Professora de Ciências Sociais aponta a polarização intensificada como motivo da última eleição brasileira ter sido a mais acirrada da história
por
Pedro Rossetti
Gabriel Ferro
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18/09/2023 - 12h

As eleições no Brasil são, muitas vezes, um espetáculo de intensidade política e competição acirrada. Em 2022, a disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro pela Presidência da República se tornou a mais parelha e toda história democrática brasileira, com menos de dois pontos percentuais de votos, onde o candidato do PT foi eleito com 50,90% contra 49,10% do então presidente, com 99,96% das urnas apuradas em todo o país.

Desde a redemocratização em 1988, apenas 6 eleições haviam chegado ao segundo turno, sendo a primeira de 1989 e as últimas cinco que vão de 2002 até 2018. Analisando a diferença entre os percentuais dos candidatos é possível ver que não há muita discrepância entre eles, porém, cada vez mais, o país passou a se dividir e formar disputas muito acirradas pelo cargo de poder mais alto do país.

Lula e Bolsonaro em debate durante as eleições de 2022. Foto: Mauro Pimentel/AFP

Lula e Bolsonaro em debate durante as eleições de 2022. Foto: Mauro Pimentel/AFP

Para entendermos como o Brasil passou a separar se em partidos políticos, Rose Segurado, Professora de Ciências Sociais da PUC-SP, compartilhou em entrevista com a Agemt, alguns insights valiosos sobre os fatores que alimentam essa disputa eleitoral apaixonante, destacando o peso do poder econômico, a influência das elites políticas e os desafios inerentes a um sistema político diversificado.

Conforme Segurado afirma, “A influência das eleições depende do contexto e da conjuntura política do momento, variando ao longo do período eleitoral. No entanto, um fator crucial que sempre se destaca é o poder econômico. Os interesses do capital e das elites políticas estão constantemente presentes e influenciam os resultados à medida que financiam e investem em candidatos alinhados com seus projetos políticos.”. É inegável que o poder econômico desempenha um papel significativo nas eleições, conferindo vantagens consideráveis a candidatos apoiados financeiramente pelas elites. Esta influência não apenas molda a agenda política, mas também exerce impacto nas escolhas dos eleitores.

Outro ponto de destaque feito pela especialista é a complexa paisagem partidária do Brasil: “Atualmente, contamos com uma miríade de partidos políticos, chegando a cerca de 35. Muitos destes partidos têm abordagens fisiológicas, priorizando a manutenção de determinados grupos no poder ou servindo como apoio, especialmente os chamados ‘partidos nanicos’,” A fragmentação do sistema político brasileiro pode tornar a escolha dos eleitores uma tarefa desafiadora, já que muitos partidos têm agendas pouco claras e frequentemente buscam alianças com as principais forças políticas em busca de poder e recursos. O resultado é uma falta de clareza sobre as opções disponíveis.

A professora enfatiza que embora haja evoluções ao longo do tempo, as raízes dos desafios eleitorais persistem. Ela destaca, com urgência, a necessidade de uma reforma política abrangente no Brasil para abordar essas questões estruturais, porém existe um empecilho: “Claro que nós temos mudanças ao longo do tempo, mas não muda substancialmente, a raiz das questões continua as mesmas. É muito difícil fazer uma reforma política radical, porque quem vota por essa reforma são os próprios parlamentares, então, evidentemente, como eles querem a perpetuação de um dado jogo político, eles não têm interesses em mudanças que sejam mais substanciais.”

            Por fim, uma questão que tem sido pauta em diversas áreas na atualidade é o avanço tecnológico e principalmente, as redes sociais. Não é apenas no Brasil que as eleições passaram a ter uma divisão muito grande de opinião popular, Estados Unidos, Angola e Israel, por exemplo, tiveram suas últimas eleições marcadas pelos detalhes nos números de votos, que se tornaram as mais acirradas de suas histórias democráticas.

Rose buscou destacar essa influência da internet na última eleição, especialmente destacando a propagação de Fake News, “Pela influência das redes sociais, as campanhas se tornam mais pulverizadas e com usos tecnológicos, algorítmicos e muito dinheiro, financiam algumas candidaturas ou distribuem fake news e desinformação pelas redes para afetar adversários políticos dessa tal candidatura. Isso vem contaminando muito o processo eleitoral, sobretudo nos últimos anos e as pessoas acabam escolhendo muitas vezes um candidato ou partido com base em um conjunto de mentiras e informações que não tem base nos fatos, então, esse é um problema muito grande para a democracia representativa na atualidade”. Além disso, completa com a questão da falsa sensação de ligação entre o candidato e seus eleitores, “A gente pensa que as redes podem garantir uma comunicação direta com o candidato, e essa é uma sensação falsa obviamente, candidatos têm uma equipe para promover essa interação e fazer com que o eleitor sinta que o candidato está falando diretamente com ele, sem nenhum tipo de mediação”.

Em resumo, as eleições no Brasil são constantemente disputadas devido a uma série de fatores complexos. A influência do poder econômico, a fragmentação do sistema político, a necessidade de reforma política e a crescente influência das redes sociais e da tecnologia são elementos que contribuem para a intensidade desse processo democrático. A compreensão desses desafios é essencial para fortalecer a democracia e buscar soluções que promovam eleições mais transparentes e representativas.

