Sem orientação adequada, donas de pequenos negócios relatam dificuldades para entender as mudanças na economia e veem sua renda ameaçada
por
Manuela Dias
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28/11/2025 - 12h

A falta de informação qualificada tem se tornado uma das principais barreiras para microempreendedoras brasileiras que dependem de insumos importados ou de produtos cujo preço varia conforme fatores globais. Em meio a mudanças recentes nas taxas, oscilações cambiais e aumento da burocracia para transações internacionais, muitas afirmam que não sabem onde buscar apoio técnico. É o caso de Danielle Nayara, maquiadora e microempreendedora, que iniciou seu negócio após deixar o emprego formal para trabalhar com eventos.

“Eu sempre gostei de maquiagem, mas nunca tinha pensado em maquiar outras pessoas. Só comecei depois de uma sugestão, fiz um curso e acabei me apaixonando pela profissão”, conta. Hoje, ela atende clientes em casa, em eventos e até pernoita em residências para preparar noivas e madrinhas. Mas apesar da agenda cheia, manter o negócio funcionando tem se tornado cada vez mais complexo.

Um desafio diário

Para Danielle, o principal custo do seu trabalho é a compra de materiais: produtos que sofrem variações constantes de preço, muitas delas impactadas por fatores externos. “Um produto que eu comprei por um valor semana passada já está mais caro hoje. Quando isso acontece, eu preciso ajustar meus preços, porque se não aumento, perco margem”, explica.

Ela relata que, muitas vezes, não entende o motivo dessas oscilações nem encontra informação clara sobre o que está influenciando o aumento. Esse descompasso entre preço e explicação não só dificulta o planejamento, como a impede de aproveitar oportunidades.

“A qualidade dos produtos é essencial. Se o material é ruim, não adianta eu ser boa. Só que para comprar produtos bons, eu preciso pesquisar muito. E os preços mudam rápido demais”, diz.

A falta de informação também interfere na profissionalização. Em eventos como a Beauty Fair, Danielle conseguiu adquirir produtos de alta qualidade com preço reduzido, mas admite que depende do acaso: “Eu fico sabendo por redes sociais. Se eu não vejo no Instagram ou no TikTok, eu perco a chance.”

Redes sociais como principal fonte

Como muitas microempreendedoras, Danielle se informa principalmente pelas redes sociais. “É onde está tudo hoje: Instagram, TikTok, WhatsApp. É ali que vejo notícias, promoções e mudanças”, afirma. O problema, segundo especialistas, é que essa dependência de canais informais deixa empreendedoras vulneráveis. Notícias sobre variações cambiais, tarifas, mudanças em importações ou novas regras para comercialização de cosméticos dificilmente chegam a essas mulheres de forma clara e estruturada. Isso faz com que muitas decisões sejam tomadas às cegas.

Economistas e organizações ligadas ao empreendedorismo feminino têm reiterado que a falta de informação clara é hoje um dos maiores riscos para pequenos negócios liderados por mulheres. À medida que insumos sofrem com oscilações globais, e que o comércio exterior se torna mais complexo, milhares de empreendedoras enfrentam um mercado imprevisível sem apoio técnico.

No caso de Danielle, o impacto ainda é administrável, mas ela admite a preocupação: “Eu tento acompanhar tudo, mas é difícil saber o que realmente vai afetar meu trabalho. Às vezes, descubro um aumento só quando chego na loja para comprar”, relata.

Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”.
“Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”. Reprodução: arquivo pessoal 

Força para manter o negócio! 

Apesar dos desafios impostos pela falta de informação, pelos custos instáveis e pelas mudanças constantes no mercado, mulheres como Danielle continuam sustentando seus negócios com esforço diário, intuição e dedicação. A realidade que enfrentam é marcada por incertezas, mas também por uma determinação que atravessa jornadas longas, madrugadas de trabalho e decisões tomadas sem o suporte adequado.

