Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
|
10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

Casos de violência escolar evidenciam problemas estruturais que demandam políticas públicas urgentes
por
Eduarda Amaral
Emily de Matos
Luis Henrique Oliveira
|
10/06/2025 - 12h

Em abril deste ano, uma aluna bolsista no Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) foi encontrada desacordada no banheiro, após tentativa de suicídio e levada às pressas para o hospital Santa Casa de Misericórdia, no qual ficou internada durante três dias. Segundo a advogada da família, a jovem era alvo de bullying entre os colegas e comumente ouvia xingamentos como “cigarrinho queimado” e “preta lésbica”, além da frase “volta para a África”.

De acordo com a mãe da adolescente, o instituto de ensino já havia sido contactado duas vezes antes do episódio, sem que medidas concretas fossem tomadas. “Ela já vinha relatando casos de racismo dentro da escola desde maio de 2024. Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela, com xingamentos racistas”, relatou para o UOL

Em nota, o colégio informou que “está apurando cuidadosamente as circunstâncias do ocorrido, com seriedade e zelo, ouvindo todos os envolvidos no tempo e nas condições adequadas, inclusive a aluna, assim que estiver pronta para se manifestar no ambiente pedagógico”.

O caso infelizmente não é isolado e, hoje, o Brasil conta com mais de 280 mil registros de injúria racial, sendo 318 desses processos envolvendo crianças e adolescentes, conforme dados oficiais levantados pelo Escavador durante os anos de 2022 e 2025. Além disso, foram classificados 175 processos como “Bullying, Violência e Discriminação” no campo de Direito à Educação.

Colégio Mackenzie Higienópolis
Colégio Presbiteriano Mackenzie Higienópolis Foto: Reprodução/Folha deS.Paulo

O ensino privado tem como foco priorizar qualidade educacional, mas muitas instituições negligenciam a construção de relações inclusivas. Para Lanna Cristine, licencianda em linguagem pela Faculdade SESI-SP de Educação, em entrevista à AGEMT, a verdadeira qualidade educacional emerge de ambientes que acolhem todos os estudantes, independente de quem for. Ela observa que muitos estagiários sem formação específica em inclusão tentam integrar alunos ao espaço escolar, mas, na verdade, “é o espaço que precisa ser incluído para o estudante”, pontua Cristine, enfatizando a importância de estruturas institucionais receptivas. “Um espaço que promove acolhimento para o estudante vai promover, consequentemente, a aprendizagem”, conclui.

O problema não se limita apenas às instituições privadas, casos de discriminação são comumente vivenciados em escolas públicas. A última ocorrência que ganhou destaque na mídia situou-se em uma escola pública de Luziânia (GO), quando uma aluna em tratamento de câncer virou alvo de bullying na sala de aula por duas colegas. Os xingamentos – que iam desde o jeito de andar até o cabelo, que estava crescendo após a quimioterapia – afetaram o psicológico da jovem, que, segundo a irmã, “não está conseguindo dormir, não quer mais ir à escola, se sente triste, insegura e muito humilhada”, relatou em entrevista para o Metrópoles.

A Secretaria de Educação do Estado de Goiás (SEDUC-GO) informou em nota que o colégio não havia sido informado pela família da vítima sobre a situação e apenas tomou conhecimento a partir de um vídeo nas redes sociais. Ainda em nota, o órgão estadual disse que acionou o programa “Ouvir e Acolher” para investigar o ocorrido e prestar apoio psicológico para a vítima. 

Dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2019), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, revelam que 23,0% dos estudantes brasileiros se sentiram humilhados por colegas duas ou mais vezes durante os 30 dias anteriores à pesquisa. O levantamento ouviu 11,8 milhões de estudantes entre 13 a 17 anos, e mostrou a disparidade entre as escolas públicas com 50,7% de alunos e 14,5% nas instituições privadas. Características físicas motivam a maior parte das discriminações, aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor ou raça (4,6%). O cenário reforça a demanda por políticas efetivas de combate à violência escolar.

