Uma análise sobre a passagem do físico e teórico alemão pelo Brasil e o apagamento das mulheres na ciência
por
Natália Matvyenko Maciel Almeida
Joana Grigório
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16/11/2025 - 12h

Em 1925, Albert Einstein desembarcou na américa do sul, na cidade do Rio de Janeiro, para uma sequência de palestras e nesse vídeo exploramos uma parte dos relatos escritos em seu diário e a falta de registros de pessoas racializadas e também de mulheres nas conferências.

Referências utilizadas para esse vídeo: 

1. Tolmasquim, Alfredo Tiomno. Einstein, o Viajante da Relatividade na América do Sul (2003)
Este livro oferece um olhar detalhado sobre a visita de Albert Einstein à América do Sul, incluindo sua passagem pelo Brasil. O autor explora a recepção do cientista e seu impacto no cenário científico da época.

2. Haag, Carlos. "Tropical Relativity" (2004)
Artigo publicado na revista Pesquisa FAPESP, que aborda os diários de viagem de Einstein na América do Sul, com destaque para suas observações sobre o Brasil e suas interações com a ciência local.

3. Moreira, Ildeu de Castro. Entrevista: Visita de Einstein ao Rio de Janeiro promoveu valorização da ciência pura (2025)
Entrevista com Ildeu de Castro Moreira, que discute o impacto da visita de Einstein ao Rio de Janeiro, enfatizando a valorização da ciência fundamental e os desdobramentos para a pesquisa no Brasil.

4. Fundação Oswaldo Cruz. Museu tem atrações em homenagem aos 100 anos da visita de Einstein (2025)
A Fundação Oswaldo Cruz celebra o centenário da visita de Einstein ao Brasil com exposições e atividades que relembram a importância histórica dessa passagem do cientista.

5. Observatório Nacional. 100 Anos de Einstein no Brasil (2025)
O Observatório Nacional comemora o centenário da visita de Einstein ao Brasil com uma série de palestras e reflexões sobre o impacto de sua passagem no campo científico brasileiro.

6. Rosenkranz, Ze'ev (org.). The Travel Diaries of Albert Einstein (2018)
Esta coletânea organiza os diários de viagem de Einstein, incluindo suas observações sobre diferentes regiões do mundo, com destaque para seus comentários sobre a América do Sul, e apresenta uma análise crítica sobre seus pontos de vista racializados.

7. Artigos de divulgação histórica sobre os diários de Einstein e racismo
Diversas publicações, como matérias da History.com e do The Guardian, discutem as anotações de Einstein sobre suas viagens à Ásia e outros lugares, destacando seus comentários sobre raça e cultura.

Nota de Checagem de Fatos
As informações sobre a visita de Einstein ao Brasil e seu impacto no país, incluindo o papel de Carlos Chagas e a análise dos diários de viagem, foram baseadas em fontes como Fiocruz, Observatório Nacional, e pesquisas de Ildeu de Castro Moreira. As reflexões sobre os comentários racializados de Einstein seguem a análise crítica adotada por estudiosos como Tolmasquim, Haag e Rosenkranz.

Releitura transmídia da estadia do físico no Rio de Janeiro em 1925
por |
03/11/2025 - 12h

Em maio de 1925, Albert Einstein visitou o Rio de Janeiro por uma semana hospedando-se no Hotel Glória, quarto 400. Apesar da recepção calorosa como celebridade, sua passagem foi um desastre cômico. A comitiva que o cercava não tinha um único físico ou matemático - apenas médicos, advogados, políticos e militares da elite social brasileira. No Clube de Engenharia, falou para uma plateia lotada que não entendia alemão nem suas ideias, em uma sala barulhenta e sem acústica. Na Academia de Ciências, teve que ouvir três discursos vazios em francês mal falado, incluindo um sobre "a influência da Relatividade na Biologia". O ápice foi quando o jurista Pontes de Miranda tentou desafiá-lo em alemão com considerações sobre metafísica e direito. Einstein levou de presente um papagaio que repetia "Data venia, Herr Einstein", lembrando-o sempre, com humor, da "ciência" dos doutores brasileiros.

“Einstein: visualize o impossível” é um projeto dos estudantes do quarto semestre de jornalismo da PUC-SP, da disciplina de jornalismo transmídia. O projeto aborda, de diferentes maneiras, uma releitura da icônica visita do físico ao Brasil em 1925. Todos os relatos estão em um site especial. Além de produções visuais e sonoras, o especial propõe uma narrativa em quadrinhos que conecta ciência, história e imaginação, tendo como cenário o Observatório Nacional (espaço que recebeu Albert Einstein). 

A produção contou com a colaboração de Bruno Matos, vice-diretor da Escola Estadual Professor Walter Ribas de Andrade. Já o vídeo “Os impactos de Albert Einstein na educação brasileira explicado por doguinhos” apresenta as contribuições das teorias do cientista para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a partir da entrevista com o professor de física Dediel Oliveira.  

Em “Diário do Einstein”, o leitor encontra coletânea de depoimentos em formato de diário sobre a passagem de Albert Einstein pelo Rio de Janeiro no ano de 1925, comentando ao longo de cada dia, pontos turísticos e palestras presenciadas por ele. No podcast "A carta que revolucionou a corrida armamentista", discute carta assinada pelo físico Albert Einstein em agosto de 1939, que alertava o presidente dos EUA, Franklin D.Roosevelt, sobre o potencial da Alemanha nazista em desenvolver uma bomba atômica.

