jovem afegão relata os desafios de sua nova vida em São Paulo
por
Francisco Barreto
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29/04/2025 - 12h

De acordo com dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), entre janeiro de 2022 e julho de 2024, mais de 11 mil afegãos chegaram ao Brasil. A maioria se estabeleceu no estado de São Paulo, especialmente na região metropolitana. Estimativas da Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontam que cerca de 28% residem na capital paulista e 20% em Guarulhos. Aos 20 anos, Habibullah Shariatee carrega em sua trajetória a força de quem precisou recomeçar a vida longe da terra natal. Natural do Afeganistão, ele chegou ao Brasil há três anos, fugindo da instabilidade provocada pela retomada do poder pelo grupo terrorista Talibã. Confira a entrevista exclusiva à AGEMT

 

O processo de nomeação ultrapassa a Capela Sistina e desperta curiosidade pelo mundo
por
Victória Rodrigues
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24/04/2025 - 12h

O Papa é o sucessor do apóstolo Pedro, a maior autoridade da Igreja Católica e chefe de Estado do Vaticano. No caso de sua morte ou renúncia, existem protocolos e ritos a serem seguidos para dar início ao processo de sucessão.

 

 

Quando um papa morre, são realizadas tradições litúrgicas. O Camerlengo (cardeal escolhido para exercer as funções interinas do papa) anuncia a morte do pontífice, declarando o tempo de luto.

O velório acontece na Basílica de São Pedro por nove dias, chamados de “Novendiale”. Esses dias são reservados para que fiéis, autoridades e líderes religiosos prestem suas homenagens.

Ao final deste período, um cortejo é realizado, seguido do sepultamento, que tradicionalmente acontece na Basílica de São Pedro, em Roma, exceto quando outro local é escolhido previamente pelo Santo Padre. Em caso de renúncia, é o próprio papa emérito quem anuncia sua decisão.

Até que um sucessor seja escolhido, o Camerlengo ficará à frente do governo da Igreja. Um tempo chamado de “Sé Vacante” ou “Sede Vacante” (sede vazia), que significa que a cadeira do líder da Igreja de Roma está vaga.

Este também é o período em que o Camerlengo reunirá o Colégio de Cardeais. A partir daí, começam as votações que definirão o próximo Pontífice. 

De “Sé Vacante” a “Habemus Papam” 

Entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia do Papa, o Colégio de Cardeais se reúne na Capela Sistina, onde é realizado o Conclave. 

Em entrevista à AGEMT, o padre Luiz Carlos Brito, da Diocese de Guarulhos, explicou esse processo:  “O Conclave é uma reunião sigilosa, significa ‘trancado com chave’. Nela, será definido o próximo Padre Santo. É sigilosa justamente para não haver influências externas, além de ser um momento de profunda oração para a Igreja”.  

Trancados em uma sala, os cardeais realizam as votações, sendo votante e elegíveis apenas aqueles  com menos de 80 anos. “Para ser eleito, é necessário que um dos cardeais elegíveis atinja pelo menos dois terços dos votos, podendo haver até quatro sessões de votação por dia”, afirma o presbítero. 

Após a contagem dos votos, se o número mínimo não for atingido ou se o escolhido pela votação não aceitar o cargo, uma fumaça preta tomará o céu, declarando encerradas as sessões daquele dia, e a Igreja seguirá sem um Papa.

No entanto, se o número mínimo de votos for atingido e o cardeal eleito aceitar a função de chefe do Vaticano e da Igreja Católica, uma fumaça branca sairá da chaminé da Capela Sistina, anunciando a boa nova ao mundo. 


Fumaça branca confirma a escolha do novo Papa | Foto: Agência Reuters

Em seguida, o cardeal protodiácono, que é o mais antigo do Colégio de Cardeais, tem o privilégio de anunciar “Habemus Papam”, temos um Papa. 

Não existe um período máximo para que o novo Bispo de Roma seja nomeado. O Conclave mais longo na história do catolicismo durou 34 meses, entre novembro de 1268 e setembro de 1271. Ao final foi eleito Teobaldo Visconti como Papa Gregório X. E a mais rápida das votações foi em 1939, que em duas sessões declarou o Papa Pio XII.

Ao ser eleito, o sucessor de Pedro adota um novo nome. De acordo com o Pe. Luiz, os motivos vão desde referência a nomes de santos ou outros papas, a uma facilidade de tradução para diferentes idiomas.

Os nomes geralmente são escolhidos em referência a algum outro papa ou a algum santo da Igreja Católica, como, por exemplo, Francisco é uma referência a São Francisco de Assis; João Paulo, além de fazer referência aos santos São João e São Paulo, juntou os nomes de seus dois antecessores. Além disso, nome próprio não se traduz, então o nome dos santos já tem  uma adaptação para  cada idioma” explica o sacerdote.

O Papa Francisco foi o 266° líder da Igreja Católica. Sua chegada dividiu opiniões. Nos últimos doze anos, o Santo Padre sofreu críticas por seu posicionamento progressista. Logo após assumir o papado, o Pontífice foi questionado sobre a homossexualidade e respondeu com a frase “Quem sou eu para julgar?”.

Além disso, Francisco seguiu a virtude da humildade de seu Santo patrono. Em uma declaração, disse que “Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade". Alguns fiéis chegaram a acusá-lo de heresia e até mesmo de comunismo.

Para o Pe. Luiz, a Igreja é uma instituição que deve se adaptar: “Cada Papa tem um perfil, então seu pontificado será direcionado de acordo com suas convicções, isso gera um impacto na igreja de certa forma. Há alguns progressistas, há outros mais conservadores, e a cada mudança a Igreja Católica Apostólica Romana precisa se adaptar ao novo mandato”.

