Uma análise sobre a passagem do físico e teórico alemão pelo Brasil e o apagamento das mulheres na ciência
por
Natália Matvyenko Maciel Almeida
Joana Grigório
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16/11/2025 - 12h

Em 1925, Albert Einstein desembarcou na américa do sul, na cidade do Rio de Janeiro, para uma sequência de palestras e nesse vídeo exploramos uma parte dos relatos escritos em seu diário e a falta de registros de pessoas racializadas e também de mulheres nas conferências.

Referências utilizadas para esse vídeo: 

1. Tolmasquim, Alfredo Tiomno. Einstein, o Viajante da Relatividade na América do Sul (2003)
Este livro oferece um olhar detalhado sobre a visita de Albert Einstein à América do Sul, incluindo sua passagem pelo Brasil. O autor explora a recepção do cientista e seu impacto no cenário científico da época.

2. Haag, Carlos. "Tropical Relativity" (2004)
Artigo publicado na revista Pesquisa FAPESP, que aborda os diários de viagem de Einstein na América do Sul, com destaque para suas observações sobre o Brasil e suas interações com a ciência local.

3. Moreira, Ildeu de Castro. Entrevista: Visita de Einstein ao Rio de Janeiro promoveu valorização da ciência pura (2025)
Entrevista com Ildeu de Castro Moreira, que discute o impacto da visita de Einstein ao Rio de Janeiro, enfatizando a valorização da ciência fundamental e os desdobramentos para a pesquisa no Brasil.

4. Fundação Oswaldo Cruz. Museu tem atrações em homenagem aos 100 anos da visita de Einstein (2025)
A Fundação Oswaldo Cruz celebra o centenário da visita de Einstein ao Brasil com exposições e atividades que relembram a importância histórica dessa passagem do cientista.

5. Observatório Nacional. 100 Anos de Einstein no Brasil (2025)
O Observatório Nacional comemora o centenário da visita de Einstein ao Brasil com uma série de palestras e reflexões sobre o impacto de sua passagem no campo científico brasileiro.

6. Rosenkranz, Ze'ev (org.). The Travel Diaries of Albert Einstein (2018)
Esta coletânea organiza os diários de viagem de Einstein, incluindo suas observações sobre diferentes regiões do mundo, com destaque para seus comentários sobre a América do Sul, e apresenta uma análise crítica sobre seus pontos de vista racializados.

7. Artigos de divulgação histórica sobre os diários de Einstein e racismo
Diversas publicações, como matérias da History.com e do The Guardian, discutem as anotações de Einstein sobre suas viagens à Ásia e outros lugares, destacando seus comentários sobre raça e cultura.

Nota de Checagem de Fatos
As informações sobre a visita de Einstein ao Brasil e seu impacto no país, incluindo o papel de Carlos Chagas e a análise dos diários de viagem, foram baseadas em fontes como Fiocruz, Observatório Nacional, e pesquisas de Ildeu de Castro Moreira. As reflexões sobre os comentários racializados de Einstein seguem a análise crítica adotada por estudiosos como Tolmasquim, Haag e Rosenkranz.

Releitura transmídia da estadia do físico no Rio de Janeiro em 1925
por |
03/11/2025 - 12h

Em maio de 1925, Albert Einstein visitou o Rio de Janeiro por uma semana hospedando-se no Hotel Glória, quarto 400. Apesar da recepção calorosa como celebridade, sua passagem foi um desastre cômico. A comitiva que o cercava não tinha um único físico ou matemático - apenas médicos, advogados, políticos e militares da elite social brasileira. No Clube de Engenharia, falou para uma plateia lotada que não entendia alemão nem suas ideias, em uma sala barulhenta e sem acústica. Na Academia de Ciências, teve que ouvir três discursos vazios em francês mal falado, incluindo um sobre "a influência da Relatividade na Biologia". O ápice foi quando o jurista Pontes de Miranda tentou desafiá-lo em alemão com considerações sobre metafísica e direito. Einstein levou de presente um papagaio que repetia "Data venia, Herr Einstein", lembrando-o sempre, com humor, da "ciência" dos doutores brasileiros.

“Einstein: visualize o impossível” é um projeto dos estudantes do quarto semestre de jornalismo da PUC-SP, da disciplina de jornalismo transmídia. O projeto aborda, de diferentes maneiras, uma releitura da icônica visita do físico ao Brasil em 1925. Todos os relatos estão em um site especial. Além de produções visuais e sonoras, o especial propõe uma narrativa em quadrinhos que conecta ciência, história e imaginação, tendo como cenário o Observatório Nacional (espaço que recebeu Albert Einstein). 

A produção contou com a colaboração de Bruno Matos, vice-diretor da Escola Estadual Professor Walter Ribas de Andrade. Já o vídeo “Os impactos de Albert Einstein na educação brasileira explicado por doguinhos” apresenta as contribuições das teorias do cientista para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a partir da entrevista com o professor de física Dediel Oliveira.  

Em “Diário do Einstein”, o leitor encontra coletânea de depoimentos em formato de diário sobre a passagem de Albert Einstein pelo Rio de Janeiro no ano de 1925, comentando ao longo de cada dia, pontos turísticos e palestras presenciadas por ele. No podcast "A carta que revolucionou a corrida armamentista", discute carta assinada pelo físico Albert Einstein em agosto de 1939, que alertava o presidente dos EUA, Franklin D.Roosevelt, sobre o potencial da Alemanha nazista em desenvolver uma bomba atômica.

O vídeo vertical “Einstein no Brasil” narra o encontro do físico com Carlos Chagas, marcando um momento científico crucial. A produção destaca a troca intelectual entre os dois grandes nomes da época. Por fim, é possível compreender uma sutil crítica sobre a omissão de um encontro com cientistas mulheres consagradas, como Bertha Lutz. Em “Einstein: uma análise de sua trajetória política”, as cartas de Einstein e seus discursos que expressavam preocupação com a violência e os conflitos no Oriente Médio são revisitadas. Nas declarações, o físico defende uma convivência justa entre judeus e árabes, e o projeto analisa como suas palavras ecoam no contexto atual da guerra entre Israel e Palestina, mostrando que o tempo passa, mas as perguntas sobre humanidade e coexistência continuam urgentes. 

Finalmente, o livro "Os Sonhos de Einstein", de Alan Lightman, pela Cia das Letras, apresenta uma série de sonhos imaginários que o jovem Albert Einstein teria tido enquanto desenvolvia a Teoria da Relatividade, em 1905. Em cada um deles, o tempo funciona de um jeito diferente, às vezes para, volta ou corre mais rápido e essas variações servem para refletir sobre a vida, as lembranças e as escolhas humanas. "Neste mundo, a textura do tempo parece ser pegajosa. Porções de cidades aderem a algum momento na história e não se soltam. Do mesmo modo, algumas pessoas ficam presas em algum ponto de suas vidas e não se libertam".
 

