Cartazes espalhados pela cidade de São Paulo com a frase "Respeite o espaço das outras pessoas" trazem questões sobre machismo em espaços públicos.
por
Giuliana Barrios Zanin
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28/04/2023 - 12h

No último domingo (16), a companhia de transportes começou o lançamento da ação nos coletivos municipais com o intuito de refletir os desconfortos que são enfrentados durante as viagens. O projeto ainda tende a ser colocado em mais de 12,9 mil ônibus até o dia 30 de abril.

A iniciativa já se disseminou por mais de 2 milhões de visualizações apenas em redes sociais. Com o acesso expandido, tanto dentro dos meios de locomoção quanto nas mídias, a ideia já foi utilizada em outros países, como em Madri e Estados Unidos, pela a união de mulheres contra o “manspreading” – prática de pessoas do sexo masculino se sentarem de pernas abertas e ocupar mais assentos. 

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A prática do “manspreading” é comum em transportes e provoca incômodo entre os passageiros./Eduardo Rodrigues

Para Karina Sousa, 20, o incômodo no transporte acontece desde pequena. Aprendeu a se “portar” nos espaços. “São incontáveis as vezes que a gente vê isso acontecendo, eu até acostumei e realmente evito sentar do lado de homens no transporte público, e infelizmente é uma coisa que ninguém toma providência”. Um levantamento realizado neste ano pelo “Viver em São Paulo: mulheres” em conjunto da Rede Nossa São Paulo mostrou que 45% das moradoras paulistas dizem já terem sofrido assédio sexual nos canais móveis.

O trajeto de medo e agonia é perseguidor delas e negligente ao olhar dos outros. ”Nunca vi nenhum cobrador, motorista ou passageiro fazendo algo, apesar de estar estampado nos anúncios do ônibus essa campanha.”, relata Karina. O desabafo da jovem estudante de jornalismo é sincero, persistente e dialoga com a devolutiva de que pelo quinto ano seguido, os automóveis públicos são os principais locais em que pessoas do sexo feminino se sentem inseguras e percebem a importunação cometida pelos homens- informações fornecidas pela mesma pesquisa. 

Ações afirmativas como a de agora já foram impostas anteriormente. Em 2022, a mesma companhia movimentou a cidade com a chamada "Ponto final ao racismo”, instituída em painéis dentro e fora dos circulares. 

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SPTrans estampa circulares em apoio às campanhas de combate ao preconceito./Diário do Transporte

Ainda é muito cedo para falar sobre mudanças, mas a própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece a utilização de mecanismos populares para o apoio às camadas discriminadas. Na cartilha disponiblizada pelo site oficial, eles descrevem “Nessas seis últimas décadas, a maioria dos instrumentos internacionais firmados e ratificados pelo Brasil apresentam as ações afirmativas como estratégias reconhecidas e recomendadas pela ONU para a promoção da igualdade e o combate à discriminação e delineiam as bases conceituais para que as ações positivas de Estado promovam a igualdade.” Mas será que sem a participação civil será suficiente?

Diante das estatísticas, ativistas sociais acreditam que essa escolha é um dos caminhos importantes para combater os preconceitos e as desigualdades e, por isso, o papel dos serviços que recebem milhões de pessoas todos os dias é notificá-las e chamá-las para as lutas. Para Karina, outra possibilidade mais efetiva é uma campanha interna com os próprios funcionários para atentá-los e saber orientá-los diante dos casos.

 

Renan Caide relata como enfrenta dificuldades e preconceitos dos heterotops por não seguir o padrão
por
Felipe Oliveira
Yasmin Solon
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30/06/2022 - 12h

“Moro no Capão redondo, lugar que se você não for o homem com cabelinho na régua e postura de malzinho, você será taxado de gay”, diz Renan Caide, 30, que expõe as dificuldades que homens, em específico, não heteronormativos sofrem em uma sociedade que impõe esse comportamento.

Heteronormatividade é uma idealização de expressão de gênero, obrigação social para que todos sejam e se comportem como heterossexuais. Os homens, em particular, devem ser fortes, viris, insensíveis, “pegadores”, não andar com meninas, usar cores “másculas” entre outras imposições. Quem não se submete a essas normas enraizadas, tem sua sexualidade questionada, é excluído e enfrenta dificuldades.

