O que o resultado das eleições conta sobre a estruturação partidária no país
por
Annanda Deusdará
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06/11/2024 - 12h

No domingo (27/10), se encerraram as eleições municipais. O mapa da apuração do número de prefeituras por partidos nos estados, mostra o empenho pela conquista de mais municípios, causando uma descentralização nas áreas eleitorais. Em contrapartida a isso, o MDB e o União apresentam grande concentração nos estados do Norte e Centro-Oeste, apesar de terem vencido em outros lugares. 

De acordo com a análise da conjuntura política e eleitoral, feita pelo grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT/Redem) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), houve uma manutenção da administração de partidos de Direita e Centro-Direita nos cargos da prefeitura. A Direita conquistou mais de 4,7 mil prefeituras,enquanto a esquerda irá administrar pouco mais de 746 cidades a partir de 2025.

Estão dentre os cinco partidos mais votados: PSD, MDB, PP, UNIÃO e PL. O PP e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), foram os únicos que elegeram prefeitos em todos os 26 estados brasileiros, o que demonstra uma ampliação na influência deles no cenário nacional.

Na região Norte, apesar de uma leve queda, o MDB manteve seu domínio. Em 2020, o partido havia conquistado 114 prefeituras, agora, passa a 112 sendo 83 localizadas no Pará. Já o União Brasil, que ficou em 2º lugar, teve um aumento de 87%, passando de 54 para 101 prefeitos eleitos, com destaque para o Tocantins (37) e o Amazonas (24). 

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Mapa da apuração do Pará com o MDB (em baixo) e União (em cima) -
Gráfico: Annanda Deusdará

 

No Amapá, o União também é predominante com 9 prefeituras. Já em Roraima apenas o MDB conseguiu espaço ocupando uma prefeitura.No Acre eles também não apresentam concentração, tendo uma prefeitura cada, quem domina a região é o PP(14). No Tocantins, o MDB ficou em 6° lugar, ocupando 4 cidades.

O MDB se destacou também na região Nordeste, onde foi o partido mais votado, conquistando 283 prefeituras, o que representou um aumento de 46,63%. Em 2° lugar, aparece o PSD que marcou presença em 275 municípios. 

No Centro-Oeste, o União se manteve em 1° lugar com 155 prefeitos eleitos, o destaque vai para o Goiás (95), com uma diferença de 48 cidades para o segundo partido, e Mato Grosso (60). Já o MDB conquistou espaço em 74 cidades, sendo mais forte em Goiás (47).

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Mapa da apuração do Mato Grosso com o União (em cima) e o MDB (em baixo)
Gráfico: Annanda Deusdará

No Mato Grosso do Sul os partidos União e MDB perderam a concentração. O União não elegeu nenhum prefeito e o MDB ficou em 3° lugar com 10 eleitos, enquanto o primeiro colocado (PSDB) ficou com 44.

Na Região Sudeste, o destaque foi para o PSD com 356 cidades, em 2° lugar ficou o PL com 185 prefeituras. No estado de Minas Gerais, apesar de não haver uma concentração tão expressiva como nos que foram citados anteriormente, os partidos União e MDB tiveram números consideráveis,69 e 82 respectivamente, ficando em 5° e 3° lugar. O tamanho do estado pode ter dificultado a conquista de grandes quantidades de municípios, visto que em um total de 847 prefeituras, o PSD, que foi o mais votado, foi eleito em 142 cidades, o que representa 16,76% do total do estado.

O PL se destacou nas regiões Sudeste e Sul (4° mais votado). Apesar disso, o partido se concentra em estados específicos e não na região como um todo. São Paulo, por exemplo, representou 56% do número de prefeitos eleitos no Sudeste. Já no Sul, Santa Catarina engloba 50% dos votos do PL

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Mapa da apuração da quantidade de prefeituras do PL no estado de São Paulo
Gráfico: Annanda Deusdará

 

Das quatro capitais da região, três passaram para o segundo turno nas disputa
por
Annanda Deusdará
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05/11/2024 - 12h

No último domingo (27), foram realizadas as votações para prefeito nas quinze capitais restantes. Após os resultados, os candidatos eleitos deram discursos declarando quais serão os próximos passos quando assumirem o cargo. Em todas as capitais a porcentagem de abstenção ultrapassou os 20%.

 

Campo Grande (MS)

Com uma diferença percentual de 3% Adriane Lopes, 48, (PP) foi a primeira prefeita eleita da cidade com 222.699 votos (51,45% dos votos válidos). Sua vice será a Dra. Camilla (Avante).   

O segundo turno teve também 16.871 votos nulos (3,66% do total), 11.704 votos em branco (2,54%) e ainda 184.812 abstenções, o equivalente a 28,60% do eleitorado.

Formada em Direito e Teologia, com pós-graduação em Administração Pública e Gerência de Cidades, Adriane Lopes foi a primeira mulher a assumir a prefeitura da capital. Após a renúncia do então prefeito Marcos Trad

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Adriane Lopes (PP) prefeita de Campo Grande - Foto: Divulgação

Adriane Lopes disse na sede do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS), após a confirmação da vitória, que estava muito feliz e que nestes dois anos e meio de gestão, despertou a cidade e retomou várias obras paradas. Afirmou também que na nova gestão tem como prioridade a educação e a saúde.

Ela agradeceu os apoios que recebeu durante a campanha, como o do governador Eduardo Hídio, da senadora Tereza Cristina e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Declarou ainda, que o resultado das eleições é representativo “Essa vitória, minha e da Camila, não é só nossa. Essa vitória é das mulheres do nosso país”

Desde o primeiro turno, a candidata estava em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais que indicavam disputa de segundo turno entre Rose Modesto e Beto Pereira. Para contornar a situação, ela usou como principal argumento durante o fato de não ter conseguido resolver todos problemas da cidade por ter estado à frente da gestão municipal por apenas dois anos.