O uso excessivo do celular está moldando comportamentos e lucros empresariais das Big Techs
por
Julia Cesar Rangel
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27/10/2025 - 12h

Por Julia Cesar

 

O som começa suave, quase hipnótico. A vinheta colorida anuncia: “Cocomelon!”. Em segundos, os olhos se fixam na tela, o corpo se acalma e o mundo ao redor desaparece. Por trás dessa inocente animação infantil, há uma equipe bilionária que lucra com cada clique, cada minuto de atenção e cada vídeo que não para de rodar.

Nos últimos anos, o uso excessivo do celular tem preocupado especialistas, pais e educadores. Plataformas e canais, especialmente os voltados para o público infantil, estão sendo desenhados para capturar e reter o olhar humano o máximo possível. No caso das crianças, os efeitos são ainda mais intensos, já que seus cérebros ainda não estão totalmente formados para compreender o que é viciante e prejudicial.

A mãe Bianca Rangel, por exemplo, percebeu esse impacto em casa. O pequeno Gael, de 3 anos, começou a reconhecer a música do Cocomelon apenas pelo primeiro segundo de som. Ele largava qualquer brinquedo para correr até o celular. No início, Bianca achava a cena fofa, mas com o tempo notou que o filho ficava irritado e chateado quando o aparelho era desligado.

Preocupada, ela tentou limitar o tempo de tela, mas enfrentou forte resistência. Foi então que decidiu buscar orientação profissional e entendeu que substituir o tempo de tela por atividades com “dopamina boa” não era apenas uma escolha, e sim uma necessidade.

De acordo com a psicóloga Mayara Contim, formada pela USP e atualmente atuando na escola St. Nicholas, esse tipo de comportamento é resultado de mecanismos psicológicos cuidadosamente estudados pelas plataformas. Ela explica que não se trata apenas do Cocomelon: hoje, vídeos são planejados para ativar o sistema de recompensa do cérebro. As músicas, as cores e o ritmo acelerado são pensados para liberar dopamina, o hormônio ligado ao prazer imediato. Isso cria um ciclo de dependência semelhante ao que ocorre com jogos e redes sociais entre adultos e adolescentes.

A psicóloga ressalta que o problema não está apenas nas crianças. Segundo ela, os adultos também são vítimas desse design, já que as redes sociais funcionam com a mesma lógica de manter o usuário rolando infinitamente. No entanto, o impacto é mais grave nas crianças, pois seus cérebros ainda estão em desenvolvimento.

Um estudo recente da Common Sense Media apontou que, em média, crianças de até cinco anos passam quase três horas por dia em frente a telas. O dado assusta, mas reflete uma realidade cotidiana: celulares se tornaram babás digitais, distrações práticas para pais cansados e ferramentas de lucro para empresas que vendem publicidade a cada visualização.

Bianca admite que o uso do celular facilitava sua rotina. Enquanto o filho assistia aos vídeos, ela conseguia trabalhar ou realizar tarefas domésticas. Com o tempo, porém, percebeu que estava trocando momentos de qualidade com o filho por alguns minutos de silêncio.

Para Mayara Contim, o primeiro passo é não culpar os pais, e sim compreender o contexto. Ela destaca que vivemos em um mundo hiperconectado e que o caminho está na consciência e nos limites. O ideal, segundo a psicóloga, é que os pais assistam junto com as crianças, conversem sobre o conteúdo e ofereçam outras formas de estímulo — como brincadeiras, leitura e contato com a natureza.

Enquanto isso, a indústria continua explorando cada segundo de atenção possível. Canais como Cocomelon acumulam bilhões de visualizações e lucros altíssimos com publicidade, licenciamento e produtos derivados. O looping digital virou negócio, e nós, espectadores, nos tornamos o produto.

Mayara resume a lógica de forma direta: a atenção é a nova moeda. E, no fim, essa frase ecoa como um alerta — quanto mais tempo passamos presos às telas, mais alguém, do outro lado, está lucrando com isso.

O Brasil é pioneiro na criação de um medicamento que regenere a medula óssea de pacientes
por
manuela schenk scussiato
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03/11/2025 - 12h

Por Manuela Schenk

 

Não fora uma sexta-feira qualquer para Júlia. A caminho do ponto de ônibus para voltar para sua casa após um dia de aula na faculdade um motorista embriagado atropelou-a e fugiu sem prestar socorro que mudou sua vida para sempre quando tinha apenas 19 anos. Júlia teve lesões nas vértebras T8, T9 e T10 que a deixaram paraplégica depois de cinco dias em coma quando recebeu a notícia de que jamais andaria novamente.

Hoje Júlia tem 22 anos e teve que reaprender a viver. Coisas que jamais imaginou ter dificuldades agora são grandes conquistas, como quando conseguiu tomar banho sozinha pela primeira vez ou quando pode se deitar na própria cama sem auxílio. Escadas se tornaram rampas, seu restaurante favorito virou delivery, já que não possui acessibilidade para que ela consiga entrar na cadeira de rodas. As festas que frequentava semanalmente agora são eventos anuais, pois a locomoção dentro de uma balada é quase impossível para alguém que não consegue usar as próprias pernas.

No início se adaptar parecia impossível, noites mal dormidas quando chorava no travesseiro até seus olhos cederem. Depois de receber alta do hospital ela foi encaminhada para terapia, consultas três vezes por semana que depois de dois anos se tornaram duas. A fisioterapia que antes era uma tortura aos poucos se tornou um momento divertido.

Nos anos que se passaram Júlia conheceu mais pessoas na mesma situação que ela e de pouco a pouco sua nova vida se tornou mais tolerável, mas mesmo depois de quase 4 anos do acidente ela ainda tem dias ruins, sua autoestima nunca mais foi a mesma já que por muito tempo não conseguia se arrumar como antes. Júlia conta que o momento mais difícil da vida dela foi descobrir que seu caso não tinha cura. Sem possibilidade de tratamento ou cirurgia, uma menina que antes era ativa, amava se exercitar, sair com suas amigas, passear com sua cachorrinha, agora se vê forçada a reaprender a viver.   

É possível perceber as dificuldades que marcam a vida das pessoas que são afetadas pela paraplegia. Infelizmente muitos casos não são reversíveis, mas graças a estudos de um grupo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o mundo pode estar mais próximo de encontrar uma cura para uma deficiência que interrompe a vida de tantas pessoas.