O entrevistado afirmou como era discriminado ao usar roupas consideradas femininas pelos heteronormativos, como a calça skinny e por ter franja, penteado mal visto por eles. Caide relata questionamentos e dúvidas sobre sua sexualidade ao ser afetuoso, isso porque os homens já não costumam demonstrar seus sentimentos devido a julgamentos que terão da sociedade. Caide conta como para ele é mais fácil se enturmar com LGBTs+, já que esses não ligam para a quebra do padrão, e diz como não tem muitos amigos heteronormativos; “Geralmente não ando com a galera hetero top”, afirma ele. Ele disse também como não ter filhos, reforça a discriminação e a especulação da orientação sexual dele.

Renan ainda conta que as retaliações estão presentes desde sua infância até hoje, já que é discriminado por pessoas de sua comunidade e família. Apesar de ser seguro da sua sexualidade e não se culpar por não ser heteronormativo, ele conta como existe a exclusão por parte dos que seguem o padrão, disse como já teve, várias vezes, correções de comportamento durante sua infância, tem sua sexualidade (que é heterossexual) questionada todo dia, e é discriminado por seu comportamento.

Todos os relatos apontados por Caide evidenciaram o machismo estrutural enraizado na sociedade. Uma pesquisa feita através do Google Forms pela AGEMT sobre heteronormatividade apresentou a maioria dos entrevistados abertos aos padrões, contradizendo a vivência de Caide. A pesquisa apontou que 88,9% das respostas foram de que não existem coisas de meninos e meninas; 88,9% disseram ter algum amigo próximo fora desse esteriótipo; 44,4% disseram nunca terem discriminado - mesmo que em pensamento.

A importância da mulher e a disparidade entre os sexos são assuntos pouco citados quando se trata de esportes americanos.
por
Davi Garcia
Rodolfo Soares Dias
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30/06/2022 - 12h

Mia Mastrocolo já vivenciou o machismo como Jornalista e em seus cinco anos trabalhando com esportes americanos, sabe das dificuldades presentes no meio, “Sem dúvidas, já passei por várias situações chatas. Muita gente coloca em xeque só pelo fato de ser uma mulher falando, mesmo que tenha mais quatro homens na bancada concordando.”
 
A ausência de mulheres no ramo ainda incomoda, o número de comentaristas e apresentadoras na TV é pequeno e a mentalidade do telespectador associa o esporte como algo masculino, quando se trata de esportes americanos a grande maioria dos profissionais são homens com pouquíssimas exceções, como Alana Ambrosio, comentarista da ESPN, e Natália Lara, narradora do Sportv, que quebraram o padrão. Essa diferença é perceptível pelo alto crescimento da figura feminina no esporte da bola redonda.


Mia, 29, é formada em Economia, porém, sua verdadeira paixão pelos esportes americanos a fez lutar por espaço e, mesmo sem ter a formação no Jornalismo, adentrou no site The Playoffs em 2016 como apresentadora e redatora. Durante sua carreira, teve a oportunidade de acompanhar e participar de projetos focados na cobertura feminina da Liga Nacional de Futebol Americano (NFL), “Conheci muitas minas incríveis nesse meio, em 2018 tínhamos um projeto com quase 40 meninas só falando de NFL” e completa, “Sem dúvidas tem muita menina com conhecimento fantástico pra essas posições, mas como sempre, falta espaço”.


Camila é um exemplo de talento que não tem espaço, moradora do Rio de Janeiro Camila Fogueira já participou de diversos cursos focados no Jornalismo, mas ainda não teve a oportunidade desejada e acredita que a presença do machismo é um dos motivos de não trabalhar com esporte. “As mulheres sempre estão pressionadas, a preocupação de nunca ser suficiente não vai acabar do dia para a noite”. Fogueira cita, suas tentativas em entrevistas para o ramo, o número inferior de profissionais femininas e o desinteresse dos entrevistadores, “é nítido a diferença” comenta.

Quando comparados com o futebol, onde a presença de mulheres cresce cada vez mais, os esportes americanos são tratados como periféricos e são pouco discutidos por não terem grandes esportistas do país nas ligas e se mostra muito distante por ser taxado como “esportes norte-americanos", o que dificulta o crescimento de uma cultura mais forte no Brasil, diminuindo a presença do jornalismo feminino nessa área. Dentro do futebol por exemplo, a narradora Renata Silveira quebra tabus e escreve história no jornalismo brasileiro, além de ser a primeira mulher a narrar um jogo de futebol em TV aberta a jornalista também será a primeira mulher no Brasil a narrar uma Copa do Mundo, promovendo a força e a grandeza da mulher no futebol.

