Grande nome da luta antirracista, pensadora reforça sua aliança com vozes progressistas do Sul Global
por
Ana Julia Mira
Victória Miranda
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06/05/2025 - 12h

Uma das principais vozes do feminismo negro, Angela Yvonne Davis, fez parte do grupo revolucionário “Panteras Negras” e do Partido Comunista dos Estados Unidos. Além disso, foi amiga de Herbert Marcuse, um dos principais filósofos da Escola de Frankfurt. Marcuse foi seu orientador durante o tempo em que ela passou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e a incentivou a explorar suas ideias revolucionárias de forma mais profunda. Ele foi uma grande influência sobre seu entendimento do socialismo, feminismo e teoria crítica. "A liberdade é uma luta constante. Não há fronteiras para a luta pela liberdade", diz trecho do livro "A liberdade é uma luta constante”, um de seus livros de grande repercussão.

Angela Davis tem uma forte ligação com a música, especialmente com o jazz. Ela costumava frequentar os clubes de jazz em Los Angeles e é fã de artistas como John Coltrane e Miles Davis, cujos trabalhos influenciaram sua visão artística do mundo. Além disso, Davis mantém uma profunda admiração pelo Brasil. Suas visitas ao país ao longo dos anos, revelam não apenas um interesse político, mas também um verdadeiro afeto pela cultura brasileira e pelos movimentos sociais locais. “Tive a oportunidade de conhecer Lélia Gonzalez, e minha percepção é que nós temos muito o que aprender com os movimentos do Brasil”, disse ela em sua passagem a São Paulo em 2019 durante sua participação em um ciclo de debates e palestras que aconteceu também no Rio de Janeiro.

Ela reconhece no Brasil um território fértil para o debate sobre raça, gênero e justiça social  “Há uma vibração, um pulso coletivo nos jovens, principalmente nas mulheres negras e jovens, que é muito grande”, diz Davis. Esse carinho pelo país latino-americano se estende desde 1997, quando esteve pela primeira vez em nosso solo, mais especificamente na Bahia, em evento que celebrava o legado da ativista negra Lélia Gonzalez. No geral, em todas as suas passagens pelo país, participou de conferências, encontros com lideranças de movimentos negros e feministas, além de fortalecer laços com intelectuais e artistas comprometidos com a transformação social.

Davis afirma ver no país uma esperança para a luta das mulheres negras e não enxerga a necessidade de buscarem nela uma referência para o feminismo negro, quando ela mesma aprende com figuras como Marielle Franco, Carolina de Jesus e Lélia. Também se posicionou incisivamente diante de questões políticas brasileiras. Durante o lançamento de sua autobiografia “A liberdade é uma luta constante”, pela editora Boitempo, em 2019, se mostrou atenta ao cenário nacional ao defender a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente da República. No mesmo evento, Davis pediu justiça por Marielle Franco, que havia sido vítima de assassinato no ano anterior. 

Angela retornou ao Brasil, em 2024, para participar da abertura da terceira edição do Festival LED falando sobre a educação como ferramenta para a libertação, momento em que exaltou outra figura brasileira: Paulo Freire, dizendo o considerar o maior educador do mundo. Durante o evento, também se posicionou contra a PL Antiaborto, que estava em discussão na época, e a retirada do livro “O menino marrom” de escolas municipais de Minas Gerais. Afirmou que esses movimentos fazem parte de um crescimento conservador que vem afligindo todo o mundo.

Pesquisa aponta redução de cerca de 7 milhões de leitores no Brasil nos últimos quatro anos
por
Ana Clara Souza
Juliana Salomão
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10/05/2025 - 12h

No dia 23 de abril, quando se celebra o Dia Mundial do Livro, a homenagem aos autores e obras contrasta com um cenário preocupante: o Brasil está lendo menos. Dados da 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, revelam uma redução de 6,7 milhões de leitores nos últimos quatro anos, reacendendo o debate sobre os desafios de manter a leitura como hábito em meio a transformações culturais e digitais. Em 2024, a pesquisa apontou que 53% da população, o que corresponde a 93,4 milhões de pessoas, é composta por não leitores. Isso significa que mais da metade dos brasileiros não leu um único livro, e nem mesmo parte dele, nos últimos três meses. 

“São fatores multifacetados. Não é um único problema. Acho que a queda na leitura do povo brasileiro reforça questões estruturais como, por exemplo, a desigualdade social", diz Bruna Martiolli, mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade do Minho, em entrevista à AGEMT.

Ela reforça que questões estruturais, como a desigualdade social, impactam diretamente o acesso à leitura. Segundo a pesquisa, um dos principais pontos é a disparidade entre as classes sociais. Enquanto 3 milhões de pessoas da classe A são consideradas leitoras (62% desse grupo), nas classes D e E, apesar de o número absoluto ser maior — 19 milhões —, o índice proporcional cai para apenas 35%.

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Foto: Reprodução/Retratos da Leitura no Brasil 


Em Portugal, por exemplo, o público tem consumido cada vez mais livros, registrando um aumento de 9% nas vendas de 2024 em relação ao ano anterior, segundo a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Em entrevista à revista Executive Digest, o presidente da APEL afirmou que este fenômeno é fruto de um esforço coletivo que envolve pais, educadores, autores, organismos públicos e, inclusive, a influência de criadores de conteúdo. Enquanto os portugueses estão tirando proveito das mídias digitais, o Brasil enfrenta barreiras que vão muito além das distrações das telas. Para a professora Bruna, essa contradição revela que o problema na queda da leitura dos brasileiros não se resume a fatores como globalização ou ao uso cada vez maior das redes sociais.

“A gente lida com um país que vive no auge da desigualdade social. A falta de acesso a livros é um problema, e a falta de interesse em ler é outro”, diz ela, que reforça a falta de espaços de incentivo à leitura, como bibliotecas públicas e comunitárias no Brasil, até os altos índices de analfabetismo que persistem e excluem milhões. 

Interesse pela Leitura

Mesmo em um mundo dominado pelo digital, Bruna Martiolli diz não ter “a menor dúvida de que a literatura não corre perigo algum”, pois "por mais globalizados e conectados que estejamos, os seres humanos não conseguem abrir mão daquilo que faz parte da sua essência — a busca pelo sentido, beleza e reflexão da vida. Cedo ou tarde, a literatura encontra o seu lugar", garante. Ainda que o interesse imediato pareça diminuir entre os mais jovens, o fascínio pela leitura, que se mantém desde o surgimento do livro, nunca desapareceu; o encanto apenas se manifesta em momentos diferentes para cada leitor.

Como é o caso da influenciadora digital e apresentadora Giovanna Souza, conhecida como Gih Souza nas redes sociais. “Na minha escola, existia aquele estereótipo do ‘nerd’ que fica lendo. E eu pensava: ‘Não vou ler, não vou ser a nerd que fica lendo’. Deixei esse meu lado pra lá e, na pandemia, comprei um Kindle [aparelho para leitura digital]. Eu falei: ‘Vou voltar a ler’, e comecei a ler muito”, orgulha-se.