Pontífice sofreu um AVC e insuficiência cardíaca nesta segunda-feira (21)
por
Lívia Rozada
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22/04/2025 - 12h

 

Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)
Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)

Às 9h45 da manhã no horário de Roma e 04h45 no horário de Brasília, apenas algumas horas após a última aparição pública do Papa Francisco, o Vaticano anunciou a morte do Papa Francisco, aos 88 anos. O Papa havia recebido alta hospitalar fazia um mês e estava sob cuidados médicos, após 40 dias internado com um quadro grave de pneumonia nos dois pulmões.

Em 13 de março de 2013, a Igreja Católica elegeu o primeiro papa latino-americano: Jorge Mario Bergoglio, que adotou o nome de Francisco. O pontífice nasceu em uma família de imigrantes italianos em Buenos Aires, capital argentina, no dia 17 de dezembro de 1936. Seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, emigrou da Itália no início do século XX para fugir das guerras no continente europeu e sua mãe, Regina Maria Sivori, nasceu em Buenos Aires e era filha de imigrantes. Jorge foi o primeiro dos cinco filhos do casal.

Formação e início da trajetória eclesiástica

Sua vocação religiosa o levou a entrar no noviciado da Companhia de Jesus aos 21 anos. Bergoglio fez o juniorado em Santiago, no Chile, e retornou à Argentina para estudar filosofia, formando-se na Universidade Católica de Buenos Aires em 1960. Entre 1964 e 1966, ensinou literatura e filosofia em escolas da Companhia de Jesus em Santa Fé e Buenos Aires. Em 1967, deu início aos estudos de teologia, que concluiu em 1970.

Em 1969, o jesuíta recebeu a ordenação presbiterial para se tornar sacerdote da Igreja Católica. Bergoglio foi à Espanha para completar seus estudos religiosos e retornou à Argentina em 1973, quando foi eleito superior provincial dos jesuítas no país e passou a chefiar a Companhia de Jesus argentina.

Após o provincialado, o então sacerdote retornou  ao meio acadêmico em 1980, lecionando em colégios jesuítas, e se tornou reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, cargo que ocupou até 1986, quando foi à Alemanha para concluir seu doutorado. Nos anos seguintes, Bergoglio foi confessor e diretor espiritual em Córdoba.

Episcopado

Durante a década de 1990, tornou-se uma figura de destaque dentro da Igreja Católica argentina. Em maio de 1992, o então Papa João Paulo II nomeou Bergoglio para o cargo de bispo auxiliar de Buenos Aires, posição que ocupou até 1997, quando foi nomeado arcebispo adjunto da cidade. No ano seguinte, com a morte do arcebispo metropolitano, Bergoglio passou a ocupar o cargo.

O arcebispo se destacava por sua humildade. Apesar de ocupar  um cargo de grande poder na Igreja Católica, o futuro papa continuava evitando os luxos da hierarquia católica e era reconhecido por se locomover de transporte público e morar sozinho em um apartamento simples na região central da cidade. 

Em 2001, durante o papado de João Paulo II, Bergoglio foi nomeado cardeal e recebeu o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Em vez de ir ao Vaticano para celebrar a nomeação, convenceu centenas de argentinos a não realizarem a viagem e pediu que destinassem o dinheiro aos pobres. Quatro anos depois, o cardeal participou do seu primeiro conclave, que elegeu o Papa Bento XVI.

Pontificado

Em fevereiro de 2013, o então Papa Bento XVI anunciou sua renúncia ao cargo, por motivos que só seriam revelados após sua morte, em 2022. A decisão do pontífice foi inédita na era moderna, ocorrendo cerca de 600 anos após a última renúncia papal, quando o Papa Gregório XII renunciou. No segundo dia do conclave para nomear uma nova pessoa para o cargo, Bergoglio foi eleito como o 266º papa.

O novo papa escolheu o nome de Francisco como uma referência a São Francisco de Assis, conhecido por sua simplicidade e dedicação aos pobres, tornando-se o primeiro pontífice a usar o nome. A escolha reforçou seu compromisso com a humildade, a paz e a defesa dos mais vulneráveis, traços que marcaram seu papado. Francisco foi o primeiro papa originário do continente americano e do hemisfério sul, além de ser o primeiro papa de origem não europeia em mais de 1200 anos, desde Papa Gregório III, nascido na Síria.

Sua primeira viagem internacional como papa foi ao Brasil. Em julho de 2013, Francisco desembarcou no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento realizado a cada dois ou três anos, que reúne o papa e milhões de jovens católicos de todo o mundo. Durante a missa celebrada na Praia de Copacabana, o papa reuniu mais de 3,5 milhões de fiéis. Além do Rio de Janeiro, o pontífice fez questão de visitar o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida.

Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP
Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP

Francisco mantém uma relação de carinho com o Brasil. Alguns meses após a visita ao país, o pontífice recebeu os organizadores da JMJ e, em seu discurso de boas-vindas, brincou: “Os cariocas são ladrões, roubaram meu coração”. Em junho de 2023, o presidente Lula se reuniu com o papa no Vaticano e o agradeceu pela recepção e “boa conversa” sobre a paz no mundo. Um ano depois, na cúpula do G7, os dois se encontraram novamente. Segundo o presidente, conversaram sobre o combate à fome, a paz mundial e a importância de reduzir as desigualdades.

Legado

Francisco foi um dos líderes religiosos mais influentes do mundo. Em comparação com seus antecessores, o pontífice adotou uma postura progressista ao trazer posicionamentos mais liberais e modernos em relação a temas sensíveis para a Igreja Católica. Com mais de uma década à frente da Igreja Católica, implementou reformas e promoveu mais transparência no Vaticano e adotou medidas mais rígidas contra abusos sexuais no clero.