 

A presença da mulher no esporte tem um aumento lento e gradual, e a especialização do grupo feminino já é um fato, mas é uma via de mão dupla, a indústria do esporte na imprensa ainda enxerga a mulher como algo frágil que pode, em muitos casos, diminuir sua audiência. “Apesar da falta de espaço, então abrindo os olhos para a importância da mulher, e a gente pode tudo, mas temos que se dedicar em qualquer área que estivermos” afirma Mia ao ser perguntada que tipo de dica daria para jovens que sonham em trabalhar com esporte.

Caso ajudou a explicitar que homens e mulheres são tratados de forma diferente em situação de abuso sexual e violência doméstica pelo “tribunal da internet”
por
Helena Cardoso Guimarães
Maria Burunzuzian
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30/06/2022 - 12h

“Na sociedade, a violência masculina é mais aceita”, diz Carrie N. Baker, advogada experiente em assédio sexual, em entrevista à BBC News Mundo. O caso de Johnny Depp foi levado ao tribunal após um artigo da ex-mulher, Amber Heard, para o The Washington Post, em que a atriz se colocava como uma “figura pública que representava o abuso doméstico”. Mesmo sem ter citado o nome de Depp, o ator utiliza a matéria como o principal argumento do processo que abriu em 2019.

É notório que o caso, que estava sendo transmitido em tempo real na TV aberta americana e no Youtube para o resto do mundo, ganhou muita visibilidade, sendo um dos assuntos mais comentados nos principais veículos de notícia e nas redes sociais, com memes e vídeos difamando Heard. De acordo com uma matéria da revista Vice em parceria com a organização The Citizens, o jornal conservador estadunidense The Daily Wire gastou entre 35 e 47 mil dólares em campanhas pró-Depp, com anúncios no Facebook e Instagram. Os artigos mostravam apenas a versão do ator, e foram muito compartilhados, tendo cerca de quatro milhões de interações online.

O ator, mesmo após ser cancelado na internet e demitido de duas franquias, Animais Fantásticos e a sequência de Piratas do Caribe, conseguiu conquistar o público com os novos capítulos do julgamento. “Ele é uma figura pública e obviamente teve problemas comportamentais, e está tentando recuperar sua reputação”, afirma Baker, que acredita que o sistema é parcial e a favor dos homens.

Depp conseguiu, com muito sucesso, se colocar como a vítima nos tribunais e ganhar destaque da sua versão da história. Seus fãs e apoiadores subiram hashtags no Twitter, pedindo justiça e liberdade. Enquanto isso, a atriz de Aquaman recebeu, desde o início do julgamento, diversas ameaças e comentários cruéis na internet, e é vista como desequilibrada e mentirosa pelos espectadores.

“Certamente, as mulheres podem cometer violência contra os homens”, acrescentou a advogada, considerando que há quem afirme que ambos foram violentos. Porém, ainda é possível perceber a diferença de tratamento entre o ex-casal na mídia, uma vez que as acusações e palavras de Heard não estão sendo tratadas com seriedade ou até sendo analisadas em excesso por pessoas sem experiência no assunto. O ator Chris Rock foi um dos que ridicularizou as falas de Amber em um show de comédia em Londres, “acredite em todas as mulheres, exceto Amber Heard”, disse.

Para Laís Morais, 23, jornalista, a “sociedade estruturalmente machista em que vivemos e a forma que homens e mulheres são criados para ver e perceber cada gênero” é o que faz a diferença de tratamento entre os acusados acontecer. Ela complementa que é extremamente importante que a situação seja analisada com muito cuidado, “Em casos como esse, são necessárias muitas fontes, documentos e provas para que pessoas que estão tentando ter sua voz ouvida, não sejam prejudicadas”.

No dia 01 de Junho, o júri chegou a um veredito para o julgamento de Johnny Depp e Amber Heard. O tribunal decidiu a favor do ator no processo de difamação, e a atriz foi condenada a pagar US$15 milhões, o equivalente a 72 milhões de reais. Porém, Depp também foi condenado, com uma pena bem menor, a pagar cerca de US$2 milhões (R$9,5 milhões) à ex-mulher, por difamá-la por meio de seu advogado.

