Ataque televisionado, silenciamento de jornalistas e fome declarada na região palestina
por
Maria Mielli
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29/08/2025 - 12h

O complexo médico Nasser, um dos maiores e um dos últimos hospitais em funcionamento no sul da faixa de Gaza, foi alvo de dois bombardeios seguidos na manhã da última segunda-feira (25). O double tap strike (ataque duplo), é uma tática militar que tem como objetivo atacar duas vezes o mesmo local para intensificar o número de vítimas. 

O segundo ataque foi televisionado enquanto a emissora local mostrava ao vivo a tentativa de resgate dos sobreviventes feridos ainda no primeiro bombardeio. A ofensiva deixou ao menos 20 pessoas mortas, incluindo 5 jornalistas: Mariam Riyad Abu Dagga, 33 anos; Moaz Abu Taha, 27 anos; Mohammad Saber Ibrahim Salama, 24 anos; Husam Al-Masri, 49 anos; Ahmad Salama Abu Aziz, 29 anos. 

A “arma” que o governo de Israel mais teme são as câmeras dos jornalistas que lutam dia a dia para denunciar os horrores que o exército israelense comete em mais de dois anos de genocídio.

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Mariam Riyad Abu Dagga; Moaz Abu Taha; Mohammad Salama; Husam Al-Masri e Ahmad Abu Aziz / Foto: Reprodução Stop Murdering Journalists

Segundo o site Stop Murdering Journalists, cerca de 300 jornalistas foram mortos por tropas israelenses. Em pronunciamento oficial divulgado no site da rede de notícias Al-Jazeera, na qual o fotojornalista Mohammad Salama trabalhava, a emissora repudiou os ataques e os classificou como “uma intenção clara de enterrar a verdade”.

Em entrevista para a AGEMT, o historiador Mateus Orantas afirmou que o mundo está assistindo a um holocausto dos palestinos e que, assim como foi durante a segunda guerra, a propaganda ainda é a maior arma a favor do opressor. “A propaganda anti Palestina e pró Israel é muito forte, mas hoje, temos a internet que faz com que a globalização seja mais intensa e acaba nos mostrando a realidade…porém por causa dos algoritmos e de quem comanda as redes, você só vai ter conhecimento do que está acontecendo, se seguir as páginas certas” declara. 

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Desespero palestino para tentar se alimentar / Foto: reprodução Instagram Ahmed Nofal
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Na última quarta-feira (27), Ramiz Alakbarov, coordenador especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Processo de Paz no Oriente Médio, afirmou em reunião do Conselho de Segurança (CSNU), que Gaza “está afundando cada vez mais em um desastre”. Segundo Ramiz, as consequências da crise – gerada por Israel – são os volumosos números de vítimas civis, deslocamento em massa e a fome, que é uma verdadeira arma de guerra. 

Uma análise realizada pela Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), formada por várias agências humanitárias internacionais, classifica a fome na região palestina como sendo de nível máximo. 

Outros 1,07 milhão de pessoas estão em estado de emergência. Segundo este estudo, os números devem piorar ainda mais nos próximos meses. É esperado que a desnutrição se expanda para cidades do sul da Faixa de Gaza, como Deir al-Balah e Khan Younis, deixando quase um terço da população em estado catastrófico (nível 5 IPC). A previsão ainda afirma que até junho de 2026, pelo menos 132 mil crianças menores de cinco anos sofram com a escassez de alimentos.

O coordenador de ajuda emergencial das Nações Unidas, Tom Fletcher, ressaltou que por trás desses números alarmantes, existem vidas – filhos, filhas, mães, pais e todo um futuro que foi interrompido. “Esta fome não é produto de uma seca ou algum tipo de desastre natural. É uma catástrofe criada ", esclareceu Fletcher em documento divulgado pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). A declaração pede, majoritariamente, a cessação imediata das hostilidades em Gaza; a libertação de todos os reféns e a proteção de civis; e infraestrutura crítica e funcional. O coordenador finaliza dizendo que apesar de ter havido um certo aumento na ajuda humanitária, ainda há muito o que ser feito. “Ainda há tempo para agir”.

 

 

Iniciativa coordenada pelo sindicato da categoria em São Paulo busca justiça pelos colegas de profissão mortos pelo exército israelense
por
Marcelo Barbosa P.
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29/08/2025 - 12h

Na última quinta-feira (28), o Sindicato dos jornalistas profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) realizou uma manifestação contra o assassinato dos profissionais de imprensa pelo Estado de Israel. O evento ocorreu em frente ao prédio da CNN, na Avenida Paulista, em São Paulo.

A mobilização foi anunciada nas redes sociais na quarta-feira (27).  “A manifestação desta quinta-feira tem como objetivo exigir a interrupção das operações militares israelenses e do genocídio do povo palestino e que termine imediatamente a matança de jornalistas pelo Estado de Israel. As autoridades israelenses civis militares responsáveis pelos assassinatos de profissionais da mídia precisam ser punidas.” afirmam na publicação. O post se refere aos dois ataques feitos a um hospital em Gaza, ocorridos na segunda (25), que resultaram na morte de cinco jornalistas, além dos profissionais da saúde.

O ato começou por volta das 17h. A princípio, havia poucos manifestantes, mas gradualmente mais pessoas se juntaram ao protesto. Os cidadãos chegaram com bandeiras e placas na mão e gritavam: “Palestina Livre”. 

