Na madrugada do dia 26 de abril de 1986, na cidade de Chernobyl, um dos reatores da Usina V.I Lenin explodiu após uma falha humana, e acarretou um verdadeiro desastre para a população.
Tudo começou com um teste de segurança que estava em curso, e por uma falha, ocasionou na explosão do reator 4, que matou 31 trabalhadores de início, e na sequência, iniciou-se um incêndio que se estendeu por dias, isso porque a exposição nuclear ficou muito grande, impossibilitando uma ação humana mais "direta". Além disso, essa explosão liberou quantidades enormes de materiais radioativos, entre eles, o IODO-131 e o CÉSIO-137.
É válido lembrar que as consequências deixadas pelo acidente foram enormes, tanto para a área ambiental quanto para a política e economia da antiga URSS. Em conversa com o professor da PUC-SP José Arbex Jr, que já morou por um período em Moscou, ele nos revela que a Guerra Fria, por um lado, obteve sua influência a respeito do acidente, levando-se em conta que havia uma certa “pressa” por parte dos EUA e da URSS em se desenvolverem cientificamente. Por outro lado, já havia também, de acordo com o entrevistado, um problema de gestão no governo, nas palavras dele: “uma carência de fundos também contribuiu para o acidente”. Quando perguntado sobre a influência deixada para a eventual abertura da URSS, ele nos conta que o acidente ajudou a acelerar o processo de reforma, acarretando, posteriormente, na sua dissolução no dia 25 de dezembro de 1991.
A região de Chernobyl ainda não é habitável, mas apesar disso, atualmente as viagens às cidades de Pripyat e Chernobyl são recorrentes.

Em conversa com a jornalista Fernanda Ezabella, que visitou a Ucrânia em 2018, e Lucas Estevam, responsável pelo blog de viagem “Estevam pelo mundo", que visitou em 2019, eles nos revelaram que não há burocracia para o passeio turístico, é possível acionar umas das dez agências que realizam os tours pela internet, e são elas que cuidam de toda a parte documental da viagem, “Arranjamos tudo on-line, e encontramos a guia e a van no centro de Kiev”, afirma Fernanda.
Em relação ao passeio, os entrevistados contam que é possível alugar um contador Geiger, aparelho utilizado para medir Sievert, unidade de medida para radiações ionizantes, desse modo é possível acompanhar o índice de radiação nos objetos encontrados. Já sobre os lugares visitados, Fernanda conta: “A agência tem alguns tipos de roteiro. Visitamos uma escola, um campo de futebol, uma piscina vazia, a praça central de Pripyat, um supermercado, etc.” Mas para todos que viajam para Chernobyl, o ponto turístico mais aguardado é o sarcófago que protege o reator 4, só é permitido permanecer 7 minutos no local e a 270 metros de distância da cobertura de concreto e aço. A jornalista também comenta de monumentos dedicados aos bombeiros que chegaram primeiro no local do acidente e também de uma estátua do Lenin, a última que segue de pé na Ucrânia. Além disso, há um restaurante em Chernobyl Town, o único que permite o almoço de turistas, “A guia fez questão de dizer que a comida vinha de Kiev, não tinha nenhum problema de ser 'radioativa'”, afirmou Fernanda.
Quando perguntado o que mais impressionou os viajantes, Fernanda apontou detalhes da natureza, "Só conseguimos reconhecer o campo de futebol por causa das arquibancadas”. E um ponto em comum com os dois viajantes foi a sensação de volta para o passado, “Foi como estar dentro de um filme. Difícil descrever em palavras”, afirmou Lucas Estevam.
Atualmente, nosso país conta com 92 embaixadas no exterior, além de três delegações e três missões diplomáticas junto a organismos internacionais. Além disso, mantém 38 consulados-gerais, seis consulados e 19 vice-consulados. Eles somam, ao todo, 1324 funcionários, dos quais 537 são diplomatas. No entanto, muitos não sabem o que, de fato, um profissional dessa área faz.
Um diplomata representa o estado brasileiro perante a comunidade internacional. Também participa da formulação da política externa brasileira. Preza pelo respeito nas relações do Brasil com outros países, tratando de questões relacionadas a comércio, cultura, economia, direitos, conflitos, entre outros temas. As responsabilidades da profissão são muitas e, durante a pandemia, não foi diferente.
