A brasileira chamou atenção das grandes casas de moda pelo mundo depois da indicação de "Ainda estou aqui"
por
Giovanna Laurelli
Wildner Felix
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01/04/2025 - 12h

Na cerimônia do Oscar 2025, Fernanda Torres chega na passarela usando um vestido de alta costura assinado pelo estilista belga Olivier Theyskens. A peça, inteiramente preta e com um imponente decote nas costas, foi ajustada especialmente para a atriz. O look não apenas ressaltou sua elegância, mas também garantiu seu lugar na lista das mais bem-vestidas do Globo de Ouro, segundo a renomada revista americana W Magazine.  

A escolha do vestido não foi aleatória. O tom sóbrio refletia a decisão de Fernanda e de seu estilista Antonio Frajado, de homenagear a trajetória de Eunice Paiva, personagem que a atriz interpretou no filme. Eunice, esposa de Rubens Paiva, enfrentou o desaparecimento do marido durante a Ditadura Militar e dedicou sua vida à busca por respostas e justiça.

 

Confecção do vestido de alta costura utilizado por Torres no Bafta Film Awards 2025, desenvolvido por Maria Grazia Chiuiri
Confecção do vestido de alta costura utilizado por Torres no Bafta Film Awards 2025, desenvolvido por Maria Grazia Chiuiri (Dior). (Foto: Reprodução/ Instagram @oficialfernandatorres)

 

Para a jornalista de moda, da Revista Capricho, Sofia Duarteem entrevista à AGEMT, “a moda é uma ferramenta de comunicação, e é exatamente dessa forma que Torres e Frajado a enxergam. No contexto da divulgação de “Ainda estou aqui”, um filme tão importante para a nossa história, é inevitável, portanto, olhar para as produções da atriz brasileira e pensar sobre a mensagem que elas carregam”, diz Duarte.

Os diversos vestidos utilizados por Fernanda Torres em suas aparições públicas foram foco do público e da mídia não apenas por sua beleza e elegância, mas pelo uso da técnica de method dressing. “O termo em inglês vem do method acting, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra!”, explica a pesquisadora, jornalista e professora de cinema e literatura Paula Jacob.   

Fernanda Torres pronta pro oscas
Fernanda Torres pronta para o Oscar 2025, com confecção da Chanel. (Foto: Reprodução/ Instagram @oficialfernandatorres)

“O method acting é um método de atuação, que é bem famoso no cinema principalmente. O ator meio que vive a vida do personagem, para entrar em um nível de profundidade e interpretar.” Continua Jacob. “O method dressing é uma coisa mais estética, não é que as atrizes - porque principalmente atrizes fazem isso - estão interpretando essas personagens no tapete vermelho ou em press conference. Elas estão usando esse método de transpor a personagem ou a atmosfera do filme para eventos, para criar toda uma comunicação visual, um storytelling”, explica Jacob.  

Alguns exemplos famosos da tática de unir a moda à promoção de um filme foram a americana Zendaya, durante a campanha de Duna (2021) e Challengers (2024), e a australiana Margot Robbie com Barbie (2023). A motivação comum para o uso de roupas de alta costura é simples: “tudo isso faz um buzz em torno do filme, da atriz e chama à atenção das pessoas, virando notícia” , analisa a pesquisadora. “O method dressing seria essa parte mais lúdica, de você conseguir, esteticamente, resumir o personagem, o filme, a atmosfera”. 

Torres conseguiu se destacar pelo fato de que sua vestimenta não estava atrelada necessariamente à promoção de seu trabalho, mas a um espaço de respeito pela figura que representava, a Eunice Paiva. “Ela estava respeitando a essência da história. Evitando usar coisas muito grandiosas, coloridas, festivas. Ela não estava promovendo um filme festivo, ela estava promovendo um filme sério”, afirma Jacob.

“Isso pedia uma certa descrição. Mas não que essa descrição fosse sufocante a personalidade dela, muito pelo contrário. Eu acho que rolou essa questão, de ter o respeito à personagem, o respeito à história, e ter um respeito à personalidade da própria Fernanda”, acrescenta Jacob. 

Fernanda Torres vestindo um vestido de grife
Torres, estilizada por Antônio Frajado, com vestido da grife The Row, para o Jantar dos Indicados ao Oscar 2025. (Foto: Reprodução/ Instagram @antoniofrajado)

Duarte, que realizou uma conversa pela Capricho com Frajado esse ano, confirma o conforto de Torres. “Ele (o estilista) me contou que o preto já é uma cor que a Fernanda gosta; a escolha de preservar a memória de Eunice está mais nas silhuetas clássicas, que garantem um resultado sofisticado mas não desfocam do assunto principal. Essa decisão demonstra um posicionamento político”, diz. 

Nesse universo da moda, as mulheres dominam a cena, sendo constantemente observadas e julgadas por suas roupas. No cinema, essa relação se intensifica, pois o figurino reflete diretamente a obra em que estão inseridas, tornando a mensagem transmitida pelas roupas ainda mais evidente. A jornalista, professora e pesquisadora de cinema Paula Jacob destaca a moda como um poderoso artifício político, capaz de comunicar ideias, imagens e mensagens sem perder sua essência. Como ela afirma: "não consigo ver a moda como apenas um pedaço de pano".

Essa visão se contrapõe à efemeridade das tendências da internet, que desaparecem em questão de minutos. Em contraste, o method dressing — técnica que alinha a vestimenta das atrizes à narrativa do filme — transforma o tapete vermelho em uma extensão da obra cinematográfica. Ao observar os looks das atrizes, é possível identificar referências diretas ao filme, tornando a experiência visual ainda mais marcante para o espectador.

Profissionais independentes sofrem com a situação do calor em SP
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
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31/03/2025 - 12h

As altas temperaturas atingidas no último verão afetaram não somente o clima, como também a saúde da população. Especialmente no mês de março, os termômetros chegaram a bater 36C graus, com sensações térmicas ultrapassando os 40C. Essas condições climáticas trouxeram desgastes físicos para grande parte da sociedade. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), esse foi o sexto verão mais quente enfrentado pelo pais desde 1961. 

