Breno Silveira estava no interior de Pernambuco gravando “Dona Vitória”, filme que conta com Fernanda Montenegro no papel-título, quando sofreu um ataque cardíaco fulminante neste sábado (14) . A morte foi anunciada pela Conspiração Filmes através das redes sociais. “Vamos chorar pelo nosso amigo e diretor genial, que nos deixa filmes, séries e documentários incríveis. Nos seus projetos, Breno Silveira sempre imprimiu sua busca incansável pela excelência e soube como poucos usar a força do seu olhar para retratar o Brasil”, escreveu a empresa na qual Silveira era sócio.
Breno tem em seu currículo grandes sucessos do cinema brasileiro, como diretor de fotografia trabalhou na produção “Eu Tu Eles (2000)”, de Andrucha Waddington, que foi selecionada para participar da mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes. Essa obra tem como elenco nomes como Regina Casé, Lima Duarte e Luiz Carlos Vasconcelos, além de ter canções de Gilberto Gil na trilha sonora. Ainda como diretor de fotografia Silveira também colaborou em “Carlota Joaquina(1995)”,”Traição (1998)”, “Gêmeas(1999)” e tantos outros.
O filme “Dois Filhos de Francisco(2005)”, pelo qual o cineasta ficou conhecido, foi a sua estreia como diretor e, logo de cara, tornou-se o filme mais assistido nos cinemas naquele ano, com mais de cinco milhões de espectadores. A história retrata a trajetória da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, o longa-metragem recebeu dez indicações ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e ganhou em quatro categorias, sendo uma delas a de melhor filme.
Ainda no cenário de casos reais, Silveira fez “Gonzaga: de pai para filho”, neste, o retrato é do sanfoneiro Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha, a obra também lhe rendeu prêmios e uma boa bilheteria. No âmbito das séries, o cineasta realizou “1 Contra Todos”, considerada a obra brasileira mais indicada ao Emmy Internacional, e a recente “Dom” pela Prime Vídeo, que mostra a percepção do pai de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, sobre a trajetória do seu filho de menino da classe média à bandido e dependente químico.
Em entrevista à AGEMT a coordenadora do curso de “Arte: História, Crítica e Curadoria” da PUC-SP Priscila Almeida enaltece a grande carreira de Elifas, “Ele teve em torno de 40 anos de carreira, inúmeros trabalhos, com uma produção muito grande em capas de discos. Assinou obras do Paulinho da Viola, Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Elis Regina. Ele também fez ilustrações de capas de livros, por exemplo da Clarice Lispector”.
A professora complementa dizendo, “A linguagem visual dele, principalmente a conhecida no campo da discografia é bastante pautada em cores vivas, que de alguma maneira dialogam com a cultura popular brasileira e geralmente trabalha com retratos emotivos que humanizam e evocam imagens de um povo brasileiro sofrido, trabalhando também com os signos políticos e que fazem parte da história do país”.
Almeida conta ainda qual é sua obra preferida de Andreato, “ele tem no campo das artes plásticas um painel que foi montado no corredor de acesso ao Plenário da Câmara dos Deputados, onde ele homenageia alguns políticos que tiveram os seus mandatos cassados na época da ditadura civil militar no Brasil. É uma obra que faz parte do resgate da história da ditadura militar, uma obra grande, que tem em torno de 5 metros de comprimento por 1,70 de altura e ela participa como um documento desse período histórico trágico do país”. Ela se refere à tela A Verdade, ainda que tardia, concluída e doada em 2012 para a Câmara. Ela foi exposta durante as homenagens daquele ano a parlamentares cassados pela ditadura e mostra cenas de tortura praticadas pelo regime contra cidadãos brasileiros nos chamados “anos de chumbo” (1968-1974). O quadro ficou um mês exposto na casa legislativa e depois foi levado para um depósito, longe do público, onde está até hoje. Na época, deputados exigiram a retirada por considerar as cenas retratadas, “constrangedoras”.
Para a docente, “desde os anos 60, o trabalho dele (Elifas Andreato) no campo da ilustração, do design gráfico, fez aqui a história da cultura da produção brasileira”.
A filha do artista, Laura Andreato, comunicou que a morte decorreu do infarto sofrido na semana passada. A família informa que o corpo será velado ainda hoje no crematório da Vila Alpina, na Zona Leste de São Paulo, às 16h. A notícia do falecimento foi divulgada por seu irmão, Elias Andreato, em sua conta no Instagram. A publicação tem como foto a bandeira do Brasil dentro de uma lágrima e uma carta com os dizeres: “E quando os homens forem amigos dos homens, vou saber que o meu irmão não sonhou em vão. Que o país que ele imaginou possa ser colorido para todos! Que a política do seu traço seja homenageada SEMPRE! Meu irmão, você retratou o que o nosso povo tem de mais belo: A DIGNIDADE!”.
O jornalista Chico Pinheiro, o ator Paulo Betti, a cartunista Laerte e o rapper Emicida também prestaram homenagens nas redes sociais.
A MPB PINTADA
O vínculo de Elifas com a arte e com a MPB se expressou em fortes traços na época da ditadura militar, principalmente pelo pintor usar isso como uma forma de luta e protesto à repressão sofrida. Na década de 1960, Elifas já participava da criação de inúmeras revistas, como Placar, Veja e História da Música Popular Brasileira, mas foi somente em 1972 que começou a produzir suas capas, estreando com o LP “Nervos de Aço”.