Para entender melhor essa profissão e seus obstáculos em época de isolamento social, a AGEMT conversou com o Cônsul Honorário representante da Hungria, Marco Aurélio Schetino, e com o Cônsul Honorário representante da Lituânia, Carlos Levenstein. Confira a entrevista!
(Foto: Entrevista)
Em outubro de 2019, a América do Sul se deparou com enormes manifestações populares no Chile. Conhecido como Estallido Social (tradução: estalo social), os atos iniciaram-se com a resposta dos estudantes para o aumento da tarifa dos transportes públicos e foram crescendo subitamente até concentrarem um total de 1,2 milhões de manifestantes apenas na capital chilena, Santiago, sendo brutalmente repreendidos pela força policial. Essa violenta forma de repreensão era familiar aos povos originários do país, como os mapuches, que se solidarizaram e, em nota nas redes sociais da Alianza Territorial Mapuche, apoiaram as manifestações como um povo distante que concordava e apoiava suas reivindicações. Naquela semana, se viam inúmeras bandeiras mapuches nos protestos, um número visivelmente superior à própria bandeira chilena. Todos estes fatos levaram a algo inédito na história do país: uma constituinte paritária que teria cadeiras indígenas. Escute aqui.
https://soundcloud.com/giovanna-crescitelli/oficina-vozes-chilenas-sobre-o-processo-constituinte
A gênesis do problema
Conflitos territoriais, religiosos, êxodos e dominação política remontam à antiguidade na região do Oriente Médio. Entre guerras e diásporas, a questão palestina segue sem resolução há mais de um século. As diásporas judaicas ao longo da história foram marcadas pela marginalização do povo judeu, que espalhados pelo mundo eram constantemente perseguidos e hostilizados pelas nações que habitavam. O sentimento de pertencimento não deixou que a nação israelense se desintegrasse. No livro “Passagens: Literatura Judaico-Alemã entre Gueto e Metrópole”, Luis Sérgio Krausz, professor de Literatura Hebraica e Judaica na USP, afirma que "A ausência de um Estado fez com que construíssem sua identidade com base em parâmetros mais religiosos e étnicos do que nacionais ou territoriais".
Fonte: UOL
Como resposta ao antissemitismo crescente na Europa, surge, no século XIX, o movimento sionista, idealizado e divulgado pelo jornalista e escritor austro-húngaro Theodor Herzl. O movimento defendia a criação de um Estado Judeu que pudesse ser lar para todo os judeus, garantindo assim sua segurança. Entre as opções para a criação desse Estado estavam Uganda, Argentina e Birobidzhan, na Rússia. Haviam ainda partidários da causa sionista que defendiam a criação de um Estado no antigo reino histórico de Israel, entretanto esse território já estava ocupado pelos Palestinos.
Em 2 de novembro de 1917, o governo britânico apoia a causa sionista através da Declaração de Balfour, concordando com a construção do Estado Judeu na região da Palestina com a condição de que os direitos palestinos fossem preservados. Como resultado, entre as décadas de 1920 e 1940 milhares de judeus imigraram para a região.
Início dos conflitos
Diversos conflitos se seguiram entre judeus e palestinos, que não consideram legítimo o direito de Israel pelo território em questão. Em 1947 o Plano de Partilha da ONU propõe a criação de dois Estados independentes e um regime especial para Jerusalém, considerada terra sagrada por judeus, muçulmanos e cristãos. Entretanto, o plano não chegou a ser implementado.
Com a expiração do mandato britânico sobre a Palestina em maio de 1948, o líder israelense David Ben-Gurion proclamou o estabelecimento do Estado de Israel. No dia seguinte, a Liga Árabe composta por Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque, declara guerra ao Estado Judeu, dando origem ao primeiro conflito Árabe-Israelense. Após 1 ano de conflito, a Liga Árabe é derrotada e Israel expande seu território. Como consequência das guerras, mais da metade da população palestina é desalojada e busca se refugiar em países vizinhos como a Jordânia; essa diáspora é chamada de “Al Nakba” que significa “A catástrofe”.
As intifadas árabes
No ano de 1987, a revolta contra a ocupação israelense e a expulsão de milhares de palestinos foi combustível para a Primeira Intifada, que resultou na prisão e na morte de grande parte dos envolvidos. Nasce então o grupo radical Hamas – Movimento de Resistência Islâmica – que tem por objetivo “a destruição total do Estado de Israel” como descrevem em sua carta de fundação. A Primeira Intifada terminou em 1993 com a assinatura do Acordo de Oslo entre o Estado de Israel e a Autoridade Nacional Palestina, o acordo reconhecia a existência mútua e prévia autoridade palestina sobre o território da Faixa de Gaza, da parte ocidental de Jerusalém e da Cisjordânia, que teve seu controle dividido entre os dois Estados.