 

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.

 

Em seu próximo governo, "centrão" será peça fundamental
por
Antônio Bandeira de Melo
Gustavo Manfio
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18/11/2022 - 12h

No dia 30 de outubro de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva, Partido dos Trabalhadores (PT), foi, pela terceira vez, eleito presidente do Brasil. Com 50,9% dos votos válidos, Lula derrotou Jair Bolsonaro, Partido Liberal (PL), no 2° turno mais apertado da história. Pouco mais de 2,1 milhões de votos separaram os dois candidatos. Lula já havia ocupado o cargo duas vezes, sendo a autoridade máxima do Poder Executivo entre 2003 e 2011. Mas, este seu terceiro mandato tem uma grande diferença para os anteriores: a base de apoio ao presidente parece enfraquecida. Nos últimos anos, com a polaridade da política brasileira o antipetismo se fez forte, o que levou ao crescimento da extrema direita no Brasil. Dessa vez Lula enfrentará maiores desafios para sua governabilidade.

Oswaldo Amaral, cientista político e professor da UNICAMP, explica que a pouca diferença entre os candidatos ocorreu por dois fatores. O primeiro é uma corrida eleitoral injusta. “Muitas das regras eleitorais foram violadas ou burladas, especialmente no que se toca a gastos. Foram mais de 50 bilhões de reais gastos em poucos meses, com clara finalidade eleitoral. Então isso fez com que, mesmo com a mal avaliação do governo Bolsonaro na maior parte do tempo, as eleições fossem equilibradas. A quantidade de recursos despejadas na economia fez o atual presidente ser mais competitivo.” O segundo era o antipetismo, e o fato de serem dois concorrentes com grande rejeição.

O Congresso Nacional é órgão constitucional que exerce as funções do poder legislativo. Ele é bicameral, então, é composto por duas casas: o Senado Federal, câmara alta, e a Câmara dos Deputados, câmara baixa. O Senado é integrado por 81 senadores que representam as 27 unidades federativas. Os mandatos são de 8 anos, então a cada 4 anos se renova um ou dois terços do Senado. Para exemplificar: em 2022, foram 27 senadores eleitos, um de cada unidade federativa, ou seja, um terço do Senado foi renovado. Nas próximas eleições serão dois terços. Ao todo, cada estado é representado por 3 senadores. Para 2023, os partidos políticos com mais eleitos são: PL (13), União (12), PSD (11), MDB (10) e PT (9).

Já na Câmara dos Deputados são 513 deputados federais que representam o povo. O número de deputados federais eleitos por estado leva em consideração o tamanho de sua população. Desse modo, o limite máximo por unidade federativa é de 70 deputados, caso de São Paulo, e o mínimo é 8, caso do Acre. Seus mandatos são de 4 anos, e em cada eleição se renova toda a Câmara Baixa. Se somarmos os partidos considerados de esquerda, que tendem a apoiar Lula, são 126 eleitos, sendo 68 do PT. Em contrapartida, o partido com maior número de representantes é o PL, de seu opositor, e atual presidente, Jair Bolsonaro, com 99 representantes. União Brasil (59), PP (47), PSD (42), MDB (42) e Republicanos (41) são os outros partidos com mais representantes. Os números mostram uma governabilidade difícil para o futuro chefe de poder.

Amaral cita algumas diferenças entre o futuro mandato de Luís Inácio e seu primeiro, em 2002. “A presidência da República está mais enfraquecida na sua relação com o Parlamento. Então, antes, o presidente tinha o poder de agenda maior, o que facilitava para ele a construção das coalisões para governar. Agora, com as mudanças que aconteceram durante o governo Bolsonaro, mudanças no regimento interno da Câmara, com alterações na forma de distribuição das emendas dos parlamentares, isso deu mais poder para o presidente da casa e os parlamentares. A construção das alianças e da coalisão pós-eleitoral, que torna possível a administração do governo fica mais difícil do que quando Lula assumiu pela primeira vez.”

Andréa Freitas, cientista política e professora da UNICAMP, aponta que os atores políticos mudaram significativamente do seu primeiro mandato para agora.  “Mudaram os partidos com as maiores bancadas, na época em que foi presidente pela primeira vez, as maiores bancadas eram do PT, PSDB, PFL e PMDB. E, agora vemos o surgimento de dois atores muito fortes o PL, mais a direita, e o União Brasil, antigo PFL, repaginado em uma fusão com o PSL. Tem também o PSD, do Kassab. Do ponto de vista dos partidos políticos a variável constante é o PT, à esquerda. Embora, o União Brasil venha do antigo PFL ele passou por muitas mudanças ao longo do tempo. Não dá para dizer que é a mesma coisa de 2003.”

