A semana, norteada por aparatos tecnológicos, não poderia ser melhor descrita pelo envio e recebimento de e-mails. Abro a caixa de entrada: de segunda à sexta, entulhada por arquivos que chegam aos montes. No fim de semana, finalmente, dão uma trégua. E, quando aparecem no almoço de sábado ou jantar de domingo, certamente são para lembrar-me de finalizar a compra de um produto esquecido no carrinho da loja virtual.
O anseio gerado pela expectativa de determinada mensagem já me tirou noites de sono, me fazendo sonhar de olhos abertos pelas madrugadas. E, só quem viveu sabe, a decepção que é abrir a caixa de entrada e não encontrar nada ali para além das propagandas implorando para serem notadas. Ou, na pior das hipóteses, as contas do mês que chegaram...de novo! Não há tecnologia que nos salve dos boletos aguardando pagamento.
Encaro o correio eletrônico como metáforas que simbolizam a passagem do tempo, uma retrospectiva da vida moderna. Afinal, basta comparar os e-mails de janeiro aos de dezembro. O que aconteceu neste período? Histórias que tomaram outros caminhos, se apaixonaram, se despediram de entes e amigos queridos, se viram diante de episódios jamais imaginados. São tantos rumos que poderiam ser recontados a partir da narrativa deixada pelos substitutos das cartas. Não obstante, não raro incorporam os papéis de jornais ou livrarias, lhe recomendando autores nunca lidos anteriormente, te levando para a notícia tão fresca quanto uma melancia recém tirada da geladeira. Como leitora, me sinto plenamente derrotada pelos algoritmos quando sou obrigada a assumir que dada recomendação estava certa. “Por que eu não havia lido isso antes?”.
Como uma cronista amadora que se vê rascunhando acerca do mundo que tem à volta, faço da caixa de entrada um verdadeiro acervo de lembranças. Sendo incapaz de escrever sobre todas elas, me pego bisbilhotando os textos que exalam formalidade, sempre terminados em “abraço” ou “atenciosamente”. Dou risada. Mando cópia para outras pessoas. Me transporto para o passado enquanto recordo os momentos especiais cujos detalhes seriam apagados da memória se não fossem, claro, os e-mails.
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Em 29 de maio de 2021, promoveu-se, em várias capitais do Brasil, manifestações contra as conduções das políticas públicas do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia. Mas como promover esses atos em plena pandemia, onde o distanciamento social, higienização das mãos e uso constante de máscaras se faz necessário? E mais ainda, como registrar esse acontecimento de forma segura?
Dias antes, ao longo da semana que antecipou o ato, pouco se ouviu falar sobre o que viria a ser realizado. Apenas algumas poucas menções surgiam em redes sociais e na internet no geral. Parecia algo especulativo, nada realmente certo. Até que no dia 27 de maio, em uma chamada simples e rápida em emissora de TV, a APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) confirma o ato, marcado para dali 2 dias, em frente ao MASP (Museu de arte de São Paulo), às 16hs. Certo, tinha uma oficialização exposta. Não se tratava apenas de especulação.
Ao chegar na região da Avenida Paulista, por volta das 11hs, o que se podia ver, eram em sua maioria, transeuntes descompromissados, com seus afazeres cotidianos, alguns pedintes e vendedores ambulantes. Nada que indicasse o que viria a se tornar aquele local. Em dado momento, tenho a atenção atraída para um carro estacionado em um recuo de calçada, em frente ao Parque Trianon. Do porta malas desse veículo, um casal, paramentados com luvas, máscaras e óculos de proteção, retiram marmitex e realizam a distribuição às pessoas em situação de rua, que rapidamente e de forma organizada, entram em fila, para receber o alimento.
Aguardo até que terminem seus afazeres e me aproximo para tentar uma conversa. Os dois se mostram bem extrovertidos e até é possível ver a alegria, em seus olhos, ao falar sobre a ação que realizam com o “Projeto Guarda-Chuva - Combate a Fome de Ponta a Ponta”. Onde, em resumo, são arrecadados alimentos em restaurantes da região e distribuídos por voluntários. Como que por um passe de mágica, enquanto conversávamos, um caminhão de som “aparece” em frente ao MASP, barracas estão montadas na calçada, algumas bandeiras hasteadas e uma pequena movimentação de pessoas é percebida. Me despeço do casal e atenho a observar a nova movimentação.