No fim das contas, o que sustenta esses negócios não é apenas acesso a crédito ou políticas públicas: é a força de mulheres que, todos os dias, escolhem continuar. A luta feminina, silenciosa ou coletiva, segue sendo a certeza em meio ao cenário incerto e continua provando que, quando essas mulheres resistem, elas transformam não só suas próprias histórias, mas também o futuro do empreendedorismo no país.

 

Transformando a vida de milhões de pessoas todo ano, merece mais reconhecimento e recursos para manter o Brasil vivo
por
Vítor Nhoatto
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28/11/2025 - 12h

Por Vítor Nhoatto

 

Uma das poucas certezas de todo ser humano, tal qual a morte, é a doença. Sabe aquele resfriado que vem junto ao seco do frio, uma ferida que infecciona depois de cair de bicicleta, até aquelas mais sérias que podem aparecer. Fato é que sem saúde não se vive, sendo um direito constitucional não por acaso. Sendo assim, é preciso que o acesso a essa necessidade tão básica quanto respirar e se alimentar seja universal, e não um bem a se comprar apenas por aqueles que podem.

Para isso então que existe o Sistema Único de Saúde (SUS), tão falado e muito mais presente na vida do que alguns podem sequer imaginar, ou querer. Para se ter uma ideia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador dos medicamentos disponíveis no país, de controle alimentar e hídrico, faz parte do SUS. Regulamentado em 1990, é responsável pelas vacinas e desenvolvimento científico ainda, e sabe os planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde (ANS), que os regula, também é integrante do sistema.

Para falar dessa diferença real na vida, antes é preciso até olhar nos papéis para lembrar já a quanto tempo ele é médico, enfermeiro, farmácia. De cabelos curtos hoje, depois de uma repaginada no visual devido ao câncer de pulmão que teve justamente na pandemia de COVID-19, Léia Marisa celebra que há dois anos consegue receber na AME Maria Zélia o micofenolato de Mofetila. Pois é, muitas vezes quando o nome é chique o preço é alto, uns R$500 por caixa, mil reais por mês gastos antes da papelada ficar pronta e ser aceita em 30 de novembro de 2023, já que a doença não espera os trâmites e filas.

A ex-professora, atual dona de casa e empresária a distância do seu restaurante, conta como o período de descoberta e tratamento do câncer, que levou até questões reumatológicas, e ajudou a descobrir uma artrite reumatoide, foi muito difícil. Entre dezenas de idas ao hospital de 2020 até 2023 até chegar ao diagnóstico, foram dias desgastantes, assustadores, e toda ajuda foi essencial, principalmente com os custos de sobreviver à doença. No caso dela, o tratamento do tumor foi feito em rede privada graças ao seu plano de saúde empresarial, que custa salgados R$5 mil reais ao mês. Só aqui são quase quatro salários mínimos, um privilégio muito grande, como ela destaca, olhando para um país em que apenas 7,60% da população ganha entre 5 e 10 salários como o Censo de 2022 do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística revela. 

Se aprofundando mais ainda nos fatos, de acordo com o estudo “Quanto custa o câncer” de 2023 do Observatório de Oncologia, do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, os custos de tratamento da doença quadruplicaram nos últimos três anos. Uma sessão de radioterapia ou quimioterapia custava quase R$800 em 2022, e dezenas são necessárias na maioria das vezes. Acrescentando nessa conta, consultas, tomografias e biópsias, mil reais ali e cinco acolá, o custo chega facilmente ultrapassa dezenas de milhares de reais. Isso é ainda mais preocupante tendo em conta a incidência do câncer na população, que segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) entre 2023 e 2025, 704 mil pessoas terão a doença como Marisa. 

E com isso que o SUS se mostra como algo tão relevante, oferecendo tratamento integral e gratuito contra todos os tipos de cânceres. Claro que muitos problemas existem, como destaca Marisa ao lembrar que quando estava no meio do tratamento enfrentou problemas com o plano de saúde, mas que só o medo de depender da demora do SUS caso fosse preciso, a preocupava muito. A saúde é o bem mais precioso para, o que para todos provavelmente deva ser, e por isso justamente que em 2012 a lei 12.732/12 obriga que o tratamento contra o câncer tem que ser iniciado em até 60 dias após o diagnóstico. 