Apesar dos indicativos de derrota, Lopes conseguiu avançar e na última pesquisa Quaest encomendada pela TV Morena e divulgada no sábado (26), apareceu com 49% dos votos válidos, empatada tecnicamente pela margem de erro com Rose Modesto, que apareceu com 51%.

Durante sua candidatura, suas principais propostas incluíam a área da educação, saúde e infraestrutura. Dentre elas, estão: a criação de novas escolas; distribuição mensal de medicamentos de uso contínuo para pessoas com deficiência, pressão alta e diabéticos; além da criação de um Centro Médico de Cuidado com o Idoso.

A candidata Rose Modesto,46, é professora do Ensino Médio e já foi eleita vereadora (2008-2012); vice-governadora em 2014 e deputada federal em 2018 pelo PSDB. O seu vice foi Roberto Oshiro (União Brasil).

 

Cuiabá (MT)

O deputado federal Abilio Jacques Brunini Moumer, 40,(PL) foi eleito prefeito com 171.324 votos (53,80% dos votos válidos). Sua vice é a Coronel Vânia (Novo).  

A eleição teve 4.852 votos brancos (1,47% dos votos totais), e 7.234 votos nulos ( 2,19%). A abstenção foi de 114.533 eleitores, o que representa 25,73%.

Em 2016, Abílio foi eleito vereador de Cuiabá, pelo Partido Social Cristão (PSC). Como deputado federal, ficou marcado por polêmicas no congresso. Em junho de 2023, ele fez uma série de interrupções durante uma sessão da CPI dos atos golspitas.No mês seguinte, foi acusado por transfobia contra a deputada Erika Hilton (PSOL-SP), durante outra sessão da CPI. Em agosto do mesmo ano, foi acusado de fazer um gesto supremacista branco durante outra sessão da CPI do 8 de janeiro.

No discurso após a vitória, o prefeito prometeu priorizar a saúde, além de avançar no diálogo com os demais Poderes. "No momento temos que olhar o que tem de imediato e acredito que a Saúde é um problema que temos que resolver”, declarou.

 

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Abílio Brunini em entrevista na Rádio Centro América FM - Foto: Nathalia Okde

Abílio liderou a disputa à Prefeitura de Cuiabá desde o primeiro turno, quando teve 126.944 votos, 39,61% dos votos válidos. No segundo turno, recebeu o apoio do governador Mauro Mendes (União), do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de igrejas e eleitores de direita. 

 

O candidato Lúdio, foi apoiado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, e por sete ministros do governo federal. O petista era o único do partido ainda na disputa por uma vaga no Executivo em Mato Grosso. Cuiabá também não teve vereador (a) do PT eleito para 2025.

 

Durante a campanha, Brunini fez promessas em diversas áreas, como saúde, educação, segurança e transporte. Entre elas estão: criação de Vilas de Saúde em cada distrito sanitário da capital; expansão da educação infantil e a implementação do Método Montessori; faixa azul exclusiva para motos e criação de paradas para embarque e desembarque de passageiros por APP; além de parceria com a Polícia Militar e Guarda Municipal para fortalecer a segurança nas escolas.

 

Goiânia (GO)

Sandro Mabel,65,(União) foi eleito com 353.518 votos (55,53% dos votos válidos). Sua vice é a Coronel Claudia (Avante).  

Apesar de Fred Rodrigues (PL),estar na frente no primeiro turno. Mabel avançou no segundo turno e venceu em todas as nove zonas eleitorais (ZEs)de Goiânia, essas ZEs estão localizadas nas regiões central, leste e norte 

Apesar do resultado, o número de abstenções quase igualou ao total de votos recebido pelo candidato. O resultado informado pelo TSE mostra que foram 352.393 abstenções, enquanto Mabel obteve 353.518 votos. O número representa 34,20% do total e foi o segundo maior do país entre as capitais que tiveram segundo turno. Também foram registrados 14.229 votos brancos e 27.080 nulos, que totalizaram 41.309.

Após a vitória, o prefeito eleito disse que começará a transição na segunda-feira (28). Ao lado de aliados, ele comemorou a vitória e falou sobre os próximos passos.

 

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Mabel comemora a vitória ao lado de seus aliados - Foto: Wesley Costa/ O Popular
 

Sobre os problemas financeiros da prefeitura com fornecedores, Mabel disse que pretende negociar e pagar todas as dívidas no início de 2025, principalmente as despesas com Saúde. “Eu tenho uma longa experiência como gestor, então essas dívidas não me assustam”. Declarou ainda que no começo de seu mandato irá retornar com a prestação de serviços básicos “Nós colocaremos Goiânia para funcionar rápido, inclusive a limpeza urbana, a gente dá uma faxinada nessa cidade logo”, frisou.

Seu projeto de governo foi dividido em três eixos: Cidade, Cidadão e Gestão. Entre suas propostas estão a conectividade e acesso à internet em toda a cidade; um aplicativo para que mulheres em perigo acionem rapidamente os órgãos de segurança e atendimento pediátrico 24 horas nas unidades de urgência e emergência. 

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Frederico Rodrigues,25, (PL), é ex-deputado estadual de Goiás(2023). Apesar de ter sido o candidato mais votado de Goiânia, teve seu mandato cassado por conta de irregularidades encontradas pelo TRE na prestação de contas da campanha de 2020.

Mabel foi deputado federal quatro vezes e uma vez deputado estadual. Na Câmara dos Deputados, foi responsável por projetos de lei sobre a implantação de crematórios públicos e a criação de cargos de provimento efetivo e funções comissionadas para o Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (Goiânia).