A pesquisa, desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, representa um marco para a medicina brasileira. O medicamento experimental chamado Polilaminina foi criado a partir de uma proteína natural da placenta humana, capaz de estimular a regeneração das células nervosas. Em estudos com animais, especialmente cães que haviam perdido os movimentos, o tratamento apresentou resultados impressionantes: alguns conseguiram voltar a andar mesmo após anos de paralisia. Esse avanço chamou a atenção da comunidade científica internacional e fez com que o Ministério da Saúde e a Anvisa classificassem o estudo como de prioridade absoluta no País.

A equipe liderada por Tatiana Sampaio começou o estudo da eficiência polilaminina para promover a regeneração de fibras nervosas/axônios e reconectar áreas lesadas da medula espinhal começou em 2007, embasado em outro estudo da faculdade que iniciou em 1998. São quase três décadas de trabalho árduo que trouxeram a equipe ao sucesso que é exposto para o mundo hoje, com seis dos oito pacientes humanos recuperando, parcial ou completamente, os movimentos que lhes foram tomados. 

Além dos testes clínicos em andamento, o projeto da UFRJ tem recebido apoio de instituições públicas e privadas, como o Laboratório Cristália, que colabora na etapa de desenvolvimento farmacêutico e produção em larga escala da substância. O próximo passo dos pesquisadores é a realização de estudos em uma quantidade maior de voluntários, o que permitirá avaliar com mais precisão a segurança e a eficácia do medicamento. Caso os resultados se confirmem, o Brasil poderá ser o primeiro país a oferecer um tratamento realmente regenerativo para lesões medulares, uma conquista inédita na história da ciência.

Para Júlia e milhares de pessoas que convivem com a paraplegia, essa descoberta reacende uma esperança que parecia perdida. Mesmo que o caminho até a cura ainda seja longo, cada passo da pesquisa representa uma vitória contra a limitação imposta pela lesão medular. A história de Júlia mostra a força de quem se reinventa diante da adversidade. O que a ciência da UFRJ faz agora é provar que o impossível pode estar mais perto do que se imagina. Aquilo que antes era apenas sonho, agora começa a ganhar forma nas mãos de pesquisadores brasileiros dedicados a devolver o movimento e com ele a liberdade a tantas vidas interrompidas.

Especialista alerta para riscos do uso acrítico de plataformas de IA na educação
por
Thomas Fernandez
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04/10/2025 - 12h

A inteligência artificial (IA) ganhou rapidamente espaço em diferentes setores da sociedade, e a educação não ficou de fora dessa tendência. Plataformas capazes de corrigir redações, recomendar atividades personalizadas e até mesmo substituir parte das tarefas do professor estão em alta.

A promessa, vendida por empresas de tecnologia e gestores entusiasmados, é de que a IA pode democratizar o ensino, personalizar a aprendizagem e aliviar a carga de trabalho docente. Não por acaso, de acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC), sete em cada dez estudantes do Ensino Médio já utilizam ferramentas de IA generativa em trabalhos escolares, mas apenas 32% afirmam ter recebido orientação na escola sobre como usar esses recursos de forma pedagógica. 

Há quem veja nesse movimento um risco de precarização do trabalho dos professores, transformando a inovação em mais uma engrenagem de uma lógica de cortes de custos e desvalorização profissional. Afinal, a inteligência artificial na educação é realmente uma aliada do professor ou pode acabar sendo um instrumento de substituição e perda de direitos? 

Em entrevista à AGEMT, Pedro Maia, cientista de dados e pesquisador em ética e tecnologia, alerta para o risco de que a IA seja utilizada como justificativa para reduzir a presença e a importância dos professores. Para ele, é preciso estar atento à lógica de mercado que move grande parte das inovações tecnológicas aplicadas à educação: “O risco é que as escolas passem a enxergar a inteligência artificial não como apoio, mas como substituição. Se uma plataforma consegue corrigir automaticamente atividades e sugerir trilhas de estudo, a tentação de reduzir o quadro docente e cortar custos é enorme”, explica. 

Segundo Maia, isso poderia levar a uma precarização ainda maior do trabalho docente, em um cenário no qual professores já enfrentam baixos salários, excesso de carga horária e falta de condições adequadas de trabalho. “A promessa de eficiência pode esconder a intenção de enxugar gastos. É a lógica neoliberal aplicada à educação: menos investimento em pessoas, mais aposta em soluções padronizadas”, acrescenta.

Pedro Maia, cientista de dados.
Pedro Maia, cientista de dados. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Maia também chama atenção para o risco de aprofundar desigualdades: “Nesse cenário, a IA não democratiza, mas acentua a exclusão. O aluno da periferia continua com menos oportunidades que o de elite, ainda que ambos usem supostamente a mesma tecnologia”. Esse alerta encontra respaldo nos números. Em 2023, 69% dos estudantes já conheciam a IA; em 2024, esse índice subiu para 80%, segundo levantamento nacional feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES).

No entanto, nem todos têm acesso à mesma qualidade de ferramentas ou de acompanhamento pedagógico. Enquanto escolas privadas de ponta conseguem incorporar plataformas sofisticadas, parte da rede pública depende de versões limitadas, com pouco ou nenhum suporte docente.

Mesmo assim, o cenário não é apenas de resistência. Pesquisas feitas pela SEMESP (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), mostram que 74,8% dos professores acreditam que a IA pode ser aliada no processo de ensino, e 39,2% já utilizam a tecnologia regularmente em sala de aula. Esses dados revelam uma categoria dividida, mas que enxerga potencial na tecnologia quando aplicada como ferramenta de apoio, não como substituição. 

Além disso, iniciativas públicas começam a surgir. O governo federal, em parceria com a UNESCO e a Huawei, lançou o projeto “Open Schools” na Bahia e no Pará. Ambos locais foram escolhidos pela falta de infraestrutura educacional, conectividade e recursos tecnológicos. A iniciativa foca na formação de professores em competências digitais e uso de IA, além de investimentos em conectividade e infraestrutura. O objetivo é reduzir desigualdades e preparar a rede pública para essa transição.

A coexistência desses dois pontos de vista - o risco de precarização e a promessa de apoio pedagógico - evidencia o dilema atual: A IA pode ser tanto aliada quanto algoz, dependendo da forma como for implementada. Se o objetivo for cortar custos, há risco de enfraquecer a profissão docente. Mas se, por outro lado, houver investimento em formação, infraestrutura e regulação, ela pode abrir espaço para práticas pedagógicas mais ricas e inclusivas.

O que está em jogo, portanto, não é apenas a chegada de uma nova tecnologia, mas o modelo de educação que o país pretende construir. A questão central permanece: a inteligência artificial será um recurso a serviço de professores e alunos ou mais um instrumento de precarização do trabalho em nome da eficiência econômica?