Lilian Borges, uma assistente social especializada em pessoas em situação de rua, que participa da Frente Palestina São Paulo, marcou presença e afirmou que um dos principais motivos para ir protestar é considerar desumano o que ocorre em Gaza. “Cabe a nós, como humanos, ajudar a eles neste momento difícil que estão vivendo. Então, eu acho que toda população deveria estar aqui. Além disso, exigimos que o presidente Lula rompa as relações diplomáticas e comerciais com Israel e, principalmente, que a gente pare de mandar petróleo para lá, já que isso ajuda a financiar o poder bélico deste Estado.”

 

Lilian Borges segura uma bandeira/ Reprodução: Marcelo Barbosa
Lilian Borges segura uma bandeira/ Foto: Marcelo Barbosa

 

Breno Altman, jornalista fundador do site de notícias Opera Mundi, afirma que o assassinato aos jornalistas foi um crime planificado por Israel. Sobre a ótica de Bruno, o ocorrido foi ocasionado para que o acesso à informação fosse dificultado e que outros países não tivessem acesso ao que ocorre em Israel. “Eles não querem que relatos e imagens cheguem ao mundo, já que comprovaria o genocídio que o regime sionista está fazendo.”.

 

Apesar da diferença, Mohamad Saimurad uniu-se ao amigo palmeirense para ir à manifestação
Apesar das diferenças, o corinthiano Mohamad Saimurad uniu-se ao amigo palmeirense pela causa palestina/ Reprodução: Marcelo Barbosa


Encostado em uma parede, Mohamad Saimurad, diretor de uma escola, vestia uma camisa do Corinthians e, acompanhado do amigo palmeirense, protestava. "O sionismo é uma ideologia europeia, colonizadora e racista. Eu me pergunto por que a humanidade está em silêncio. Então, eu estou aqui para ver se a humanidade acorda em relação ao Estado genocida de Israel".

O pronunciamento público teve apoio, além dos organizadores, do Coletivo Shireen Abu Akle de Jornalistas Contra o genocídio, da Federação Árabe-palestina do Brasil (Fepal), Frente Palestina de São Paulo e Núcleo Palestina do PT.

Acusados de colaborarem com 'trabalho forçado do regime cubano', servidores do programa têm vistos revogados
por
Victória Rodrigues
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18/08/2025 - 12h

 

O governo Trump revogou na última quarta-feira (13) os vistos de  dois brasileiros, que participaram da criação do Programa Mais Médicos em 2013. Mozart Júlio Tabosa, secretário do Ministério da Saúde do Brasil, e Alberto Kleiman, ex-funcionário do governo brasileiro, foram os alvos das sanções.

Em nota divulgada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a justificativa apresentada foi que ambos teriam colaborado para um “esquema coercitivo de exportação de mão de obra” do governo cubano através do programa Mais Médicos, privilegiando o governo de Cuba às custas dos profissionais da saúde e cidadãos do país. 

O programa Mais Médicos foi uma iniciativa criada no governo de Dilma Rousseff, a fim de levar atendimento médico à áreas remotas e com maior vulnerabilidade. Dentro do programa, podem participar tanto profissionais brasileiros quanto estrangeiros, desde que cumpram com as exigências propostas, como formação com diploma e registro profissional. 

Entre 2013 e 2018 foram contratados profissionais cubanos, com uma parceria intermediada pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde). Nesse acordo, os participantes recebiam 30% do valor de sua remuneração, que na época chegava a 10 mil reais, os outros 70% eram destinados ao governo de Cuba.

Em 2015, o Mais Médicos, contava com cerca de 14 mil profissionais, dos quais 11,4 mil eram cubanos. No entanto, em 2018, após a eleição de Jair Bolsonaro, a parceria foi encerrada. 

Segundo Marco Rubio, secretário do Departamento de Estado estadunidense, as contratações para o programa não cumpriam a regulamentação impostas pelo próprio governo brasileiro. Também acusou o programa de contornar as sanções dos EUA contra Cuba. 

Rubio ainda justificou as medidas dizendo que o regime cubano estava exportando seus médicos para trabalhar de forma forçada e com isso estava deixando de cuidar da saúde de seus próprios cidadãos. “Esse esquema enriquece o corrupto regime cubano e priva o povo cubano de cuidados médicos essenciais”.

Além do Brasil, autoridades de países africanos, Cuba e Granada também foram alvos das restrições de vistos por cooperarem com o programa Mais Médicos.

Bruno Rodríguez, Ministro de Relações Exteriores de Cuba, criticou a decisão do governo dos EUA. “Isso mostra imposição e adesão à força como nova doutrina de política exterior a esse governo", disse. Também afirmou que Cuba continuará enviando médicos em missões à outros países. 

Nas redes sociais, Mozart Júlio Tabosa defendeu o programa de saúde, e manifestou sua insatisfação com a situação: "Essa sanção injusta não tira minha certeza de que o Mais Médicos é um programa que defende a vida e representa a essência do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo - universal, integral e gratuito".

Essa decisão do governo de Donald Trump segue uma sequência de retaliações contra o Brasil. Desde o mês de julho, o país recebeu taxações em produtos exportados e sanções contra o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. 