Ela também explica que o Congresso não é muito diferente do qual o Lula governou pela primeira vez, quando se divide entre esquerda, direita e centro. “O PT tinha grande bancada, mas os partidos de esquerda não. Vale lembrar que em seu primeiro governo, o PSOL se separa do PT, então mesmo na esquerda tinha uma oposição. De forma geral, a divisão da casa se mantém, um quarto a direita, um quarto a esquerda e dois quartos para o centro.” A professora analisa que “a direita, o PL, e talvez outros pouco pequenos partidos fiquem a oposição. O resto dos partidos de centro, nessa ideia que se convencionou de ‘centrão’, já tem declarado apoio ao Lula e a intenção de fazer parte da coalisão. No primeiro governo ele tinha oposição muito forte no PSDB e no PFL que tinham duas grandes bancadas e faziam a oposição de forma sistemática. Hoje, o União Brasil, novo PFL, com as mudanças das características, já declarou a intensão de formar coalisão com o governo. E, o PSDB declarou que pode votar favoravelmente as medidas de Lula se isso se alinhar com as preferências do partido. Então existe uma coalisão pré-montada em termos de intenções, que, claro, vai depender das negociações da composição dos gabinetes dos ministérios. Como o Lula vai distribuir os ministérios entre esses partidos vai decidir se eles vão ‘jogar juntos’ ao longo do governo.”

Em termos de formação da coalisão Freitas explica que Lula deve negociar com o mesmo número de partidos. “Além dos partidos de esquerda e da federação que ele faz parte, alguma coisa entre 7 ou 8 partidos para formar a coalisão de governo”.

Diante do cenário conturbado e da grande polarização política, Lula deu início às estratégias muito antes de seu mandato começar. Participando das eleições desde 1989 e de volta à concorrência presidencial, o candidato do PT formou a maior coligação de sua carreira política e das eleições de 2022. A aliança juntou 9 partidos políticos: PT, PV, PCdoB, PSOL, REDE, Solidariedade, Avante, Agir e PSB, partido do vice Geraldo Alckimin, o adversário principal de Lula na eleição de 2006. Além disso, para o 2º turno teve o apoio oficial dos dois principais concorrentes que ficaram pelo caminho, Simone Tebet (MDB), terceiro lugar em votos, que participou de sua campanha, e Ciro Gomes (PDT), quarto lugar em votos, que acompanhou a decisão do seu partido.

Nas eleições do segundo turno, as 27 unidades federativas se dividiram em 13 vitorias para o candidato do PT, e 14 para Bolsonaro, mesmo Lula tendo ganhado em votos absolutos, sendo que o único local onde teve alteração no resultado do primeiro para o segundo turno foi o Amapá, onde na primeira disputa Lula venceu, mas na segunda Bolsonaro saiu vencedor. Dentro dos locais onde o eleito presidente ganhou, fica muito claro sua soberania no nordeste, mas também fica a insatisfação do centro-oeste, sul e sudeste, que mostraram a preferência pelo atual presidente. Algo já tradicional, segundo a professora.

Entretanto, para Freitas, o fato de ele não ter ido bem nessas regiões não implica em menos apoio no legislativo federal. Para ela, “a preocupação é com os governadores. Mas, como estados e municípios são muito dependentes do governo federal em recursos financeiros, não deve haver uma oposição muito forte. Não no sentido que eles vão se alinhar, ou defender as propostas encabeçadas pelo presidente, mas no sentido que eles não devem ser uma oposição quando o assunto não implicar em temas caros para os próprios estados. Os governos estaduais não devem implicar na redução nas taxas de sucesso ou na capacidade de governar do Lula, pensando na relação entre executivo e legislativo. A coalisão entre os líderes partidários é mais importante.”

“A luta pelas mudanças climáticas é indissociável da luta contra a pobreza”.
por
Francisco Barreto
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17/11/2022 - 12h

 

futuro presidente discursando
Lula faz pronunciamento na COP 27 (imagem reprodução)

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silvia, nesta quarta-feira, (16) discursou na 27.ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (COP 27) em Sharm El Sheikh, Egito. As declarações do próximo líder brasileiro expressaram as intenções do futuro governo: em relação às mudanças climáticas; ao modelo de produção agropecuário do país; e ao desejo de mudança das posições diplomáticas brasileiras.

A conferência ocorrida na parte da tarde com Lula foi marcada por um enorme entusiasmo das alas favoráveis ao político, como por boa parcela dos estrangeiros aqui presentes e pela imprensa. Entrar na conferência foi um esforço homérico visto a enorme multidão que se aglomerava na entrada do pavilhão. O clima esquentou quando a maioria do público, não jornalista foi barrado de entrar. A organização precária dos dirigentes da conferência decidira realizar o evento em um salão pequeno com apenas uma entrada; desta maneira, jornalistas e curiosos disputaram palmo a palmo o estreito acesso ao salão.

Lula abriu seu discurso com agradecimentos ao convite do governo egípcio e, em seguida prometeu o retorno da participação efetiva do Brasil aos assuntos de preservação ecológica e controle climático. Teceu críticas a guerra na Ucrânia e afirmou que a fortuna investida no conflito seria melhor empregada a favor do combate ao aquecimento global.

tumulto entre a imprensa e curiosos na entrada do pavilhão onde Lula discursou
Insatisfação generalizada entre o publico impedido de entrar no saguão onde o pronunciamento ocorria (imagem autoral)

O ex-presidente salientou a situação alarmante de fome no mundo e pressionou os líderes presentes de países desenvolvidos a cumprirem suas promessas feitas no passado para que as nações menos favorecidas possam enfrentar as consequências das mudanças climáticas provocadas por suas ações.