Mas além disso, com os olhos marejados depois de navegar novamente no mar agitado que foi a jornada até a vida que tem hoje, curada e com o diagnóstico da sua doença crônica, ela volta e lembra que a diferença que não ter que pagar pelo Micofenolato que a mantém respirando faz.  Quando tinha que arcar com as despesas era como um fardo a mais imposto a ela, que considera a saúde hoje como o bem mais valioso. As idas mensais  ao posto são um alívio hoje para ela, destacando que o seu medicamento nunca faltou até então, mas que já presenciou pessoas na situação contrária e que não tinham como arcar pessoalmente com os gastos. Essa é uma realidade infelizmente, segundo fiscalização de 2023 da secretaria de contas do Estado de São Paulo, em quase metade dos postos visitados faltavam algum medicamento.

papéis
A cada seis meses Marisa tem que renovar a receita e toda a papelada para solicitação do seu medicamento junto a AME - Foto: Vítor Nhoatto

Milhões de uns

Mesmo que falte muito, afinal, só 4,16% do orçamento federal foi destinado à saúde em 2024 segundo o Painel do Orçamento Federal, a porcentagem vem aumentando desde 2022, e milhões de brasileiros são atendidos todos os dias. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes com um sistema universal de saúde, e 213 milhões dependem diretamente do SUS, segundo o Ministério da Saúde, que contabiliza em média 2,8 bilhões de atendimentos por ano, empregando 3,5 milhões de profissionais.

E mais um desses uns é Valdir Sousa, que do alto de seus 63 anos de idade é um típico caso brasieleiro. Com diabetes do tipo II há 20 anos e hipertenso, conta que se não fosse o acesso ao sistema gratuito, sua vida seria muito diferente, obviamente pelo lado financeiro, e muito também pelo bem-estar. O mineiro nascido em São João do Paraíso e que vive em São Paulo há décadas já viu tanto na vida, e com o passar do tempo o que todos querem e merecem é justamente qualidade de vida. Essa no caso, em grande parte possível graças a insulina que busca no posto na Freguesia do Ó e os comprimidos que cuidam do seu coração acelerado.

Justamente essa hipertensão que é a doença mais presente nos peitos animados dos brasileiros, e 52% da população é diagnosticada com alguma DCNTs, como revela a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Além disso, segundo dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como as de Valdir são tecnicamente chamadas, são as mais comuns no mundo e no Brasil, com o diabetes inclusive tendo aumentado 70% entre 2000 e 2019. 

Para contextualização, nos Estados Unidos existe há alguns anos o movimento nas redes sociais insulin4all, criado pela organização sem fins lucrativos T1 International, que denuncia os altos custos da insulina no país, onde um frasco de 10ml gira em torno de U$330. Tal situação vem levando inclusive pessoas a racionarem o medicamento, o que pode levar a complicações e até a morte em casos mais graves. Já no Brasil, o mesmo remédio é disponibilizado pelo SUS, e o preço máximo permitido por lei é de R$125,30. 

Diante desses dados e o envelhecimento da população fica claro como a saúde vai ser cada vez mais necessária, tal qual destaca o jovem de espírito Valdir, que já foi pedreiro e auxiliar de manutenção geral em uma lanchonete, justamente no Hospital das Clínicas. As histórias que já viu na maior referência de saúde pública brasileira enchem a sua mente, e as palavras saem inquietas sobre as melhorias que o SUS precisa e as pessoas merecem. Ele conta em meio a suspiros que quando precisa de exames mais urgentes, ou consultas em meio a crises, tem que recorrer ao plano de saúde da sua esposa, do qual é dependente, já que as unidades de saúde estão sempre cheias e a fila de espera passa de meses algumas vezes. 