 

Quais foram os candidatos eleitos e seus discursos pós-vitória
por
Maria Eduarda Cepeda
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05/11/2024 - 12h

 

No domingo, 27 de outubro, quatro das principais capitais do Norte foram às urnas para elegerem seus futuros prefeitos para 2025. Manaus teve seu atual prefeito, David Almeida (Avante), reeleito. Igor Normando (MDB) venceu para prefeito em Belém e recebeu o apoio do atual governador do Pará, em Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), comemorou a vitória e destacou sua responsabilidade com a prefeitura e em Porto Velho (RO)

As quatro capitais contabilizaram mais de 2.192.245 votos válidos em seus colégios eleitorais. Manaus teve o menor número de abstenções com 23,39%, Belém obteve 25,19% das abstenções, Palmas com 25,73% e Porto Velho teve a maior porcentagem com 30,63% comparado às outras cidades, juntas as capitais somaram 44.579 de votos em branco. 

Belém (PA) 

Igor Normando (MDB) em campanha eleitoral
Normando agradeceu o apoio do atual governador do Pará e senadores em seu discurso. Foto: Cristino Martins

Igor Normando (MDB) venceu a disputa do segundo turno, com 56,36% dos votos válidos, contra o deputado federal Delegado Éder Mauro (PL) que recebeu 43,64%. A capital do Pará irá receber o deputado em seu novo cargo a partir de janeiro de 2025, que conta com o apoio da maioria da Câmara Municipal.

Em seu discurso, o candidato agradeceu os votos de seus eleitores e o apoio do governador Helder Barbalho (MDB), “Muito obrigado a cada um de vocês, obrigado ao governador Helder Barbalho, [..] não posso deixar de agradecer essa grande liderança”. Também disse que a maioria da população de Belém optou pela mudança, “Hoje a maioria da nossa população decidiu pela mudança e pela mudança com qualidade, com capacidade de gestão e a capacidade de enfrentar os desafios que a nossa cidade possui”

Manaus (AM)

David Almeida ao lado de uma cabine eleitoral
David Almeida segue para seu segundo mandato como prefeito em 2025. Foto: Divulgação/Assessoria

O atual prefeito da cidade de Manaus, David Almeida (Avante), foi reeleito no segundo turno contra o candidato Capitão Alberto Neto (PL). Com 54,59% dos votos válidos, o prefeito segue para mais um mandato.

Após sua reeleição, Almeida agradeceu a cidade e seus companheiros políticos,  "Quero agradecer a todos que estiveram nos apoiando e ao povo de Manaus que soube separar a verdade da mentira. Então, essa é uma vitória maiúscula, né, uma vitória da democracia.  [..] A cidade mudou, é o povo no poder, como a gente diz na comunidade, a favela venceu"

Palmas (TO) 

Eduardo Siqueira Campos sendo entrevistado pela imprensa após sua vitória ao lado de sua esposa
Em discurso após a vitória , o futuro prefeito destacou detalhes de sua vida pessoal. Foto: Edson Reis/g1 Tocantins

O candidato Eduardo Siqueira Campos, do Podemos, foi eleito com 53,03% dos votos válidos para prefeito da cidade de Palmas, ele venceu o segundo turno contra a candidata Janad Valcari (PL) que obteve 46,97% dos votos. Campos irá assumir o mandato em janeiro de 2025 até dezembro de 2028.

O futuro prefeito comemorou sua vitória com apoiadores e família, em seu discurso destacou a responsabilidade com a sua futura gestão, “Quem tem mandato, tem responsabilidade com Palmas. Todos conhecem meu temperamento. Eu tive que fazer uma campanha à altura do povo. [..] Não viemos para cá fazer fazenda, nós viemos fazer um estado. Nós não viemos para cá vender lote, viemos aqui fazer uma capital. Minha vida é conhecida, minha esposa é conhecida. Nós caminhamos à luz do dia”

Porto Velho (RO) 

Léo Moraes posando para foto para a divulgação de sua campanha eleitoral
Léo Moraes terá vice do mesmo partido, a advogada  Magna dos Anjos. Foto: Reprodução/Instagram 

Leonardo Barreto de Moraes (Podemos) foi eleito com 56,18% dos votos válidos, para prefeito na capital de Rondônia. Ele disputou o segundo turno com a candidata Mariana Carvalho, do União Brasil, que recebeu 43,82% dos votos. 

Quando anunciado os resultados do segundo turno, o candidato conversou com a imprensa e agradeceu os eleitores, amigos e a Deus pela sua vitória, "Eu estou muito feliz, eu agradeço primeiramente a Deus, agradeço a todos os amigos, a população que procura um renovo, que procura uma administração com capacidade de gestão que conheça as dores das pessoas. Vamos nos dedicar para entregar uma nova Porto Velho, sair desses índices tão prejudiciais que nos colocam em condição muito ruim [..]".

Saiba quem foram os prefeitos eleitos nas capitais da região
por
Khauan Wood
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01/11/2024 - 12h

Os cidadãos de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e Curitiba, no Paraná, foram às urnas no último domingo (27) para definir os nomes que estarão no comando de suas prefeituras pelos próximos quatro anos. O centrão saiu vitorioso nas duas capitais.

Curitiba (PR)

531.029 de pessoas decidiram que Eduardo Pimentel (PSD) será o novo prefeito da cidade, número que chega a 57,64% dos votos válidos. Sua adversária foi a jornalista Cristina Graeml (PMB) que ficou com 42,36%, totalizando 390.254, essa foi a primeira vez que seu partido conseguiu levar um candidato ao segundo turno em uma capital desde a sua criação em 2016.