A história de Andreato foi marcada pela produção de mais de 300 capas de álbuns de grandes cantores da MPB, como Elis Regina, Paulinho da Viola, Adoniran Barbosa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Toquinho, entre outros. Em entrevista ao Jornal Correio Braziliense, o artista disse acreditar que “as capas dos discos são convites de fazer as pessoas se interessarem pela arte”. Suas obras foram de grande contribuição para a arte brasileira, principalmente no sentido do combate à repressão e na luta pela liberdade. De forma humilde, o pintor declarou que “a velhice é uma coisa chata, mas eu felizmente estou sempre produzindo e animado; continuo a fazer aquilo que sempre fiz e dentro dos meus limites dou minha contribuição para a cultura brasileira”.
Elifas transformou o conceito de capa da música brasileira, buscando refletir a essência da canção - por isso, o apelido “pintor de sons”. O pintor buscava estampar não apenas o que a música passava, mas o que ela trazia consigo.
Elifas Andreato usou seu talento para transformar capas de discos e painéis em símbolos brasileiros. Transitando nos mais diferentes meios, inclusive no infantil, é dele, por exemplo, a capa do álbum “Arca de Noé”, de Vinicius de Moraes. A vida e obra desse grande artista gráfico marcaram a cultura e a música com sua genialidade. Pensar nas capas de álbuns da MPB é um convite para reviver a presença e a contribuição de Andreato na história da arte brasileira.

Com um nome de peso no mundo artístico, o designer e ilustrador Elifas Andreato, deixa sua marca na memória dos brasileiros por meio de seus traços expressivos e suas contribuições para a literatura e a indústria musical.
Nascido no dia 22 de janeiro de 1946 em Rolândia-PR, mudou-se para São Paulo com 14 anos junto de seus pais. Não passou por um curso superior, indo direto para o mercado de trabalho. Foi inclusive no ambiente organizacional que seu talento para o desenho foi notado, ainda em seus anos de aprendiz na FIAT LUX, seu dom foi incentivado pela diretoria da empresa, chegando a receber dinheiro de seus superiores. Tudo o que recebia era repassado aos pais, a fim de ajudá-los com as despesas familiares. Com 15 anos chegou a cursar o programa de alfabetização para adultos, demonstrando o interesse por sua formação.
Elifas começou sua carreira no meio artístico e gráfico no ano de 1973, com o long-play “Nervos de Aço”, de Paulinho da Viola, dando início ao que seria uma carreira sólida de grandes parcerias com artistas da música popular brasileira. Somente com o vinil, produziu cerca de 362 capas de discos, ilustrando canções de Chico Buarque, Martinho da Vila entre outros nomes de grande relevância na indústria musical. Ele também deixou sua contribuição para literatura, idealizando o design de “Legião estrangeira” de Clarice Lispector.
Além de seu grande talento para as artes, Andreato tinha forte opinião política e se posicionava, em meio à ditadura. Através da arte, ele manifestava a insatisfação com o regime. Ajudou a fundar o semanário “Opinião”, além de participar das publicações “Movimento e argumento”, enfrentando a censura. No ano de 2011, o artista recebeu, pelo conjunto de sua obra, o prêmio Vladimir Herzog, que celebra profissionais que defendem a luta democrática. A cerimônia foi realizada no TUCA, espaço representante da resistência contra a repressão.
O artista ainda foi diretor editorial do Almanaque Brasil de Cultura Popular, revistas oferecidas para passageiros da companhia aérea TAM.
Na noite desta segunda-feira (28), com 76 anos, por complicações decorrentes de um enfarte, Elifas deixa sua linda biografia e marcas históricas para os brasileiros.
Elifas Vicente Andreato, ícone da arte gráfica de capas de discos desde 1970, faleceu nesta terça-feira (29). O artista deixa um legado marcante na MPB, tendo trabalhado com Paulinho da Viola, Chico Buarque, Clara Nunes, Martinho da Villa, Elis Regina, entre outros. Andreato conta com um acervo de 362 capas de discos, diversas ilustrações para revistas e cartazes, além de publicar dois livros e participar da montagem de peças de teatro. Foi reconhecido, em 2011, ao receber o “Prémio Especial de Vladimir Herzog”, concedido a destaques na luta por valores éticos e democráticos.
A obra de Elifas é marcada por traços sensíveis e uso abundante de cores. Dentre seus maiores destaques, encontram-se as capas dos discos “Ópera do Malandro” e “Almanaque”, ambos de Chico Buarque, assim como “Nervos de Aço”, de Paulinho da Viola. Ainda produziu obras políticas, como quando escarnou em tela o assassinato do jornalista Vladimir Herzog no fim da ditadura.
Em 2018, aos 50 anos, Andreato publica o livro “A Maior Palavra do Mundo, uma Fábula Alfabética”, que levou 37 anos para chegar às mãos do público e conta com colaboração do ilustrador Fê. A obra é construída de forma alegórica envolvendo um mistério: o Silêncio decide sequestrar a Curiosidade. Esta fábula foi musicada por Tom Zé.