As denúncias de violência nas escolas brasileiras cresceram 50% em 2023, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O Disque 100 recebeu 9.530 denúncias sobre violência em instituições de ensino, superando os registros de 2022. Entre janeiro a setembro de 2023, mais de 50 mil violações de direitos humanos foram reportadas em cenários escolares, crianças e adolescentes representaram 74% dos casos envolvendo grupos vulneráveis em setembro.

Luciano Felipe da Silva, professor na EMEF Hipólito José da Costa, defende que não é apenas o ambiente educacional que precisa mudar e que, muitas vezes, os alunos já chegam com os valores deturpados, reproduzindo o que ouvem em casa. “Frequentemente recebemos responsáveis de estudantes que vem à escola registrar reclamações pelo fato de os professores trabalharem temas fundamentais, que estão no currículo, tais como escravidão e intolerância religiosa”, relatou. 

Para Lanna, é possível mudar a questão da cultura escolar a partir de uma gestão que se baseie em questões humanitárias e sociais dentro das instituições, junto de trabalhos pedagógicos que complementem e trabalhem com os alunos como superar a cultura da violência e da intolerância com o diferente. Ela explica que “toda violência que acontece na sala de aula precisa de uma prática inclusiva que parta não de situações, mas de uma missão humanitária. Além de estudantes, eles [alunos] são pessoas em formação, tanto a vítima quanto o agressor, e precisam ser educados para respeitar as diferenças não só no âmbito educacional, mas na sociedade em si”. 

O combate ao racismo e ao bullying no ambiente escolar exige ação constante e políticas públicas efetivas. Como destaca Luciano, “É um trabalho contínuo, a partir da realidade em que eles vivem. Um cidadão pode levar isso para o local em que está inserido e ser um agente de transformação no território.” Enquanto isso não se torna prioridade em todas as esferas educacionais, estudantes de todas as classes sociais seguem sendo vítimas de uma sociedade que ainda não aprendeu a educar sem excluir.

O cantor porto-riquenho Bad Bunny conquistou sucesso no país por meio de trend no Tiktok
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
|
10/06/2025 - 12h

Artistas latinos dominam as paradas mundialmente, mas no Brasil, a presença só cresce impulsionada por trends no TikTok. Bad Bunny e a capa de seu novo álbum "Debí Tirar Más Fotos" confirma isso. Sua música viralizou na plataforma com a produção de memes e vídeos curtos em Janeiro de 2025. "DTMF", uma de suas músicas que ficou famosa, finalmente fez o artista aparecer entre as mais ouvidas no Spotify Brasil, um cenário marcado pela forte presença do funk e sertanejo. 

Rafael Silva Noleto, antropólogo, cantor e compositor, além de professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, em entrevista à AGEMT, explica o porquê do Brasil, mesmo tão próximo geograficamente, não ter costume de ouvir música hispânica. Apesar dos sinais de mudanças no país, ainda há resistência por parte do público brasileiro em consumir músicas em espanhol.

Circo de rua no Ceará leva alegria e risadas em quatro rodas
por
Juliana Bertini de Paula
Maria Eduarda Cepeda
|
09/06/2025 - 12h

Em 2019, Henrique Rosa e Amanda Santos, um casal de artistas no Ceará, voltavam depois de mais um expediente de espetáculos que faziam como palhaços no Parque Aquático de Aquiraz, quando uma ideia, misturada com um sonho, dá origem a um projeto: um circo itinerante em um fusca. Na entrevista, conhecemos mais sobre a história do projeto e seu trabalho pelas ruas do Ceará. 

