Grande nome da luta antirracista, pensadora reforça sua aliança com vozes progressistas do Sul Global
por
Ana Julia Mira
Victória Miranda
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06/05/2025 - 12h

Uma das principais vozes do feminismo negro, Angela Yvonne Davis, fez parte do grupo revolucionário “Panteras Negras” e do Partido Comunista dos Estados Unidos. Além disso, foi amiga de Herbert Marcuse, um dos principais filósofos da Escola de Frankfurt. Marcuse foi seu orientador durante o tempo em que ela passou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e a incentivou a explorar suas ideias revolucionárias de forma mais profunda. Ele foi uma grande influência sobre seu entendimento do socialismo, feminismo e teoria crítica. "A liberdade é uma luta constante. Não há fronteiras para a luta pela liberdade", diz trecho do livro "A liberdade é uma luta constante”, um de seus livros de grande repercussão.

Angela Davis tem uma forte ligação com a música, especialmente com o jazz. Ela costumava frequentar os clubes de jazz em Los Angeles e é fã de artistas como John Coltrane e Miles Davis, cujos trabalhos influenciaram sua visão artística do mundo. Além disso, Davis mantém uma profunda admiração pelo Brasil. Suas visitas ao país ao longo dos anos, revelam não apenas um interesse político, mas também um verdadeiro afeto pela cultura brasileira e pelos movimentos sociais locais. “Tive a oportunidade de conhecer Lélia Gonzalez, e minha percepção é que nós temos muito o que aprender com os movimentos do Brasil”, disse ela em sua passagem a São Paulo em 2019 durante sua participação em um ciclo de debates e palestras que aconteceu também no Rio de Janeiro.

Ela reconhece no Brasil um território fértil para o debate sobre raça, gênero e justiça social  “Há uma vibração, um pulso coletivo nos jovens, principalmente nas mulheres negras e jovens, que é muito grande”, diz Davis. Esse carinho pelo país latino-americano se estende desde 1997, quando esteve pela primeira vez em nosso solo, mais especificamente na Bahia, em evento que celebrava o legado da ativista negra Lélia Gonzalez. No geral, em todas as suas passagens pelo país, participou de conferências, encontros com lideranças de movimentos negros e feministas, além de fortalecer laços com intelectuais e artistas comprometidos com a transformação social.

Davis afirma ver no país uma esperança para a luta das mulheres negras e não enxerga a necessidade de buscarem nela uma referência para o feminismo negro, quando ela mesma aprende com figuras como Marielle Franco, Carolina de Jesus e Lélia. Também se posicionou incisivamente diante de questões políticas brasileiras. Durante o lançamento de sua autobiografia “A liberdade é uma luta constante”, pela editora Boitempo, em 2019, se mostrou atenta ao cenário nacional ao defender a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente da República. No mesmo evento, Davis pediu justiça por Marielle Franco, que havia sido vítima de assassinato no ano anterior. 

Angela retornou ao Brasil, em 2024, para participar da abertura da terceira edição do Festival LED falando sobre a educação como ferramenta para a libertação, momento em que exaltou outra figura brasileira: Paulo Freire, dizendo o considerar o maior educador do mundo. Durante o evento, também se posicionou contra a PL Antiaborto, que estava em discussão na época, e a retirada do livro “O menino marrom” de escolas municipais de Minas Gerais. Afirmou que esses movimentos fazem parte de um crescimento conservador que vem afligindo todo o mundo.

Pesquisa aponta redução de cerca de 7 milhões de leitores no Brasil nos últimos quatro anos
por
Ana Clara Souza
Juliana Salomão
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10/05/2025 - 12h

No dia 23 de abril, quando se celebra o Dia Mundial do Livro, a homenagem aos autores e obras contrasta com um cenário preocupante: o Brasil está lendo menos. Dados da 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, revelam uma redução de 6,7 milhões de leitores nos últimos quatro anos, reacendendo o debate sobre os desafios de manter a leitura como hábito em meio a transformações culturais e digitais. Em 2024, a pesquisa apontou que 53% da população, o que corresponde a 93,4 milhões de pessoas, é composta por não leitores. Isso significa que mais da metade dos brasileiros não leu um único livro, e nem mesmo parte dele, nos últimos três meses. 

“São fatores multifacetados. Não é um único problema. Acho que a queda na leitura do povo brasileiro reforça questões estruturais como, por exemplo, a desigualdade social", diz Bruna Martiolli, mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade do Minho, em entrevista à AGEMT.

Ela reforça que questões estruturais, como a desigualdade social, impactam diretamente o acesso à leitura. Segundo a pesquisa, um dos principais pontos é a disparidade entre as classes sociais. Enquanto 3 milhões de pessoas da classe A são consideradas leitoras (62% desse grupo), nas classes D e E, apesar de o número absoluto ser maior — 19 milhões —, o índice proporcional cai para apenas 35%.