O papa recebeu repercussão mundial por sua postura mais acolhedora em relação à  comunidade LGBTQIAPN+ . Apesar dos seus posicionamentos conservadores, contrários ao aborto, cirurgias de redesignação sexual e casamento homoafetivo, por exemplo, Francisco, em diversas ocasiões, defendeu que membros da comunidade não devem ser marginalizados, mas sim integrados à sociedade. Em entrevista a jornalistas em 2013, o pontífice disse: “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”.

 

Período de votação acontecerá em menos de dois meses
por
Octávio Alves
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22/04/2025 - 12h

 


O Governo sul-coreano anunciou uma nova eleição presidencial para o dia 3 de junho, após o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol. O comunicado foi feito em 8 de abril pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que exerce interinamente a presidência.

 

Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro.Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man
Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro. Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man

A crise teve início quando o então presidente decretou lei marcial em dezembro, alegando estar defendendo a democracia diante de tentativas dos opositores de “derrubar a democracia livre”, ao buscarem o impeachment de membros de seu gabinete e bloquear seus planos orçamentários. 

Foi a primeira vez desde 1980 que a lei marcial foi declarada no país. A medida gerou forte impacto negativo, inclusive entre parlamentares do próprio partido de Yoon, o conservador Partido do Poder do Povo. Diante da ampla oposição da classe política e de uma votação unânime no Parlamento contra suas ações, Yoon revogou a lei marcial poucas horas após tê-la decretado.

O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV — Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters
O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV .Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters

 

Com o impeachment efetivado em abril e a nova data da eleição definida, teve início oficialmente a corrida eleitoral para escolher o novo presidente sul-coreano.

A eleição presidencial na Coreia do Sul possui algumas particularidades. Não há segundo turno, o candidato mais votado no único turno é eleito. O presidente também tem o poder de nomear um primeiro-ministro, que precisa ser aprovado pelo Parlamento (chamado de Assembleia Nacional). Esse cargo exerce funções semelhantes às de um vice-presidente no Brasil. O mandato presidencial é de cinco anos.

De acordo com a legislação sul-coreana, uma nova eleição deve ser realizada em até 60 dias após a vacância do cargo. No atual cenário político, dois partidos se destacam: o governista Partido do Poder do Povo e o opositor Partido Democrata.

Os democratas têm como provável candidato o político Lee Jae-myung, que não enfrenta concorrência interna significativa. Lee, que perdeu por uma margem apertada para Yoon nas eleições de 2022, sofreu um atentado a faca no início de 2024 e liderou o partido durante a recente crise, quando tropas enviadas por Yoon cercaram a Assembleia Nacional durante a votação que revogou a lei marcial. 

No entanto, ele responde atualmente a cinco processos por corrupção. Caso seja eleito, esses processos serão suspensos, já que o presidente sul-coreano possui imunidade durante o mandato.

Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap
Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap

 

Já os conservadores devem realizar primárias para definir seu candidato, com mais de dez nomes cotados. Um dos grandes nomes até o momento é Oh Se-hoon, atual prefeito de Seul. Apesar de o partido ter sido abalado pelo impeachment, ainda conta com uma base de apoiadores fieis. As primárias estão marcadas para o dia 3 de maio.

A líder da extrema direita francesa foi julgada por desvio de dinheiro
por
Chloé Dana
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04/04/2025 - 12h

Nesta última segunda-feira (31), a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, foi julgada pela justiça francesa por desviar verbas da União Europeia para beneficiar seu partido, Reagrupameto Nacional (RN). Le Pen foi foi sentenciada a quatro anos de prisão, ao pagamento de uma multa de 100 mil euros e cinco anos de inexigibilidade, o que a impede de concorrer à Presidência em 2027. 

A acusação do Ministério Público aponta que o RN e seu antecedente, a Frente Nacional, utilizaram recursos orçamentários de 21 mil euros (equivalente a R$131 mil) destinados ao pagamento de subsídios mensais para os assessores parlamentares de eurodeputados, sustentar funcionários que, na realidade, atuavam para o partido na França, focados em assuntos de política interna, de 2004 até 2016. 

A líder francesa nega irregularidades e afirma que o Ministério Público está em busca de seu fim político. Doze assistentes também foram sentenciados por ocultação de delito. O tribunal calculou que o esquema desviou 2,9 milhões de euros e todos os empregados do RN, incluindo Le Pen, foram proibidos de disputar cargos, com a juíza determinando que a proibição deve começar a valer imediatamente. 

 

Como isso afeta a direita radical francesa? 

Devido às medidas tomadas pela justiça, a francesa será incapaz de concorrer à presidência do ano que vem como planejava. Quando questionada sobre a possibilidade de tentar a presidência em 2027 se for autorizada, Le Pen inicialmente transmitiu a ideia de que não via essa possibilidade como viável, devido ao tempo requerido para que uma nova etapa do processo fosse concluída. No entanto, entrou com um recurso de apelação que poderia diminuir o período de inelegibilidade, ou removê-lo completamente, sendo julgado e acelerado no fim deste ano ou no início de 2026, embora suas chances sejam pequenas. 

Denunciando o que ela qualificou como uma decisão "política" do juiz e uma "transgressão ao estado de direito", ela solicitou um julgamento ágil de recurso, a fim de que seu nome pudesse ser limpo, ou pelo menos a inelegibilidade fosse suspensa a tempo das eleições de 2027. "Há milhões de franceses que acreditam em mim. Por 30 anos, tenho lutado contra a injustiça. É o que continuarei fazendo até o fim", afirma.


Porém, a figura do jovem de 29 anos, Jordan Bardella, pode ser considerada a situação mais realista do que possa vir. Ao ser questionada sobre a possibilidade de Bardella poder substituí-la na próxima disputa presidencial, ela demonstrou resistência. “Recorrer a Bardella muito rapidamente seria imprudente” concluiu Le Pen.

