“Toda obra de arte precisa ser exposta, principalmente sobre um período tão sombrio da nossa história, tão triste, tão horroroso e que a gente não pode deixar de falar sobre", afirma Alberto Iszlaji Júnior, professor de história graduado pela PUC-SP durante visita à exposição “Sol Fulgurante: Arquivos de Vida e Resistência”. A parceria da Pinacoteca com o Memorial da Resistência reúne obras feitas por presos políticos durante o golpe militar que partem da Coleção Alípio Freire, doada ao Memorial em 2023, e ficará em cartaz até 18 de agosto na Pina Estação, com entrada gratuita aos sábados.
“Sempre que eu trago os alunos aqui (no Memorial), o objetivo é que eles reflitam sobre a luta pela liberdade e pelo estado democrático de direito que temos hoje”, afirma, em entrevista à AGEMT, Ronaldo Silva, professor de história e filosofia que levou seus alunos para uma visita ao local.
A exposição se divide em três partes, sendo a primeira delas um conjunto de pinturas, colagens e outros tipos de arte, produzidas em presídios da cidade de São Paulo nos anos 1970, como Carandiru, Tiradentes e o Presídio Militar Romão Gomes (Barro Branco). A segunda seção, parte de um projeto artístico realizado pelo coletivo “Mulheres Possíveis”, concluído em 2019, composto por desenhos e cartas descritivas desenvolvidas por mulheres em situação de cárcere na Penitenciária Feminina da Capital.
A última parte é destinada ao Acervo Bajubá, com arquivos que registram as memórias de resistência da comunidade LGBT+ durante o período militar. “A gente não pode esquecer que entre os anos 1960 e os anos 1970, a liberdade dos corpos era muito latente, lá fora principalmente, e essas influências entravam aqui (no Brasil) apesar da ditadura, então tinha muita resistência.”, afirma Alberto.
Muitas das obras são da autoria do jornalista Alípio Freire (In Memorian), preso político encarcerado e torturado no presídio Tiradentes, e tem destinatários identificados, pois eram enviadas como cartas para parentes, amigos e conhecidos. O jornalista, escritor e artista plástico detido pelo regime militar aos 23 anos, passou cinco anos prisioneiro devido ao seu envolvimento com a militância contra a ditadura. “O Brasil nessa época tinha uma Lei de Segurança Nacional que prendia elementos subversivos e aí a definição de elemento subversivo era qualquer coisa.” Explica Alberto à AGEMT.
“Uma pessoa que estivesse andando na rua e fizesse alguma crítica a um militar poderia ser presa como elemento subversivo, assim como algum membro da luta armada.” Adiciona o professor. Alípio e todos os presos políticos detidos pelos militares entre 64 e 85 eram considerados elementos subversivos ao regime.
“Na minha opinião, acho que a arte é uma forma de você resistir a alguma coisa, geralmente. E o estar preso naquelas condições, daquela forma é muito difícil você resistir, então encontrar na arte algum lugar pra resistência é fundamental.” Afirma Alberto.
Todas as obras expostas pela Pinacoteca foram produzidas por presos políticos encarcerados em diversos presídios de São Paulo, algumas das obras também foram produzidas por presos ainda no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). As produções se divergem entre pinturas explícitas que fazem referências claras à ditadura e pinturas mais poéticas que passam uma mensagem mais simbólica e menos explícita. “Pode ser tanto um recado que você está dando para o seu torturador mesmo que seja de forma não tão explícita assim porque você também não quer que isso seja algum tipo tipo de censura, seja atrapalhado de alguma forma; ou pode ser pura e simplesmente expressão de uma pessoa que está presa durante a ditadura”, opina o professor.
O projeto artístico desenvolvido pelo coletivo “Mulheres Possíveis” traz a discussão sobre o sistema carcerário atual brasileiro e sua relação com o passado opressor e violento dos anos de chumbo. Para Alberto: “Boa parte da situação carcerária que a gente tem hoje, falando de problemas, falando sobre crime organizado principalmente, vem da ditadura. É um resquício dela” e, acrescenta: "o que a gente vê hoje da situação carcerária, da pessoa ser presa tendo um delito pequeno e entrando no sistema carcerário, não conseguir mais deixá-lo, de alguma forma é também um resquício disso.” completa.
“O Brasil não olha para sua população carcerária de forma adequada, o Brasil teme, e parece que é um temor de discutir o assunto, é como se estivesse ‘defendendo bandido’ quando na verdade não". A área da exposição reservada à memória das resistências LGBT+ durante o período conta com revistas e jornais produzidos com foco na comunidade, usando principalmente capas do jornal “O Lampião da Esquina”, que foi o primeiro jornal de circulação nacional feito “por” e “para” homossexuais. Ele circulou entre abril de 1978 e julho de 1981 surgindo dentro do contexto de imprensa alternativa da época. Os itens foram reunidos pelo acervo Bajubá, um projeto comunitário que se dedica ao registro de memórias das comunidades LGBT+ brasileiras. Eles também reúnem uma coleção de itens que registram a diversidade sexual e a pluralidade de expressões e identidades de gênero no Brasil. O Bajubá colabora com exposições, capacitações e projetos de produção, mediação e circulação de narrativas sobre as histórias de pessoas LGBT+ no território nacional.
