Em procura de igualdade de oportunidades para mulheres no cenário de e-sports, Renata Brito Almeida, conhecida como "Vermelha", é criadora de conteúdo e diretora do projeto Valikirias eSports, que presta suporte às mulheres no e-sports. Em suas próprias palavras, "nós estamos lutando juntas todos os dias para buscar a igualdade no cenário. Nossa ideia é ter um cenário misto verdadeiro e não apenas na teoria".
O interesse de Renata por jogos online vem desde 2003, mas foi só em 2019 que ela resolveu trilhar seu caminho dentro do cenário de e-sports, principalmente através do projeto Valkirias eSports, onde adentrou como aluna e hoje é diretora. O Valkirias é um projeto que tem como maior objetivo buscar a igualdade do cenário e para isso, busca diversas ações que possam acelerar esse processo. Atualmente, está com o circuito "Ela Faz o Game", em parceria com o banco digital Next. Consiste em campeonatos femininos de 5 jogos, palestras direcionadas para mulheres de dentro do cenário e uma rede de apoio formada por advogadas, nutricionistas e fisioterapeutas com livre acesso somente para mulheres.
O projeto vem com o objetivo de acabar com a ideia de que o ato de jogar videogame seja uma atividade exclusiva para meninos, algo que com o decorrer dos anos, se enraizou na cultura mundial. Mas na realidade, os números mostram exatamente o contrário. De acordo com uma pesquisa feita pelo Games Brasil 2021, 51,5% do público gamer no Brasil é feminino. "As pessoas não têm noção do quão alto é esse número e como cada uma de nós merece tanto respeito e oportunidade quanto os homens", disse Renata. "Existem ligas femininas para tentar dar espaço para essas mulheres mostrarem trabalho, mas infelizmente poucas organizações levam isso a sério, mesmo tendo meninas que jogam muito mais que alguns homens, esses sempre vão ter prioridade nos testes", completou.
Contudo, além da falta de consideração por parte das organizações, outro grande fator que afasta novas jogadoras, seja no cenário casual ou competitivo de e-sports, é o preconceito que acabam sofrendo com frequência enquanto jogam. "Nós, falo por mim e por milhões, nos sentimos desvalorizadas todos os dias. No Valorant, jogo que mais jogo atualmente, dificilmente falo no chat de voz porque é quase certo sofrer assédio ou desrespeito, e estamos cansadas de usarem nosso gênero pra avaliar nossa capacidade de jogar. Essas questões não só afastam novas jogadores quanto reprimem as que já jogam, a falta de respeito já tá cravada em algumas pessoas", disse Renata.
"Quanto a isso, eu acredito que as empresas poderiam fazer muito mais, uma campanha, por exemplo, para combater esse tipo de comportamento", diz a criadora de conteúdo. Porém, mais do que isso, além das empresas não tomarem atitudes sobre tais situações, as medidas cabíveis disponíveis dentro do jogo, como as denúncias de contas, não aparentam surtir efeito. "Em termos de denúncia dentro de jogo, não é nada efetivo, eu já devo ter denunciado mais de 30 vezes esse tipo de coisa dentro de jogo e até hoje recebi literalmente um feedback de denúncia dizendo que a pessoa foi punida, e nada me garante que tenha sido referente a isso, já que sempre reporto também comportamentos homofóbicos, racistas, etc."
Lutando constantemente contra essas injustiças, Renata conta que o próprio projeto Valkirias tem sofrido diversos ataques, inclusive até mais do que o esperado: "nosso objetivo é justamente lutar contra isso, quando você mostra o que está errado, quando mostramos nossas reclamações, sempre acabamos sendo menosprezadas pelo nosso gênero. Muitas vezes não somos levadas a sério e desrespeitadas."
Ao contratar modelos para representar o que está sendo vendido, a maioria das marcas opta principalmente por mulheres muito magras e muito altas, um padrão já clássico no ramo da modelagem. Em entrevista, a maquiadora e hair stylist Nicole dos Anjos, 21, que trabalha para diferentes marcas, denunciou a situação vivida pelas modelos: “Tem que se manter nas medidas. Você não pode mudar seu corpo sem comunicar à agência, e isso inclui engordar”.
A circunstância choca por divergir dos discursos sobre aceitação de todos os corpos, tão discutidos atualmente. “Acho que em 2022 ao menos foto para marca não teria problema”, comentou ainda dos Anjos, demonstrando discordância com o cenário que encontra em seu trabalho.
Em uma conversa para o PodDelas podcast, a influenciadora digital Thaynara OG, contou como uma cirurgia estética quase custou sua vida. Ela diz que “ A vida toda, mesmo antes dessa visibilidade de trabalhar nesse meio digital eu sempre fui insegura com a minha barriga, sempre me incomodou”. Ainda nessa entrevista ela conta que tentou de tudo antes de procurar um procedimento mais invasivo que nesse caso foi a famosa Lipo Lad, muito comum entre as “blogueiras” de hoje em dia, o relato que ela faz é que “ ao invés de eu procurar um médico que eu já conhecia, eu fui em uma pessoa que eu não conhecia porque estava no Instagram bonita e eu ia ficar igual”.