O Kindle, dispositivo que permite o acesso e a leitura de diversas obras, é um exemplo da popularidade do mercado de livros digitais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen BookData, em parceria com a Câmara Brasileira do Livro, 30% dos leitores brasileiros compraram livros tanto em formato físico quanto digital no ano de 2024, enquanto 14% optaram exclusivamente pelo formato digital.

O que os criadores de conteúdo digital tem feito para aproximar os jovens da leitura é adaptar, ou “mastigar”, uma obra para os usuários e seus seguidores, por meio de storytellings que funcionam para as redes sociais e para o universo dos algoritmos e vídeos curtos. “Acho que elas [as adaptações] incentivam, sim. Tanto que meus maiores vídeos são quando eu faço resumo dos livros. Às vezes as pessoas gostam de ler para realmente comentar sobre. Gera curiosidade para leitura”, disse Giovanna.

O TikTok, aplicativo chinês famoso pelos vídeos curtos e por ditar as novas tendências na internet, tem se tornado cada vez mais popular entre os jovens. Dentro da rede social, surgiu o movimento “BookTok”, impulsionado por influenciadores digitais, em vídeos são publicados para compartilhar o que o criador está lendo, recomendações e discussões de livros, além de edições e montagens com cenários e roteiros diversos que, das formas mais criativas, incentivam a leitura. 

 

@_gihsouzaf A pergunta de milhões pós #culpatuya é : qual a data de culpa nossa? #culpables #culpamia #nicolewallace #gabrielguevara #culpamiaedit ♬ som original - Gih
A aceleração virou hábito: vídeos em 2x, informações em avalanche e menos tempo para processar o que realmente importa
por
Maria Dantas Macedo
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05/05/2025 - 12h

Cada vez mais pessoas estão consumindo vídeos em velocidade acelerada — 1.5x, 2x, até 3x. A promessa é ganhar tempo. Mas será que estamos realmente aproveitando esse tempo extra? Nesta entrevista em vídeo, vamos investigar como esse comportamento afeta nossa compreensão, saúde mental e a qualidade da informação absorvida. Confira!

 

Em uma discussão sobre tempo e lembranças, Maria Flor e Maria Matilde mostram como o tempo transforma as memórias
por
Isabela Fabiana
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05/05/2025 - 12h

Qual é a sua primeira lembrança do dia de hoje? Pensou? A minha é de acordar e se sentir muito cansada. Mas qual a diferença de lembrança e memória? Será que é o tempo que define? Mas o que é o tempo? Ai estou tão sem tempo! Nem lembro o que comi ontem. Será que comi? Será que estou esquecendo das coisas? E se quando eu ficar idosa eu esquecer de Tudo? Calma, como diz Renato Russo: "temos todo tempo do mundo".

Para essa discussão vamos conversar com dois opostos, mas definitivamente iguais. Maria Flor, 8 anos, e Maria Matilde, 91. Sejam todos bem-vindos ao episódio 01 de Memórias de uma velha infância. Para ouvir o restante do podcast click no vídeo abaixo!

O tempo passa e as memórias também. O esquecimento nos assombra, ele vai chegar. Não é sobre esquecer quem você é, e sim sobre não lembrar das pequenas memórias que você viveu. Maria Flor lembra detalhadamente dos seus primeiros anos, maquiagem escondida da mãe e de seus primeiros aniversários. Maria Matilde até lembra da infância, mas principalmente se recorda dos sentimentos e lições que a formou na vida. O tempo é uma grandeza física, ele é relativo, mas, por favor, não tenha medo dele. Me despeço agora, assim como as memórias de uma velha infância.  

Esporte símbolo do país se torna palco para discussões sobre punições indevidas
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
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05/05/2025 - 12h

A crescente intervenção nas atividades do futebol brasileiro, marcada por regras excessivas e conflitantes, têm transformado a modalidade nacional. A criação de novas regras em eventos tratados como "brincadeiras" do esporte e falta de atenção em casos que impactam o bem-estar dos atletas tem se tornado cada vez mais comum.

 Em entrevista à AGEMT, o jornalista esportivo da Record Bruno Scaciotti comentou a repercussão dos casos e refletiu sobre as mudanças no esporte nacional. "A partir do momento que você impõe as regras, é porque existe uma iniciativa de melhorar o jogo. De criar novos meios para melhorar a competição. A questão é quando você tem esse aumento exacerbado num período muito curto. Nesse caso começamos a nos preocupar", explica Scaciotti. 

Durante a final do Campeonato Paulista de Futebol, o jogador corinthiano Memphis Depay ganhou repercussão nas redes após praticar uma pequena brincadeira comum dentro do esporte. O atleta acabou subindo na bola por alguns segundos, pressionando ainda mais os adversários. O confronto entre seu time e o Palmeiras já estava decidido e a ação foi realizada ao longo dos minutos de acréscimo. Apesar de não ser notificado no momento e a movimentação ser considerada uma diversão pela comunidade futebolística, a confederação resolveu em poucos dias tornar a prática plausível de um cartão amarelo. 

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Memphis Depay subindo na bola durante final do Paulista 2025 (Foto: Reprodução/X)

Poucos dias depois, durante um confronto do Sub-17, entre Brasil e Colômbia, o jovem Ruan Pablo – que marcou um dos gols da vitória – repetiu a movimentação, já recebendo um cartão amarelo como punição. A decisão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) veio pouco menos de uma semana depois. O documento enviado aos clubes brasileiros declara que todos os jogadores que subirem com os dois pés na bola como ato de provocação devem ser punidos com uma marcação amarela e o árbitro deve marcar tiro livre indireto.

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Ruan Pablo subindo na bola durante o confronto do Sub-17 (Foto: Reprodução/Sportv)

A CBF argumenta que a ação “gera impactos negativos ao nosso esporte e provoca transtornos no ambiente de jogo, produzindo confrontos generalizados”. A nova regulamentação utiliza uma interpretação específica da cláusula “infrações por conduta antiesportiva”, indicando que a prática é um desrespeito ao futebol – ato condenável na modalidade. A rapidez na aprovação das novas regras gerou revolta na comunidade e nos amantes do futebol por se tratar de uma banalidade e expor que a atenção em casos verdadeiros não está sendo efetiva. 

Ao redor mundo, o número de casos de racismo nos jogos tem aumentado e nos embates brasileiros isso não foi diferente. Porém, essas ocorrências não receberam nenhuma instituição de  penalidade ou política de acolhimento criada.  Como Contraponto, o jornalista esportivo esclarece a matéria que a falta de união entre os próprios jogadores em momentos como a aprovação dessa nova penalidade também influencia o cenário geral do futebol. 

"A hiper-regulamentarização impacta na postura deles. Mas, a gente também sente falta de um movimento dos próprios atletas para questionar a CBF, como nos casos de falta de profissionalização de árbitros ou em mudança de regra. Hoje ainda não vemos a criação de uma associação dos atletas, ou algo assim, para lutar pelos direitos deles, por exemplo”, completa Scaciotti.

