A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

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Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

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Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
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O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Macron enfrenta dificuldade para lidar com manifestantes
por
Chloé Dana
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17/09/2025 - 12h

 

Na terça-feira da semana passada,a (9) o primeiro-ministro, François Bayrou, perdeu o voto de confiança no Parlamento e renunciou ao cargo. A decisão foi tomada pela Assembleia Nacional com 364 votos contrários e 194 a favor, após o fracasso de Bayrou em obter apoio para o plano orçamentário de 2026. 

O presidente, Emmanuel Macron, já nomeou no dia seguinte o novo primeiro-ministro Sébastien Lecornu e foi o suficiente para gerar mobilizações. Os manifestantes tomaram as ruas de várias cidades, bloquearam rodovias, queimaram lixeiras e entraram em confronto com a polícia. O movimento, denominado “Bloqueie Tudo”, tomou força no verão europeu deste ano, ao motivar os cidadãos a se manifestarem contra uma redução no orçamento de 44 bilhões de euros divulgada pelo ex-primeiro-ministro François Bayrou. 

Entre as demandas estão um aumento nos recursos para serviços públicos, tributos para os mais ricos, a suspensão do aumento dos aluguéis, contra a classe política e cortes orçamentários, e a saída de Macron do cargo. Na quarta-feira (10), 80 mil forças de segurança foram acionadas em todo o território nacional, com 6 mil apenas em Paris. Conflitos foram registrados em lugares como Rennes, Nantes, Montpellier e Toulouse, além da cidade capital.

A crise atual se aprofundou com a recente renúncia de seu primeiro-ministro, François Bayrou. Essa foi a quinta mudança de primeiro-ministro em menos de dois anos, evidenciando fragilidade no governo.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária. 

Além disso, o problema não se limita apenas ao primeiro-ministro, mas também alcança o presidente. “Os ministros representam um obstáculo, mas a verdadeira questão é Macron e sua maneira de liderar. Ele deve se afastar”, declarou Fred, líder do sindicato de transportes em Paris, para um jornal francês. Especialistas em política na França sugerem que a crise revela a exaustão do modelo político de Macron, que está sob pressão tanto da direita quanto da esquerda, e que pode enfrentar, nos próximos meses, seu maior teste de governabilidade desde 2018.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária.

 

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Manifestantes vão à rua em protesto. Foto: Julia Braun, BBC 

 

Manifestações escalaram após bloqueio de redes, levando à renúncia do premiê
por
Kimberlly Ramos
Maria Clara Palmeira
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18/09/2025 - 12h

Protestos massivos liderados por jovens nepaleses da Geração Z (1995 - 2010), reivindicam o fim da corrupção generalizada e criticam a desigualdade social nepalesa. O país atravessa sua pior crise política desde o fim da monarquia, em 2008.

O estopim da revolta ocorreu na quinta-feira (4), com o bloqueio de mais de 20 redes sociais (entre elas Instagram, Whatsapp e X) no país, sob a alegação do governo de que as normas de regulamentação nepalesas não estavam sendo cumpridas pelas plataformas e também como meio para evitar a propagação de notícias falsas e discursos de ódio. As autoridades afirmaram ainda que prezam pela liberdade de expressão, mas que precisam que as plataformas tenham responsabilidade e sejam bem administradas, com a nomeação de representantes legais no país. 

A medida foi tomada durante uma campanha que estava viralizando nas mídias sociais, intitulada “nepo kids”, que denunciava a corrupção política no Nepal e a vida de ostentação exibida por filhos de governantes; isso, em contraste com as dificuldades que o restante da população enfrenta para sobreviver, segundo a trend. A proibição das redes foi recebida com revolta e foi vista pelos jovens como forma de silenciar as denúncias contra a corrupção. Os manifestantes se uniram contra o decreto, tomaram as ruas da capital nepalesa Katmandu e marcharam até o Parlamento em 8 de setembro. Em resposta ao movimento, a polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água e balas de borracha durante confronto para tentar conter a multidão; 19 pessoas morreram apenas no primeiro dia.

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Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X
Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X

As mortes levaram à intensificação dos protestos no dia 9, provocando incêndios em prédios do governo e no Parlamento Federal. Residências de políticos também foram incendiadas pelos manifestantes, como a do ex-primeiro-ministro Jhala Nath Khanal, resultando na morte de sua esposa, que estava dentro da casa no momento do ataque.

Com a escalada do conflito, o primeiro-ministro Khadga Prasad Oli renunciou ao cargo e o número de mortes foi atualizado para 25. O bloqueio das redes foi revogado, como meio de conter a revolta, mas as manifestações seguiram, com a insatisfação dos jovens nepaleses se ampliando em relação às práticas corruptas. 

Na sexta-feira (12), o presidente Ramchandra Paudel dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para 5 de março de 2026. Simultaneamente, Paudel nomeou Sushila Karki, ex-presidente da Suprema Corte, como primeira-ministra interina, tornando-se a primeira mulher a liderar o governo do Nepal. Karki, conhecida por decisões judiciais contra casos de corrupção e pela promoção da igualdade de gênero, recebeu apoio direto dos manifestantes, que debatiam os próximos passos em plataformas digitais como Discord.