Além de ter sido derrotada pelo júri nos Estados Unidos, Heard também não teve o melhor fim no tribunal da opinião pública. As consequências sofridas por Amber, podem ser prejudiciais e fazer com que mulheres que se identifiquem com o caso se sintam desencorajadas a denunciar situações de abuso sexual e violência doméstica, por terem medo de serem tratadas como a atriz. Além de expor e reviver um trauma, as vítimas podem ter medo de ter sua voz silenciada.

A falta de representatividade feminina em cargos de liderança domina o mercado
por
Isadora Pressoto
Sophia Pietá Milhorim
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23/06/2022 - 12h

‘’Quando eu cheguei em uma reunião, a primeira coisa que o cliente falou para o meu chefe foi: “Bom dia! Hoje você trouxe a secretária? Foi um constrangimento geral.” relata a engenheira Jussara Friedman, atual chefe coordenadora da Copem Engenharia Ltda da CPTM. Esse é apenas um dos casos de machismo, qual Friedman viveu em sua trajetória de trabalho.

Friedman acredita que a predominância masculina domina não apenas os cargos de chefia, mas todos os cargos da engenharia. ‘’Não importa o cargo, as mulheres sempre são menosprezadas. Já ocorreu de um engenheiro me explicar o óbvio sobre um assunto da minha especialidade e percebi que essa mesma pessoa não se comportava dessa forma com os homens’’. Essa realidade atinge milhares de mulheres desestabilizando sua autoconfiança, afetando seu rendimento.

A objetificação das mulheres é muito comum neste meio, em que muitas vezes a beleza é colocada acima do intelecto. ‘’Tinha um evento para ir à noite, o meu chefe me indicou para apresentar a empresa, porque como sou mulher, ele achou que era mais fácil, roupa social chique e iria chamar mais atenção’’ consta chefe analista do gestor financeiro da SPTRANS Lucy Aparecida Muniz. Hoje Muniz supervisiona mais de 8 funcionários, mas o caminho para chegar nessa posição não foi fácil. Uma dica essencial que Muniz pontua para mulheres que se sentem oprimidas é ‘’nunca desistir, porque a oportunidade para as mulheres, às vezes pode demorar, mas tendo competência e sendo eficiente, uma hora a porta abrirá’’.

Os casos de machismo muitas vezes não são reconhecidos pelos próprios homens, ‘’na maioria das vezes as brincadeiras foram sem pretensão de desencorajar as mulheres que conheço, pois aconteceram em momentos descontraídos e não em momentos em que uma mulher estava pedindo a opinião ou apoio sobre algo’’, relata Maurício Carneiro, funcionário da mesma empresa qual Friedman trabalha. Carneiro acredita que esse cenário está mudando, mas também pontua que teve mais que o dobro de chefe homens do que mulheres.

Há três anos trabalhando com games, criadora de conteúdo defende promover maior inserção de mulheres nos e-sports
por
Guilherme Timpanaro Gastaldi
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23/06/2022 - 12h

Em procura de igualdade de oportunidades para mulheres no cenário de e-sports, Renata Brito Almeida, conhecida como "Vermelha", é criadora de conteúdo e diretora do projeto Valikirias eSports, que presta suporte às mulheres no e-sports. Em suas próprias palavras, "nós estamos lutando juntas todos os dias para buscar a igualdade no cenário. Nossa ideia é ter um cenário misto verdadeiro e não apenas na teoria".

O interesse de Renata por jogos online vem desde 2003, mas foi só em 2019 que ela resolveu trilhar seu caminho dentro do cenário de e-sports, principalmente através do projeto Valkirias eSports, onde adentrou como aluna e hoje é diretora. O Valkirias é um projeto que tem como maior objetivo buscar a igualdade do cenário e para isso, busca diversas ações que possam acelerar esse processo. Atualmente, está com o circuito "Ela Faz o Game", em parceria com o banco digital Next. Consiste em campeonatos femininos de 5 jogos, palestras direcionadas para mulheres de dentro do cenário e uma rede de apoio formada por advogadas, nutricionistas e fisioterapeutas com livre acesso somente para mulheres.