O político também aproveitou os holofotes para alfinetar o governo atual taxando-os de negacionistas climáticos. E se comprometeu a abandonar a postura diplomática isolacionista adotada pelo o atual chefe de Estado.

“Entre 2004 e 2012 reduzimos a taxa de devastação amazônica em 83%, ao mesmo tempo, o PIB agropecuário cresceu 75%”, reforçando a disposição do estadista em apaziguar os setores do agronegócio.

Em seguida foi prometido reforçar os laços com países latino-americanos e caribenhos através da realização da cúpula dos países membros do Tratado de Integração e Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CALC), respeitando a soberania dos membros signatários. Também firmou que irá retomar o compartilhamento de tecnologia e de desenvolvimento com os países africanos aliados e combaterá a fome ao nível nacional e internacional.

“Ninguém está a salvo” disse o ex-presidente, explicitando a seca recorde no território nacional e os ciclones nos EUA. “Segundo projeções da Organização Mundial da Saúde, entre 2030 e 2050 o aquecimento global poderá matar 250 mil pessoas por ano”.

Prosseguindo o discurso, Lula reafirmou a desigualdade climática que existe no planeta: “O 1% mais rico do mundo emite 70 mil toneladas per capita de CO₂ por ano, enquanto os 50% mais pobres emitem cerca de uma tonelada, segundo dados disponibilizados na COP 26.” Continuando no mesmo tema, Luís Inácio alega que: “A luta pelas mudanças climáticas é indissociável da luta contra a pobreza”.

Lula reafirma a importância da Amazônia e se compromete a lutar contra o desmatamento em seu governo: “A população Amazonense e os povos originários possuirão papel chave nesta empreitada”. O político demonstrou seu interesse em reativar o Fundo Amazônia sem abrir mão da soberania nacional. Fez questão de expressar seu desejo de que a COP 30, que ocorrerá em 2025, seja realizada em solo Amazonense.

O líder petista prometeu expandir as matrizes energéticas verdes. Além de afirmar que, em seu governo, pretende ampliar a produção agropecuária sustentável com sequestro de carbono, reafirmando que o setor do agronegócio é um importante aliado estratégico.

Foi endossada a continuidade do Acordo das Florestas entre os governos do Brasil, Indonésia e Congo firmados na primeira semana da COP 27.

Lula criticou, também, o atual funcionamento das Nações Unidas (ONU); e que a enfatizando que a organização reflete, de forma antiquada, o cenário político da Segunda Guerra Mundial, em que poucos Estados possuem relevância. Prosseguindo, redirecionou as críticas ao modo de funcionamento da Cúpula de segurança da ONU, especificamente para a política de veto, exigindo uma participação democrática e igualitária de todos os continentes nas Nações Unidas.

A manifestação foi convocada por grupos de extrema direita nas redes sociais, pede intervenção e nega resultado das urnas
por
Artur dos Santos
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02/11/2022 - 12h

Apoiadores do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que perdeu as eleições no último domingo (30), convocaram manifestações em diversos quartéis militares no país para pedir intervenção militar, intervenção federal e a aplicação do artigo 142 da Constituição Federal nesta quarta-feira (2). Em São Paulo, a maior concentração foi no região do Monumento dos Bandeirantes e do Quartel General do Exército.

Desde segunda-feira (31) mensagens circulavam em grupos do Telegram convocando a presença de apoiadores na frente dos quartéis de todos os estados para que pedissem Intervenção Militar. As manifestações ocorrem em cidades de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, entre outros estados. 

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Foto encaminhada em grupos do Telegram

As manifestações conversam diretamente com os bloqueios a estradas de diferentes estados do país - que nos últimos dias foram dispersados pela Polícia Federal e por torcidas organizadas - que também discordam dos resultados das eleições.

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"Eu, particularmente, peço Intervenção Federal", diz manifestante à AGEMT
Foto: Artur dos Santos

Em entrevista à AGEMT, um manifestante afirmou que “a grande maioria não concorda com o resultado das urnas”. Segundo ele, haveria urnas que apenas computaram 200 votos durante todo o período de votação, além de cidades com 30 mil habitantes que registraram 70 mil votos. Ambas as afirmações foram desmentidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Placa com os dizeres:"Houve fraude nas urnas, queremos o exército art. 142 (sic)"
Foto: Artur dos Santos
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Foto: Artur dos Santos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para outro manifestante, esse vestido com roupas camufladas, o Brasil teria chegado em um limite: “chegamos em um limite do Brasil virar um país comunista”. Ainda diz, em meio a estouros de fogos de artifício, que “ninguém aceita um ladrão no poder, então a gente quer todo mundo na cadeia. Todo mundo que tem culpa no cartório que fosse preso”. 

Quanto ao pronunciamento de Jair Bolsonaro feito na terça-feira (1), disse ter sido perfeito: “ele falou o que tinha que falar, quem quiser entender que entendeu. Ele tem as cartas na manga”. Durante a manifestação, a reportagem presenciou uma manifestante perguntando para um policial militar se ele estaria “do nosso lado”; a isso, o policial em questão respondeu que sim. 

