Psicóloga explica as motivações emocionais e sociais que levam a este comportamento
por
Cecília Schwengber Leite
Helena de Paula Barra
|
12/06/2025 - 12h

Nos últimos meses viralizaram na Internet diversos casos de “mães de bebê reborn”, em que mulheres adultas faziam vídeos cuidando e interagindo com as bonecas artesanais realistas como se realmente fossem suas filhas, dividindo opiniões sobre tal comportamento. A polêmica se acentuou quando começaram a surgir mulheres levando suas bonecas para supostamente serem atendidas em postos de saúde, ou até brigando pela sua guarda na justiça. Para entender melhor o assunto, ouvimos Kelly Vieira Ramos, psicóloga e especialista em análise do comportamento, em entrevista à AGENT. Para assistir ao vídeo, acesse o link:

 

Os famosos LPs batem recordes de venda e voltam a fazer sucesso, inclusive com as novas gerações
por
Helena Costa Haddad
|
11/06/2025 - 12h

Revolucionando a indústria musical, os discos de vinil, criados em 1948 por Peter Carl Goldmark e Columbia Records, mudaram a forma de distribuição musical e marcaram a cultura mundialmente. No Brasil, eles chegaram em 1951 com o disco Carnaval em ‘long playing’ (tradução da sigla LP) e se mantiveram no auge até a década de 1990, quando os CDs apareceram para substituir os discos. Nos anos 2000, as mídias digitais tiveram seu boom e o streaming conquistou o público.  

Mas apesar das plataformas de streaming estarem em alta, jovens, que nem viveram a era dos LPs, começaram a procurar vinis e muitos novos artistas também estão atrás desse método de distribuição. Em 2024, um levantamento da Pró-Música Brasil mostrou que os discos de vinil representam 76,4% da venda de mídia física no país, os correspondentes a R$ 16 milhões. 

discos na galeria
Zeitgeist Music, Galeria do Rock. Imagem: Helena Haddad

Marco Antônio Cunha, vendedor desde 1984 na Galeria do Rock, no centro de São Paulo, contou que viveu a transição vinil para CDs e que agora, voltou a vender discos. “Agora, os discos pop de artistas internacionais são os mais procurados. Vamos atrás de fornecedoras e pagamos taxas altas, o que encarece muito, mas, é o que mais sai”. Discos como Brat, de Charli xcx e Mayhem, de Lady Gaga estão nas prateleiras e são sucesso de vendas garantido.  

 

O desafio da produção interna e das taxas 

Em março deste ano, o ministro da Fazenda Fernando Haddad comentou que iria tentar zerar a importação de discos de vinil.  “Eu nem sabia que disco era tributado, porque livro não é. Compro livro importado e nunca paguei tributo. Prometo ver isso, com carinho. Vou discutir com o Barreirinhas [secretário da Receita Federal]”, prometeu o ministro no Podcast Inteligência Ltda.  

Para Marco, a promessa do ministro não deve ir para a frente “no ano passado, elas [as taxas] foram cobradas fielmente. Como existe há muito tempo, duvido que vão diminuir ou zerar”. Francisco Troia, vendedor de vinil há cinco anos fala desse momento com curiosidade e concorda com a problemática das taxas: “os jovens redescobriram os vinis, eles estão se interessando mais. Procuram garimpos e discos novos, principalmente pop internacional, Taylor, Lady Gaga etc. Às vezes, alguns clientes pedem discos específicos e a gente vai atrás. A venda aumentou muito com os jovens. Mas a alfândega é um empecilho. Tudo fica caro com as taxas.”.  

O vendedor também trouxe outra questão: a falta de fábricas de vinil no Brasil, que dificulta e encarece o projeto de novos artistas. “A demanda é muito grande nas fábricas, tem uma fila extensa. Só que quando eles fazem, é em pequena quantidade o que deixa o produto muito caro, quase no preço dos discos importados.” 
 

Gen Z e os vinis 

Os jovens André Paz e Igor Pimentel, ambos com 19 anos, são colecionadores e contaram um pouco sobre essa jornada. “Foi uma forma de me manter mais próximo dos artistas que eu gosto, me sinto mais conectado com a música, além da estética que me agrada muito”, comenta André. “Acho que na vitrola você percebe sons que no spotify não são perceptíveis. O som é mais claro”, complementa Igor.   

