A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Em votação acirrada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (2) adotar corte de 0.50 ponto porcentual
por
Sônia Xavier
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04/08/2023 - 12h

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu na última quarta-feira (2) reduzir a taxa básica de juros  (Selic) para 13,25 %. A queda foi de 0.5 ponto percentual e é o primeiro recuo da taxa desde 2020.

A votação foi acirrada, 4 dos 9 membros votaram para a redução de 0,25% na taxa. Para essa redução, votaram os diretores Diogo Abry Guillen (Política Econômica), Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais), Maurício Costa de Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) e Renato Dias Gomes (Organização do Sistema Financeiro). Votaram a favor da queda de 0.5 ponto os diretores Ailton de Aquino Santos (Fiscalização), Carolina de Assis Barros (Administração), Gabriel Muricca Galípolo (Política Monetária), Otávio Ribeiro Damaso (regulação) e o presidente Roberto Campos Neto, que desempatou a votação. 

Atuais membros do Copom
Atuais membros do Copom em reunião na quarta-feira (2). Foto: Divulgação

A queda nas projeções para a inflação de 2023, 2024 e 2025 foi o principal fator apontado pelo Comitê, em nota,  para a decisão "O Comitê avalia que a melhora do quadro inflacionário, refletindo em parte os impactos defasados da política monetária, aliada à queda das expectativas de inflação para prazos mais longos, após decisão recente do Conselho Monetário Nacional sobre a meta para a inflação, permitiram acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária". 

A Selic é a principal ferramenta do Banco Central para manter sob controle a inflação do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em junho o indicador ficou negativo em 0,8 e apresentou uma acúmulo de 3,16 em 12 meses. O resultado foi influenciado, principalmente, por conta dos grupos de alimentação e transporte que registraram uma queda de 0,66% e  0,41% respectivamente. Já a  projeção inflacionária do Boletim Focus (documento divulgado pelo Banco Central toda segunda-feira com as expectativas do mercado financeiro para os principais indicadores da economia compilados até sexta-feira da semana imediatamente anterior), apontava um recuo de 4,8%, em 2023, 3,9% em 2024 e 3,5% em 2025.

Com a redução da Selic, a oferta de crédito fica mais barata já que os juros cobrados pelas operações de empréstimos ficam menores, entretanto, a economista Cristina Helena Pinto de Mello acredita que o impacto da atual taxa na vida das pessoas será pequeno. “Não esperamos um aumento significativo de crédito ou mesmo uma redução expressiva no custo do mesmo”. 

Porém, a economista aponta que o cenário é otimista “Esperamos um cenário mais otimista e de acomodação de expectativas. Precisamos observar o impacto possível no controle inflacionário e avaliar se esta redução, modesta, poderá ser acompanhada de um ciclo de redução de juros”. No comunicado o Copom sinalizou que o colegiado pretende manter o mesmo ritmo de redução nas próximas reuniões, caso o cenário de desinflação se confirme. 

“A continuidade na política de redução de juros poderá se traduzir em créditos mais baratos e acessíveis seja para escolhas de consumo seja para oportunidades de investimento produtivo”, finaliza Mello. 
 

Veja, na íntegra, nota do Comitê de Política Monetária (Copom): 

O Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão do Banco Central, formado pelo seu Presidente e diretores, que define, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia – a Selic.

As reuniões normalmente ocorrem em dois dias seguidos e o calendário de reuniões de um determinado ano é divulgado até o mês de junho do ano anterior.

A reunião do Copom segue um processo que procura embasar da melhor forma possível a sua decisão. Os membros do Copom assistem a apresentações técnicas do corpo funcional do BC, que tratam da evolução e perspectivas das economias brasileira e mundial, das condições de liquidez e do comportamento dos mercados. Assim, o Comitê utiliza um amplo conjunto de informações para embasar sua decisão. Depois, a reunião é reservada para a discussão da decisão entre os membros. A decisão é tomada com base na avaliação do cenário macroeconômico e os principais riscos a ele associados. Todos os membros do Copom presentes na reunião votam e seus votos são divulgados. As decisões do Copom são tomadas visando com que a inflação medida pelo IPCA situe-se em linha com a meta definida pelo CMN.

A decisão do Copom é divulgada no mesmo dia da decisão por meio de Comunicado na internet. As Atas das reuniões do Copom são publicadas no prazo de até quatro dias úteis após a data da realização das reuniões. Normalmente, as reuniões do Copom ocorrem em terças e quartas-feiras e a ata é divulgada na terça-feira da semana seguinte, às 8:00.

Uma vez definida a taxa Selic, o Banco Central atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião.