Presidente estadunidense evita divulgação da lista de Epstein e população levanta possibilidade de seu nome estar nela
por
Daniella Ramos
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14/08/2025 - 12h

 

Donald Trump foi eleito em 2024 tendo como uma de suas promessas a divulgação de uma suposta lista que teria o nome de todos os investigados por possível envolvimento com Jeffrey Epstein em crimes de pedofilia.

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Trump e Epstein juntos em uma festa em 1992. Foto: Reprodução/NBC

A cobrança em cima do presidente dos Estados Unidos para a divulgação da lista de investigados no caso, o levou a declarar para a imprensa que o caso era uma maneira de desviar a atenção para algo que é uma “besteira”, nas palavras dele.

“O fato de Trump não cumprir com o que prometeu pode ser pelo rumo que a política tomou… além do fato dele estar ou não envolvido”, comenta o doutor em Ciência Política da PUC-SP, Igor Fediczko. Segundo o Wall Street Journal, Donald Trump foi avisado no início do ano que seu nome estava nos documentos relacionados ao caso de Epstein, a Casa Branca respondeu dizendo se tratar de uma fake news. 

Além da indignação de eleitores a Trump sobre a falta de compromisso com a promessa de exposição dos documentos do processo de Jeffrey, os opositores também se manifestam nas redes sociais. Em sua conta no X, a deputada democrata Alexandra Ocasio-Cortez relacionou a demora na divulgação dos arquivos com supostas acusações de crimes sexuais cometidos pelo republicano. 

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Publicação feita no X pela deputada Alexandra Ocasio-Cortez. Foto: Reprodução/@AOC

 

Índices do Google Trends apontam que as pesquisas envolvendo o nome de Donald Trump e Jeffrey Epstein aumentaram no início de Junho e final de Julho, mesmo período em que o presidente estadunidense começou a distribuir altas tarifas para o mundo todo. 

“Talvez isso tenha feito com que a comunicação ou política do Trump tenha se tornado ainda mais radical”, comenta Igor Fediczko analisando que o tarifaço possa ser uma ”cortina de fumaça” para a polêmica de Epstein.

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Gráfico de pesquisa dos nomes de Donald Trump e Jeffrey Epstein. Foto: Reprodução/Google Trends

 

Apesar das hipóteses sobre a ligação do atual presidente dos Estados Unidos, os nomes que mais chamaram atenção recentemente sobre a proximidade com Epstein foram Bill e Hillary Clinton, que irão depor em outubro, e o príncipe Andrew, que aparentava ser amigo pessoal pelos e-mails trocados com Jeffrey. Assim como Trump, existe a comprovação de que eles já andaram no jato particular com Jeffrey Epstein e possivelmente tinham amizade. 

Jeffrey Epstein era um bilionário, empresário e financista americano, que ficou conhecido pela rede de tráfico sexual de menores ao qual tinha ligação. Seu trabalho com investimento fez com que construísse ligação com o ex-presidente Bill Clinton, Donald Trump, o príncipe britânico Andrew e outras celebridades. 

Em 2008, os pais de uma garota de 14 anos declararam à polícia do Estado americano da Flórida que Jeffrey Epstein havia a molestado. Naquele ano, ele firmou um acordo judicial com a promotoria, mas fotos de crianças foram encontradas por toda sua casa em Palm Beach causando sua condenação por exploração sexual de menores. Escapou de denúncias federais que poderiam causar prisão perpétua, conseguindo um acordo de 13 meses de prisão e indenização às vítimas. 

Onze anos depois, houve uma nova acusação de administração de uma rede sexual com meninas menores de idade. Logo foi preso e, enquanto aguardava o julgamento, se suicidou no presídio.

As investigações desses dois casos criminais geraram uma série de documentos que incluem transcrições de entrevistas com as vítimas e testemunhas e objetos confiscados nos imóveis de Epstein. A ex-namorada de Jeffrey, Ghislaine Maxwell, foi condenada em 2021 por associação criminosa de tráfico sexual de meninas.

As Forças de Defesa de Israel confirmaram a autoria do atentado
por
Annanda Deusdará
Maria Mielli
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13/08/2025 - 12h

Uma ofensiva de Israel matou seis jornalistas que estavam instalados em uma tenda de imprensa próxima ao hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza, no último domingo (10). Dentre as vítimas, quatro eram funcionários da agência de notícias Al Jazeera: dois cinegrafistas, Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal, e dois repórteres Mohammed Qreiqeh e Anas al-Sharif. Ambos rostos conhecidos pelo êxito em denunciar diariamente o genocídio palestino. 

Minutos antes de morrer, Qreiqeh esteve no ar pela última vez, cumprindo mais um dia de trabalho. Al-Sharif havia postado em suas redes sociais, também pouco antes de se tornar mais um dos milhares de palestinos assassinados, que um ataque israelense estava acontecendo. “Oh Deus, concede-nos a paz, concede-nos a paz. Bombardeio israelense pesado e concentrado com faixas de fogo visando as áreas leste e sul da cidade de Gaza”, lamentou em sua conta no X.

O exército israelense acusou o jornalista de ser membro de uma das células do Hamas, mas sem apresentar provas. “Terrorismo em colete de imprensa ainda é terrorismo. Anas al-Sharif não estava apenas documentando para Al Jazeera. Ele era um membro do Hamas, desde 2013”, declararam em postagens feitas no Instagram oficial. A agência de notícias Al Jazeera, por outro lado, nega veementemente as acusações e afirma que o ataque foi uma estratégia israelense de silenciar um dos grandes nomes do jornalismo local. “Nós sabíamos que Anas era o alvo… Ele era nossa voz”, lastimou o jornalista independente Mohammed Qeita no site oficial da agência, após o ataque. Apesar de ter confirmado o planejamento e execução de al-Sharif, o governo de Israel não se manifestou sobre as outras cinco vítimas.