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Foto: Reprodução/Retratos da Leitura no Brasil 


Em Portugal, por exemplo, o público tem consumido cada vez mais livros, registrando um aumento de 9% nas vendas de 2024 em relação ao ano anterior, segundo a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Em entrevista à revista Executive Digest, o presidente da APEL afirmou que este fenômeno é fruto de um esforço coletivo que envolve pais, educadores, autores, organismos públicos e, inclusive, a influência de criadores de conteúdo. Enquanto os portugueses estão tirando proveito das mídias digitais, o Brasil enfrenta barreiras que vão muito além das distrações das telas. Para a professora Bruna, essa contradição revela que o problema na queda da leitura dos brasileiros não se resume a fatores como globalização ou ao uso cada vez maior das redes sociais.

“A gente lida com um país que vive no auge da desigualdade social. A falta de acesso a livros é um problema, e a falta de interesse em ler é outro”, diz ela, que reforça a falta de espaços de incentivo à leitura, como bibliotecas públicas e comunitárias no Brasil, até os altos índices de analfabetismo que persistem e excluem milhões. 

Interesse pela Leitura

Mesmo em um mundo dominado pelo digital, Bruna Martiolli diz não ter “a menor dúvida de que a literatura não corre perigo algum”, pois "por mais globalizados e conectados que estejamos, os seres humanos não conseguem abrir mão daquilo que faz parte da sua essência — a busca pelo sentido, beleza e reflexão da vida. Cedo ou tarde, a literatura encontra o seu lugar", garante. Ainda que o interesse imediato pareça diminuir entre os mais jovens, o fascínio pela leitura, que se mantém desde o surgimento do livro, nunca desapareceu; o encanto apenas se manifesta em momentos diferentes para cada leitor.

Como é o caso da influenciadora digital e apresentadora Giovanna Souza, conhecida como Gih Souza nas redes sociais. “Na minha escola, existia aquele estereótipo do ‘nerd’ que fica lendo. E eu pensava: ‘Não vou ler, não vou ser a nerd que fica lendo’. Deixei esse meu lado pra lá e, na pandemia, comprei um Kindle [aparelho para leitura digital]. Eu falei: ‘Vou voltar a ler’, e comecei a ler muito”, orgulha-se.

O Kindle, dispositivo que permite o acesso e a leitura de diversas obras, é um exemplo da popularidade do mercado de livros digitais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen BookData, em parceria com a Câmara Brasileira do Livro, 30% dos leitores brasileiros compraram livros tanto em formato físico quanto digital no ano de 2024, enquanto 14% optaram exclusivamente pelo formato digital.

O que os criadores de conteúdo digital tem feito para aproximar os jovens da leitura é adaptar, ou “mastigar”, uma obra para os usuários e seus seguidores, por meio de storytellings que funcionam para as redes sociais e para o universo dos algoritmos e vídeos curtos. “Acho que elas [as adaptações] incentivam, sim. Tanto que meus maiores vídeos são quando eu faço resumo dos livros. Às vezes as pessoas gostam de ler para realmente comentar sobre. Gera curiosidade para leitura”, disse Giovanna.

O TikTok, aplicativo chinês famoso pelos vídeos curtos e por ditar as novas tendências na internet, tem se tornado cada vez mais popular entre os jovens. Dentro da rede social, surgiu o movimento “BookTok”, impulsionado por influenciadores digitais, em vídeos são publicados para compartilhar o que o criador está lendo, recomendações e discussões de livros, além de edições e montagens com cenários e roteiros diversos que, das formas mais criativas, incentivam a leitura. 

 

@_gihsouzaf A pergunta de milhões pós #culpatuya é : qual a data de culpa nossa? #culpables #culpamia #nicolewallace #gabrielguevara #culpamiaedit ♬ som original - Gih
A aceleração virou hábito: vídeos em 2x, informações em avalanche e menos tempo para processar o que realmente importa
por
Maria Dantas Macedo
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05/05/2025 - 12h

Cada vez mais pessoas estão consumindo vídeos em velocidade acelerada — 1.5x, 2x, até 3x. A promessa é ganhar tempo. Mas será que estamos realmente aproveitando esse tempo extra? Nesta entrevista em vídeo, vamos investigar como esse comportamento afeta nossa compreensão, saúde mental e a qualidade da informação absorvida. Confira!

 

Em uma discussão sobre tempo e lembranças, Maria Flor e Maria Matilde mostram como o tempo transforma as memórias
por
Isabela Fabiana
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05/05/2025 - 12h

Qual é a sua primeira lembrança do dia de hoje? Pensou? A minha é de acordar e se sentir muito cansada. Mas qual a diferença de lembrança e memória? Será que é o tempo que define? Mas o que é o tempo? Ai estou tão sem tempo! Nem lembro o que comi ontem. Será que comi? Será que estou esquecendo das coisas? E se quando eu ficar idosa eu esquecer de Tudo? Calma, como diz Renato Russo: "temos todo tempo do mundo".

Para essa discussão vamos conversar com dois opostos, mas definitivamente iguais. Maria Flor, 8 anos, e Maria Matilde, 91. Sejam todos bem-vindos ao episódio 01 de Memórias de uma velha infância. Para ouvir o restante do podcast click no vídeo abaixo!