Caso de racismo sem punições

Recentemente, um caso de racismo que tomou grande proporção na mídia foi o de Luighi, jogador da base do Palmeiras. O jovem recebeu ataques racistas diretos de torcedores do time paraguaio “Cerro Porteño” em uma partida válida pela Conmebol Libertadores sub-20. Ao ser substituído, o atacante brasileiro viu um torcedor que carregava uma criança no colo fazer gestos de macaco direcionados a ele, e os outros cuspiram no atleta pelo alambrado do campo. Na hora, o menino já começou a chorar indo em direção ao banco. Em entrevista ao Fantástico, Luighi comentou: “Eu não me aguentei. Fiquei com muita raiva. Fui nos policiais que estavam do lado. Falei: ‘vocês vão deixar ele falar isso daí para mim? Vocês não vão fazer nada?’ E eles só olharam para mim, de mão cruzada e não fizeram nada”, “O árbitro, ele só pedia para eu sair do campo. Parecia, tipo, que não ligava para o que aconteceu.”, completou o jovem.

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Luighi chorando na entrevista pós jogo. (Foto: Reprodução/Goat)

Após tamanha repercussão, clubes como São Paulo e Corinthians prestaram solidariedade ao jovem, emitindo uma nota em seus perfis oficiais. Não só clubes como jogadores também. Depois do ocorrido, como forma de resposta, a Conmebol multou o clube paraguaio em 50 mil dólares (aproximadamente $285 mil reais), proibiu a presença de público nos jogos da equipe no restante da competição e decretou que o time promovesse uma campanha de conscientização sobre o racismo nas redes sociais. 

"A CBF tem que ter uma regulamentação mais forte quanto a qualquer tipo de preconceito, seja machismo, homofobia ou qualquer outra violência. E isso tem que se tornar punições graves, gerar algo muito além do que uma ‘multinha’ de 20 mil reais para clubes que recebem milhões e bilhões. Temos que ter punições de perda de mando, redução de público etc. E os árbitros também precisam ser orientados, eles precisam ter noção, situar o que ocorreu e justificar na súmula”, explica o jornalista.

Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, discursou sobre o racismo durante o evento de sorteio da fase de grupos da Copa Sul-Americana, e disse às medidas que seriam tomadas. Mas a equipe Alviverde discordou por meio de nota oficial, considerou que as medidas são "extremamente brandas" e "inócuas" diante da gravidade dos fatos, além de serem "insuficientes para combater casos de racismo no futebol sul-americano".

O desequilíbrio está na falta de ações para casos desse nível de gravidade como o racismo, e a facilidade na criação de regras quando se trata de brincadeiras futebolísticas dentro de campo. "É de extrema importância não só a CBF ter essas decisões mais duras, mas as diretorias estarem de olho no que acontece". termina Bruno.

 

Em entrevista online, o desenhista e chargista Renato Aroeira expõe seu ponto de vista sobre questões da atualidade para estudantes de jornalismo
por
Gabriel Porphirio
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26/05/2021 - 12h

Renato Aroeira produz charges para os principais jornais do país, com notoriedade por expressar críticas políticas em representações irônicas da realidade. No mês de abril, ele deu entrevista para estudantes de jornalismo da PUC-SP, na qual falou sobre a carreira desde o início até os desafios de fazer o que faz nos dias atuais.

Intermediada pelo professor e apresentador da TV Cultura Aldo Quiroga, a entrevista tinha uma proposta simples em que cada aluno participante teria a oportunidade de fazer uma pergunta dentro de um tempo limite. No geral a “conversa” foi muito fluida com um entrevistado experiente e entrevistadores principiantes.

video-chamada  online entre alunos com suas câmeras abertas, o professor com sua câmera aberta, e o entrevistado, Renato Aroeira com a câmera aberta
Renato Aroeira sendo entrevistado por alunos

A trajetória de Renato Aroeira

Renato Aroeira é um chargista e cartunista que desde muito novo exerce a profissão. Ele começou na coluna de esportes do pai, em Minas Gerais, mas antes disso já havia começado a desenhar profissionalmente com a mãe, em apostilas infantis que ela criava. Ele conta que ter trabalhado com educação antes de ir para o “cartoon” facilitou a vida profissional com relação às críticas, uma vez que com as apostilas muita vezes era necessário mudar algo, havia muitas normas.

E como você mudou do jornalismo esportivo para o político?

Quando comecei no Jornal de Minas o editor gostou das minhas charges e perguntou se eu queria fazer algo político, eu disse que sim.  E eu fui fazendo conforme a linha editorial dos jornais, eles viam algo que eu tinha feito e perguntavam se me interessava fazer algo com política. Mas foi no movimento estudantil que eu realmente me interessei por política e a partir de lá, posso dizer que houve essa transição, pois daí em diante eu não desenhava o que o jornal queria e sim o que eu sabia.

Mudou muito o jeito de se fazer charge política com o tempo?

Eu achava, quando comecei, que o humor era a simplificação, mas fui percebendo que a simplificação acaba sendo mais injusta do que deveria. É possível dizer que em uma charge geralmente existe aquilo que você quis dizer, o que você disse e o que acharam que você disse, e raramente essas três coisas andam juntas no final, por isso ao longo do tempo eu fui enxergando que complicar uma piada era melhor do que simplificar, e hoje eu prefiro explicar um pouco mais do que cometer um equívoco. O humor simplificado costuma ser muito rasteiro e preconceituoso e o chargista e todo profissional da mídia deve ter cuidado com isso.

Como você lidou com a censura do governo atual com sua charge?

Primeiro eu fiquei incrédulo, eu recebia mensagens de solidariedade mas nem sabia o que tinha acontecido, não acreditava. Aí me explicaram que o Ministro da Justiça publicou no twitter que teria pedido à PF para que me investigassem pela charge e tudo mais. A segunda reação, então foi de pânico, eu não tinha nenhum advogado, mas aí logo grandes advogados entraram em contato comigo e eu descobri que há um tempo existe no Brasil essa rede de solidariedade para ajudar as "vítimas" desse tipo de arbitrariedade.

E como você está lidando agora? Você sente medo?

Eu sinto medo, porém eu sinto mais medo hoje do que na ditadura, em parte porque jovem não costuma temer muito mesmo, e em parte porque esse governo atual não premedita suas ações como no último regime militar. Só que ao mesmo tempo eu me sinto mais seguro agora, já que existe essa rede de segurança que eu mencionei e até aqui ela vem funcionando. E é evidente que eles não desistem porque mesmo depois do meu processo ter sido arquivado muitos outros chargistas depois estão sendo investigados. Eu tenho medo sim, tanto que parei de anunciar meus shows, eu também sou músico e desde que fui processado não anuncio mais onde vou tocar, imagina se alguém vai lá para causar algum fuzuê.

imagem que associa bolsonaro ao nazismo, é uma charge então é uma associação ironica
Imagem: Reprodução/Instagram 
Disponível no Instagram de Renato: @arocartum
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Qual sua intenção com as charges quando as publica? E o que espera do público?