Não é a primeira vez que ataques a jornalistas ocorrem na Faixa de Gaza. Em julho de 2024, o jornalista Ismail al-Ghoul e o cinegrafista Rami al-Rifi tiveram seu carro bombardeado por um míssil enquanto cobriam o assassinato do chefe político do Hamas também para a Al Jazeera. As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram as mortes e alegaram que Ismail integrava as forças Nukhba, divisão militar de elite do Hamas. O noticiário para o qual os profissionais trabalhavam negou as acusações e fez um apelo para que fossem tomadas ações imediatas: “Insistimos que as instituições jurídicas internacionais responsabilizem Israel por seus crimes hediondos e exijam o fim do alvo e do assassinato de jornalistas,” declarou em nota a emissora à época.

No mês passado, quando acusado de ser membro do Hamas pelas FDI, al-Sharif negou toda e qualquer ligação com o grupo. Reafirmou que era um jornalista sem afiliações políticas e que sua única missão era relatar a verdade. “Num momento em que uma fome mortal assola Gaza, falar a verdade tornou-se, aos olhos da ocupação, uma ameaça”, concluiu em postagem na rede social. 

Em mensagem final preparada para o caso de sua morte e publicada postumamente por seus colegas, al-Sharif pede “que não se deixem silenciar por correntes, nem sejam impedidos por fronteiras, e que sejam pontes para a libertação da terra e de seu povo, até que o Sol da dignidade e da liberdade brilhe sobre nossa pátria ocupada”, e finalizou: “Não se esqueçam de Gaza… E não se esqueçam de mim em suas orações sinceras por perdão e aceitação”. 

Silenciamento de jornalistas 

O bloqueio que ocorre em Gaza também limita o acesso e a produção de notícias no local. Os meios de comunicação internacionais são proibidos de circular pela região, a não ser que estejam acompanhados pelo exército israelense. Atualmente, a única maneira de se ter acesso ao que acontece na região, além do relatado por Israel, se dá através das reportagens feitas por jornalistas palestinos.

De acordo com o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), 192 jornalistas foram assassinados desde outubro de 2023, quando começou o conflito. Esse número é maior do que a soma das mortes ocorridas nas duas guerras mundiais (69). Além das mortes, 90 profissionais foram presos por Israel no exercício de sua profissão. 

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Gráfico sobre o assassinato de profissionais de comunicação por razões políticas. IArte: Annanda Deusdará/Agemt

 

Ainda segundo a CPJ, em 2024 ao menos 124 jornalistas e outros trabalhadores de comunicação foram mortos; destes, 85 foram vítimas da guerra de Israel contra a Palestina. O número ultrapassou o recorde de 2007, durante a guerra do Iraque, de 113 mortes. O Comitê alerta que o crescimento da violência contra este grupo prejudica a circulação de informações.

Quem eram os seis jornalistas assassinados

Anas al-Sharif, 28 anos, pai de 2 filhos. Segundo a Al Jazeera, um dos rostos mais conhecidos por denunciar o genocídio em Gaza. Nasceu num campo de refugiados em Jabalia, no norte da região, e se formou na Al-Aqsa University Faculty of Media. Seu pai foi morto por Israel em um bombardeio na casa da família em dezembro de 2023.

Mohammed Noufal, 29 anos, era cinegrafista da Al Jazeera. Também de Jabalia, perdeu a mãe e um irmão em ataques de Israel. Seu outro irmão, Ibrahim, também trabalha no veículo. 

Ibrahim Zaher, 25 anos, também era cinegrafista e paramédico voluntário. Nasceu no mesmo campo de refugiados que seus colegas de trabalho.

Mohammed Qreiqeh, 33 anos, fez sua última aparição ao vivo um pouco antes de ser assassinado. Nasceu em Gaza em 1992 e viveu na vizinhança de Shujayea. Formou-se jornalista na Islamic University of Gaza. Israel matou seu irmão, Karim, em março, num bombardeio. 

Moamen Aliwa, 23 anos, era estudante de engenharia e cinegrafista independente.

Muhammad Al-Khalidi, 33 anos, era um jornalista independente que produzia vídeos para o Youtube documentando o conflito em Gaza.

 

Marcas internacionais e personalidades manifestam repúdio ao conflito e fortalecem a influência social e política da moda
por
Beatriz Tiemy Nichioka
Ricardo Dias de Oliveira Filho
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26/04/2022 - 12h
Reprodução: @vogueczechoslovakia / @brunakazinoti (Instagram)
Reprodução: @vogueczechoslovakia / @brunakazinoti (Instagram)

“Uma guerra que já havia sido cantada pela Rússia há muito tempo, tanto pela anexação de territórios quanto pela aproximação cada vez maior da Ucrânia em relação à OTAN e à União Europeia, esses são os principais motivos para o início do conflito", relatou Carla Cristina Garcia, mestre e Doutora em Ciências Sociais.