O tempo passa e as memórias também. O esquecimento nos assombra, ele vai chegar. Não é sobre esquecer quem você é, e sim sobre não lembrar das pequenas memórias que você viveu. Maria Flor lembra detalhadamente dos seus primeiros anos, maquiagem escondida da mãe e de seus primeiros aniversários. Maria Matilde até lembra da infância, mas principalmente se recorda dos sentimentos e lições que a formou na vida. O tempo é uma grandeza física, ele é relativo, mas, por favor, não tenha medo dele. Me despeço agora, assim como as memórias de uma velha infância.  

Esporte símbolo do país se torna palco para discussões sobre punições indevidas
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
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05/05/2025 - 12h

A crescente intervenção nas atividades do futebol brasileiro, marcada por regras excessivas e conflitantes, têm transformado a modalidade nacional. A criação de novas regras em eventos tratados como "brincadeiras" do esporte e falta de atenção em casos que impactam o bem-estar dos atletas tem se tornado cada vez mais comum.

 Em entrevista à AGEMT, o jornalista esportivo da Record Bruno Scaciotti comentou a repercussão dos casos e refletiu sobre as mudanças no esporte nacional. "A partir do momento que você impõe as regras, é porque existe uma iniciativa de melhorar o jogo. De criar novos meios para melhorar a competição. A questão é quando você tem esse aumento exacerbado num período muito curto. Nesse caso começamos a nos preocupar", explica Scaciotti. 

Durante a final do Campeonato Paulista de Futebol, o jogador corinthiano Memphis Depay ganhou repercussão nas redes após praticar uma pequena brincadeira comum dentro do esporte. O atleta acabou subindo na bola por alguns segundos, pressionando ainda mais os adversários. O confronto entre seu time e o Palmeiras já estava decidido e a ação foi realizada ao longo dos minutos de acréscimo. Apesar de não ser notificado no momento e a movimentação ser considerada uma diversão pela comunidade futebolística, a confederação resolveu em poucos dias tornar a prática plausível de um cartão amarelo. 

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Memphis Depay subindo na bola durante final do Paulista 2025 (Foto: Reprodução/X)

Poucos dias depois, durante um confronto do Sub-17, entre Brasil e Colômbia, o jovem Ruan Pablo – que marcou um dos gols da vitória – repetiu a movimentação, já recebendo um cartão amarelo como punição. A decisão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) veio pouco menos de uma semana depois. O documento enviado aos clubes brasileiros declara que todos os jogadores que subirem com os dois pés na bola como ato de provocação devem ser punidos com uma marcação amarela e o árbitro deve marcar tiro livre indireto.

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Ruan Pablo subindo na bola durante o confronto do Sub-17 (Foto: Reprodução/Sportv)

A CBF argumenta que a ação “gera impactos negativos ao nosso esporte e provoca transtornos no ambiente de jogo, produzindo confrontos generalizados”. A nova regulamentação utiliza uma interpretação específica da cláusula “infrações por conduta antiesportiva”, indicando que a prática é um desrespeito ao futebol – ato condenável na modalidade. A rapidez na aprovação das novas regras gerou revolta na comunidade e nos amantes do futebol por se tratar de uma banalidade e expor que a atenção em casos verdadeiros não está sendo efetiva. 

Ao redor mundo, o número de casos de racismo nos jogos tem aumentado e nos embates brasileiros isso não foi diferente. Porém, essas ocorrências não receberam nenhuma instituição de  penalidade ou política de acolhimento criada.  Como Contraponto, o jornalista esportivo esclarece a matéria que a falta de união entre os próprios jogadores em momentos como a aprovação dessa nova penalidade também influencia o cenário geral do futebol. 

"A hiper-regulamentarização impacta na postura deles. Mas, a gente também sente falta de um movimento dos próprios atletas para questionar a CBF, como nos casos de falta de profissionalização de árbitros ou em mudança de regra. Hoje ainda não vemos a criação de uma associação dos atletas, ou algo assim, para lutar pelos direitos deles, por exemplo”, completa Scaciotti.

Caso de racismo sem punições

Recentemente, um caso de racismo que tomou grande proporção na mídia foi o de Luighi, jogador da base do Palmeiras. O jovem recebeu ataques racistas diretos de torcedores do time paraguaio “Cerro Porteño” em uma partida válida pela Conmebol Libertadores sub-20. Ao ser substituído, o atacante brasileiro viu um torcedor que carregava uma criança no colo fazer gestos de macaco direcionados a ele, e os outros cuspiram no atleta pelo alambrado do campo. Na hora, o menino já começou a chorar indo em direção ao banco. Em entrevista ao Fantástico, Luighi comentou: “Eu não me aguentei. Fiquei com muita raiva. Fui nos policiais que estavam do lado. Falei: ‘vocês vão deixar ele falar isso daí para mim? Vocês não vão fazer nada?’ E eles só olharam para mim, de mão cruzada e não fizeram nada”, “O árbitro, ele só pedia para eu sair do campo. Parecia, tipo, que não ligava para o que aconteceu.”, completou o jovem.