“Já encerrei uma entrevista porque o entrevistado não conseguia tirar os olhos das minhas coxas. Isso nos poda”, afirma Ana Paula Costa, jornalista e representante da Federação Nacional dos Jornalistas do Rio Grande do Norte em entrevista ao El País. “Passei anos indo trabalhar apenas de calça, com vergonha. E a culpa não é nossa”, completa.
Situações como essa não são incomuns para mulheres jornalistas no Brasil. Dados da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) apontam que ao menos 78,5 % das jornalistas já enfrentaram algum tipo de atitude machista durante entrevistas que realizaram. Não se limitam, inclusive, a uma única área de atuação do jornalismo: vão do esporte à cultura, do “fala povo” à política, do trabalho de campo às redações.
Um estudo elaborado em 2016 pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal revelou que 77,9% das jornalistas em atuação revelam já ter sofrido assédio moral por parte de colegas e chefes.
Quanto à política, a situação não melhora e perpassa figuras de cargos relevantes como a presidência, como é o caso de Jair Bolsonaro, presidente da República em atuação desde 2019. Há um relatório, do mesmo ano, da FENAJ que revelou que metade dos 204 ataques sofridos por jornalistas tiveram como agressor o Presidente e que, ainda, o seu principal alvo foram jornalistas mulheres.
Dados como esses revelam o grau de institucionalização no qual se encontra o machismo atualmente. Quando figuras de importância como o Presidente da República perpetuam atitudes machistas abertamente, é apresentada uma mensagem de que há uma naturalidade nessas ações. Isso não impede, entretanto, mulheres jornalistas de se organizarem socialmente contra o machismo.
Em 2018, cerca de 50 jornalistas fizeram um movimento chamado “Deixa ela trabalhar” em resposta a contínuos casos de assédio durante coberturas realizadas em eventos esportivos como partidas de futebol.
“É feita por jornalistas esportivas, mas queremos dar voz para mulheres de todas as esferas”, afirma Bibiana Bolson, jornalista da ESPN W, sobre o movimento em entrevista ao El País. Este teve como estopins os assédios sexuais sofridos por Bruna Dealtry e Renata Medeiros. A primeira fazia uma cobertura de um jogo de futebol quando foi beijada à força, e a segunda foi xingada e agredida ao vivo também durante uma cobertura esportiva. Ambas as agressões foram perpetuadas por torcedores.
“A ideia é dar uma resposta aos assédios e às situações recentes da Bruna e da Renata, que é também um pouco a história de todas nós, que já fomos assediadas nas redações, nos estádios e sofremos violência nas redes sociais” continua Bolson sobre a situação.
No âmbito da carreira jornalística, o machismo contra o qual lutam as mulheres, como Medeiros, Bolson, Dealtry e Costa, também lança suas garras.
Apesar de apenas 36% dos cargos de jornalistas no Brasil serem ocupados por homens, e 64% por mulheres, eles continuam ganhando mais que elas que, para completar, têm mais dificuldades em ascender a cargos de comando nas redações, nos canais de televisão e na administração.
Para a repórter do Brasil de Fato MG Larissa Costa, “Ainda prevalece aquela ideia antiga de sexualização do corpo, da invisibilização da diversidade das mulheres. Há um projeto nisso tudo, um projeto de manutenção das desigualdades” fala que revela justamente o caráter estrutural do machismo na sociedade.
Quanto à sexualização dos corpos das mulheres, Ana Paula Costa traz o assunto para dentro dos jornais: “Já ouvi colegas relatando que chefes pediram para aumentar o decote para conseguir determinada informação e, quando existem mulheres promovidas, sempre há o burburinho na redação de que só conseguiu porque teve relações sexuais com a pessoa certa”.
Esse anúncio se tornou um marco dentro do meio jornalístico, narradora da rede Globo e do SporTV, Renata Silveira quebra mais um tabu e em breve será a primeira mulher a narrar uma partida de Copa do Mundo na TV aberta.
Dentro do jornalismo esportivo, o cargo de narrador sempre foi majoritariamente exercido por homens, desde o início das transmissões. Porém, aos poucos a presença feminina dentro das emissoras vem aumentando, e consequentemente as mulheres estão tendo a oportunidade de atuar em grandes eventos.
Ao ser entrevistada por alunos de jornalismo, a locutora da Band Sports Isabelly Morais se orgulha ao contar suas conquistas pessoais, a mineira tem em sua carreira o marco de ser a primeira mulher a narrar uma partida de futebol em uma rádio mineira.
“Fiquei extremamente feliz, além de ser uma marca pessoal, é também uma marca para o campo do jornalismo esportivo.”
Durante a entrevista, a locutora confessa que nunca se projetou para ser narradora e afirmou que praticamente nenhuma mulher tem a narração como objetivo principal, na opinião da mineira, isso é devido à escassez de referências femininas no meio.
Os passos mais importantes já estão sendo dados, as mulheres adentraram de vez no mundo das locuções esportivas, campo que por décadas foi predominantemente masculino. Agora o próximo passo é que as mulheres possam se desenvolver nesse meio e firmar seus estilos próprios, principalmente na narração.