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​Le Pen e Bardella, uma nova figura para a extrema direita francesa. Foto: Raphael Lafargue/ABACAPRESS.COM//)

 

Yan Boechat, jornalista da Band que foi à Ucrânia cobrir o conflito com a Rússia denuncia os riscos desse tipo de atuação dentro do campo
por
Fabrício Gracioso
Letícia Coimbra
Mariana Luccisano Coelho
Majoí Costa
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31/03/2022 - 12h

A guerra entre Rússia e Ucrânia é um dos conflitos mais intensos e devastadores do século 21. Uma estimativa apontada pela ONU (Organização das Nações Unidas) diz que em um mês de guerra, completado no dia 24 de março de 2022, mais de 1.040 civis ucranianos morreram e mais de 1.600 ficaram feridos. Além disso, milhões de ucranianos já tiveram que deixar o país por conta da invasão russa. Diante disso, diversos jornais de vários países enviaram correspondentes (repórteres e fotógrafos), para fazerem a cobertura do conflito. Porém, devido a periculosidade da situação, ao menos seis profissionais vieram a falecer.

Em conversa com Yan Boechat, o fotógrafo e jornalista enviado pela Band e Voice of America para registrar o conflito, "conta que a guerra é um ambiente muito intenso e que na maioria dos casos os profissionais vão por conta própria e destaca o perigo de ir em zonas que não foram dominadas por ambos os lados do embate".

Segundo o fotógrafo, profissionais menos experientes tendem a cometer mais erros ou atitudes que os levam ao perigo e risco de vida. Como se trata de um conflito armado, o cuidado e a sensibilidade das ações dos repórteres devem ser muito maiores.

Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, Boechat iniciou sua carreira escrevendo sobre política e economia. Depois disso seu trabalho em relações exteriores tomou forma e começou a cobrir conflitos em diversos países, já tendo passado pela Síria, Afeganistão, Líbano, Iraque, Egito, Venezuela e Tunísia.

De acordo com ele, o conflito mais marcante em seus 19 anos de experiência foi o primeiro: “Te marca mais. Eu fui para o Afeganistão em 2003 e foi muito impactante pra mim”. Boechat também enfatiza o valor da experiência, alegando que o profissional “vai aprendendo com os anos, cada conflito é diferente, vai aprendendo um pouco, tentando minimizar os riscos [...] é um processo lento, como qualquer coisa na vida”.

A motivação para cobrir um conflito armado é essencial e também deve ser comentada, até mesmo porque o risco de se realizar tal tarefa é enorme. Ao ser perguntado sobre isso, Boechat diz que sempre gostou de história e acha que o conflito é um momento definidor dela. “Os conflitos sempre vão definir o rumo de nossa história como sociedade e acho que é um privilégio estar ali, assistir essa história acontecer”, afirmou.

De acordo com o jornalista, depois de anos de experiência, o cinismo passa a ser uma característica cada vez mais marcante no seu dia a dia. “É triste, mas faz parte da vida. Ainda assim é ruim ver pessoas sendo vítimas de uma guerra que em geral não tem nada a ver com elas, são as mais prejudicadas[...] mas se isso te afetar demais você não consegue trabalhar”.

Após ser perguntado sobre os protocolos gerais que devem ser seguidos para realizar essa perigosa cobertura, Boechat dá mais detalhes a respeito: “Costuma ser cada um por si, mesmo com o apoio dos colegas, mas cada um atrás da sua história”. O jornalista deu destaque para a necessidade de planejamento, uma vez que aumenta a dificuldade de encontrar prestadores de serviços como motoristas e tradutores devido ao receio que os mesmos têm da guerra, resultando em um número pequeno de pessoas para auxiliar os jornalistas. Ainda apontou a relevância também do colete e os riscos minimizados por ele, mas diz que é melhor levar o próprio equipamento.

Além disso, Boechat ressalta o cuidado que, segundo ele, deve ser tomado ao entrevistar pessoas cujo cargo representa um poder elevado. “O jornalista precisa ter consciência de que ele é visto como um instrumento de propaganda, então você vai para lá e os caras vão querer te usar como propaganda para o que eles querem mostrar”.

Por fim, ele afirma que para executar esse trabalho, ter calma é essencial, porque o profissional “se coloca em risco e coloca as outras pessoas em risco, então se você se desesperar (outros jornalistas) não vão querer trabalhar com você, não é um ambiente fácil, tem bastante tensão”.

 

A coalizão “semáforo”, liderada pelo Partido Social-Democrata (SPD), com o Partido Democrático-Liberal (FDP) e Os Verdes, tomou posse oficialmente em Berlim
por
Luan Leão
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08/12/2021 - 12h

Fim de uma era

Nesta quarta-feira (8), Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), tornou-se oficialmente primeiro-ministro da Alemanha, colocando fim aos 16 anos de governo da democrata-cristã Angela Merkel. No cargo de chanceler federal desde 2005, Merkel deixa o poder aos 67 anos, e após 5.860 dias de governo. A “mutti”, mamãe em alemão, apelido carinhoso que recebeu em 31 anos na vida pública, ficou a 5 dias de bater o recorde de longevidade de Helmut Kohl (1982-1998). Nem mesmo os muitos anos na política desgastaram a popularidade de Merkel, segundo pesquisa recente do Pew Institute, 72% dos entrevistados, em todo o mundo, confiam nela. “Angela Merkel foi uma chanceler que teve êxito”, elogiou o novo chanceler Olaf Scholz, segundo ele, Merkel “permaneceu fiel a ela mesma durante 16 anos marcados por várias mudanças”.