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Luighi chorando na entrevista pós jogo. (Foto: Reprodução/Goat)

Após tamanha repercussão, clubes como São Paulo e Corinthians prestaram solidariedade ao jovem, emitindo uma nota em seus perfis oficiais. Não só clubes como jogadores também. Depois do ocorrido, como forma de resposta, a Conmebol multou o clube paraguaio em 50 mil dólares (aproximadamente $285 mil reais), proibiu a presença de público nos jogos da equipe no restante da competição e decretou que o time promovesse uma campanha de conscientização sobre o racismo nas redes sociais. 

"A CBF tem que ter uma regulamentação mais forte quanto a qualquer tipo de preconceito, seja machismo, homofobia ou qualquer outra violência. E isso tem que se tornar punições graves, gerar algo muito além do que uma ‘multinha’ de 20 mil reais para clubes que recebem milhões e bilhões. Temos que ter punições de perda de mando, redução de público etc. E os árbitros também precisam ser orientados, eles precisam ter noção, situar o que ocorreu e justificar na súmula”, explica o jornalista.

Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, discursou sobre o racismo durante o evento de sorteio da fase de grupos da Copa Sul-Americana, e disse às medidas que seriam tomadas. Mas a equipe Alviverde discordou por meio de nota oficial, considerou que as medidas são "extremamente brandas" e "inócuas" diante da gravidade dos fatos, além de serem "insuficientes para combater casos de racismo no futebol sul-americano".

O desequilíbrio está na falta de ações para casos desse nível de gravidade como o racismo, e a facilidade na criação de regras quando se trata de brincadeiras futebolísticas dentro de campo. "É de extrema importância não só a CBF ter essas decisões mais duras, mas as diretorias estarem de olho no que acontece". termina Bruno.

 

Artista gráfico consagrado por ilustrar mais de 450 capas de álbuns, morreu aos 76 anos após complicações por conta de um infarto.
por
Ana Kézia Andrade
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29/03/2022 - 12h

 

Elifas Vicente Andreato, nasceu em 22 de Janeiro de 1946 na cidade de Rolândia no Paraná. Era reconhecido pelo traço marcante e original. O artista paranaense trabalhou na capa de diversos álbuns para Martinho da Vila, Chico Buarque, Caetano Veloso e nomes importantes que compõem o cenário da Música Popular Brasileira. Além de artista gráfico, ilustrador e diretor de arte, Andreato trabalhou como escultor; cenógrafo, roteirista e diretor de shows de MPB e programas de TV; cenógrafo teatral; jornalista e editor.

 

Dono de uma linguagem visual pautada em cores vivas e formas que retratam a imagem do povo brasileiro, Elifas deixa para a cultura brasileira um legado iniciado no começo dos anos 70, acompanhou a evolução digital e tecnológica da música e da arte até o fim da vida. 

 

Em 2012, produziu a obra “A verdade ainda que tardia”, a pedido da Comissão Nacional da Verdade para retratar a realidade das torturas ocorridas na ditadura militar. Denunciou, através de sua arte, o assassinato do Jornalista Vladimir Herzog. Em 2015, a arte que estava exposta nos corredores da Câmara dos Deputados foi arquivada sob o pretexto de falta de espaço na exposição permanente do local.

 

Um de seus últimos trabalhos foi feito para a PUC-SP, Elifas foi responsável pela arte exclusiva para a celebração pela volta das atividades presenciais dos campi da faculdade, inspirada na Semana de 22. A obra intitulada Arte do reencontro é caracterizada por cores fortes, calor humano e traços de conjunção. 

 

A confirmação da morte foi divulgada pelo irmão do artista, Elias Andreato, através de perfil no Instagram. Elifas estava internado desde a semana passada, em decorrência de um infarto. O corpo será cremado às 16h desta quarta-feira (29) no Crematório Vila Alpina, na Zona Leste da capital paulista.

Alguns professores marcam a vida dos estudantes, seja como educador ou amigo. Alunos e ex-alunos relatam como Alexandre Brandão marcou suas trajetórias.
por
Vitória Nunes de Jesus
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17/11/2021 - 12h

       Alexandre Brandão é professor há 14 anos. Ele pode pensar que é apenas professor de História, porém para alguns alunos, ele também ensina como viver com sabedoria. O professor diz que não se arrepende de ter escolhido a profissão e relembra o início de sua carreira: “Com 23 anos decidi ser professor. Nessa época eu comecei a fazer um trabalho voluntário numa escola que me dava direito a concorrer a uma bolsa de estudos, o que me permitiu iniciar uma faculdade e dentre as opções a que mais se identificava comigo era História.”