Com isso, a reportagem a seguir buscou um olhar diferente para a temática: como ficaram as pessoas que trabalham na rua debaixo do sol? João e Mozart sentiram na pele essa onda de calor nas ruas de São Paulo. Além da participação especial do médico Lucas Verdasca, que explica as consequências fisiológicas dessas temperaturas e também as medidas preventivas para evitar o mal estar. 

Assista a reportagem oficial clicando aqui 

 

Entenda como a pressão dentro e fora de campo podem afetar o psicológico de um atleta
por
João Lucas Palhares
Nicolas Beneton
Theo Fratucci
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31/03/2025 - 12h

No início do mês de março, o mundo do futebol sulamericanao registrou mais um caso de racismo. Durante a partida entre Cerro Porteño e Palmeiras, válida pela Libertadores Sub-20, o atacante Luighi, do verdão, sofreu diversas ofensas racistas por parte da torcida adversária. Enquanto o jogador Figueiredo era substituído, torcedores paraguaios o chamaram de “macaco”, o mesmo ocorreu com Luighi, que foi substituído logo depois.

As ofensas foram ignoradas pelo árbitro Augusto Menendes. Após o apito final no estádio, Luighi, durante entrevista para TV Conmebol, mostrou sua indignação com o caso, perguntando se o repórter não ia abordar o acontecido na entrevista e chorando. Além disso, o atleta pediu que algum órgão responsável, a CBF ou a Conmebol, tomasse alguma ação contra os racistas, definidos pelo atacante como criminosos.

Após o caso, o Cerro Porteño recebeu uma punição da Conmebol. De acordo com a entidade sul-americana, o Cerro Porteño terá de pagar uma multa de 50 mil dólares (cerca de R$ 290 mil) em até 30 dias da notificação ao clube, e foi decidido que o time paraguaio terá que publicar uma campanha para conscientização contra o racismo em suas redes sociais.

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Luighi, do Palmeiras, às lágrimas em entrevista após sofrer caso de racismo em partida da Libertadores SUB-20. Foto: Reprodução / CONMEBOL TV 

Atos racistas infelizmente não são novidade no esporte, o que acaba refletindo na sociedade em geral. O número de casos e de jogadores ofendidos não parece diminuir, especialmente em relação aos brasileiros jogando em outros países da América do Sul e da Europa, como os ocorridos com Vinícius Jr, do Real Madrid, sendo um dos casos de maior repercussão até hoje. 

Em entrevista à AGEMT, o psicólogo Matheus Vasconcelos, especializado em psicologia do esporte e influenciador digital afirma: "sofrer o crime de racismo dentro do ambiente de trabalho é algo que impacta muito no psicológico dos atletas. O Supporting Professional Footballers Worldwide - FIFPRO  (organização que representa os jogadores profissionais no mundo todo), tem um relatório que aponta a importância das instituições implementarem iniciativas de cuidado com a saúde mental em relação a esse tipo de violência que os jogadores sofrem”, diz Vasconcelos

O preconceito com a psicologia no mundo do esporte é algo que por muitas vezes, trava o desenvolvimento pessoal e profissional de vários atletas, porém, indagado sobre, Vasconcelos disse que "existe uma melhora notável em relação a aceitação da necessidade de ajuda psicológica vindo dos jogadores e acredita que atualmente, o grande desafio para essa barreira ser ultrapassada de vez, são as próprias instituições que não se profissionalizaram e não buscam especialistas certificados para atuar dentro de suas dependências", ressalta.

Um exemplo é o do futebolista brasileiro Richarlison, do Tottenham e da seleção. O atacante de 27 anos passou por um momento conturbado pós Copa do Mundo de 2022, onde era o camisa 9 da amarelinha. Após a eliminação para a Croácia nas quartas de final, Richarlison passou a receber duras críticas de jornalistas e torcedores, e juntamente a isso, passou por problemas em sua vida particular. Segundo relatos do próprio atacante para ESPN, “a psicóloga salvou minha vida, eu só pensava em besteira, pesquisava sobre morte. Hoje eu posso falar, procure um psicólogo”. 

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Richarlison, atacante brasileiro declara que passou passou por momentos emocionalmente difíceis e a ajuda psicológica foi muito importante nessa fase (Foto:Reprodução/ESPN)

Trazendo um lado mais abrangente de nossa análise, Matheus define que o psicológico está em tudo que atravessa a experiência do atleta, ou seja, até aspectos que, observando de fora, não imaginamos o influenciam mentalmente, desde problemas familiares, relações fora do trabalho. Assim como as partes externas, mais relacionadas às condições de trabalho, o clima, a cultura, a educação e a língua do local onde cada um está. No Brasil, vivemos um contexto de acesso precário à educação, que é algo que segue o atleta desde o início de sua formação, esse fator educacional pode ser diferente entre cada um, devido a experiência individual que passou em sua vida. Outro fator é a função e a  fase que o atleta vivência profissionalmente. Ou seja, esses fatores que podem influenciar o psicológico do esportista, podem vir tanto de fatores externos, quanto internos.

Até que ponto o psicológico pode participar da criação de um atleta de alto nível? Na verdade, ele é um dos pilares para um profissional do esporte ser bem sucedido em sua área. Vasconcelos diz que estar bem mentalmente tem participação direta com sua performance durante a partida. “A psicologia pode influenciar diretamente no desempenho auxiliando o atleta a desenvolver diferentes níveis de habilidades psicológicas, sejam elas pessoais, interpessoais, atléticos ou de performance da modalidade praticada, através das intervenções do psicólogo e do conhecimento transmitido.”, explicou sobre a maneira correta de se trabalhar com esse grupo específico. Além disso, o psicólogo ressalvou que essas “intervenções” devem ser feitas de maneira cuidadosa e gradativa, para não correr o risco de prejudicar a saúde mental do esportista.
 