O vídeo vertical “Einstein no Brasil” narra o encontro do físico com Carlos Chagas, marcando um momento científico crucial. A produção destaca a troca intelectual entre os dois grandes nomes da época. Por fim, é possível compreender uma sutil crítica sobre a omissão de um encontro com cientistas mulheres consagradas, como Bertha Lutz. Em “Einstein: uma análise de sua trajetória política”, as cartas de Einstein e seus discursos que expressavam preocupação com a violência e os conflitos no Oriente Médio são revisitadas. Nas declarações, o físico defende uma convivência justa entre judeus e árabes, e o projeto analisa como suas palavras ecoam no contexto atual da guerra entre Israel e Palestina, mostrando que o tempo passa, mas as perguntas sobre humanidade e coexistência continuam urgentes. 

Finalmente, o livro "Os Sonhos de Einstein", de Alan Lightman, pela Cia das Letras, apresenta uma série de sonhos imaginários que o jovem Albert Einstein teria tido enquanto desenvolvia a Teoria da Relatividade, em 1905. Em cada um deles, o tempo funciona de um jeito diferente, às vezes para, volta ou corre mais rápido e essas variações servem para refletir sobre a vida, as lembranças e as escolhas humanas. "Neste mundo, a textura do tempo parece ser pegajosa. Porções de cidades aderem a algum momento na história e não se soltam. Do mesmo modo, algumas pessoas ficam presas em algum ponto de suas vidas e não se libertam".
 

O uso excessivo do celular está moldando comportamentos e lucros empresariais das Big Techs
por
Julia Cesar Rangel
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27/10/2025 - 12h

Por Julia Cesar

 

O som começa suave, quase hipnótico. A vinheta colorida anuncia: “Cocomelon!”. Em segundos, os olhos se fixam na tela, o corpo se acalma e o mundo ao redor desaparece. Por trás dessa inocente animação infantil, há uma equipe bilionária que lucra com cada clique, cada minuto de atenção e cada vídeo que não para de rodar.

Nos últimos anos, o uso excessivo do celular tem preocupado especialistas, pais e educadores. Plataformas e canais, especialmente os voltados para o público infantil, estão sendo desenhados para capturar e reter o olhar humano o máximo possível. No caso das crianças, os efeitos são ainda mais intensos, já que seus cérebros ainda não estão totalmente formados para compreender o que é viciante e prejudicial.

A mãe Bianca Rangel, por exemplo, percebeu esse impacto em casa. O pequeno Gael, de 3 anos, começou a reconhecer a música do Cocomelon apenas pelo primeiro segundo de som. Ele largava qualquer brinquedo para correr até o celular. No início, Bianca achava a cena fofa, mas com o tempo notou que o filho ficava irritado e chateado quando o aparelho era desligado.

Preocupada, ela tentou limitar o tempo de tela, mas enfrentou forte resistência. Foi então que decidiu buscar orientação profissional e entendeu que substituir o tempo de tela por atividades com “dopamina boa” não era apenas uma escolha, e sim uma necessidade.

De acordo com a psicóloga Mayara Contim, formada pela USP e atualmente atuando na escola St. Nicholas, esse tipo de comportamento é resultado de mecanismos psicológicos cuidadosamente estudados pelas plataformas. Ela explica que não se trata apenas do Cocomelon: hoje, vídeos são planejados para ativar o sistema de recompensa do cérebro. As músicas, as cores e o ritmo acelerado são pensados para liberar dopamina, o hormônio ligado ao prazer imediato. Isso cria um ciclo de dependência semelhante ao que ocorre com jogos e redes sociais entre adultos e adolescentes.

A psicóloga ressalta que o problema não está apenas nas crianças. Segundo ela, os adultos também são vítimas desse design, já que as redes sociais funcionam com a mesma lógica de manter o usuário rolando infinitamente. No entanto, o impacto é mais grave nas crianças, pois seus cérebros ainda estão em desenvolvimento.

Um estudo recente da Common Sense Media apontou que, em média, crianças de até cinco anos passam quase três horas por dia em frente a telas. O dado assusta, mas reflete uma realidade cotidiana: celulares se tornaram babás digitais, distrações práticas para pais cansados e ferramentas de lucro para empresas que vendem publicidade a cada visualização.

Bianca admite que o uso do celular facilitava sua rotina. Enquanto o filho assistia aos vídeos, ela conseguia trabalhar ou realizar tarefas domésticas. Com o tempo, porém, percebeu que estava trocando momentos de qualidade com o filho por alguns minutos de silêncio.

Para Mayara Contim, o primeiro passo é não culpar os pais, e sim compreender o contexto. Ela destaca que vivemos em um mundo hiperconectado e que o caminho está na consciência e nos limites. O ideal, segundo a psicóloga, é que os pais assistam junto com as crianças, conversem sobre o conteúdo e ofereçam outras formas de estímulo — como brincadeiras, leitura e contato com a natureza.

Enquanto isso, a indústria continua explorando cada segundo de atenção possível. Canais como Cocomelon acumulam bilhões de visualizações e lucros altíssimos com publicidade, licenciamento e produtos derivados. O looping digital virou negócio, e nós, espectadores, nos tornamos o produto.

Mayara resume a lógica de forma direta: a atenção é a nova moeda. E, no fim, essa frase ecoa como um alerta — quanto mais tempo passamos presos às telas, mais alguém, do outro lado, está lucrando com isso.

O Brasil é pioneiro na criação de um medicamento que regenere a medula óssea de pacientes
por
manuela schenk scussiato
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03/11/2025 - 12h

Por Manuela Schenk

 

Não fora uma sexta-feira qualquer para Júlia. A caminho do ponto de ônibus para voltar para sua casa após um dia de aula na faculdade um motorista embriagado atropelou-a e fugiu sem prestar socorro que mudou sua vida para sempre quando tinha apenas 19 anos. Júlia teve lesões nas vértebras T8, T9 e T10 que a deixaram paraplégica depois de cinco dias em coma quando recebeu a notícia de que jamais andaria novamente.