A invasão da Ucrânia por tropas russas ocorreu no dia 24 de fevereiro, em plena Semana de Moda de Milão. O papel político e social da moda como meio de transmitir uma mensagem ao mundo se concretizou nos desfiles. Giorgio Armani, por exemplo, demonstrou apoio à Ucrânia desfilando sua coleção em completo silêncio que, segundo o designer, foi uma ação em respeito às pessoas envolvidas na tragédia no país. Mais um exemplo notável foi o desfile da grife espanhola Balenciaga, que fez referências a refugiados, com a presença de peças práticas de serem vestidas, dobradas e reduzidas, como trench-coach. A praticidade e facilidade de compactação e armazenamento sugerem uma vida em constante movimento ou, até mesmo, nômade. Outras referências foram a bolsa desfilada, que se assemelha a um saco de lixo, e modelos desfilando de toalha e peças íntimas, assimilando a pessoas que tiveram que deixar suas casas às pressas - correlação direta à situação entre Rússia e Ucrânia.

Além das manifestações no grande palco midiático das passarelas e desfiles, a moda se faz presente como uma importante ferramenta de mobilização em períodos de conflitos, guerras e crises. Empresas e marcas ligadas aos setores da moda optaram por responder ao conflito suspendendo suas atividades na Rússia. A revista Vogue ucraniana fez uma publicação nas redes sociais, pedindo o embargo à exportação de todo tipo de itens de moda e bens de luxo, que serviu como apelo para grandes marcas e grifes citadas tomarem um posicionamento diante de toda a situação. A grife Hermes foi a primeira a se pronunciar e anunciar o fechamento de suas lojas russas, além de paralisar todas as suas atividades no país. A Chanel, que também fechou suas lojas em território russo, doou dois milhões de euros com intuito de ajudar refugiados nas fronteiras da Ucrânia. A Adidas suspendeu a parceria com a União Russa de Futebol, além de doar cem mil euros, roupas e calçados para institutos que oferecem apoio às crianças refugiadas.

A especialista em História da Moda, Laura Ferrazo, ressalta que a moda possui diversas maneiras de manifestação: “Eu acho que o mundo da moda tem muita influência, é importante a manifestação de muitas formas. Os desfiles que fazem referências, homenagens ou críticas à guerra, mas também os boicotes às vendas de produtos e importação de matérias-primas”. 

Membros da indústria da moda iniciaram um manifesto contra a guerra, contando com um abaixo-assinado firmado por mais de 1.500 profissionais de todos os ramos, desde a fotografia até a direção criativa: "Como designers, estilistas, fotógrafos, professores, estudantes, pesquisadores, modelos, artistas, designers gráficos, diretores criativos, agentes, escritores e editores, lutamos continuamente por um mundo onde a expressão criativa, o intercâmbio cultural e a colaboração possam florescer. A violência da invasão na Ucrânia vai contra tudo o que defendemos. Esta guerra não traz nada além de destruição, sofrimento e tristeza", diz o manifesto.

“A moda tem poder. A moda é uma indústria de trilhões de dólares, com gigantesca influência cultural, econômica e até política. Em tempos de crise, é fácil descartar esse poder, chamá-lo de supérfluo, frívolo, surdo, hipócrita ou não-essencial. Mas nossas cadeias de suprimentos conectam países em todo o mundo, nossa mídia alcança massas de seguidores em todos os lugares, nossa linguagem compartilhada de criatividade é universal. Somos uma indústria repleta de talentos, habilidades, redes e conexões. Essas ferramentas sempre podem melhorar a vida das pessoas ao nosso redor – seja em larga escala ou íntima. Onde quer que você esteja hoje, não vire as costas, não feche os olhos”, ressalta o texto.

Emmanuel Macron se torna o primeiro presidente a se reeleger em 20 anos. Apesar da derrota, Marine Le Pen fala em resultado “histórico” da extrema-direita.
por
Luan Leão
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25/04/2022 - 12h

Com 58,5% dos votos, cerca de 18.779.641 votos, Emmanuel Macron (República Em Marca!), candidato à reeleição, venceu o segundo turno realizado neste domingo (24) contra a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen (Reunião Nacional), que conquistou 41,5% dos votos, equivalente a 13.297.760 votos. O resultado fez de Macron o primeiro presidente reeleito nos últimos 20 anos, o último a se reeleger havia sido o conservador Jacques Chirac (1995-2007). 

 

A eleição também foi marcada pelo expressivo número de abstenções. De acordo com o Ministério do Interior francês, a taxa de abstenção foi de 28%, a maior marca para um segundo turno desde 2002. 

 

"O presidente de todos"

Emmanuel Macron - Em Marcha!
Foto: Reprodução YouTube Emmanuel Macron

Pouco menos de duas horas da divulgação das projeções de sua vitória, e ao som do hino europeu conhecido como "Ode à Alegria", de Friedrich Schiller, Emmanuel Macron foi recepcionado por seus apoiadores no Champs de Mars, próximo a Torre Eiffel, para seu discurso da vitória. “Desde agora não sou mais o candidato de um lado, mas o presidente de todos”, afirmou Macron. 

 

Em seu discurso, o centrista disse saber que muitos foram às urnas não para apoiá-lo ou para votar em favor de seus projetos, mas sim, “para barrar as ideias da extrema-direita”, porém, afirmou que governará também por eles. Sobre os votos direcionados a Le Pen, Macron disse que é dever dele, enquanto presidente, encontrar as respostas para os votos na extrema-direita. “Será minha responsabilidade e de quem me cerca”, disse o presidente reeleito.