Estudos apontam aumento do estresse e ansiedade em períodos de calor extremo, que levanta alertas para a saúde pública
por
Ana Clara Souza
Juliana Salomão
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31/03/2025 - 12h

Os riscos para a saúde física causados pelo intenso calor já são bem conhecidos, mas os impactos nas condições psicológicas ainda são um tema crescente de estudo. Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que as mudanças climáticas estão afetando diretamente a saúde mental e o bem-estar psicossocial, com consequências cada vez mais preocupantes.

Em entrevista à AGEMT, a psicóloga Fernanda Papa discute como as ondas de calor impactam os grupos mais vulneráveis, além dos efeitos das altas temperaturas sobre os estímulos hormonais no corpo humano e as emoções que surgem nesse contexto. A especialista em meteorologia, Andrea Ramos, também explica sobre as consequências climáticas e as medidas necessárias para lidar com esses impactos em um cenário de intensificação das mudanças climáticas. 

Confira a reportagem completa:

 

Comércio de rua gera renda aos colaboradores e mantém viva uma tradição paulistana
por
Nathalia de Moura
Victória da Silva
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27/03/2025 - 12h

As feiras livres paulistanas já ocupam seus espaços pela cidade há anos. Gerando rendimento para muitos feirantes e possuindo uma variedade de produtos para a população, elas são essenciais para a geração de empregos. Com um público diverso, elas também são tradicionais no estado de São Paulo e dão a oportunidade de conhecer diferentes culturas e pessoas. Segundo a Prefeitura de São Paulo, por meio das secretarias de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), a primeira feira livre oficial aconteceu em 1914, através de um ato do então prefeito Washington Luiz Pereira de Souza. A ação surgiu para legitimar uma prática que já acontecia na cidade, mas de forma informal. Na ocasião, cerca de 26 feirantes estiveram no Largo General Osório, na região da Santa Ifigênia. Mais tarde, em 1915, outra feira se instalou, dessa vez no Largo do Arouche, e teve a presença de 116 feirantes.

As feiras não possuem um público-alvo e esse é seu diferencial. É possível ver crianças, jovens, idosos, famílias, moradores locais e até turistas usufruindo a multiplicidade de mercadorias que existem. Em sua grande maioria, pessoas da classe média e da classe trabalhadora são as que mais frequentam as feiras. Muitos também aproveitam para comprar legumes, verduras e frutas frescas, além de conhecer a cultura local.

São Paulo tem registrado cerca de 968 feiras livres e com a expansão desse comércio tão tradicional, a movimentação financeira gira em torno de R$ 2 bilhões por ano, incluindo a venda de até mesmo peças artesanais. Além disso, mais de 70 mil empregos, diretos e indiretos, são gerados.

Em Guarulhos, por exemplo, Quitéria Maria Luize, de 62 anos, vende condimentos e temperos em quatro feiras de bairros diferentes (Jardim Cumbica, Jardim Maria Dirce, Parque Alvorada e Parque Jurema), sendo essa sua única fonte de renda. “Ela é toda a minha renda, de onde eu tiro o sustento. Criei toda a minha família trabalhando com esses temperos. E começando lá de baixo, não comecei lá em cima”, diz Quitéria em entrevista à AGEMT. 

A feirante afirma que antes de estabelecer seu comércio nas feiras, ela iniciou vendendo temperos pelas ruas com um carrinho de pedreiro: “peguei esses temperinhos emprestados que a minha tia já vendia, saí nas portas, batendo palma e contando minha história”.

 

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Diversos condimentos são comercializados na barraca de Dona Quitéria. Foto: Victória da Silva

Vendedor das mais diversas frutas, Queiroz - como é conhecido e gosta de ser chamado - é feirante por tradição. Seu pai e seu avô participaram de feiras livres e passaram o negócio para ele, que vive disso até hoje, aos seus 60 anos. “O meu avô começou na feira em 1945, ele tinha uma chácara, colhia e vendia. Aqui em Guarulhos não tinha nada, mas já tinha a feira”, informa.

“A feira é patrimônio do Estado de São Paulo” afirma o vendedor, defendendo a existência dela como crucial para a vida dos paulistas e paulistanos. Queiroz diz que as feiras são tão importantes quanto os mercados, já que foi por meio desse comércio que eles passaram a existir: “Até o leite era vendido na feira. A feira era uma festa!", relembra QQueiroz. 

 

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Barraca de frutas do seu Queiroz. Foto: Victória da Silva.

Quem trabalha ou frequenta as feiras falam delas com muito carinho e cuidado. Além disso, os feirantes e moradores também podem ajudar na fiscalização das feiras. Caso identifiquem alguma irregularidade, eles podem acionar as subprefeituras para checarem, pois elas são responsáveis pelo monitoramento. Já a organização e a supervisão são feitas pela Prefeitura por meio da SMDHC e da Executiva de Segurança Alimentar e Nutricional e de Abastecimento (SESANA).

Marcos Antonio da Silva é vendedor de ovos na feira do Jardim Cumbica há 10 anos, mas, diferente de Quitéria, durante os dias úteis trabalha em outra profissão: motorista de caminhão. O caminhoneiro de 52 anos diz que o comércio feirante é uma ótima forma de conseguir renda extra aos finais de semana. Contudo, as mudanças econômicas do país em 2025 fizeram as vendas caírem. “A feira me distrai muito. Aqui tem muita gente boa, atendo bem os clientes, tenho muitos, eles gostam do meu trabalho, eu gosto deles, mas a venda deu uma caída, subiu o preço do ovo, subiu o café, subiu o alho, subiram muitas coisas”, finaliza.

Ir à feira é um evento. Vemos diversas cores e sentimos vários cheiros e sabores. Mas as feiras livres possuem mais do que frutas, temperos e artesanatos. Elas apresentam histórias de vida e ali, amizades e novas experiências podem ser compartilhadas. 

