O número de refugiados no Brasil vem crescendo a cada ano. Só no ano de 2018, segundo a Agência da ONU Para Refugiados (ACNUR) foram relatadas 80 mil solicitações de reconhecimento de condição de refugiado no Brasil. Os grupos de maior número entre as solicitações são os venezuelanos (61.681), que saíram do país devido à crise humanitária, e os haitianos (7.030), cujo fluxo de migração se intensificou após o terremoto que atingiu o país em 2010.
A lei brasileira considera refugiado todo indivíduo que está fora de seu país de origem devido a guerras, terremotos, miséria e questões relacionadas a conflitos de raça, religião, perseguição política, entre outros motivos que violam seus direitos humanos. Isso pode acontecer, por exemplo, quando a vida, liberdade ou integridade física da pessoa corria sério risco no seu país.
Para que o imigrante seja reconhecido como refugiado, é necessário enviar uma solicitação para o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE). O processo de reconhecimento, que antes era mais burocrático e mais demorado, atualmente é feito no site do Ministério da Justiça, a partir do preenchimento do formulário que pode ser feito ainda no país de origem. Todas as etapas podem ser acompanhadas pela internet, mas para o processo começar a tramitar, o solicitante deverá comparecer pessoalmente a uma unidade da polícia federal.
Dentre a população refugiada reconhecida no Brasil, segundo o censo da ACNUR de 2018, a maioria se concentra nas faixas etárias de 30 a 59 anos (41,80%), seguido de pessoas com idade entre 18 a 29 anos (38,58%). Do total, 34% são mulheres e 66% são homens, ressaltando os sírios, os congoleses como nacionalidades em maior quantidade (respectivamente 55% e 21%).
Em janeiro de 2020, o Brasil tornou-se o país com maior número de refugiados venezuelanos reconhecidos na América Latina, cerca de 17 mil pessoas se beneficiaram da aplicação facilitada no processo de reconhecimento, segundo a Agência da ONU para Refugiados. As autoridades brasileiras estimam que cerca de 264 mil venezuelanos vivem atualmente no país. Uma média de 500 venezuelanos continua a atravessar a fronteira com o Brasil todos os dias, principalmente para o estado de Roraima.
Apesar de em grande quantidade, apenas 215 municípios têm algum tipo de serviço especializado de atenção a essa população. As maiores dificuldades encontradas por pessoas refugiadas são a adaptação com o mercado de trabalho, com o aprendizado do idioma, o preconceito e a xenofobia, educação (muitos possuem diplomas em seus países de origem que não são aceitos aqui no Brasil), moradia e saúde.
Covid-19 e o amparo aos refugiados
Diante de um quadro de crise em escala global, como o que acontece este ano com a pandemia da Covid-19, essa população de migrantes e refugiados, que já se encontram em extrema vulnerabilidade, conta com o apoio de poucas instituições voltadas especialmente para suas necessidades. Este é o caso da Missão Paz, uma instituição filantrópica de apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados, com uma das sedes na cidade de São Paulo, como conta o padre Paolo Parise.
Nascido e criado na Itália, Parise atua desde 2010 na Missão Paz, atualmente como um dos diretores, e explica que esta instituição está ligada a uma congregação da Igreja Católica chamada Scalabrinianos, que atua com imigrantes e refugiados em 34 países do mundo. “Na região do Glicério - município do estado de São Paulo-, a obra se iniciou nos anos 30 e atualmente está presente em Manaus, Rio de Janeiro, Cuiabá, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Foz do Iguaçu, Corumbá e outros lugares.”
Sua estrutura atual conta com a Casa do Migrante, um abrigo com capacidade de 110 indivíduos que são acolhidos com alimentação, material de higiene pessoal, roupas, aulas de português, acompanhamento de assistentes sociais e apoio psicológico; e o Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes (CPMM) que oferece atendimento e serviços voltados aos imigrantes, quanto aos seguintes temas: documentação e jurídico; trabalho, capacitação e cidadania; saúde; serviço social; família e comunidade. “Além disso, temos a área de pesquisa em parceria com a revista Travessia, que é o Centro de Estudos Migratórios (CEM), uma biblioteca especializada em migração e a WebRadio Migrantes”, completa Pe. Paolo.

De acordo com o diretor, o maior desafio enfrentado pela instituição, durante a pandemia, foi com a saúde dos refugiados, principalmente pela impossibilidade de viver a quarentena isoladamente, já que muitos vivem em ocupações ou em lugares com muitas pessoas concentradas. Ele ainda denunciou que, dentre tantas vítimas da Covid-19 em São Paulo, um dos grupos mais afetados foi o de imigrantes bolivianos, “muitos foram contaminados e muitos morreram”.