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Pimentel já acumulava dois mandatos como vice-prefeito da cidade, eleito em 2016 e reeleito em 2020. Foto: Eduardo Pimentel via X/Reprodução

 

Em seu discurso de vitória realizado na sede do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), o sucessor do atual prefeito Rafael Greca (PSD) afirmou que pretende garantir a nova concessão do transporte público na cidade, implementar o ensino em tempo integral nas escolas municipais e aumentar o número de vagas em creches da prefeitura.

Porto Alegre (RS)

O atual prefeito Sebastião Melo (MDB) foi reeleito com 61,53% dos votos contra 38,47% da deputada Maria do Rosário (PT). Melo conquistou mais de 406 mil votos, cerca de 36 mil a mais em comparação ao segundo turno da eleição anterior, em 2020. Além disso, Porto Alegre terá uma mulher na vice-prefeitura da cidade pela primeira vez, Betina Worm (PL), médica veterinária e tenente-coronel do Exército.

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Melo é o terceiro prefeito que se reelege em Porto Alegre desde a redemocratização. Foto: Pedro Piegas/Correio do Povo

Com vitória em todas as regiões porto-alegrenses, o prefeito disse em seu discurso que uma de suas prioridades será implementar medidas que previnam novas enchentes na cidade, assim como as que ocorreram no início deste ano. Ele defendeu ainda a privatização do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) e a busca de auxílio dos Governos Federal e Estadual para o setor.

Conheça os candidatos eleitos nas capitais nordestinas e seus discursos pós-vitória
por
Anna Cândida Xavier
Maria Eduarda Cepeda
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01/11/2024 - 12h

 

No domingo, 27 de outubro, o segundo turno das eleições municipais foi decidido em Fortaleza, João Pessoa, Natal e Aracajú. O Partido dos Trabalhadores conquistou sua única capital desde as eleições de 2016 em Fortaleza, com Evandro Leitão. Cícero Lucena foi reeleito em João Pessoa, a quinta capital nordestina a reeleger seus prefeitos em 2024. Em Natal, Paulinho Freire foi eleito com o apoio do atual prefeito na disputa com Natália Bonavides (PT). E o Partido Liberal conquista sua segunda capital nordestina em Aracajú com Emília Corrêa.

Nas quatro capitais que decidiram seus futuros prefeitos neste domingo, foram contabilizados 2.575.500 votos válidos nos colégios eleitorais que participaram do segundo turno. Fortaleza teve o menor número de abstenções de votos com o índice de 15,84%, João Pessoa com o total de 22,84% das abstenções, Aracaju com  25,16% e Natal finalizou com o maior nível de abstenção comparado às outras capitais, tendo no total 26,07%. A soma de votos em branco de todas as capitais foi de 50.620. 

Das nove capitais do Nordeste, sete elegeram prefeitos de partidos de direita ou de centro. Somente Evandro Leitão (PT) em Fortaleza e João Campos, do Partido Socialista Brasileiro, em Recife, representam partidos de esquerda nas capitais nordestinas. A votação expressiva na direita contrasta com o desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022 na região. O partido União Brasil conquistou três capitais nordestinas, Teresina, Natal e Salvador e o Partido Liberal elegeu prefeitos em Maceió e Aracajú. O partido Progressistas reelege Cícero Lucena em João Pessoa e em São Luís o Partido Social Democrático reelege Eduardo Braide. 

Fortaleza (CE)

Evandro Leitão (PT) ao lado do atual presidente Lula em campanha eleitoral
Presença marcante do presidente Lula na campanha de segundo turno de Evandro Leitão. Foto: Reprodução/Facebook

Evandro Leitão (PT) vence o segundo turno das eleições em Fortaleza por uma diferença de 10.838 votos em relação ao adversário André Fernandes (PL). No primeiro turno, o candidato do PT tinha apenas 34,33% do eleitorado, porém, foi eleito com 50,38% dos votos válidos. Fernandes recebeu o apoio de 49,62% dos eleitores.  

A principal estratégia da campanha foi aproximar a imagem do candidato às lideranças petistas no Ceará – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Educação e ex-governador do Estado, Camilo Santana, e o atual governador, Elmano de Freitas. Evandro Leitão agradeceu a militância do Partido dos Trabalhadores em seu discurso de vitória e afirmou “o bem venceu o ódio, a humildade venceu a arrogância e prepotência, aqueles que se acham donos do poder, aqueles que se juntaram com o filhote de Bolsonaro, deram com os burros n’água”. 

João Pessoa (PB)

Cícero Lucena (PP) comemorando a vitória do segundo turno
Cícero Lucena assume seu quarto mandato em janeiro de 2025. Foto: Reprodução/Facebook

Cícero Lucena (PP) foi reeleito prefeito na capital de Paraíba, com 63,91% dos votos válidos, vencendo a disputa contra o candidato Marcelo Queiroga do Partido Liberal, que obteve 36,02% dos votos. O atual prefeito caminha para seu quarto mandato como prefeito, ocupou o cargo de 1997 a 2004 e o assumiu novamente em 2020. 

Nas redes sociais, Lucena agradeceu seus eleitores e enfatizou a continuidade de seus projetos para a cidade, “[..] A confiança que foi depositada em nós não será em vão. Vamos continuar construindo uma cidade mais justa, mais inclusiva, mais humana. O trabalho não para, e a vontade de fazer o bem segue ainda mais forte”. 

Natal (RN)

Paulinho Freire (União) como deputado federal na câmara dos deputados
Paulinho Freire deixará cargo de Deputado Federal para assumir a prefeitura de Natal. Foto: Ag. Câmara, Reprodução/UOL

Na capital do Rio Grande do Norte, Paulinho Freire (União) vence a disputa pelo segundo turno com 63,91% dos votos contra 44,66% de Natália Bonavides (PT). O candidato eleito tem uma longa história como político na cidade, foi vereador em 1992 e ocupou o cargo de presidente da Câmara Municipal de 1997 a 2002. Em 2008, foi vice-prefeito de Natal, em 2012 voltou a ser vereador e nas eleições de 2022, foi eleito como deputado federal. 