      Conhecido por “Xi” pela turma de 2020 do 3° ano do Ensino Médio do Colégio Batista, Alexandre foi e ainda é para os ex-alunos, um amigo e conselheiro. Conhece-os desde 2014, quando ainda eram do 6° ano do Ensino Fundamental. Com o passar dos anos, pôde conhecer cada um, e às vezes, até mesmo as dificuldades pelas quais passavam. A ex-aluna Anna Luiza Gandini relata uma experiência com ele: “Um dia minha melhor amiga da sala faltou e eu estava sozinha no meu lugar. Na época eu estava passando por um momento difícil em minha vida, até que ele foi até minha mesa e disse que notou que eu estava abatida e perguntou o motivo de eu estar assim, então eu contei o que estava acontecendo e ele simplesmente disse que era para eu confiar em Deus, que Ele estava no controle. O professor disse também que eu poderia contar com ele. Talvez ele não se lembre disso, mas eu nunca vou esquecer”.

Professor Alexandre no Colégio Batista (2018).
Professor Alexandre no Colégio Batista (2018).

      O professor Alexandre conta que um dos benefícios em ser professor é receber o carinho e a gratidão dos alunos e diz ainda que existem situações que o marcam: “As situações impactantes geralmente são aquelas em que se percebe a gratidão do estudante. Mas em uma oportunidade, eu precisaria me ausentar para fazer uma cirurgia, e no meu último dia na unidade escolar, alunos do 6º ano fizeram uma série de homenagens em gratidão e apoio.”

Professor Alexandre e alunas do 6° ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Fábio Prado (2019).
Professor Alexandre e alunas do 6° ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Fábio Prado (2019).

      Também relata sua gratidão por tudo que já viveu em seu trabalho: “O sentimento de satisfação e de realização são inevitáveis. Alunos da Escola de Jovens e Adultos (EJA) já voltaram na Instituição de Ensino para agradecerem a formação e informarem que estavam ingressando num curso técnico ou faculdade.”

     Ser educador exige diversas competências e é uma das profissões mais nobres. Porém são várias as dificuldades encontradas, presencialmente e on-line. Nas escolas é necessário oferecer condições de manter a turma focada. Para conhecer os problemas, nada melhor que um professor contando quais ele enfrenta: “Existe a dificuldade de conseguir manter o foco e atenção dos alunos. O número alto de alunos nas salas de aula. A falta de acompanhamento dos pais. A falta de estrutura tecnológica e as vezes básica (como livros didáticos)”. Alexandre observa que os problemas estruturais são mais acentuados nas escolas públicas. Durante a pandemia, grande parte da população já ouviu dos alunos que o rendimento na escola caiu bastante e até já conhecem as dificuldades do Ensino à Distância. Mas os professores também passam por alguns desajustes: “Geralmente os professores citam a adaptação ao ambiente virtual, as novas tecnologias e ao fato de falar para um público não presente (apenas on-line). Particularmente, não senti dificuldades nesses itens. Outra complicação é a percepção da recepção do aluno, algo que só é plenamente possível no presencial”. Ele diz que existem casos em que os estudantes não têm acesso as aulas remotas e é necessário “correr atrás” de alguns: “Na escola pública, apesar de termos uma excelente plataforma digital, nem todos os alunos têm acesso a equipamentos e internet de qualidade. Muitas vezes precisamos recorrer a canais informais como WhatsApp para estabelecer o contato mais direto”.

Professor Alexandre ministrando aula on-line durante a pandemia no Colégio Batista.
Professor Alexandre ministrando aula on-line durante a pandemia no Colégio Batista.
 

      O professor de História conta as dificuldades no trajeto de casa até o trabalho e pontua aglomerações: “O transporte público ainda é lotado. Eu utilizo o metrô e ele sempre está cheio”. Ele menciona que não se sente seguro ao trabalhar presencialmente durante a pandemia de COVID-19 e diz que não considera essencial o retorno das aulas nas escolas, afirma que a vida está a cima de qualquer outra coisa: “Mesmo com as medidas sanitárias e protocolos seguidos, sair de casa e pegar transporte público ou conviver com pessoas que precisam sair de casa para o serviço, nos deixam expostos ao contágio. O essencial é a vida. Se for algo que a ponha em risco, deixa de ser essencial”.

Aparentemente, Alexandre tem um perfil competente de educador. Além da qualidade técnica, consegue acolher os alunos também em situações que, mesmo sendo originárias de suas vidas pessoais, manifestam-se na sala de aula. Com isso, marca as memórias de muitos estudantes e pode ser definido como "O melhor professor que já tive", como afirma uma ex-aluna do Colégio Batista.

Como o Presidente da República, muitas igrejas criticam a vacina, atacam a imprensa e fazem propaganda de curas milagrosas durante a pandemia
por
Esther Ursulino e Gabrielly Mendes
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09/08/2021 - 12h

 

Durante a pandemia do novo coronavírus, diversas autoridades políticas e religiosas utilizam sua influência para promover discursos que desinformam a população. O ataque à mídia e à ciência, somado a soluções simples para problemas complexos, levam os seguidores dessas lideranças a minimizarem a gravidade do vírus, e com isso, a arriscarem suas vidas. 