A Feira de Arte, Artesanato e Cultura acontece todo domingo das 09:00 às 17:00 na Avenida Paulista, em frente ao Parque Siqueira Campos, conhecido como Parque Trianon. Cerca de 126 expositores se dividem entre as Artes Plásticas, o Artesanato, a Gastronomia e a Floricultura.
Os artistas e artesãos que apresentam, vendem e produzem seus trabalhos não se limitam ao local da feira. Composições feitas de crochê, acrílico, material reciclável e muitos outros elementos podem ser encontradas ao longo da Avenida, nas calçadas e na rua, que é restrita para a circulação de automóveis aos domingos das 09:00 às 16:00.
Com acervo de 380 itens, o Instituto Moreira Salles (IMS) conta a história da comunidade de negros, ciganos e imigrantes judeus e italianos que se alojaram na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Conheça na exposição “Pequenas Áfricas: o Rio que o samba inventou" (até 21 de abril de 2024) como esse grupo foi importante para a formação da cultura, a música e a diversidade religiosa brasileira como conhecemos hoje.
“Pequenas Áfricas: o Rio que o samba inventou" celebra a criação do samba para além do significado de apenas um ritmo musical, ela resgata suas origens, significados e principais figuras. Pixinguinha, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus e Cartola e as Tias são apenas alguns dos personagens que são evidenciados na amostra. Além disso, o surgimento das escolas de samba nos subúrbios cariocas é ressignificado como uma forma de luta por direitos e cidadania.
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O drama “Domingo À Noite” narra a história do casal formado por Margot (Marieta Severo) e Antônio (Zé Carlos Machado), uma atriz renomada e um escritor famoso, portador de Alzheimer avançado. Durante a pré-estreia que aconteceu na terça-feira (26), Marieta Severo, em entrevista para a AGEMT, revelou como se encontrou dentro do papel: “Busquei enxergar o personagem, enxergar a ficção fora da minha vida”.
O longa começa quando Margot descobre que, além do marido, ela também é portadora de Alzheimer, enfrentando uma batalha contra a própria sanidade e a família. Com roteiro de Bruno Gonzalez e direção de André Bushatsky, o filme também conta com Natália Lage, Johnnas Oliva, Hugo Bonemer, Karen Coelho, Bárbara Santos e Isio Ghelman no elenco.
Por sua atuação em Domingo À Noite, Marieta recebeu o prêmio na categoria de Melhor Atriz no Madrid Film Awards, em 2023. O cineasta André Bushatsky revelou, também em entrevista, que a inspiração do longa veio do filme norte-americano ‘Álbum de Família’ (2013).
A protagonista contou sobre a experiência de encarnar a própria profissão dentro das telas, ”O fato dela [Margot] ser uma atriz, é claro que é mais próximo a mim. Mas eu tentei fazer essa mulher, esse ser humano, com todas as características dela, com todas as vivências, com todas as emoções, com coisas que são pertinentes à vida dela”.
A dualidade da personagem, segundo ela, veio de ’’construir essa Margot, essa mulher específica, [...], ela é também uma atriz, com as características dela, com os problemas dela, com o que ela está enfrentando, com a vida dela, é esse ser humano específico. E é atrás disso que eu vou”.
Aproveitando a deixa de sua resposta, Marieta, quando perguntada sobre a fusão entre si e a personagem, confessou que não tentou trazer a personagem para perto em momento algum.
“Eu não me baseei em ninguém, mas me baseei nela [Margot]. Em todos os elementos, você fica realmente ‘catando’, ‘cavucando’ como um minerador em uma gruta tentando buscar o ouro. É o que a gente fica fazendo’’, disse Marieta, sobre as inspirações para o papel, e complementou: “Buscar meu ouro em cada palavra que eu tenho ali (...) eu gosto das palavras, eu me alimento das palavras, eu vivo das palavras’’.
Marieta finalizou a entrevista afirmando que o roteiro é o seu norte, e que destrincha as palavras e seus significados no texto, com o intuito de angariar o máximo de bagagem que conseguir para, então, moldar não só esse trabalho, mas todos os outros que já fez.
Em cartaz de 23 de março a 28 de julho e com entrada gratuita, a exposição "Que País é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira" ocupa o 6° andar do Instituto Moreira Sales, localizado na Avenida Paulista. A mostra conta com alguns de seus principais longa metragens, reportagens para tevês alemãs e sua produção fotográfica. Grande parte da mostra reúne produções pouco conhecidas, seja por conta da censura, falta de financiamento ou circuito reduzido de exibição dedicado ao cinema ativista. Confira!