 

Entenda como as redes sociais podem afetar o desenvolvimento psicológico dos jovens
por
Julia Naspolini
Liz Ortiz
|
09/06/2025 - 12h

Recentemente, as redes sociais foram tomadas por uma “treta teen”. Por dois dias o grande assunto entre adultos e adolescentes foi uma briga envolvendo um grupo de meninas tiktokers. Liz Macedo, Antonella Braga, Júlia Pimentel e Duda Guerra, jovens na faixa de 15, 16 anos, que somam milhões de seguidores nas redes e tiveram um desentendimento envolvendo os namorados, levando a discussão para internet ao gravarem pronunciamentos de suas versões.

Pelo grande número de seguidores, a história viralizou, levando a rede a se dividir em lados na briga e fazendo com que as meninas recebessem muitos comentários de ódio. Toda essa polêmica fez muitos pais se preocuparem com essa superexposição digital que os jovens presenciam. É inegável que as redes sociais têm se expandido cada vez mais entre o público juvenil - tanto no consumo do conteúdo, quanto na produção dele. No mundo de hiperconexão é difícil impedir que as crianças tenham contato com a internet, mas é necessário que haja algum controle, ou no mínimo uma orientação parental do que os filhos estão consumindo ou produzindo.

Foto de Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Foto:Reprodução Instagram

Crescer já é, por si só, um processo delicado. Agora, crescer lidando com uma plateia invisível que pode curtir, compartilhar e criticar suas ações, leva a vulnerabilidade da adolescência a um novo nível.  A internet é uma terra de ninguém, onde há muita desinformação e muitas pessoas escondidas no anonimato que não possuem filtro algum para xingamentos. 

Antes das redes sociais,  cada um era exposto a uma quantidade pequena de pessoas. Hoje, com a vida online tudo que é postado de forma pública, pode ser acessado e comentado por qualquer um. Durante a fase de desenvolvimento em que o cérebro busca constante aprovação, essa superexposição pode ser  extremamente prejudicial à saúde mental, podendo levar o adolescente a desenvolver transtornos como a ansiedade e a depressão.

Além das plataformas digitais reforçarem uma autoimagem baseada na aprovação externa, onde os jovens buscam validação através de curtidas e comentários, elas também fazem com que eles consumam as postagens de outras pessoas que podem gerar constantes comparações com padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade. 

A psicóloga Bruna Marchi Moraes, formada pela Faculdade São Francisco, em entrevista à AGEMT, comenta sobre a diferença entre o uso saudável da internet e de um uso prejudicial. Para Bruna, "o uso saudável é aquele que é intencional, equilibrado e supervisionado — contribui para aprendizado, lazer e socialização, sem substituir as experiências offline. Já o uso prejudicial envolve excesso de tempo de tela, isolamento, consumo passivo de conteúdo, dependência emocional das redes e prejuízo nas atividades do cotidiano como sono, escola e convívio familiar".

A autoestima não é o único aspecto abalado pela exposição em excesso às redes sociais, ela pode afetar também a forma que o adolescente se relaciona com os outros, gerar mudanças bruscas de humor, isolamento, queda no rendimento escolar, desinteresse em atividades que antes eram prazerosas e irritabilidade. Bruna ainda alerta que “estudos apontam correlações entre uso excessivo de telas desde cedo e sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades de atenção. A hiperestimulação digital pode afetar o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, especialmente em crianças com predisposições genéticas ou ambientais para esses transtornos.”

Para evitar que uma ferramenta valiosa como a internet se transforme em algo negativo, ela defende que o papel dos pais, é  de orientar, supervisionar e modelar o uso responsável da internet. Limites saudáveis envolvem horários pré-estabelecidos, escolha de conteúdos adequados, conversas abertas sobre os riscos e incentivo a atividades offline. Mais do que proibir, é importante ensinar o uso consciente e equilibrado.

Um recado de Bruna aos adolescentes, “Gostaria que soubessem que a internet pode ser uma ferramenta incrível, mas também pode influenciar seus pensamentos, emoções e autoestima de maneira sutil e profunda. Que não precisam se comparar com os outros o tempo todo, e que os momentos desconectados também são essenciais para se conhecer, descansar e crescer com mais equilíbrio”.