É uma mistura de sentimentos, pois existe aquele sentimento de querer que as pessoas gostem daquilo que você fez, mas também de ter um papel social. O que eu espero quando as pessoas veem uma charge é que primeiro elas se divirtam e depois observem aquilo que estou apontando. Eu quero que elas gostem da arte, mas ainda assim, vejam do que aquilo se trata, pois geralmente desenho criticando incongruências do governo. Mas o que eu não espero de uma charge, acho que é mais fácil dessa maneira, é que elas resolvam algum problema ou que causem uma revolução. Eu entendi muito cedo que a charge numa sociedade é uma pecinha na engrenagem da mídia para ajudar a sociedade a seguir um bom rumo. É uma expressão muito comum entre os chargistas, eu quero de certa forma educar a população para que escolhas melhores sejam feitas. É claro que não tenho essa pretensão de querer mudar algo, nem de longe é o chargista é o responsável por mudar o mundo, o máximo que posso causar é uma provocação aqui e ali, mas esse é o papel da mídia na sociedade.

As redes sociais impactam no seu trabalho?

Quando eu comecei, recebia cartas, cartas sobre meu trabalho, algumas me xingando, outras não, depois eu comecei a receber e-mails, e olha bem, eu publicava em um jornal um desenho de algo que ocorreu no dia anterior ou um pouco mais cedo e quando ela saía era uma charge de pelo menos quatro dias atrás. Ontem quando eu soube do pronunciamento do Bolsonaro eu imediatamente fiz uma charge e publiquei. Então em menos de meia hora do final do pronunciamento eu tinha uma charge pronta e as pessoas já estavam comentando sobre. Antigamente só iriam comentar uma semana depois. Então nesse sentido mudou muito mesmo.

Voltando à censura, qual o próximo passo para a luta contra ela?

Na luta contra a censura a gente tem que ir com tudo que temos disponível porque o outro lado não vai parar nunca. Claro, dentro dos limites possíveis de cada um. Como eu disse, eu acho que a charge tem um papel social, mas que ali ela é acessória. Por exemplo, eu fiz parte da reconstrução da imprensa sindical fazendo a pequena parte da imprensa, que por sua vez é uma pequena parte da luta principal que era a luta sindical. Então é assim que eu entendo o nosso papel que, hoje em dia, eu penso que deva ser mais educacional, e não só educação formal, mas educação social e a mídia e a imprensa tem uma enorme responsabilidade nisso.

 

Brasil se preocupa com a possível volta ao ranking dos países com insegurança alimentar grave
por
Suzana Rufino e Silvana Luz
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13/05/2021 - 12h

 

Por Suzana Rufino e Silvana Luz

Francisco, 43 anos, nortista, estatura mediana, desnutrido e cansado, anda de cabeça baixa, porque tem vergonha de olhar nos olhos das pessoas enquanto empurra seu carrinho de reciclagem pela região do mercado municipal em busca de restos de alimentos. Todos dias ele vai às ruas em busca de papelões, latinhas, ferros, eletrodomésticos quebrados, qualquer coisa que dê para ganhar algum dinheiro com reciclagem para sustentar seus dois filhos e esposa que vivem em meio à papelões e madeirites à beira do rio Tamanduateí.  

Ao conversar com Francisco, percebe-se o olhar triste e agoniado, aquele que sabe o que é passar fome, sofrer por falta de oportunidade e indiferença das pessoas. “A fome dói, mas dói muito mais ver seu filho chorar e você não ter o que dar! Ver a criança ficar doente e não ter como socorrer! Eu e minha companheira deixamos de comer, tomamos água para enganar a fome para sobrar a nossas crianças que no melhor dia conseguem fazer uma refeição e preferimos que seja à noite para que consigam dormir. Além de buscar reciclagens também pegamos restos de comida no mercadão, lá sempre tem alguma fruta ou legume que não serve para vender, mas que salva a gente”, fala de Martins.

Todos migrantes saem de sua cidade/estado natal para buscar em outro lugar uma oportunidade de viver com qualidade. Porém não são todos que conseguem essa glória, e quando se depara sozinho(a) e sem ajuda, não ver outra saída que se sujeitar as ruas, a miséria e a fome.   

Maria da Conceição é um exemplo de que a fome e a miséria não escolhe idade e nem sexo, aos 64 anos, a mulher conta com lágrimas nos olhos e ao lado de seu fiel e único companheiro (cão) sua dificuldade e abandono. “Eu vago pelas ruas com esse meu único amigo e além da fome e do medo carrego a tristeza, não tenho um lugar para viver e quando consigo um lugarzinho para dormir na rua ou em alguma praça sou expulsa. Não tive filhos e não tenho mais família, sou de Juazeiro do Norte e vim para São Paulo em busca de uma vida melhor, fugi da fome do sertão, mas ela veio junto comigo. As vezes eu vejo pessoas entregando marmitas nas ruas ou algum bar antes de fechar me dá algum resto de comida, fico feliz e divido o alimento com esse meu amigo e protetor” (disse abraçando seu cachorro).

José Gomes, 51 anos, nordestino, também se enquadra na lista de migrantes esforçados que saíram de suas cidades e infelizmente não tiveram uma oportunidade de mudar de vida. Desempregado e morador em uma ocupação no centro de São Paulo retrata muito bem o drama que o Brasil enfrenta há muito tempo, o da fome. “Em agosto do ano passado eu trabalhava como camelô, mas minhas mercadorias foram apreendidas e eu não tive mais nenhuma oportunidade de trabalho, agora venho aqui todos os dias em busca de auxílio e eles me dão comida e ajuda psicológica. Tenho esperança de conseguir algum trabalho, porém fico chateado porque as pessoas acham que já estou velho para qualquer função, por isso ainda descolo uns trocados pegando latinha e guardando carro na rua. Única coisa que eu queria era viver com dignidade”

Os anos de luta do País para sair desse cenário não é mais lembrado, porque o agravamento da situação alimentar não permite mais que a população sonhe com um Brasil sem fome. Hoje mais de 84 milhões de brasileiros enfrentam algum grau de inseguridade de alimento - número que tende a aumentar caso o atual governo e as políticas públicas voltadas a essa questão não agirem a curto e a médio prazo.

O quadro atual é alarmante, mesmo antes da pandemia da covid-19 o Brasil já apresentava uma diminuição na qualidade de vida, devido o aumento do desemprego e cortes nos programas sociais. Com isso, a fome que antes tinha diminuindo voltou à tona preocupando a população mais carente.

O ex-diretor-geral da FAO (agência da ONU para a erradicação da fome e combate à pobreza) José Graziano da Silva, afirma que em julho do ano passado 15 milhões de brasileiros se encontravam em um grau elevado de insegurança alimentar e que dependiam exclusivamente de projetos não-governamentais voltados a alimentação. Essa conjuntura se deu por várias razões, sendo uma delas a crise política-econômica que se aprofundou em 2015 e continua impactando a vida da população, que sofre com o desemprego, diminuição de leis trabalhistas e rendas familiares.

Para tenta driblar essa tensão, muitos projetos autônomos junto com uma parte da população tem se mobilizado e contribuído com doações de dinheiro e alimentos para ajudar as pessoas em situação vulnerável como a fome. O SEFRAS (Serviço Franciscano de Solidariedade) é um desses programas que atende indivíduos em situação de rua (e outras) há 20 anos e ficou popularmente conhecido como Chá do Padre, por ser um centro de acolhimento, escuta e partilha na cidade de São Paulo.