O Acordo de Oslo não foi bem-sucedido e no ano de 2000 inicia-se a Segunda Intifada. A visita do líder israelense à mesquita de Al Aqsa, na parte árabe de Jerusalém, foi vista pelos palestinos como uma provocação. Ainda mais violenta que a primeira, a Intifada terminou apenas em 2005 com a retirada de Israel da Faixa de Gaza, que passou a ser governada pelo Hamas.
Fonte: Blog Arte, Cultura e Espiritualidade
Atualmente, Israel tem realizado diversos ataques à Faixa de Gaza e à Cisjordânia, que têm sido gradualmente ocupadas por assentamentos israelenses. De acordo com o professor de Relações Internacionais da PUC, Bruno Huberman, Israel tem adotado uma postura colonialista, assim como as grandes nações imperialistas. Em entrevista ao Monitor do Oriente Médio (MEMO) o especialista afirma que “O sionismo surge como uma forma de solucionar a questão judaica na Europa – a perseguição, subjugação e opressão dos judeus – e se concretizou com o que antes era subjugado, subjugando um novo povo, por meio da colonização da Palestina. Embora estejam conectados, não se justificam. É uma forma de luta essencialista que não entende a luta por libertação como algo universal; da libertação humana contra as opressões, explorações e o colonialismo. Dessa forma, os judeus oprimidos se tornaram os opressores”.
A relação estreita entre Israel e Estados Unidos
Fonte: Revista Isto é Dinheiro
A relação amigável entre os Estados Unidos e o Estado de Israel começou no período da Guerra Fria. Os Estados Unidos perceberam a potência militar de Israel e, durante a era, se aproximaram do país a fim de assegurar sua superioridade contra a falecida União Soviética. Além disso, a região do Oriente Médio é rica em petróleo, o que também chamou a atenção dos EUA ao se aliar ao Estado de Israel, localizado em uma região estratégica.
Apesar dos laços terem sido firmados em um contexto histórico peculiar, os interesses políticos de Estados Unidos e Israel são mútuos. Manter esses laços é garantir um poder incontestável. Recentemente, no ano de 2017, a ONU lançou um relatório que afirmava que o Estado de Israel praticava o apartheid contra a Palestina, porém foi obrigada a exclui-lo após a pressão dos Estados Unidos e de Israel. Além da força militar, possuem fortes serviços de inteligência, formando uma influência mundial hegemônica que é capaz de alterar decisões, como acontece na ONU, que sempre critica Israel e acaba cedendo após a defesa por parte dos EUA.
Os Estados Unidos afetam diretamente os conflitos de Israel contra a Palestina. Além de financiarem o país e oferecerem seu exército para os combates, apoiam todos os conflitos israelenses e as ocupações nos territórios palestinos. Em 2020, o ex-presidente Donald Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel e, segundo Benjamin Netanyahu, Donald Trump foi “o melhor amigo que Israel já teve na Casa Branca”. Joe Biden honrou as relações diplomáticas dos países, e decretou apoio a Israel em seus conflitos.
Convenção de Genebra: as leis que se encaixam no conflito entre Israel e Palestina
A Convenção de Genebra é o nome dado a vários tratados internacionais que foram assinados entre 1864 e 1949 para reduzir as decorrências das guerras sobre a população civil, além de oferecer uma proteção para militares capturados ou feridos. Após o primeiro encontro, várias outras convenções foram realizadas para ampliar e detalhar uma espécie de regulamento para a participação em uma guerra. Apesar de muitos especialistas apontarem que a aplicação das leis se mantém insatisfatória, os tratados adequaram-se pelo menos para deixar explícito que o mundo considera inaceitável um conflito armado. Quem excede esses limites comete os chamados crimes de guerra.
A quarta Convenção de Genebra, ocorrida em 1949, é a primeira a conceder proteção aos civis em tempos de guerra, inclusive em território ocupado. O novo protocolo se aplica também a conflitos armados relacionados à luta dos povos contra a dominação e ocupação estrangeira. As leis redigidas pela Convenção entram em vigor a partir do momento em que as hostilidades realmente começam, independente se aquelas operações forem ou não declaradas. Com isso, as leis aplicam-se aos territórios palestinos ocupados em 1967 e continuam a ser aplicadas enquanto a ocupação militar prosseguir.