 

Presidente diz que manifestações pacíficas são bem vindas e que últimas movimentações são fruto de indignação e sentimento de injustiça
por
Artur dos Santos
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01/11/2022 - 12h

Jair Messias Bolsonaro (PL) realizou nesta terça feira (1) em Brasília seu primeiro pronunciamento após derrota no segundo turno para o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em seu breve discurso, o atual presidente menciona “manifestações populares” e as associa com “sentimento de indignação e injustiça de como se deu o processo eleitoral”.

Também defendeu que os métodos dessas manifestações, que desde domingo (30) bloqueiam as estradas de 25 estados do país impedindo a circulação de remédios, alimentos e pessoas e questionam os resultados das eleições, “não podem ser os métodos da esquerda”. Segundo Bolsonaro, esses métodos “sempre prejudicaram a população”. O atual presidente também mencionou o surgimento da direita no país com os resultados das eleições para o senado e para a câmara, além de afirmar que nunca foi antidemocrático durante seu mandato. 

 

Em coletiva, mesmo após derrota eleitoral, Haddad comemora a vitória de Lula e ressalta o crescimento do partido, apontando Guilherme Boulos como próxima aposta nas eleições de 2024
por
Malu Araújo, Victoria Leal
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01/11/2022 - 12h

Embora a noite de ontem, dia 30 de outubro, não tenha concedido ao candidato Fernando Haddad (PT)  a vitória para ocupar a cadeira do Palácio dos Bandeirantes, o clima em sua coletiva de imprensa era de festa. As primeiras palavras do petista ao iniciar a coletiva foram: “eu já liguei para o Tarcísio de Freitas, desejando a ele que faça um bom governo, me colocando à disposição no que eu puder ajudar São Paulo, eu acredito na democracia e a democracia é reconhecimento do resultado”.

 

Haddad em sua coletiva de imprensa após o resultado das eleições- Foto: Gabriela Figueiredo
Haddad em sua coletiva de imprensa após o resultado das eleições- Foto: Gabriela Figueiredo

O candidato confraternizou com a vitória de seu cabo eleitoral, “pensem em um homem feliz, realizado”, lembrando como foi difícil o resultado das eleições de 2018 e dos acontecimentos que a sucederam, “muitos imaginavam que o Brasil ia acabar”, pontuou.

Haddad foi enfático de como o mundo inteiro estava de olho no Brasil e nos resultados dessas eleições, afirmando que “essa resposta vai ter um alcance mundial”.  Para além da vitória de Lula, o petista esboçou como a união dos progressistas possibilitou a “melhor” das eleições do partido em 40 anos, chegando com 45% dos votos no Estado, “é um recorde nosso", assinalou ele.

Além de todos esses apontamentos, o candidato também comparou como o partido conseguiu avançar em termos de “aceitação” no Estado de São Paulo, alegando ter ficado “muito feliz com o mapa todo vermelhinho”. Já vislumbrando o futuro, chegou a atribuir a Guilherme Boulos, deputado federal eleito com o maior número de votos no estado, potenciais chances de se eleger nas eleições ao governo municipal em 2024.

“Essa virada de votos no interior pode não ter nos garantido a vitória, mas garantiu a vitória do Lula e nós temos que agradecer o interior por isso!”, o candidato frisou sua surpresa positiva com o crescimento dos votos no partido que representa por parte do eleitorado do interior de São Paulo. 

Vale ressaltar que durante a última eleição de 2018, as cidades do interior representaram uma pequena porcentagem dos votos válidos para o candidato do PT em comparação a 2022, já que a aderência à partidos da oposição representava a maioria. 

“O interior de São Paulo veio conosco em grande medida. Muita gente do interior que jamais apertou 13 na vida e nessa eleição apertou! É o começo de um namoro, nós vamos conquistar esse povo”, disse ele.

“Estamos mirando os 50%, vamos namorar muito esse povo do interior, vamos dialogar muito com essa gente” reforçou Haddad. O político afirma que a relação com o eleitorado do interior de São Paulo foi algo construído com o tempo, tendo como base os reflexos políticos e econômicos da atual situação do país, mas, apesar disso, são potenciais aliados para a defesa da democracia. 

Quando solicitado um posicionamento para os aproximadamente 11 milhões de eleitores que votaram no partido em relação às suas perspectivas para os próximos quatro anos, Fernando Haddad direciona seus agradecimentos aos eleitores da capital, mas principalmente aos eleitores do interior: “Acho que nós avançamos no interior com o diálogo com a população, lá a gente teve mais dificuldade historicamente de dialogar, mas avançou e vai avançar mais.” 

Fernando encerra sua participação na coletiva de imprensa dizendo que não ter sido eleito é apenas um pequeno obstáculo no curso do processo democrático, entretanto vai continuar lutando pelas propostas de sua campanha e que está aberto para cobranças na atuação da Assembleia Legislativa, “É para isso que serve a oposição, para aperfeiçoar o plano de governo de quem ganhou, para o bem do povo!.”

 

Palco tradicional de manifestações, Avenida Paulista foi fechada para veículos durante a comemoração
por
Laura Mafra Boechat
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01/11/2022 - 12h

Com bandeiras, bonés e jargões comuns de campanha na ponta da língua, apoiadores do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começaram a tomar a Avenida Paulista, na área central da capital, por volta das 17 horas do domingo (30). Os eleitores se concentraram em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP) para a apuração dos votos do segundo turno das eleições de 2022.