No Instagram o candidato, Paulinho Freire, relembra a trajetória da campanha e agradece o apoio dos partidos da coligação e, em especial, de Álvaro Dias, atual prefeito da cidade. “Uma eleição difícil, mas a população de Natal assimilou bem as nossas propostas, o nosso projeto, viu que não valia a pena Natal voltar ao passado, retroceder”. 

 

Aracaju (SE) 

Emília Corrêa (PL) posando para foto ao lado da cabine de votação.
A candidata não vinculou sua imagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro em sua campanha no segundo turno. Foto: Reprodução / Instagram

 

Na capital sergipana, Emília Corrêa (PL) venceu a disputa para a prefeitura com 57,46% dos votos válidos contra o candidato Luiz Roberto do PDT. Esse é o seu primeiro mandato como prefeita, antes de embarcar na política Emília trabalhou como defensora pública e presidente da Procuradoria da Mulher na Câmara Municipal de Aracaju, em 2016 foi eleita vereadora e se reelegeu em 2020.

Em seu Instagram, a futura prefeita comemorou sua vitória com um vídeo onde está vestida de leoa e canta uma música gospel. Na descrição da publicação ela agradece seus eleitores e reforça a presença religiosa em seu futuro mandato, “a melhor forma de demonstrar o que estamos vivendo hoje é retratar a força que me move: a fé em Jesus, o Leão da Tribo de Judá (Apocalipse 5:5). E como uma leoa, que na natureza, desempenha um papel crucial na sobrevivência e no bem-estar de sua prole, vou estar à frente dos destinos de Aracaju, cuidando e protegendo, em especial daqueles que mais precisam. Vamos escrever um lindo capítulo na história da nossa cidade com Deus e o povo”. 

Bolsonaristas, motivados pelos resultados das eleições, invadiram a Capital e tentaram golpe
por
Artur dos Santos
Fernanda Querne
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11/01/2023 - 12h

No último domingo (8), eleitores de Jair Bolsonaro marcharam em direção à Esplanada na capital federal e invadiram o Planalto, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso inspirados pela invasão ao Capitólio que ocorreu nos Estados Unidos no dia 6 de janeiro de 2021. Funcionários dos gabinetes do Palácio receberam a ordem de se esconder em casa e não iniciar qualquer tipo de discussão política, de acordo com fonte ouvida pela AGEMT.

A invasão deixou para trás vidros quebrados; móveis revirados; obras de arte danificadas; patrimônios públicos destruídos, sem contar casos em que os invasores defecaram dentro de gabinetes. Durante as horas de invasão, foi possível observar a ausência de forças policiais na contenção da caminhada dos vândalos à Praça dos Três Poderes. Enquanto uns acampavam, outros vieram de ônibus. O Distrito Federal (DF) foi palco do radicalismo premeditado, mas os protagonistas arcarão com as consequências. 

Ainda na segunda-feira (9), não havia sido realizada uma varredura total nos locais invadidos e depredados, mas a ordem dada aos funcionários era para que voltassem ao trabalho normalmente. Durante a invasão, foram aconselhados a se esconder em casa e não iniciar qualquer discussão de cunho político. 

Segundo um funcionário de um dos gabinetes do Palácio, ao qual será resguardado o direito de anonimato, o clima lá dentro no dia seguinte às invasões era de “tristeza de verdade”, enquanto fora do Palácio havia um clima constante de medo. Afirmou que havia uma grande possibilidade da chamada de telefone estar sendo monitorada por motivos de segurança e disse que os invasores não haviam entrado na sala do atual Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e em alguns anexos de difícil acesso. 

Segundo a fonte, um grande incômodo foi ver funcionárias terceirizadas “pretas e periféricas limpando a sujeira feita por brancos”.

O atual presidente acusou de "barbárie" os atos extremistas realizados em Brasília. Exigiu respeito às instituições que fortalecem a democracia. Se referiu aos culpados como fascistas, abomináveis e vândalos. O petista seguiu um viés de punição aos responsáveis pelo terrorismo - dos invasores até os financiadores. Alegou que a Polícia Militar do DF agiu de “má fé” durante a invasão. 

Durante a invasão, o atual presidente decretou intervenção federal no Distrito Federal, à qual apontou como interventor Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça, até o dia 31 de janeiro. Já a AGU (Advocacia- Geral da União), não só pediu ao STF a prisão do Anderson Torres, o ex-ministro da Justiça do Bolsonaro, mas também conseguiu a sua exoneração. Coincidentemente, tanto o Jair quanto Anderson, acompanharam os crimes fora do Brasil, nos Estados Unidos.

Resposta de figuras políticas ao atentado

No twitter, o ex-candidato à presidência pelo Partido Liberal (PL) admitiu o como as depredações e invasões de prédios públicos fogem à regra de manifestações pacíficas. Contudo, comparou o terrorismo dos seus apoiadores com os atos da esquerda de 2013 e 2017.   

O atual Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira do Progressistas, tuitou que está à disposição de todos os chefes de poderes para uma reunião a qual demonstrará a união dos Três Poderes pela democracia. 

A ministra do STF Rosa Weber afirmou que a Corte não se intimidará por atos criminosos e de delinquentes. Os golpistas pró- Bolsonaro arrancaram a porta do armário do ministro Alexandre de Moraes.  

