Ataque televisionado, silenciamento de jornalistas e fome declarada na região palestina
por
Maria Mielli
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29/08/2025 - 12h

O complexo médico Nasser, um dos maiores e um dos últimos hospitais em funcionamento no sul da faixa de Gaza, foi alvo de dois bombardeios seguidos na manhã da última segunda-feira (25). O double tap strike (ataque duplo), é uma tática militar que tem como objetivo atacar duas vezes o mesmo local para intensificar o número de vítimas. 

O segundo ataque foi televisionado enquanto a emissora local mostrava ao vivo a tentativa de resgate dos sobreviventes feridos ainda no primeiro bombardeio. A ofensiva deixou ao menos 20 pessoas mortas, incluindo 5 jornalistas: Mariam Riyad Abu Dagga, 33 anos; Moaz Abu Taha, 27 anos; Mohammad Saber Ibrahim Salama, 24 anos; Husam Al-Masri, 49 anos; Ahmad Salama Abu Aziz, 29 anos. 

A “arma” que o governo de Israel mais teme são as câmeras dos jornalistas que lutam dia a dia para denunciar os horrores que o exército israelense comete em mais de dois anos de genocídio.

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Mariam Riyad Abu Dagga; Moaz Abu Taha; Mohammad Salama; Husam Al-Masri e Ahmad Abu Aziz / Foto: Reprodução Stop Murdering Journalists

Segundo o site Stop Murdering Journalists, cerca de 300 jornalistas foram mortos por tropas israelenses. Em pronunciamento oficial divulgado no site da rede de notícias Al-Jazeera, na qual o fotojornalista Mohammad Salama trabalhava, a emissora repudiou os ataques e os classificou como “uma intenção clara de enterrar a verdade”.

Em entrevista para a AGEMT, o historiador Mateus Orantas afirmou que o mundo está assistindo a um holocausto dos palestinos e que, assim como foi durante a segunda guerra, a propaganda ainda é a maior arma a favor do opressor. “A propaganda anti Palestina e pró Israel é muito forte, mas hoje, temos a internet que faz com que a globalização seja mais intensa e acaba nos mostrando a realidade…porém por causa dos algoritmos e de quem comanda as redes, você só vai ter conhecimento do que está acontecendo, se seguir as páginas certas” declara. 

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Desespero palestino para tentar se alimentar / Foto: reprodução Instagram Ahmed Nofal
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Na última quarta-feira (27), Ramiz Alakbarov, coordenador especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Processo de Paz no Oriente Médio, afirmou em reunião do Conselho de Segurança (CSNU), que Gaza “está afundando cada vez mais em um desastre”. Segundo Ramiz, as consequências da crise – gerada por Israel – são os volumosos números de vítimas civis, deslocamento em massa e a fome, que é uma verdadeira arma de guerra. 

Uma análise realizada pela Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), formada por várias agências humanitárias internacionais, classifica a fome na região palestina como sendo de nível máximo. 

Outros 1,07 milhão de pessoas estão em estado de emergência. Segundo este estudo, os números devem piorar ainda mais nos próximos meses. É esperado que a desnutrição se expanda para cidades do sul da Faixa de Gaza, como Deir al-Balah e Khan Younis, deixando quase um terço da população em estado catastrófico (nível 5 IPC). A previsão ainda afirma que até junho de 2026, pelo menos 132 mil crianças menores de cinco anos sofram com a escassez de alimentos.

O coordenador de ajuda emergencial das Nações Unidas, Tom Fletcher, ressaltou que por trás desses números alarmantes, existem vidas – filhos, filhas, mães, pais e todo um futuro que foi interrompido. “Esta fome não é produto de uma seca ou algum tipo de desastre natural. É uma catástrofe criada ", esclareceu Fletcher em documento divulgado pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). A declaração pede, majoritariamente, a cessação imediata das hostilidades em Gaza; a libertação de todos os reféns e a proteção de civis; e infraestrutura crítica e funcional. O coordenador finaliza dizendo que apesar de ter havido um certo aumento na ajuda humanitária, ainda há muito o que ser feito. “Ainda há tempo para agir”.

 

 

Iniciativa coordenada pelo sindicato da categoria em São Paulo busca justiça pelos colegas de profissão mortos pelo exército israelense
por
Marcelo Barbosa P.
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29/08/2025 - 12h

Na última quinta-feira (28), o Sindicato dos jornalistas profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) realizou uma manifestação contra o assassinato dos profissionais de imprensa pelo Estado de Israel. O evento ocorreu em frente ao prédio da CNN, na Avenida Paulista, em São Paulo.

A mobilização foi anunciada nas redes sociais na quarta-feira (27).  “A manifestação desta quinta-feira tem como objetivo exigir a interrupção das operações militares israelenses e do genocídio do povo palestino e que termine imediatamente a matança de jornalistas pelo Estado de Israel. As autoridades israelenses civis militares responsáveis pelos assassinatos de profissionais da mídia precisam ser punidas.” afirmam na publicação. O post se refere aos dois ataques feitos a um hospital em Gaza, ocorridos na segunda (25), que resultaram na morte de cinco jornalistas, além dos profissionais da saúde.

O ato começou por volta das 17h. A princípio, havia poucos manifestantes, mas gradualmente mais pessoas se juntaram ao protesto. Os cidadãos chegaram com bandeiras e placas na mão e gritavam: “Palestina Livre”. 