Durante evento na PUC-SP, o professor Fernando Haddad, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, ressaltou o papel do movimento estudantil, da produção acadêmica e científica no atual cenário brasileiro
por
Camilo Mota
|
20/05/2022 - 12h
Em conversa com estudantes, o Ministro da Educação dos Governos Lula e Dilma ressaltou o papel da mobilização estudantil e a produção acadêmica.
Em conversa com estudantes, o Ministro da Educação dos Governos Lula e Dilma ressaltou o papel da mobilização estudantil e a produção acadêmica. Foto: Alexandre Carrasco.

O pré-candidato ao governo do Estado Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, participou de uma roda viva realizada pelas entidades estudantis da universidade. Após a fala de estudantes e personalidades, que estiveram presentes e abriram as perguntas, o professor, que foi Ministro da educação durante os governos Lula e Dilma, respondeu a perguntas do corpo estudantil, responsável pela realização do evento.

“Eu gostaria de começar falando da força que vocês precisam saber que têm. Talvez alguns de vocês saibam, mas todos precisam saber a força que têm nessa conjuntura política que o Brasil está vivendo”, declarou Haddad. Logo depois, o ex-prefeito da capital paulista enfatizou que, desde 2018, dizia às pessoas que o abordavam após a vitória de Bolsonaro que não fugiria da responsabilidade democrática e luta por direitos.

“Nós vamos estar juntos aqui cercando fileiras pela Liberdade, pela democracia, pela soberania e por pior que seja o cenário, a gente sabia que o desastre ia ser enorme, porque ninguém coloca o Bolsonaro na presidência da República sem saber no que vai dar”. Para Haddad, Bolsonaro já se mostrava como é, “uma pessoa grotesca” e que “a cada dia dá péssimos exemplos para o país”, pontuou.

Ao longo da sua fala, o professor universitário chamou a atenção para a “confusão” que Bolsonaro está criando sobre das eleições: “por maior que seja confusão que ele queira criar, ele vai tentar criar confusão, ele já está tentando criar confusão. Isso vai acontecer, em parte, por causa do que aconteceu na universidade brasileira, não é por outra razão. Em parte, é pela mobilização nos campi universitários desse país.”

O ex-Ministro enfatizou que, enquanto a população brasileira era de cerca de 70 milhões de habitantes em 1964, hoje ela é três vezes maior, acima de 210 milhões. “Só que naquele ano nós éramos 200 mil universitários e hoje nós somos 40 vezes mais”. Esses números, para ele, trazem a dimensão do poder que essa parte da sociedade tem. E a maneira de derrotar Bolsonaro é nas urnas. “Vocês vão vencer e vocês são a geração que vai radicalizar a democracia no país.”

Haddad em roda viva na PUC-SP
Haddad em roda viva organizada por movimentos estudantis da PUC-SP. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

O evento foi realizado pela Associação de Pós-Graduandos (APG PUC/SP), o Centro Acadêmico Benevides Paixão (Jornalismo), o Coletivo Contestação e o Coletivo Reconvexo (Direito), a União Estadual dos Estudantes (UEE) e o DZ PT Perdizes, na Quadra do campus Monte Alegre na terça-feira (17). A Profa. Maria Amália, reitora da universidade, esteve presente e saudou o professor após as demais entidades:

“Essa universidade foi invadida em 1977, porque defendia naquele momento a ciência, a sociedade brasileira, o progresso da ciência, e permitiu que aqui acontecesse um encontro estudantil. A Ditadura invadiu a universidade, levou estudantes e professores presos. Levou material e a universidade resistiu. Ela tinha uma reitora mulher. Dona Nadir. Isto fortaleceu a universidade. Então, quando a gente diz a PUC tem uma história, a PUC tem uma história. De defesa do Brasil, de defesa da universidade como lugar de diálogo, de discussão, de desavença, mas principalmente de reflexão, de formação de produção de conhecimento”.