A taxa de juros Selic é a referência para os demais juros da economia. Trata-se da taxa média cobrada em negociações com títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, registradas diariamente no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).

Para que a política monetária atinja seus objetivos de maneira eficiente, o Banco Central precisa se comunicar de forma clara e transparente. Além do comunicado e da ata da reunião, o Banco Central publica, a cada trimestre, o Relatório de Inflação, que analisa a evolução recente e as perspectivas da economia, com ênfase nas perspectivas para a inflação.


 

Diretoria do Banco Central deve decidir por queda de 0,25 a 0,5% na taxa básica de juros
por
Isabela Mendes Dos Santos
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01/08/2023 - 12h

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) inicia nesta terça-feira, 1º, a reunião que deve marcar o primeiro corte na taxa básica de juros (Selic) em mais de três anos. Será a primeira vez que Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, indicados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à diretoria do BC, participarão da decisão junto ao órgão. 

Desde que assumiu a presidência da República, em janeiro deste ano, Lula tem pressionado pela queda na taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano, e feito críticas diretas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o cargo. O mandatário chegou a se referir a ele
como “esse cidadão” e a chamá-lo de “capacho do sistema financeiro” e “tinhoso”.

Em fevereiro de 2021, o Congresso Nacional aprovou a independência do órgão, que definiu os mandatos do presidente e dos diretores do Banco Central com vigência não coincidente com o do presidente da República, desvinculando-o do alinhamento às políticas do governo sob o argumento de evitar interferência e garantir autonomia ao BC para tomar decisões mais “técnicas”. A medida agradou, sobretudo, ao mercado financeiro.

Galípolo, ex-secretário Executivo do Ministério da Fazenda, e Aquino, servidor de carreira do Banco Central, assumiram oficialmente no mês passado as cadeiras como diretor de Política Monetária e diretor de Fiscalização do BC, respectivamente, após terem sido indicados por Lula na tentativa de destravar o início de um ciclo de cortes na Selic, que está no maior patamar desde 2016, quando atingiu 14% ao ano. 

A elevação na taxa de juros se mostrou viável dentro do contexto da pandemia da covid-19, em que foi necessário conter a inflação, ou seja, equilibrar a oferta e a demanda, devido ao cenário de incertezas em nível nacional e internacional. 

No contexto atual de quedas consecutivas nas últimas projeções da inflação feitas pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para o ano de 2023 e 2024, a expectativa é de que o Copom decida por uma queda de 0,25 a 0,5% no índice. O veredicto deve ser dado amanhã (2), já que a reunião tem duração de dois dias.

Em sessão com mais de 14 horas de duração, a Reforma Tributária foi aprovada em dois turnos da Câmara dos Deputados. O texto agora segue para o Senado.
por
Luan Leão
Sônia Xavier
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07/07/2023 - 12h

Na quinta-feira (06), a Câmara dos Deputados aprovou em dois turnos o texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45, a reforma tributária. Em uma longa sessão - que terminou na madrugada de sexta-feira (07) - os deputados aprovaram a PEC em primeiro turno por 382 a 118, e em segundo turno por 375 a 113 votos, com três abstenções.

A ideia central da PEC 45 é simplificar tributos federais, estaduais e municipais. De relatoria do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o texto sofreu mudanças após pressão de governadores e prefeitos. Com a proposta, cinco tributos serão substituídos por dois impostos sobre valor agregado ou adicionado, o modelo também é chamado de IVA dual.

Aguinaldo Ribeiro, relator da reforma tributária - Foto: Zeca Riebeiro/Câmara dos Deputados
Aguinaldo Ribeiro, relator da reforma tributária - Foto: Zeca Riebeiro/Câmara dos Deputados

A Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de responsabilidade do governo federal, vai unificar o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados); PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). Já o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de gestão compartilhada entre estados e municípios, vai unificar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que é estadual, e o ISS (Imposto sobre Serviços), tributo municipal.

Para o economista e professor de Economia da PUC-SP, Júlio Pires, a reforma vai beneficiar o setor produtivo. “Ao longo dos últimos anos, nós tivemos um conjunto de alterações pontuais que foram sendo feitas, que tornaram nossa estrutura extremamente complexa, ineficiente e problemática, principalmente do ponto de vista do setor produtivo. [...] A proposta agora aprovada, certamente, aumentará muito a eficiência do setor produtivo em geral”, avaliou Pires.