Já sobre os impostos, a resposta é unânime, apesar de ter mais sites, lojas, facilitando a compra, as taxas são “absurdas e desanimam”, como diz Igor. André, apesar de ter muitos discos importados, tem o costume de comprar discos nacionais: “Minha coleção é balanceada, tenho a discografia solo da Marina Sena completa em vinil. E já garimpei alguns.” 

A nova onda reafirma a relevância do vinil e devolve à discussão elementos como a qualidade do som e a experiência de ouvir música em si. Para os mais jovens, a prática também ajuda a reconectar com os hábitos dos seus pais, que muitas vezes passaram essa paixão para as gerações seguintes.  

A crise anunciada pelo vício em apostas online que atinge jovens e crianças
por
Leticia Falaschi
|
10/06/2025 - 12h

O cenário quase que epidêmico gerado pelos aplicativos de aposta no Brasil desestabilizou diversas esferas da vida da população. Desemprego e a desigualdade econômica viram combustível para as empresas que operam as bets. Segundo uma pesquisa publicada em abril pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), 10,9 bilhões de brasileiros com mais de 14 anos de idade apostam de forma descontrolada em jogos de azar, dados esses pertencentes a terceira edição do Lenad (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), realizado entre 2023 e 2024. Os números, que crescem exponencialmente, alertam profissionais da saúde, principalmente na área da psiquiatria e psicologia.

Em contrapartida, a legalização de algumas plataformas parece não estar de acordo com o estado preocupante indicado pelo sistema de saúde brasileiro. A complexidade se encontra, principalmente, no perfil do público mais afetado pela jogatina. O estudo da Unifesp mostra que 1 a cada 8 desses 10,9 bilhões apresentam dinâmica mais comprometedora com as apostas, se enquadrando em diagnósticos de transtornos comportamentais ligados ao vício.

Segundo a psicóloga clínica Elen Ribeiro da Silva, formada pela Universidade Paulista (Unip), em entrevista à AGEMT, existe uma combinação de fatores que afeta, principalmente, classes socioeconômicas mais vulneráveis.  “Qualquer pessoa tem fácil acesso às apostas, e num país com altas taxas de desemprego e subemprego e com tantos brasileiros sem educação financeira, a promessa de se ganhar a vida em apostas online é muito atrativa, principalmente para aqueles em cenários financeiros mais delicados.”, afirma a entrevistada.

A conjuntura de descrença e crise na economia acabaram cooperando para que a febre das bets tomassem conta da vida dos brasileiros, uma ilusória perspectiva de vida. Segundo o Lenad, a dependência em jogos de aposta fica atrás somente do álcool e do tabaco, superando o vício no crack e na cocaína da população. As empresas usam mecanismos que fomentam a vontade de jogar, operando de forma apelativa, bombardeando o usuário com incentivos enganosos.

“Essas plataformas funcionam estimulando sistema de recompensa do nosso cérebro e com liberação de dopamina, o que se assemelha com a dinâmica neuroquímica causada pelo uso de drogas.”, explica a psicóloga.  A falta de regulamentação dessas operações, que lucram com o desespero dos brasileiros, assim como a publicidade predatória são fatores que podem estar relacionados com o imenso número de jogadores. 

Segundo Elen Ribeiro, a ludopatia (ou o jogo patológico) é um transtorno comportamental grave já reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e já indicado no Manual de Diagnósticos Estatísticos de Transtornos Mentais (DSE-5) e é muito ameaçador pelo padrão comportamento compulsivo em apostas, mesmo diante de todas as consequências negativas. “É um pulso muito grande que foge do controle do jogador. Inicialmente vemos as perdas financeiras e endividamento, vêm os comportamentos ilegais... aí entra um fator ainda mais perigoso, que são os pensamentos suicidas, gerados pela desesperança em sair da situação. Muitas vezes, o indivíduo tem perda total da identidade", alerta Ribeiro.  

O sistema público de saúde sofre uma grande ameaça com o aumento de viciados em apostas, principalmente por ser uma patologia enquadrada no campo da psiquiatria. A rede de atendimento psicológico na saúde pública já é extremamente sobrecarregada, e a falta de estrutura para lidar com transtornos comportamentais é maior ainda. Os Centros de Atendimentos Psicossociais, os CAPS, um dos poucos centros públicos efetivos de tratamentos, têm uma grande demanda para tratar pacientes com vícios ligados ao álcool e as drogas, o que, somado ao sucateamento, deixa os tratamentos a outros transtornos em segundo plano.