Esta análise busca explorar os fatores psicológicos e sociais que impulsionam a decisão de buscar e valorizar bolsas de marca luxuosas, examinando o custo emocional, financeiro e cultural associado a essa escolha
por
Giovanna Montanhan
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17/09/2024 - 12h

Ao entrar em uma pequena loja escondida em uma das muitas galerias do bairro da Liberdade, numa tentativa de escapar do calor escaldante que dominava a cidade de São Paulo e procurar mulheres para entrevistar, fui imediatamente tomada por um cheiro quase sufocante de mofo misturado a um aromatizador de ambientes. Pilhas de bolsas se acumulavam em prateleiras apertadas, criando uma atmosfera opressiva. A vendedora, Márcia, com o rosto perfeitamente maquiado, oferecia sorrisos milimetricamente calculados, afirmando com confiança que todas as peças eram verdadeiras.

Márcia vestia uma camiseta de gola V com o logo da Gucci estampado, daquelas que você reconhece à primeira vista e já sabe que não é original. Combinava a camiseta com uma calça jeans sem marca aparente e um batom vermelho forte, que estava meio borrado para além do contorno labial. Ela me garantiu que a Louis Vuitton que eu examinava era autêntica. “Essa aqui acabou de chegar. Dá pra ver pela costura, e é exatamente como a original", disse ela, apontando para as alças de couro da bolsa, que aparentava estar desgastada, com manchas de dedos bem visíveis.

A loja era apertada, e segundo a vendedora, não ficava vazia por muito tempo. Durante o período em que estive ali, algumas curiosas entraram e passaram alguns minutos manipulando as bolsas. Foi nesse cenário que Vera, uma mulher de 52 anos, examinava cuidadosamente uma bolsa Chanel em meio à desordem. Seus cabelos loiros estavam impecavelmente pintados e penteados, ela vestia um kaftan longo em tons de azul, formando uma espiral que lembrava a estampa característica do designer italiano Emilio Pucci, embora claramente não fosse. Afinal, quem tem condições de comprar uma bolsa autêntica provavelmente poderia adquirir roupas de grife, e não frequentaria lugares como aquela galeria.

Apesar da precisão na imitação da bolsa que estava analisando, Vera parecia indiferente. Para ela, o que realmente importava era a imagem que a peça transmitia. Sem hesitar, enquanto acariciava os detalhes dourados, ela me confidenciou que seu sonho sempre foi possuir uma Chanel, e que o simples fato de ter um exemplar – mesmo que falso – a fazia sentir-se elegante e poderosa. Embora soubesse que a bolsa não era original, o prazer de tê-la em mãos parecia compensar a falta de autenticidade. O preço da original, disse, era exorbitante, e ela não via necessidade de gastar tanto para obter "o mesmo efeito".

Naquela tarde, algumas horas depois, Lúcia, de 42 anos, vestia uma blusa preta larga, calça pantalona da mesma tonalidade e sandálias anabela baixas em tom creme. Ela teclava no celular enquanto observava as prateleiras abarrotadas de bolsas Louis Vuitton, Chanel, Prada, Miu Miu e Hermès. Percebi que ela parecia um pouco receosa de se abrir com uma total desconhecida, então resolvi fingir que também estava interessada em comprar uma bolsa.

Lúcia contou que frequenta aquele lugar há bastante tempo e, para ela, o valor das imitações compensa muito, já que o preço das originais beira o absurdo. Ela ressaltou que as peças nas prateleiras possuem uma aparência tão similar às originais que ninguém percebe a diferença, a menos que a pessoa tenha muito conhecimento ou se aproxime demais. Para Lúcia, as imitações ofereciam uma maneira acessível de expressar seu estilo sem carregar o peso financeiro das grifes. Apesar de não ter uma marca favorita, gostava da sensação de caminhar pelas ruas com uma bolsa que, aos olhos dos outros, era vista como um símbolo de status social.

Naquele espaço abafado, entre as bolsas amontoadas, o burburinho das vozes de outros consumidores ecoava pelas lojas vizinhas que dividiam o mesmo espaço. O que se destacava não era apenas o comércio em si, mas o valor simbólico que aquelas peças carregavam para as mulheres que frequentavam o local com regularidade. Para elas, as bolsas iam muito além de simples acessórios; eram símbolos de status, de pertencimento a um mundo de luxo e exclusividade, mesmo que apenas pela aparência.

A busca por um produto de luxo, ainda que ilusório, era quase tangível. A cada gesto, a cada conversa, ficava claro que as consumidoras estavam menos preocupadas com a autenticidade do item e mais focadas no que ele poderia lhes proporcionar: uma sensação de pertencimento, poder e sucesso. Não se tratava apenas de possuir uma bolsa, mas de construir uma imagem de sofisticação e status. Vera deixou isso claro ao afirmar que ninguém iria parar na rua para questionar se o produto era original ou não. Carregá-lo já era o suficiente para atrair olhares diferentes, conferindo-lhe a distinção que tanto buscava.

Essa busca por símbolos de status se torna ainda mais complexa quando analisada à luz das explicações da psiquiatra Mariana Pampanelli. Para ela, esses itens de luxo – mesmo que falsificados – cumprem diversas funções psicológicas, dependendo do contexto. O anseio por prestígio social, seja para se sobressair aos demais ou para fortalecer a própria autoestima, figura entre os principais impulsionadores. E esse valor, que ela enfatizou, é determinado pelo ambiente cultural em que o indivíduo está inserido. Em alguns círculos, possuir uma bolsa de grife é apenas um reflexo natural da riqueza. Em outros, representa uma tentativa de ascensão, de se destacar do meio social em que vivem.