 

Sobre os 28% de abstenção, Macron disse que o “silêncio é uma negação ao direito de responder”, e tem um significado. 

 

Para seus eleitores, Macron falou sobre seu compromisso no novo governo. “Hoje (vocês) escolheram um projeto humanista, ambicioso pela independência do nosso país, pela nossa europa, um projeto republicano nos seus valores, um projeto social e ecológico, um projeto baseado no trabalho e na criação”. 

 

O presidente afirmou, também, que continuará trabalhando pela igualdade. “Este projeto, quero levá-lo com força para os próximos anos, sendo também um repositório das divisões que se manifestaram e das diferenças, e garantindo a cada dia o respeito de cada um, e continuando a trabalhar por um sociedade e igualdade entre mulheres e homens”.


 

Macron ressaltou que os próximos cinco anos não são continuidade de seu mandato, mas uma “invenção coletiva a serviço do nosso país e da nossa juventude”. “Esta nova era não será a continuação do quinquénio que está a terminar, mas a invenção coletiva de um método revisto por mais cinco anos, ao serviço do nosso país, da nossa juventude. Cada um de nós terá uma responsabilidade. Cada um de nós terá que se comprometer com isso”, disse o presidente francês. 

Emmanuel Macron - Em Marcha!
Foto: Reprodução YouTube Emmanuel Macron

No encerramento de seu pronunciamento, Macron disse que terá “orgulho de servir novamente”, e foi ovacionado pelos eleitores.

 

“É isso que faz do povo francês essa força singular que amo tão profundamente, tão intensamente, e que tenho tanto orgulho de servir novamente. Viva a república e viva a França!” - Emmanuel Macron

 

 

"Histórico"

O relógio marcava por volta das 20h15, horário local de Paris, quando Marine Le Pen discursou a seus apoiadores reconhecendo a derrota, em um pavilhão no Bois de Boulogne, região oeste de Paris. A manifestação ocorreu cerca de 15 minutos depois do fechamento das urnas e da divulgação das projeções. “Um grande vento de liberdade poderia ter soprado sobre nosso país, mas as urnas decidiram o contrário”, disse Le Pen em seu pronunciamento.

 

Marine Le Pen - RN
Foto: Reprodução Instagram 

Em 2002, Jean Marie Le Pen, pai de Marine Le Pen, causou espanto na política francesa ao conseguir avançar com a extrema-direita ao segundo turno. Na ocasião, houve uma grande união das forças democráticas para apoiar e reeleger o presidente republicano Jacques Chirac, que venceu o segundo turno com 82% dos votos.

Exatos 20 anos depois, Marine Le Pen comemorou o crescimento da Frente Nacional regida por sua família nas últimas décadas, e disse que o resultado conquistado nesta eleição foi “histórico” e uma “vitória brilhante” que colocou seu partido em uma “excelente posição” para as eleições parlamentares de junho. 

 

“O jogo ainda não acabou” - Marine Le Pen 

 

Líderes europeus e das américas parabenizam Macron

Após o resultado, representantes da União Europeia parabenizaram Emmanuel Macron pelo resultado. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que a Europa poderá “contar com a França por mais cinco anos” e disse que “nestes tempos difíceis precisamos de uma Europa forte, e uma França comprometida com uma União Europeia mais soberana e estratégica”. 

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, também parabenizou Macron e disse esperar que continuem com a excelente cooperação. “Caro Emmanuel Macron, gostaria de parabenizá-lo por sua reeleição como presidente da República. Espero continuar nossa excelente cooperação. Juntos, vamos fazer a França e a Europa avançarem”, disse através do Twitter. 

O chanceler Olaf Scholz, da Alemanha, e os presidentes Alberto Fernández, da Argentina, Ivan Duque, da Colômbia, e o primeiro-ministro Pedro Sánchez, da Espanha, exaltaram a vitória de Macron e o fortalecimento da democracia. 

 

3º Turno 

Com a divulgação do número de abstenções nesta eleição pelo Ministério do Interior, o candidato de esquerda e terceiro colocado no 1º turno, Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa) foi às redes sociais para criticar Macron. “Macron é o presidente eleito nas piores condições da V República. Ele nada em um oceano de abstenção, votos brancos e nulos”, falou Mélenchon. 

 

Mesmo com a crítica ao presidente eleito, o progressista parabenizou os franceses pela derrota da extrema-direita, o que classificou como “uma boa notícia para o país”. 

 

Mélenchon convocou os franceses para participarem das eleições parlamentares que ocorrem em junho, e pediu “coragem e determinação”. O candidato pretende liderar uma coalizão entre partidos de esquerda e ambientalistas, com o objetivo de se eleger primeiro-ministro. “O terceiro turno começa hoje à noite”, disse o líder de esquerda.

 

“Eu peço aos franceses que me elejam primeiro-ministro ao votarem por uma maioria de deputados insubmissos e de integrantes da União Popular”, acrescentou Mélenchon. 

 

As eleições parlamentares acontecem entre 12 e 19 de junho. Vale lembrar que é a Assembleia Nacional, parlamento francês, que indica o primeiro-ministro, podendo ou não ser aliado do presidente. 