Enquanto não há consenso, cresce a urgência em debater publicamente os rumos dessa transformação. O futuro da escola não depende apenas das máquinas, mas das escolhas políticas, sociais e econômicas que definirão como, para quem e com quais propósitos a tecnologia será utilizada.

A rotina fora de ordem das assessoras de imprensa Mayara Oliveira e Lívia Almeida na agência MTC
por
Laura Paro
Sophia Pietá
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10/11/2022 - 12h

Escritório lotado, telefones tocando, televisão ligada, vozes intercalando-se e barulhos do teclado do computador são as primeiras características notadas ao chegar na Agência MTC assessoria de imprensa, localizada no bairro Vila Olímpia, em São Paulo. A empresa especializada em assessoria e relações públicas atende clientes do meio de entretenimento e das artes como cantores, atores e principalmente influenciadores digitais.

 O dia-a-dia dos funcionários baseia-se em cada demanda e necessidade do agenciado no momento. ''Cada dia preciso estar em um lugar diferente, seja na própria agência ou em alguma externa como uma sessão de fotos, a gravação de um programa de TV, o lançamento de alguma marca. Sempre acompanhando o artista, auxiliando a imprensa presente’’, explica a estagiária Lívia Almeida, que está a quase dois anos na empresa.

Como estudante do último ano de Relações Públicas na Fundação Cásper Líbero, Almeida diz que as áreas possíveis em sua profissão são diversas, mas foi na assessoria de imprensa que ela encontrou-se e descobriu um mundo dos bastidores dos influenciadores digitais que se encontrou. 

A estagiária entra em seu trabalho às treze horas da tarde e encerra o expediente às dezenove horas. Quando ela precisa fazer alguma pauta externa, passa o dia fora acompanhando aquela diária, porém quando o trabalho é interno ela alterna entre o home office e a presença no próprio escritório da agência. 

‘’Acredito que quando lidamos com a assessoria de imprensa de artistas, estamos trabalhando com sonhos, é a construção de uma carreira e a inserção dessas pessoas nos meios de comunicação. Tem que ter uma atenção minuciosa aos detalhes e ser proativo para trazer os melhores resultados possíveis’’, pontua Almeida.

Mayara Oliveira, coordenadora da assessoria de quatro artistas da Agência MTC, inicia seu expediente às dez da manhã. Ao longo do dia, monitora todos os grupos com os artistas que cuida como assessora, para saber se tem alguma novidade de agenda, alguma crise acontecendo ou alguma atividade externa para ir. Normalmente, seu dia é cheio de reuniões para alinhar demandas para algumas entrevistas e futuros projetos e eventos que irão acontecer. 

Ao mesmo tempo, Oliveira também precisa ficar o dia todo em contato com jornalistas de diversos veículos para conseguir incluir seus clientes em pautas de veículos importantes. A assessora é atarefada de alinhar coletivas de imprensa, os veículos que vão contatar, quais assuntos vão debater e checar com os artistas a disponibilidade para atender a imprensa. Ao final do dia, ainda tem que reunir tudo aquilo que fez e anotar, para no dia seguinte dar continuidade e continuar as estratégias de comunicação.

Como assessora de imprensa da Agência MTC, Mayara Oliveira conta que a rotina de alguém que trabalha na área é muito diversa e requisita muita disposição: ela precisa lidar com o gerenciamento de crises, pois não tem hora para sair e nem entrar; precisa se dedicar 24 horas para amenizar a situação e sair dela o mais rápido e da melhor forma possível; é necessário estar disposta a acompanhar os artistas em alguns eventos a qualquer hora do dia. 

Por outro lado, a assessora diz que esse ramo do jornalismo abriu novas portas em sua vida: “Obtive a oportunidade de conhecer vários artistas que admiro e sou fã, indo em shows, programas e eventos com eles, lado a lado. É um universo muito diverso, que te leva para diversas áreas, e quando se trabalha com artistas é uma explosão de cultura e conhecimento do universo das celebridades que me faz muito feliz”. 

Diante de uma rotina movimentada e exaustiva com muitas interações no mundo jornalístico, o ramo da assessoria de imprensa continua sendo necessário e altamente requisitado. Porém, Mayara e Lívia, mesmo tendo encontrado prestígio na profissão em uma área que não é bem valorizada no meio da comunicação, persistem ao enfrentar os desafios presentes em suas rotinas. 

 

Organizado pela Atlética de Comunicação e Artes, o evento aconteceu entre os dias 17 e 21, com pautas sobre sexualidade, preconceito e representatividade.
por
Sônia Xavier
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24/10/2022 - 12h
  Nathan Mouro, William de Lucca, João Abel, Tayna Fiori e Gabriel Paes (da esquerda pra direita)
Nathan Mouro, William de Lucca, João Abel, Tayna Fiori e Gabriel Paes (da esquerda pra direita), durante a mesa “Bola fora: A LGBTQIAPN+fobia no Futebol Brasileiro”. Foto: Sônia Xavier  
 

Na segunda-feira, 17,  a primeira mesa da Semana da Diversidade foi composta por William de Lucca, apresentador do podcast “ Nos armários dos vestiários” e um dos fundadores do coletivo LGBTQIA+ “Palmeiras Livre”; Nathan Mouro, representante do coletivo “Porco Íris”; Tayna Fiori,  jornalista e produtora de futebol feminino na TNT Sports Brasil; e Gabriel Paes, administrador da página “Quebrando o Tabu”. O mediador da mesa foi o jornalista e também representante das causas LGBTQIA+ no futebol brasileiro, João Abel. 

De Lucca mencionou os ataques que sofreu em suas redes sociais, em 2018, após criticar o canto homofóbico da torcida palmeirense em jogo contra o São Paulo, e relata muitas ameaças online, inclusive, de morte. Mas o apresentador reiterou que, apesar da violência enfrentada pelas pessoas LGBTQIA+, não deixará a militância: “Eu sou um homem homossexual, jornalista e vou ocupar o espaço que acho que tenho que ocupar, e as arquibancadas são um espaço de todo mundo".

William de Lucca
“O futebol é um esporte democrático, ou pelo menos deveria ser”, declara De Lucca, Foto: Sônia Xavier

 

Nathan, ativista da causa, diz que o "Porco Íris" foi fundado em 2019, com o objetivo de criar um lugar que não existia para a comunidade LGBTQIA+ dentro dos estádios, e afirma que este é “um espaço que ainda precisa ser ocupado". O coletivo já levou a bandeira de representatividade em dois jogos do Palmeiras antes da pandemia, mas, desde a volta aos estádios, ainda não puderam fazê-lo novamente. 