No dia 13, a normalidade começava a retornar a Katmandu: lojas reabriram, veículos voltaram às ruas e a presença militar foi reduzida. Karki visitou jovens feridos e recebeu pedidos de familiares das vítimas, que exigiam reconhecimento dos mortos e compensações financeiras. Organizações internacionais de direitos humanos pedem que o novo governo acabe com a “impunidade do passado” e investigue os responsáveis pelas mortes.

O desafio de Karki será recuperar a confiança da população, conduzir as eleições em março e entender as reivindicações da juventude, que desempenhou papel central nas recentes mobilizações. Com 22% dos jovens entre 15 e 24 anos desempregados e um quinto da população vivendo na pobreza, a Geração Z nepalesa já demonstrava frustração. O bloqueio das redes sociais foi a faísca de um descontentamento acumulado.

“O tempo está passando rápido. Diariamente dezenas de palestinos são assassinados", afirma professor Rodrigo Amaral, da PUC-SP
por
Renata Bittar
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02/09/2025 - 12h

Em meio a tensões políticas e crises diplomáticas, o conflito entre Israel e Gaza se intensifica. Recentemente, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de assumir o controle total da Faixa de Gaza. Embora a operação ainda não tenha sido confirmada, o governo de Israel afirma que o objetivo seria expulsar o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) e instaurar um governo civil no território. Em entrevista à BBC, Netanyahu declarou que Israel busca “libertar o povo de Gaza do terrível terror do Hamas”.

O Estado de Israel mantém os bombardeios e ataques contra Gaza. A recusa de um cessar-fogo imediato resultou em um aumento no número de mortes, destruição de cidades inteiras e no agravamento de uma crise humanitária de grande proporção.

Em entrevista exclusiva à AGEMT, o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Rodrigo Amaral, pesquisador especializado em Estados Unidos e Oriente Médio, avaliou que a imagem de Israel no cenário internacional tem se deteriorado. “Mesmo que Israel mantenha fortes relações, sobretudo comerciais, com diversos países, o debate sobre boicotes — antes distante do imaginário internacional — começa a ganhar força”, afirmou.

Nos últimos meses, países como Canadá e França passaram a reconhecer a Palestina como um Estado legítimo. A decisão, vinda de nações com peso político relevante, chamou atenção e fortaleceu o movimento palestino. Para Amaral, o gesto reforça a percepção de que a comunidade internacional demonstra, de forma mais concreta, a intenção de apoiar a criação de um Estado palestino autônomo. “É um marco para esses países reconhecerem a Palestina, sobretudo por serem nações tradicionalmente alinhadas à lógica norte-americana”, destaca o professor.

Ao contextualizar o conflito, Amaral lembra que eventos como a Primeira Guerra Mundial, a Guerra Fria e a Crise de Suez contribuíram para o deslocamento forçado dos palestinos à Faixa de Gaza. Questionado sobre a possibilidade de o território voltar à “normalidade”, ele pondera que “nunca existiu normalidade em um espaço onde a população vive confinada”. “Gaza é controlada por autoridades estrangeiras, Israel e Egito. Dentro dessa realidade sociopolítica, tenta-se construir uma vida cotidiana, mas os palestinos sempre foram empurrados para esse território”, afirma.

Entre o impasse político e as operações militares, as ações de ambos os lados se intensificam. O próximo passo declarado por Netanyahu seria a desocupação total de Gaza pelos palestinos que ainda vivem no local e a busca por outros territórios que os recebam. “É importante lembrar que Gaza já era um espaço de refúgio, pois a maioria dos palestinos que vive lá não é originária do território”, acrescenta Amaral. Segundo ele, a tendência é a manutenção de um controle militar em Gaza, provavelmente acompanhado de presença ativa de Israel durante o processo de reconstrução.

 

Nova operação de Israel intensifica bombardeios na Cidade de Gaza em 28/08/2025 Imagem: Reprodução/Reuters/ Dawoud Abu Alkas

 

 

 

 

Apesar do apoio crescente de diversos países à causa palestina, o cenário das relações internacionais ainda é fortemente influenciado pelas grandes potências ocidentais. Esses atores exercem papel decisivo na definição da ordem global e, frequentemente, detêm o poder de determinar os rumos das ações multilaterais. Segundo Rodrigo Amaral, é incomum observar um consenso entre nações como Canadá, França e Austrália ao se posicionarem contra a ofensiva israelense em Gaza. Por meio de mecanismos intergovernamentais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), esses países podem contribuir propondo cessar-fogo e planos de retirada militar da região.