Lilian Borges, uma assistente social especializada em pessoas em situação de rua, que participa da Frente Palestina São Paulo, marcou presença e afirmou que um dos principais motivos para ir protestar é considerar desumano o que ocorre em Gaza. “Cabe a nós, como humanos, ajudar a eles neste momento difícil que estão vivendo. Então, eu acho que toda população deveria estar aqui. Além disso, exigimos que o presidente Lula rompa as relações diplomáticas e comerciais com Israel e, principalmente, que a gente pare de mandar petróleo para lá, já que isso ajuda a financiar o poder bélico deste Estado.”

 

Lilian Borges segura uma bandeira/ Reprodução: Marcelo Barbosa
Lilian Borges segura uma bandeira/ Foto: Marcelo Barbosa

 

Breno Altman, jornalista fundador do site de notícias Opera Mundi, afirma que o assassinato aos jornalistas foi um crime planificado por Israel. Sobre a ótica de Bruno, o ocorrido foi ocasionado para que o acesso à informação fosse dificultado e que outros países não tivessem acesso ao que ocorre em Israel. “Eles não querem que relatos e imagens cheguem ao mundo, já que comprovaria o genocídio que o regime sionista está fazendo.”.

 

Apesar da diferença, Mohamad Saimurad uniu-se ao amigo palmeirense para ir à manifestação
Apesar das diferenças, o corinthiano Mohamad Saimurad uniu-se ao amigo palmeirense pela causa palestina/ Reprodução: Marcelo Barbosa


Encostado em uma parede, Mohamad Saimurad, diretor de uma escola, vestia uma camisa do Corinthians e, acompanhado do amigo palmeirense, protestava. "O sionismo é uma ideologia europeia, colonizadora e racista. Eu me pergunto por que a humanidade está em silêncio. Então, eu estou aqui para ver se a humanidade acorda em relação ao Estado genocida de Israel".

O pronunciamento público teve apoio, além dos organizadores, do Coletivo Shireen Abu Akle de Jornalistas Contra o genocídio, da Federação Árabe-palestina do Brasil (Fepal), Frente Palestina de São Paulo e Núcleo Palestina do PT.

Acusados de colaborarem com 'trabalho forçado do regime cubano', servidores do programa têm vistos revogados
por
Victória Rodrigues
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18/08/2025 - 12h

 

O governo Trump revogou na última quarta-feira (13) os vistos de  dois brasileiros, que participaram da criação do Programa Mais Médicos em 2013. Mozart Júlio Tabosa, secretário do Ministério da Saúde do Brasil, e Alberto Kleiman, ex-funcionário do governo brasileiro, foram os alvos das sanções.

Em nota divulgada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a justificativa apresentada foi que ambos teriam colaborado para um “esquema coercitivo de exportação de mão de obra” do governo cubano através do programa Mais Médicos, privilegiando o governo de Cuba às custas dos profissionais da saúde e cidadãos do país. 

O programa Mais Médicos foi uma iniciativa criada no governo de Dilma Rousseff, a fim de levar atendimento médico à áreas remotas e com maior vulnerabilidade. Dentro do programa, podem participar tanto profissionais brasileiros quanto estrangeiros, desde que cumpram com as exigências propostas, como formação com diploma e registro profissional. 

Entre 2013 e 2018 foram contratados profissionais cubanos, com uma parceria intermediada pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde). Nesse acordo, os participantes recebiam 30% do valor de sua remuneração, que na época chegava a 10 mil reais, os outros 70% eram destinados ao governo de Cuba.

Em 2015, o Mais Médicos, contava com cerca de 14 mil profissionais, dos quais 11,4 mil eram cubanos. No entanto, em 2018, após a eleição de Jair Bolsonaro, a parceria foi encerrada. 

Segundo Marco Rubio, secretário do Departamento de Estado estadunidense, as contratações para o programa não cumpriam a regulamentação impostas pelo próprio governo brasileiro. Também acusou o programa de contornar as sanções dos EUA contra Cuba. 

Rubio ainda justificou as medidas dizendo que o regime cubano estava exportando seus médicos para trabalhar de forma forçada e com isso estava deixando de cuidar da saúde de seus próprios cidadãos. “Esse esquema enriquece o corrupto regime cubano e priva o povo cubano de cuidados médicos essenciais”.

Além do Brasil, autoridades de países africanos, Cuba e Granada também foram alvos das restrições de vistos por cooperarem com o programa Mais Médicos.

Bruno Rodríguez, Ministro de Relações Exteriores de Cuba, criticou a decisão do governo dos EUA. “Isso mostra imposição e adesão à força como nova doutrina de política exterior a esse governo", disse. Também afirmou que Cuba continuará enviando médicos em missões à outros países. 

Nas redes sociais, Mozart Júlio Tabosa defendeu o programa de saúde, e manifestou sua insatisfação com a situação: "Essa sanção injusta não tira minha certeza de que o Mais Médicos é um programa que defende a vida e representa a essência do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo - universal, integral e gratuito".

Essa decisão do governo de Donald Trump segue uma sequência de retaliações contra o Brasil. Desde o mês de julho, o país recebeu taxações em produtos exportados e sanções contra o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. 

Presidente estadunidense evita divulgação da lista de Epstein e população levanta possibilidade de seu nome estar nela
por
Daniella Ramos
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14/08/2025 - 12h

 

Donald Trump foi eleito em 2024 tendo como uma de suas promessas a divulgação de uma suposta lista que teria o nome de todos os investigados por possível envolvimento com Jeffrey Epstein em crimes de pedofilia.