Além da entrega de “quentinhas” são realizados atendimentos psicológicos, auxílio a encaminhamento a trabalho entre outros, porém com o aumento da procura pelos serviços e por atender em um espaço pequeno, fez-se necessário a criação emergencial da tenda”, relato esse contado por Frei João Paulo Gabriel, diretor-presidente do SEFRAS:

-- “É visível a mudança de perfil dessas pessoas, desde 27 de maio de 2020, quando se fez necessário montar a tenda na calçada em frente ao largo São Francisco. Aqui, além de  dependentes de drogas e álcool, também vem famílias que perderam suas fontes de renda e até tem onde morar, mas não conseguem comprar comida e buscam essa ajuda. A fome atinge vários perfis, tendo em vista o preço dos alimentos comparado ao rendimento familiar das pessoas. A alimentação passa, então, a ser o eixo principal de atuação dos franciscanos do SEFRAS, em especial aos nossos públicos de atendimento: população em situação de rua, imigrantes e refugiados, idosos sozinhos e crianças de comunidades pobres e ocupações. A tenda se transformou em um espaço simbólico onde conseguimos encontrar o reflexo da vulnerabilidade da estrutura social em que vivemos, e também, a força que tem uma corrente de solidariedadeNo início do isolamento, decidimos não fechar nossas portas para acolher, cuidar e defender aqueles que mais precisavam, como a população em situação de rua e de desemprego nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro. E nos deparamos com o cenário dramático da fome, que veio antes da pandemia da Covid-19”.

 As refeições são distribuídas de domingo a domingo no almoço e jantar (em média de 1200). Para atender essa demanda, as quentinhas são feitas em cozinhas da própria igreja, sendo elas instaladas na sede do SEFRAS no bairro do Pari e a outra na região do Bixiga. Todo o mantimento vem de doações. As demais merendas são feitas e montadas por voluntários. 

Com duas tendas franciscanas – uma segunda foi erguida no Largo da Carioca (centro do Rio de Janeiro) – cinco cozinhas sociais e outros seis polos de distribuição de alimentos, que incluíram 22 mil cestas básicas e kits de higiene e proteção. A Ação Franciscana de Enfrentamento à Pandemia foi uma resposta à emergência social, que está na base do SEFRAS como organização humanitária.

Embora fosse uma ação de emergência, os impactos duradouros da pandemia, em relação à desigualdade de renda e aumento da pobreza nos grupos já vulneráveis, demonstraram que a fome é um fator a ser combatido com ações de curto, médio e longo prazo.

A grande tenda, montada na frente da igreja no Largo de São Francisco, foi desmontada, porém o trabalho e a solidariedade continuam, agora organizadas no espaço do SEFRAS, conhecido pelos moradores de rua como “Chá do Padre”, que atende esse público há mais de vinte anos. Com a reorganização do espaço algumas vantagens foram destacadas:

•Ampliação da quantidade de pessoas atendidas no serviço – de 800 para mais de 1.000 diariamente;

•Distribuição de mais uma refeição no dia: o jantar;

•Os participantes podem receber a quentinha e levar embora, diminuindo a aglomeração de pessoas no espaço;

•Os participantes que não conseguem tirar a senha no início do dia, podem esperar e receber a quentinha;

•Os doadores entregam as doações direto no espaço e conseguem conhecer o serviço em funcionamento.

Todas as adequações feitas têm como objetivo maior atender à crescente demanda. É preciso seguir com a missão franciscana de garantir alimento para quem tem fome e continuar lutando para esperançar um mundo mais igualitário e livre da pandemia da fome.

Para contribuir com a doação de "quentinhas" e de alimentos não perecíveis, clique em https://fomebr.org.br/. E se deseja ser voluntario(a), acesse o formulário no site e receba as orientações ou entre em contato com a Central de Doações e/ou tire todas as dúvidas pelo telefone (WhatsApp) (11) 3795-5220.

Covereadora da bancada feminista do PSOL detalha atentado que sofreu e relata seu cotidiano como parlamentar trans e intersexo na Câmara Municipal de São Paulo
por
Evelyn Fagundes, Gabriela Costa e Malu Marinho
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06/04/2021 - 12h

     Nos primeiros meses de 2021, três atentados foram noticiados contra parlamentares transexuais do PSOL da Câmara Municipal de São Paulo: Erika Hilton, Samara Sosthenes e Carolina Iara. Em entrevista realizada virtualmente com Carolina, a covereadora comentou sobre como tem lidado com as consequências do atentado e sobre como é ser uma mulher trans e intersexo em ambiente político. 

     Após a realização da conferência com Carolina, a polícia civil de São Paulo chegou à conclusão de que não houve disparos de armas de fogo em frente à casa, mas sim, lançamentos de explosivos de efeito sonoro. A covereadora afirmou: “O que aconteceu comigo me surpreendeu pelo nível de violência, porque o que eu tinha de mensagens que me incomodavam durante a campanha era de assédio sexual. Não havia nenhum tipo de mensagem que mencionasse qualquer violência física, ameaça de estupro ou de morte”.

     Confira abaixo a entrevista com Carolina Iara concedida no dia 19 de março de 2021:

Como ocorreu o atentado?

Carolina Iara: O atentado foi na madrugada do dia 26 de janeiro. Eu estava escrevendo um artigo e ouvindo música então não escutei nada, minha mãe que veio afoita pedindo para eu tirar o fone e me contou que ela tinha ouvido dois disparos. Ela não sabia mencionar o que seriam esses sons, se era tiro ou bomba, mas foi muito clara que tinha sido na porta de casa. Ao amanhecer a gente confirmou com os vizinhos de que haviam ouvido os tiros e um deles nos deu o circuito de câmera que ele tinha, no qual vimos um carro branco parado em frente a minha casa naquele exato momento. 

Carolina Iara, covereadora da bancada feminista do PSOL
Carolina Iara, parlamentar pela Bancada Feminista do PSOL em São Paulo, é a primeira covereadora trans e intersexo do país. — Foto: Divulgação

 

Qual motivação você acredita que tenha provocado o atentado? 

Carolina Iara: Com certeza envolve a violência política de gênero. O que a gente não consegue responder é o que incomodou e provocou o ato de terror.  Não sabemos se foi alguém que quis me amedrontar e dizer “não gostamos e não queremos uma muher transsexual e intersexo ocupando um cargo de poder”, porque pode ser qualquer um que se arvore a fazer ações transfóbicas e a gente sabe o quanto isso é comum. Há casos de travestis e transexuais morrerem na mão de seus clientes, de grupos de “amigos” que saem pra beber, zoar e matam, não é? A banalidade da transfobia é muito comum. Pode ser também algo motivado contra alguma ação política minha e da bancada feminista. 

 A Câmara negou o pedido de proteção para você e para a Samara Sosthenes alegando que as covereadoras não possuem o nome registrado oficialmente no sistema legislativo. Como você encara esse tratamento da Câmara? Você acredita que se trata, neste caso, de violência institucional?