Diante de instabilidades políticas e econômicas, atualmente, sírios e venezuelanos são as principais nacionalidades afetadas que solicitam entrada no país. O que ratifica o Pe. Parise, “Falando pela Missão Paz, se você utiliza o termo ‘refugiados’, o maior grupo neste momento é de venezuelanos, sejam os que foram acolhidos pela missão paz, sejam os que estão entrando no Brasil. E depois encontramos outros grupos como da República Democrática do Congo. Mas se falamos de imigrantes, temos Colombianos, Bolivianos, Paraguaios, Peruanos, Angolanos e de outros países que estão recorrendo ao Brasil.”
Mesmo com mudanças críticas, no cenário jurídico e político brasileiro, para que esta população seja recebida no país e tenha seus direitos respeitados, ainda não se pode falar em auxílio do governo ou medidas diretas de apoio a refugiados e imigrantes.
Paolo relembra a criação de leis que têm beneficiado a população no Brasil. Uma delas é a lei municipal Nº 16.478 de 2016, onde o Prefeito do Município de São Paulo, Fernando Haddad, instituiu a Política Municipal para a População Imigrante que garantia a esses o acesso a direitos sociais e aos serviços públicos, o respeito à diversidade e à interculturalidade, impedia a violação de direitos e fomentava a participação social; e a outra é a lei federal Nº13.445 de 2017, ou a nova Lei de Migração, que substitui o Estatuto do Estrangeiro e define os direitos e deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante.
A Missão Paz se mantém através de projetos e dinheiro injetado pela congregação da Igreja Católica. “Neste momento, a Missão Paz não recebe apoio financeiro nem do município, nem do estado e nem do Governo Federal”, relata Parise. Durante a pandemia receberam ajuda da sociedade civil, “[A Instituição] Conseguiu muitas doações de pessoas físicas, de instituições, de campanhas, fosse em dinheiro, em cestas básicas ou kits de higiene pessoal”, e com 200 cestas básicas, por mês, da Prefeitura de São Paulo. Também receberam ajuda com testes de COVID em nível municipal.
A instituição filantrópica ainda conta com a ajuda de vários parceiros, como explica seu diretor “na área de incidências políticas, por exemplo, nós atuamos com a ONG Conectas Direitos Humanos, temos na área de refugiados um projeto com a ACNUR, estamos preparando outro com a OIM (Organização Internacional para as Migrações) e temos algumas ações com a Cruz Vermelha”.
Desde o começo do ano, já atenderam por volta de 7 mil imigrantes e refugiados, e, hoje em dia, tem por volta de 40 pessoas na Casa, o que representa ⅓ da capacidade total. Além disso, entregam de 50 a 60 cestas básicas a refugiados, diariamente, e ao redor de 60 a 70 que vão, por dia, procurar os serviços do CPMM. “Outras ações incluíram a disponibilização de atendimentos online, de aulas de português a atendimentos jurídicos, psicológicos ou serviços sociais, além de ajudar a completar aluguel, água ou luz daqueles que precisam da ajuda da instituiçã”, fala Padre Paolo.
Todo esse esforço e dedicação da instituição foi feito, sempre, visando seguir as normas de segurança e as indicações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Foram fornecidos a seus funcionários e a população migrante e de refugiados álcool para higienizar as mãos, máscaras e demais equipamentos e serviços de proteção e higiene.
Há um ano acontecia o simpósio “90 anos de Maurício Tragtenberg: Pensar é resistir”. Doris Accioly e Silva analisa o pensamento de Maurício Tragtenberg e suas influências. A professora da Unicamp também vai além: ela busca entender, como Maurício lia e interpretava esses autores, e como, a partir deles, conseguiram interpretar
Doris acrescenta o valor inigualável da pesquisa de Maurício, e a forma única com que ele pesquisava e desenvolvia seu pensamento. A professora comenta, também, como Maurício era generoso e que não se pode, jamais, desprezar algum autor. Mesmo não concordando com conteúdo ou corrente de pensamento, é importante lê-los e debatê-los.
Maurício demonstrava grande interesse pela figura ambígua de Walter Rathenau, e procurava estudá-la com mais profundidade. Tragtenberg, criticava a burocratização no exercício do poder.
Pedro Porcino conta como conheceu Mauricio Tragtenberg em 1984 em pleno processo de redemocratização e, claro, como ajuda que Maurício deu a ele e toda classe sindical foi valiosa. Mais de 30 anos após os eventos, Porcino, nos faz relembrar como os ensinamentos de Maurício e suas visões na classe sindical faz ainda mais sentido nos dias atuais. Maurício conseguia unir o meio acadêmico com a prática. Eis um exemplo: Maurício não escrevia apenas para os alunos e a academia, ele escrevia para os trabalhadores, escrevia para todos.