As redes sociais, claro, ampliam ainda mais essa dinâmica. Mariana afirmou que a comparação constante com os outros, impulsionada pelas redes sociais, intensifica o desejo por determinados itens. Ela acrescentou dizendo que as pessoas buscam estar à altura das imagens que veem na tela, e os itens de luxo são uma forma de alcançar isso. No entanto, ela também alertou para o perigo dessas compras impulsivas, pois quando o desejo por status ultrapassa o planejamento financeiro, o resultado geralmente é o arrependimento, acompanhado de uma sensação de perda de controle sobre a própria vida.

Essa constante exposição à desigualdade social intensifica o desejo de pertencer a uma classe social privilegiada. Para muitas pessoas, adquirir uma falsificação é a única forma de sentir que estão participando dessa narrativa de luxo e exclusividade, ainda que de maneira temporária. A psiquiatra explica que o item falsificado oferece uma ilusão de pertencimento, e mesmo sabendo que não é real, a pessoa se sente parte daquele mundo, ainda que por um momento. Esse sentimento é amplificado pela percepção de injustiça social, levando muitos a crer que, se não podem adquirir o item original, ao menos podem simular essa posse.

O que essas mulheres buscavam nas bolsas falsificadas não era o objeto em si, mas tudo o que ele representava. A sensação de carregar um item de luxo, mesmo que não fosse real, dava a elas a sensação de poder e pertencimento. E, nesse mundo de aparências, isso era o suficiente. A autenticidade do produto tornava-se secundária diante da necessidade de se sentir parte de algo maior, de projetar uma imagem que, na prática, não condizia com suas realidades.

 

O ‘’Grande Irmão’’ do Luxo: Vigilância na Era das Falsificações

No vórtice das redes sociais,  onde cada curtida se transforma em moeda e cada seguidor em um troféu, um perfil no Instagram emergiu como uma caçadora implacável. "The Fake Birkin Slayer" (@thefakebirkinslayer) tornou-se um oráculo em um mundo onde a busca pelo luxo não é apenas desejo, mas flerta com a obsessão. Sua missão principal é desmascarar as falsificações que se infiltram nos feeds dos usuários da rede, compartilhando nos stories o emoji que representa um par de olhos atentos. Não é apenas uma página de denúncias, mas um espelho implacável da ambição humana de conquistar o que está para além do alcance.

No epicentro desse turbilhão de desejos está a Birkin, a intocável criação da grife francesa Hermès. Muito além de ser uma simples bolsa, ela personifica um símbolo de status e poder, desejada tanto por fashionistas quanto por aqueles que almejam ingressar em um mundo que não os acolhe naturalmente, com a mesma intensidade de quem busca água em um deserto árido. Poucos têm o privilégio de atravessar as portas da exclusividade, e menos ainda conseguem segurar uma Birkin autêntica em suas mãos. Ela é a promessa de pertencimento a um círculo fechado, onde o luxo não é apenas um adorno, mas a própria identidade.

Mas como todo objeto de desejo, a Birkin tem seu lado sombrio. Na penumbra das transações secretas e nas esquinas mais discretas da internet, as imitações florescem como ervas daninhas. E "The Fake Birkin Slayer" está presente, assumindo o papel de uma justiceira digital, desmascarando com precisão quase cirúrgica os defeitos nas réplicas exibidas por aqueles que ousam postá-las. Cada nova publicação é uma sentença para quem ousou tentar enganar o olhar observador, uma exposição pública da farsa do luxo.

A Hermès, com sua produção controlada, faz de cada Birkin uma raridade. Não basta ter uma conta bancária cheia. É preciso ter acesso, influência e, sobretudo, paciência. A escassez faz o coração desejar mais, e essa falta é cuidadosamente mantida. A bolsa, que nunca está à espera nas prateleiras das boutiques, carrega consigo o peso de uma conquista — ou, para muitos, de uma frustração constante.

E é nesse limiar entre o desejo e a frustração que a falsificação encontra o terreno fértil. Para alguns, segurar uma imitação é o mais próximo que chegarão de sentir o toque do inalcançável. O brilho falso de uma Birkin não é apenas uma mentira para os outros, mas também uma ilusão auto infligida, uma tentativa desesperada de pertencer a um mundo de aparências que, no fundo, todos sabem ser efêmero. O conforto de segurar uma réplica, mesmo que por breves momentos, oferece um respiro na longa corrida pelo prestígio.

A caçada de "The Fake Birkin Slayer" revela algo maior do que apenas o desejo por autenticidade: escancara a era em que vivemos, onde o valor de um objeto não reside mais no que ele é, mas na história que ele conta. E, no palco das redes sociais, onde cada foto é uma performance encenada e cada postagem um ato de exibição, a autenticidade é a última fronteira. Quem possui o real, exerce o poder, mas, para muitos, sobra apenas a sombra do que poderia ter sido.

A Ética do Consumo e o Futuro do Luxo

Nos bastidores reluzentes do mercado de luxo, onde o brilho das vitrines oculta um submundo nebuloso, as falsificações surgem como sombras inquietantes, desafiando não apenas as marcas, mas também a moralidade de quem as consome. De um lado, há quem veja na compra de uma imitação a chance de tocar, ainda que de forma enganosa, o poder e a exclusividade que as grifes prometem. De outro, há uma realidade mais sombria: o impacto desse comércio clandestino na economia global e a exploração humana que muitas vezes alimenta esse ciclo.

Essas falsificações, frequentemente produzidas em fábricas clandestinas na China, onde a mão de obra escrava opera longe dos holofotes, trazem à tona uma questão ética ainda mais profunda. Ao comprar um produto falsificado, não se adquire apenas uma réplica de luxo; compactua-se, ainda que indiretamente, com a exploração de trabalhadores submetidos a condições desumanas, mal remunerados e forçados a produzir incessantemente para alimentar um mercado que prospera sobre suas costas. Nesse cenário, o glamour associado ao objeto de desejo torna-se, de certa forma, cúmplice de uma cadeia de injustiças.