Hoje Júlia tem 22 anos e teve que reaprender a viver. Coisas que jamais imaginou ter dificuldades agora são grandes conquistas, como quando conseguiu tomar banho sozinha pela primeira vez ou quando pode se deitar na própria cama sem auxílio. Escadas se tornaram rampas, seu restaurante favorito virou delivery, já que não possui acessibilidade para que ela consiga entrar na cadeira de rodas. As festas que frequentava semanalmente agora são eventos anuais, pois a locomoção dentro de uma balada é quase impossível para alguém que não consegue usar as próprias pernas.

No início se adaptar parecia impossível, noites mal dormidas quando chorava no travesseiro até seus olhos cederem. Depois de receber alta do hospital ela foi encaminhada para terapia, consultas três vezes por semana que depois de dois anos se tornaram duas. A fisioterapia que antes era uma tortura aos poucos se tornou um momento divertido.

Nos anos que se passaram Júlia conheceu mais pessoas na mesma situação que ela e de pouco a pouco sua nova vida se tornou mais tolerável, mas mesmo depois de quase 4 anos do acidente ela ainda tem dias ruins, sua autoestima nunca mais foi a mesma já que por muito tempo não conseguia se arrumar como antes. Júlia conta que o momento mais difícil da vida dela foi descobrir que seu caso não tinha cura. Sem possibilidade de tratamento ou cirurgia, uma menina que antes era ativa, amava se exercitar, sair com suas amigas, passear com sua cachorrinha, agora se vê forçada a reaprender a viver.   

É possível perceber as dificuldades que marcam a vida das pessoas que são afetadas pela paraplegia. Infelizmente muitos casos não são reversíveis, mas graças a estudos de um grupo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o mundo pode estar mais próximo de encontrar uma cura para uma deficiência que interrompe a vida de tantas pessoas.

A pesquisa, desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, representa um marco para a medicina brasileira. O medicamento experimental chamado Polilaminina foi criado a partir de uma proteína natural da placenta humana, capaz de estimular a regeneração das células nervosas. Em estudos com animais, especialmente cães que haviam perdido os movimentos, o tratamento apresentou resultados impressionantes: alguns conseguiram voltar a andar mesmo após anos de paralisia. Esse avanço chamou a atenção da comunidade científica internacional e fez com que o Ministério da Saúde e a Anvisa classificassem o estudo como de prioridade absoluta no País.

A equipe liderada por Tatiana Sampaio começou o estudo da eficiência polilaminina para promover a regeneração de fibras nervosas/axônios e reconectar áreas lesadas da medula espinhal começou em 2007, embasado em outro estudo da faculdade que iniciou em 1998. São quase três décadas de trabalho árduo que trouxeram a equipe ao sucesso que é exposto para o mundo hoje, com seis dos oito pacientes humanos recuperando, parcial ou completamente, os movimentos que lhes foram tomados. 

Além dos testes clínicos em andamento, o projeto da UFRJ tem recebido apoio de instituições públicas e privadas, como o Laboratório Cristália, que colabora na etapa de desenvolvimento farmacêutico e produção em larga escala da substância. O próximo passo dos pesquisadores é a realização de estudos em uma quantidade maior de voluntários, o que permitirá avaliar com mais precisão a segurança e a eficácia do medicamento. Caso os resultados se confirmem, o Brasil poderá ser o primeiro país a oferecer um tratamento realmente regenerativo para lesões medulares, uma conquista inédita na história da ciência.

Para Júlia e milhares de pessoas que convivem com a paraplegia, essa descoberta reacende uma esperança que parecia perdida. Mesmo que o caminho até a cura ainda seja longo, cada passo da pesquisa representa uma vitória contra a limitação imposta pela lesão medular. A história de Júlia mostra a força de quem se reinventa diante da adversidade. O que a ciência da UFRJ faz agora é provar que o impossível pode estar mais perto do que se imagina. Aquilo que antes era apenas sonho, agora começa a ganhar forma nas mãos de pesquisadores brasileiros dedicados a devolver o movimento e com ele a liberdade a tantas vidas interrompidas.

Especialista alerta para riscos do uso acrítico de plataformas de IA na educação
por
Thomas Fernandez
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04/10/2025 - 12h

A inteligência artificial (IA) ganhou rapidamente espaço em diferentes setores da sociedade, e a educação não ficou de fora dessa tendência. Plataformas capazes de corrigir redações, recomendar atividades personalizadas e até mesmo substituir parte das tarefas do professor estão em alta.

A promessa, vendida por empresas de tecnologia e gestores entusiasmados, é de que a IA pode democratizar o ensino, personalizar a aprendizagem e aliviar a carga de trabalho docente. Não por acaso, de acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC), sete em cada dez estudantes do Ensino Médio já utilizam ferramentas de IA generativa em trabalhos escolares, mas apenas 32% afirmam ter recebido orientação na escola sobre como usar esses recursos de forma pedagógica. 

Há quem veja nesse movimento um risco de precarização do trabalho dos professores, transformando a inovação em mais uma engrenagem de uma lógica de cortes de custos e desvalorização profissional. Afinal, a inteligência artificial na educação é realmente uma aliada do professor ou pode acabar sendo um instrumento de substituição e perda de direitos? 

Em entrevista à AGEMT, Pedro Maia, cientista de dados e pesquisador em ética e tecnologia, alerta para o risco de que a IA seja utilizada como justificativa para reduzir a presença e a importância dos professores. Para ele, é preciso estar atento à lógica de mercado que move grande parte das inovações tecnológicas aplicadas à educação: “O risco é que as escolas passem a enxergar a inteligência artificial não como apoio, mas como substituição. Se uma plataforma consegue corrigir automaticamente atividades e sugerir trilhas de estudo, a tentação de reduzir o quadro docente e cortar custos é enorme”, explica. 

Segundo Maia, isso poderia levar a uma precarização ainda maior do trabalho docente, em um cenário no qual professores já enfrentam baixos salários, excesso de carga horária e falta de condições adequadas de trabalho. “A promessa de eficiência pode esconder a intenção de enxugar gastos. É a lógica neoliberal aplicada à educação: menos investimento em pessoas, mais aposta em soluções padronizadas”, acrescenta.