O projeto vem com o objetivo de acabar com a ideia de que o ato de jogar videogame seja uma atividade exclusiva para meninos, algo que com o decorrer dos anos, se enraizou na cultura mundial. Mas na realidade, os números mostram exatamente o contrário. De acordo com uma pesquisa feita pelo Games Brasil 2021, 51,5% do público gamer no Brasil é feminino. "As pessoas não têm noção do quão alto é esse número e como cada uma de nós merece tanto respeito e oportunidade quanto os homens", disse Renata. "Existem ligas femininas para tentar dar espaço para essas mulheres mostrarem trabalho, mas infelizmente poucas organizações levam isso a sério, mesmo tendo meninas que jogam muito mais que alguns homens, esses sempre vão ter prioridade nos testes", completou.

Contudo, além da falta de consideração por parte das organizações, outro grande fator que afasta novas jogadoras, seja no cenário casual ou competitivo de e-sports, é o preconceito que acabam sofrendo com frequência enquanto jogam. "Nós, falo por mim e por milhões, nos sentimos desvalorizadas todos os dias. No Valorant, jogo que mais jogo atualmente, dificilmente falo no chat de voz porque é quase certo sofrer assédio ou desrespeito, e estamos cansadas de usarem nosso gênero pra avaliar nossa capacidade de jogar. Essas questões não só afastam novas jogadores quanto reprimem as que já jogam, a falta de respeito já tá cravada em algumas pessoas", disse Renata.

"Quanto a isso, eu acredito que as empresas poderiam fazer muito mais, uma campanha, por exemplo, para combater esse tipo de comportamento", diz a criadora de conteúdo. Porém, mais do que isso, além das empresas não tomarem atitudes sobre tais situações, as medidas cabíveis disponíveis dentro do jogo, como as denúncias de contas, não aparentam surtir efeito. "Em termos de denúncia dentro de jogo, não é nada efetivo, eu já devo ter denunciado mais de 30 vezes esse tipo de coisa dentro de jogo e até hoje recebi literalmente um feedback de denúncia dizendo que a pessoa foi punida, e nada me garante que tenha sido referente a isso, já que sempre reporto também comportamentos homofóbicos, racistas, etc."

Lutando constantemente contra essas injustiças, Renata conta que o próprio projeto Valkirias tem sofrido diversos ataques, inclusive até mais do que o esperado: "nosso objetivo é justamente lutar contra isso, quando você mostra o que está errado, quando mostramos nossas reclamações, sempre acabamos sendo menosprezadas pelo nosso gênero. Muitas vezes não somos levadas a sério e desrespeitadas."

A professora Márcia Mesquita e a empresária Priscila Janaudis fazem parte da geração “NoMo”, coletivo de mulheres que não querem ter filhos.
por
Isabelle Maieru
Lidia Rodrigues
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17/06/2022 - 12h
Imagem reproduzida da internet
Imagem retirada da internet

 

 
 “Algumas pessoas me acham egoísta, outras acham que eu tenho problema no aparelho reprodutor, outras acham que não bato bem” pontua Priscila Janaudis, sobre escolher não ser mãe. Em entrevista à Agemt, a empresária diz que sempre teve essa posição definida e que as críticas recebidas não afetam, essa postura não é incomum nos dias de hoje, No Brasil, 37% das mulheres não querem ter filhos e, segundo uma pesquisa global realizada pela farmacêutica Bayer, com apoio da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia, no mundo, o índice chega a 72%.
 
Desde 2016, o número de mulheres que não querem ser mães cresce muito, existe até um nome para o grupo que não deseja fazer parte da maternidade, a “Geração NoMo”, um coletivo de mulheres que discute e naturaliza tal decisão, muitas delas alegam que nos dias atuais não é fácil manter uma criança por conta da alta dos preços, ou pela falta de tempo. São muitos os motivos pelo desapego maternal, Janaudis, por exemplo, não escolheu não ter filhos por conta do trabalho ou por conta do dinheiro, mas sim, por não se sentir neste “lugar de mãe”, que ela define como alguém que sempre teve muita vontade de ter filhos. Além disso, ressalta que, “colocar uma vida no mundo requer disponibilidade para criar e educar e nem todas têm essa vontade ou disponibilidade, não é só pôr o filho no mundo e dar para a babá ou escola criar”.
 