É mais uma demanda para o Sistema Único de Saúde (SUS), ainda mais quando o público mais afetado não tem acesso a serviços de saúde privatizados.  A maioria das pesquisas especificadas para analisar o fenômeno vieram depois do aumento expressivo do número de viciados, não houve uma análise prévia à inundação das bets. Os poucos dados dos efeitos desse vício, usados em estudos de possíveis tratamentos, são de pessoas que buscam ajuda em centros clínicos, ainda há uma imensa parcela de indivíduos e dados que não foram analisados. Ouça aqui a entrevista completa. 

 

Como memórias viraram tendência e movimentam bilhões no mercado cultural
por
GUILHERME PERIOTTO KATINSKAS
|
09/06/2025 - 12h

Tênis antigos, brinquedos de infância, filmes que voltam com nova roupagem. A nostalgia virou um dos motores mais fortes da cultura pop e do consumo. Mas por que buscamos tanto o que já passou? Neste vídeo, investigamos como a memória virou mercadoria, para isso tive uma conversa com quem vive disso: um jovem artesão que transforma saudade em bonecos. Assista

Podcast analisa a nova legislação implantada e como ela influencia a rotina de alunos, professores e a dinâmica da aprendizagem
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
|
01/06/2025 - 12h

Com o avanço da tecnologia e a popularização dos smartphones, o uso de celulares dentro das escolas se tornou uma questão mais discutida por educadores, pais e autoridades. De um lado, o aparelho pode ser uma ferramenta de apoio ao aprendizado, de outro, representa uma grande fonte de distração. Diante desse cenário, foi sancionada em janeiro de 2025 Lei que regulamenta o uso dos celulares nas instituições de ensino, estabelecendo critérios claros para garantir que a tecnologia seja utilizada de forma responsável e educativa, sem comprometer o rendimento escolar nem a convivência dentro do ambiente acadêmico.

Para discutir sobre essa questão e como ela funciona na prática, trouxemos duas convidadas para o nosso POD Conta Aí. A professora da rede particular, especializada em orientação de alunos, Adriana de Moraes, e Lara Miyazaki, aluna da rede pública, que apresenta sua perspectiva sobre o uso dos celulares em sala de aula. Para acompanhar esse bate papo, acesse abaixo o Spotify

 

Para além dos blogs empresariais, nova geração de autoras traz de volta os diários virtuais.
por
Helena Costa Haddad
|
20/05/2025 - 12h

Durante os anos 1990 e até 2010, os blogs eram uma febre na internet. Começaram como uma espécie de diário virtual e alguns, ao conquistarem leitores, viraram sites profissionais autossustentáveis. Com a ascensão das redes sociais, como o Twitter (agora X), Instagram e Youtube, os famosos blogs foram deixados de lado e as blogueiras e blogueiros migraram para as redes. A popularidade dos blogs diminuiu, mas sua utilização não. Muitas das suas funções foram trocadas, como os vlogs no YouTube, que passaram a cumprir o papel de um ‘diário de viagem’.

Apesar disso, plataformas como Wordpress (2003), Medium (2012) e Substack (2017), voltados para publicação de textos, nunca deixaram de ser usados. Em 2023, por exemplo, o Wordpress contava com mais de 28 milhões de sites. De acordo com a TeamWorks, 70% dos leitores costumam confiar mais em artigos do que em anúncios, o que explica a sobrevivência dos blogs empresariais, um dos segmentos que não sofreu abalo. 

 

A volta dos diários virtuais.

Agora, com as tendências dos anos 2000 voltando, uma onda de novos blogs surgiu. A divulgação? As redes sociais. O aplicativo de vídeos TikTok, vem sendo usado pelos escritores como um meio de alcançar novos leitores. Jovens escritoras usam as plataformas para escreverem sobre o universo feminino e suas experiências como mulher. 

Fatime Ghandour, jovem jornalista, começou uma newsletter no Substack em 2024. “Meu substack funciona muito como um “diário”. Escrevo o que vem à mente, mas de uma forma mais caprichada.” Para a blogueira, a interação entre as redes pode ser um grande aliado: “O TikTok foi um grande amigo no momento de divulgar meus textos e meu blog. Muita gente veio através de um vídeo que fiz lá, falando sobre a plataforma.”
 