Pedro Maia, cientista de dados.
Pedro Maia, cientista de dados. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Maia também chama atenção para o risco de aprofundar desigualdades: “Nesse cenário, a IA não democratiza, mas acentua a exclusão. O aluno da periferia continua com menos oportunidades que o de elite, ainda que ambos usem supostamente a mesma tecnologia”. Esse alerta encontra respaldo nos números. Em 2023, 69% dos estudantes já conheciam a IA; em 2024, esse índice subiu para 80%, segundo levantamento nacional feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES).

No entanto, nem todos têm acesso à mesma qualidade de ferramentas ou de acompanhamento pedagógico. Enquanto escolas privadas de ponta conseguem incorporar plataformas sofisticadas, parte da rede pública depende de versões limitadas, com pouco ou nenhum suporte docente.

Mesmo assim, o cenário não é apenas de resistência. Pesquisas feitas pela SEMESP (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), mostram que 74,8% dos professores acreditam que a IA pode ser aliada no processo de ensino, e 39,2% já utilizam a tecnologia regularmente em sala de aula. Esses dados revelam uma categoria dividida, mas que enxerga potencial na tecnologia quando aplicada como ferramenta de apoio, não como substituição. 

Além disso, iniciativas públicas começam a surgir. O governo federal, em parceria com a UNESCO e a Huawei, lançou o projeto “Open Schools” na Bahia e no Pará. Ambos locais foram escolhidos pela falta de infraestrutura educacional, conectividade e recursos tecnológicos. A iniciativa foca na formação de professores em competências digitais e uso de IA, além de investimentos em conectividade e infraestrutura. O objetivo é reduzir desigualdades e preparar a rede pública para essa transição.

A coexistência desses dois pontos de vista - o risco de precarização e a promessa de apoio pedagógico - evidencia o dilema atual: A IA pode ser tanto aliada quanto algoz, dependendo da forma como for implementada. Se o objetivo for cortar custos, há risco de enfraquecer a profissão docente. Mas se, por outro lado, houver investimento em formação, infraestrutura e regulação, ela pode abrir espaço para práticas pedagógicas mais ricas e inclusivas.

O que está em jogo, portanto, não é apenas a chegada de uma nova tecnologia, mas o modelo de educação que o país pretende construir. A questão central permanece: a inteligência artificial será um recurso a serviço de professores e alunos ou mais um instrumento de precarização do trabalho em nome da eficiência econômica?

Enquanto não há consenso, cresce a urgência em debater publicamente os rumos dessa transformação. O futuro da escola não depende apenas das máquinas, mas das escolhas políticas, sociais e econômicas que definirão como, para quem e com quais propósitos a tecnologia será utilizada.

Como cada um desses países produz humor da sua própria maneira. Entenda as diferenças
por
Liz Ortiz Fratucci
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16/04/2025 - 12h

Cada ser humano tem o seu próprio senso de humor, que é formado por uma série de fatores biológicos, culturais e sociológicos. Por conta disso, a maneira de consumir o gênero da comédia em cada país, se diferencia. O Estados Unidos é conhecido por ser a maior potência na indústria do entretenimento, como consequência, também é o lugar que mais produz e consome conteúdos humorísticos. Lá, a comédia é uma indústria altamente profissionalizada. Os comediantes podem iniciar suas carreiras em diversos clubes de stand-up, estudar em escolas especializadas e são valorizados em suas profissões. Em contraste, o Brasil não possui um grande suporte institucionalizado para a profissão. Até existem clubes de apresentação, mas o brasileiro não possui a cultura de frequentá-los. O que leva os comediantes a dependerem de plataformas como o Youtube, para ganhar visibilidade.

Nos EUA, existem uma diversidade de modelos com bom desempenho, como os late-night shows, que são um gênero de programa de entrevistas, apresentados por comediantes que passaram por outros formatos de comédia, antes de se estabelecerem o suficiente para terem uma uma mesa e um sofá com convidados, em um dos horários nobres a televisão americana. Lá também é extremamente popular o programa de esquete, “Saturday Night Live” (SNL), que impactou e influenciou a indústria mundial do humor. Em 2010, a MTV Brasil, uma rede de televisão dedicada ao público jovem, começou a transmitir um programa chamado “Comédia MTV”, esse tendo como maior inspiração o SNL. Porém, o programa acabou sendo cancelado dois anos depois.

Para um dos roteiristas do “Comédia MTV”, Yuri Moraes, em entrevista à AGEMT, a "razão dele não ter dado certo, foi a falta de incentivo aos participantes do projeto. “As emissoras, querendo ou não, não pagam o suficiente para ser a única coisa que o pessoal tá trabalhando. Então, eu acho que o tempo de dedicação das pessoas ao projeto é um fator”, diz Moraes.

Além da tentativa da MTV Brasil fazer um programa similar ao Saturday Night Live, Moraes acredita que nos EUA existe uma cultura de celebridades mais intensa, e aqui existe uma falta de humor autodepreciativo das pessoas públicas e a falta de vontade delas de serem associadas ao humor. “O programa foi transmitido pela RedeTV, e eles convidaram, mas quase nenhuma das celebridades da Globo, que seria o nosso equivalente a Hollywood, aceitaram o convite”. Então, o formato de esquetes foi aplicado mais uma vez pelos produtores da comédia brasileira, mas dessa vez com sucesso.

No início de 2012, os humoristas: Fábio Porchat, Ian SBF e Antônio Tabet, se reuniram para criar um canal no Youtube, abordando temáticas que eles não conseguiam fazer na televisão, no tempo em que eram roteiristas. Esse canal foi nomeado por eles de “Porta dos Fundos”, e veio para mostrar como o humor na internet poderia competir com a TV e ser altamente lucrativo.