A partir da Convenção de Genebra, Israel deve cumprir algumas normas que regem a ocupação em relação à Palestina por se caracterizar como uma potência ocupante – Estado que ocupa o território invadido. Segundo regulamento redigido na Convenção de 1907 e 1949, as principais normas do direito aplicável em caso de ocupação instituem o seguinte:
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O ocupante não adquire soberania sobre o território invadido.
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A ocupação é apenas uma situação temporária e os direitos do ocupante se limitam à duração desse período.
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Usando todos os seus meios, a potência ocupante deve garantir e manter níveis suficientes de saúde e higiene pública, assim como abastecer com víveres e produtos médicos a população do território ocupado.
Portanto, segundo a Convenção de Genebra, Israel está cometendo um crime de guerra. Porém, devido à proteção que os Estados Unidos oferecem, Israel não está sendo punida e mesmo com as críticas da ONU o país não recua nas suas invasões.
Vacinação contra a Covid-19
Israel tem a maior taxa de população vacinada contra a covid-19 no mundo. No mês de junho, iniciou-se a vacinação na faixa etária de adolescentes de 12-15 anos. Mais de 55% da população do país já foi vacinada e o uso de máscara em locais abertos não é mais obrigatório desde fevereiro, enquanto em locais fechados deixou de ser obrigatório nesta última terça (18). Israel foi visto como país-modelo para as campanhas de vacinação e a maioria das doses aplicadas são da Pfizer.
Apesar de ser um exemplo mundial, pouco se fala sobre a vacinação nos países que são afetados pelos conflitos israelenses. O país construiu barreiras na Cisjordânia e em Gaza (além, claro, da invasão do território palestino), que controlam o acesso de elementos básico de sobrevivência nos países, incluindo a chegada das vacinas. Estima-se que cerca de 0,8% da população da Cisjordânia, de Gaza e da Palestina estejam vacinadas, o que mal atende as necessidades locais. Enquanto adolescentes e grupos com menor risco de adoecimento por covid-19 estão imunizados e voltando às normalidades em Israel, pessoas continuam morrendo nos outros países, os casos aumentando e o país nem sequer prestou assistência aos grupos de risco dessas regiões.
Mesmo com milhões de vacinas vencendo, o governo israelense se recusa a doar algumas doses para os países que necessitam e, principalmente, para a Palestina. Após uma tentativa frustrada de um acordo de vacinas entre Israel e Palestina, a ministra da saúde Mai Alkaila afirma que Israel mentiu quanto ao prazo de validade, sendo negociadas vacinas que vencem em junho como se fossem vencer em agosto. Organizações internacionais, ONGs humanitárias e os próprios Estados Unidos têm feito inúmeros apelos a Israel para que ajude a Autoridade Palestina na campanha de vacinação contra a covid-19, porém, até o momento, os únicos palestinos que receberem a vacina foram os residentes de Jerusalém Oriental com visto de residência.
Segundo o representante da ONU Tor Wennesland, Israel tem o dever de vacinar a população palestina devido às ocupações territoriais que possui. O ministro da saúde israelense afirmou em janeiro que Israel teria o interesse de vacinar a população palestina futuramente, o que não aconteceu passados 6 meses da declaração. A negociação da vacina entre Israel e Palestina ainda está em andamento e a última atualização foi sobre a desistência palestina ao receber o lote quase vencido de vacinas. Vale ressaltar que, no acordo, a Palestina terá que devolver as doses “emprestadas” por Israel em um curto prazo de 3 meses, estando prevista, até então, a devolução das doses até o mês de setembro.
A derrocada de Benjamin Netanyah
Fonte: site da llosa
No dia 13 de junho, o Parlamento de Israel determinou o fim dos 12 anos de poder do primeiro-ministro Benjamin Netanyah. Ao aprovar a formação de um novo governo, constituído por uma extensa coligação que vai de nacionalistas judeus de direita a políticos árabes-israelenses, o parlamento aprovou a aliança costurada por Yair Lapid, político centrista e um dos principais opositores de Netanyah. No mês junho, ele conseguiu fixar uma aliança majoritária ao ganhar apoio do direitista Naftali Bennett.