Angela Merkel se despediu do cargo no dia 24 de novembro
Angela Merkel recebeu flores de Olaf Scholz, em Berlim, no dia 24 de novembro. Foto: Markus Schreiber/AP Photo

O social-democrata de 63 anos foi eleito pela câmara baixa do Bundestag (parlamento alemão) por 395 votos a favor, 303 contra e 6 abstenções, dos 736 votos dos deputados. A coalizão “semáforo” tem 416 assentos do parlamento, porém muitos deputados estavam ausentes na votação de hoje (8), que registrou a presença de 707 parlamentares.

Scholz vai liderar a coalizão que conta, além dos social-democratas, com os liberais e os verdes. Isso porque nas eleições de 26 setembro, o SPD foi o partido mais votado, recebendo 25,7% dos votos, ficando à frente da União Cristã Democrata (CDU), partido de Merkel, que registrou seu pior resultado da história com 24,1%. Os Verdes registraram o melhor resultado de sua história com 14,8% dos votos, os liberais obtiveram 11,5%. Essa será a primeira vez que uma tripla coalizão governará a Alemanha desde 1950, e marca a volta dos social-democratas à chancelaria federal, o último social-democrata a comandar o país havia sido Gerhard Schröder (1998-2005).

Olaf Scholz sendo aplaudido por parlamentares
Olaf Scholz é aplaudido por parlamentares alemães após ser eleito para o cargo de chanceler. Foto: Reuters

Após a votação, Scholz, de máscara, recebeu aplausos e buquês de flores de líderes dos diferentes grupos parlamentares do Bundestag. Depois, foi recebido pelo presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que o entregou a “ata de nomeação”, o que estabelece o início oficial de seu mandato de quatro anos. Em seguida, Scholz retornou ao Bundestag para prestar juramento ao cargo, antes de seguir para a chancelaria federal para a transferência de poder.

Olaf Scholz recebe flores após ser eleito
Olaf Scholz recebe flores após ser eleito chanceler pelo Bundestag. Foto: Fabrizio Bensch/ Reuters


O novo governo

Esse será o primeiro governo com paridade de gêneros nos ministérios. Cumprindo promessa de campanha, oito pastas serão comandadas por mulheres e oito por homens. O percentual de 50% de mulheres comandando ministérios é o maior da história da Alemanha. Por liderar a coalizão, o SPD ocupa mais ministérios, os verdes ficaram com a vice-chancelaria e os liberais com o ministério considerado o mais importante, que é o de finanças. “Estou particularmente orgulhoso de que as mulheres agora estão a partir de agora à frente de ministérios que tradicionalmente não eram ocupados por elas”, afirmou Olaf Scholz.

A média de idade do novo governo é de 50,4 anos, menor do que a média de todos os inícios de legislatura dos quatro governos anteriores governados por Merkel. O último mandato de Merkel tinha média de idade de 51,4 anos. Aos 63 anos, Scholz é o mais velho do governo. As ministras mais jovens são Annalena Baerbock e Anne Spiegel, do partido Verde, que completam aniversário no mesmo dia, e farão 41 anos em 15 de dezembro

Veja a composição do novo gabinete:

Robert Habeck, 52 anos, co-presidente do partido Verde, será o vice-chanceler e ministro da Economia e Energia

Annalena Baerbock, 40 anos, co-presidente do partido Verde, candidata a chanceler pelo partido na última eleição, será a primeira mulher a comandar o ministério do Exterior

Christian Lindner, 42 anos, presidente do partido liberal, será o ministro das Finanças, considerado o mais poderoso dos ministérios

Nancy Faeser, 51 anos, líder do SPD no estado de Hasse, será a primeira mulher a comandar o ministério do Interior

Karl Lauterbach, 58 anos, o parlamentar social-democrata é epidemiologista e ocupará o cargo de ministro da Saúde, o novo ministro defende medidas mais rígidas contra a COVID-19

Christine Lambrecht, 56 anos, a social-democrata comandará o ministério da Defesa, sendo a terceira mulher a comandar a pasta de forma consecutiva

Wolfgang Schmidt, 51 anos, o social-democrata será o chefe da chancelaria federal, que coordena os trabalhos entre os diferentes setores do governo

Svenja Schulze, 53 anos, a social-democrata será uma das remanescentes da gestão Merkel, mas irá migrar de pasta, sairá do ministério do Meio Ambiente e irá para o ministério do Desenvolvimento

Steffi Lemke, 53 anos, do partido Verde assume o ministério do Meio Ambiente

Marco Buschmann, 44 anos, o membro do partido liberal será o novo ministro da Justiça

Anne Spiegel, 40 anos, do partido Verde vai comandar o ministério da Família

Klara Geywitz, 45 anos, a vice-líder do SPD estará a frente do ministério da Construção e Habitação

Bettina Stark-Watzinger, 53 anos, do partido liberal vai ocupar o cargo de ministra da Educação e Pesquisa

Claudia Roth, 66 anos, será a nova ministra da Cultura e Mídia, essa é uma pasta que ainda não tem status de ministério

Hubertus Heil, 49 anos, o social-democrata segue como ministro do Trabalho e Assuntos Sociais

Cem Özdemir, 55 anos, ex-co-presidente do partido Verde, ocupará o cargo de ministro da Agricultura. Essa será a primeira vez que a Alemanha terá um ministro com raízes turcas

Volker Wissing , 51 anos, o liberal será o ministro dos Transportes e Digitalização

O novo governo assume com um agravamento da pandemia no país. Nesta quarta-feira (8) a Alemanha registrou um recorde no número de mortes por COVID-19, com 527 óbitos em 24 horas, maior número em mais de dez meses, segundo autoridades locais. O novo primeiro-ministro e o novo ministro da saúde defendem ações mais rigorosas em relação a pandemia, Scholz já fez a defesa da vacinação obrigatória, o que poderia ocorrer entre fevereiro e março de 2022.