Porta dos Fundos 2014  Foto: Divulgação/Thay Rabello
                                 Porta dos Fundos 2014
                            Foto: Divulgação/Thay Rabello

No entanto, enquanto o modelo de esquetes encontrou um caminho de sucesso na internet brasileira, outro formato de comédia americana, chamado de sitcom, nunca conseguiu se estabelecer com a mesma força no Brasil. “Existem programas, como : ‘Eu a Patroa e as Crianças’, ‘Um maluco no pedaço’, ‘Todo mundo odeia o Chris’, que funcionam muito bem no Brasil. Então, não sei se isso ainda não conseguiu ser produzido, porque é super difícil fazer um programa desses assim dar certo, e ainda conseguir refletir com o humor daqui. Mas tiveram alguns que conseguiram chegar perto, como o ‘Sai de Baixo’, que teve um impacto cultural bem forte, apesar de ter apenas um cenário e ser um pouco mais teatral", diz Moraes. 

Uma análise realizada pela Folha de S. Paulo constatou que a cada três filmes do ranking dos cem títulos brasileiros de maior audiência, transmitidos no cinema, dois são do gênero de comédia. Por conta dessa popularidade, a ocupação da comédia em salas de cinema pelo Brasil, aumentou. Entre as 45 mil telas que transmitiram filmes nacionais com maior bilheteria, 30 mil receberam obras de comédia presente em um dos seus gêneros. Um dos responsáveis pelo sucesso do humor nos cinemas, foi o ator Paulo Gustavo. Seu último filme antes de sua morte, foi a comédia com maior público e rentabilidade do país.

Embora os formatos que fazem sucesso em cada país não sejam os mesmos, uma coisa é certa: todos os países consomem a comédia. Enquanto os Estados Unidos consolidaram suas indústrias televisivas e cinematográficas, o Brasil encontrou na internet um caminho para dar mais espaço aos comediantes e explorar novas formas de fazer rir. No fim, o que diverte um público pode não funcionar para outro, mas a necessidade de rir continua universal – mesmo que cada país tenha a sua própria maneira de fazê-lo.

Entenda como a internet transformou a forma de comunicar e o consumo de informação no jornalismo
por
Beatriz Lima
Camila Bucoff
Giovanna Brito
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07/04/2025 - 12h

Desde o século 17, a mídia jornalística tem mantido a população informada através dos veículos tradicionais que todos já conhecem: o impresso, a televisão e o rádio. Por muito tempo, mesmo com mudanças significativas na comunicação, essa estrutura midiática se manteve dominante. Entretanto, com o avanço da tecnologia, novas formas de consumo de informação foram popularizadas. Hoje, a necessidade de se fazer presente na internet interfere na maneira de se produzir, criar conteúdo, disseminar informações e conversar com o público. Segundo JC Rodrigues, mestre em comportamento do consumidor e professor na ESPM, “a adaptação dos veículos de comunicação à era digital é uma resposta necessária às mudanças nos hábitos de consumo. O público conectado busca conteúdos que sejam acessíveis, dinâmicos e personalizados, consumindo-os em plataformas que fazem parte de sua rotina, o que exigiu dos veículos pré-digitais serem mais ágeis, criativos e estratégicos, utilizando as plataformas não apenas como canais de distribuição, mas como espaços de interação e engajamento, em uma abordagem mais humanizada da comunicação”, relembra Rodrigues. 

Essa mudança também reflete a convergência entre diferentes mídias, o que cria uma necessidade de se pensar em conteúdos adequados para circular em múltiplos formatos e dispositivos. Por exemplo, o trabalho bruto é postado em alguma rede, sofre cortes, edições e depois é distribuído de outras maneiras em outras plataformas, ampliando não só o alcance do veículo mas otimizando a distribuição da notícia. A ascensão do youtube em 2006 - primeira plataforma a disponibilizar a publicação de vídeos longos - gerou dúvidas sobre até onde a televisão resistiria a essa nova forma de consumo de entretenimento e informação.

Na verdade, o que aconteceu foi a adaptação a esse novo formato. Canais e programas clássicos da televisão notaram a necessidade de se fazerem presentes nas redes sociais, o que ocasionou a criação de perfis para publicar as programações televisivas na internet.

youtube foi eleito a melhor invenção do ano em 2006.
Youtube foi eleito a melhor invenção do ano em 2006. Foto - Capa Time Magazine

Um dos primeiros programas a se adaptar a esse novo formato no Brasil foi o “The Noite com Danilo Gentili”, atração noturna do SBT. O canal no youtube foi criado em 22 de janeiro de 2014, e desde então soma mais de 15 mil episódios - que estreiam primeiro na rede aberta e depois são publicados na plataforma - 5 bilhões de visualizações e 13 milhões de inscritos.

Danilo Gentili e a plateia do The Noite
Danilo Gentili e a plateia do The Noite (Imagem: Gabriel Cardoso/SBT)

Quase 10 anos depois, canais já são criados com base nessa estrutura, sem a necessidade de ter uma grande emissora por trás da produção dos conteúdos. Esse foi o caso da “Cazé TV”, perfil no youtube especializado em transmissões esportivas como a Copa do Mundo, Olimpíadas e EuroCopa. Em entrevista ao Rio2C, Casimiro Miguel, dono da Cazé, comenta sobre esse formato: “É muita responsabilidade e jogar isso de graça pro público é muito maneiro. Nossa maior preocupação é tentar trazer todos esses conteúdos de forma gratuita pra galera, por que eu acho que tornar esses esportes acessíveis para todos é muito especial.