O evento ainda contou com a participação de algumas personalidades, estudantes, representantes de entidades estudantis e indígenas e políticos e pré-candidatos de partidos de centro-esquerda.

O Ministro e professor da Universidade de São Paulo concebeu uma entrevista exclusiva para a Agemt antes do início do evento, durante conversa com as entidades estudantis promotoras e a reitoria da universidade.

Ministro, o senhor tem relação próxima com a PUC-SP. O senhor deu um depoimento no Tribunal do Genocídio, que foi realizado no Tuca no ano passado, também deu uma aula magna sobre educação antes do início do 2º semestre de letivo de 2021 e é conselheiro da universidade. O que a PUC-SP representa para o senhor e para a educação do país?

Acho que não é nem na minha vida, mas na vida de São Paulo. A PUC-SP é uma das instituições mais respeitáveis da cidade, que tem muitas instituições, mas os quadros que a PUC forma e formou, para São Paulo e para o Brasil, todo mundo tem como referência. O corpo docente, o corpo discente, as entidades, todas elas, estudantis ou não, os vários reitores, a reitora atual – Profa. Maria Amália - que passaram por aqui. Quer dizer, tem um simbolismo que transcende as fronteiras do Estado. As PUCs em geral, mas a PUC-SP em particular. Então, como toda instituição que presta um serviço inestimável, ela merece o respeito de todo mundo e ela tem o respeito do mundo. E é bom que seja assim. Essas instituições que formam os quadros dirigentes do país, que querem transformar para melhor o Brasil, tenham o respeito e o selo da instituição que as formaram.

O senhor também já deu algumas pistas sobre a mobilização dos estudantes. Esse evento foi exclusivamente organizado pelos movimentos estudantis, majoritariamente, de diversos cursos e níveis. Como o senhor analisa atuação do movimento estudantil no âmbito acadêmico e no atual cenário brasileiro?

Eu venho dizendo que a população Universitária Brasileira triplicou de tamanho. Só para você ter uma ideia, no golpe de 1964, uma população de cerca de 70 milhões de brasileiros só tinha 200 mil universitários. A população brasileira desde então triplicou enquanto a população universitária se multiplicou por 40. Ou seja, vocês têm que ter a exata medida do que vocês representam no país hoje. O peso específico da população universitária é muito grande e eu acho que é assentar na ordem do dia que essa massa crítica nova e diversa e representativa da nacionalidade tome consciência da sua força, porque eu tenho certeza do que eu estou falando. O Brasil depende como nunca, hoje, desse exército de inteligência, de energia, que é fruto de muita luta social e de governos progressistas que abriram a porta das universidades para o filho do trabalhador, para a população negra. É uma realidade inteiramente nova e nós temos que usar essa força para o bem do país

Sobre o jornalismo, vimos na cobertura das eleições de 2018 que parte da grande imprensa evitou chamar o então candidato Bolsonaro por aquilo que ele já representava, evitando inclusive denominá-lo como um candidato de extrema direita. O senhor acredita que essa relação vai ocorrer novamente e como o jornalismo deveria a partir de agora se portar a partir do que estamos vivendo?

Eu não confio muito na grande imprensa até para não me decepcionar. Quem sabe eles, que cobraram tanto autocrítica, façam a deles e se comporte de uma maneira diferente em 2022. Porque, assim, é quase um acinte uma pessoa que passou a vida inteira dentro de uma biblioteca ou trabalhando em empresas familiares ou dedicada ao serviço público ser comparado com um psicopata. Foi isso que eles fizeram em 2018. Quiseram nivelar tudo por baixo e deu no que deu. 665 mil mortes – pela covid-19 -, a educação destruída, cultura destruída, o meio ambiente destruído, a Ciência e Tecnologia destruída. E aí? Isso não tem responsável? Quem normalizou o bolsonarismo, quem naturalizou as ações do Bolsonaro? Isso não seria possível sem a atuação da grande imprensa. E a imprensa alternativa ainda tem um alcance muito limitado para mobilizar um país. Oxalá venha ter o tamanho necessário para se contrapor à maior fake News, que foi da própria imprensa, não foi do Bolsonaro. A maior fake News foi vender para o país que o Bolsonaro é uma pessoa normal. Quando nós sabíamos que se tratava de uma pessoa totalmente desequilibrada e perigosa.