O impasse do poder em Israel, ficou mais profundo no final de 2018 com uma divisão na aliança pró- Netanyah. Essa divisão ocorreu especialmente pela ala mais nacionalista e militarista do governo. Um dos principais motivos foi a trégua anunciada em novembro de 2018 pelo governo israelense com os palestinos, que se combatiam na Faixa de Gaza.
O gatilho para a crise foi a saída do então ministro da Defesa, Avigdor Lieberman. Anteriormente o braço direito de Netanyah, o político pediu para deixar o governo após a trégua com os palestinos. Deste modo, em dezembro de 2018, a coalizão governista foi formalmente desfeita e o governo teve de convocar novas eleições. As eleições ocorreriam normalmente em novembro de 2019, mas a decisão de diluir o Parlamento antecipou essa votação para abril.
O resultado das eleições mostrou a dimensão da desintegração política em Israel. Isso porque nenhum partido conquistou, sozinho, as 61 cadeiras para controlar o Parlamento (com 120 assentos) nas quatros eleições ocorridas entre 2019 e março de 2020. O impasse parece ter fim em março de 2020, quando Gantz e Netanyah apoiaram em unir forças para enfrentar a pandemia da covid-19 e não perenizar o impasse político em Israel. No entanto, a ampla aliança não vingou, e Gantz rompeu a coligação.
Giovanna Crescitelli, Laura Mello e Lucas Malagone
Em outubro de 2019, a América do Sul se deparou com enormes manifestações populares no Chile. Conhecido como Estallido Social (tradução: estalo social), os atos iniciaram-se com a resposta dos estudantes para o aumento da tarifa dos transportes públicos e foram crescendo subitamente até concentrarem um total de 1,2 milhão de manifestantes apenas na capital chilena, Santiago, sendo brutalmente repreendidos pela força policial. Essa violenta forma de repressão era familiar aos povos originários do país, como os mapuches, que se solidarizaram e, em nota nas redes sociais da Alianza Territorial Mapuche, apoiaram as manifestações como um povo distante que concordava com suas reivindicações. Naquela semana, se viam inúmeras bandeiras mapuches nos protestos, um número visivelmente superior à própria bandeira chilena. Todos estes fatos levaram a algo inédito na história do país: uma constituinte paritária que teria cadeiras indígenas.
De acordo com Luis Eugenio Campos Muñoz, investigador principal do Centro Interdisciplinario de Estudios Interculturales e Indígenas, a participação das lideranças originárias, assim como a participação feminina, na constituinte é imprescindível: “Foi um processo mal feito e pensado para a população urbana, com pouco tempo e recursos para inscrever as candidaturas, principalmente para os povos de mais difícil acesso, mas eles conseguiram enviar. Não é uma representação porcentual, mas é algo inédito para o país. Houve muita resistência do governo contra os povos indígenas na constituinte, tanto que o povo tribal afrodescendente foi deixado de fora, algo que deverá ser reparado posteriormente.”. Esta nova constituição será escrita por uma constituinte paritária, formada 50% por homens e 50% por mulheres e substituirá a atual Carta Magna, que apesar de ter sofrido alterações, é herança do regime militar de Pinochet.

Para Luis Eugenio, essa nova constituição “é uma aposta, não uma confirmação”, devido à certa resistência da sociedade civil do Chile e pela disputa econômica pelos recursos naturais presentes em terras indígenas. “É necessário que haja melhores leis para a proteção e autonomia dos territórios indígenas, como existe no Brasil a demarcação, além de recuperar o que foi roubado, como as terras da Ilha de Páscoa invadidas pelo Estado Chileno 100 anos atrás”.