O "Palmeiras Livre" também já foi pro estádio com as bandeiras arco-íris, porém somente em jogos femininos. O motivo disso, consensual entre os palestrantes, é de que a discussão sobre a LGBTfobia é muito maior na liga feminina.  

“O futebol feminino é um cenário que engloba e aceita muito mais”, diz Tayna.

Tayna Fiori
“O futebol traz o que o mundo oferece pra gente”, afirma Tayna sobre 
a homofobia no esporte.

 

 

“Eu acho que a gente precisa dar tempo pra gente sofrer”

Bruno Branquinho, Luana Alves e Júlia Zuin (da esquerda pra direita)
Bruno Branquinho, Luana Alves e Júlia Zuin (da esquerda pra direita), na mesa de “Psicofobia, romantização e banalização dos transtornos mentais''. Foto: Sônia Xavier

 

 

Na terça-feira, 18, o debate foi sobre a “ Psicofobia, banalização e romantização de transtornos mentais” e contou com a presença de Luana Alves, trabalhadora da saúde e vereadora em São Paulo; e Bruno Branquinho, psiquiatra com foco na saúde mental da comunidade LGBTQIA+.

Luana mencionou que a aceitação e o interesse em discutir transtornos mentais é resultado de uma luta mais antiga, a antimanicomial. Para ela, “prender” um indivíduo no manicômio é um dos passos da violência e da discrminação, mas que “negar direitos, desumanizar, desconsiderar aquela pessoa enquanto uma pessoa que tem opiniões” fazem parte, também, da lógica de exclusão, e são formas de deslegitimar a identidade do indivíduo. 

Branquinho acredita que o conhecimento atual sobre os transtornos psíquicos têm ajudado a quebrar as barreiras do preconceito em relação à psiquiatria, mas que, por outro lado, há uma  “patologização” excessiva de situações que não são transtornos.

Bruno Branquinho
“ O que eu vejo que acalma as pessoas no sentido de se cuidar é saber que não são as únicas. Nós precisamos falar, mas falar em primeira pessoa”, afirma Bruno. Foto: Sônia Xavier

“A gente precisa dar tempo pra gente sofrer, dar tempo pras nossas emoções, na verdade. Talvez não seja patológico, talvez seja o tempo que você precise”, orienta.

 

 

“ Ninguém dá valor à carne indígena, dão valor à terra indígena”

 

O tema discutido no terceiro encontro, 19, destacou a representatividade indígena, principalmente, na educação. Daniela Reis, coordenadora do programa social "Pindorama" - criado em 2001 pela PUC-SP para oferecer bolsas de estudo para alunos indígenas -, diz que, além das dificuldades financeiras para permanência dos alunos indígenas nas universidades, têm questões relacionadas à manutenção das culturas e ao reconhecimento étnico, que também precisam ser enfrentadas. 

Daniela Reis, Lúcia Helena Rangel e Álvaro Gonzaga (da esquerda para direita)
Daniela Reis, Lúcia Helena Rangel e Álvaro Gonzaga (da esquerda para direita), na mesa: “Não existem índios no Brasil: Resistem indígenas!"  Foto: Sônia Xavier


Álvaro Gonzaga, indígena e professor de Direito na PUC-SP , relata que o preconceito em relação à formação de indígenas está relacionado à ideia de primitividade e que, por outro lado, a universidade significa universalidade. 

Álvaro menciona que todo o processo de incorporação do indígena nas cidades foi feito de forma a subalternizar esses corpos, colocando-os em uma posição sempre abaixo dos outros. “Ninguém dá valor à carne indígena, dão valor à terra indígena”, declara.

Lúcia Helena Rangel
“O termo 'índio' veio do equívoco de Cristóvão Colombo de que tinha chegado às Índias. Indígena quer dizer nativo ou originário daquele lugar”, esclarece a, antropóloga Lúcia Helena. Foto: Sônia Xavier

 “É necessário que a nossa geração entenda que houve um grupo que lutou pela constituição, mas que existe um outro que precisa lutar pela implementação dela”, finaliza Gonzaga.

“ Se Deus é por nóis quem será contra nóis?”

Thiagson, Lorrany e Júlia Zuin (da esquerda pra direita)
Thiagson, Lorrany e Júlia Zuin (da esquerda pra direita) durante a mesa: “‘Se Deus é por nóis quem será contra nóis?’: A elitização da cultura”.Foto: Sônia Xavier

 

Na quinta-feira, 20, o tema abordado foi a elitização da cultura, principalmente o funk. Para Thiagson, professor de música clássica e doutorando em Funk, todas as produções pretas e periféricas sempre trabalharam em um espaço de precariedade, e isso resultou no processo de desmerecimento de tudo aquilo que é popular. 

Além dessa precarização, Lorrany, DJ desde 2013, também cita o “embranquecimento” das letras como uma forma de tornar essas produções um pouco mais elitizadas. “Eu não toco as mesmas músicas em festas de branco que eu toco na quebrada porque a galera branca se ofende”, compartilha.

Thiagson
“A gente associa a música a grupos sociais, então, na verdade, as pessoas não odeiam o funk pelos valores elitistas, elas odeiam os funkeiros”, defende Thiagson. Foto: Sônia Xavier

 

 

Thiagson acrescentou que esse processo de embranquecimento parte, muitas vezes, de um cancelamento do funk por setores progressistas da sociedade, principalmente, pelo feminismo, mas um feminismo branco. “Eu não sei se essa coisa de objetificação do corpo assusta uma mina de quebrada, porque o corpo na favela já é objetificado, não só em relação ao sexo, mas também em relação ao trabalho”.

O professor ainda menciona que a música vai muito além de uma experiência auditiva, já que ela também carrega um estigma social. 

 “Levantar uma bandeira é ser atacado dia sim, dia também”

Alexandre Makhlouf, Marina Daquanno Testi, Jacqueline Rocha e Jonas Maria (da esquerda para a direita)
Alexandre Makhlouf, Marina Daquanno Testi, Jacqueline Rocha e Jonas Maria (da esquerda para a direita), na mesa “Bandeiras sobre sexualidade e gênero: abraçam ou aprisionam?”. Foto: Sônia Xavier

A última mesa do evento aconteceu na sexta-feira, 21, formada por Jonas Maria, palestrante sobre diversidade e gênero; Jacqueline Rocha, ativista em causas de inclusão, como a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+); Marina Daquanno Testi, estudante de jornalismo e pessoa não-binárie; e Alexandre Makhlouf, jornalista e produtor de conteúdo de pautas identitárias.  