Além da pressão diplomática, Amaral aponta que as nações contrárias à atuação de Israel podem adotar boicotes econômicos como forma de protesto. Essa medida, explica ele, visa prejudicar setores estratégicos da economia israelense e pressionar o governo pelo encerramento das operações militares. “O tempo está passando rapidamente. Diariamente, dezenas de palestinos são assassinados. Ações concretas ainda não foram tomadas; pelo contrário, observamos um aumento dos impasses diplomáticos”, afirma o professor.

Atualmente, estima-se que a ocupação militar israelense em Gaza já abrange quase 90% do território. O governo de Benjamin Netanyahu mantém a meta de ampliar o controle e promover a retirada total dos palestinos que ainda vivem na região. De acordo com Amaral, o número de vítimas ultrapassa 60 mil palestinos desde o início do conflito. “A tendência é que o desfecho desse confronto resulte na consolidação dos interesses israelenses. Apesar do posicionamento da comunidade internacional e das pressões de movimentos sociais transnacionais, persiste um cenário de impunidade e continuidade das ações militares de Israel”, conclui.

 

 

Mesmo sem tapete vermelho ou apresentações, evento consagrou artistas, incluindo Anitta e Matuê
por
Victória da Silva
Vitor Nhoatto
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16/11/2023 - 12h

 

Criado em 1994 pela MTV, se opondo aos prêmios estadunidenses, o European Music Awards (EMA) é uma importante premiação musical internacional. Este ano, apesar do cancelamento da entrega de troféus pela primeira vez em sua história devido às tensões mundiais, os vencedores foram divulgados neste domingo (5).

Eleitos pelo público, artistas como Nicki Minaj, Maneskin, Taylor Swift, JungKook e Anitta foram os destaques deste ano nas categorias principais. Já em relação às premiações locais, Matuê ganhou como melhor artista brasileiro.

Apreensão Europeia

Multidão de pessoas brancas em manifestação em uma rua de Londres com um semáforo ao fundo, segurando bandeiras da Palestina com uma mulher em foco de jaqueta vermelha e bandana branca e vermelha com os braços para o alto segurando um cartaz escrito: um genocídio não justifica o outro, em inglês.
Imagem: Manifestação pró Palestina em Londres - Foto: Henry Nicholls / AFP

A cerimônia, que já havia sido divulgada e seria realizada em Paris, foi cancelada uma semana antes de sua concretização. Em comunicado, a MTV alegou não ser um momento de celebração da música mediante à crise entre Gaza e Israel, mas de luto pelas milhares de mortes e devastação.

A emissora também destacou a mobilização de pessoas necessária para a realização da festa: “Dada a volatilidade dos eventos mundiais, decidimos não avançar com os MTV EMAs de 2023 por precaução com os milhares de funcionários, membros da equipe, artistas, fãs e parceiros que viajam de todos os cantos do mundo para trazer o show para a premiação.''

A tensão no oriente médio, que mistura razões geopolíticas, históricas e religiosas há mais de 70 anos, reverbera não só no evento, mas também em várias manifestações que vêm acontecendo em países europeus — como Reino Unido, Alemanha e França. Alguns artistas se pronunciaram sobre a grave crise humanitária como Dua Lipa, Zayn e Selena Gomez.

Vitórias e surpresas 

Cantora brasileira Anitta à esquerda, escorada em uma trave branca vestindo um top e um short preto com detalhes brancos nas bordas, além de estar com um óculos escuros no cabelo, o qual está amarrado e por fim, está usando brincos de argolas prateadas. À direita, está o cantor coreano JungKook em pé em um cenário de fundo claro e chão escuro, vestindo um terno oversized preto, o qual está desabotoado, calça social oversized cinza clara e um sapato social tratorado preto.
Foto Anitta: Gabriela Schmidt - Foto Jungkook: Reprodução/Bighit Music

Representando o Brasil em uma das categorias principais, Anitta desbancou grandes nomes como Shakira, Bad Bunny e Rosália, levando a estatueta de melhor artista latino. A ganhadora de dois VMAs também estava indicada em Maiores Fãs ao lado de Billie Eilish, Olivia Rodrigo e BLACKPINK. No entanto, tal qual Melhor Grupo, a categoria não teve vencedores, visto que a votação aconteceria durante a cerimônia.

Além da nossa garota do Rio, o dono de sucessos como “Máquina do tempo”, “Quer Voar” e  “Anos Luz”, Matuê, fez história ao vencer em Melhor Artista Brasileiro. Concorrendo com Anavitória, Kevin O Chris, Luisa Sonza e Manu Gavassi, ele alegrou os apreciadores de trap.

Conhecida pelo grande número de vitórias, Taylor Swift fez jus à fama, e das 7 categorias em que havia sido indicada, faturou 3. Ainda colhendo os frutos do seu último projeto inédito, Midnights, ganhou em Melhor Vídeo com o clipe de  “Anti-Hero”, Melhor Artista ao Vivo e Artista do Ano.

Apesar de toda a expectativa com relação à loira, a categoria de Melhor Artista Americano ficou com Nicki Minaj, primeira mulher negra a levar o prêmio. A rapper ainda faturou Melhor Artista de Hip-Hop, superando Travis Scott e Cardi B.