Muitas mulheres consideram a maternidade como um desafio, como foi o caso da professora, Márcia Mesquita, "considerei por um bom tempo da minha vida a maternidade como um obstáculo, porque quis estudar, me especializar na minha área e trabalhar para conquistar uma estabilidade financeira. Não queria ter filhos para outras pessoas cuidarem. Também não me achava preparada para ser mãe", ponto que se iguala à visão de Priscila. "Nem todas as mulheres têm instinto maternal, isso é uma imposição da sociedade, passado pelas gerações", acrescenta. A fala de Mesquita caracteriza a idealização que a sociedade ainda tem da maternidade. Além disso, demonstra preocupação com o fato de ter uma boa estrutura antes de ter filhos, fator que muitas vezes não é levado em consideração pela sociedade quando é feita a imposição em gerar uma nova vida “para obter a felicidade completa”. 
 
A respeito do autoquestionamento de sua decisão após pressões, ela afirma: "Sim, eu até tentei ter, mas já estava com a idade avançada. Fiz duas fertilizações in vitro que não deram certo. Foi uma experiência frustrante, muita expectativa e cobrança das pessoas para que aquilo desse certo. Foi traumatizante e não quis tentar pela terceira vez, assumi que não queria ser mãe". O depoimento da professora retrata o que se passa além do maternar, a trajetória para engravidar para algumas mulheres pode ser longa e dolorosa, e a pressão sofrida durante o processo pode agravar a intensidade traumática.
 
Mesquita, diz ainda sobre o julgamento, “As pessoas, a sociedade, cobram as mulheres que fazem essa opção, não respeitam, acham que se não formos mães, não seremos felizes, realizadas. Criaram um estereótipo para as mulheres”. 
 
 
Mesmo com os recentes avanços na indústria da moda em relação à diversidade de corpos, mulheres magras e altas continuam sendo as favoritas para ensaios fotográficos
por
Lorrane de Santana Cruz
Marina Gonçalez de Figueiredo
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09/06/2022 - 12h

Ao contratar modelos para representar o que está sendo vendido, a maioria das marcas opta principalmente por mulheres muito magras e muito altas, um padrão já clássico no ramo da modelagem. Em entrevista, a maquiadora e hair stylist Nicole dos Anjos, 21, que trabalha para diferentes marcas, denunciou a situação vivida pelas modelos: “Tem que se manter nas medidas. Você não pode mudar seu corpo sem comunicar à agência, e isso inclui engordar”.

A circunstância choca por divergir dos discursos sobre aceitação de todos os corpos, tão discutidos atualmente. “Acho que em 2022 ao menos foto para marca não teria problema”, comentou ainda dos Anjos, demonstrando discordância com o cenário que encontra em seu trabalho.

Em uma conversa para o PodDelas podcast, a influenciadora digital Thaynara OG, contou como uma cirurgia estética quase custou sua vida. Ela diz que “ A vida toda, mesmo antes dessa visibilidade de trabalhar nesse meio digital eu sempre fui insegura com a minha barriga, sempre me incomodou”. Ainda nessa entrevista ela conta que tentou de tudo antes de procurar um procedimento  mais invasivo que nesse caso foi a famosa Lipo Lad, muito comum entre as “blogueiras” de hoje em dia,  o relato que ela faz é que “ ao invés de eu procurar um médico que eu já conhecia, eu fui em uma pessoa que eu não conhecia porque estava no Instagram bonita e eu ia ficar igual”.

Dados da FENAJ e do Sindicato de Jornalistas revelam violências sofridas por mulheres nas redações e entrevistas
por
Artur dos Santos
Lucas Allabi
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09/06/2022 - 12h

“Já encerrei uma entrevista porque o entrevistado não conseguia tirar os olhos das minhas coxas. Isso nos poda”, afirma Ana Paula Costa, jornalista e representante da Federação Nacional dos Jornalistas do Rio Grande do Norte em entrevista ao El País. “Passei anos indo trabalhar apenas de calça, com vergonha. E a culpa não é nossa”, completa.

Situações como essa não são incomuns para mulheres jornalistas no Brasil. Dados da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) apontam que ao menos 78,5 % das jornalistas já enfrentaram algum tipo de atitude machista durante entrevistas que realizaram. Não se limitam, inclusive, a uma única área de atuação do jornalismo: vão do esporte à cultura, do “fala povo” à política, do trabalho de campo às redações.

Um estudo elaborado em 2016 pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal revelou que 77,9% das jornalistas em atuação revelam já ter sofrido assédio moral por parte de colegas e chefes.

Quanto à política, a situação não melhora e perpassa figuras de cargos relevantes como a presidência, como é o caso de Jair Bolsonaro, presidente da República em atuação desde 2019.  Há um relatório, do mesmo ano, da FENAJ que revelou que metade dos 204 ataques sofridos por jornalistas tiveram como agressor o Presidente e que, ainda, o seu principal alvo foram jornalistas mulheres.