Na discussão sobre o ativismo LGBTQIA +, Alexandre Makhlouf, mediador da mesa, falou sobre a hostilidade que os indivíduos da comunidade sofrem. “Levantar uma bandeira é ser atacado dia sim, dia também”. Ele ainda relatou que, muitas vezes, só não sente medo de sofrer algum tipo de violência na rua com seu companheiro por conta da “passabilidade heteronormativa” com que são identificados. “Somos dois homens que, se você não abrir a boca e fizer a gente rir, você não sabe se a gente é gay ou não”. 

Sobre os ataques que as pessoas LGBTQIA+ sofrem, Jonas conta que foi alvo antes mesmo de compreender sua sexualidade. "Na escola, eu era chamado de sapatão, mas não sabia o que era isso, então chegou antes de mim".

A respeito da provável representatividade que as bandeiras provocam na sociedade, Maria acredita que apesar das discussões sobre identidade não aderirem totalmente ou restringirem-se às bandeiras, percebe que elas possuem uma funcionalidade social. “A gente usa as bandeiras porque elas nos servem socialmente para nos conectar com outras pessoas, mas não se reduz a isso”.

 

Organizado por 16 entidades, o evento aconteceu nesta terça-feira (27) na PUC-SP
por
Maria Ferreira dos Santos
Sônia Xavier
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28/09/2022 - 12h

Muitas vezes o exercício jornalístico envolve a investigação e a publicação daquilo que determinados grupos não querem que seja revelado, o resultado disso é a perseguição a esses profissionais.

Ontem (27) o “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” destacou um grupo específico de perseguidores e perseguidos: os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e mulheres jornalistas. 

 

Cartazes com os dados do recente relatório sobre a violência sofrida pelos jornalistas foram colados nas paredes do auditório onde a cerimônia foi realizada. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Cartazes com os dados do recente relatório sobre a violência sofrida pelos jornalistas foram colados nas paredes do auditório onde a cerimônia foi realizada. Foto: Maria Ferreira dos Santos

De acordo com a Fenaj ( Federação Nacional dos Jornalistas), uma das associações convocadoras do ato, o ano de 2021 registrou recorde de registros de ataques aos profissionais e aos veículos de comunicação. Cerca de 34,19% desses ataques foram promovidos pelo próprio presidente da República.

 

Dados de 2021 do Relatório de Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil. Levantamento pode ser lido através do link. Fonte: Fenaj
Dados de 2021 do Relatório de Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil. Levantamento pode ser lido através do link. Fonte: Fenaj

As jornalistas Patrícia Campos Mello e Bianca Santana, vítimas desse desrespeito do presidente Bolsonaro e seus apoiadores, estiveram presentes no encontro de maneira remota. Em sua fala, Patrícia relembrou a série de ataques que sofreu em 2018, após a publicação da série de reportagens sobre campanhas de desinformação.

Patrícia ainda relatou que as agressões iam de montagens de fotos a ataques diretos a sua integridade física. “Pessoas que ligavam pro meu celular dizendo que iam dar um murro na minha cara, mensagens dizendo que eu deveria sair do país se quisesse a segurança do meu filho [...] chegou um momento que eu não podia sair de casa porque eu tinha medo”, desabafou.

Em conjunto com a Fenaj, outras organizações convocaram a cerimônia, sendo essas: o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP),  Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Repórteres sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Associação Profissão Jornalista (ApJor), Barão de Itararé, Intervozes, Centro Acadêmico Vladimir Herzog (Cásper Líbero), Centro Acadêmico Benevides Paixão (PUC-SP). Ademais, tiveram a participação de corporações da sociedade civil entre eles o Grupo Prerrogativas, CONDEPE(Conselho Estadual de direitos da Pessoa Humana), OAB e o Grupo Tortura Nunca Mais.

A jornalista Cláudia Tavares enquanto presidia a mesa no “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” nesta terça-feira (27) na PUC-SP. Foto: Maria Ferreira dos Santos
A jornalista Cláudia Tavares enquanto presidia a mesa no “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” nesta terça-feira (27) na PUC-SP. Foto: Maria Ferreira dos Santos

A mesa foi presidida por Cláudia Tavares, integrante da diretoria do SJSP, e foi composta por  Fábio Cypriano, diretor da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC (Faficla), Diogo de Holanda, coordenador do curso de jornalismo da universidade, Thiago Tanji, presidente do SJSP, Paulo Zocchi, vice-presidente da Fenaj (que representou também todas as demais entidades organizadoras do evento), Ana Amélia Camargos, representante do grupo prerrogativas, Natália Cristóvão, advogada da OAB, Ariel de Castro Alves, advogado representante do Grupo Tortura Nunca Mais e a vice-diretora do Centro Acadêmico Benevides Paixão (BENÊ), Maria Clara Alcântara. 

Na sua fala, Maria Clara apontou a importância da defesa da democracia para o jornalismo brasileiro. "É impossível fazer jornalismo num país que não exista a democracia, principalmente como mulheres, porque eles atacam a gente não somente pela profissão, mas duvidam do nosso caráter e nos atacam diariamente no âmbito pessoal e profissional”, afirmou a estudante.

Sob essa perspectiva, a organização do evento exibiu um vídeo com depoimentos de oito jornalistas mulheres, de diferentes veículos, sobre as violências que sofrerem devido ao seu gênero e sua carreira. A gravação contou com depoimentos de Carla Vilhena, Flávia Oliveira , Josi Gonçalves, Amanda  Audi, Paula Guimarães, Tatiana Dias, Tai Nalon e Juliana Dal Piva.

As mulheres viraram o principal foco dos ataques direcionados à imprensa, retrato que se ampara na misoginia da sociedade brasileira. A situação fica ainda mais tensa e intensa, como apontou Flávia Oliveira, d’O Globo, se a profissional for negra.

O depoimento de Bianca Santana foi o último a ser apresentado e logo depois a representante da Abraji, Cristina Zahar leu o documento preparado pelas entidades organizadoras que lembrou os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, enquanto realizavam seu trabalho na Amazônia em junho deste ano. 

Representantes das 16 entidades convocadoras do Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Representantes das 16 entidades convocadoras do Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia. Foto: Maria Ferreira dos Santos

 

O evento aconteceu no TUCA, teatro da universidade, na 5a.feira - 22/09, e contou com a participação de representantes da sociedade civil e da comunidade universitária.
por
Maria Ferreira dos Santos
Artur dos Santos
Danilo Zelic
Yasmin Solon
|
23/09/2022 - 12h

De 1964 a 1985, o Brasil estava sob regime militar e, por isso, havia forte repressão a qualquer movimentação política. Com isso em mente, em 1977, estudantes se organizaram para driblar os militares para que conseguissem realizar o III Encontro Nacional dos Estudantes (ENE), organizado pela UNE (União Nacional dos Estudantes), marcado para o dia 22 de setembro. O plano de fazer com as tropas acreditassem que o evento estaria acontecendo na USP foi bem sucedido por um tempo, mas assim que descobriram a manobra a infantaria tratou de ir ao local verdadeiro.