Pelo texto, a fase de transição para a unificação de cinco impostos em dois vai durar sete anos - de 2026 a 2032. Na etapa de “teste”, o relator propôs o IVA Federal de 0,94% e o IVA estadual e municipal em 0,1%. Ribeiro disse que a inclusão de estados e municípios na fase de teste da proposta foi para atender a uma demanda dos estados. “O objetivo dessa etapa é conhecer a base tributável, permitindo que se calculem as alíquotas da CBS e do IBS necessárias para substituir a arrecadação atual”, afirmou o relator.

Na visão do professor Pires, mesmo com a implementação gradual, a reforma já tem impacto econômico. “Uma coisa muito importante na economia são as expectativas. Ou seja, na medida em que você tenha um aparato institucional muito mais eficiente, ainda que ele vá demorar alguns anos para ser implementado, isso cria uma expectativa otimista por parte dos agentes econômicos. Em relação a investimento, em relação a decisões de investimento, decisões de produção, que já começam a impactar positivamente neste momento”, destaca o economista.

Uma novidade no texto aprovado foi a isenção tanto do CBS quanto do IBS para uma cesta básica nacional de produtos a serem definidos em lei complementar. Originalmente com uma redução proposta de 50%, diversos setores ainda vão contar com redução de alíquotas de 60% ou 100%, também de acordo com o definido em lei. Entre os setores estão serviços agropecuários, de cultura, educação, medicamentos, saúde e transporte coletivo de passageiros.

A economista e professora da PUC-SP, Cristina Helena Pinto de Mello, analisa que a reforma trará mais clareza sobre a quantidade de imposto que se paga pelo produto ou serviço e que “O impacto desta redução (na cesta básica nacional) é maior para os mais pobres o que confere certa progressividade ao novo sistema tributário [...] A proposta atual buscou simplicidade, equilíbrio sem perdas de arrecadação, desburocratização e avançou pouco, mas avançou em relação à progressividade e justiça social”, complementa.

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, comemorando a aprovação em primeiro turno da da Reforma Tributária - Foto: Lula Marques/ Agência Marques
Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, comemorando a aprovação em primeiro turno da da reforma tributária - Foto: Lula Marques/ Agência Marques

O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira (PP-AL), comemorou a aprovação do texto e disse esperar que o Senado aprecie a matéria com calma e faça as alterações necessárias. “É um legado para o Congresso Nacional, para a Câmara dos Deputados. A PEC é do país, e eu espero que com sua aprovação no Senado espero um texto concentrado no aumento da base de arrecadação, com segurança jurídica para quem gera emprego e para quem quer investir nesse país [...] que o Senado trate o tema com o olhar que merece. A casa federativa vai ter todo tempo do mundo para fazer as mudanças que podem ser necessárias ao texto. A Câmara é uma casa mais eclética e o Senado poderá fazer uma discussão com um olhar mais agudo”, disse Lira.

Na manhã de sexta-feira (07), o presidente Lula (PT), comentou a votação na Câmara. “O Brasil terá sua primeira reforma tributária do período democrático. Um momento histórico e uma grande vitória para o país. Parabéns para a Câmara dos Deputados pela significativa aprovação ontem e ao ministro Fernando Haddad pelo empenho no diálogo e no avanço da reforma. Estamos trabalhando para um futuro melhor para todos”, falou o presidente. Ainda na noite de quinta-feira (06), o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, através de uma rede social, celebrou a aprovação. “Depois de décadas, aprovamos uma Reforma Tributária. Democraticamente. Parecia impossível. Valeu lutar!”, publicou Haddad.

 

Racha ?

Pouco antes da aprovação, a oposição ao governo mostrou fragilidade. Em uma reunião do Partido Liberal, de Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi hostilizado após tentar convencer os partidários a apoiarem a proposta da Reforma. “Nós não podemos perder a narrativa. A direita não pode perder a narrativa de ser favorável à reforma tributária. Senão, ela acaba sendo aprovada, e quem aprovou ?”, disse o governador, que foi imediatamente interrompido pelo ex-presidente que afirmou “se o PL estiver unido, não aprova nada".

Bolsonaro ainda alfinetou o seu afilhado político. “Todo mundo aqui sabe que o Tarcísio não entende de política”, ressaltou. O conflito entre o PL e Tarcísio surgiu depois do pronunciamento do governador, ao lado do ministro Fernando Haddad, em que disse concordar com “95%” da reforma. Mesmo com os apelos de Bolsonaro, e a orientação do PL em votar “não” - e contra a reforma - 20 deputados da sigla foram favoráveis à proposta, em uma derrota significativa da oposição.