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Trump e Epstein juntos em uma festa em 1992. Foto: Reprodução/NBC

A cobrança em cima do presidente dos Estados Unidos para a divulgação da lista de investigados no caso, o levou a declarar para a imprensa que o caso era uma maneira de desviar a atenção para algo que é uma “besteira”, nas palavras dele.

“O fato de Trump não cumprir com o que prometeu pode ser pelo rumo que a política tomou… além do fato dele estar ou não envolvido”, comenta o doutor em Ciência Política da PUC-SP, Igor Fediczko. Segundo o Wall Street Journal, Donald Trump foi avisado no início do ano que seu nome estava nos documentos relacionados ao caso de Epstein, a Casa Branca respondeu dizendo se tratar de uma fake news. 

Além da indignação de eleitores a Trump sobre a falta de compromisso com a promessa de exposição dos documentos do processo de Jeffrey, os opositores também se manifestam nas redes sociais. Em sua conta no X, a deputada democrata Alexandra Ocasio-Cortez relacionou a demora na divulgação dos arquivos com supostas acusações de crimes sexuais cometidos pelo republicano. 

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Publicação feita no X pela deputada Alexandra Ocasio-Cortez. Foto: Reprodução/@AOC

 

Índices do Google Trends apontam que as pesquisas envolvendo o nome de Donald Trump e Jeffrey Epstein aumentaram no início de Junho e final de Julho, mesmo período em que o presidente estadunidense começou a distribuir altas tarifas para o mundo todo. 

“Talvez isso tenha feito com que a comunicação ou política do Trump tenha se tornado ainda mais radical”, comenta Igor Fediczko analisando que o tarifaço possa ser uma ”cortina de fumaça” para a polêmica de Epstein.

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Gráfico de pesquisa dos nomes de Donald Trump e Jeffrey Epstein. Foto: Reprodução/Google Trends

 

Apesar das hipóteses sobre a ligação do atual presidente dos Estados Unidos, os nomes que mais chamaram atenção recentemente sobre a proximidade com Epstein foram Bill e Hillary Clinton, que irão depor em outubro, e o príncipe Andrew, que aparentava ser amigo pessoal pelos e-mails trocados com Jeffrey. Assim como Trump, existe a comprovação de que eles já andaram no jato particular com Jeffrey Epstein e possivelmente tinham amizade. 

Jeffrey Epstein era um bilionário, empresário e financista americano, que ficou conhecido pela rede de tráfico sexual de menores ao qual tinha ligação. Seu trabalho com investimento fez com que construísse ligação com o ex-presidente Bill Clinton, Donald Trump, o príncipe britânico Andrew e outras celebridades. 

Em 2008, os pais de uma garota de 14 anos declararam à polícia do Estado americano da Flórida que Jeffrey Epstein havia a molestado. Naquele ano, ele firmou um acordo judicial com a promotoria, mas fotos de crianças foram encontradas por toda sua casa em Palm Beach causando sua condenação por exploração sexual de menores. Escapou de denúncias federais que poderiam causar prisão perpétua, conseguindo um acordo de 13 meses de prisão e indenização às vítimas. 

Onze anos depois, houve uma nova acusação de administração de uma rede sexual com meninas menores de idade. Logo foi preso e, enquanto aguardava o julgamento, se suicidou no presídio.

As investigações desses dois casos criminais geraram uma série de documentos que incluem transcrições de entrevistas com as vítimas e testemunhas e objetos confiscados nos imóveis de Epstein. A ex-namorada de Jeffrey, Ghislaine Maxwell, foi condenada em 2021 por associação criminosa de tráfico sexual de meninas.

As Forças de Defesa de Israel confirmaram a autoria do atentado
por
Annanda Deusdará
Maria Mielli
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13/08/2025 - 12h

Uma ofensiva de Israel matou seis jornalistas que estavam instalados em uma tenda de imprensa próxima ao hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza, no último domingo (10). Dentre as vítimas, quatro eram funcionários da agência de notícias Al Jazeera: dois cinegrafistas, Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal, e dois repórteres Mohammed Qreiqeh e Anas al-Sharif. Ambos rostos conhecidos pelo êxito em denunciar diariamente o genocídio palestino. 

Minutos antes de morrer, Qreiqeh esteve no ar pela última vez, cumprindo mais um dia de trabalho. Al-Sharif havia postado em suas redes sociais, também pouco antes de se tornar mais um dos milhares de palestinos assassinados, que um ataque israelense estava acontecendo. “Oh Deus, concede-nos a paz, concede-nos a paz. Bombardeio israelense pesado e concentrado com faixas de fogo visando as áreas leste e sul da cidade de Gaza”, lamentou em sua conta no X.

O exército israelense acusou o jornalista de ser membro de uma das células do Hamas, mas sem apresentar provas. “Terrorismo em colete de imprensa ainda é terrorismo. Anas al-Sharif não estava apenas documentando para Al Jazeera. Ele era um membro do Hamas, desde 2013”, declararam em postagens feitas no Instagram oficial. A agência de notícias Al Jazeera, por outro lado, nega veementemente as acusações e afirma que o ataque foi uma estratégia israelense de silenciar um dos grandes nomes do jornalismo local. “Nós sabíamos que Anas era o alvo… Ele era nossa voz”, lastimou o jornalista independente Mohammed Qeita no site oficial da agência, após o ataque. Apesar de ter confirmado o planejamento e execução de al-Sharif, o governo de Israel não se manifestou sobre as outras cinco vítimas.