Ao encontrar os universitários reunidos diante do TUCA (Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), os militares começaram a dispersar as pessoas com extrema violência, aos que participavam do Ato restou passarem por uma “triagem”, para identificar seus antecedentes e serem ou não conduzidos ao Departamento de Ordem e Política e Social (DOPS). O ambiente passou de um ato de resistência para um centro de tortura e violência a céu aberto. Como relembra o então aluno e agora  professor do curso de jornalismo na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Norval Baitello. “Entraram para quebrar mesmo”,afirmou em entrevista à AGEMT sobre as salas de aula e equipamentos destruídos pelos agentes.

Matéria do jornal O Estado de S. Paulo sobre a invasão à PUC-SP comandada pelo Coronel Erasmo Dias. Foto: Acervo Estadão.
Matéria do jornal O Estado de S. Paulo sobre a invasão à PUC-SP comandada pelo Coronel Erasmo Dias. Foto: Acervo Estadão.

A memória marcante do docente é compartilhada entre as demais pessoas presentes durante essa violação. Com o objetivo de evocar essas lembranças, a PUC-SP em parceria com o Prerrô (Grupo Prerrogativas) e o Washington Brazil Office realizou o “PUC pela democracia” nesta quinta-feira (22), há exatos 45 anos do desrespeito militar.

Uma apresentação do Coral do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras) abriu o ato, mediado pelo jornalista Chico Pinheiro, enquanto a Bateria 22, do curso de direito, tocava em frente ao TUCA. Na presença de figuras importantes na luta pelo Estado Democrático de Direito, como ex-ministros, professores e estudantes da época da invasão, a PUC-SP declarou estar em “estado de vigilância permanente pela democracia”. 

Cristiane Fairbanks, presidenta da APG (Associação dos Alunos de Pós-Graduação da PUC-SP), e o jornalista Chico Pinheiro seguravam bandeira do Brasil em ato em prol da democracia. Foto: Laura Mafra Boechat.
Cristiane Fairbanks, presidenta da APG (Associação dos Alunos de Pós-Graduação da PUC-SP), e o jornalista Chico Pinheiro seguravam bandeira do Brasil em ato em prol da democracia. Foto: Laura Mafra Boechat.

A maioria das pessoas que discursaram na cerimônia frisou a questão das prisões e perseguições do Regime Cívico Militar e, consequentemente, sofridas pelos militantes da instituição. O público prestou homenagem aos estudantes assassinados durante o período e demonstrou repulsa e resistência ao governo Bolsonaro e suas ações antidemocráticas.“As mesmas forças que tentaram invadir a PUC naquela época são as que ameaçam uma ditadura hoje. E nós não vamos aceitar isso”, declarou o jornalista José Arbex. No saguão do Tuca, estavam expostas fotografias da invasão de 1977, do fotojornalista Hélio Campos Mello.

Na ocasião, o jornalista Juca Kfouri afirmou estar emocionado, não só  pelo ato ocorrido naquele mesmo lugar há 45 anos, mas também pelo apelo sentimental ao se lembrar da tia, Nadir Gouvêa Kfouri, então reitora da Pontifícia. Isso porque quando Erasmo Dias, o coronel responsável pelo batalhão invasor e, na época, Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, foi cumprimentar a professora, ela o deixou  “com a mão no ar”, pois não daria sua mão a assassinos. 

”A luta é permanente" declarou a atriz e aluna da PUC-SP em 1977, ano da invasão militar, Tuna Dwek, no evento “PUC pela Democracia”. Foto: Laura Mafra Boechat
”A luta é permanente" declarou a atriz e aluna da PUC-SP em 1977, ano da invasão militar, Tuna Dwek, no evento “PUC pela Democracia”. Foto: Laura Mafra Boechat

Outra notável personalidade da luta pelo fim da ditadura foi aclamada, a de Dom Paulo Evaristo Arns. “Quero dizer que, no dia da invasão, ela [Nadir Kfouri] foi a grande voz e esteve o tempo todo presente com dignidade excepcional. Deve ser modelo para todos nós”, afirmou a professora de direito Silvia Pimentel, também atuante durante o ocorrido em 1977. “A invasão foi, não apenas em função de movimentações nossas, mas relacionada à reitoria que a PUC tinha. Essa dupla [Dom Paulo e Nadir Kfouri] é o exemplo maior de toda uma vida”, completou.

Além de rememorar a invasão, outra temática do evento foi o cenário atual pelo qual a PUC-SP está passando. Há duas semanas, todo o corpo docente da universidade recebeu um salário com 10% a menos de seu valor integral. Unilateralmente, a Fundação São Paulo (FUNDASP), mantenedora da Pontifícia, computou 4,5 semanas mensais aos salários que eram calculados em cima de 5 semanas desde 1987 - tempo que o qualifica como Direito Adquirido dos professores.

A Associação dos Professores da PUC-SP classificou a medida de antidemocrática e contestou o corte. Em apoio, o Movimento Estudantil da PUC-SP realizou  no dia 15 deste mês um ato em solidariedade à causa dos professores com a união não só dos Centros Acadêmicos e Entidades Estudantis, mas dos três setores da Universidade: estudantes, professores e funcionários. Na ação foi questionada a conduta da FUNDASP, além de defendida a saída dessa da gestão da PUC, junto à saída do Gestor Padre Rodolpho Perazzolo de seu posto. 

Dentre os discursos do evento da manhã de 22 de setembro, uma carta redigida pelo Movimento Estudantil e lida por Camilo Mota, representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, apresentou indignação diante de tais condutas antidemocráticas da FUNDASP.  “A democracia não deve ser só dos portões pra fora”, afirma a carta. 

Representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, Camilo Mota, durante leitura da carta do Movimento Estudantil. Foto: Laura Mafra Boechat.
Representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, Camilo Mota, durante leitura da carta do Movimento Estudantil. Foto: Laura Mafra Boechat.

Próximo ao final do evento, a organização foi informada de que viaturas da Polícia Militar estavam em frente ao TUCA. Os policiais teriam sido acionados por uma transeunte que afirmou que um dos quatro meninos negros que estavam vendendo balas na região estaria portando uma faca. Estes meninos foram abordados, e, durante a revista, a advogada Jaqueline Pereira se disse responsável pelos menores.

Denúncia de menino com arma branca torna-se motivo de confusão no lado de fora do TUCA durante “PUC pela Democracia” nesta quinta-feira (22). Foto: Edson Reis.
Denúncia de menino com arma branca torna-se motivo de confusão no lado de fora do TUCA durante “PUC pela Democracia” nesta quinta-feira (22). Foto: Edson Reis.