Dados como esses revelam o grau de institucionalização no qual se encontra o machismo atualmente. Quando figuras de importância como o Presidente da República perpetuam atitudes machistas abertamente, é apresentada uma mensagem de que há uma naturalidade nessas ações. Isso não impede, entretanto, mulheres jornalistas de se organizarem socialmente contra o machismo.

Em 2018, cerca de 50 jornalistas fizeram um movimento chamado “Deixa ela trabalhar” em resposta a contínuos casos de assédio durante coberturas realizadas em eventos esportivos como partidas de futebol. 

“É feita por jornalistas esportivas, mas queremos dar voz para mulheres de todas as esferas”, afirma Bibiana Bolson, jornalista da ESPN W, sobre o movimento em entrevista ao El País. Este teve como estopins os assédios sexuais sofridos por Bruna Dealtry e Renata Medeiros. A primeira fazia uma cobertura de um jogo de futebol quando foi beijada à força, e a segunda foi xingada e agredida ao vivo também durante uma cobertura esportiva. Ambas as agressões foram perpetuadas por torcedores.

 “A ideia é dar uma resposta aos assédios e às situações recentes da Bruna e da Renata, que é também um pouco a história de todas nós, que já fomos assediadas nas redações, nos estádios e sofremos violência nas redes sociais” continua Bolson sobre a situação. 

No âmbito da carreira jornalística, o machismo contra o qual lutam as mulheres, como Medeiros, Bolson, Dealtry e Costa, também lança suas garras. 

Apesar de apenas 36% dos cargos de jornalistas no Brasil serem ocupados por homens, e 64% por mulheres, eles continuam ganhando mais que elas que, para completar, têm mais dificuldades em ascender a cargos de comando nas redações, nos canais de televisão e na administração. 

Para a repórter do Brasil de Fato MG Larissa Costa, “Ainda prevalece aquela ideia antiga de sexualização do corpo, da invisibilização da diversidade das mulheres. Há um projeto nisso tudo, um projeto de manutenção das desigualdades” fala que revela justamente o caráter estrutural do machismo na sociedade. 

 

Quanto à sexualização dos corpos das mulheres, Ana Paula Costa traz o assunto para dentro dos jornais: “Já ouvi colegas relatando que chefes pediram para aumentar o decote para conseguir determinada informação e, quando existem mulheres promovidas, sempre há o burburinho na redação de que só conseguiu porque teve relações sexuais com a pessoa certa”.

 

A rede Globo anunciou no dia 29 de abril que Renata Silveira está escalada para comandar transmissões da Copa do Mundo no Catar, torneio que será realizado no fim desse ano.
por
João Pedro Pires da Costa
Pedro Lima Gebrath
Lucas Tomaz Lopes
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19/05/2022 - 12h

Esse anúncio se tornou um marco dentro do meio jornalístico, narradora da rede Globo e do SporTV, Renata Silveira quebra mais um tabu e em breve será a primeira mulher a narrar uma partida de Copa do Mundo na TV aberta.

Dentro do jornalismo esportivo, o cargo de narrador sempre foi majoritariamente exercido por homens, desde o início das transmissões. Porém, aos poucos a presença feminina dentro das emissoras vem aumentando, e consequentemente as mulheres estão tendo a oportunidade de atuar em grandes eventos.

Ao ser entrevistada por alunos de jornalismo, a locutora da Band Sports Isabelly Morais se orgulha ao contar suas conquistas pessoais, a mineira tem em sua carreira o marco de ser a primeira mulher a narrar uma partida de futebol em uma rádio mineira.

“Fiquei extremamente feliz, além de ser uma marca pessoal, é também uma marca para o campo do jornalismo esportivo.”

Durante a entrevista, a locutora confessa que nunca se projetou para ser narradora e afirmou que praticamente nenhuma mulher tem a narração como objetivo principal, na opinião da mineira, isso é devido à escassez de referências femininas no meio.

Os passos mais importantes já estão sendo dados, as mulheres adentraram de vez no mundo das locuções esportivas, campo que por décadas foi predominantemente masculino. Agora o próximo passo é que as mulheres possam se desenvolver nesse meio e firmar seus estilos próprios, principalmente na narração.