Carolina Iara: Sim, uma violência institucional porque a Câmara é uma das instituições escravocratas do Brasil. Essas entidades são anteriores à república, então é um sistema ainda imperial e, portanto, escravagista. Há uma dificuldade enorme da estadia de mulheres negras nesses espaços e há também um impedimento desses ambientes se adaptarem à composição dos mandatos coletivos, justamente porque numa estrutura em que o poder está dividido entre várias pessoas, eles acham que é uma bagunça. Então, nos respondem com muita violência institucional. Muitos não concordam com os 46 mil votos na bancada feminista e somando com o quilombo foram 69 mil votos de pessoas que acreditaram no formato de mandato coletivo.

Não há uma abertura do parlamento para novas formas de se fazer política, não querem algum tipo de renovação ou de reforma. Mesmo não estando discutindo nada revolucionário, mas sim reformas muito pequenas com relação à participação política, já somos negados. É um desrespeito não a mim, Carolina somente, é um desrespeito à todas essas pessoas, à classe trabalhadora, aos povos oprimidos, às mulheres, à comunidade LGBTQIA+, aos negros e à todas as pessoas da cidade de São Paulo  que votaram e confiaram na gente. Todos esses munícipes estão tendo o seu direito de participação política atingido. Eu acho um absurdo, mas não haverá nenhuma movimentação da câmara para a minha proteção ou para a da Samara.

Você recebeu apoio das pessoas ao seu redor depois do atentado?

Carolina Iara, covereadora da bancada feminista do PSOL
Carolina Iara, covereadora pelo PSOL em São Paulo. — Foto: Divulgação

Carolina Iara: Tenho recebido muito apoio da sociedade, em pé das instituições democráticas não me protegerem em nada. Não me ajudam, nenhuma das esferas de governo me ajuda. Por outro lado, a sociedade civil se mobilizou e eu tenho uma ajuda, seja do movimento LGBTQIA+,  seja dos movimentos sociais como MST, MTST, e a própria corrente que eu faço parte do PSOL. Então esses têm sido os apoios que eu tenho tido, que têm dado certa conta das minhas necessidades e da minha segurança. Se eu fosse esperar pelo Estado eu não iria ter nada não, teria que com a cara e a coragem enfrentar sabe-se lá quem. 

Você acredita que os defensores da classe trabalhadora e das minorias estão mais vulneráveis a atos de violência dentro dos espaços de poder?

Carolina Iara: Todos aqueles que defendem pautas coletivas, movimentos sociais e as pautas da classe trabalhadora estão muito mais vulneráveis a serem criminalizadas. Estar na defesa de direitos humanos e das lutas históricas da classe trabalhadora deixa mais vulnerabilizada a liderança. Mas, existe uma singularidade para as mulheres negras e mulheres trans. Somos muito mais ameaçadas do que o restante da classe trabalhadora que está nesses postos, isso é fato notório. Na câmara, quem são as ameaçadas? As três mulheres trans e negras. Quem são as vereadoras que estão reportando ameaças de morte no país todo? As mulheres negras.

 

"Ser de esquerda, ser socialista e ser pró classe trabalhadora faz com que as lideranças estejam sob mais ameaça"

 

Quais são os seus desafios como covereadora na câmara? 

Carolina Iara: Ser covereadora trans e ser a primeira covereadora intersexo do país é um peso enorme. É muito trabalho, é muita denúncia. Eu entrei em um tempo histórico nada agradável para ser parlamentar, é um momento de muita dor. Recebemos mensagens de pessoas com fome, carentes, internados, funcionários públicos da saúde desesperados porque estão fazendo gambiarras terríveis por conta do coronavírus. O cargo parlamentar te dá algumas ferramentas para atuar na sociedade, mas ainda assim é muito limitado. Além de tudo, ainda tenho que cumprir meu trabalho: uma agenda lotada, com inúmeras reuniões, entrevistas e participações em atos, tendo até que me expor às vezes, porque há lugares sem acesso à internet. Então, é uma situação muito complicada e estressante.

 

"Eu nunca imaginei que eu iria sofrer tantos revezes. A gente vê nos livros de História sobre as lutadores socialistas, mas nunca pensei que viveria isso tão intensamente na carne"
 

Como tem sido sua rotina após o atentado? Você se mudou, não é?


Carolina Iara: Eu saí de casa, estou em outro lugar desde então, longe da família. Eu e minha mãe temos marcado visitas, mas de modo que ela não venha quando eu estou. Tem sido uma logística meio complicada mas eu tenho a visto às vezes. Não fiquei todo esse tempo sem vê-la, até porque eu teria enlouquecido. É muito complicado não ter o direito de visitar a minha família. Não tenho condições de fazer política como eu fazia antes, não posso me dar ao luxo de ir no ato, encontrar pessoas em um local de encontro marcado. Não posso. Eu tenho que ir com segurança, com motorista. Não posso fazer atividades de recreação, tudo bem que estamos na pandemia mas se não estivesse eu não teria o direito de ir aqui na esquina e sentar na padaria e pedir uma cerveja porque eu posso ser morta. É muito complicada a situação. E sendo o Brasil o país que não respondeu até agora quem matou Marielle, quem é que vai me responder sobre o meu atentado? Tem sido uma rotina muito desgastante, mas de muita luta também. Eu tenho feito muita coisa, não tenho parado, é denuncia na ONU, é articulação contra fechamento de hospital — porque está tendo fechamento de hospital nesse momento, sem razoabilidade nenhuma. Tem sido um momento muito produtivo, mas muito tenso. Não tem terapia que dê conta, tem dia que eu sou obrigada a tomar calmante para conseguir aguentar.

Conheça o que há por trás das charges do mineiro Renato Aroeira
por
Marcela Foresti
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02/04/2021 - 12h

 

O chargista Renato Aroeira nasceu em Belo Horizonte e cresceu em uma família de desenhistas e jornalistas, começou sua carreira na adolescência ilustrando os livros paradidáticos da mãe, que era professora  e as apostilas do pai, que era professor de desenho: "é aquele aprendizado na oficina familiar”. Aos 17 anos passou a ilustrar a coluna de esportes do Jornal de Minas, escrita pelo pai.

Além de fazer ilustrações na coluna de esporte, ele também passou pelas de humor e atualmente política. Fez charges em jornais como O Dia, O Globo, Estado de São Paulo, entre outros.

Ele conta que só foi realmente entender  política no Movimento Estudantil e na construção da imprensa sindical.

Aroeira explica que quando faz suas charges políticas prefere que elas sejam mais complicadas, mesmo que isso faça com que nem todos entendam. Isso porque ao longo dos anos percebeu que quanto mais simples o humor nas charges, mais preconceito há nela: “o humor simplificado tende a ser um humor muito raso”. 

Com o tempo, o chargista aderiu ao politicamente correto e aos lugares de fala, para que não se torne um humor sem graça e que fale apenas sobre as minorias que já sofrem diariamente: "não bato em quem está apanhando”. Aroeira diz que como um crítico social, ele tem a função de  criticar a estrutura que garante a permanência do que está errado.