Quando questionada de sua profissão, ela se recusou a entregar ao agente sua carteira da OAB, um dos policiais responsáveis pelo enquadro retirou o documento bruscamente das mãos de Pereira, que, por sua vez, o acusou de ser racista. Durante toda a deliberação e discussão sobre o ocorrido, diversos professores presentes se inteiraram do assunto. Durante o conflito, os meninos ainda não tinham sido liberados e estavam em linha, com as mãos atrás das costas. 

A polícia, não havendo encontrado a arma branca na posse de nenhum dos meninos, os liberou e, segundo fontes contaram à AGEMT, deu Voz de Prisão a Jaqueline Pereira, que, não querendo ir à delegacia de “camburão”, foi dentro de um carro de uma das testemunhas presentes durante a abordagem.

Policiais enquadram quatro jovens negros devido a denùncia de porte de faca. Nenhum deles estava armado e foram liberados depois. Foto: Edson Reis.
Policiais enquadram quatro jovens negros devido a denúncia de porte de faca. Nenhum deles estava armado e foram liberados depois. Foto: Edson Reis.

 

Apesar do destaque às eleições, o evento da Jeduca colocou em sua programação temas como Lei de Cotas, dificuldades educacionais na Floresta Amazônica, impactos da pandemia, entre outros.
por
Maria Ferreira dos Santos
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15/09/2022 - 12h

A Jeduca (Associação de Jornalista de Educação) realizou nos dias 12 e 13 neste mês o 6° Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, que teve como tema “Eleições e a cobertura de educação nos próximos anos”. Entretanto, o evento também abordou assuntos como Lei de Cotas, o escândalo dos pastores no MEC, educação na Amazônia, entre outros.

Após dois anos sendo realizado de maneira online, a edição deste ano optou pelo formato híbrido, isto é, era possível assistir de casa as palestras que aconteciam no Teatro Fecap, localizado no Bairro Liberdade, em São Paulo.

17 atrações, entre palestras e oficinas, foram divididas ao longo desses dois dias.

Da esquerda para direita: Nelson Marconi, Rossieli Soares, Reginaldo Lopes, Antônios Gois e Renata Cafardo. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Da esquerda para direita: Nelson Marconi, Rossieli Soares, Reginaldo Lopes, Antônios Gois e Renata Cafardo. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

A primeira delas teve como eixo a relação da educação na disputa presidencial. Para isso, os jornalistas da Jeduca, Antônio Gois e Renata Cafardo, convidaram representantes das quatro candidaturas melhores colocadas na pesquisa. Dessa forma, Lula (PT), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) foram representados pelo deputado Reginaldo Lopes (PT), o ex-ministro Rossieli Soares e o economista Nelson Marconi, respectivamente. A equipe de Jair Bolsonaro (PT) nem mesmo respondeu ao convite da Associação.

Paulo Saldaña, jornalista da Folha de S.Paulo,  Paula Ferreira, do jornal O Globo, Breno Pires, repórter da Revista Piauí e Tatiana Klix, diretora da plataforma Porvir e da Jeduca, respectivamente, da esquerda para a direita. Foto: Malu Araujo
Paulo Saldaña, jornalista da Folha de S.Paulo,  Paula Ferreira, do jornal O Globo, Breno Pires, repórter da Revista Piauí e Tatiana Klix, diretora da plataforma Porvir e da Jeduca, respectivamente, da esquerda para a direita. Foto: Malu Araujo

A segunda mesa, por sua vez, debruçou-se sobre o trabalho de grandes veículos de comunicação para a revelação do escândalo do MEC (Ministério da Educação), revelado no primeiro semestre deste ano e que culminou na demissão de Milton Ribeiro, ex-ministro da pasta. Nessa ocasião, os palestrantes convidados reforçaram a importância de investigações coletivas. Diante disso, o  jornalista Paulo Saldaña, da Folha de S. Paulo, afirmou: “O jornalismo resgata a sua missão mais nobre que é a de revelar aquilo que o poder quer esconder”.

Kátia Schweickardt, Raimundo Kambeba e Karina Yamamoto, respectivamente, da esquerda para direita, no 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Kátia Schweickardt, Raimundo Kambeba e Karina Yamamoto, respectivamente, da esquerda para direita, no 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. Foto: Maria Ferreira dos Santos

Em seguida, os professores Raimundo Kambeba e Kátia Schweickardt conversaram com Karina Yamamoto, membro do Comitê da Jeduca, sobre os desafios de lecionar na Floresta Amazônica. Uma das questões levantadas pelos educadores foi a da padronização do ensino, eles defenderam que não há como uma pessoa de Manaus ter as mesmas necessidades  educacionais que alguém de São Paulo, é imprescindível refletir sobre as particularidades locais.

Ademais, os palestrantes evidenciaram a ausência de coberturas jornalísticas nesse território. Em entrevista à AGEMT, Kambeba afirmou que falar da educação amazônica num congresso desse porte é de grande importância, pois “vão começar a olhar a educação da Amazônia de uma forma mais respeitosa e mais organizada [...] um evento como esse faz com que haja uma visibilidade maior para o processo de educação que queremos”.

Da esquerda para direita estão Luiz Augusto Campos, Luanda de Moraes, Dyane Brito Reis e Pedro Borges durante a palestra “Dez anos de Lei de Cotas: aprendizados e desafios” no 6° Congresso Jeduca. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Da esquerda para direita estão Luiz Augusto Campos, Luanda de Moraes, Dyane Brito Reis e Pedro Borges durante a palestra “Dez anos de Lei de Cotas: aprendizados e desafios” no 6° Congresso Jeduca. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Além da diversidade regional, a conferência contou com a representatividade racial em diferentes momentos, como nas palestras “Do Quarto de Despejos às escolas”, “O que jornalistas de educação devem priorizar na cobertura de eleições?”, “Educação com escolas fechadas: experiências internacionais”, “Jornalismo, leveza e humor: a educação sob diferentes abordagens”. Uma em especial discutia os aprendizados e desafios dos dez anos de Lei de Cotas, nela estavam presentes o professor de sociologia  Luiz Augusto Campos, a doutora em educação Dyane Brito Reis, Luanda de Moraes, a primeira reitora negra da Uezo (Centro Universitário Estadual da Zona Oeste), no Rio de Janeiro, e o editor-chefe do portal Alma Preta, Pedro Borges.

Outro ponto interessante do seminário foi a participação de jornalistas de diferentes lugares, caso de Allan Arroyo Castro, Erick Juárez Pineda, Paula Casas Mogollón, Patience Atuhaire e Kalyn Belsha que são, respectivamente, da Costa Rica, México, Colômbia, Uganda e Estados Unidos.