Neste momento me dou conta que o grande vão livre do MASP, não está tão livre como deveria ser, pois esse está cercado por grades de contenção e dentro delas, guardas municipais vigiam o movimento. É possível ver que na barraca montada pela APEOESP, além dos adesivos, que costumam ser comuns, são distribuídos máscaras de proteção PFF e aplicação de álcool em gel aos que se aproximam. Na calçada do Parque Trianon, jovens ligados a movimentos estudantis improvisam um ensaio de bateria, enquanto outros, escrevem faixas com palavras de ordem, como “Comida no Prato e Vacina no Braço”. A movimentação dos transeuntes descompromissados dá lugar a todo o tipo de pessoas, homens e mulheres desacompanhados, famílias com crianças, casais héteros e homoafetivos, idosos, policiais militares, muitos policiais militares. Em comum, todos usando suas máscaras de proteção.
Por volta das 14hs, como que ordenando que voltassem para suas casas, uma chuva torrencial deságua sobre nossas cabeças, dando início à dispersão dos poucos que até aquele momento, ali se encontravam. Mas essa chuva mostrou a que veio. Apenas para acalmar os ânimos dos que pudessem estar mais exaltados. Chuva passageira. Alguém sobe no caminhão de som e inicia uma chamada melodiosa: “Pode chover, pode molhar, eu tô na rua é pra mudar”. Essa chamada ecoou ao longe, fazendo com que as pessoas a atendessem e viessem para a rua.
Quase que de imediato, surgiam mais e mais pessoas, com cartazes feitos em casa, escrito com garranchos ilegíveis. Cada qual com seu pedido ou questionamento: “Fora genocida”, “Chega de Cloroquina, cadê nossa vacina”, “Bolsonaro mata mais que a Covid”, entre tantos outros. Aquele quarteirão em frente ao MASP já não comporta a multidão, que já havia invadido a Avenida Paulista. Nesse momento já são 3 quarteirões, lotados de manifestantes mascarados com suas N95 e munidos de cartazes. Uma pequena tropa de homens vestidos de preto, arrastam uma enorme faixa pelo chão e na sequência à estende. O que se pode ler é: “Gaviões da Fiel contra o comendador da morte” e o brasão do Corinthians. Perto dali, outro caminhão de som, mais palavras de ordem. Uma bateria toca um ritmo chamativo e constante, mais pessoas mascaradas chegam, mais cartazes, mais pedidos de vacinas.
Às 17hs decidi ir embora, meu registro estava finalizado. Minha contribuição já estava feita. Chegou o momento de me besuntar de álcool em gel e ir pra casa. Esperar o noticiário da noite e me regozijar das imagens aéreas que seriam mostradas, ver proporção que tomou essa manifestação pacífica. A manifestação não foi pautada pelos grandes veículos de imprensa.
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A pandemia ainda nos mantinha confinados quando me pego ao abrir e fechar de páginas da internet. Os buscadores de imagens, como verdadeiros garçons, me serviam com fotos datadas da década de 70.
Embora não tenha vivido nenhum daqueles anos, não preciso lembrar o quão amargurada foi a política dessa época. A ditadura aqui instaurada apenas retocou na bandeira brasileira algo que já lhe havia sido concedido em tempos passados: a tristeza, atrelada à vergonha, e que contrastava com a expectativa de que tudo melhoraria.
Como uma metáfora de esperança, que provavelmente era fruto de mera coincidência, um reduto de cores podia ser visto em fotografias capturadas ao contorno do Calçadão de Copacabana. Fuscas das mais diferentes tonalidades faziam dali um estacionamento a céu aberto. As crias da engenharia encaravam o mar ao fundo, viam as “Garotas de Copacabana” desfilarem na areia da praia. Tão diferente de Brasília! Triste! Escura! Sob uma constante tempestade que, hoje perguntaria facilmente a um meteorologista, se, de fato, há de ter cessado.
Mas no Rio...Ah, no Rio! Havia espaço para o verde que moldava o Corcovado. Lá no alto, o azul e verde excessivos enchiam as janelas dos aviões que seguiam seus trilhos invisíveis rumo ao Galeão. Recepcionados de braços abertos pelo Cristo, não tardaria para que uma leva de gente trouxesse ao concreto carioca novas cores, cabelos e risadas.
Sendo assim, se tratando de cores, o Rio entende bem, contrapondo tons claros e escuros ao longo de seu território. Quem não se lembrará do preto ocasionado pela doença miserável? Ou do amarelo que passa como bala aos ares dos morros cariocas lhes conferindo o vermelho “cor de sangue”?
Mas, voltemos ao Rio cujas praias esbanjam cores, pés que sambam durante 365 dias, e televisões antenadas no Maracanã. O Rio de Janeiro, diziam eles, é alegria. É beleza, Pão de Açúcar, mulheres bonitas, carnaval. É uma aquarela. O resto? Que resto?
Se você é brasileiro, é praticamente impossível nunca ter escutado o nome do ícone Paulo Gustavo. Seja nas telas como Dona Hermínia no sucesso “Minha mãe é uma peça” - que rendeu três edições - ou em jornais e matérias que traziam o nome de um dos mais famosos humoristas brasileiros.