Lucia Bruno comenta como a visão de Maurício Tragtenberg sobre associações, sindicatos, movimentos sociais - e como suas dicas fazem sentido hoje, analisando o movimento social e sindical que perdeu força. Maurício participou ativamente nestas questões nos anos 70 e 80.
A AGEMT relembra a fala do ex-aluno de Maurício, Edson Passetti, formado em Ciências Sociais pela PUC - SP, sobre a forte atitude de contestação do sociólogo.
Durante a fala na mesa "O Pensamento de Maurício Tragtenberg e as Práticas de Liberdade" , Passetti comentou sobre a importância de um mestre no aprendizado dos jovens, principalmente nos tempos atuais, com excesso de tecnologia e informação:
O cientista social contou também sobre a ocasião em que Maurício questionou os alunos em sala de aula se eles já tinham pensado em votar no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido político brasileiro que abrigou os opositores da ditadura militar brasileira, fazendo-os refletir:
Passetti, no fim de sua fala, diz que acredita ser válida a discussão acerca da presença dos textos de Maurício no programa das faculdades atuais, já que esses teriam muito a acrescentar aos jovens universitários de diversos cursos:
A historiadora, filósofa e professora colaboradora no IFCH da UNICAMP, Margareth Rago, participou da mesa três: O Pensamento de Maurício Tragtenberg e as Práticas de Liberdade do encontro “90 anos de Mauricio Tragtenberg: Pensar é resistir”.
Ela encerrou sua fala sobre seu contato com o anarquismo, grande alvo de estudo do sociólogo, fazendo uma analogia a fim de mostrar como ela enxerga esse espírito revolucionário de Maurício.
Durante a mesa "Coleção Maurício Tragtenberg e a Atualidade do Pensamento Tragtenberguiano", o pensador marxista brasileiro e diretor do CNRS na França, Michael Löwy, que conheceu Maurício através de um evento sobre Kafka, comentou sobre a o caráter inovador e corajoso do pensamento de Tragtenberg.
Löwy discorreu sobre a atualidade das ideias de Maurício diante do nosso cenário político atual e se referiu a ele como um verdadeiro remédio contra a ameaça de fascismo: “o pensamento do Maurício é o melhor antídoto para esse veneno”.
Em homenagem aos 90 anos do sociólogo Maurício Tragtenberg, a PUC-SP realizou o colóquio “Pensar é resistir”. O evento contou com a presença do professor titular do Departamento de Filosofia da PUC-SP, Antonio Valverde, que em sua fala expressou admiração pelas ácidas críticas de Maurício à ordem social.
O colóquio “90 anos de Mauricio Tragtenberg: Pensar é resistir” faz um ano, assim como esse mês a morte de Maurício faz vinte e dois anos. A discussão apresentada na mesa quatro foi encerrada pelo professor e diretor-presidente da Fundação Editora da Unesp, Jézio Hernani B. Gutierre, responsável por possibilitar a publicação da coleção Mauricio Tragtenberg.
A AGEMT relembra a declaração de Jézio acerca da importância de manter a obra do sociólogo sempre viva, ao invés de transformá-la em algum tipo de relicário.
A pandemia foi sentida de diferentes formas ao redor do mundo, enquanto alguns países como a Alemanha estão em sua segunda onda, outros lugares como a província de Newfoundland no Canadá mal tiveram a primeira.
A estudante Lacey Marshall de Newfoundland no Canadá teve no total apenas três semanas de quarentena neste ano, isso porque segundo o levantamento feito pelo Governo de Newfoundland a província teve apenas 292 casos de infectados pelo vírus.
Mesmo com o número de casos baixo e um curto período de quarentena, a província mantém a recomendação de uso de máscaras e distanciamento social. As aulas voltaram presencialmente em algumas escolas, mas Marshall ainda está com as suas online.
Ela não está mais isolada em casa, mas evita ao máximo encontrar diferentes grupos de amigos na mesma semana “Prefiro me reunir sempre com o mesmo grupo de amigos e com máscara”.
Para a canadense o isolamento foi momento de organizar a vida e realizar atividades diferentes “Me senti mais feliz do que antes durante o isolamento, a saudade de contato físico é pequena”.