 

Candidatos se encontraram na quarta-feira (20) para o último debate eleitoral na TV. Pesquisas mostram que o eleitorado considerou Macron mais convincente.
por
Luan Leão
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22/04/2022 - 12h

Os franceses voltam às urnas no próximo domingo (24) para definir a disputa do segundo turno das eleições presidenciais no país. No páreo está Emmanuel Macron (República Em Marcha!), candidato centrista à reeleição, e Marine Le Pen (Reunião Nacional), tradicional líder da extrema-direita na França. 

 

Durante a campanha, Macron tentou se colocar como um líder do bloco europeu, capaz de gerir situações de crise, buscando uma saída diplomática no conflito entre Rússia e Ucrânia. Já Marine Le Pen se apresentou ao eleitor como a candidata que devolveria à população francesa o poder de compra e fez esforços para afastar a imagem de extremista tanto dela, como de seu partido, considerado uma sigla xenofóbica e racista.

 

Pela primeira vez nesta eleição, Macron e Le Pen se encontraram para discutir suas propostas de governo, o debate ocorreu na quarta-feira (20). Segundo pesquisa Ifop em conjunto com a Rádio Sud, os eleitores acham Macron mais confiável que Le Pen, em um número maior de temas que preocupam os franceses.

Macron e Le Pen
Foto: Reprodução YouTube / France 24

O Ifop divulgou a pesquisa na quinta-feira (21), mostrando como os franceses viram o desempenho dos candidatos no debate. O levantamento ouviu 1.006 pessoas, acima de 18 anos de idade. O nível de confiança da pesquisa é de 95%.

 

Os reflexos do debate na disputa

Segundo levantamento do Ifop em conjunto com a Rádio Sud, 65% dos franceses acompanharam o debate, e de forma geral, 89% assistiram ou ouviram falar dele, a conta foi feita reunindo a audiência de todos os canais combinados (TF1, France 2 e outros meios).

 

De acordo com o levantamento, 29% dos eleitores afirmaram que o debate definiu o seu voto do próximo domingo (24). Deste percentual, 11% disseram que vão votar em Macron, 10% em Le Pen, 6% em branco ou nulo e 2% disseram que vão se abster. 

 

A pesquisa também perguntou qual candidato era mais confiável para realizar propostas sobre alguns temas. Em relação à guerra na Ucrânia, 53% acham que Macron é mais confiável, 17% acham Le Pen, e 30% acredita que nenhum dos dois. Sobre a proteção climática e a desordem ecológica, 39% apostam que Macron é mais confiável para realizar, contra 22% de Le Pen, outros 39% acreditam que Macron e Le Pen não são confiáveis. 

 

No quesito educação, 39% acreditam que Macron é confiável, 32% acreditam em Le Pen, e 29% não confiam em nenhum dos dois. Em relação à saúde, 37% acham Macron mais confiável, 36% apostam em Le Pen, e 27% não confiam em ambos. 
 

Os únicos dois temas em que Le Pen é considerada mais confiável pelos eleitores são: aumento de salário e do poder de compra com 42%, contra 32% de Macron, e 26% do eleitorado considerando que nenhum dos dois são confiáveis. E também, a luta contra a insegurança e a delinquência, onde Le Pen aparece como confiável para 51% dos eleitores, contra 28% de Macron e 21% que não consideram ambos confiáveis. 

Macron e Le Pen
Foto: Reprodução YouTube / France 24

De acordo com a pesquisa de intenção de voto divulgada também pelo Ifop após o debate, o eleitor gostou mais da atuação de Macron, e o centrista aumentou em 10% a sua vantagem nas pesquisas. Pela pesquisa, Macron soma 55% das intenções de voto, contra 45% de Le Pen. No dia 11 de abril, dia seguinte ao primeiro turno, as pesquisas eleitorais mostravam Macron com 52,5% das intenções, contra 47,5% da candidata de extrema-direita.

Em uma reedição de 2017, porém, em tom mais pacífico, candidatos se encontraram na quarta-feira (20) para debater pela primeira vez nesta eleição.
por
Luan Leão
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22/04/2022 - 12h

O encontro realizado pelo TF1 e France 2 na noite de quarta-feira (20), opôs o centrista Emmanuel Macron (República Em Marcha!) e a líder de extrema-direita Marine Le Pen (Reunião Nacional), para o primeiro debate das eleições de 2022. Os candidatos estavam menos truculentos do que no debate do 2º turno de 2017. Curiosamente, ambos vestiram ternos azul marinho, parecidos com os que usaram no debate da eleição passada. 

 

A proposta diferente na forma de atuação no debate tinha objetivo, os candidatos queriam convencer os eleitores indecisos, e principalmente, atrair os eleitores de Jean-Luc Mélenchon, terceiro colocado na disputa do 1º turno, com 21,95% dos votos. No 1º turno, Macron conquistou 27,8% dos votos, e Le Pen alcançou 23,1%. 

 

Em 2017, Macron foi o vencedor do 2º turno, obtendo 66,06% dos votos, contra 33,04% de Le Pen. Porém, na atual disputa, as pesquisas de intenção de voto mostravam um cenário diferente, onde a tradicional líder de extrema-direita havia diminuído a vantagem do atual presidente em relação a eleição passada, e já sonhava com uma possível vitória. 

 

O Debate

Apesar de menos truculento em relação ao do pleito passado, as duas horas e meia de debate foram de tensão, ironia e troca de acusações. Os candidatos falaram sobre temas como educação, segurança, reforma da aposentadoria, indústria, relações internacionais, imigração, e também, meio ambiente e saúde. 