Não é a primeira vez que ataques a jornalistas ocorrem na Faixa de Gaza. Em julho de 2024, o jornalista Ismail al-Ghoul e o cinegrafista Rami al-Rifi tiveram seu carro bombardeado por um míssil enquanto cobriam o assassinato do chefe político do Hamas também para a Al Jazeera. As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram as mortes e alegaram que Ismail integrava as forças Nukhba, divisão militar de elite do Hamas. O noticiário para o qual os profissionais trabalhavam negou as acusações e fez um apelo para que fossem tomadas ações imediatas: “Insistimos que as instituições jurídicas internacionais responsabilizem Israel por seus crimes hediondos e exijam o fim do alvo e do assassinato de jornalistas,” declarou em nota a emissora à época.

No mês passado, quando acusado de ser membro do Hamas pelas FDI, al-Sharif negou toda e qualquer ligação com o grupo. Reafirmou que era um jornalista sem afiliações políticas e que sua única missão era relatar a verdade. “Num momento em que uma fome mortal assola Gaza, falar a verdade tornou-se, aos olhos da ocupação, uma ameaça”, concluiu em postagem na rede social. 

Em mensagem final preparada para o caso de sua morte e publicada postumamente por seus colegas, al-Sharif pede “que não se deixem silenciar por correntes, nem sejam impedidos por fronteiras, e que sejam pontes para a libertação da terra e de seu povo, até que o Sol da dignidade e da liberdade brilhe sobre nossa pátria ocupada”, e finalizou: “Não se esqueçam de Gaza… E não se esqueçam de mim em suas orações sinceras por perdão e aceitação”. 

Silenciamento de jornalistas 

O bloqueio que ocorre em Gaza também limita o acesso e a produção de notícias no local. Os meios de comunicação internacionais são proibidos de circular pela região, a não ser que estejam acompanhados pelo exército israelense. Atualmente, a única maneira de se ter acesso ao que acontece na região, além do relatado por Israel, se dá através das reportagens feitas por jornalistas palestinos.

De acordo com o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), 192 jornalistas foram assassinados desde outubro de 2023, quando começou o conflito. Esse número é maior do que a soma das mortes ocorridas nas duas guerras mundiais (69). Além das mortes, 90 profissionais foram presos por Israel no exercício de sua profissão. 

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Gráfico sobre o assassinato de profissionais de comunicação por razões políticas. IArte: Annanda Deusdará/Agemt

 

Ainda segundo a CPJ, em 2024 ao menos 124 jornalistas e outros trabalhadores de comunicação foram mortos; destes, 85 foram vítimas da guerra de Israel contra a Palestina. O número ultrapassou o recorde de 2007, durante a guerra do Iraque, de 113 mortes. O Comitê alerta que o crescimento da violência contra este grupo prejudica a circulação de informações.

Quem eram os seis jornalistas assassinados

Anas al-Sharif, 28 anos, pai de 2 filhos. Segundo a Al Jazeera, um dos rostos mais conhecidos por denunciar o genocídio em Gaza. Nasceu num campo de refugiados em Jabalia, no norte da região, e se formou na Al-Aqsa University Faculty of Media. Seu pai foi morto por Israel em um bombardeio na casa da família em dezembro de 2023.

Mohammed Noufal, 29 anos, era cinegrafista da Al Jazeera. Também de Jabalia, perdeu a mãe e um irmão em ataques de Israel. Seu outro irmão, Ibrahim, também trabalha no veículo. 

Ibrahim Zaher, 25 anos, também era cinegrafista e paramédico voluntário. Nasceu no mesmo campo de refugiados que seus colegas de trabalho.

Mohammed Qreiqeh, 33 anos, fez sua última aparição ao vivo um pouco antes de ser assassinado. Nasceu em Gaza em 1992 e viveu na vizinhança de Shujayea. Formou-se jornalista na Islamic University of Gaza. Israel matou seu irmão, Karim, em março, num bombardeio. 

Moamen Aliwa, 23 anos, era estudante de engenharia e cinegrafista independente.

Muhammad Al-Khalidi, 33 anos, era um jornalista independente que produzia vídeos para o Youtube documentando o conflito em Gaza.

 

Recep Tayyip Erdogan e seu principal adversário, Kemal Kilicdaroglu se enfrentarão novamente nas urnas no dia 28 de maio. Mandato de 20 anos do atual presidente pode estar chegando ao fim.
por
Ana Beatriz Villela
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16/05/2023 - 12h

O primeiro turno das eleições na Turquia ocorreu neste domingo (14), e foi marcado por uma disputa acirrada entre o atual presidente, Recep Tayip Erdogan, e seu adversário e líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu. Além disso, houve uma participação histórica dos eleitores, cerca de 95% compareceram às urnas.

Com mais de 99% das urnas apuradas a situação era a seguinte, segundo o Conselho Superior Eleitoral do país:

Recep Tayyip Erdogan: 49,49% dos votos

Kemal Kilicdaroglu: 44,79% dos votos

No entanto, o resultado difere do que as pesquisas mostravam, onde Kilicdaroglu aparecia com cerca de 48% das intenções de voto contra 43% de Erdogan.

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Reprodução: Necati Savas | Crédito: EFE

A eleição deste ano é uma das mais importantes da história da Turquia, pois pode marcar o fim de 20 anos de governo do atual presidente. Além disso, a votação ocorreu apenas três meses depois de um terremoto que matou cerca de 50 mil pessoas no país e no norte da Síria e o atual governo foi acusado de ter liberado edifícios com projetos que não previam resistência ao tremor de terra.