Outro destaque foi a vitória da banda Måneskin em Melhor Artista de Rock e Melhor Artista Italiano. A banda, que viralizou em 2021 com o remake de “Beggin’”, canção do grupo The Four Seasons liderado por Frankie Valli, está cada vez mais conquistando os adeptos do Rock e se realçando no cenário musical. 

A consagração do projeto solo de JungKook, integrante da boy band sul-coreana BTS, fez com que o artista de 26 anos ganhasse em Melhor Artista de K-pop e na categoria de  Melhor Música com o smash hit 'Seven' em parceria com a rapper americana Latto. Reforçando a ideia global da premiação e o foco em diversidade, Peso Pluma ganhou em Melhor Artista Novo e a categoria de Melhor Colaboração ficou com o sucesso 'TQG' de Karol G e Shakira. Na recém criada categoria Afrobeats, o nigeriano Rema levou o prêmio.

Billie Eilish ganhou em Melhor Artista Pop, David Guetta em Melhor Artista Eletrônico, Lana del Rey como Melhor Artista Alternativo e,  superando a cantora SZA, Chris Brown acabou levando Melhor Artista de R&B. Por fim, o grupo de K-pop TOMORROW X TOGETHER faturou o prêmio de Melhor Artista Push.

Com alto custo e rejeição, alemães questionam a construção não finalizada do monumento da reunificação do país.
por
Natália Perez
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03/11/2023 - 12h

Em 3 de outubro de 2019 a Alemanha completou 30 anos da reunificação. Para comemorar a data, um monumento à liberdade e unidade de Berlim foi anunciado. Agora, quatro anos depois, a obra ainda não foi concluída e os custos para a construção só aumentam. Afinal, quem quer esse monumento? Não há consenso, para a maioria dos alemães a homenagem não faz sentido.

A ideia é uma balança que simbolize a união e a liberdade alemã. Nomeada como “Cidadãos em Movimento”, a gangorra deve inclinar-se conforme as pessoas se moverem em volta dela exibindo em sua curvatura o slogan de 1989: “Nós somos o povo. Somos um só povo".

A gangorra sozinha medirá 50 por 18 metros, que é somente 7 metros de largura a menos do que uma piscina olímpica. Segundo o escritório de design responsável, Milla & Partner, a previsão de custo era de 15 milhões de euros, mas ao início das obras o valor subiu para 17 milhões. Entretanto, desde o anúncio da construção, Monika Grütter, ministra de estadual da cultura, não confirmou mais os valores.

 

previsões monumento
Previsão do monumento “Cidadãos em Movimento” (Divulgação Milla & Partner)

 

“Todos os envolvidos estão a tentar garantir que o monumento seja concluído rapidamente”, disse um porta-voz do Ministro de Estado da Cultura, promotor do projeto, ao jornal alemão DW. Entretanto, ainda não há uma data para inauguração, e a única certeza é de que não será feita em 2023. Para Olaf Zimmermann, diretor do Conselho Cultural Alemão, o simbolismo da balança é desatualizado e a justificativa para o adiamento da obra é porque "ninguém quer isso”, principalmente dada as crescentes tensões entre os dois lados. 

O monumento nunca terminado, localizado em frente ao Fórum de Humboldt, gera confusão para os alemães que não entendem o motivo de sua construção. Além do alto custo, há uma grande rejeição ao conceito de uma balança, já que nenhum dos lados considera que o processo de reunificação foi justo ou balanceado. 

Em 2020, a fundação Bertelsmann Stiftung realizou uma pesquisa com maiores de 55 anos e descobriu que os alemães ocidentais querem mais reconhecimento pelo papel financeiro e econômico que desempenharam. Enquanto que os alemães ocidentais a acreditam que deveriam ter mais reconhecimento pela pacificidade do processo. Além disso, para 84% dos entrevistados as coisas que funcionavam bem no sistema soviético foram descartados injustamente. 

"Os entrevistados no leste muitas vezes sentem que nenhuma nova sociedade comum foi criada naquela época. Em vez disso, com a unidade, o sistema da Alemanha Ocidental apenas lhes foi imposto, ao qual tiveram de se adaptar", comentou a fundação Jana Faus, do Instituto de Pesquisa de Berlim, sobre os resultados da pesquisa. O estudo concluiu que mesmo após os 30 anos da reunificação, a ideia de unidade alemã não está completa.