O ministro Alexandre de Moraes afastou o governador do DF, Ibaneis Rocha. Determinou também a dissolução dos acampamentos em 24 horas. A atual governante é a vice, Celina Leão - Partido Progressista (PP).

Manifestação no MASP 

A Agência Maurício Tragtenberg cobriu as manifestações pró-democracia realizadas na Avenida Paulista, no dia seguinte aos atos golpistas.  Ao som de "SEM ANISTIA", os protestantes reivindicaram punições à altura dos crimes cometidos, e principalmente, a responsabilização do ex-presidente Bolsonaro por eles. Os movimentos sociais, Centros Acadêmicos, partidos políticos, torcidas organizadas, entre outros, uniram esforços contra o terrorismo do dia anterior. 

A AGEMT conseguiu uma exclusiva com o deputado federal do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Guilherme Boulos. O parlamentar opinou sobre os atos antidemocráticos: "Foi uma tentativa de golpe de Estado, tem que ser punido exemplarmente. Vamos pra cima deles".  

 

Brasileiros de todos os cantos escolheram a capital nacional para dar adeus a 2022 e olá ao terceiro mandato presidencial do petista
por
Bianca Novais
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03/01/2023 - 12h

Nova York, Paris, Sydney e Rio de Janeiro são alguns dos lugares mais procurados para as celebrações de Ano Novo. Em 2022, Brasília entrou nesta lista – pelo menos, entre os brasileiros.

A cerimônia de posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), neste domingo, foi a última realizada no dia 1º de janeiro, de acordo com a Emenda Constitucional 111/21, aprovada em setembro de 2022. A Emenda dispõe, entre outros tópicos eleitorais, que o empossamento do presidente eleito a partir de 2026 acontecerá em 5 de janeiro.

Essa mudança minimiza o conflito de agenda das festividades de fim de ano, não só para líderes de Estado e comitivas internacionais convidadas, mas para a parte mais interessada: a população.

Dezenas de milhares de pessoas se deslocaram de todo o Brasil para participarem do rito político na Esplanada de Ministérios e na Praça dos Três Poderes. Muitos em caravanas, com organizações políticas ou independentemente.

Foi o caso de três jovens paulistanos que planejaram a viagem antes mesmo do resultado das eleições. “Em janeiro [de 2022] nós começamos a planejar e em agosto compramos as passagens”, conta Vithor Reis, 26 anos, profissional de música, sobre como ele e as amigas Isabelle Scarpini, 26, farmacêutica, e Ananda Pires, 27, publicitária, decidiram ir a Brasília.

 

Faixa com os dizeres "a democracia é o maior patrimônio de um povo" estendida no gramado da Esplanada dos Ministérios. Foto: Isabelle Scarpini.
Faixa com os dizeres "a democracia é o maior patrimônio de um povo" estendida no gramado da Esplanada dos Ministérios. Foto: Isabelle Scarpini.

 

Apesar da aposta, os três relatam que estavam com medo até aterrissarem na capital, na quinta-feira, 29. “Eu passei os últimos quatro anos com medo, principalmente por ser uma pessoa LGBT, então não sabia o que esperar quando a gente chegasse. Nós até vimos pessoas com a camisa do Brasil, claramente bolsonaristas, mas não teve contato nem provocação”, esclarece Reis. Além disso, enfatiza que se sentiu bastante seguro devido à estrutura de policiamento na cidade. “Muitos policiais, até snipers. O clima era de paz e celebração”, complementa a farmacêutica.

Toda a cerimônia foi emocionante para eles. Scarpini conta que cresceu vendo sua mãe ser politicamente ativa, então o interesse é natural. “Eu estive também na recepção do Lula no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, depois que foi solto de sua prisão política”. Uma de suas preocupações era de um possível atentado contra a vida do novo presidente antes da posse, mas se acalmou ao se reunir com os outros convidados trajados de vermelho: “não vi uma briga, não ouvi uma ofensa”.

A expressão de renovação para Pires não era só resultado do Réveillon. Logo no dia 1º já sentia mudanças. “Foi muito emocionante cantar o Hino Nacional com alegria de novo, porque até ano passado podia nos causar... repulsa. É muito bom ter orgulho de novo”.

Durante o discurso após receber a faixa presidencial de representantes do povo brasileiro, Lula se emocionou ao falar da fome e da extrema pobreza que voltaram a assolar o país. Apesar de ter muitos desafios parecidos com os que enfrentou em seus primeiros mandatos, o Chefe de Estado fez questão de deixar claro que está focado no futuro – assim batizado o festival de música que seguiu a posse.

Ananda Pires ressalta uma frase do discurso: “Que a alegria de hoje seja a matéria-prima da luta de amanhã e de todos os dias que virão”. Sua expectativa de futuro tem como referência a época entre 2003 e 2014, que inclui parte do governo Dilma. “Espero que a inflação e todas as outras variáveis econômicas sejam pelo menos atenuadas, para que a nossa geração possa colher os frutos do nosso trabalho como os nossos pais colheram nos dois primeiros mandatos do Lula.”

 

Lula, em primeiro plano, em breve discurso no palco do Festival do Futuro. Ao fundo, a primeira-dama Janja e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Foto: Isabelle Scarpini.
Lula, em primeiro plano, em breve discurso no palco do Festival do Futuro. Ao fundo, a primeira-dama Janja e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Foto: Isabelle Scarpini.

 

Já Reis está empolgado com a nova estrutura ministerial. Mencionou o Ministério dos Povos Indígenas, das Mulheres, dos Direitos Humanos, da Igualdade Racial e o retorno das pastas de Cultura e Esporte. Para Scarpini, o protagonismo é da Educação: “Minha expectativa é de grandes investimentos na educação, principalmente para as crianças que foram afetadas pelos dois anos de pandemia. Eu acredito que o caminho para a gente ter o país que a gente quer é pela educação.”