Nesse contexto, o futuro do luxo parece caminhar sobre um terreno não muito fértil. As grandes etiquetas enfrentam não apenas o desafio de manter sua exclusividade, mas também a ameaça crescente das falsificações, que não só diluem sua imagem, mas também perpetuam a exploração da mão de obra barata. A questão agora não é mais apenas sobre como manter o controle sobre o mercado de luxo, mas sobre o que esse mercado significa num mundo onde o valor de um produto vai além de seu preço — está vinculado à ética de como é feito e por quem.

Enquanto isso, as consumidoras continuam a navegar entre o desejo de possuir o impossível e o dilema moral que surge ao considerar o verdadeiro preço de suas escolhas. A cada compra, consciente ou não, elas caminham por um território onde luxo e exploração se entrelaçam, onde o brilho de uma bolsa Hermès, Chanel ou Louis Vuitton pode estar manchado pelo suor de trabalhadores esquecidos, relegados ao anonimato. E assim, enquanto o mercado de falsificações prospera, o preço a ser pago — tanto financeiramente quanto eticamente — se torna mais difícil de ignorar.

O debate sobre as falsificações não é apenas sobre as réplicas em si, mas sobre o que estamos dispostos a sacrificar em nome do luxo. Não se trata apenas de quem pode ou não comprar o autêntico, mas de quem somos como consumidores, e de como nossas escolhas ressoam em uma cadeia global de produção onde o verdadeiro custo do desejo muitas vezes permanece invisível.

As bolsas de luxo, com todo o seu brilho e exclusividade, são muito mais do que simples acessórios. Elas carregam o peso simbólico de um mundo que valoriza a imagem sobre a substância, o ter sobre o ser. Cada peça é uma promessa de que se pode adentrar em um círculo restrito, onde o prestígio e o poder parecem estar ao alcance de quem as porta. Porém, seja autêntica ou falsificada, a verdade que essas bolsas revelam é a mesma: elas são objetos que tentam preencher um vazio que vai muito além do material.

Para alguns, possuir uma dessas bolsas é uma forma de validar sua personalidade em um mundo onde o sucesso é medido pelo que se exibe. Para outros, a imitação é a única maneira de participar dessa narrativa, ainda que apenas temporariamente. No entanto, seja no couro genuíno ou na réplica meticulosamente elaborada, a busca pelo pertencimento raramente encontra sua satisfação. A bolsa, por mais rara ou desejada que seja, não tem o poder de transformar quem a carrega. O luxo que ela promete é falacioso, efêmero, e deixa para trás apenas o eco de um desejo que nunca se apaga.

E assim, o ciclo continua. O fascínio pelo luxo persiste, alimentado pela fantasia de que, ao segurá-la, se pode finalmente tocar o inatingível. Mas, no fundo, o que as bolsas de luxo realmente oferecem é a mesma ilusão que o próprio mercado capitalista vende: uma busca interminável por algo que nenhum artefato, por mais exclusivo que seja, será capaz de entregar. Afinal, o verdadeiro valor nunca esteve no objeto, mas no fetiche que a mercadoria representa.

 

Evento destacou a revolução tecnológica nas empresas e a inclusão de adolescentes no mundo da tecnologia
por
João Pedro Lopes
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03/06/2024 - 12h

Aconteceu em São Paulo em abril uma das maiores convenções de tecnologia, inovação e comércio digital da América Latina, VTEX DAY. O evento reúne líderes empresariais, especialistas em tecnologia, empreendedores e entusiastas para discutir tendências emergentes, compartilhar conhecimento e explorar soluções inovadoras que estão moldando o futuro do e-commerce e da digitalização empresarial. Com uma programação rica em palestras, workshops e exposições, o congresso oferece uma plataforma única para networking, aprendizado e inspiração, destacando-se como um ponto de encontro essencial para aqueles que buscam estar na vanguarda da transformação digital.

Entre os dias 11 e 12 de abril no São Paulo Expo, com um público diversificado e engajado, as palestras contaram com a participação de renomadas mulheres, como Laysa Peixoto, astronauta brasileira da NASA e Malala Yousafzai, ativista paquistanesa, que compartilharam suas experiências e visões sobre o futuro da tecnologia.

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Laysa Peixoto, uma jovem brasileira reconhecida por seu trabalho em inteligência artificial e robótica, compartilhou sua trajetória e projetos inovadores que estão ajudando a transformar o cenário tecnológico no Brasil. Sua história de superação e sucesso inspirou muitos jovens presentes no evento, mostrando que é possível alcançar grandes feitos com dedicação e paixão pela tecnologia.
Foto: João Lopes.

 

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Malala Yousafzai, ativista paquistanesa e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, trouxe uma mensagem poderosa sobre a importância da educação e da inclusão tecnológica para todas as crianças e adolescentes, especialmente meninas. Em sua palestra, Malala destacou como a tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para a transformação social e para a promoção da igualdade de gênero.
Foto: João Lopes.

Um dos principais tópicos discutidos foi o impacto da inteligência artificial (IA) nas operações empresariais. A IA está revolucionando a maneira como as empresas operam, oferecendo soluções inovadoras para otimização de processos, personalização de experiências do cliente e tomada de decisões baseadas em dados. Empresas de diversos setores estão adotando tecnologias de IA para se manterem competitivas em um mercado cada vez mais dinâmico.

Durante o evento, especialistas apresentaram casos de sucesso e discutiram as melhores práticas para a implementação de IA. Empresas como Magazine Luiza, Natura e Banco do Brasil destacaram como estão utilizando inteligência artificial para melhorar a eficiência operacional, prever demandas e oferecer um atendimento mais personalizado aos clientes. A tecnologia está permitindo uma transformação digital que antes parecia impossível, tornando-se uma ferramenta essencial para o crescimento e inovação nos negócios.

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O VTEX DAY 2024 reforçou a importância de preparar as empresas para a transformação digital e de garantir que as novas gerações tenham acesso às ferramentas tecnológicas necessárias para prosperar em um mundo em constante evolução.
Foto: João Lopes.

