plano crítico que acaba não dando espaço para mais nada. Ao fim, a sensação deixada para o espectador é que a história de Mickey é um pouco rasa e tudo que o filme quer é apresentar sua crítica a todo momento, saturando sua própria ideia perto do fim.

Mesmo com pontos negativos, o saldo da obra é positivo, já que mesmo podendo ter desenvolvido com mais profundidade algumas ideias do universo distópico proposto no livro de Edward Ashton, a proposta é bem produzida. O que se segue da obra, e também o que interessa a quem assiste, é a maneira como Bong Joon-Ho espalha suas críticas e analogias de forma bem humorada na trama. O filme tem um tom diferente de Parasita, mais divertido e com uma ambientação incomum, agradando os fãs de ficção científica. Ainda assim, a obra contém momentos, por mais breves que sejam, de tensão, mostrando que o diretor sul-coreano sabe deixar o espectador “na ponta da cadeira”. 

Robert Pattinson deitado em maca de hospital usando um capacete e recebendo uma injeção em foto de divulgação do filme "Mickey 17"
(Robert Pattinson em cena do filme "Mickey 17" Foto: Divulgação/Warner Bros.)

O filme é um grande experimento do diretor em um novo gênero e tom, deixando sua criatividade correr solta com as possibilidades do Sci-Fi propostas pelo livro. As piadas e momentos de humor seguem os padrões do romance de 2023 e são bem colocados, de forma a tirar boas risadas ao mesmo tempo que propõe as reflexões críticas do roteiro. A grande caricatura do nazi-fascismo é exagerada, mas essa é a proposta, impressionar com o absurdo e talvez assim esclarecer as similaridades de alguns elementos com a realidade. O filme diverte para então chocar.

A força que a produção demonstra nas bilheterias em seu mês de estreia decepciona as previsões, mas precisa viver com essa realidade ao apresentar uma crítica tão clara ao país de seu principal público consumidor, os EUA. Apesar disso, em um mundo onde os comportamentos de governos como o de Trump se aproximam cada vez mais do absurdo, críticas claras, óbvias e caricaturais talvez sejam o meio necessário de alertar. “Mickey 17” pode ser um filme que passa batido nos olhos do povo agora, mas futuramente se espera que sua proposta seja refletida, quando a tempestade passar.

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A artista, que usa o Slam como plataforma, ganha notoriedade nas redes sociais ao abordar questões decoloniais
por
Pedro da Silva Menezes
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31/03/2025 - 12h

O Slam vai muito além de uma simples competição de poesia falada. É, na verdade, um movimento de resistência, um grito de expressão. No Brasil, esse movimento tem ganhado cada vez mais força em diversos cantos, e no ABC Paulista, Mileny Leme se tornou uma das principais vozes dessa nova geração de poetas. Ela conquistou as redes sociais e impactou escolas, tornando-se uma referência para crianças e adolescentes. Mileny conheceu o Slam em 2018, através da internet. "Na época, achava que era só um encontro de pessoas incríveis falando coisas incríveis. Depois, entendi que era uma competição com regras e circuitos, mas o mais importante sempre foi a expressão", diz Mileny.

Em 2021, ela participou do seu primeiro Slam presencial e, desde então, ampliou sua atuação na cena. Com o tempo, se tornou uma referência na sua região, especialmente ao criar o Slam ABC, um espaço de fortalecimento da poesia falada no ABC Paulista. "No começo, aqui era um lugar de frustração para mim. Eu achava que precisava ir para capital para ser alguém. Depois, percebi que meu território tem muito valor", reflete.

Mais de 100 pessoas, integrantes do Slam ABC, na Praça do Relógio, em Mauá, reunidas para recitar suas poesias.
Mais de 100 pessoas, integrantes do Slam ABC, na Praça do Relógio, em Mauá. Fonte: Divulgação/Felipe Castelani.

Sua poesia, focada em questões decoloniais, tem grande alcance nas redes sociais. Um dos poemas com grande destaque foi "Pindorama", que ultrapassou 28 milhões de visualizações no Instagram e TikTok. "Não tenho ideia de quantas pessoas viram e compartilharam esse poema. É surreal!", admite. A obra, que questiona a narrativa oficial sobre a origem do Brasil, virou material pedagógico e é utilizada em escolas, o que impacta muito positivamente o público infantil. O poema desmonta a visão tradicional da colonização com versos: "Na escola, eu aprendi que quem descobriu o Brasil foi um cara chamado Pedro Álvares Cabral [...] O Brasil não foi descoberto, foi invadido e explorado".

Além de questionar, o poema também fala sobre o apagamento das culturas indígenas e as injustiças sociais ao longo do tempo: "500 anos de Brasil, 300 de escravidão e só 125 de uma falsa abolição".

"A poesia destaca a diversidade cultural do país e critica a centralização da cultura no eixo Rio-São Paulo: o Brasil está muito longe de ser só São Paulo e Rio de Janeiro, é um país continental. Fura a bolha e olha em volta."

Milene Leme no Slam SP recitando poema
Mileny Leme recitando seu poema no Slam SP. Fonte: Divulgação/Sérgio Silva.