De acordo com os manifestantes, os protestos acontecem devido s longas filas para compra de alimentos, a falta de medicamentos e a alta dos preços.
por
Mariana Lopes
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02/12/2021 - 12h

Após seis décadas sob o comando dos irmãos Castro, Fidel e Raúl, em 2018, Miguel Díaz-Canel assumiu o poder em Cuba, aos 58 anos de idade.

Naquele momento, há quase três anos, sua entrada no mundo político era uma incógnita para grande parte das pessoas.

Em Villa Clara, sua cidade natal, era visto como um político “comprometido” e “tolerante”, porém, assim que Raúl Castro começou a mostrar interesse nele, tem  feito declarações que o afastam de seu perfil de "pró-abertura". Ele tem reafirmado ideias comunistas e prometido persistir "na marcha triunfante da Revolução".  

Para Antonio Rodiles, ativista anticastrista, Díaz-Canel "é uma pessoa apagada que repete como um robô o que tem sido dito em Cuba nos últimos 60 anos".

No dia 11 de julho de 2021, milhares de cubanos foram as ruas, aos gritos de “abaixo a ditadura” e “não temos medo”. Este movimento teve inicio nas redes sociais. Em resposta, o presidente Miguel Diaz, também pelas redes sociais, pediu que as pessoas fossem as ruas enfrentar os manifestantes.

"Não vamos admitir que nenhum contra-revolucionário, nenhum mercenário, nenhum vendido ao governo dos Estados Unidos, vendido ao império, recebendo dinheiro das agências, se deixando levar por todas as estratégias de subversão ideológica, desestabilize nosso país", adicionou.

"Haverá uma resposta revolucionária", disse ele, conclamando os adeptos ao comunismo a enfrentar os protestos com "determinação, firmeza e coragem". Suas ações foram vistas pela oposição como uma incitação a uma guerra civil.

De acordo com os manifestantes, os protestos acontecem devido s longas filas para compra de alimentos, a falta de medicamentos e a alta dos preços. "O problema é que o governo não tem divisas estrangeiras para importar comida, remédios ou combustível, então há escassez de todos os gêneros de primeira necessidade nas lojas", explica o especialista em assuntos latino-americanos William LeoGrande, professor da American University.

Além disto, continua, "ocorrem blecautes de eletricidade que lembram aos cubanos os piores tempos dos anos 1990, após do colapso da União Soviética; e o povo está frustrado com o alastramento da covid-19".

De acordo com a BBC, que entrevistou inúmeros cubanos, muitos manifestantes relataram a perda de parentes, muitos deles falecendo dentro de suas casas, pois o sistema de saúde do país já havia sofrido um colapso e não havia mais remédios nos hospitais e farmácias.

O presidente americano Joe Biden se mostrou favorável as manifestações e disse: "Estamos do lado do povo cubano e de seu chamado pela liberdade e por um alívio das trágicas garras da pandemia e de décadas de repressão e sofrimento econômico a que os cidadãos têm sido sujeitos pelo regime autoritário de Cuba."

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também se mostrou solidário com as manifestações. Por outro lado, México e Rússia alertaram os outros países que a situação em Cuba poderia ser pretexto para interferência estrangeira em assuntos cubanos.

Os protestos foram reprimidos pela polícia e em vídeos feitos pelos manifestantes é possível ver esses enfretamentos.

Uma nova Marcha pela Mudança foi marcada para o dia 15 de novembro. O governo cubano proibiu a marcha e a classificou como um o ato de “provocação de Washigton”.

Horas após o ato ter sido proibido, o grupo no Facebook que organiza o evento, Archipiélago publicou: "No dia 15 de novembro, nossa decisão será marchar cívica e pacificamente pelos nossos direitos. Frente ao autoritarismo, responderemos com civismo e mais civismo".

No dia dos protestos, um cerco policial havia sido imposto nos locais que receberiam os manifestantes, o que ao final, deixou os locais praticamente vazios de pessoas.

Aqueles que tentaram quebrar o cerco foram presos ao longo da tarde com a desculpa de que a manifestação fora proibida pelo governo.

A data foi escolhida por ser o primeiro dia em que os turistas voltariam para Cuba após o começo da pandemia e também marcaria o aniversário de Havana.

Até agora, a repressão do movimento já levou a prisão 1.175 pessoas, e mais da metade continua atrás das grades, de acordo com a associação Cubalex, que monitoria as prisões políticas da ilha.

O evento realizado em Glasgow, na Escócia, prometia medidas mais assertivas contra o aquecimento global, mas deixa a desejar. Discursos trazem à tona condições de países que já sofrem com as mudanças climáticas.
por
João Curi
Anna Cecilia Nunes
Matheus Marcolino
Sônia Xavier
|
18/11/2021 - 12h

Por Anna Cecilia Nunes, João Curi, Matheus Marcolino e Sonia Xavier

No dia 13 de novembro foi encerrada a COP-26, com previsão inédita da redução gradativa de subsídios aos combustíveis fósseis e do uso de carvão. A conferência foi sediada em Glasgow, na Escócia, e marcou a finalização do livro de regras do Acordo de Paris com a aprovação do artigo 6º, referente ao mercado de carbono.

Com quase 200 países signatários, o documento sofreu críticas quanto às reivindicações não atendidas de países em desenvolvimento, que clamam por justiça climática e recursos financeiros para ações preventivas. “As mudanças climáticas e o aumento do nível do mar são riscos mortais e existenciais”, discursou Simon Kofe, ministro de Tuvalu, em vídeo gravado de dentro do mar. “Estamos afundando, mas o mesmo está acontecendo com todos. E não importa se sentimos os efeitos hoje, como Tuvalu, ou daqui a 100 anos. Todos vamos sentir os efeitos mortais dessa crise global um dia”.