Transmissão da Cazé Tv durante as olimpíadas de 2024.
Transmissão da Cazé Tv durante as olimpíadas de 2024. (Imagem: Divulgação/CazéTV)

Para Rodrigues, um grande desafio para a reformulação dos veículos tradicionais são os hábitos de consumo de informação digital, marcados pelo imediatismo e pela fragmentação. “Considerando que o público não está mais limitado a horários fixos ou formatos rígidos; ele busca conteúdos sob demanda, acessíveis em qualquer lugar e a qualquer momento. A capacidade de atender a estas expectativas acaba por determinar quais veículos receberão atenção das pessoas e, consequentemente, sua relevância na sociedade. Por outro lado, há o desafio entre velocidade e veracidade (ou acuidade), principalmente quando falamos de hard news", diz. 

Muitos veículos enfrentam o desafio de manter sua credibilidade em um ambiente saturado de desinformação e fontes não confiáveis. “A televisão, o rádio e o editorial precisam encontrar formas de se conectar com um público que valoriza a flexibilidade e a personalização, sem perder sua essência. A confiabilidade é o ativo que tais veículos podem (e devem) explorar, mesmo nesta transição para formatos de comunicação mais contemporâneos”, completa Rodrigues.

“A credibilidade e a verificação dos fatos são diferenciais que devem ser reforçados, enquanto as redes sociais podem ser usadas como aliadas para distribuir conteúdos e atrair novos públicos. A combinação de agilidade e qualidade é essencial para equilibrar a disputa pela atenção do público com a manutenção da essência jornalística”, afirma Rodrigues. 

Uma estratégia adotada pelo G1 para contornar alguns obstáculos da internet citados por JC foi a criação do quadro “Fato ou Fake”, em que são esclarecidas notícias falsas através de vídeos curtos. Com esse formato o veículo atrai o público engajado nas redes sociais e desmente as principais fake news, sem perder a identidade e priorizando a informação entre os leitores.

Checagens de fato realizadas pelo G1.
Checagens de fato realizadas pelo G1. (Imagem: Fernanda Garrafiel/G1).

 

Além disso, o consumo e a produção de conteúdo nas redes também enfrentam a fragmentação da audiência, a concorrência com plataformas digitais e serviços on-demand (disponibilizados e consumidos de acordo com a necessidade do usuário), a queda na receita publicitária tradicional e a necessidade de se adaptar a novos modelos de monetização. 

A estudante de jornalismo na ESPM, Laura Loch, comenta sobre a produção de textos jornalísticos em um ambiente digital: “Desde que comecei a escrever para o Portal de Jornalismo da ESPM me adaptei muito bem à produção exclusivamente online, porém, acredito que o ambiente saturado de informações e a necessidade de manter o engajamento do público possam ser uma dificuldade geral do webjornal”. 

Em relação às adversidades econômicas desse cenário, Rodrigues apresenta soluções viáveis  para garantir a sustentabilidade financeira do jornalismo digital. “O modelo de assinatura digital é uma alternativa prática, mas apresenta desafios consideráveis. Ele pode limitar o acesso à informação, especialmente em contextos de desigualdade digital, onde nem todos têm condições de pagar por conteúdos de qualidade”. Para ele, uma abordagem híbrida, que combina conteúdos gratuitos e premium, seria ideal para equilibrar sustentabilidade e acesso, garantindo que o jornalismo continue a cumprir seu papel social. 

Novas mudanças e o futuro da profissão

A reinvenção digital é inevitável e os veículos precisarão equilibrar a preservação de sua essência com a adaptação às novas demandas e tecnologias. O professor afirma que “não existe mais jornalismo tradicional e digital, existe jornalismo. O que se adapta a uma realidade social (advinda da tecnologia) e os que ficam para trás”.

Segundo levantamento do Google em parceria com a Ipsos, o Brasil está acima da média mundial no uso de inteligência artificial (IA) gerativa - 54% dos brasileiros  declararam ter utilizado ferramentas desse tipo em 2024, enquanto a média global foi de 48%. Assim, a inteligência artificial, cada vez mais aperfeiçoada e consumida, pode alterar o quadro atual do jornalismo online e ocupar um espaço significativo nas produções futuras.

Ia escrevendo notícias, tomando o lugar de profissionais.
(Imagem: Reprodução/O'Pharol)

Rodrigues comenta que “a inteligência artificial pode transformar o jornalismo ao automatizar tarefas como redação de textos simples, análise de dados e personalização de conteúdos. Isso permite que os jornalistas se concentrem em reportagens mais complexas e investigativas. No entanto, a IA também levanta questões éticas, como o viés algorítmico e a transparência. O uso responsável da tecnologia será essencial para garantir que ela complemente, e não substitua, o trabalho humano”.

Após “Ainda Estou Aqui” fazer história no Oscar 2025, o novo filme de Fernanda Montenegro conquista uma legião de fãs
por
Anna Cândida Xavier
Juliana Bertini De Paula
Maria Eduarda Cepeda
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31/03/2025 - 12h

O filme “Vitória”, protagonizado pela atriz Fernanda Montenegro, levou uma legião de fãs às salas de cinema. Após o Oscar de 2025 ter dado um novo fôlego para a indústria nacional, despertando o interesse do público, o longa arrecadou 4,7 milhões sendo o filme nacional com a maior estreia em  2025. “Vitória”, estrelado por Fernanda Montenegro e Alan Rocha, apresenta a  história de Nina, uma senhora solitária que vive em um bairro do Rio de Janeiro que está sendo tomado pela violência do tráfico e conflitos com a polícia. Após suas denúncias não serem ouvidas, ela decide filmar as atividades suspeitas pela janela do seu apartamento, atraindo a atenção de um jornalista, que decide apoiá-la em sua missão. 

O filme dirigido por Andrucha Waddington e Breno Silveira com o roteiro de Paula Fiuza, é inspirado na história real de Joana da Paz, registrada pelo jornalista Fábio Gusmão em seu livro “Dona Vitória da Paz”, publicado em 2005. As gravações corajosas de Joana deram início a uma operação na Ladeira dos Tabajara, em Copacabana, desmascarando uma quadrilha de traficantes e policiais corruptos. Logo depois, para sua segurança, Joana da Paz muda de nome e cidade e vive 17 anos no programa de proteção de testemunhas. 