O impacto dessa poesia foi tão grande que a cantora infantil Alice, conhecida como "A Princesa dos Cachos", postou um vídeo recitando o poema, nada simples, palavra por palavra. "Fiquei arrepiada ao ver aquilo. Nunca imaginei que uma criança fosse se interessar e absorver dessa forma", conta Mileny. Isso gerou um grande engajamento nas redes sociais e trouxe à tona uma série de discussões sobre a arte que desmonta pensamentos tradicionais

Com sua crescente notoriedade, Mileny não só conquistou visibilidade, mas também prêmios importantes no Slam, como o título de campeã paulista. Outro título foi conquistado no festival realizado no Acre, em que recebeu o troféu das mãos de Marc Kelly Smith, o criador do movimento. "Ganhar não era meu foco principal, mas me mostrou que minha voz está sendo ouvida", diz Mileny, que agora almeja representar o Brasil internacionalmente. Para ela, é um espaço de transformação social e resgate histórico. A poeta leva sua mensagem, ao mesmo tempo em que se prepara para os desafios de uma carreira que está apenas começando.

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Lucas Mév e Jonas Tjon entrelaçam as histórias das revoluções latinoamericanas e de manifestações culturais populares
por
Amanda Tescari
Ingrid Lacerda
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27/03/2025 - 12h

Por Amanda Tescari e Ingrid Lacerda

Estreou na Matilha Cultural, na última sexta-feira (21), a exposição “Reticências", dos artistas Lucas Mév e Jonas Tjon, com produção de Jack Moraes. A mostra aborda a relação entre as revoluções da América Latina durante os séculos XVII e XX, e como elas se expressam em movimentos socioculturais como o Hip-Hop e o Punk, que funcionaram como ferramentas de enfrentamento coletivo e acolhimento diante das injustiças sociais. 


Painel “Revolução” (2024), de Lucas Mév, Jonas Tjon e Vitor Skimo/ Por: Ingrid Lacerda


Com homenagens a personalidades como Marighella, Carolina Maria de Jesus, Racionais MCs, RZO, Tina Punk e muitos outros, as paredes do centro cultural na República ilustram a “palavra” como elemento central dos movimentos políticos. 

A intersecção entre esses dois momentos na história é representada pelos artistas da zona leste de São Paulo. O legado político inspirou letristas, poetas e MC's, todos artistas da palavra, e que dela se utilizam para propor suas reflexões - assim como Mév e Tjon, que já vivenciam o hip hop e o punk e, sobretudo, o graffiti há muitos anos. 

Da ideia inicial até a inauguração foram mais de 8 meses de muito trabalho conjunto, encontros, estudos e correria, principalmente por se tratarem de artistas totalmente independentes. Sobre o processo de construção do trabalho, Mév destaca a dificuldade de conciliar o tempo e o lado financeiro, já que as horas que poderiam ser dedicadas ao sustento próprio e de suas famílias foram substituídas pelo processo criativo e as incertezas do trabalho. Tjon também aponta os desafios de ser um artista autodidata: “Ninguém fez curso nem nada, aprendeu tudo na rua, como pintar e tal, e se jogou mesmo. E pintar essas ‘paradas’, vai aprendendo mesmo no processo, né?”

Jack Moraes também descreve um pouco dos desafios do mercado da arte, “O mercado é um nicho muito fechado, e a proposta dos meninos sai de um padrão estético, acadêmico e galerista”. Ela conta que a dificuldade está em adentrar neste ramo apresentando uma proposta de projeto voltado para a cultura de rua , já que são poucas pessoas que apoiam. Apesar disso, a produtora fala também sobre a escolha de abraçar esse desafio e fazer acontecer. 

A PALAVRA COMO MUNIÇÃO 

A importância da palavra no contexto das revoluções é o cerne da exposição. A palavra opera, então, como ferramenta de conscientização e de denúncia nas sociedades, de modo que é indispensável para se pensar o contexto das revoluções. Para os artistas, são as palavras que fazem o caminho de levarem as ideias adiante, e, por esta razão, têm a capacidade de juntar pessoas em prol de um movimento social - seja no hip hop, nos grupos de resistência contra a ditadura ou ainda nas manifestações indígenas. 

Tjon  e Mév destacam ainda a particularidade de se viver numa São Paulo quando o assunto é a caligrafia urbana. A cidade apresenta uma cena diversa e cheia de referências no pixo e no graffiti, capaz de conectar a sociedade de diversas maneiras, criar novas referências para símbolos já existentes e construir a cultura underground. 

 


Abertura da exposição Reticências na Matilha Cultural/ Por: Ingrid Lacerda

 

O PROCESSO CRIATIVO 


As primeiras obras surgiram em 2023, mas a exposição foi produzida quase dois anos depois. A produção aconteceu de forma independente, na qual muitas vezes precisavam equilibrar a criação das obras com outros trabalhos para garantir o sustento dos escritores de graffiti. O quintal de Mév se transformou em ateliê, onde criatividade e determinação se uniam com o cotidiano dos artistas. 


Apesar das dificuldades, a coletividade se tornou um laço diário crucial para a construção das obras, com cada um contribuindo com sua visão e inspirações. “Entre os trampos temos que fazer da vida, o tempo que sobrava a gente tava se encontrando, pintando ou idealizando algumas coisas, falando sobre, discutindo. Estamos sempre trocando um papo.”, expõe Lucas sobre as perspectivas diárias dos artistas independentes.


Além disso, os contextos históricos e sociais foram essenciais. Após um intercâmbio no Chile, Mév e Tjon  cruzaram o caminho do outro letrista Dfes, assimilaram elementos das lutas sociais dos países do terceiro-mundo, expressando-os em suas artes. O dark lettering (inspirado pela  caligrafia gótica) e a pixação paulistana também representam formas de resistência, combinando registros que refletem a cultura de rua e as revoluções populares.


A exposição Reticências fica aberta para visitação até o dia 18 de abril, e conta com um calendário de atividades aberto para o público. 


Endereço: Rua Rêgo Freitas, 542 - República.
 

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