Foi nessas passagens obrigadas pela rede privada que ele inclusive descobriu mais um integrante do seu pacote, a doença renal crônica há um ano. Porém, é no SUS que o acompanhamento com nutricionista, nefrologista e endocrinologista foi possível, uma rotina de cuidados essenciais para uma boa qualidade de vida para quem tem a condição. É graças a essa rede de profissionais e a farmácia popular que Valdir vai aproveitando com os dois filhos e a mulher os seus dias, frisando com a voz até meia trêmula, que sem isso não poderia se ter o seu direito de viver com saúde exercido plenamente.

medicamentos
São graças a compostos como esses que tanto Marisa ou Valdir, e os mais de 100 milhões de brasileiros com doenças crônicas podem viver bem tal qual a constituição garante - Foto: Vítor Nhoatto

 

Desigualdade, corrupção e desemprego juvenil deflagram uma revolta que expõe a fragilidade econômica profundamente enraizada.
por
Pedro Bairon
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14/11/2025 - 12h

Por Pedro Bairon

 

Na primeira semana de setembro de 2025, as ruas de Kathmandu foram tomadas por uma onda de protestos liderados pela chamada Geração Z, quando milhares de jovens se reuniram para denunciar a corrupção, o nepotismo e a desigualdade que dominam a vida pública do Nepal. O estopim foi a proibição de 26 plataformas de redes sociais incluindo Facebook, Instagram, X e YouTube, decretada pelo governo, uma medida que ativistas viram como um ataque à liberdade de expressão, Raj Rana, um nepalês que participou das recentes manifestações reafirma tal posição.

Os protestos rapidamente escalaram: confrontos com a polícia resultaram em uso ostensivos de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real, segundo Rana. No dia 9 de setembro, o primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou, pressionado pela magnitude da insatisfação dos jovens, porém, não se limitou ao veto digital. Por trás da indignação estava uma reclamação mais profunda: a escassez de empregos dignos, a persistência de elites privilegiadas (os chamados “nepo kids”) e a sensação de que, apesar de tanto crescimento econômico reportado, o Estado falhou em converter recursos em oportunidades para a maioria da população. De fato, segundo o Banco Mundial, mais de 80% da força de trabalho nepalesa está na informalidade, um número clássico de economias frágeis. O economista Karki Lama aponta que as remessas enviadas por nepaleses que trabalham no exterior (equivalentes a mais de um terço do PIB, segundo Fundo Monetário Internacional, FMI) sustentam o país, mas não geram empregos de qualidade e mantêm muitos jovens reféns de oportunidades materiais mínimas.

Esses protestos, segundo analistas, não são apenas uma manifestação política: são um grito de alerta sobre a saúde estrutural da economia nepalesa. A relação entre a frustração juvenil e as debilidades econômicas torna-se evidente à medida que se examina o modelo de desenvolvimento vigente no país. A economia nepalesa há muito tempo depende fortemente das remessas de migrantes para manter sua liquidez externa e financiar o consumo interno. Para Lama, entretanto, essa dependência representa um fracasso de capacidade produtiva nacional, não há trabalho suficiente internamente, e a migração torna-se quase inevitável. Mas a crise das ruas tem um custo direto para a economia. Um relatório recente do Banco Mundial alerta que a turbulência política pode reduzir fortemente o crescimento econômico em 2025-26: a previsão foi ajustada para 2,1%, com possibilidade de contração se a instabilidade persistir. O documento prevê ainda uma queda nas chegadas de turistas, um golpe duplo para o Nepal, que depende fortemente do turismo para gerar divisas e emprego formal. A erosão da confiança dos investidores já se tornou palpável. A Federação da Indústria do Nepal (FNCCI), por exemplo, emitiu um apelo para que o novo governo garanta segurança e estabilidade para os negócios, destacando que o setor privado é vital para a recuperação. Segundo esse mesmo apelo, as perdas com os danos materiais causados pelos protestos já afetam indústrias, propriedades e a cadeia de valor do turismo, hotéis, guias, transportes, tudo foi afetado.