 

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O congresso atraiu grande público em São Paulo. Palestras inspiradoras e workshops dinâmicos marcaram o encontro, destacando a importância da inteligência artificial e da inclusão tecnológica para jovens e empresas.
Foto: João Lopes.

Outro tema de grande relevância foi a inclusão de crianças e adolescentes no mundo da tecnologia. Programas de educação tecnológica voltados para jovens estão ganhando cada vez mais importância, preparando as novas gerações para um futuro onde a tecnologia estará presente em todas as esferas da vida. Iniciativas como, por exemplo, cursos de programação, oficinas de robótica e clubes de ciência foram destaque no evento. Essas atividades não só desenvolvem habilidades técnicas, mas também estimulam o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de problemas. Empresas e organizações educacionais apresentaram projetos que buscam democratizar o acesso à tecnologia, especialmente para jovens de comunidades carentes. "A tecnologia, quando utilizada de maneira consciente e educativa, pode ser uma ferramenta poderosa para estimular o aprendizado, a criatividade e o pensamento crítico. É essencial que integremos essas ferramentas no cotidiano dos jovens de forma equilibrada. Aqui destacamos como a educação tecnológica pode preparar nossos jovens para os desafios do futuro, oferecendo-lhes oportunidades iguais e incentivando a inovação desde cedo", diz Ilda Aparecida, psicóloga convidada pelo evento.

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Corredores lotados durante todo o dia. Foto: João Lopes. 

 

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Grafite da Malala feito no evento minutos antes de sua palestra começar. Foto: João Lopes.  

 

A Capela dos Aflitos é um símbolo de resistência ao apagamento histórico do bairro
por
Ana Julia Bertolaccini
Maria Elisa Tauil
Raissa Santos Cerqueira
|
03/06/2024 - 12h

O bairro da Liberdade, localizado no centro da cidade de São Paulo, é conhecido pela população paulistana por sua história diretamente ligada a imigração japonesa ocorrida principalmente entre os anos de 1917 e 1940. A Liberdade hoje é tomada pela cultura oriental, desde sua arquitetura com diversas referências às construções japonesas como as luminárias presentes na Praça da Liberdade que se estendem pela a Rua Galvão Bueno, o comércio local voltado principalmente para produtos de origem asiática e os festivais realizados no bairro que celebram a cultura dos imigrantes que ocupam o lugar. Mas as ruas hoje repletas de referências a população nipônica ocupante do bairro ocultam uma história que não possui nenhuma relação com a população amarela. 

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Luminaria japonesa e detalhes da Capela dos Aflitos. Foto: Maria Elisa Tauil/AGEMT 

Muito antes da ocupação japonesa, o bairro da Liberdade foi palco de muitas das atrocidades cometidas durante o período escravocrata. A praça da Liberdade situada no centro do bairro está onde um dia foi a forca na qual os negros escravizados eram mortos por seus senhores durante o período. Há 350 metros da praça da Liberdade, na praça Dr. João Mendes, já no bairro da Sé, é onde estava situado o pelourinho da cidade, lugar utilizado para aplicar castigos físicos aos escravos. A Igreja da Santa Cruz, ou Igreja das Almas que está também no ponto central do bairro recebe seu nome em homenagem aos homens que foram mortos onde hoje ela se situa e tem por nome inteiro: Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados. Mais à frente, seguindo pela Rua dos Estudantes, a direita, na Rua dos Aflitos - popularmente conhecida pelos frequentadores do bairro como Rua do Mijo - está localizada a Capela dos Aflitos. 

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Capela dos Aflitos. Foto: Raisa Santos Cerqueira/AGEMT

Construída em 1779, em cima do Cemitério dos Aflitos, que ali funcionou de 1775 a 1858, ela é um ponto de devoção e adoração ao santo popular Francisco José das Chagas, Chaguinhas, que foi morto no ano de 1821 em uma execução pública feita na Praça da Liberdade. “Tentaram enforcar ele três vezes e três vezes a corda arrebentou” conta Sandra, que trabalha como monitora na Capela: “Esse martírio durou o dia todinho, e só no final do dia ele foi morto a pauladas. Durante as tentativas de enforcamento, havia um coro de pessoas gritando “liberdade, liberdade" e a partir daí surgiu o nome do bairro” explicou ela. 

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Sandra, monitora da Capela. Foto: Ana Julia Bertolaccini/AGEMT

Apesar da denominação de capela e possuir uma arquitetura que muito se assemelha às construções católicas, a Capela dos Aflitos não é um território dedicado ao catolicismo. O espaço possui diversos simbolismos que são ligados às religiões de matriz africana, Haroldo de Xangô, como gosta de ser chamado, é um dos responsáveis pela administração do  lugar. Conta que apesar das ligações com a igreja católica o território da capela ainda pertence aos negros e indígenas e acrescenta que “A cruz vazada é a cruz utilizada dentro dos cemitérios pagãos, aqueles que não acreditavam em Cristo, ou que acreditavam em outras divindades e não em uma só e a cruz pagã está centralizada bem no meio da porta, ou seja esse território é pagão.”

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Detalhes da Capela dos Aflitos. Foto: Maria Elisa Tauil/AGEMT

Mesmo com sua grande importância histórica a Capela dos Aflitos foi negligenciada pelo poder público durante anos e embora seu prédio seja tombado como patrimônio histórico de São Paulo sua estrutura ficou sem manutenção por muito tempo. O projeto de restauração da capela foi aprovado em 2011, mas só foi iniciado no final de 2023. Esse novo projeto prevê muitas mudanças tanto no interior quanto no exterior do prédio e também visa construir o Memorial dos Aflitos, que tem como objetivo se tornar um centro cultural e um espaço em que os remanescentes humanos sejam guardados de maneira correta. 