Para finalizar, como o senhor vê inclusive no âmbito da própria esquerda, o papel da comunicação?

A comunicação é um campo em aberto. Você faz mal ou bom uso da comunicação. Inclusive o que nos separa ou o que nos une é a comunicação. É por meio da comunicação que você cria fantasmas, você cria assombração, você estigmatiza pessoas, cultiva intolerância e pela mesma comunicação você faz o oposto disso. Você convida a reflexão, convida o juízo crítico. A humanidade é isso, a disputa permanente de valores, de símbolos e princípios que norteiam a vida em comunidade. O que nós precisamos fazer é escapar desse projeto protofascista que está instalado no Brasil, porque isso aí impede inclusive que o outro lado seja um jogador desse tabuleiro. O objetivo do Bolsonaro é aniquilar os seus adversários tidos por ele como inimigos. Isso faz muita diferença, você tratar o diferente como inimigo e não como um interlocutor legítimo.  Esse é o paradoxo que nós estamos vivendo hoje.

Obrigado, professor.

Cineasta conhecido pelo filme “Dois Filhos de Francisco (2005)” morreu neste sábado (14) devido a um ataque fulminante.
por
Maria Ferreira dos Santos
|
15/05/2022 - 12h

Breno Silveira estava no interior de Pernambuco gravando “Dona Vitória”, filme que conta com Fernanda Montenegro no papel-título, quando sofreu um ataque cardíaco fulminante neste sábado (14) . A morte foi anunciada pela Conspiração Filmes através das redes sociais. “Vamos chorar pelo nosso amigo e diretor genial, que nos deixa filmes, séries e documentários incríveis. Nos seus projetos, Breno Silveira sempre imprimiu sua busca incansável pela excelência e soube como poucos usar a força do seu olhar para retratar o Brasil”, escreveu a empresa na qual Silveira era sócio.

Breno tem em seu currículo grandes sucessos do cinema brasileiro, como diretor de fotografia trabalhou na produção “Eu Tu Eles (2000)”, de Andrucha Waddington, que foi selecionada para participar da mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes. Essa obra tem como elenco nomes como Regina Casé, Lima Duarte e Luiz Carlos Vasconcelos, além de ter canções de Gilberto Gil na trilha sonora. Ainda como diretor de fotografia Silveira também colaborou em “Carlota Joaquina(1995)”,”Traição (1998)”, “Gêmeas(1999)” e tantos outros.

O filme “Dois Filhos de Francisco(2005)”, pelo qual o cineasta ficou conhecido, foi a sua estreia como diretor e, logo de cara, tornou-se o filme mais assistido nos cinemas naquele ano, com mais de cinco milhões de espectadores. A história retrata a trajetória da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, o longa-metragem recebeu dez indicações ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e ganhou em quatro categorias, sendo uma delas a de melhor filme.

Ainda no cenário de casos reais, Silveira fez “Gonzaga: de pai para filho”, neste, o retrato é do sanfoneiro Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha, a obra também lhe rendeu prêmios e uma boa bilheteria. No âmbito das séries, o cineasta realizou “1 Contra Todos”, considerada a obra brasileira mais indicada ao Emmy Internacional, e a recente “Dom” pela Prime Vídeo, que mostra a percepção do pai de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, sobre a trajetória do seu filho de menino da classe média à bandido e dependente químico.