Medo agora é receio. Para os três, a mudança de governo é só o início do trabalho. Pires diz que o antipetismo midiático ainda está vivo e vai ser um grande obstáculo durante os próximos quatro anos. Na mesma temática, Vithor Reis se preocupa em como Lula vai governar e dialogar com a sólida e extremista população bolsonarista. Já Isabelle Scarpini, como gato escaldado, acredita que o maior ponto de atenção deve ser com falsos aliados e movimentações golpistas nos bastidores.

Com os pés no chão, as duas palavras de ordem do grupo foram esperança e alívio. “Esperança é de que as coisas vão melhorar, com a participação popular de novo”, desabafou Reis. “Agora nós vamos ser ouvidos sem ruídos”, completa Pires.

 

Isabelle Scarpini, Vithor Reis e Ananda Pires na Esplanada dos Ministérios para a posse de Lula. Foto: Luiz Ferreira.
Isabelle Scarpini, Vithor Reis e Ananda Pires na Esplanada dos Ministérios para a posse de Lula. Foto: Luiz Ferreira.
Psicanálise nos ajuda a entender o fenômeno
por
Barbara Vieira
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21/11/2022 - 12h

Jair Bolsonaro e o movimento que ajudou a emergir do subterrâneo brasileiro cultuam a masculinidade, característica fundamental de seus “Deuses”. O carcereiro, o punidor, o forte, o imbrochável, o pragmático, o cruel, o guerreiro, o matador, o grande salvador são as figuras desses coletivos.

Existe uma série de declarações de Bolsonaro e bolsonaristas sobre o amor ao macho; aqui, o próprio ódio a todo desviante.  Declarações misóginas e homofóbicas em montes, delírios criados em torno desses assuntos que levaram e levariam a páginas de análise. Demonstrações de força que matam e representam o que acontece neste país que denominamos democrático, onde há elevado número de mortes de pessoas LGBTQ+, de mulheres, da população preta.

Estes homens rechaçam toda e qualquer possibilidade de aproximação ao feminino, têm aversão à possibilidade. Pregam a violência contra as minorias em movimento reacionário ao avanço dos movimentos progressistas por direitos, por liberdade, por respeito que arduamente lutam contra o patriarcalismo estrutural. 

 

A psicanálise pode nos ajudar a entender esse fenômeno. O psicanalista Aldo Zaiden explica a necessidade de Bolsonaro - representação e liderança máxima desse coletivo masculinista no Brasil - em reafirmar a sua masculinidade a partir do conceito de projeção, e porque isso gera tanta identificação na nossa sociedade; “A escolha de um objeto outro amoroso, a prevalência disso vai da história do desenvolvimento psicoafetivo de cada um. O que nós sabemos é que pessoas que recusam excessivamente transitar, nem que seja inconscientemente, entre essa possibilidade de gostar de um homem, seja na amizade, e que essa amizade é uma amizade, por exemplo, que traz elementos eróticos como qualquer amizade traz, faz com que essa pessoa fique muito preocupada para onde aquela história vai. Não à toa, quando o Bolsonaro vai dar um abraço no homem ele fala que é um abraço hétero. Ninguém tá perguntando pra ele, só ele tá pensando. Não precisamos ser psicanalistas para dizer que ele está pensando o  tempo todo no  oposto. Então, muitas vezes nós podemos pegar as frases e apenas tirar a negativa que ela carrega. Então: "- eu não sou gay”. Bom, quem falou que eu sou gay é o sujeito que falou. O não está ali. “Eu sou imbrochável”, que é uma negativa, quer dizer “Eu sou brochável”. Ele está sofrendo porque ele é humano, quer dizer que não é um hiper humano, um super-homem, um homem que não perde a virilidade. E na verdade ele perde a virilidade. Esse é o terror dele. A vivência psico afetiva sexual dele é central na construção do discurso masculinista. E ela é reflexo da sua dificuldade de conviver com o seu lado homoafetivo, que compõe qualquer pessoa numa relação de amizade entre dois homens, por exemplo” 

Para o psicanalista, a sociedade brasileira reflete esse drama, e encontra em Bolsonaro uma representação da negação dessa realidade. Há reconhecimento e medo do desejo por parte dos homens. “Encontram isso - a luta, as armas, o fálico - em defesa da sua outra posição, uma posição um pouco mais feminina, que acolhe, que recebe e que se transforma a partir disso, que o encontro transforma; essa é metáfora da fecundação,  a mulher recebe e se transforma a partir disso gerando outras coisas, outras possibilidades. Então ele é fechado, sólido, fálico, em defesa da ideia do encontro, da composição, tem muito medo do outro.”

Sob o olhar psicanalítico, o elemento da negação constante representa, portanto, um lugar de afirmação do que se pretende negar. 

Outro aspecto intrigante para análise são as mulheres, conservadoras, brasileiras, com Bolsonaro; como explicar a adesão de mulheres ao movimento que as oprime? Uma das explicações encontradas na psicanálise, de acordo com Zaiden, coloca a angústia da liberdade como fator de contribuição. Explica que o avanço dos direitos das mulheres coloca, paradoxalmente, um dilema para algumas, que podem encontrar dificuldade na liberdade: “a liberdade não é fácil de ser vivida, ela é um lugar que implica escolha e perdas, dilemas, portanto angústia.” Dessa forma, a possibilidade de servir ao homem seria mais atraente para essas mulheres. O psicanalista explica que “apesar de ser uma castração, apesar de ser uma opressão, isso tem um efeito também calmante, por incrível que pareça, porque cessa-se naquele momento as cogitações angustiosas da vida em liberdade”. 