 

Apesar de permitida a presença de eleitores de ambos os candidatos à Presidência da República antes dos resultados finais da apuração, a predominância na Avenida Paulista era claramente de petistas. Apoiadores do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) eram minoria, transitando na avenida timidamente, longe da concentração pró-Lula em frente ao MASP e, por vezes, em carros com bandeiras do Brasil e adesivos, antes de as ruas serem fechadas para circulação de veículos.

 

Ocupando as ruas ao longo de 8 quadras, apoiadores de Lula exaltavam o nordeste, celebravam o que poderá ser o fim do sigilo de 100 anos instituído por Bolsonaro e atacavam figuras como Tarcísio de Freitas (Republicanos), novo governador eleito de São Paulo. Durante a apuração, sobrou até mesmo para Neymar, que declarou apoio a Bolsonaro. A música "Ei, Neymar, vai ter que declarar” foi cantada diversas vezes, se referindo à dívida do Imposto de Renda do jogador.

 

 

Mesmo com o clima de festa já instaurado, a comemoração começou mesmo por volta das 18h40, quando Lula ultrapassou o adversário com cerca de 67% das urnas apuradas. No entanto, a vitória oficial do candidato petista só veio às 19h57, com 2,1 milhões de votos a mais que Jair Bolsonaro.

 

Manifestação Avenida Paulista 30 de outubro vitória Lula segundo turno
Eleitores de Lula festejam vitória na Avenida Paulista após os resultados do segundo turno das eleições. Foto: Laura Boechat

 

Após a vitória, muitos eleitores se emocionaram, aos abraços e lágrimas. Também foram lançados sinalizadores e fogos, sempre acompanhados pelo tradicional "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".

 

Eleitores de Lula PT festejam vitória na Avenida Paulista
Apoiadores de Lula festejam vitória na Avenida Paulista após resultados do segundo turno das eleições. Foto: Laura Boechat

 

Às 22h30, houve um minuto de silêncio em homenagem às vítimas de Covid-19, o que também aflorou as emoções do público presente.

 

A multidão não parou de crescer até o discurso de Lula, com apoiadores vindos de ambas as direções da Av. Paulista. O presidente eleito chegou ao local às 22h40, iniciando o discurso por volta das 23h. 

 

Lula discursou em cima de um carro de som em frente ao MASP, expressando que a vitória era de todos que "amam a democracia e querem um país mais justo". Eleito pela terceira vez, o petista também reforçou que seu maior compromisso seria com o combate à fome e à miséria, marca registrada de seus governos anteriores.

 

Mesmo com a presença da Polícia Militar, a instituição disse não ter estimativa da quantidade de pessoas presentes no local. 

Com 50,90% dos votos, Lula vence o presidente Jair Bolsonaro, que atingiu 49,10%
por
Henrique Alexandre
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01/11/2022 - 12h

O Brasil tem um novo presidente da República. Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, conquistou mais de 60 milhões de votos e governará o país pela terceira vez - fato inédito na história.

Em uma disputa acirrada com o atual presidente Jair Bolsonaro, Lula só conseguiu a virada quando as urnas marcavam 67% de apuração, exatamente às 18h44. Nesse momento, o petista aparecia coom 50,01% dos votos, contra 49,99% de Jair Bolsonaro. Depois dessa virada, Lula seguiu na frente e teve a sua vitória anunciada às 19h57, quando tinha 50,83% dos votos. 

 

  • Lula (PT): 50,90% (60.345.999 votos)
  • Jair Bolsonaro (PL): 49,10% (58.206.354 votos)

 

  • Brancos: 1.769.678 (1,43%)
  • Nulos: 3.930.765 (3,16%)
  • Abstenção: 32.200.558 (20,58%)

 

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Lula e aliados comemoram a vitória sobre JairBolsonaro - REUTERS/Carla Carniel

 

A FORÇA DO NORDESTE 

O petista deve muito essa vitória principalmente para a região nordeste. Reduto histórico do PT, Lula recebeu 69,34% dos votos na região. Com destaque para a Bahia, em que presidente eleito recebeu 72,12% dos votos do estado, e para o Ceará, que recebeu 69,97% dos votos. Foi na região que Lula equilibrou as derrotas que sofreu no Sudeste e no Sul, principalmente no estado de São Paulo, o maior colégio eleitoral do Brasil, que o petista perdeu por mais 2,5 milhões de votos de diferença contra Jair Bolsonaro.

 

Nordeste

  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 69,34%
  • Jair Bolsonaro (PL) – 30,66%

Sudeste

  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 45,73%
  • Jair Bolsonaro (PL) – 54,27%

Sul

  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 38,16%
  • Jair Bolsonaro (PL) – 61,84%

Centro-Oeste

  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 39,79%
  • Jair Bolsonaro (PL) – 60,21%

Norte

  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 48,97%
  • Jair Bolsonaro (PL) – 51,03%

 

E seguindo a sina, Minas Gerais refletiu a votação nacional. Lula venceu no estado do sudeste por 50,20%, contra 49,80% de Jair Bolsonaro, uma diferença de menos de 50 mil votos. Todos os presidentes eleitos venceram também em Minas Gerais, estado considerado a síntese do Brasil.