Ao contrário dela , as estudantes alemãs Lilli Grandt de Hamburgo e Lisa Spiller de Stuttgart sentiram bastante as consequências da pandemia, a falta de contato com outros gerou desmotivação e afetou algumas amizades. Spiller que tem como hobby principal a escalada, está achando muito difícil não poder fazer a atividade este ano.
As estudantes tiveram poucas aulas online, Grandt teve o ano escolar encerrado um pouco mais cedo que o normal. O calendário escolar na Europa é diferente do Brasil e vai do mês de agosto até junho.
A Alemanha teve seu primeiro isolamento entre Março e Junho e, agora no mês de Novembro, entrou em sua segunda quarentena que terá o mínimo de um mês de duração.
A diferença entre as duas quarentenas é que a segunda manterá as aulas presenciais e algumas outras atividades básicas funcionando.
Ao final da primeira quarentena a Alemanha voltou a funcionar apenas com algumas restrições, Spiller viajou para encontrar uma amiga em outro estado e Grandt voltou a sair e ver seus amigos normalmente. A única coisa que mudou nos encontros é o uso de máscara que na Europa é obrigatório em locais públicos e a multa para quem não cumpre a regra pode chegar a dois mil e quinhentos euros.
As três estudantes possuem opiniões diferentes sobre a situação da pandemia, uma vez que as experiências também são diferentes. Spiller acredita que a fase que está vivendo da pandemia é difícil, mas as relações com amigos e família merecem uma maior atenção e importância “É momento de escolhas difíceis”.
Grandt acha o momento complicado pela solidão, mas entende que é algo necessário para controlar o vírus e para Marshall a situação é de incertezas e aprendizado “As adaptações devem ser feitas por todos, devemos aprender a viver desta nova maneira juntos”.
Diferente destes países, o Brasil segue com números altos de infectados e mortos assim como incertezas enormes sobre as condutas que devem ser tomadas, o país está dividido entre a ciência e a política.
A maioria das escolas e universidades continuam fechadas. Diferente da Alemanha e de Newfoundland no Canadá, aqui não se sabe quando voltaremos a ter aulas presenciais e o ensino remoto está cheio de falhas.
O famoso jargão “crianças são o futuro”, pode não ter tanto sentido daqui a algumas décadas. Uma pesquisa realizada pelo IBGE mostra como a população brasileira está envelhecendo rapidamente.
Com esse envelhecimento, muitas mudanças poderão ocorrer, principalmente na empregabilidade. Segundo a psicóloga Aparecida Azevedo, devemos ver a terceira idade como mais uma etapa de desenvolvimento e não como a última etapa de vida.
“É necessário que possamos descontruir o estigma de marginalização da população idosa e mostrar que, ‘ir para os aposentos’ como a aposentadoria sugere, pode não ser a opção mais viável para muitos e que oportunidades de emprego nesta fase podem ser uma conquista social e não uma ameaça às futuras gerações.”
José se formou em Ciências Físicas e Biológicas em 1969, no período do “milagre econômico”, onde a economia brasileira cresceu admiráveis 14%. “Quando eu me formei, tinha dois empregos e estava à procura de outro”
Cinquenta anos separam o Seu José do jovem João, que escolheu a profissão de contador. Ainda não se formou, mas já está em busca do emprego. “Hoje em dia, experiência é tudo e é isso que eles procuram. E, como é o primeiro emprego, essa experiência não existe. Dessa forma, não consigo emprego” ressalta o estudante João Venegas.
Para o jovem, está cada vez mais difícil ingressar no mercado de trabalho. Durante boa parte da nossa história, a maioria da população foi formada por jovens. O Brasil não tem experiência em ser um país de pessoas experientes. O desafio agora é enfrentar os novos problemas sem esquecer as antigas barreiras.

Essa barreira que se enfrenta ao tentar ingressar no mercado de trabalho, afeta não só os jovens, como também a economia. O jovem que demora, para entrar nesse mundo, quando entra, está com a produtividade baixa, o que acarreta em pequena produção e o não crescimento da economia.
Hoje, para cada 100 pessoas em idade para trabalhar, há 44 indivíduos menores de 15 anos ou maiores de 64 – patamar maior que o de outros emergentes, como China (37,7) e Rússia (43,5), mas ainda bem abaixo ao de países desenvolvidos e com elevado percentual de idosos como Japão (64) e França (59,2).
Segundo a professora de fisioterapia especializada em gerontologia Tereza Cristina Alvisi, o envelhecimento se dá pela queda na baixa taxa de fecundidade. “
Dessa forma, daqui a 40 anos, o cenário da população impacta no números de pessoas na idade reprodutiva, sendo necessário que esses indivíduos recebam incentivos para que tenham filhos – população que sustentará os idosos- ou na criação de projetos para mão de obra imigrante.