Blog Fatime Ghandour. Reprodução: Substack
Blog Fatime Ghandour. Reprodução: Substack

Fatime usa essa espécie de diário virtual para se aproximar de outras mulheres e oferecer um espaço de acolhida: “Busco fazer da minha página um lugar acolhedor para as leitoras. Quero que se sintam vistas, ouvidas e bem-vindas, afinal, nenhum evento é único e nós, como mulheres, temos mil e uma experiências que nos moldam em comum. Então, por que não conversar sobre?”. Quem entra na plataforma do substack pode ter acesso a outros tantos temas e trocas. 

Para a jornalista Márcia Siqueira, os blogs dão total controle - e ao mesmo tempo liberdade - sobre o que você posta, já que é uma criação individual, o que difere das redes sociais, onde existem regras, filtros e algoritmos. “Os blogs propõe uma troca intelectual maior, uma troca de ideias mais aprofundada”, analisa Márcia. Ela explica que, devido à volatilidade das redes, quem escreve e quem lê busca cada vez mais autenticidade e isso explica o crescimento desse tipo de meio de comunicação: “vejo muitos blogs ressurgindo justamente para tentar fugir das redes sociais, que nos seduziram no momento que surgiram. Blogs trazem mais conteúdo e são menos nocivos”, conclui. 


 

Briga entre criadoras de conteúdo mirins gera discussão sobre limites e linchamento nas redes
por
Gianna Albuquerque
|
16/05/2025 - 12h

 

A recente polêmica entre as jovens influenciadoras Antonela Braga, Liz Macedo, Julia Pimentel e Duda Guerra tomou conta das redes no início do mês e exemplificou como o cancelamento digital é praticado. Entre os defensores da responsabilização pública e os que a enxergam como linchamento virtual disfarçado de justiça, o episódio reacendeu discussões sobre a linha tênue em que críticas em massa deixam de ser ferramenta de mudança e passam a reproduzir violências que pretendiam combater.

O conflito mencionado ocorreu durante uma viagem a Gramado (RS), após Antonela relatar ter sido excluída pelas outras três influenciadoras. Estas justificaram a atitude. Em publicações nas redes sociais, disseram ter ficado incomodadas com certos comportamentos de Antonela. Rapidamente, o que era um embate entre colegas tomou conta do TikTok e Instagram, gerando milhares de vídeos e hashtags em apoio à suposta vítima e massivas críticas às outras criadoras envolvidas. A reação pública evidenciou um comportamento comum no ambiente digital: a cultura do cancelamento.

Em entrevista à Agemt, Mariana Marinello, de 14 anos, que acompanhou com detalhes a situação nas redes, descreve as críticas realizadas pelos usuários como extremamente agressivas. “A Antonela não merecia aquilo, mas estão pegando pesado com as outras meninas. Quando ofende e deixa o outro desconfortável, vira ataque, não crítica”, comenta.

Caracterizada pela cobrança pública de atitudes consideradas inadequadas, a cultura do cancelamento muitas vezes ignora contextos e desproporciona reações. Entre adolescentes, os impactos são ainda mais nocivos. Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023, 93% dos jovens entre 9 e 17 anos usam redes sociais e estão expostos a julgamentos intensos. Além disso, para a psicóloga Ana Paula Orsini, o cancelamento entre jovens vai além da discussão moral nas redes. “Ele pode desencadear ansiedade, insegurança e cyberbullying”, explica. E, logo acrescenta: “A exposição repentina pode gerar sensação de rejeição extrema e quem participa ativamente do cancelamento, pode depois lidar com consequências como culpa, estresse e normalização da agressividade”.

"Adolescência" mostra como o uso desenfreado das redes sociais pode impactar a identidade e a saúde mental dos jovens
por
Ana Julia Mira
Victória Miranda
|
29/04/2025 - 12h

A minissérie "Adolescência", produzida pela Netflix (2025), retrata de maneira impactante o quão prejudiciais as redes sociais podem ser para os jovens e adolescentes e a importância do acompanhamento parental. Com mais de 114 milhões de espectadores no mundo todo, a série levantou o debate acerca dos impactos do mundo digital na formação da identidade e na saúde mental da geração que nasceu envolta nesse cenário. 

foto psicologa
Psicóloga clínica: Elis Calado. Foto: arquivo pessoal.

Para a psicóloga clínica Elis Calado, em entrevista à AGEMT, "o uso excessivo de telas pode aumentar sintomas de ansiedade, depressão e baixa autoestima, especialmente pelas comparações nas redes sociais". Além disso, a profissional cita como a superexposição às telas podem afetar a saúde física e social das crianças - que passam a ter problemas com insônia e isolamento social.