Mundial sediado na Austrália e Nova Zelândia promete atingir patamares   históricos na modalidade 
por
Júlia Takahashi, Laura Mariano e Luiza Fernandes  
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05/07/2023 - 12h

O futebol feminino está, a passos largos, rompendo com a bolha de quem já assistia à modalidade e chegando a cada vez mais pessoas, se tornando um mercado que se consolida como muito lucrativo, mesmo que ainda seja pouco explorado. O ano de 2023 é extremamente importante nesse caminho. A Copa do Mundo feminina começa no dia 20 de julho e é a maior aposta da Fifa para que aconteça uma consolidação mundial da competição.   

O crescimento do esporte tem acontecido em todo o mundo, principalmente sob a ótica dos patrocínios. Cada vez mais as marcas têm buscado a modalidade, acreditando ser uma boa oportunidade de propaganda e divulgação. Segundo relatório da Fifa, só em 2022, o número de ligas femininas com patrocinadores principais aumentou de 11 para 77%.   

Além do importante aumento nos patrocínios, o interesse também cresceu. O número de competições que garantem receita de transmissão passou de nove para dez. E, nos estádios, o ano de 2022 registrou recordes de público em todo o mundo.   

A história do futebol é baseada em ser uma prática destinada aos homens, nascida na Inglaterra e popularizada rapidamente. Quando chegou ao Brasil, o esporte se concentrou na elite burguesa carioca, sendo um símbolo de estilo de vida. A estética fazia parte do estereótipo masculino da época, enquanto as mulheres não eram bem vistas praticando o esporte.   

Durante o governo do ex-presidente Getúlio Vargas, criou-se o decreto,  artigo 54 da Lei 3199/41, que confirmava essa proibição, pois a prática de desportos [era] incompatível com as condições de sua natureza”.  

O futebol feminino só foi legalizado no Brasil em 1983, quando foi regulamentado por lei. Em menos de dez anos, a FIFA organiza a primeira Copa do Mundo feminina, da qual o país fez parte, tendo a participação da atleta Formiga, a única jogadora que participou de todas as Copas.  

Ao longo dos últimos anos, o futebol feminino tem experimentado um crescimento em termos de reconhecimento e popularização. Em entrevista para a Agemt,a historiadora e pesquisadora Aira Bonfim destaca a importância das discussões de gênero para esse crescimento, “Toda a evolução que a gente tem observado na modalidade do futebol feminino, da construção de um futebol profissional, ela se trata na verdade de uma evolução que diz respeito a toda a sociedade, que envolve movimentos sociais de diferentes lugares e que refletiram diretamente na forma como acontece hoje a modalidade”, argumenta.   

No Brasil, a prática passou a ganhar espaço na grande mídia esportiva e a bater recorde de público em diversos jogos, consequentemente, as premiações e o reconhecimento aumentaram.   

Parte fundamental para a rentabilidade de qualquer esporte no Brasil e no mundo é que haja engajamento por parte de empresas privadas, que decidam patrocinar atletas, times e eventos. A professora de publicidade e propaganda da PUC São Paulo, Andréia Perroni explica por que o patrocínio é benéfico também para as empresas.   

“Para as empresas se diferenciarem no marketing hoje, elas têm adotado causas sociais que são do interesse da sociedade, se torna uma forma de ganhar a simpatia do público. Quando as empresas levantam uma bandeira, elas estão trazendo uma diferenciação, que não vem do produto para o qual ela vende, mas das imagens e dos vínculos que ela faz ao seu público. O patrocínio ao futebol feminino é uma forma de humanizar a empresa.”

Ainda segundo a professora, a Copa do Mundo de 2023 promete ser um evento fundamental para os patrocinadores. “Há todo um contexto favorável para que essa edição da Copa do Mundo traga ainda mais notoriedade e patrocínio ao esporte. Eu diria que as agências de publicidade entendem esse contexto e estão, de forma acertada, recomendando aos seus clientes o futebol feminino, e especialmente a Copa, como uma inserção de marca positiva”, afirma.   

É isso que também deseja a Fifa, que está investindo em uma premiação recorde no evento, R$ 733 milhões para times e jogadoras, transmissão na TV aberta para mais de 150 países, e também no streaming. Além do formato de disputa com 32 seleções. A audiência global é estimada em 2 bilhões de telespectadores, o dobro da edição passada.   

Um dos últimos patrocinadores a integrar a lista foi a marca de vinhos australiana, Jacob's Creek.  Além dela, Jacob 's, a lista de parceiros comerciais da Copa do Mundo conta com outras empresas de escala global. Os três maiores investidores – sem contar com a Fifa – são, Adidas, Coca-Cola e Wanda.   