Joana teve uma vida difícil desde muito cedo, forçada a sair de casa após sofrer inúmeras violências na casa onde trabalhava como doméstica e perder seu filho com apenas 2 anos de idade, ela trilhou seu caminho até se restabelecer e comprar um apartamento na Ladeira dos Tabajaras em Copacabana, em Rio de Janeiro. Formada pela Policlínica Geral do Rio de Janeiro, foi massoterapeuta durante a época em que viveu em Copacabana. Após a crescente criminalidade no bairro onde vivia, insatisfeita com a negligência da polícia, decidiu comprar uma câmera de vídeo para denunciar através de sua janela a realidade violenta da favela à sua frente. 

 

Joana Zeferino da Paz em 2006, com sua câmera. Foto: Fábio Gusmão / Agência O Globo
Joana Zeferino da Paz em 2006, com sua câmera. Foto: Fábio Gusmão / Agência O Globo

Em entrevista à AGEMT, a atriz Lívia Gottardi Giorgi, 23 anos, comenta sobre como a violência e o tráfico são retratados em obras brasileiras. “Obviamente seria mais interessante se a gente tivesse esse retrato da perspectiva das pessoas da própria comunidade. A favela é generalizada, todos os personagens que são moradores daquela comunidade no filme, de alguma forma, estão ligados ao tráfico”, diz ela. 

Giorgi aponta que um retrato mais coerente das comunidades só será possível com a inclusão dessas pessoas no mundo cinematográfico e valorização dos artistas periféricos. A atriz paulista é formada em Artes Cênicas na UNESP e, atualmente, é bolsista pelo mestrado em Pedagogia das Artes Cênicas na ECA-USP. Já trabalhou com teatro, streaming e cinema.

Para ela, existe uma falta de liberdade criativa na área. Apesar das produções movimentarem muito investimento, eles dependem de validação de certos júris de grandes festivais para alcançar diferentes públicos, e para agradar tais jurados, existe uma limitação criativa. “É um protesto, mas no caso do cinema, a gente ainda tem alguns impasses, infelizmente", ressalta Giorgi. 

Na época das denúncias, Joana da Paz tinha 80 anos, declarou, após ser vencedora do 14° Prêmio PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) de Cidadania, que não era uma heroína, somente “agiu como qualquer ser humano”. Em entrevista à CNN, Fernanda Montenegro compartilha: “O que me motivou foi a busca dessa personagem por uma justiça social, humana. É uma história verdadeira. Uma personagem não acomodada”. 

A eterna dama do teatro brasileiro, atualmente com 95 anos, acrescenta na mesma entrevista: “Na velhice, a solidão é inarredável. A vida vai levando você à solidão. Com a idade você vai ouvindo menos, vendo menos, se levanta com menos agilidade e as juntas começam a secar. Isso tudo é uma solidão também. Mas o filme não trata Vitória como uma sofrida, demagógica e melodramática. Pelo contrário, é uma mulher afetuosa e destemida”. Com a produção do longa “Ainda Estou Aqui”  e sua vitória na categoria de “Melhor Filme Internacional”, no Oscar 2025, o cinema nacional entra em uma nova fase, a retomada do público aos cinemas e o interesse pela indústria cinematográfica brasileira. 

 

 

Walter Salles, diretor de “Ainda estou aqui”, discursando após receber o Oscar de Melhor Filme Internacional. Foto: Reprodução/Oscar 2025
Walter Salles, diretor de “Ainda estou aqui”, discursando após receber o Oscar de Melhor Filme Internacional. Foto: Reprodução/Oscar 2025

O sucesso de bilheteria de filmes nacionais refletem esse interesse, “Auto da Compadecida 2” teve 4 milhões de espectadores nos cinemas e somou mais de R$78,9 milhões. O filme “Onda Nova”, proibido na ditadura militar, teve seu relançamento nos cinemas brasileiros após 42 anos de censura, graças ao resgate do costume de ir às  salas de cinema. Lívia Giorgi, apesar de acreditar num maior incentivo após o Oscar 2025,  relembra da “Cota de Tela” – projeto de lei assinado no ano passado em que as empresas cinematográficas devem exibir obrigatoriamente um número mínimo de sessões de filmes nacionais – e a importância de ter pelo menos um filme brasileiro nos cinemas.

“As vezes aquela pessoa que está passando num shopping num domingo à tarde, ela vai pegar o filme que tiver melhor na programação dela, vai esbarrar num filme nacional. Então, isso é fundamental para quebrar uma lógica hegemônica de que filme nacional é “trash”, é besteirol, e quebrar todos esses mitos que não dizem respeito às produções que a gente tem aqui de verdade” comenta a atriz. O Brasil conta com órgãos federais de incentivo à cultura, como o próprio Ministério da Cultura e a Funarte (Fundação Nacional de Artes). Além disso, existem leis de fomento à cultura, como a Lei Rouanet, a Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir Blanc, fundamentais para a sobrevivência da produção de arte nacional.

 

A brasileira chamou atenção das grandes casas de moda pelo mundo depois da indicação de "Ainda estou aqui"
por
Giovanna Laurelli
Wildner Felix
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01/04/2025 - 12h

Na cerimônia do Oscar 2025, Fernanda Torres chega na passarela usando um vestido de alta costura assinado pelo estilista belga Olivier Theyskens. A peça, inteiramente preta e com um imponente decote nas costas, foi ajustada especialmente para a atriz. O look não apenas ressaltou sua elegância, mas também garantiu seu lugar na lista das mais bem-vestidas do Globo de Ouro, segundo a renomada revista americana W Magazine.  