A Turquia também passa por uma crise econômica, com baixas taxas de juros do governo que desencadearam uma espiral de problemas no custo de vida e alta da inflação que passou de 80% em 2022.

Outros países têm acompanhado de perto a votação, já que Erdogan reforçou alianças com a Rússia, apesar de ser membro da Otan, o que manteve relações tensas com aliados, como os EUA e a Alemanha nos últimos anos. 

O segundo turno será dia 28 de maio.

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Reprodução: Reuters

Quem são os candidatos?

Recep Tayip Erdogan

Considerando tanto o período como primeiro-ministro quanto como presidente, Erdogan está no poder do país há duas décadas. 

Em 2002 ascendeu ao poder após a criação do partido islamita AKP, o qual ele lidera. Após uma década como primeiro-ministro da Turquia, assumiu a posição de primeiro presidente eleito diretamente pelo povo em agosto de 2014. A maioria dos seguidores de Erdogan é composta por muçulmanos conservadores.

No ano de 2016, Erdogan enfrentou uma tentativa de golpe, - facções rebeldes do Exército enviaram veículos blindados para as ruas e aviões que sobrevoaram Istambul e Ancara, e bombardearam locais como o parlamento - à qual respondeu com medidas violentas, apelando para que seus seguidores fossem às ruas, o que resultou em confrontos que causaram a perda de aproximadamente 240 vidas. Essa crise levou a Turquia a adotar um estado de emergência. Além disso, a comunidade internacional, em especial a Otan, criticou as repressões, o que causou um isolamento político do país.

Quando chegou ao poder, o líder turco também alterou a constituição, estabelecendo um mandato presidencial de cinco anos, o que fez com que ele pudesse se candidatar novamente às eleições de 2023.  

No entanto, a possibilidade de o líder manter seu governo por mais uma década está em risco, à medida que a nação se recupera dos ocorridos no início do ano.

A oposição, critica a forma como ele geriu a economia e de não ter se preparado para o desastre, já que a Turquia está em uma região propensa a fortes terremotos.

Kemal Kilicdaroglu

Visto como a única pessoa capaz de derrotar o atual presidente turco, é um político secular de centro-esquerda. Foi eleito para o Parlamento em 2002, o mesmo ano em que o Partido AK, de Erdogan, chegou ao poder. 

É o líder do Partido Republicano do Povo (CHP) desde 2010. E lidera uma frente com mais seis partidos de oposição - um partido de centro-direita, um partido nacionalista, um partido islâmico e dois partidos que romperam com o partido governante de Erdogan. Também conseguiu o apoio do partido curdo, que tem cerca de 10% dos votos.

Entre suas principais propostas estão a volta do sistema parlamentar na Turquia, além de resoluções com a população curda e aproximação com a União Europeia e os Estados Unidos.

Acompanhe desde o debut até os maiores hits desse grupo que já está entregando muito para a política internacional.
por
Camila Stockler
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28/04/2023 - 12h

Os BRICS - acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - é um grupo de cooperação internacional informalmente criado em 2006 e oficialmente em 2009, que nas últimas semanas voltou para as manchetes nacionais e internacionais depois de estar na sua flop era. Mas afinal, esse grupo é um bloco econômico? A moeda única dos BRICS é uma invenção do Lula? E a Dilma no “Banco dos BRICS”, vai estocar vento?

Primeiramente, não, os BRICS não são um bloco econômico tal como o Mercosul ou a União Europeia, na verdade eles se configuram como um grupo de cooperação internacional. Ou seja, não há um estatuto ou um secretariado fixo, pois os objetivos estão centrados na colaboração dos Estados-membros em áreas de convergência, como infraestrutura e desenvolvimento sustentável, e não por exemplo, consonância em segurança internacional.

Apesar de não possuir uma carta fundadora ou tratado, os objetivos e princípios do BRICS são expressos nas declarações oficiais do grupo, frequentemente na forma de declarações de cúpulas anuais. O conjunto dessas declarações pode ser considerado como regras, mas sem possuir qualquer qualidade legal, como ocorreria com tratados formais.

linhda do tempo

 

De acordo com o artigo “Has BRICS lost its appeal? The foreign policy value added of the group” do cientista político Malte Brosig, há quatro valores que regem esse agrupamento. O primeiro é o apoio à estabilidade dos regimes domésticos, em segundo o gerenciamento de interferências externas indesejadas, em terceiro a possibilidade de seguir uma estratégia de alinhamento múltiplo e por fim, melhorar a imagem e poder geopolítico de seus membros. E é importante mencionar que também possuem visões de mundo com temas em comum, como questões de defesa da soberania, multipolaridade e oposição em sanções unilaterais.

Os BRICS, por excelência, não são uma agência de implementação de políticas, mas sim um agrupamento de política externa flexível. Inclusive, de acordo com o internacionalista Nikolas Gvosdev:

"Uma das vantagens do processo BRICS é que ele continua sendo uma associação pouco estruturada de estados com interesses diferentes, então nenhum esforço é feito para impor uma posição comum quando os estados do BRICS não podem concordar com uma. Mas esses estados também encontraram uma maneira de discordar em algumas questões-chave...sem acabar toda a empreitada".

Tal como no filme “Meninas Malvadas” em que o grupo das Plastics possuem regras “informais” de como por exemplo usar rosa nas quartas-feiras, Brosig observou algo similar com os BRICS:

 

Regras BRICS

Moeda única dos BRICS?