Em seguida, aparecem Visa e Xero, as duas primeiras marcas que entraram na vertical comercial e específica para o futebol feminino lançada pela Fifa em 2021. A Globant e a Inter Rapidísimo também fazem parte do time de apoiadores do evento. A Visa patrocinará 33 jogadoras de 27 seleções. A relação de atletas foi lançada em março e contou com o nome da atacante brasileira, Debinha.  

A Copa do Mundo feminina já ultrapassou o recorde de público ao atingir a marca de 1.032.884 ingressos vendidos até a manhã do dia 16 de junho e se consolida como o maior evento da história do futebol feminino, demonstrando na prática o enorme potencial financeiro da modalidade.

  

Programa do governo pode trazer outros benefícios, como aumento no número de empregos e diminuição do preço do usado
por |
04/07/2023 - 12h

A redução de impostos sobre veículos populares causou um efeito positivo em grande parte da população. Dentre todas as medidas de cunho social anunciadas pelo governo Lula, sem sombra de dúvida, foi a que mais gerou discussão e comentários. Até porque, se comparado com o aumento do salário-mínimo de apenas R$ 18 e a redução no preço dos combustíveis, cuja variação não depende exclusivamente do governo, ela parece realmente fazer a diferença na vida das pessoas. 

Antes do anúncio, um carro popular custava entre R$ 65 mil e R$ 80 mil, ou seja, entre 49 e 60 salários-mínimos. Poucos brasileiros teriam condições de arcar com isso. Agora, as montadoras já anunciam que o desconto pode chegar a R$ 10 mil e, com a queda nos juros, também prometida pelo governo, o brasileiro, ao que parece, poderá finalmente voltar a ter um carro na garagem. 

O diretor do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, explica por que o carro é algo tão importante na vida do brasileiro. “Tem uma história, né? Uma história de que o carro, como a casa própria, foi visto como um patrimônio. Então, durante muito tempo, ter o carro era visto não como um status – do ponto de vista, ‘olha eu sou melhor porque tenho carro’... tinha isso também, mas era menos isso e mais aquela situação de ser algo que eu declaro no Imposto de Renda.” 

Renato ainda conta que essa relação patrimonial se desenvolveu para uma relação simbólica-afetiva expressa em atividade prosaicas, como lavar o carro aos domingos de sol ou deixa-lo parado na frente de casa, como uma peça de museu. Porém, todas essas coisas desapareceram após o início dos anos 90, quando os veículos começaram a ficar bem mais caros. 

Os motivos são muitos: altos impostos, como o PIS/COFINS, ICMS, IPI; o Custo Brasil (um conjunto de empecilhos burocráticos, fiscais e econômicos do país); a infraestrutura rodoviária – que só tem qualidade próxima das capitais, mas, é precária no vasto interior do país; o acréscimo de inúmeros requisitos regulatórios, como airbags e freios ABS; a falta de investimento em tecnologia e outros fatores macroeconômicos, tais quais a pandemia, a taxa de juros e a desvalorização do real. 

A soma de tudo fazia com que um carro popular importado dos EUA custando US$ 20 mil passasse a custar U$ 5 mil no Brasil. Somando isso com a desvalorização do real, os preços chegaram a patamares muito elevados impossibilitando as classes C e D de adquirirem veículos automotores. 

O problema é que, de acordo com Renato Meirelles, estas medidas podem não ser suficiente devem favorecer mais a classe média do que o povo. “Se o carro custar R$ 8.000 por mês você parcela em um ano para comprar o seu carro. R$ 8.000 por mês... Sabe quantos brasileiros ganham isso?... Metade dos brasileiros ganham menos do que R$ 2.600 e renda familiar. Metade. Então, a não ser que tenham mudado o conceito do que é ser popular, nós estamos longe de ter um carro popular.” 

Ainda é cedo para dizer se o brasileiro comum terá poder de compra para botar um carro novo na garagem, mas é importante lembrar dos reflexos trazidos por medidas como essa. Com o barateamento do carro zero, é muito provável que os carros usados também fiquem mais acessíveis. “É muito provável que as classes baixas ‘ataquem’ esse mercado”, ele conclui. 

Fora isso, a possibilidade de se construir ou reativar a indústria automotiva no país, outro ponto inserido no pacote, pode aumentar a oportunidade de empregos em montadoras, distribuidoras e outros mercados relacionados ao carro.  

Assim, o brasileiro tem razão em se animar com o barateamento dos veículos e todos os outros benefícios que ele pode trazer. No entanto, é sempre bom esperar a reação do mercado e dos consumidores para saber de fato se o pacote é motivo para comemorar.