Um dos aspectos destacados pela série é a crescente imersão dos jovens no universo digital, sendo expostos diariamente ao cyberbullying, padrões irreais e discursos de ódio. As redes são marcadas pelo surgimento de novos termos e gírias que, muitas vezes, soam como um idioma próprio para quem está fora desse contexto. Expressões como "incel", "redpill" e "blackpill" exemplificam essa nova linguagem. Esses termos ilustram não apenas uma mudança de vocabulário, mas também a formação de novas culturas dentro do ambiente virtual. Essas terminologias revelam ideologias que podem moldar negativamente a visão de mundo dos adolescentes.

Infelizmente, o que se vê na série não se limita à ficção. No dia 1° de abril deste ano, em Caxias do Sul (RS), três alunos esfaquearam uma professora após receberem advertências disciplinares no dia anterior. A saúde emocional prejudicada dos adolescentes, faz com que eles ajam sem pensar nas consequências ou não se importando com elas. São moldados a um cenário em que tudo o que desejam está à disposição. 

Comparado às gerações anteriores, hoje os mais novos vivem uma realidade muito distinta. No passado, as interações eram limitadas a encontros presenciais, telefonemas e bilhetes. Atualmente, com um smartphone em mãos, a geração alpha — nascidos de 2010 em diante — tem acesso irrestrito a conteúdos de todo o mundo, a qualquer hora. Segundo Elis: “na internet os jovens “perdem a noção do tempo”, experimentam “liberdade total” e se transportam para esse “mundo virtual”, que é muito importante para eles, porque funciona como uma fuga para suas angústias existenciais e promete sentido e pertencimento”.

O problema é a dificuldade de desassociar esses “dois mundos” quando vivem o dia a dia. O que acontece nas redes sociais transpassa esse ambiente e toma forma na vida material. Como o protagonista, Jamie (Owen Cooper), que assassina sua colega de turma em razão de comentários na internet, muitos adolescentes têm sido levados a tomar atitudes terríveis por serem frágeis emocionalmente e muito afetados por outros.

Por outro lado, muitas vezes o mundo virtual é como uma terra sem lei, onde todos dizem o que querem e como querem. A liberdade dada para todos por meio das redes sociais trouxe muitos benefícios ao longo dos anos, mas, cada vez mais, vemos as ações prejudiciais desses meios nas relações e na mente humana. Se antes o que era dito passava por certo filtro nas conversas cara a cara e na lentidão das cartas, hoje o distanciamento que as redes geram e a rapidez com que pode-se fazer um comentário, torna esse filtro praticamente inexistente.

Em um mundo onde os jovens estão cada vez mais conectados, é fundamental estar atento aos efeitos dessas redes sociais. Como retratado na série "Adolescência", muitas das situações que os personagens enfrentam são desafios reais da juventude moderna. As redes sociais podem ser uma ferramenta poderosa, mas também podem se tornar um terreno fértil para inseguranças e problemas emocionais, se não forem usadas com cautela.

A psicóloga ressaltou a importância do acompanhamento familiar: “O mundo moderno é muito acelerado e exigente, mas precisam desacelerar e estabelecer prioridade claras olhando com mais atenção para a relação com os filhos e entre a família, devem buscar fortalecer os laços afetivos com mais convivência e mais diálogo”. 

Ouça a reportagem pelo link

 

“Você tá igual cachorro na frente da padaria”: marca responde com descaso a publicação de influenciadora
por
Isabelle Rodrigues
Natália Matvyenko
|
24/04/2025 - 12h

A Salon Line, marca de enorme presença no setor de cosméticos capilares e preferida das consumidoras de cabelo cacheado e crespo, se viu no centro de uma polêmica que escancarou a distância entre o discurso e a prática. A protagonista da história é Maju Santos, influenciadora de 19 anos que cria conteúdo sobre cuidados com cabelo natural — de forma independente, sem apoio ou patrocínio da marca.

Maju publicou um vídeo em seu perfil mostrando um penteado feito com dois produtos da Salon Line. A surpresa veio depois: em mensagem privada, a marca respondeu com um comentário no mínimo duvidoso: “Amiga, você tá igual cachorro na frente da padaria olhando o frango girar e só sentindo o cheiro.”