Outra função de suas charges é tentar informar com humor e fazer com que as pessoas entendam os acontecimentos e fatos, para que assim consigam tirar suas conclusões sobre os assuntos. “Eu tento desenhar para que as pessoas entendam”, ironiza. 

Por outro lado ele não tem a  intenção de  que suas charges resolvam os problemas. “Eu não espero que uma charge resolva nenhum problema, nem atice nada, nem provoque uma revolução ou coisa parecida”, confessa. Para ele a charge é uma pecinha num componente cultural que é necessário para a sociedade mudar de rumo:  “a charge tem um papel auxiliar no processo de construção da civilização”.

No seu processo de criação, ele explica que normalmente já sabe o que quer dizer e só precisa  procurar algum fato que combine com o que ele já tem em mente. Aroeira faz em média de 15 a 20 desenhos por semana, sendo destes 7 charges. 

Além de chargista, Aroeira também é saxofonista e  participa do grupo “Trio das Quartas” ao lado da esposa Cláudia Barcellos, que é violinista e radialista.

Esta reportagem especial tem como base os cortes no investimento em ciência no Brasil nos últimos anos, que cresceram, trazendo denúncias de desmantelamento da pesquisa no país
por
Artur Ferreira, Gabriela Neves e Natasha Meneguelli
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11/12/2020 - 12h

 

“Minha pesquisa vai atrasar, meus resultados foram interrompidos, vou ter que pedir prorrogação de prazo. Enfim, é dramática a situação”, conta Marcela Rodrigues, 34 anos, mestranda em Ciências Mecânicas pela UnB (Universidade de Brasília). Ela estava no processo de conclusão da sua dissertação quando sua bolsa foi cortada. Por conta disso, teve que interromper o estudo para aceitar outros trabalhos em busca de outra fonte de renda.  

 

Luís Carlos Pereira, 29 anos, nem chegou a conseguir a bolsa que precisava. Ele se graduou em Economia pela Universidade Federal do Ceará e atualmente é mestrando em Economia Política pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Para continuar a pesquisa, trabalha como promotor de eventos. 

 

“Sempre tivemos bolsas e fomento, claro que nunca foi o ideal, os recursos sempre foram instáveis, essas reservas de contingência já vêm acontecendo há muito tempo. Mas, atualmente, a situação está trágica”, afirma a vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Fernanda Sobral, que atua na formação de cientistas.

 

marcela rodrigues
Marcela Rodrigues. Acervo Pessoal.

 

Flávia Calé, mestranda em história econômica pela USP (Universidade de São Paulo) e presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), vai na mesma linha, explicando que os jovens pesquisadores, em especial os doutores, se encontram totalmente desamparados e sem perspectivas.

 

 

Entrando para a estatística

 

Para concorrer à uma vaga de mestrado nas melhores universidades do país, Luís teve de prestar um concurso. Conta que foi uma alegria imensa ver seu nome selecionado em diversos programas de pós-graduação, e o da PUC-SP era o que mais lhe interessava.

 

Sua dissertação trata de um fator crucial para a economia, a qualidade do capital humano do país. Ou seja, o quão bem treinado é o trabalhador. Seu enfoque é compreender qual o grau de formação e conhecimento, e como isso afeta as desigualdades de renda do Brasil. O objetivo é que esse estudo sirva como base para representantes políticos, ativistas e outros pesquisadores formularem melhores políticas públicas para a educação.

 

Contudo, ele entrou para a estatística que gostaria de pesquisar, tendo sua formação afetada por um corte de bolsas na sua área. Em Economia Política, o número caiu de 16 para 5. 

 

O choque não foi só de Luís. “Você tinha antes 16 pessoas que teriam condições de se manter no mestrado e dedicar ali suas vidas, porque a bolsa exige isso, dedicação exclusiva para fazer ciência.” Hoje, ele precisa de um segundo emprego, tanto para custear a pós quanto seus próprios gastos pessoais.

 

Luís Carlos Pereira
Luís Carlos Pereira. Acervo pessoal.

 

De acordo com a pesquisa de 2019 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), apenas 0,8% dos brasileiros entre 25 a 64 anos concluíram um mestrado. No caso do doutorado o número fica ainda menor, alcançando 0,2% da população. A média dos países analisados era de 13% com mestrado, e 1,1% com doutorado. O Brasil só fica na frente de países como a China, que não possui dados numéricos sobre doutorados, e da Arábia Saudita (entre quantos países pesquisados?) 

 

Casos como o de Luís e os de muitos outros pós-graduandos não chegaram com a pandemia da Covid-19. Mas ela certamente vai agravar a situação devido à crise econômica.

 

Quando compilados os dados dos principais fundos de pesquisa do Brasil, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT),  a verba do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e as bolsas cedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em meados de 2015 o Brasil somava quase R$ 14 bilhões investidos em pesquisa acadêmica.

 

Em 2016, o número total era de R$ 9,43 bilhões - uma diminuição de cerca de 33%. Quando se transforma essa verba em número de bolsas de mestrado e doutorado, pode ser observada uma queda de 28 mil para 17.818. No ano passado, R$ 1,24 bilhão foi cortado da verba destinada às universidades brasileiras, 17% do orçamento. 

 

Em uma audiência pública na Comissão de Educação (CE), no dia 3 de dezembro do ano passado, o presidente da Capes, Anderson Ribeiro Correia, negou os cortes nas bolsas de estudos denunciados por pesquisadores. Para o órgão, houve um aumento de 11% no orçamento do ano de 2018 para o de 2019. O valor total de investimento apontado foi de R$ 4,179 bilhões.

 

“Daqui a 10 anos, vamos ter uma geração de cientistas que não se formaram”, desabafa Luís.

 

 

“Escolha de Sofia”

 

Marcela Rodrigues tem ideias semelhantes às de Luiz. Para a pesquisadora, se não houver nenhuma política que reveja o “desmonte” da ciência brasileira, viveremos um “apagão” na área. “Em breve, assim, ano que vem. Porque o que tá previsto para a lei de orçamento é a extinção dos programas de pesquisa no Brasil”. 

 

Ela conta que o impacto imediato é a evasão de estudantes do programa. A evasão de cérebros, discussão comum no universo acadêmico, é outra consequência – com  pesquisadores e estudantes buscando, em outros países, a estrutura para continuar os seus trabalhos. 

 

“A sociedade precisa perceber que cada pesquisador que sai leva com ele anos e anos de investimento público. Então o estado acaba desperdiçando dinheiro não dando condição para esses pesquisadores continuarem no Brasil”, afirma. 

 

protesto contra cortes na educação
Protestos contra os cortes nos investimentos em educação. Por Gabriela Neves.

 

A pesquisadora conta que, para que o país não dependa do que vem pronto de fora, é necessário investimento em ciência. Cita o exemplo do mercado agrícola, que precisa de ciência e tecnologia de ponta para desenvolver sementes competitivas. Para ela, sem essas áreas de inovação tecnológica, não há soberania e desenvolvimento no país. 