 

FRENTE AMPLA PARA VITÓRIA

 

Lula se elegeu com base no discurso de pacificação e união do país. O petista conseguiu costurar alianças políticas nunca antes imaginada pelo eleitorado brasileiro. O maior exemplo disso foi inclusão do ex-governador de São Paulo e seu adversário histórico Geraldo Alckmin para o cargo de vice-presidente na sua chapa. 

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Se há alguns anos, isso era impossível, hoje Lula e Alckmin estão juntos na mesma chapa - Nelson Almeida/AFP

Além de Alckmin, Lula recebeu apoios de políticos dos mais variados campos ideológicos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, um dos fundadores do Plano Real Persio Arida e até mesmo o ex-candidato à presidência em 2018 pelo partido Novo, João Amoedo, foram alguns dos que anunciaram os seus votos no petista. Porém, o destaque, claro, vai para a senadora e ex-candidata do MBD à presidência da República, Simone Tebet. Ela mergulhou de cabeça na campanha do petista para converter os seus quase cinco milhões de votos à Lula. 

 

QUEM É LULA?

 

Nascido em Garanhuns (PE), filho de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo, lavradores e iletrados, Luiz Inácio Lula da Silva foi o Presidente do Brasil entre 2003 e 2010, sendo o primeiro operário a ocupar o cargo em toda a história do país. Além disso, foi ex-ambulante, engraxate, ajudante de tintura e torneiro mecânico.

Lula começa sua trajetória no movimento sindical em 1966. Por influência do irmão, José Ferreira da Silva, mais conhecido como Frei Chico, militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), se candidatou em 68 a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema e foi eleito. Em 72, virou o primeiro secretário, cessando suas atividades de operário, e, em 75, foi eleito o presidente do sindicato. 

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Lula será o único na história a governar o Brasil por três vezes - Imagem: REUTERS

Lula chega à presidência da República em 2002 após disputar o 2° turno contra José Serra (PSDB). Se reelegeu em 2006 vencendo Geraldo Alckmin (PSDB na época), seu atual vice-presidente, também no segundo turno.

Em julho de 2017, foi condenando, injustamente, a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Em abril de 2018, a prisão foi decretada pelo então juiz Sérgio Moro ,fazendo o petista se entregar a Polícia Federal. Teve sua candidatura no mesmo ano indeferida pela Justiça Eleitoral por estar preso, sendo esta disputada por Fernando Haddad, que seria vice. Haddad perde no segundo turno para Jair Bolsonaro (PL). 

O petista é libertado da prisão em Curitiba apenas em novembro de 2019, após um ano e sete meses preso. Foi solto por benefício da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), reconhecendo o direito de os réus condenados responderem em liberdade até o julgamento de último recurso. Edson Fachin, ministro do Supremo, decide, em 2021, que a 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos casos da Lava Jato relacionados à Petrobras, não era adequada para julgar Lula, visto que a vara havia sido parcial em suas sentenças.

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Lula se ele na expectativa de unir o Brasil após anos de ódio trazido por Jair Bolsonaro - Imagem: Carl de Souza/APF

Lula se candidata novamente à Presidência, em 2022, por meio de uma federação partidária, a Brasil da Esperança, que reúne PT (Partido dos Trabalhadores), PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e PV (Partido Verde) em uma aliança governamental. E vence o pleito contra Jair Bolsonaro com mais 2 milhões de votos de diferença.

Um dia após as eleições, o país encontra barricadas nas estradas e manifestações anti-democráticas
por
Artur dos Santos
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31/10/2022 - 12h

Grupos de Telegram Bolsonaristas não pararam de mandar mensagens de cunho golpistas desde o final das apurações das urnas no último domingo (30). Dentre as mensagens encaminhadas estão prints de um grupo com nome “Carla Zambelli.br” (nome que não corresponde ao canal oficial da Deputada) criado em apoio à Deputada com mensagens como: “o Brasil terá a resposta” e “Muitos acham que o jogo acabou. Eu digo que não. A guerra ainda não acabou!”.

Desde ontem, as reações aos resultados das eleições tiveram tons anti democráticos, mas essa conduta foi anunciada e incentivada antes mesmo das eleições iniciarem. Com barricadas e piquetes nas estradas de diferentes estados do Brasil feitos por caminhoneiros apoiadores do governo federal, o cenário anti democrático pelo qual o país está passando é revelado mais uma vez. 

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Foto de bloqueio na estrada circulada nos grupos de Telegram 

Em um canal do Telegram chamado “Selva e Aço”, foi circulado um vídeo no qual Augusto Dalçoquio Neto, dono da Transportes Dalçoquio  - transportadora com mais de 170 veículos em operação e 12 filiais em 8 unidades da federação - anuncia que “pela primeira vez nós [brasileiros] estamos aqui dizendo: ‘eu não aceito o comunismo'''. Pede para os ouvintes  aguardar as próximas horas e, para quem tiver, falar com “amigos do agronegócio”.