 

O início do debate tratou sobre a queda do poder aquisitivo, principal bandeira da campanha de Le Pen, que se colocou como “porta-voz dos franceses”. Para a candidata, “a população foi negligenciada nos últimos anos”. O atual presidente retrucou, e disse que as propostas de sua opositora não são realizáveis e que o plano de governo dela não trata sobre o desemprego. 

 

“O Mozart das finanças, como o senhor às vezes foi apresentado, teve um balanço econômico muito modesto e um balanço social que é ainda pior”, ironizou a líder da extrema direita. 

Debate eleitoral francês
Foto: Reprodução YouTube / France 24

Quando o assunto foi relações internacionais,  Le Pen defendeu que a França continue apoiando os ucranianos, mas disse que o país não pode parar de comprar gás-natural russo. Enquanto isso, Macron fez questão de lembrar da ligação entre Le Pen e a Rússia na eleição de 2017. “Quando a senhora fala com a Rússia, não está falando com outros dirigentes, e sim com seu gerente de banco”, disse Macron com sarcasmo. Em 2017, a líder do RN recebeu dinheiro de um banco russo para financiar a campanha eleitoral. 

 

Sobre a União Europeia, Macron exaltou a aliança franco-alemã durante a pandemia da COVID-19. Le Pen, que possui histórico de declarações anti-europa, afirmou que quer se manter no bloco europeu, porém, “quer mudá-lo profundamente”. A candidata também criticou os acordos de livre comércio e afirmou ser contra as exigências para a compra do frango brasileiro. 

 

Nesse momento, Macron falou sobre o respeito ao Acordo de Paris e a biodiversidade. “Nós lutamos contra o desmatamento graças à Europa e a escolha de nossos agricultores”, afirmou o presidente. 

 

A questão climática foi tratada de forma secundária no debate, Le Pen falou em “acabar com a hipocrisia”, ao admitir que as importações representam 50% das emissões de gases do efeito estufa, a candidata aproveitou para voltar a tecer críticas sobre o livre comércio, e defendeu a ideia de evitar a importação de frutas e legumes, do que chamou de “patriotismo econômico”. 

 

Macron disse que o programa climático de Le Pen não tinha “nem pé nem cabeça” e chamou a adversária de “climatocética”. De imediato, a líder de extrema-direita respondeu: “Não sou climatocética, mas o senhor é climatohipócrita”.

 

A polêmica

O assunto que já vinha causando polêmica durante a campanha acirrou os ânimos no debate. Pauta fundamental no programa de governo de Le Pen, a imigração é um assunto de grande divergência entre os candidatos. A candidata do RN ligou a insegurança no país a imigração, e disse que “é preciso resolver esse problema”, afirmando que a imigração “contribui para a violência no país.”

 

Desde a campanha, Le Pen tem defendido um referendo à Constituição sobre a imigração, o que facilitaria a expulsão de criminosos estrangeiros e dificultaria o direito à nacionalidade francesa para filhos de estrangeiros nascidos no país. “A nacionalidade francesa se merece”, insistiu a candidata.   

 

O tom do debate subiu quando o assunto foi a proibição do uso do véu islâmico em locais públicos, pauta defendida por Le Pen, que disse que “muitas mulheres não tem escolha” e “é preciso libertá-las”. Macron disse ser totalmente contra a ideia, lembrando que o país seria o primeiro no mundo a ter tal proibição. “Se a senhora fizer isso, vai criar uma guerra civil”, disse o centrista. 

Macron e Le Pen
Foto: Reprodução YouTube / France 24

2º Turno

O segundo turno está previsto para este domingo (24), e segundo o Ifop, a expectativa é de que pelo menos 74,5% dos eleitores compareçam às urnas. Ao final do debate, em pesquisas de intenção de votos preliminares, a atuação de Macron pareceu ter convencido mais os eleitores do que Le Pen. 

 

Yan Boechat fala sobre sua experiência durante a cobertura do conflito Ucrânia x Rússia
por
Camilo Mota
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13/04/2022 - 12h

O correspondente de Guerra, especialista em conflitos internacionais e mestrando em Governança Global e Formulações de Políticas Internacionais, que estava na Ucrânia durante a invasão russa, foi o convidado para uma conversa com alunos, desenvolvida pelo departamento de Relações Internacionais da PUC-SP.

Na sua exposição, Boechat ressaltou a assimetria pela qual a atual guerra se difere dos demais conflitos que cobriu, por causa do envolvimento de duas nações, e a compreensão de que "todo conflito é um debate maniqueísta", que acaba sendo simplificado por parte dos jornalistas estrangeiros. Além disso, o repórter também disse ser surpreendente ver o quanto as cidades atingidas seguem seu curso, mesmo com a existência de um conflito de tamanha proporção. 

Na parte da cobertura especificamente, o correspondente declarou não procurar fontes oficiais, mas buscar ouvir e entender o contexto e as noções de continuidade do conflito com as próprias populações locais. Há regras implícitas e explícitas que são fundamentais para jornalistas. Por fim, ressaltou a importância de estudar a história e estar atento às divisões e aspectos que compõem todos os seus lados.

Confira aqui uma entrevista exclusiva com Yan Boechat, feita logo após o evento.