 

“É em cima desses programas de engenharia, de inovação, de energia e de recuperação ambiental que a vida em sociedade está apoiada”, afirma Marcela. E lembra que são esses projetos que dão origem a ferramentas como as que usamos para diminuir os impactos da pandemia. “É muito contraditório o discurso de que vai preservar a engenharia cortando bolsa e desmontando programas de pesquisa dentro das universidades, perseguindo as universidades, colocando o pós-graduando como inimigo da nação, e não como um aliado ao seu desenvolvimento.”

 

Marcela lembra que esses problemas já existiam antes da pandemia. O programa de que ela faz parte é do Capes 4 na Universidade de Brasília (UNB), e foi duramente afetado pela portaria 34 do governo federal, que modificou a forma de concessão das bolsas. 

 

Uma série de bolsas foram antes do coronavírus chegar aqui. A situação se complicou quando vários estudantes que já tinham assinado o termo de concessão de bolsa perderam a continuidade da pesquisa. Depois do início da quarentena, surgiram obstáculos para o trabalho experimental necessário para os projetos. 

 

Alunos e professores precisavam de campo, laboratório e infraestrutura que se tornavam impeditivos. “Muita gente não tem o equipamento que dê conta de fazer a simulação dentro de casa, são processadores muito avançados. Geralmente, os computadores domésticos não conseguem dar conta”, explica Marcela.

 

Quando a Capes fez a prorrogação da bolsa, o programa tentou resolver um problema anterior à pandemia, fazendo a fila de espera por bolsas andar, para ver se reduzia a evasão e segurava o programa vivo. “Foi nesse contexto que a minha bolsa foi cortada. É o contexto em que vários programas estão submetidos, de fazer a ‘escolha de Sofia’: decidir quem vai receber bolsa ou quem não vai, se o aluno que está com o trabalho em curso ou o aluno que acabou de ingressar para não evadir”, diz Marcela. 

 

“Eu só daria um recado para os meus colegas: que não se sintam culpados pelo que a gente está vivendo. A gente é muito pressionado pela questão da produtividade e tudo o mais, é um problema muito mais conjuntural do que individual. A saída que a gente precisa buscar é coletiva, não do indivíduo.” 

 

 

Pesquisadores e o Estado

 

A presidente da ANPG, Flávia Calé, indica que um dos fatores que prejudicou o andamento de diversas pesquisas nacionais foi o encerramento do programa de pós-doutorado da Capes. Parte do dinheiro foi direcionado à reposição de bolsas de 2019, e outra parcela foi investida nas pesquisas sobre a Covid-19.

 

O investimento é essencial para todo projeto, pesquisa e desenvolvimento de ciência em larga escala. Para alcançar essas verbas, os governos federal e estadual devem trabalhar em conjunto com as instituições de ensino superior. Entretanto, segundo o presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), Rodrigo Ricupero, a relação entre Estado e universidade está bastante abalada.

 

Segundo ele, houve uma queda nos investimentos em pessoal e equipamentos: “O Instituto Geológico, Florestal, da Pesca, uma série de institutos de pesquisas foram desmontados. Não tem concurso faz tempo, os salários são baixos... Então, no fundo tem uma política de desmonte da ciência e da tecnologia”.

 

O presidente da Adusp criticou o discurso mercadológico que, segundo ele, transforma as instituições em “startups” e “empresas unicórnio” [startups com avaliação de mercado de mais de 1 bilhão de dólares], diminuindo seu aspecto social. 

 

Flávia Calé
Flávia Calé

 

Ricupero cita o exemplo do projeto USP do Futuro, que teria sido criado por professores e ex-alunos da universidade em conjunto com a consultoria norte-americana McKinsey. Segundo ele, o processo de convênio não foi comunicado ao restante da universidade e boa parte dos envolvidos no projeto estão em altos cargos de governança estadual. (Explicar melhor qual o problema do USP do Futuro)

 

O projeto de lei apelidado de “PL da autonomia das universidades” seria mais uma forma de distanciar o poder público e os institutos de ensino superior. Essa é a opinião de Amanda Harumy, graduada em Relações Internacionais, doutoranda no Programa de Integração da América Latina, coordenadora geral da Associação de Pós-Graduandos da USP (APG-USP) na capital.

 

De acordo com ela, o orçamento da universidade depende do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Conta que instituições como a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e as universidades estaduais recebem uma porcentagem de sua arrecadação, que é variável. Ou seja, em determinados períodos a verba é maior ou menor.

 

Como a verba arrecadada não é constante, a reserva feita com o que “sobra” dela depois desses gastos imediatos das universidades é essencial para o uso de médio e longo prazo. Isso significa que ele pode ser direcionado para outras necessidades futuras e igualmente importantes para a continuidade dos trabalhos de pesquisa, como reformas de laboratórios, compra de equipamentos, entre outros investimentos. 

 

O PL 529/20 foi criticado pela comunidade de pesquisa.  Após protestos de associações e organizações de docentes e estudantes, acabou não sendo aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo. 

 

 

Frente contra a Covid-19

 

Marcelo Mori é Secretário Regional da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e professor da Unicamp. Ele estuda biologia do envelhecimento  com foco em doenças metabólicas, e seu interesse pelo coronavírus se relaciona aos idosos e pessoas com problemas metabólicos, que são mais suscetíveis à doença.

 

Coordena a força-tarefa da Universidade Estadual de Campinas contra a pandemia. Iniciada em março, trouxe resultados em diversas áreas, servindo como apoio para o Estado. Conseguiram a estrutura necessária para realização de diagnósticos e pesquisa, além de equipes que atendiam populações de menor renda e comunidades indígenas. “Tudo foi feito de forma voluntária, ninguém ganhou nada a mais por conta disso”, conta Marcelo. 

 

“A gente acabou trabalhando com outros grupos, colaborando, fazendo uma ciência muito mais colaborativa, o que para mim é o legado dessa pandemia”, conta. Marcelo Mori explicou que as agências de pesquisa foram compreensivas quanto aos atrasos por conta da pandemia, e que houve financiamento para os projetos relacionados à doença. 

 

Marcelo mori
Marcelo Mori. Acervo pessoal. 

 

Apesar do ganho científico por conta de projetos ligados à covid-19 (alunos e pós-doutorandos se envolveram na nova linha de estudos), ele avalia que houve um atraso significativo nas pesquisas que vinham sendo feitas antes da pandemia. 

 

Para quem trabalha com outras áreas não relacionadas ao coronavírus, ou que não receberam financiamento para trabalhar com a doença, a questão é mais complicada. “Talvez o impacto não seja imediato, mas talvez na hora de enviar um relatório, de conseguir um outro financiamento, esse tempo, esse atraso, pode ser problemático”, afirma. 

 

Quando questionado sobre o que devemos esperar para o ano de 2021, o cientista respondeu que acredita que o aprendizado e a valorização da ciência são essenciais para que a sociedade se prepare para as próximas epidemias, problemas socioeconômicos e mudanças climáticas. 

 

“Não seria possível se não tivesse um arcabouço prévio de investimento, com equipamentos, experiência, estrutura para fazer isso.” Ele lembrou que quem respondeu fazendo testes foram instituições de pesquisa e de ensino, e que fazer as pessoas se recordarem disso por meio de divulgação é importante para a ciência.