 

Canteiro de obra do monumento em maio de 2023. Foto: Sven Darmer
Canteiro de obra do monumento em maio de 2023, ainda sem sinal da construção da "gangorra". Foto: Sven Darmer

 

A reunificação alemã teve um significativo impacto na política mundial para além dos anos 90, e sua influência pode ser usada para refletir sobre o atual estado de polarização mundial. “Eram dois extremos e ninguém acreditava que isso ia dar certo. Para mim foi rápido demais, faltou planejamento”, comenta Gabriele Gorg, professora de alemão nascida em Siegen (lado capitalista), em entrevista à AGEMT. Gorg participou de um grupo de professores organizado pelas universidades de Munique e Berlim que visitava as escolas da Alemanha Ocidental pensando em como diminuir a desigualdade entre as vivências. “O muro tinha acabado de cair, ainda nem tinha essa data 3 de outubro”, diz. 

mapa
Demonstração da divisão Alemanha Ocidental/Oriental. Imagem: BBC Brasil em "30 anos após a queda do muro de Berlim, 'barreira invisível' ainda divide a Alemanha em duas"

A maneira como foram encarados os desafios econômicos e sociais de integrar as duas economias em uma, deixou os alemães de ambos os lados insatisfeitos, com um sentimento de injustiça e de ter sido prejudicado em função do outro lado. “Kohl e Gorbachev estavam tão eufóricos em acabar com a divisão que fizeram de uma vez, sem pensar em todas as consequências. O choque foi muito grande. Até hoje, 30 anos depois, os salários ainda não são iguais”, explica a professora. 

A polarização atual envolve o ressurgimento do nacionalismo exacerbado em várias partes do mundo. Um exemplo disso no Brasil, é a monopolização de símbolos nacionais – como a bandeira – por militantes e políticos da extrema direita. Na Alemanha, a ascensão do partido político de extrema-direita AfD (Alternative für Deutschland – Alternativa para a Alemanha) causa preocupação nos partidos tradicionais, que se recusam oficialmente a cooperar por conta das visões radicais da sigla.

Em junho de 2023, pela primeira vez desde a fundação, o partido conseguiu eleger o líder distrital. Com 52,8% dos votos, Robert Sesselman foi eleito para governar o distrito de Sonneberg, no estado da Turíngia. A fragilidade da coligação que governo o país, formada pelos social-democratas, Verdes e os liberais (FDP), liderada pelo primeiro-ministro Olaf Scholz, é apontada como fator importante para o crescimento recente do AfD. Ainda sim, a aproximação do partido com o passado nazista impacta a imagem diante da população. 

Passadas décadas da reunificação, suas implicações continuam a afetar o país, interna e externamente. O desafio alemão, para além da obra do monumento, é a criação de uma identidade concreta, que possa levar a Alemanha a um papel importante no debate global sobre a polarização que afeta questões econômicas, políticas, sociais e ambientais.

 

De acordo com as autoridades locais, já são mais de mil mortos e milhares de feridos entre palestinos e israelenses desde o último sábado (07).
por
Artur Maciel Rodrigues
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09/10/2023 - 12h

 

(Predios destruidos em Gaza após ataque israelita, foto:reuters)

No sábado (07), o grupo Palestino Hamas fez um ataque surpresa a 22 cidades em Israel. A invasão iniciou com dois mil mísseis que passaram pela proteção antiaérea da faixa de Gaza, na região sul do país. Logo após a ofensiva, o Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou guerra ao grupo militante. “O que aconteceu hoje nunca vimos antes na história de Israel[...] Estamos em guerra. Nós venceremos, mas o preço será alto”, afirmou o chanceler.

 

A ação do Hamas, intitulada como "Operação Dilúvio Al-Aqsa", se expandiu com a presença de militantes nas diversas cidades do país, com relatos de pessoas se trancando em casa por causa do ataque. Segundo a imprensa local, cerca de 100 israelenses, entre cidadãos e soldados, foram feitos de reféns e levados para a faixa de Gaza. O porta-voz militar de Israel, Jonathan Conricus define que: “alguns estão vivos e outros já são considerados mortos” 

 

O governo Israelense retaliou o ataque e organizou bombardeios ainda no sábado (07), que terminou com a morte de 230 palestinos e mais de seis mil feridos. Em entrevista para o canal Al Jazeera, o vice-chefe do grupo Hamas, Saleh al Arouri afirmou que o objetivo do grupo é "matar e capturar muitos soldados israelenses". "Quanto mais os combates continuam, maior será o número de capturados”, falou al Arouri.

 

Em 24 horas o número de vítimas já passou de mil. Na manhã de domingo (08), o IDF (sigla em inglês para Força de defesa de Israel) disse que atacou com drones pontos de foco do Hamas. Mais tarde, no mesmo dia, uma rave - evento de música - foi atacada pelo Hamas, com cerca de 260 mortos, segundo o governo de Israel.

 

O primeiro-ministro israelense declarou que as forças militares do país iriam agir. "Digo ao povo de Gaza: saiam daí agora, porque estamos prestes a agir em todos os lugares com toda a nossa força", disse Netanyahu.

A ofensiva militar do grupo Hamas veio logo após o aniversário de 50 anos do início da guerra de Yom Kappur, em 06 de outubro de 1973, quando Israel combateu a Síria e o Egito, resultando em uma das mais violentas guerra do estado judeu. Esse foi o último conflito árabe-israelense até a guerra atual.