 

Coordenadora do curso de “Arte: História, Crítica e Curadoria” da PUC-SP destaca a importância do artista para a identidade cultural do país.
por
Gustavo Pereira
Isadora Taveira
Laura Melo
Marcelo Zanardo
|
30/03/2022 - 12h

Em entrevista à AGEMT a coordenadora do curso de “Arte: História, Crítica e Curadoria” da PUC-SP Priscila Almeida enaltece a grande carreira de Elifas, “Ele teve em torno de 40 anos de carreira, inúmeros trabalhos, com uma produção muito grande em capas de discos. Assinou obras do Paulinho da Viola, Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Elis Regina. Ele também fez ilustrações de capas de livros, por exemplo da Clarice Lispector”.

A professora complementa dizendo, “A linguagem visual dele, principalmente a conhecida no campo da discografia é bastante pautada em cores vivas, que de alguma maneira dialogam com a cultura popular brasileira e geralmente trabalha com retratos emotivos que humanizam e evocam imagens de um povo brasileiro sofrido, trabalhando também com os signos políticos e que fazem parte da história do país”.

Almeida conta ainda qual é sua obra preferida de Andreato, “ele tem no campo das artes plásticas um painel que foi montado no corredor de acesso ao Plenário da Câmara dos Deputados, onde ele homenageia alguns políticos que tiveram os seus mandatos cassados na época da ditadura civil militar no Brasil. É uma obra que faz parte do resgate da história da ditadura militar, uma obra grande, que tem em torno de 5 metros de comprimento por 1,70 de altura e ela participa como um documento desse período histórico trágico do país”. Ela se refere à tela A Verdade, ainda que tardia, concluída e doada em 2012 para a Câmara. Ela foi exposta durante as homenagens daquele ano a parlamentares cassados pela ditadura e mostra cenas de tortura praticadas pelo regime contra cidadãos brasileiros nos chamados “anos de chumbo” (1968-1974). O quadro ficou um mês exposto na casa legislativa e depois foi levado para um depósito, longe do público, onde está até hoje. Na época, deputados exigiram a retirada por considerar as cenas retratadas, “constrangedoras”.  

Para a docente, “desde os anos 60, o trabalho dele (Elifas Andreato) no campo da ilustração, do design gráfico, fez aqui a história da cultura da produção brasileira”.

Elias Andreato, irmão de Elifas, faz emocionada despedida
por
Maria Ferreira dos Santos, Maria Luiza Araújo.
|
29/03/2022 - 12h

 

 A filha do artista, Laura Andreato, comunicou que a morte decorreu do infarto sofrido na semana passada. A família informa que o corpo será velado ainda hoje no crematório da Vila Alpina, na Zona Leste de São Paulo, às 16h. A notícia do falecimento foi divulgada por seu irmão, Elias Andreato, em sua conta no Instagram. A publicação tem como foto a bandeira do Brasil dentro de uma lágrima e uma carta com os dizeres: “E quando os homens forem amigos dos homens, vou saber que o meu irmão não sonhou em vão. Que o país que ele imaginou possa ser colorido para todos! Que a política do seu traço seja homenageada SEMPRE! Meu irmão, você retratou o que o nosso povo tem de mais belo: A DIGNIDADE!”.

O jornalista Chico Pinheiro, o ator Paulo Betti, a cartunista Laerte e o rapper Emicida também prestaram homenagens nas redes sociais.

 

A MPB PINTADA

O vínculo de Elifas com a arte e com a MPB se expressou em fortes traços na época da ditadura militar, principalmente pelo pintor usar isso como uma forma de luta e protesto à repressão sofrida.  Na década de 1960, Elifas já participava da criação de inúmeras revistas, como Placar, Veja e História da Música Popular Brasileira, mas foi somente em 1972 que começou a produzir suas capas, estreando com o LP “Nervos de Aço”.