Dalçoquio acrescenta: “Por enquanto pacificamente, por enquanto. Agora vai ficar no coração de cada um aceitar o Brasil ser comunista ou não. Eu não aceito!”, vocifera. A esse ponto no vídeo, pessoas presentes começam a gritar e concordar com o empresário. 

“Eu vou morrer, nós vamos morrer, mas não vamos entregar pra filha da puta do comunismo (sic) e acabou! Saiam e vão defender o Brasil também.” O empresário ainda diz que esse momento definirá quem é “homem e quem é menino, quem é mulher e quem é menina”.

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Augusto Dalçoquio Neto em pé

Também circulou um vídeo do vereador Major Elitusalem (PSC), do Rio de Janeiro, no qual convoca os patriotas para agir. “Eu falei que o golpe tava armado. Não erramos na previsão”. No vídeo, o vereador ressalta que o relatório das Forças Armadas sobre as eleições ainda não foi entregue e que, portanto, “vamos aguardar e confiar no presidente da república”. Para outros vídeos que também circularam no aplicativo, a falta do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) indica que as votações não acabaram.

Outro assunto recorrente nos grupos é o Artigo de número 142 da Constituição, que estipula os deveres das Forças Armadas que “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. A interpretação desse artigo nesses grupos é a de que deve haver intervenção política por parte das Forças Armadas. 

Uma característica desses grupos bolsonaristas é a capilaridade que eles têm. O grupo “Carla Zambelli.br” foi criado no dia 31 de outubro e conta com 9.700 pessoas, com um engajamento médio de 9.500 visualizações por mensagem. Os envios desse grupo totalizaram 401 mil visualizações - as mensagens podem ser compartilhadas entre diferentes grupos, o que aumenta seu engajamento.

Atualmente, existem 673 mil registros de CACS (Caçador, Atirador Desportivo e Colecionador) no Brasil, número que cresceu em 474% durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). O Exército Militar Brasileiro tem 360 mil militares na ativa em 2022, segundo a Global FirePower. 

Dentro da sigla CACS, os caçadores têm direito a ter até 15 armas, atiradores até 60 e colecionadores não têm limites de posse. Atualmente, mais de um milhão de armas circulam no Brasil na mão dessas pessoas

No Brasil também existem 2 mil clubes de tiros, a maioria dos quais inaugurada nos últimos 4 anos, que defendem a liberdade de se praticar esportes de tiro e de se defender. O aumento não só no número desses estabelecimentos, mas também dos registros feitos para se portar arma no brasil durante os anos do mandato de Jair Bolsonaro pode revelar a facilidade com a qual mensagens e informações pró-governo circulam dentro dos grupos de Telegram.

 

Para o governador, discrepância entre os governos Federal e Estadual não será problema
por
Artur dos Santos
Hadass Leventhal
Eshlyn Cañete
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31/10/2022 - 12h

Tarcísio de Freitas (Republicanos) concedeu uma coletiva de imprensa após a vitória no 2° turno das eleições, no último domingo (30). O governador eleito diz não estar preocupado com a vitória do candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidente: “Vamos sempre trabalhar com o interesse de São Paulo”.

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Momento em que equipe preparava o cenário da coletiva.
Foto: Hadass Leventhal

Com a eleição matematicamente decidida antes das apurações terminarem, Tarcísio de Freitas foi eleito governador de São Paulo com 55,3% dos votos válidos. Durante sua coletiva de imprensa, foi questionado sobre a retirada das câmeras dos uniformes da Polícia Militar e disse que avaliará a situação com a equipe de segurança pública: “Não sou dono da verdade”. 

Sobre a retirada da obrigatoriedade da vacinação no Estado de São Paulo, o governador eleito diz que “realmente pretendo acabar com a obrigatoriedade”. Para o Republicano, a oferta de vacinas, a propaganda e a consciência da população são suficientes para que as pessoas se vacinem sem serem obrigadas a isso. 

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Tarcísio com seu vice, Felício Ramouth(atrás)
Foto: Hadass Leventhal 

Quando questionado pela AGEMT sobre a questão indígena em São Paulo, Tarcísio afirma que a temática será tratada “dentro da legislação, abrindo oportunidades e com o respeito que merece”, sem apresentar propostas.

O candidato do Republicanos afirmou ter conversado com Fernando Haddad (PT) poucos minutos após a apuração e disse que o candidato do PT se dispôs a tratar de questões da gestão a qualquer momento. 

Tarcísio diz que durante as próximas semanas vai “tirar dias para descansar e meditar sobre os próximos passos”. Além disso, afirmou também que Guilherme Afif Domingos, chefe da sua campanha, trabalhará no plano de transição de governo.

Quem é Tarcísio de Freitas, novo governador de São Paulo?

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Tarcísio em meio a apoiadores após término da coletiva
Foto: Hadass Leventhal

Tarcísio de Freitas é formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) na classe de 1996. Foi Ministro da Infraestrutura do Brasil no governo de Jair Bolsonaro (PL), Diretor Geral do Departamento Nacional de Infraestrutura durante parte do segundo governo de Dilma Rousseff (PT). 

Seu vice será o ex-prefeito de São José dos Campos, Felício Ramouth (PSD), alvo de investigações do Ministério Público do Estado de São Paulo por improbidade administrativa e ilegalidade na realização de licitações.