Ministro Simon Kofe, de Tuvalu, grava discurso para COP-26 de dentro do mar. (Reprodução/Governo de Tuvalu/Redes sociais)
Ministro Simon Kofe, de Tuvalu, grava discurso para COP-26 de dentro do mar. (Reprodução/Governo de Tuvalu/Redes sociais)

O relatório definiu o compromisso de “reduzir o uso de carvão e subsídios aos combustíveis fósseis”, após pedido de última hora da delegação indiana, com apoio da China e dos Estados Unidos, para substituir o termo “eliminar”, sugerido inicialmente. “Os textos aprovados são um compromisso”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. “Eles refletem os interesses, condições, contradições e o estado das vontades políticas”.

 

Acordo de Paris

No dia 12 de dezembro de 2015, em reunião composta por quase 200 países, foi aprovado  o Acordo de Paris. O tratado substituiu o Protocolo de Kyoto, em razão de estar mais alinhado aos desejos das novas ideologias e nações. 

“O Protocolo de Kyoto tinha uma aplicação mais restrita, sendo aplicável aos países considerados desenvolvidos em 1997, e não tendo instrumentos de revisão que permitissem lidar com transformações no cenário econômico internacional”, explica Pedro Silva, pesquisador e doutorando em Relações Internacionais da PUC-Rio. “Isso excluiu, por exemplo, a China, que teve um intenso processo de industrialização e desenvolvimento, das obrigações relativas ao protocolo”.

Silva também afirma que o documento anterior considerava apenas a limitação do efeito estufa, ao passo que o Acordo de Paris tem por objetivo principal impedir a aceleração do aquecimento global, além da vantagem de ser aplicado a todos os países.

De acordo com um comunicado da OMM (Organização Meteorológica Mundial), publicado no início de 2021, os últimos seis anos foram os mais quentes da história da humanidade desde o início da “era industrial”, em 1880. Só no ano passado, o planeta registrou um aumento de 1,2ºC.

O tratado, em vigor desde 2016, estabelece medidas para o combate às mudanças climáticas; entre elas, limitar o aumento de temperatura global a 1,5ºC, aumentar o uso de fontes alternativas de energia, utilizar tecnologia limpa nas indústrias e diminuir os índices de desmatamento.

 

Mercado de carbono

O artigo 6º do Acordo de Paris se refere ao carbono como uma forma simples de nomear os gases que contribuem para o aquecimento global - já que o CO2, ou gás carbônico, é o mais comum desse tipo.

Tudo funciona como um mercado: existe a compra e venda de “créditos de carbono”, de acordo com a taxa de emissão de cada país. Aqueles que mais cortarem a emissão de CO2 terão direito a mais créditos e, consecutivamente, podem vendê-los por dinheiro real. Esta é uma estratégia para envolver mais o mercado, de forma a impulsionar as medidas climáticas.

Pedro Silva reforça a importância do envolvimento de empresários neste processo, mas teme que o financeiro se sobreponha ao ambiental e que a novidade não seja efetiva. “Isso [mercado de carbono] é defendido como mecanismo válido de política ambiental, mas, no fim, não viabiliza nem estimula nenhuma redução nos níveis de emissão de gases poluentes. Apenas tenta precificar as emissões”.

 

Maiores emissores de CO2

Os Estados Unidos e a China são os países com o maior acúmulo de emissões de gases de efeito estufa no mundo, considerando o período de 1850 a 2021, seguidos por Rússia, Brasil e Indonésia. Nos dois últimos, a maior parte das emissões vêm do desmatamento e do uso do solo para a agropecuária, ao contrário dos três primeiros colocados, que têm os combustíveis fósseis como principal fonte.

Em 2019, segundo análise do Grupo Rhodium, a China emitiu cerca de 2,5 vezes mais gases de efeito estufa do que os Estados Unidos. Em termos equivalentes de CO2, a gigante asiática emitiu 14,1 bilhões de toneladas métricas no ano analisado, o que equivale a um quarto das emissões totais do mundo.

Apesar da China ser atualmente o maior emissor, nenhum país lançou mais gases de efeito estufa na atmosfera do que o gigante capitalista Estados Unidos.  Isso se torna importante devido às emissões liberadas há centenas de anos, que contribuem para o aquecimento global ainda nos tempos atuais.

Mesmo sendo um país enorme com 1.4 bilhão de habitantes, as emissões per capita chinesas (10,1 toneladas) ainda foram menores, se comparadas às americanas (17,6 toneladas), em parte pela diferença no estilo de vida entre as nações. Os estadunidenses ganham mais dinheiro, possuem mais carros que consomem gasolina e voam mais do que o cidadão chinês médio, segundo o Relatório de Transparência Climática de 2021.

Gráfico da BBC indicando os países com maior acúmulo de emissões de 1850 a 2021
(Reprodução/BBC)

Os combustíveis fósseis representam 87% da matriz energética da China:  60 % carvão, 20% petróleo e 7% gás natural. Nos Estados Unidos, 80% da sua matriz depende também desses combustíveis, cerca de 33% vêm do petróleo, 36% do gás natural e 11% do carvão, de acordo com dados da Enerdata, empresa independente de pesquisa de energia.

A China hoje é a maior consumidora e produtora de carvão mundial. Não à toa o país pressionou por uma mudança-chave no texto final da COP 26.

 

Ainda há muito a ser feito

Os países signatários do Acordo de Paris se comprometeram a estabelecer Contribuições Nacionais Determinadas (NDC, na sigla em inglês), definindo metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2030. Enquanto o principal objetivo é estabilizar o aquecimento global em uma temperatura “muito abaixo” dos 2ºC, as expectativas atuais chegam a 2,7ºC, em comparação com níveis pré-industriais.