 

O Hamas, sigla para Harakat al-Muqawama al-Islamiya, que significa Movimento pela Resistência Islâmica, é um grupo palestino islâmico formado em 1987. O grupo é um forte partido político palestino, e venceu as eleições de 2006, derrubando o rival Fatah. O poder militar do grupo detém a indústria armamentista de Gaza, que está sob seu controle desde 2007. 

O governo israelense é contrário ao reconhecimento do Estado Palestino. No início do ano, em Jenin, 12 palestinos foram mortos, onde houve uma ação militar por causa de um projeto de planificação do solo, que danificou 80% das casas. Também houve aumento nas restrições de adoração na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. 

 

De acordo com o monitor do Oriente Médio estão na prisão mais de cinco mil palestinos, contando com o político Marwan Barghouti. Pelas ações e o regime de segregação, a Organização das Nações Unidas classificou a situação entre palestinos e israelenses como regime de Apartheid em 2022.

 

No cenário mundial, os Estados Unidos, Reino Unido Japão e alguns aliados classificam o grupo Hamas como terrorista. Os britânicos justificam a classificação pelos "ataques indiscriminados contra Israel".


No entanto, a classificação não é unânime. Países como Brasil, China, Rússia, Turquia e Noruega, adotam posicionamento neutro sobre o grupo islâmico. Na maioria dos casos, a denominação de um grupo como terrorista vem da ONU, contudo, a organização não assumiu um posicionamento, ficando dependente dos critérios de cada país. 

A Noruega já tentou mediar processo de paz entre israelenses e palestinos. O Brasil e a China, apoiam que para paz é necessário a criação de dois Estados independentes: o da Palestina e o de Israel.

Com a escalada militar na região, diversos chefes de Estados repudiaram a ofensiva contra Israel. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, condenou o ataque e falou em "todos os meios apropriados de apoio" para o Governo de Israel. Maria Zakharova, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, afirmou que o país espera um acordo de cessar-fogo. "Apelamos aos lados palestinos e israelense para que implementem um cessar-fogo imediato, renunciando à violência", disse a porta-voz.

 

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, condenou as ações e prestou solidariedade às vítimas. "Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas”, publicou em uma rede social. O presidente ainda afirmou que o Brasil não irá poupar avanços para evitar a escalada do conflito.

 

No domingo (08), o Brasil - país que preside o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) - convocou uma reunião de emergência com todos os membros para tratar do tema. O encontro aconteceu a portas fechadas em Nova York, nos Estados Unidos, e terminou sem um comunicado oficial sobre a situação. O Conselho pode voltar a se reunir a pedido de um dos membros.

A eleição do novo chefe de estado acontece em outubro, mas os pré-candidatos já foram definidos e serão votados pelos argentinos na primeira quinzena de agosto.
por
Artur Maciel Rodrigues
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01/08/2023 - 12h

 

 

A votação prévia das eleições na Argentina acontecerá em 11 de agosto, depois, os candidatos eleitos pelas coligações disputarão o pleito em 22 de outubro e, caso seja necessário, haverá um segundo turno em 19 de novembro. Assim como no Brasil, a votação no país vizinho é obrigatória. 

 

No país as coligações são obrigadas a fazer uma votação primária, antes do primeiro turno. Essa votação é conhecida como Pisa (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias) nela os eleitores escolhem a coligação em que irão votar, por isso é considerado um grande termômetro para a corrida presidencial. 

 

Os argentinos irão escolher membros do Congresso Nacional, governadores das províncias e o seu novo presidente neste ano. O embate presidencial deve se concentrar, novamente, entre o peronismo de esquerda (populismo baseado na figura de Juan Perón) e a centro-direita.

 

Sérgio Massa, ministro da Economia e candidato à presidência. Foto: Reprodução
Sérgio Massa, ministro da Economia e candidato à presidência. Foto: Reprodução

Sérgio Massa, é o candidato governista e concorrerá pela coalizão “União pela Pátria”, Agustín Rossi foi escolhido como seu vice. Sérgio é o atual ministro da Economia e lida com a grande dívida externa da Argentina, que é um dos principais temas nesta eleição. O último empréstimo feito ao Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo país, foi de 56 bilhões de dólares e após uma recente renegociação a dívida passou a ser de 45 bilhões.

 

Horácio Larreta, prefeito de Buenos Aires, e Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança, disputam pela mesma coligação, o “Juntos pela Mudança”. Foto: Reprodução.
Horácio Larreta, prefeito de Buenos Aires, e Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança, disputam pela mesma coligação, o “Juntos pela Mudança”. Foto: Reprodução.

 

Horácio Larreta, prefeito de Buenos Aires e Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança, estão a frente dos “Juntos pela Mudança”, que nasceu da coligação entre um partido de direita tradicional, a União Cívica Radical, e o partido criado pelo ex-presidente Mauricio Macri, o Proposta Republicana (PRO). 