A questão de existir uma moeda única dos BRICS que tire a hegemonia do dólar no comércio exterior não começou com o discurso do Lula. Na verdade, é uma das razões de existência do próprio grupo, pois no contexto de sua criação oficial em 2009, eram ainda as consequências da crise financeira de 2008. Ou seja, instabilidade na economia mundial dolarizada.

Entretanto, não foi apenas a crise que trouxe esse desejo à tona dos países-membros. O desejo de quebrar com a hegemonia dos Estados Unidos no comércio internacional vem desde a década de 1960 - com o contexto da bipolaridade da Guerra Fria - segundo o colunista Joseph W. Sullivan em um texto para a revista estadunidense Foreign Policy. Assim, o antigo economista da Casa Branca considera que apesar de estar em estágios iniciais, essa nova moeda pode dar certo.

Ter uma outra moeda tão sólida quanto o dólar - e que é lastreada em ouro - é desejável não só para a estabilidade de diversos Estados. Mas, em especial, os BRICS sejam menos vulneráveis a sanções dos Estados Unidos, pois a própria existência de sanções se torna desnecessária.

O "Banco dos BRICS"

Durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, apesar do país passar por seu maior trauma recente em sua história, o 7x1, houve a oportunidade dos chefes de Estado dos BRICS se encontrarem em Fortaleza, no que posteriormente resultou na criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB em inglês).

Popularmente conhecido como “Banco dos BRICS”, essa organização tem como objetivos mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável de Estados emergentes além dos BRICS. Além disso, possui presidência rotativa de 5 anos e atualmente está na gestão brasileira. O primeiro presidente foi indicado por Jair Bolsonaro e assumiu o cargo de junho de 2020 até o começo de 2023. Com sede em Xangai, esse banco além de ter os integrantes do grupo, também conta com os atuais Estados-sócios: Emirados Árabes Unidos, Uruguai, e Egito.

Dilmãe era

No dia 24 de março de 2023 a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff foi eleita por unanimidade Presidente do NDB. Em nota o banco declarou:

“Como presidente do Brasil, Dilma Rousseff concentrou sua agenda em garantir a estabilidade econômica do país e a geração de empregos […], o combate à pobreza […] Como resultado de um dos mais amplos processos de redução da pobreza da história do país, o Brasil foi retirado do Mapa da Fome da ONU. Internacionalmente, promoveu o respeito à soberania de todas as nações e a defesa do multilateralismo, do desenvolvimento sustentável, dos direitos humanos e da paz. Sob seu governo, o Brasil esteve presente em todos os fóruns internacionais de proteção do clima e do meio ambiente, culminando com participação decisiva na consecução do Acordo de Paris.”

No dia de sua posse, em 13 de abril de 2023, Dilma defendeu a promoção de financiamentos em moedas locais e também na valorização de relações Sul-Sul. Assim é importante ressaltar que o Sul Global não é o mesmo que o Sul Geográfico, pois o primeiro se refere a Estados com histórico de terem sofrido colonialismo e/ou neocolonialismo e também estão se desenvolvendo, em sua maioria no Sul Geográfico (perto de Hemisfério Sul).

Além disso, o cargo da ex-presidente do Brasil é de caráter executivo, ou seja ela terá que se reportar ao Conselho de Governadores - que possuem maior peso decisório - composto pelos ministros de finanças dos Estados-sócios. Abaixo na linha hierárquica, está o Conselho de Administração, do qual a presidência executiva faz parte, mas sem direito a voto.

Desta maneira, Dilma possui diversos desafios até o final de seu mandato, principalmente em relação à Invasão Russa na Ucrânia, a criação de uma nova moeda comercial e a ampliação de Estados-sócios.

BRICS+

Nos últimos anos tanto as economias do Brasil e da África do Sul entraram em recessão, a Índia e a China não cresceram tanto quanto o projetado e a Rússia além de recessão também tem seu foco na Ucrânia. Portanto, houve um esquecimento da mídia desde 2016 até 2022, quando na décima quarta cúpula houve o anúncio de que a moeda dos BRICS terá seu valor lastreado em ouro e outros metais preciosos. Mas de fato o comeback veio com a visita do presidente do Brasil a China em abril.

Usando um vocabulário jovial, a internet quebrou. Desde estadunidenses chorando no Twitter, a edits de kpop no TikTok, só se falava sobre os BRICS. Realmente um revival digno de diva do pop!

 

Mas não foram apenas os internautas que enlouqueceram com essa volta do grupo. Até o final de abril de 2023, cerca de 20 Estados já expressaram seu desejo de entrar nos BRICS, inclusive a Argentina, que tem sua candidatura apoiada por Brasil e China. Segundo o embaixador sul africano para os BRICS, Anil Sooklal, 13 países formalmente requisitaram para entrar - como o Egito - e 6 pediram informalmente.

As possibilidades para o futuro dos BRICS são diversas e indicam um forte crescimento, como grupo e para o NDB. Por isso, analisando pelo viés de visibilidade, colocar a ex-presidente Dilma Rousseff como presidente de um órgão central dos BRICS é uma escolha interessante, pois além de ter um perfil técnico-burocrata, Dilma foi presidente de um dos países fundadores do grupo.