Em setembro deste ano, as queimadas no pantanal se intensificaram de tal forma que os focos de calor ultrapassaram 5.600 em número, superando o recorde do mesmo mês em 2007, de 5.498 (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O turismo internacional no Brasil já havia sofrido grande impacto por conta da pandemia da covid-19 que fechou as fronteiras, e agora, as queimadas no Pantanal podem prejudicar a conservação de onças via turismo e a proteção garantida no Parque que esteve em contato com o fogo.
Grande parte das regiões brasileiras possuem uma vasta área que poderia tornar o Brasil referência, se não o foco, do ecoturismo mundial. Seja por conta dos Pampas Gaúchos no Sul do país, as praias de Salvador no Nordeste, a Floresta Amazônica no Norte, trechos da Mata Atlântica no Sudeste ou o Pantanal no Centro-Oeste; o fato de ser possível potencializar a economia brasileira e, ao mesmo tempo, acabar com o extrativismo madeireiro e queimadas, deveria tornar o potencial do turismo brasileiro pauta nos grandes jornais do país.
Luciano Palumbo, fundador do Turismoetc, que conta com grande acervo de informações sobre viagens, gastronomia e entretenimento; e embaixador do GreenPress, Rede de Turismo Consciente sem fins lucrativos, composto por uma equipe de 27 jornalistas e formadores de opinião, aponta que o grande motivo da falta de interesse da mídia em dar voz aos nossos biomas fora das tragédias que eles sofrem, é por conta, na verdade, do desinteresse da população: “grande parte dela, não liga para as questões ambientais, não liga para as queimadas na Amazônia”. Apesar de em pesquisas a população se colocar a favor da proteção do ecossistema brasileiro, pouco se fala dele quando nada visualmente alarmante está acontecendo.
Pesquisa feita pela WWF-Brasil aponta que dois em cada três brasileiros não sabem onde se localiza o Bioma do Pantanal, o que é um grande indicador do porquê só se ouve falar e só se fala dos nossos biomas quando eles estão em imediato perigo. Outra questão levantada durante entrevista com o jornalista, é se essa desinformação não parte da falta de interesse do brasileiro em fazer turismo dentro do país.

“Ainda falta o brasileiro conhecer mais do Brasil, temos o sonho de viajar para a Disney, Buenos Aires, de conhecer a Itália, de pisar na Torre Eiffel, mas a gente não conhece o interior do nosso país. Não conhecemos a riqueza que temos no Pantanal, na Serra Gaúcha, na Amazônia, no Cerrado...”
Michelle Alves, de 26 anos, publicitária e dona do blog e maior canal de intercâmbio do Brasil no youtube, “Mi Alves”, compartilha do mesmo pensamento, “A grande maioria dos brasileiros desde cedo aprecia os EUA, o frio da Europa, as Praias do México, mas esquece como o Brasil é diverso e bonito,” e que acredita que um dos motivos disso é a comparação dos preços entre viagens nacionais e internacionais, o que gera a pergunta “Com esse dinheiro eu vou para tal lugar, não vou gastar isso tudo para ficar no Brasil...” e que a escassa divulgação do turismo brasileiro se concentra na chamada de estrangeiros e não com intuito de atrair pessoas do próprio país. Dados retirados do Plano Nacional de Turismo 2018-2022, revelam que menos de um terço da população viajam pelo Brasil e que, ainda assim, essa locomoção representava, em 2016, 3,5% do PIB do setor de viagens e turismo, o que torna simples ver a dimensão que o turismo doméstico poderia tomar caso impulsionado.

“Um ou outro estado que cria campanhas pontuais para atrair a atenção de outros brasileiros, falo isso porque moro em Blumenau e aqui só tem campanha pra conhecer a cidade na época da Oktoberfest, mas a cidade é muito mais que a festa, tem muitas coisas legais pra fazer.”
Valorizar o turismo nacional parte de duas frentes: a vontade do viajante “O primeiro caminho, é mudar o foco”, aponta Palumbo; e a valorização e consumo da chamada Mídia Ambiental, que diferente da cobertura de outros veículos - que termina assim que o problema é controlado, - mantém o assunto em foco, visando estudar e oferecer diagnósticos sobre as consequências, causas e repercussão, o que pode gerar uma parceria sobre como o turismo ajuda a preservar o meio ambiente; além da divulgação de nossos biomas, não como alvo de tragédias, mas como agentes potenciais da economia e ecossistema, como aponta Alves “A informação nas mídias sobre esses biomas e como protegê-los, deveria ser diária.”