Na noite de segunda-feira (03/05), foi declarada a morte do ator, aos 42 anos, que estava internado desde o dia 13 março no Rio de Janeiro por complicações geradas devido ao vírus da COVID-19. Mas o que essa notícia tão triste e que abalou o Brasil, que está sob um momento de absoluta calamidade - representa?
A morte de Paulo Gustavo, marca o fim precoce e abrupto de uma carreira estelar, com poucos paralelos no nosso showbiz. Em pouco mais de 15 anos, o ator saiu do anonimato para o posto de maior chamariz de público do cinema brasileiro. A trilogia "Minha Mãe É uma Peça", estrelada por seu alter ego Dona Hermínia, vendeu cerca de 22 milhões de ingressos. O terceiro longa ostenta atualmente o título de maior bilheteria de filme nacional de todos os tempos, com uma renda bruta de R$143,9 milhões.
A notícia triste e inesperada para muitos ferveu nas redes sociais: só se fala de Paulo Gustavo, mas pouco se vê falando notícias esperançosas e positivas sobre o coronavírus; e muito se vê de “pequenas reuniões de amigos”, festas clandestinas e viagens incríveis. Este comportamento - recorrente nas redes - infelizmente nos incita a pensar o óbvio: as pessoas só passam a realmente ligar e se abalar com a pandemia quando os números viram pessoas; sejam próximas, conhecidas ou até idolatradas.
São mais de 400 mil mortes no Brasil, mas ninguém deu a mínima para o número espantoso. Paulo Gustavo faleceu e nas redes sociais havia milhares de pessoas fazendo “homenagem” à grande pessoa que ele era, mas não se lembraram que à mais de 2375 mortes por dia. Os fãs de Paulo Gustavo se comoveram com a notícia principalmente por ser tão inesperada; como é o caso de Gabriela, estudante de letras da PUC, que em entrevista realizada dois dias após a morte do ator afirma que "(...) mesmo com o estado dele se agravando e o tempo de UTI aumentando, eu nunca acreditei na possibilidade de que ele pudesse realmente morrer, isso parecia muito distante e abstrato".
Quando questionada sobre o motivo da morte do humorista, a resposta da estudante foi crucial. Em poucas palavras, Gabriela conta que o destino de Paulo Gustavo é apenas um retrato do que está de fato acontecendo na sociedade, e ainda comenta que inclusive, se ele não fosse quem ele é, teria partido ainda mais precocemente (...) mas não precisaríamos estar passando por isso ainda" e ainda completa: "quem de fato o matou não foi o vírus, foi a irresponsabilidade, negligência e desgoverno que o Brasil enfrenta hoje".
De fato, isso nos leva a pensar que a comoção que circunda o país desde esta segunda feira irá comover a população, e consequentemente, vão acabar se responsabilizando mais e tomando mais cuidado. Mas não é isso que futura profissional de letras conta, ao ser questionada a respeito do que se sucede a partir de agora, a estudante afirma: "(...) apenas comoção não vai ser o suficiente. O Brasil inteiro sentiu a morte de Paulo Gustavo e vai ainda sentir por muito tempo, mas o problema que estamos enfrentando hoje no país ultrapassa isso. Talvez agora se comovam mais com o número de mortes, mas não acredito que essa comoção trará reflexos diretos, como a redução de casos, por exemplo".
O recado que fica, é claro: se possível não saia de casa, e caso for necessário, tome todos os cuidados, use máscara e álcool em gel, não corra o risco de se contaminar. Podemos afirmar que a nossa saúde é o nosso bem mais precioso, nem o dinheiro compra a saúde.
Com a morte de Paulo Gustavo, fica o ensinamento para todo o Brasil, de que o Coronavírus não escolhe sexo, idade, classe social. Ele é um vírus letal. Com mais de um ano de pandemia, chegou a hora de respeitar e levar a sério as medidas restritivas. Paulo Gustavo com certeza marcou a história de nosso país para sempre. Deixou um legado que serviu de representação de vida para muitas famílias brasileiras, de um modo único e bem humorado.
Ele foi um símbolo de representatividade para a comunidade lgbtqia +, com os filmes “Minha mãe é uma peça”, ele conseguiu reunir o Brasil todo para ver um casamento entre dois homens de uma forma emocionante e engraçada.
Ele será eternizado, e com certeza mudou a vida de muitas pessoas, Paulo era amor, generosidade e humor. Um dos maiores artistas que tivemos a honra de ter. Portanto, se cuide. Cuide de quem você ama, da sua família e amigos. Cuide do próximo. Juntos somos mais fortes. Vamos passar por tudo isso de uma forma responsável e consciente.