O bispo Edir Macedo, fundador da igreja Universal do Reino de Deus, disse que aqueles que tiverem ‘coronafé’ não serão infectados; Valdemiro Santiago, pastor da Igreja Mundial do Poder de Deus, vendeu feijões com suposto poder de cura pelo valor de 100 a mil reais; e Elenildo Pereira, padre da Canção Nova de Cachoeira Paulista, pregou contra a vacina ao descredibilizar os estudos que comprovam sua eficácia. 

Similarmente, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimiza a gravidade do coronavírus. Em março de 2020, durante um pronunciamento feito em rede nacional, chamou a Covid-19  de "gripezinha". O chefe do executivo, tal como o pastor Valdemiro, apresenta soluções ineficazes para o combate ao vírus, como a cloroquina e outros remédios do kit-covid. Ademais, faz declarações contrárias à vacinação que induzem a população a questionar a eficiência e segurança dos imunizantes. “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina. Eu não vou tomar. Eu já tive o vírus. Já tenho anticorpos. Para que tomar vacina de novo?”, disse durante um discurso em Porto Seguro – BA, em dezembro de 2020.

Além dos púlpitos e do Planalto, o negacionismo ganha espaço nos meios de comunicação aliados ao governo — dos quais muitos evangélicos são espectadores. De acordo com Gilberto Nascimento, jornalista e autor de “O Reino: A história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal”, a Record, emissora de Macedo, passou a “defender com mais unhas e dentes a pauta desse movimento evangélico-conservador” após o impeachment de Dilma. Segundo Nascimento, o canal foi oferecido como palanque eleitoral para o futuro presidente em 2018, o que contribuiu para que fosse utilizado em defesa de interesses políticos.  

Como resultado, a cobertura jornalística teve que se adequar à postura bolsonarista, que minimiza a gravidade da pandemia. Para se contrapor à linha editorial "alarmista", a TV Record abordou as notícias relacionadas ao coronavírus de forma branda, e assim como o SBT, deu enfoque ao número de recuperados como quis o chefe da nação. A propagação do discurso da “gripezinha” rendeu privilégios a esses veículos. Segundo o site Nexo, em 2020 ambos receberam um grande repasse de verbas federais, com valores de 13,1 e 9,3 milhões respectivamente. 

Quantos dízimos valem uma vida? 

Sob o argumento de que a igreja é o “último refúgio para os desesperados”, líderes religiosos aliados a Bolsonaro insistem em manter as portas de seus templos abertas mesmo com risco à saúde dos fiéis. Em abril deste ano, quando o Brasil registrava mais de 1000 mortes diárias, o ministro Nunes Marques atendeu a uma liminar da Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure) e proibiu que estados e municípios vetassem celebrações religiosas para conter a disseminação do vírus decisão que o STF derrubou. Segundo a associação, os decretos são inconstitucionais, pois violam o direito de liberdade religiosa. Contudo, para o jornalista Gilberto Nascimento, “a grande preocupação é ter a igreja fechada e a receita diminuir”. 

Devido ao isolamento social, os dízimos e ofertas, antes doados presencialmente, pararam de chegar aos cofres santos. Para contornar o problema, missionários sugeriram que os membros realizassem depósitos online. Entretanto, a Revista Piauí mostrou na matéria "Sem fiéis, sem dízimo, sem palanque", que a quantia recebida foi inferior ao esperado, o que causou prejuízo às instituições

O escritor de O reino, que cobre a área de religião há quarenta anos, aponta ainda que o discurso negacionista tem mais recepção em algumas denominações. Segundo ele, as que possuem a maior parte de seus fiéis provenientes da classe média e elite, como é o caso da Luterana, Metodista e Presbiteriana, são menos suscetíveis a discursos falaciosos. As pentecostais como a Batista e a Congregação atraem diferentes camadas sociais, apresentando narrativas diversificadas. Em contraposição, as neopentecostais atraem pessoas em situação de dificuldade extrema – seja na área financeira, social ou psicológica –, geralmente com pouca escolaridade e sem acesso à informação, o que as tornam dependentes das interpretações dos pastores.

“Não é uma verdade dizer que entre os evangélicos qualquer coisa que o pastor falar as pessoas vão seguir cegamente.  Vão ter pastores negacionistas e não negacionistas e aquilo que eles falarem nem todos vão cumprir. Mas em algumas igrejas neopentecostais isso acontece sim, as pessoas confiam piamente", afirma Gilberto. 

Persuadidos por discursos difundidos dentro de templos e reafirmados por autoridades como o presidente da república, muitos fiéis vêem a vacina com desconfiança e se recusam a serem imunizados. De acordo com pesquisa do Datafolha realizada em março de 2021, 14% dos 2.023 religiosos entrevistados não pretendem se vacinar contra a covid-19. O número, que representa os evangélicos, é superior ao de católicos ouvidos (6%). 