Líder taiwanesa encontra-se com o atual presidente da Câmara dos Estados Unidos. China responde com exercícios militares próximos à “ilha rebelde”
por
Beatriz Barboza
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11/04/2023 - 12h

No último sábado (08), a China deu início a uma sequência de três dias de exercícios militares próximo ao território de Taiwan, em resposta ao encontro da presidenta taiwanesa, Tsai Ing-wen, com o atual presidente da Câmara dos Estados Unidos, Kevin McCarthy. O encontro foi realizado terça-feira (04) na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, em Los Angeles. 

Segundo uma nota publicada pela Xinhua, agência oficial de notícias do governo chinês, o Ministério das Relações Exteriores declarou que as manobras militares configuram-se como "medidas firmes e eficazes para salvaguardar a soberania nacional e a integridade territorial" da república chinesa. 

Mesmo com explícitas ameaças vindas da China, a líder taiwanesa reforçou o preparo e prontidão da ilha em se proteger. A presidenta afirmou que Taiwan tem demonstrado à Comunidade Internacional sua capacidade de gerenciar riscos com serenidade, manter a paz e a estabilidade regional. 

"As relações Taiwan-Estados Unidos continuam a se aprofundar e a cooperação bilateral - em vários intercâmbios: economia, comércio e segurança - tiveram um progresso significativo nos últimos três anos", destacou Tsai Ing-wen em Nova York. 

Kevin McCarthy, em seu discurso de boas-vindas à presidenta, por vezes, elogiou a atuação de Ing-wen e reforçou o compromisso estadunidense com a ilha: "A amizade entre o povo de Taiwan e a América é um assunto de profunda importância para o "mundo livre" e é fundamental para manter a liberdade econômica." 

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O presidente da Câmara dos Estados Unidos, McCarthy, recebe Tsai Ing-wen, líder taiwanesa na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, em Los Angeles. Foto: Ringo H.W. Chiu/AP

Os discursos dos representantes enfatizam a valorização da democracia, a manutenção da paz e o progresso autônomo de Taiwan, sem mais a tutela chinesa. O posicionamento da China, no entanto, permanece firme no reconhecimento da ilha como uma “província rebelde” que faz, indiscutivelmente, parte de seu território. O governo chinês não cede e mantém-se fiel ao projeto de “uma só China”.

Com o objetivo de evitar maior provocação da república chinesa, a reunião da líder taiwanesa com a delegação de políticos estadunidenses foi classificada como não oficial pelo Departamento de Estado americano, o qual pediu moderação nos exercícios militares da China.

Em agosto de 2022, uma visita da ex-presidenta da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan teve resposta semelhante. A China arquitetou manobras militares que visavam cercar a ilha por meio de navios e aviões de guerra. O país usufruiu, inclusive, do lançamento de mísseis sobre a "província rebelde". Em tom de formalização, o governo chinês classificou a atuação militar como uma resposta aos "atos negativos dos Estados Unidos com relação a Taiwan" e declarou que as manobras serviam como alerta às forças separatistas. 

Ainda no sábado (08), a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que o governo chinês não reage exageradamente, apenas se posiciona em oposição à promoção da "agenda separatista" formalizada no encontro de Ing-wen e McCarthy. O Ministério da Defesa de Taiwan declara ter detectado um total de 49 aviões de guerra vindos da China nos arredores da ilha. 

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Caça J-15 pronto para decolar em Shandong durante exercício militar liderado pela China sobre o Estreito de Taiwan. Foto: An Ni/Xinhua
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Aviões de guerra do Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação do Povo Chinês (PLA) durante manobra militar nas proximidades da Ilha de Taiwan. Foto: Mei Shaoquan/Xinhua

 

Na terça-feira, 04/04, Donald Trump depôs sobre as mais de 30 acusações sobre ele na Promotoria de Manhattan, Nova York.
por
Beatriz Brascioli
Laura Teixeira
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10/04/2023 - 12h

Na última terça-feira (04/04), Donald Trump se tornou o primeiro ex-presidente americano a ser acusado em um processo criminal. Durante sua aparição em um tribunal em Manhattan, ele afirmou sua inocência perante as 34 acusações feitas contra ele. As principais denúncias envolvem falsificação de registros contábeis no momento da campanha de 2016.

O caso mais marcante foi a compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniels, no valor de US $130 mil (aproximadamente R$671 mil reais) para que seu caso extraconjugal não se tornasse público. Segundo a agência de notícias Reuters, Trump pode receber pena de até 136 anos.

Os advogados de Trump negociaram com a promotoria de Manhattan e chegaram a um acordo de não necessidade do uso de algemas e também não ter um registro em retrato, aquele onde o preso segura uma plaquinha com o nome e idade. A defesa alegou que o ex-presidente já é uma pessoa bastante conhecida e deveria ser poupado disto. Já na questão das algemas, alegou que o empresário corre pouco risco de fuga.

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O ex-presidente dos EUA Dornald Trump, rodeado por policiais, em tribunal de Manhattan - Ed Jones / AFP

Trump também não ficará em uma cela, pois a natureza do seu crime não põe a sociedade em risco, como por exemplo, a de um assassino. O ex-presidente deixou o tribunal sem pagar fiança, no mesmo dia do julgamento, apenas deixando suas digitais no banco de dados.

Apesar de ser réu, isso não impossibilita Donald Trump de participar da corrida eleitoral em 2024, já que nos Estados Unidos não existe uma lei equivalente à lei da ficha limpa no Brasil. A única maneira dele ser impedido de concorrer novamente à presidência dos EUA seria sendo condenado pelo ataque ao Congresso. O fato ocorrido em janeiro de 2021, poderia acabar com a carreira política de Trump, caso a Justiça concluir que ele violou a 14ª Emenda da Constituição que barra candidaturas a cargos públicos de pessoas que "se engajaram em insurreição ou rebelião" ou forneceram "ajuda ou conforto" a inimigos dos EUA.