Gráfico "Quanto pode piorar?", da BBC. Emissões e aquecimento global esperado até 2100, segundo dados da Climate Action Tracker.
(Reprodução/BBC)

“O problema é que nós temos uma lacuna de emissões entre uma carta de boas intenções dos governos, e o que é submetido por cada país na prática”, alerta a cientista e professora Joana Portugal, em entrevista à ONU News. “Nós estamos caminhando numa forma muito lenta, com passos de caracol, quando deveríamos estar pegando o trem-bala japonês”.

Em referência ao “Relatório sobre as Lacunas de Emissões 2021”, publicado pelas Nações Unidas em outubro deste ano, a coautora revela que foram avaliadas as metas e os compromissos firmados pelo grupo de países do G20, e que “nenhum deles têm metas ambiciosas e compatíveis com o Acordo de Paris”.

Com a Conferência do Clima em Glasgow, 124 delegações - 123 países mais a União Europeia - apresentaram novas metas para os próximos anos. Embora alguns países não tenham reforçado suas ambições, como México, Brasil, Austrália, Indonésia e Rússia, os demais membros do G20 submeteram NDC’s mais expressivas, segundo dados da Climate Action Tracker (CAT).

Das lacunas aos avanços históricos nas negociações climáticas, a aprovação unânime do documento não correspondeu à notável decepção de representantes com o texto final.

Ativistas também manifestaram duras críticas à conferência.

“A #COP26 acabou. Aqui está um breve resumo: Blah, blah, blah”, publicou Greta Thunberg em suas redes sociais. “Mas o verdadeiro trabalho continua fora desses corredores. E nunca vamos desistir, nunca”.

Após semanas de negociações, e dois meses após a eleição, a coalizão “semáforo” chegou a um acordo na tarde desta quarta-feira (24).
por
Luan Leão
|
24/11/2021 - 12h

Olaf Scholz, de 63 anos, do Partido Social-Democrata (SPD), atual vice-chanceler, deve ser eleito pelo Bundestag (Parlamento) para o cargo de chanceler, substituindo Angela Merkel após 16 anos. O último chanceler do SPD foi Gerhard Schroeder, entre 1998 e 2005.

Quase dois meses após as eleições, ocorridas em 26 de setembro, o SPD chegou a um acordo de coalizão junto ao Os Verdes e ao Partido Liberal Democrático (FDP). A coalizão denominada de “Ampel”, que significa semáforo em alemão, recebeu esse nome em referência às cores dos partidos: vermelho do SPD, amarelo do FDP e verde.

Os três partidos negociavam desde o final de outubro, e convocaram uma entrevista coletiva para a tarde desta quarta-feira (24) para apresentar detalhes do acordo. A expectativa é que o líder social-democrata Olaf Scholz seja eleito na semana do dia 6 de dezembro.

Líderes da coalizão "Ampel"
Annalena Baerbock, Os Verdes, Olaf Scholz, SPD, e Christian Lindner, FDP, em coletiva no final de outubro. Reprodução: Reuters 

“O semáforo existe”, afirmou Scholz na coletiva desta quarta. Para o futuro chanceler, a aliança vai “promover, impulsionar e levar adiante a soberania europeia”. A coalizão liderada pelos social-democratas terá 416 dos 736 assentos do Bundestag, e será a primeira coalizão tripartidária a governar a Alemanha desde 1950. É a primeira vez que a coalizão “semáforo” governa em nível federal.

O SPD foi o partido mais votado na última eleição com 25,7% dos votos. Os Verdes atingiram o melhor resultado de sua história com 14,8% dos votos, e os liberais alcançaram 11,5%. A União Democrata-Cristã (CDU), partido de Angela Merkel, e seu partido irmão, a União Social-Cristã (CSU), amargaram seu pior resultado da história, com 24,1% dos votos. Vale lembrar que a coalizão liderada por Merkel desde 2013, e chamada de “grande coalizão”, tem como integrantes a CDU/CSU e o SPD. Neste pleito, os partidos descartaram a manutenção da aliança. 

O líder dos liberais, Christian Lindner, reforçou a confiança em Scholz. “Olaf Scholz será um chanceler forte para a Alemanha”, afirmou na coletiva. Assim como Merkel, Scholz é tido como um político pragmático e pouco carismático, mas também como alguém que cumpre metas e capaz de lidar com temas espinhosos.

"Ousadia para mais progresso"

O acordo divulgado entre os partidos é intitulado de “Ousadia para mais progresso. Aliança para a liberdade, justiça e sustentabilidade”. Segundo o acordo, o líder dos liberais, Christian Lindner, substituirá Olaf Scholz e será o novo ministro das Finanças. A líder dos verdes, Annalena Baerbock, será a ministra das Relações Exteriores, e o também líder dos verdes, Robert Habeck, será o responsável pelo superministério da Economia, Energia e Clima. Por serem majoritários na coalizão, os social-democratas terão mais pastas, incluindo Saúde, Trabalho, Interior e Defesa. 

O acordo prevê um aumento do salário mínimo de 9,60 para 12 euros a hora. Além disso, a coalizão espera uma expansão maciça das energias renováveis, com a meta de que até 2030, as energias eólicas e solar sejam responsáveis por 80% da produção de energia do país. Scholz prometeu também distribuir 1 bilhão de euros em bônus para trabalhadores da saúde na linha de frente do combate a COVID-19. 

A Alemanha vive um agravamento da crise sanitária do país, batendo recordes de contágios diários, e vendo uma elevação no número de mortos. O agravamento já obrigou diversos estados a adotarem medidas restritivas, como o fechamento de mercados de Natal e a proibição da entrada de não vacinados em restaurantes.