Magna Aparecida, membro da Congregação Cristã do Brasil, diz que notou discursos negacionistas entre religiosos de diferentes denominações. “Tenho colegas de caminhada que não querem tomar a vacina e justificam com aquele discurso de que ‘Deus cuida'''. Contudo, ela pondera: "temos que fazer a nossa parte, pois Deus criou a medicina, então temos que segui-la". 

É necessário pontuar que pessoas transexuais e travestis não são tratadas pela sociedade como merecedoras de afeto.
por
Aline Freitas, Luan Leão, Tábata Santos, Larissa Isabella
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22/06/2021 - 12h

Vistos, em sua maioria, como pessoas não dignas de afeto, transexuais e travestis são colocados em um lugar de exclusão e hostilização. Em uma sociedade que não busca se informar sobre temas relacionados a identidade de gênero e sexualidade, Gabrielle Graciolli, 18, mulher transexual, ressalta: “Por mais que seja um assunto mais falado do que era a alguns anos atrás, eu acho que a sociedade não está pronta para pessoas trans. As pessoas ainda marginalizam muito, principalmente as mulheres trans, e as travestis. A gente ainda tem muitos desafios e a nossa vida é dez vezes mais difícil do que a vida de uma pessoa cis”.

Foto da entrevistada Gabrielle Graciolli, 18.
Gabrielle Graciolli, 18

Graciolli nunca esteve em um relacionamento sério e acredita que isso tem a ver com o fato de ser uma mulher trans. “O motivo é que as pessoas cis, a grande maioria homens cis,  podem até se apaixonar por uma mulher trans, e querer ter um relacionamento com elas, mas eles não assumem esse relacionamento, e deixam de uma forma escondida, por conta do medo de sofrer preconceito e do que os familiares e os amigos vão pensar”, diz. 

 A psicóloga Laís Mendes, especializada em atendimento a pessoas LGBTQIA+, concorda com o pensamento da estudante. “Geralmente o receio de assumir se dá devido ao receio de ser zoado pelos amigos, por vergonha ou medo de enfrentar junto a essa pessoa o que ela passa no dia a dia”, afirma.

A criadora de conteúdo Thiessita, também mulher trans, lista, em seu canal no Youtube, motivos que levam a essa realidade. Segundo ela, os homens cis, além de terem  medo de serem julgados pela sociedade, também enxergam as mulheres trans de uma forma muito fetichizada. Para Graciolli, a fetichização decorre da pornografia: “A pornografia de trans e travesti é bem fetichizada. É sempre a trans como se fosse apenas uma boneca inflável. Então, muitos homens acabam tratando as mulheres como fetiche”, completa. Segundo relatório do site pornográfico “Pornhub”, o Brasil está entre os países que mais consomem pornografia transexual no mundo. 

Foto do entrevistado Matheus Menatto, 19
Matheus Menatto, 19

A problemática da fetichização não afeta só as mulheres trans e travestis, como também os homens transexuais. Matheus Menatto, 19, homem trans, afirma que sofre na pele as consequências dessa realidade até mesmo  por membros da própria comunidade LGBTQIA+: “Tem muitos homens, gays ou héteros, que têm fetiches em homens trans. Eles chegam já mandando foto deles, achando que a gente é um objeto”. 

Graciolli infere que a fetichização, causada pela pornografia, desencadeia o assédio. “Eu mesma passo por isso, de mandarem fotos do órgão genital para mim no Instagram, nas redes sociais”, relata. Ela afirma que de todas as vezes que sofreu assédio, denunciou apenas uma delas: “Ele ficava me perseguindo, eu tive que denunciar. Mas eu fiz só o boletim de ocorrência virtual, nunca cheguei a fazer uma denúncia muito séria”. 

De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% desse grupo, no Brasil, recorre à prostituição como fonte de renda. Isso mostra que a fetichização leva ao assédio, ao alto índice de prostituição desse grupo, e ainda contribui para a negação de afeto sofrida por essas pessoas. 

Contudo, é perceptível a diferença de tratamento recebido pelos homens trans em comparação com as mulheres transexuais. Um artigo escrito por Kristen Schilt da Universidade da Califórnia, Los Angeles, demonstra como homens trans ganham mais visibilidade, autoridade e respeito em seus trabalhos. Kawan Freitas, 21, homem trans, afirma nunca ter passado por nenhum preconceito com as pessoas com que se relacionou e suas famílias: “Sou casado com uma mulher cis. A gente nunca enfrentou nada, temos a aceitação das pessoas. Minha família sabe, a família dela sabe e aceitam a gente, respeitam”. O mesmo acontece com Menatto que namorava uma mulher cis durante seu processo de transição. “Assim que eu comecei a transição eu tava namorando uma menina. Ela era da minha escola e me apoiou. Enfim, eu terminei, ela é minha ex-namorada. Quando eu mudei de escola eu não cheguei a sofrer nada do tipo, hoje eu namoro de novo”, relata. Em seu novo relacionamento, a aceitação é a mesma: “Em nenhum dos relacionamentos que tive, eu sofri preconceito”. 