Identifica que o movimento bolsonarista transfere a energia libidinal para um sentido de viver. Questões existenciais seriam saciadas pela integração no grupo, a pessoa vira parte em prol de uma liderança e um objetivo maior, por guerras fictícias, “inimigos invisíveis”, narrativas retroalimentadas pela mentira, necessárias para promover o projeto que promete a vitória do grupo, o poder de um grupo sobre as minorias, a supremacia. Participantes do grupo se sentem em uma guerra,  se sentem comandantes em uma revolução. O psicanalista vê uma defesa maníaca contra a dor da verdade. 

Psicóloga fala sobre a saúde mental de quem se priva de compartilhar seus posicionamentos
por
Mayara Neudl
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19/11/2022 - 12h

A partir de 2018, a polarização política disparou no Brasil e, com isso, os pequenos círculos sociais também foram afetados, como a família, por exemplo. Tanto no ano eleitoral anterior, como no auge da pandemia em 2020 e até mesmo agora em 2022, os relatos de discussões e desavenças familiares, tanto presenciais, quanto pela internet, no Facebook, postagens nos stories do Instagram e, principalmente, em grupos do Whatsapp, foram muitos. Desde memes na internet sobre as festas de natal com brigas agora com cunho político, até desabafos pessoais com amigos e em sessões de terapia expõe esse tipo de situação.


Um estudo do InterLab e da Rede Conhecimento revelou que 50% dos 2.018 brasileiros entrevistados, não falam sobre política com a família para não brigar. Segundo a psicóloga Leticia Innocencio pós graduada em psicologia analítica junguiana, as causas dessa escolha podem ser como essas pessoas são tratadas quando expõem suas opiniões. "Se são silenciadas, se são tratadas como "loucas", se tiram sarro, se não prestam atenção ou não dão importância para o que falam, pode fazer com que não sintam mais segurança para abordar o tema.”, diz a profissional.


As consequências, porém, de uma convivência dessa maneira podem ser altamente prejudiciais para a saúde mental do indivíduo que se vê privado. “Quando a pessoa passa a evitar um assunto com a família, pode levar ela a evitar outros também, a não querer se abrir mais tanto com essa família e começar a guardar as coisas pra ela.”, conforme Leticia. Isso pode levar a pessoa a somatizar suas angústias, consequentemente pode trazer inseguranças, receios, medo de expor suas opiniões, baixa autoestima, ansiedade e até mesmo uma depressão, pelo fato de não estar colocando para fora o que ela pensa e sente sobre determinado assunto.


Até a visão sobre si mesmo podem ser afetadas. “Gradualmente, atinge a autoestima da pessoa, ela pode duvidar da importância e relevância dos seus pensamentos e opiniões, até achar que não é tão inteligente também.”

A desesperança que assolou o país por 4 anos
por
Mayara Neudl
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18/11/2022 - 12h

O termo “depressão cívica” foi usado por Benedetto Croce, filósofo, historiador e político italiano para falar sobre o facismo em seu país natal e revivido esse ano pelo professor Eduardo Guerreiro Losso em um artigo na Revista Cult. Essa depressão não é a patológica, mas, sim, uma que paira sobre a sociedade; seja a dos conscientemente deprimidos, a dos apoiadores do Governo que a causa e promove, ou então, a dos indiferentes — igualmente afetados.

 

Os seres humanos, sendo os seres sociáveis que são, têm a saúde mental diretamente influenciada pelo ambiente histórico e político que são e estão inseridos; e a garantia de necessidades básicas para sobrevivência é imprescindível para o bem-estar.

 

A sobrecarga de pensamentos relativos à escassez de recursos vivida, a qual indica também menos tempo para descanso e lazer, gera ansiedade e estresse cíclico. A piora constante de condições de vida para a população leva à falta de esperança no futuro, e Christian Dunker sugere a associação da pressão liberal de produtividade ao cansaço mental e exaustão — que gera não só improdutividade, como também o próprio caráter depressivo.

 

Segundo o psicólogo Thiago Ribeiro Pereira de Lira, formado pela PUC-SP, especializado  em saúde coletiva e atenção primária e integrante do Núcleo de ações em saúde do trabalhador, uma sociedade que passa por um processo de precarização das suas condições de vida é com frequência uma sociedade mais violenta. “A vivência de episódios violentos, assim como o próprio medo dessa possibilidade, afeta de forma muito negativa nossa subjetividade. Causa traumas que só são superados com muito trabalho interno, nos afastam de dimensões importantes da vida, nos fragilizam de inúmeras formas.”, diz o especialista.

 

A descrença no funcionamento das instituições por uma sequência de preconceitos, atrocidades, crimes e impunidade no Governo Bolsonaro, fez com que quem acompanhava as notícias, ficasse cada vez mais triste, e muitos, inclusive, escolheram não vê-la mais, como mostrou o relatório anual sobre o consumo de notícias em todo o mundo do Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, publicado em junho deste ano. Nele, foi revelado que dos 54% brasileiros entrevistados que dizem evitar propositalmente os noticiários, entre aqueles que se identificam com a esquerda, 57% do total afirmam que as notícias afetam seu humor para pior.

 

Os cidadãos mais conscientes a respeito da importância dos direitos democráticos, ou até mesmo mais atentos a essas ameaças, sofrem de forma mais significativa do que aqueles que não se atentam a isso, conforme Thiago. “Para se sofrer de ansiedade com a possibilidade de fechamento de um regime, há de ser relevante estar atento aos sinais desse fechamento, assim como suas implicações. Lutar contra essa ansiedade é sem dúvida um desafio enorme, uma vez que elementos dessa fonte de angústia se encontram em uma multitude de locais no tecido social.”

 

Felizmente, nas urnas a esperança venceu o medo.