Pronunciamento

Após sua audiência em Nova York, o ex-presidente voou de volta para a Flórida e se pronunciou para seus apoiadores. Argumentou que está acontecendo uma “caça às bruxas” nos Estados Unidos e atacou os promotores e juízes. Além disso, acusou o promotor do caso, Alvin Bragg, de ter motivações políticas para indiciá-lo . Em suas próprias palavras, "o único crime que eu cometi foi defender a nossa nação daqueles que tentam destruí-la”. O juiz do caso, Juan Merchan, alega ter recebido ameaças de morte também. A polícia de Nova York está reforçando o policiamento dos ameaçados.

Ao chegar em Nova York, se hospedou em uma de suas propriedades, a Trump Tower, onde havia um forte policiamento e barricadas na calçada. Manifestações foram convocadas em frente ao prédio. Em nota, o departamento de polícia de Nova York disse que os policiais estão em alerta e o departamento pronto para responder, garantindo que todos possam exercer seus direitos pacificamente. Alguns desses manifestantes pedem a prisão, outros acham que é tudo uma perseguição política e que ele está sendo julgado injustamente.

 

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Protestos contra e a favor de Donald Trump. Foto: Leonardo Munoz // Bryan R. Smith / AFP

“Eu não penso que os crimes dele contra mim são passíveis de encarceramento. Eu sinto que outras coisas que ele fez, se ele for condenado, com certeza [deveriam implicar uma pena de prisão]”, diz Stormy Daniels em entrevista para a rede de TV Fox, após o ex-presidente virar réu no processo que teve iniciou com o suborno pela compra de silêncio dela. 

Entenda como Donald Trump pode ser preso por conta de uma denúncia vinda de uma atriz pornô
por
Beatriz Brascioli
Laura Teixeira
|
30/03/2023 - 12h

Ao voltar às redes sociais, no dia 21/03 (terça-feira), Trump utilizou a “Truth", plataforma de mídia social criada pelo Trump Media & Technology Group, e pediu para que seus apoiadores fossem às ruas contra as ameaças vindas da atriz pornô Stormy Daniels. O ex-presidente foi banido das mídias tradicionais após envolvimento no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

 

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Ex-presidente dos EUA Donald Trump deixa a Trump Tower em Nova York 10/08/2022 REUTERS/David 'Dee' Delgado/File Photo

 

Linha do Tempo

As acusações indicam a compra do silêncio da atriz , sobre ter tido uma noite com Trump, e o mesmo não ter declarado financeiramente. O pagamento teria sido feito pelo seu advogado Michael Cohen em 2016 (antes de ganhar as eleições) em um valor estimado em US $130 mil (aproximadamente R$671 mil reais). Implicando em um falso testemunho por declarações falsas de pagamento (delito menor) ou por financiamento das campanhas (delito penal).

O advogado já foi condenado à prisão e afirmou que pagou a pedido do então candidato na época. Já o ex-presidente nega todas as acusações e diz que a investigação tem viés político. Se ele for realmente indiciado, será a primeira vez na história dos Estados Unidos que um ex-presidente poderá ser preso.

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Donald Trump e Stormy Daniels, juntos em 2006, em uma imagem obtida pelo jornal 'The Wall Street Journal' da conta MySpace da atriz.

 

O que acontece se ele for culpado?

Após a promotoria de Nova York ouvir as testemunhas, Trump se recusou a se defender e o processo está sendo analisado na busca de evidências suficientes para prosseguir a acusação. O promotor Alvin Bragg virou alvo de comunidades de extrema direita apoiadoras do republicano. As principais críticas o descrevem como ativista progressista e associado a George Soros - filantropo húngaro que encabeçou projetos progressistas e um dos inimigos dos supremacistas brancos. Caso o processo prossiga, Donald Trump será obrigado a se apresentar à justiça ou a mesma mandará prendê-lo.

 

A não adesão de seus apoiadores

Ali Alexander, uma das lideranças da extrema direita americana e um dos organizadores do ataque ao Capitólio, anunciou que não iria ao protesto, assim como outros diversos importantes apoiadores do ex-presidente.

Ao incentivar possíveis manifestações, cidades se preparam para um cenário de caos e violência. Porém, seus apoiadores não foram às ruas como Trump pediu.

O motivo principal desse cenário é uma teoria da conspiração que ronda os trumpistas. Segundo eles, progressistas estariam infiltrando protestos de extrema direita e os deixando mais violentos. Esse argumento começou com o ataque ao Capitólio onde uma grande violência foi televisionada e os apoiadores começaram a afirmar que essas violências viriam de pessoas que seriam contra o ex-presidente, com intuito de manchar e deslegitimar o que eles estavam reivindicando. Tudo isso seria comprovado por documentos secretos que mostrariam que informantes do FBI estariam presente no acontecimento de janeiro de 2021.

 

Um jogo político?

O republicano quer se tornar candidato nas eleições presidenciais de 2024, ou seja, as acusações são um teste para sua popularidade. Até agora, nenhum processo impede ele de concorrer à presidência. Há também, quem acredita que, se Trump voltar ao poder, poderá criar mais caos à imagem estadunidense. Já outros acham que tudo isso não passa de uma “perseguição política".