Foto do entrevistado Kawan Freitas, 20
Kawan Freitas, 20

Já Graciolli enfrenta uma realidade diferente. “O relacionamento que eu tive não era um relacionamento sério porque eu nunca fui assumida", conta. “Ele falava que me amava só para conseguir se relacionar comigo quando ele quisesse. Ele só me usava e falava coisas para me manter por perto”. Ela ainda relata o medo que seu parceiro sentia de que a relação fosse descoberta: “Teve uma vez que eu estava em uma festa que estavam os amigos dele e ele me mandou um monte de mensagens falando para não contar para ninguém. Umas mensagens desesperadas. Uma coisa bem horrível, bem desconfortável”. 

É importante ressaltar que os homens trans também passam por preconceitos e que Menatto e Freitas são exceções. Contudo, isso aponta que as mulheres trans sofrem ainda mais em decorrência do machismo. Segundo Graciolli, questões relacionadas à masculinidade fazem com que homens cis que se relacionam com mulheres trans sofram mais que mulheres cis que se relacionam com homens trans. “Quem namora com uma pessoa trans, acaba sofrendo transfobia também, principalmente os homens, porque tem toda a questão da masculinidade”, conta. 

Entender as questões de gênero é um dos principais fatores que contribuem para que a violência da rejeição amorosa não faça parte da vida de uma trans ou travesti de maneira traumática, Mendes ressalta: “É de extrema importância que as pessoas se informem e desconstruam o que inicialmente foi aprendido sobre gênero. O gênero não é uma ideia de pênis e vagina, isso é uma característica genética fenotípica. As vezes tem pessoas que se relacionam com trans ou travestis que decidiram não passar por uma cirurgia e os amigos chamam essa pessoa de gay ou lésbica, por estar se relacionando com pessoas que tenham a mesma genitália, então a sociedade tem que entender que gênero não é biologia, gênero é algo a ser aprendido”. E finaliza: “No país que mais mata trans e travestis no mundo, é um ato de resistência essas pessoas se permitirem amar e demonstrar esse amor.”

Mais de 9 mil famílias foram despejadas durante a pandemia da Covid-19, contrariando as orientações do Conselho Nacional de Justiça
por
Laura Naito e Letícia Coimbra
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15/06/2021 - 12h

Apesar da recomendação das entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) para a população ficar em casa, no Brasil mais de 9.156 famílias foram despejadas entre março de 2020 e fevereiro de 2021. Durante a pandemia, os despejos deixaram as pessoas ainda mais expostas à doença.

Fonte: Campanha Despejo Zero
Fonte: Campanha Despejo Zero

 

Além disso, o Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma recomendação para que seja avaliado com cuidado as ações de desocupação de imóveis, urbanos ou rurais, em especial aquelas que dizem respeito àquelas que envolverem pessoas vulneráveis seja social ou economicamente. Mesmo assim, a questão dos despejos já foi muito renegada pelo governo que, mais uma vez, coloca a população em perigo.

Nesse contexto, em setembro de 2020, surgiu a Ocupação Manoel Aleixo, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), um movimento nacional que luta pelo direito de morar de forma digna.

Selma Maria, coordenadora da Ocupação, relata: “Eu tinha que escolher, ou eu pagava água ou eu pagava luz, ou eu comia ou pagava o aluguel. E a gente sempre pagava o aluguel, porque a gente senão ia para debaixo da ponte, então a gente passava fome pagando aluguel. Aí quando eu recebi essa proposta eu aceitei, já que pelo menos lá a gente vai ter uma garantia de procurar um lugar sem ter o peso do aluguel”.

Selma Maria, coordenadora da ocupação (Foto: A Verdade)
Selma Maria, coordenadora da ocupação (Fonte: A Verdade)

 

No local, moram 40 famílias que fizeram a mesma escolha de Selma e que tiveram que se acostumar com essa nova realidade de moradia. A organização é feita em uma escala semanal, dependendo da cooperação de todos. As tarefas domésticas, da cozinha até a lavagem de roupas, são divididas entre todos e existe, inclusive, uma creche para ajudar as mães solos.

Essa dinâmica da ocupação foi idealizada e realizada pelos próprios moradores, quando tais ações deveriam ser proporcionadas pelo governo, considerando o Art. 6o da Constituição de 1988, que garante, entre outros, o direito à moradia e saúde. Entretanto, como esses direitos foram negados pelo Estado, deixando essas pessoas vulneráveis. Segundo o estudo “População em Situação de Rua em Tempos de Pandemia: Um Levantamento de Medidas Municipais Emergenciais”, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, pessoas em situação de rua ficam mais expostas ao vírus da Covid-19.

Além da maior vulnerabilidade para o vírus, as ocupações não têm sido reconhecidas como residência, portanto, os moradores da Manoel Aleixo ainda são considerados sem-teto perante à lei. No entanto, no Brasil, a comprovação da residência é necessária para a realização de matrículas escolares ou até registros de empregos, como consequência, essas pessoas são impossibilitadas de sair dessa situação, culminando em um ciclo sem fim.