Como comentou o investigador, a constituinte é uma aposta, assim como ocorrido no Brasil. Apesar de não ter havido cadeiras para lideranças indígenas na Constituição brasileira de 1988, estes se articularam com lideranças do Movimento Negro e Movimento do Direito das Mulheres para que suas pautas virassem parte da Lei Maior, com demarcação de territórios e outros direitos, que atualmente são violados. Linda Terena, antropóloga e indígena do povo Terena de Dourados MS, fala que, sem dúvidas, a participação originária na nossa constituição foi um grande passo para a “consolidação da tão falada ‘democracia’, sobretudo, a efetivação da democracia consolidando direitos às diversidades”, mas que o escrito e o cumprido são coisas diferentes. “Não nos espanta em nosso país a cultura de falar e fazer tão distantes em sua realidade, dessa forma, jamais seria diferente quando se fala naquilo que está no “papel” com aquilo que se faz na prática. Faço uma analogia em relação ao que se garante por escrito e forma de Leis e o que se oferece a partir desse aos povos indígenas. Um exemplo mais que convincente são as demarcações dos territórios indígenas, desde 1988 até o presente momento, essa garantia está apenas descrita no papel. Enquanto isso, o Estado como aparato Legal empurra a canoa furada promovendo com isso os conflitos fundiários tão acesos nos últimos anos. Morrem indígenas, e o noticiário diz: Ah, são meros vagabundos e invasores. Mas peraí!! Invasores? Roubam nossas terras e ainda levamos conosco o crime de invasão em nossas próprias casas! Os territórios indígenas nacionalmente vivem em conflitos direto entre grandes pecuaristas, mineradores, garimpeiros, madeireiros e afins.”, comenta.
No último dia 16 de julho, numerosos indígenas, representando mais de 25 povos distintos do país, protestaram em frente à Esplanada dos Ministérios contra o Projeto de Lei 490/2007, que pretende dificultar a demarcação de novos territórios e facilitar a abertura de terras já demarcadas para exploração de recursos naturais. Em nota técnica, a Assessoria Jurídica do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) afirma que este projeto, além de inconstitucional, afronta decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Neste ato, os manifestantes também sofreram repreensão policial, com bombas de efeito moral e sprays de pimenta. De acordo com Linda Terena, o maior problema a ser resolvido para a população indígena brasileira é o próprio Estado. “O Estado brasileiro faz ou finge não ver o que está em cena, insiste em sua miopia cultural, econômica e política. As leis por exemplo que ampara o meio ambiente é um exemplar, tornou-se “falácia” à medida que não se respeita. Cria-se Projetos de Leis, PECs, e demais ordenamentos jurídicos para impedir o que já está garantido na Constituição Federal e dessa maneira seguem desconstruindo direitos indígenas, o direito à vida.”.

Em toda a América, os povos originários se conectam pela dor do genocídio e tomada de direitos. “A invasão conecta todos os povos, tanto originários quanto negros, de forma profunda. O genocídio e a resistência os conectam. Existe um ditado do povo Mapuche que diz ‘não só vivo, mas em pé’, que demonstra o espírito de luta deles.”, diz Karine Narahara, coordenadora do Núcleo de Estudos Ameríndios do Laboratório Geru Maa de Africologia e Filosofia Ameríndia do IFCS/UFRJ, “O povo mapuche é um povo-nação, possuem autonomia e acreditam que as pessoas não possuem um território, mas o território possui as pessoas. É daí que vem “mapuche”, que na língua deles significa “gente da terra”. Não estou muito a par das pautas da constituinte, mas creio que por acreditarem neste conceito de território eles provavelmente defendem a presença de um Estado Plurinacional, como existe na Bolívia.”. O investigador Luis Eugenio ainda diz: “Quando, visionariamente, a Alianza Territorial Mapuche se coloca a favor das reivindicações do povo chileno no Estallido Social como um povo de fora, naturalmente gera ao povo chileno o dever de reconhecê-los também como um povo diferente, com direitos. E isto se manifesta quando o povo chileno se levanta, tomando a bandeira mapuche como emblema de resistência.”. Assim como os povos originários chilenos, os brasileiros também lutam incansavelmente. “Me veio à mente, uma ilustração descrita pelo educador e filósofo Mario Sergio Cortela quando ele diz: ‘O animal sossegado, dorme’.” diz Linda Terena. “Creio que a resistência do meu povo, o Terena, assim como os demais, está nessa ilustração de Cortela, nunca sossegamos. Ao contrário, permanecemos incomodados e incomodamos muito o Estado brasileiro, desde séculos anteriores quando nossas tataravós viajavam sobre carreta com boi puxando por dias para dialogar com as autoridades competentes. A diplomacia foi e continua sendo um grande recurso para que nossa luta seja reconhecida e visibilizada ao menos, na medida em que não cremos ser priorizada.”.
Num domingo, 04 de julho, a acadêmica mapuche Elisa Loncón foi eleita presidente da Convenção Constitucional chilena, dando ainda mais esperança para os povos originários do país e de outras fronteiras, que lutam até hoje por uma diplomacia funcional que escute e leve em consideração suas reivindicações.