O print foi parar no TikTok da criadora, que desabafou: “Tentei rir na hora e respondi brincando, mas depois parei pra pensar: a gente se esforça, cria conteúdo de graça, usa os produtos, e ainda tem que lidar com esse tipo de comentário?”. A fala fazia referência à famosa “caixinha” de produtos - conhecida como Migs - que a Salon Line envia para influenciadores parceiros. Maju já havia sido aceita no projeto, mas nunca recebeu nada porque seu perfil não é monetizado: 

“Eu sou consumidora. Compro os produtos. Crio conteúdo porque gosto. A marca não paga, não patrocina, não envia nada. E ainda assim me tratam assim?”, completou.

Com a repercussão negativa, a Salon Line publicou um vídeo pedindo desculpas. “Erramos. Desculpa, Maju”, disse uma representante da marca, alegando que a equipe costuma responder mensagens com atenção, mas falhou nesse caso. A retratação não impediu que muita gente questionasse como uma marca que se baseia desde seu lançamento em diversidade e representatividade ainda comete esse tipo de deslize

O caso chamou a atenção não só pela fala infeliz, mas pelo retrato que pinta do mercado de influência: muitos criadores, especialmente mulheres negras de periferia, sustentam a relevância de marcas como a Salon Line nas redes — sem nenhum retorno financeiro. Essa prática, que ficou conhecida como “mimos” ou “recebidos”, é um dos modelos de marketing mais populares do mercado atual de beleza. A estratégia consiste em usar a plataforma do influencer como catálogo para a marca, considerando os produtos como forma de pagamento pela divulgação. 

O problema é que essa posição não é benéfica para criadores pequenos, pois exige um período longo de exposição para gerar lucro. O mercado de marketing de influência se beneficia nesse acordo, usando da mão de obra e criatividade de outras pessoas a “preço de banana”. Vale lembrar: a Salon Line cresceu muito nos últimos anos. É líder em pós-xampu em perfumarias e terceira maior em supermercados, segundo a Nielsen. Seu portfólio tem mais de 400 produtos — entre eles, a famosa linha #todecacho. 

Em 2022, somava 2,6 milhões de seguidores no TikTok e mais de 500 mil inscritos no YouTube. Tudo isso graças, em parte, a estratégias digitais que deram voz e visibilidade, justamente, para quem, agora, está cobrando respeito.

A situação escancarou o abismo que ainda existe entre o marketing de empatia e a prática real das marcas. Uma cobrança legítima por coerência, reconhecimento e respeito a quem sempre esteve na linha de frente. 

Esse não foi o primeiro exemplo de má conduta entre marca e cliente, ano passado, 2024, a marca Mascavo, propriedade da também influenciadora Mari Saad, tomou a frente das notícias. A marca em questão, criou toda uma narrativa de inclusividade e aceitação pré-lançamento  para depois ter em sua cartela apenas três opções de tons para peles negras e retintas. 

Esse ano, a influenciadora Gabi Oliveira, conhecida como Gabi de Pretas, relatou a conduta desigual da Mascavo. Na nova onda de lançamentos da marca, de Pretas recebeu um conjunto de PR com apenas dois itens da coleção, descredibilizando sua posição de respeito nas redes e seu papel como influenciadora.

 

 

Mesmo com dificuldades em deixar o dispositivo, jovens reconhecem importância da Lei
por
Thaís de Matos
|
31/03/2025 - 12h

Após dois meses desde a proibição do uso de celulares nas escolas do país, alunos, professores e especialistas têm relatado as mudanças observadas com a medida. Aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro do ano passado e sancionado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro deste ano, o PL 4.932/2024 dispõe sobre a restrição dos aparelhos nas escolas públicas e privadas. No entanto, para atividades pedagógicas que exigem o uso do dispositivo, os alunos são permitidos a usá-lo sob orientação dos professores. 

Com o uso dos dispositivos proibido inclusive nos intervalos, o objetivo da lei é proteger a saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes, além de mitigar os impactos do uso excessivo do celular. Apesar de aprovada recentemente no território nacional, a medida já vigora em outros países. Desde 2018, a França, por exemplo, restringe o uso de smartphones nas escolas. Outras nações como Espanha, Holanda, Dinamarca e Finlândia, também possuem alguma restrição quanto ao uso do aparelho no ambiente escolar. 

Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2023, existe uma relação negativa entre o uso excessivo das tecnologias digitais e o desempenho acadêmico. O documento, coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) no Brasil, é inclusive citado no Relatório Global de Monitoramento da Educação da Unesco. Esse último estudo, do mesmo ano, afirma que “os aspectos negativos e prejudiciais do uso da tecnologia digital na educação e na sociedade incluem o risco de distração e a falta de interação humana”. 