Os fiéis se movimentam pelo restauro da capela desde 2018 quando um sobrado ao lado foi demolido fazendo surgir novas rachaduras no prédio. Diante do ocorrido os frequentadores da capela se uniram e fundaram a Unamca (União dos Amigos da Capela dos Aflitos) a fim de pressionar o poder público para que enfim dessem andamento no projeto de restauração. A proprietária do terreno ao lado pretendia construir ali um centro comercial, mas irregularidades no obra foram denunciadas pela Unamca e por possuir valor arqueológico o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) e o Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) exigiram que o local fosse fechado para estudo; que revelou nove ossadas que estavam enterradas ali. 

A Unamca também se esforça para manter a memória do local viva e realiza diversos eventos na região tais como: a Festa do Chaguinhas, a Festa de São Benedito e a Festa de Santo Antônio do Categeró. Eles também disponibilizam palestras e oficinas que incentivam a educação e o reconhecimento sobre a resistência negra e indígena do bairro. 

Antes de ser fechada para reforma o horário de funcionamento da capela era das 09:00 às 16:00 e recebia fiéis, pesquisadores e visitantes de diferentes lugares. “A capela é importante pra gente porque ela guarda e preserva a nossa história, aquela que não está nos livros” afirma Sandra “Toda vez que a gente vem aqui e conta essa história, a gente tá revivendo aquele tempo e tá dizendo: A história presente é importante, mas história passada também é importante porque a gente tem que saber de onde a gente veio.” 

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Foto : Raissa Santos Cerqueira/AGEMT
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Foto: Maria Elisa Tauil/AGEMT

 

O podcast é uma conversa com a diretora de cinema Tatiana Lohmann, sobre a aprovação da cota de tela para o cinema
por
Annanda Deusdará
Maria Luisa Lisboa
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03/06/2024 - 12h

O podcast é uma conversa com a diretora de cinema Tatiana Lohmann, sobre a aprovação da cota de tela para o cinema e qual o impacto dessa medida para o setor audiovisual brasileiro. Além da nova lei, o papo também aborda a importância que o governo atual e o anterior deram para cinema. Ouça aqui:

Créditos: Entrevistada - Tatiana Lohmann -

Repórter- Maria Luisa Lisboa

Roteiro - Annanda Deusdará e Maria Luisa Lisboa 

Edição - Annanda Deusdará 

Imagem - Divulgação Ancine 

Descubra as maravilhas que existem no território caribenho
por
Júlia Takahashi
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29/05/2024 - 12h

“Sou América Latina, um povo sem pernas, mas que caminha”. Esse trecho faz parte da música “Latinoamérica”, do grupo Calle 13, em parceria com diferentes cantoras latinas como Maria Rita, brasileira, Susana Baca, peruana, e Totó la Momposina, colombiana. A música traz a beleza e diversidade da América Latina em contraponto com a dominação e exploração de grandes potências. Calle 13 é um grupo porto-riquenho que exalta a cultura latina, mas principalmente seu país de origem, e é para lá que AGEMT vai: Porto Rico.

Localizado na América Central, no Nordeste do Caribe, Porto Rico é um ilha com várias ilhas menores, repleto de montanhas, floresta tropical, praias e uma das maiores redes de cavernas da América. O território pertence aos Estados Unidos desde 1898, porém, os moradores da ilha não têm direito de votar nas eleições presidenciais do país e não tem representação eleitoral no Congresso, mas respondem às leis norte-americanas.

 

ruelas do centro antigo
Ruelas do centro antigo / por Dennisvdw

A capital, San Juan, foi fundada em 1521, é a segunda cidade mais antiga das Américas e considerada Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO. A arquitetura da cidade é  chamativa, coberta por casas coloniais coloridas do século XVII e XVIII.

O centro e as praças são pontos que chamam a atenção dos visitantes por suas ruelas antigas, tradicionais e arborizadas e a sua. Mas, não podemos deixar a natureza porto-riquenha de lado: o Parque Las Cavernas del Río Camuy é o maior sistema de cavernas do mundo, com cerca de 220 na região, além da Playa Flamenco, que está entre as 10 mais bonitas do mundo pelo Traveler’s Choice 2015 TripAdvisor.

Porto Rico é muito procurada pelas suas águas bioluminescentes, causado pela presença de microrganismos que criam um efeito natural quando são manifestados, hipnotizando todos seus visitantes. A Baía dos Mosquitos, localizada na Ilha de Vieques, é a mais famosa e é considerada a mais brilhante do mundo.

Mosquitos Bay
Mosquitos Bay - foto por Daniela Paolucci 

 

Em San Juan, é possível encontrar os principais museus do território. O Museu de Arte de Puerto Rico é um dos maiores museus de arte do Caribe e abriga 24 galerias em alas históricas e modernas, além da arquitetura e o jardim serem uma verdadeira obra-prima. O Museo de las Américas também não fica de fora. Com exposições sobre a colonização, povos indígenas e africanos, o museu está localizado em uma antigo alojamento de soldados espanhóis, construído no século XIX.

Ainda, para os amantes do modernismo, o Museo de Arte y Diseño de Miramar chama a atenção pelo seu impressionante prédio, construído em 1913. Suas exposições percorrem a relação forma e função da arte por objetos modernos de eletrodomésticos. A ilha também é berço de Jennifer Lopez e do antigo grupo dos anos 80, Menudo, do qual Ricky Martin fazia parte.

Outro ponto turístico histórico são as fortificações da Velha San Juan, instituído como Patrimônio Mundial da UNESCO, em 1983. Essas estruturas são importantes  para a cidade de San Juan, pelo papel de defesa da região contra o Império Espanhol no Caribe, durante o período colonial.

Forte de Velha San Juan
Forte de Velha San Juan - foto por caribbbeanislands

Com certeza, Porto Rico é um território importante da América Latina, mesmo pertencendo aos Estados Unidos. O grupo Calle 13 engrandece não só a região de origem, mas nos faz ter orgulho do nosso sangue latino. AGEMT segue pelo mundo, e já temos encontro marcado no próximo destino. Até lá!