A escolha do vestido não foi aleatória. O tom sóbrio refletia a decisão de Fernanda e de seu estilista Antonio Frajado, de homenagear a trajetória de Eunice Paiva, personagem que a atriz interpretou no filme. Eunice, esposa de Rubens Paiva, enfrentou o desaparecimento do marido durante a Ditadura Militar e dedicou sua vida à busca por respostas e justiça.

 

Confecção do vestido de alta costura utilizado por Torres no Bafta Film Awards 2025, desenvolvido por Maria Grazia Chiuiri
Confecção do vestido de alta costura utilizado por Torres no Bafta Film Awards 2025, desenvolvido por Maria Grazia Chiuiri (Dior). (Foto: Reprodução/ Instagram @oficialfernandatorres)

 

Para a jornalista de moda, da Revista Capricho, Sofia Duarteem entrevista à AGEMT, “a moda é uma ferramenta de comunicação, e é exatamente dessa forma que Torres e Frajado a enxergam. No contexto da divulgação de “Ainda estou aqui”, um filme tão importante para a nossa história, é inevitável, portanto, olhar para as produções da atriz brasileira e pensar sobre a mensagem que elas carregam”, diz Duarte.

Os diversos vestidos utilizados por Fernanda Torres em suas aparições públicas foram foco do público e da mídia não apenas por sua beleza e elegância, mas pelo uso da técnica de method dressing. “O termo em inglês vem do method acting, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra!”, explica a pesquisadora, jornalista e professora de cinema e literatura Paula Jacob.   

Fernanda Torres pronta pro oscas
Fernanda Torres pronta para o Oscar 2025, com confecção da Chanel. (Foto: Reprodução/ Instagram @oficialfernandatorres)

“O method acting é um método de atuação, que é bem famoso no cinema principalmente. O ator meio que vive a vida do personagem, para entrar em um nível de profundidade e interpretar.” Continua Jacob. “O method dressing é uma coisa mais estética, não é que as atrizes - porque principalmente atrizes fazem isso - estão interpretando essas personagens no tapete vermelho ou em press conference. Elas estão usando esse método de transpor a personagem ou a atmosfera do filme para eventos, para criar toda uma comunicação visual, um storytelling”, explica Jacob.  

Alguns exemplos famosos da tática de unir a moda à promoção de um filme foram a americana Zendaya, durante a campanha de Duna (2021) e Challengers (2024), e a australiana Margot Robbie com Barbie (2023). A motivação comum para o uso de roupas de alta costura é simples: “tudo isso faz um buzz em torno do filme, da atriz e chama à atenção das pessoas, virando notícia” , analisa a pesquisadora. “O method dressing seria essa parte mais lúdica, de você conseguir, esteticamente, resumir o personagem, o filme, a atmosfera”. 

Torres conseguiu se destacar pelo fato de que sua vestimenta não estava atrelada necessariamente à promoção de seu trabalho, mas a um espaço de respeito pela figura que representava, a Eunice Paiva. “Ela estava respeitando a essência da história. Evitando usar coisas muito grandiosas, coloridas, festivas. Ela não estava promovendo um filme festivo, ela estava promovendo um filme sério”, afirma Jacob.

“Isso pedia uma certa descrição. Mas não que essa descrição fosse sufocante a personalidade dela, muito pelo contrário. Eu acho que rolou essa questão, de ter o respeito à personagem, o respeito à história, e ter um respeito à personalidade da própria Fernanda”, acrescenta Jacob. 

Fernanda Torres vestindo um vestido de grife
Torres, estilizada por Antônio Frajado, com vestido da grife The Row, para o Jantar dos Indicados ao Oscar 2025. (Foto: Reprodução/ Instagram @antoniofrajado)

Duarte, que realizou uma conversa pela Capricho com Frajado esse ano, confirma o conforto de Torres. “Ele (o estilista) me contou que o preto já é uma cor que a Fernanda gosta; a escolha de preservar a memória de Eunice está mais nas silhuetas clássicas, que garantem um resultado sofisticado mas não desfocam do assunto principal. Essa decisão demonstra um posicionamento político”, diz. 

Nesse universo da moda, as mulheres dominam a cena, sendo constantemente observadas e julgadas por suas roupas. No cinema, essa relação se intensifica, pois o figurino reflete diretamente a obra em que estão inseridas, tornando a mensagem transmitida pelas roupas ainda mais evidente. A jornalista, professora e pesquisadora de cinema Paula Jacob destaca a moda como um poderoso artifício político, capaz de comunicar ideias, imagens e mensagens sem perder sua essência. Como ela afirma: "não consigo ver a moda como apenas um pedaço de pano".

Essa visão se contrapõe à efemeridade das tendências da internet, que desaparecem em questão de minutos. Em contraste, o method dressing — técnica que alinha a vestimenta das atrizes à narrativa do filme — transforma o tapete vermelho em uma extensão da obra cinematográfica. Ao observar os looks das atrizes, é possível identificar referências diretas ao filme, tornando a experiência visual ainda mais marcante para o espectador.

Profissionais independentes sofrem com a situação do calor em SP
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
|
31/03/2025 - 12h

As altas temperaturas atingidas no último verão afetaram não somente o clima, como também a saúde da população. Especialmente no mês de março, os termômetros chegaram a bater 36C graus, com sensações térmicas ultrapassando os 40C. Essas condições climáticas trouxeram desgastes físicos para grande parte da sociedade. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), esse foi o sexto verão mais quente enfrentado pelo pais desde 1961. 

Com isso, a reportagem a seguir buscou um olhar diferente para a temática: como ficaram as pessoas que trabalham na rua debaixo do sol? João e Mozart sentiram na pele essa onda de calor nas ruas de São Paulo. Além da participação especial do médico Lucas Verdasca, que explica as consequências fisiológicas dessas temperaturas e também as medidas preventivas para evitar o mal estar. 

Assista a reportagem oficial clicando aqui