De maneira não surpreendente, tanto estudantes quanto quem trabalha na educação admite que o uso excessivo do celular atrapalhava o foco durante as aulas e às vezes até a interação entre os colegas. Barbara Adam, aluna do 3º ano do Ensino Médio no Colégio Rainha da Paz, localizado no bairro do Alto de Pinheiros, em São Paulo, comenta, em entrevista à AGEMT, que o telefone gerava distrações de maneira geral entre os colegas, já que “qualquer notificação que chegasse eles olhavam para ver o que era”. Mesmo fora do ambiente escolar, não é novidade que o hábito de olhar o dispositivo assim que recebe uma mensagem é sintomático socialmente. 

Kauê Pereira, assistente pedagógico no Ensino Médio do colégio, complementa que o uso do aparelho em sala estava realmente descontrolado. “Era possível perceber o vício dos alunos no dispositivo, e as interações entre eles se resumiam a assistir conteúdos ou jogar no celular”. Djeferson Sousa, professor assistente na Escola Móbile, em Moema, também diz que entre as trocas de aula e intervalo “era a coisa mais comum ver a maioria no celular”. 

A psicóloga clínica, mestra em educação e assessora pedagógica da Rede Metodista, em São Paulo, Vanessa Fantozzi, tampouco teve percepções diferentes. Por mais que não houvesse nenhuma proibição explícita, a orientação nas escolas do país sempre foi de não mexer no celular durante as aulas – mesmo assim, era comum ver estudantes usando o dispositivo durante as explicações. “A metodologia de ensino tinha que ser muito envolvente para o aluno realmente prestar atenção. Muitas vezes eu presenciei cenas do professor falando muito bem, passando a matéria de uma maneira bem didática, bacana, e o aluno atrás, na cara dura, mexendo no celular”. No dia a dia, Vanessa convive com alunos desde a Educação Infantil, até o Ensino Médio. 

Embora passado um tempo desde a proibição, o Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou recentemente uma resolução que orienta o uso dos dispositivos digitais nos espaços escolares. De acordo com o documento, cada instituição de ensino decide a maneira como os celulares serão guardados durante o dia letivo. O texto também informa que as punições para quem desrespeitar a norma devem ser implementadas de maneira democrática e considerando os direitos humanos. 

Mesmo antes da lei federal, algumas escolas do país já haviam introduzido a restrição do uso de celulares no ambiente. É o caso do colégio de Barbara, que explica que antes da norma, no último trimestre do ano passado, a instituição deixava caixas de madeira dentro das salas para cada aluno deixar o aparelho assim que chegasse no local. “Mas muitas pessoas não respeitavam a regra, já que era pouco fiscalizado”, esclarece a aluna. Depois da regulamentação, no entanto, a orientação mudou para que cada estudante guardasse o telefone dentro da própria mochila.

Sarau realizado entre professores e alunos do Colégio São Domingos, localizado em Perdizes, em setembro de 2024.
Sarau realizado entre professores e alunos do Colégio São Domingos, localizado em Perdizes, em setembro de 2024. Na época, a instituição já experimentava o desuso do celular. \ Reprodução/Instagram @colegio_sao_domingos 

Atualmente, as escolas onde estudam Matheus Amorim e Beatriz Ferreira, no Colégio Santa Lúcia Filippini e Colégio Arbos, respectivamente, seguem a mesma estratégia. A não ser que seja sob orientação do professor, o celular não deve ser tirado da mala em nenhum momento. Já na Escola Móbile, Djeferson explica que o dispositivo deve ser mantido necessariamente nos armários dos estudantes, disponibilizados para todos. Caso seja visto portando o dispositivo em sala, deve se retirar do ambiente. “Em uma ocasião, um aluno deixou o celular cair do bolso na sala de aula e teve que ser excluído da classe; ele não voltou até o término da aula”, cita o auxiliar. Nesse tipo de situação no colégio, o discente é orientado a ficar na coordenação até o fim da disciplina. 

Segundo depoimentos dos estudantes e assistentes, no começo foi difícil a adaptação ao novo contexto, e mesmo dois meses após a restrição, não é raro ver alunos que tentam usar o dispositivo escondido. Já nos outros colégios nesses casos, se visto, o objeto é deixado na coordenação pedagógica pelos professores ou inspetores. Beatriz, que está no 3º ano do Médio e estuda em São Caetano do Sul, complementa que os jovens só podem pegar o dispositivo ao fim do dia e acompanhados dos pais. 