A história de Andreato foi marcada pela produção de mais de 300 capas de álbuns de grandes cantores da MPB, como Elis Regina, Paulinho da Viola,  Adoniran Barbosa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Toquinho, entre outros. Em entrevista ao Jornal Correio Braziliense, o artista disse acreditar que “as capas dos discos são convites de fazer as pessoas se interessarem pela arte”. Suas obras foram de grande contribuição para a arte brasileira, principalmente no sentido do combate à repressão e na luta pela liberdade. De forma humilde, o pintor declarou que “a velhice é uma coisa chata, mas eu felizmente estou sempre produzindo e animado; continuo a fazer aquilo que sempre fiz e dentro dos meus limites dou minha contribuição para a cultura brasileira”. 

Elifas transformou o conceito de capa da música brasileira, buscando refletir a essência da canção - por isso, o apelido “pintor de sons”. O pintor buscava estampar não apenas o que a música passava, mas o que ela trazia consigo.

Elifas Andreato usou seu talento para transformar capas de discos e painéis em símbolos brasileiros. Transitando nos mais diferentes meios, inclusive no infantil, é dele, por exemplo, a capa do álbum “Arca de Noé”, de Vinicius de Moraes. A vida e obra desse grande artista gráfico marcaram a cultura e a música com sua genialidade. Pensar nas capas de álbuns da MPB é um convite para reviver a presença e a contribuição de Andreato na história da arte brasileira.

Elifas Andreato.
Capa do Álbum "Nervos de Aço".

 

 

 

 

Confira as contribuições do grande nome da ilustração brasileira
por
Ana Beatriz Assis
Sônia Xavier
|
29/03/2022 - 12h

Com um nome de peso no mundo artístico, o designer e ilustrador Elifas Andreato, deixa sua marca na memória dos brasileiros por meio de seus traços expressivos e suas contribuições para a literatura e a indústria musical.  

Nascido no dia 22 de janeiro de 1946 em Rolândia-PR, mudou-se para São Paulo com 14 anos junto de seus pais. Não passou por um curso superior, indo direto para o mercado de trabalho. Foi inclusive no ambiente organizacional que seu talento para o desenho foi notado, ainda em seus anos de aprendiz na FIAT LUX, seu dom foi incentivado pela diretoria da empresa, chegando a receber dinheiro de seus superiores. Tudo o que recebia era repassado aos pais, a fim de ajudá-los com as despesas familiares. Com 15 anos chegou a cursar o programa de alfabetização para adultos, demonstrando o interesse por sua formação. 

Elifas começou sua carreira no meio artístico e gráfico no ano de 1973, com o long-play “Nervos de Aço”, de Paulinho da Viola, dando início ao que seria uma carreira sólida de grandes parcerias com artistas da música popular brasileira. Somente com o vinil, produziu cerca de 362 capas de discos, ilustrando canções de Chico Buarque, Martinho da Vila entre outros nomes de grande relevância na indústria musical. Ele também deixou sua contribuição para literatura, idealizando o design de “Legião estrangeira” de Clarice Lispector. 

Além de seu grande talento para as artes, Andreato tinha forte opinião política e se posicionava, em meio à ditadura. Através da arte, ele manifestava a insatisfação com o regime. Ajudou a fundar o semanário “Opinião”, além de participar das publicações “Movimento e argumento”, enfrentando a censura. No ano de 2011, o artista recebeu, pelo conjunto de sua obra, o prêmio Vladimir Herzog, que celebra profissionais que defendem a luta democrática. A cerimônia foi realizada no TUCA, espaço representante da resistência contra a repressão. 

O artista ainda foi diretor editorial do Almanaque Brasil de Cultura Popular, revistas oferecidas para passageiros da companhia aérea TAM.   

Na noite desta segunda-feira (28), com 76 anos, por complicações decorrentes de um enfarte, Elifas deixa sua linda biografia e marcas históricas para os brasileiros.