 

 

Representante da extrema direita argentina, Javier Milei, é candidato pelo “A Liberdade Avança”. Foto: Reprodução
Representante da extrema direita argentina, Javier Milei, é candidato pelo “A Liberdade Avança”. Foto: Reprodução


 

A direita ultra-liberal também concorrerá a uma vaga no pleito, seu representante será Javier Milei, candidato do “A Liberdade Avança”. Milei foi eleito deputado federal em 2022, tem 52 anos e é dono de uma retórica exaltada.

 

Algumas das suas propostas geraram grande polêmicas, como a extinção do Banco Central Argentino e o fim do ensino público obrigatório. Crítico ferrenho de políticos tradicionais, economistas convencionais e à mídia em geral conquistou a imagem de candidato anti semita. Apesar disso, Mieli vem ganhando espaço nas mídias de direita, como no canal consevador  La Nación. 

 

Tomaz Paoliello, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, considera importante observar o cenário recente de eleições de candidatos conservadores a presidência e que é preciso “levar a sério” a candidatura do ultra-liberal: “Milei vem crescendo nas pesquisas recentes, tendo vivido a eleição de Trump e de Bolsonaro, é preciso levar a sério sua candidatura, então estou entre os que acreditam na possibilidade da vitória dele, embora seja cedo para afirmar favoritismo de qualquer lado."



 

Após 9 anos de uma fracassada e longa intervenção francesa, países do Sahel buscam novos parceiros na luta contra o terrorismo.
por
Francisco Barreto Dalla Vecchia
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12/06/2023 - 12h

No dia 20 de abril 136 civis foram mortos no vilarejo de Karma no Burkina-Faso, testemunhas relataram que o crime foi cometido por soldados do governo. As autoridades condenaram o massacre e prometeram investigações. A ONU e a União Africana exigem que o governo da capital, Uagadugu, garanta investigações independentes e confiáveis.

Burkina Faso enfrenta uma espiral de golpes de estado: o último ocorreu em setembro de 2022, instituindo o jovem Capitão Ibrahima Traoré de 35 anos como Presidente de transição. Em seu discurso de posse, Traoré reiterou seu objetivo: "Pelo meu país lutarei até ao meu último suspiro", prometendo recuperar os 40% do território dominado por grupos terroristas.

O Massacre de Karma

Moradores de Karma relataram que às 7:30 da manhã do dia 20 de abril comboios de supostos soldados do exército Nacional alcançaram a vila. Após cercarem o vilarejo, os homens seguiram de casa em casa, saqueando-as e violentamente reunindo os aldeões em grupos, para então fuzilá-los. Os assassinos foram embora às 14:00, deixando 83 homens, 28 mulheres e 45 crianças mortas.

“No meu grupo éramos mais de 30. De repente, começaram a atirar. Eu estava deitado de barriga para baixo após o primeiro tiro. Eu estava molhado com o sangue dos corpos dos outros. Fiquei imóvel, apavorado, até que os soldados foram embora. Dois deles voltaram para acabar com aqueles que estavam se movendo e ainda vivos. ” Declarou um dos sobreviventes à Human Rights Watch.

O povoamento se encontra em uma área de atuação da Al-Qaeda e do Estado Islâmico no Grande Saara. No dia 15 de abril jihadistas mataram seis soldados burquinenses e 34 combatentes de milícias pró-governo na aldeia de Aeroma, localizada a poucos quilômetros de Karma. Os moradores de Karma relataram que os ataques do dia 20 foram uma retaliação por parte do exército nacional que acreditava que os aldeões estariam dando suporte a combatentes extremistas. 

“Vi uma pilha de cadáveres de mulheres e crianças. Os recém-nascidos ainda estavam nas costas de suas mães. Havia tantas crianças. Foi uma cena horrível. ” Explica um residente.

Ao todo 12 celeiros,17 currais e 40 casas foram incendiados. Um descreve a destruição para os agentes da Human Rights Watch: “Vi pelo menos 25 casas queimadas, tudo dentro era apenas cinzas. Também observei que os currais dos animais foram incendiados, com os animais também queimados. ”

As guerras invisíveis do Sahel

mapa do Sahel.
O Sahel separa o deserto do Saara das savanas ao sul: sendo uma região transitória que divide o continente africano. fonte: infoescola.

Grupos extremistas florescem em regiões instáveis. O declínio do terrorismo no Oriente Médio entre os anos de 2016 e 2019, obrigou estás organizações a transferirem suas atuações para áreas mais voláteis e com menos visibilidade internacional.

A instabilidade político-social endêmica no Sahel, somada às suas fronteiras porosas e desprotegidas, atraíram a atenção de grupos jihadistas. A região presenciou mais de 800 ataques apenas em 2021. O relatório do Índice Global de Terrorismo de 2023 apontou que o território é o atual epicentro do terrorismo internacional. Boris Cheshirkov, o porta-voz do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), informou que cerca 2,1 milhões de pessoas foram deslocadas de suas casas entre os anos de 2013 e 2021 no Sahel. A crise migratória é consequência da atuação de grupos paramilitares na África subsaariana.