“Todos os dias flagramos alunos indo ao banheiro para usar o celular ou tentando utilizá-lo escondido em sala. No entanto, em todos os casos, há uma intervenção. Isso apenas evidencia o quão viciante o uso do celular era para alguns estudantes”, diz Kauê. O assistente também cita que nem na cantina da escola os discentes podem usar o aparelho para pagar com Pix, ou cartão digital. “Eles precisam adicionar créditos no aplicativo da cantina para conseguir consumir, ou levar o próprio cartão físico.” 

Até entre alguns professores o uso do dispositivo diminuiu, a fim de não influenciar os discentes a usarem, como no Colégio Rainha da Paz. O auxiliar pedagógico explica que formalmente, não existe nenhuma restrição, mas que os docentes foram aconselhados em reunião a ‘servir de exemplo’ para os jovens. Apesar do uso entre os educadores também ter diminuído, a orientação é bem mais flexível do que para os alunos. 

Algumas instituições até disponibilizaram espaços para um “celulódromo”: local onde é permitido o uso do celular exclusivamente para fazer ligações e falar com os pais, antes e depois das aulas, se necessário. É o caso da Rede Metodista, que Vanessa acompanha, e da Escola Móbile. Diante da nova lei imposta, ao longo do tempo os alunos tiveram que se adaptar gradualmente e passaram a usar e buscar alternativas de entretenimento na escola, sobretudo nos intervalos. Além disso, as próprias instituições são orientadas pelo MEC para que ofereçam lazeres aos discentes. 

Por todo o território nacional, existem relatos de diversas atividades para entreter os jovens: ping pong, pebolim, vôlei, basquete, futebol, queimada. “Uno”, truco, pular corda, leituras e até forró. Frequentemente, os alunos são consultados pela comunidade escolar para sugerir alternativas que lhe interessem. Apesar das dificuldades iniciais, alguns jovens avaliam que, de fato, se sentem mais concentrados sem a presença do dispositivo durante as aulas. Beatriz admite que a adaptação no começo foi complicada, já que quando precisava falar com alguém, era só pegar o celular naquele momento. “Com o passar dos meses eu fui me adaptando bem à nova lei e entendendo que o celular realmente afeta nossa concentração e aprendizado durante as aulas.” Para Barbara, o celular não fez falta e até achou boa a restrição por se sentir mais focada nas disciplinas. 

Curiosamente, com a socialização pelo celular interrompida, alguns hábitos e transgressões que já não se viam constantemente em determinados anos, retornaram. “Bolinhas de papel voltaram a voar pela sala, colas estão sendo passadas por meio de papéis e borrachas, e piadinhas e rabiscos nas mesas tornaram-se mais frequentes”, menciona Kauê. Outra febre comum nos últimos tempos entre adolescentes, é o uso das câmeras digitais na sala de aula, sobretudo as tipo cybershot, máquinas compactas que tiveram seu auge nos anos 2000. Os dispositivos têm sido usados não só para registro entre os alunos, mas até para tirar foto da lousa – o que antes era feito com o celular. 

Alunas do Colégio Rainha da Paz registram trote com cybershot.
Alunas do Colégio Rainha da Paz registram trote com cybershot. \ Reprodução/Instagram @bah.tche_ 

Quanto ao uso dentro de casa desde a medida, os estudantes se dividem para dizer se passaram a usar menos o celular, ou não. Barbara acha que seu uso fora da escola não aumentou nem diminuiu; para Matheus, a mesma coisa. Beatriz confessa que seu tempo de uso do dispositivo aumentou em casa, principalmente quando passa o dia inteiro no colégio. Vanessa concorda que acha muito difícil que os alunos tenham diminuído o uso do telefone em casa, e sugere que os pais talvez devessem conversar com os filhos sobre o tempo excessivo de tela. 

“Infelizmente, eu gostaria de falar que não, mas eu acho que eles continuam usando, sim, dentro de casa. Acho que os pais também querem tentar controlar isso, mas os filhos ficam muito tempo sem, aí eles [pais] acham que podem ficar mais tempo dentro de casa. Então também é uma restrição que os pais precisam colocar; talvez tempo de tela, porque isso não mudou dentro de casa, eles continuam usando. Requer os familiares a essa conversa".