O Mali foi o primeiro país da região a enfrentar a insurgência de grupos rebeldes. A porção norte do país, conhecida como Azauade, é o lar da etnia Tuaregue, que desde a década de 1970 busca sua independência. 

 O ex-líder líbio Muammar Gaddafi contratou mercenários Tuaregues durante a invasão americana da Líbia em 2011. Após a derrota do regime líbio em 2012, os combatentes se apossaram das armas fornecidas e regressaram ao Mali decididos a garantir a independência do Azauade, fundando assim, o Movimento Nacional de Libertação do Azauade (MNLA). Células terroristas locais como a Al-Qaeda do Magrebe Islâmico (AQMI) e o Estado Islâmico no Grande Saara (ISGS) se aliaram ao MNLA. No início a colaboração era benéfica para ambas as partes, mas com o passar do tempo os separatistas Tuaregues perderam força e espaço para os terroristas. 

A guerra civil do Mali combinada com a abundância de armas traficadas da Líbia trouxe insegurança para todo o Sahel. A instabilidade foi favorável para que a atuação fundamentalista avançasse rumo às nações vizinhas. Em 2015 o conflito cruzou a fronteira rumo ao Burkina-Faso. Os militares que desfrutam de grande influência política tentam controlar a instabilidade por meio de golpes: somente no ano passado dois foram executados, mas a situação não melhorou.

Conforme o último relatório do Institute for Economics and Peace (IEP), Burkina-Faso é o segundo país que mais sofre com o terrorismo no mundo com trezentos e dez incidentes terroristas ocorridos em 2022, atrás apenas do Afeganistão. Desde que a instabilidade começou mais de 8.564 pessoas já morreram.

Revezamento de metrópoles

A operação Serval, liderada pela França e com o apoio logístico de outros países ocidentais, foi uma intervenção militar no Mali iniciada em janeiro de 2013. Segundo François Hollande – presidente francês da época – a ação foi uma resposta ao apelo do presidente malinês, Dioncounda Traoré, diante do avanço terrorista no norte do país. Em agosto de 2014 o governo francês encerrou a operação Serval e deu início a operação Barkhane, que expandia a atuação para Burkina-Faso, Chade, Níger e Mauritânia.


O número de atentados progressivamente subiu durante a intervenção estrangeira, enquanto grupos terroristas passaram a recrutar cada vez mais combatentes. O relatório anual de 2020 do Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED) indicou que somente naquele ano, as forças de segurança intervencionistas mataram mais civis em Mali e Burkina Faso do que os grupos insurgentes. 


A população não entendia como uma superpotência poderia demorar tanto para derrotar milícias regionais. A ocupação militar francesa foi desaprovada por muitos cidadãos, que temiam que a antiga metrópole colonial estivesse interessada na exploração das riquezas naturais malianas. O posicionamento adotado pela antiga metrópole de não realizar negociação com jihadistas era impopular entre muitos malineses cansados da violência. 

Em janeiro de 2020 um ataque aéreo francês ceifou a vida de 22 civis que celebravam um casamento na Vila de Bount, no Mali. Durante os nove anos de operação diversos incidentes parecidos ocorreram, agravando ainda mais a impopularidade da participação francesa. 

Manifestantes com bandeiras da Rússia e do Burkina Faso.
Manifestantes exibem bandeiras da Rússia e do Burkina-Faso. Fonte: Foreign Policy

Em agosto de 2020, uma junta militar antiocidental e pró-Rússia realizou um golpe de estado no Mali, nomeando o líder do complô, Bah N'Daw, como presidente. O novo governo militar  procurou diversificar o apoio estrangeiro na guerra contra o terror, se aproximando cada vez mais da Rússia. Em dezembro de 2021 as primeiras tropas do grupo Wagner desembarcaram no país. A força paramilitar de origem russa foi fundada em 2014, mas ganhou fama somente no início da invasão da Ucrânia de 2022.  


A nova política adotada pelas autoridades do Mali desagradou os franceses: "não seremos capazes de coabitar com mercenários" – reiterou Florence Parly, ex-ministra das forças armadas – indicando o inevitável fim da colaboração. No dia 8 de agosto de 2022, o último contingente da operação Barkhane deixou o Mali. Em 24 de janeiro de 2023, às autoridades do Burkina-faso também solicitaram a retirada das tropas francesas de seu território. Moscou já detém grande influência na África Central, procurando agora ocupar o "vácuo" de poder deixado após o fracasso francês na pacificação do Sahel. 

A Assembleia Geral das Nações Unidas de março de 2022 foi realizada no calor da invasão à Ucrânia. Na ocasião foi discutida uma resolução que exigia a retirada imediata, incondicional e total das tropas russas do território ucraniano, 141 dos 193 países membros votaram a favor. Os votos dos países africanos explicitaram o poder que a Rússia possui no continente. Entre os países que se abstiveram, 17 são africanos, sendo que a Eritreia votou contrariamente à proposta.