Além disso, a insatisfação juvenil encontra respaldo em dados econômicos estruturais que expõem fragilidades profundas. O Nepal registra uma das maiores taxas de desemprego entre jovens na região: cerca de 20 %, segundo o mais recente relatório do IBGE Países. A falta de emprego qualificado, o baixo investimento em infraestrutura produtiva e a fraca diversificação industrial criam uma economia incapaz de absorver seu capital humano mais o peso das remessas, embora vital, é paradoxal: elas sustentam a economia, mas corroem o potencial de desenvolvimento autônomo. Conforme observa a New Humanitarian, muitos jovens veem sua saída como única rota possível, enquanto outros permanecem para protestar contra um sistema que lhes fecha portas. A migração, nesse contexto, deixa cicatrizes na cena política, no tecido social e nas finanças públicas.

O choque dos protestos também traz riscos no balanço externo. A volatilidade gerada pelas manifestações mobiliza redes de capital para fora do país, deixando o Nepal vulnerável a choques cambiais e restringindo sua capacidade de investir em longo prazo. A perda de turistas, a recomposição mais lenta de reservas cambiais e a alta cautela dos investidores estrangeiros são efeitos colaterais duradouros desse momento de ruptura. Do ponto de vista fiscal, a crise exige que o governo interino encontre um delicado equilíbrio. Por um lado, há pressão para responder às demandas dos jovens por mais transparência, combate à corrupção e reforma política. Por outro, há necessidade urgente de restaurar a confiança dos mercados, garantir fluxo de investimentos e sustentar a receita pública. Se o Estado optar por cortes agressivos para manter a disciplina fiscal, pode abrir mão de sua capacidade de gerar empregos, exatamente aquilo que a Geração Z exige. Por outro lado, expandir gastos sem controle também pode agravar vulnerabilidades já existentes. A situação contemporânea do Nepal também reflete um dilema geopolítico. Localizado entre Índia e China, o país sempre foi estratégico para ambos. A instabilidade recente pode frear projetos bilaterais de infraestrutura e perturbar o plano de desenvolvimento sustentável que muitos observadores internacionais defendiam para a nação. Além disso, a falta de boas políticas industriais internas limita sua capacidade de atrair investimento direto que não dependa exclusivamente de remessas ou do turismo.

Embora a revolta da Geração Z tenha derrubado um governo, ela colocou a economia nepalesa sob os holofotes: o modelo baseado em remessas e fluxo turístico é funcional, mas frágil. A instabilidade desencadeada pelos protestos expôs o dilema clássico de economias dependentes: crescer, mas sem construir uma base real de produção, oportunidades e institucionalidade. Se o novo governo quiser responder ao grito dos jovens, terá de investir não apenas na reconstrução política, mas sobretudo na transformação econômica: criando empregos, promovendo reformas estruturais e reduzindo a dependência de fatores que escapam ao controle interno. Sem isso, o Nepal pode voltar a caminhar, mas continuará sobre uma ponte frágil, com vento forte acima e abismo profundo abaixo.

Videogames se aproximam de artigos de luxo devido aos elevados custos
por
Lucca Cantarim dos Santos
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07/11/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Quem acompanha o cenário dos videogames vem se surpreendendo com a alta nos preços dos jogos nestes últimos meses. Com valores que vão desde R$ 249,95, valor do jogo “Hundred Line – Last line of defense”, lançado em abril de 2025, até R$ 499,99, preço do jogo Mario Kart World, que chegou às lojas em junho do mesmo ano. Esses preços têm dificultado cada vez mais o acesso dos fãs aos jogos que desejam, uma vez que acaba sendo inviável para muitos precisar gastar tanto dinheiro sempre que querem jogar um jogo novo. A estudante de sistemas de computação Gabrielle Rodrigues afirma sempre se arrepender de pagar caro em um jogo no dia do lançamento e acabar ficando sem dinheiro para comprar uma roupa ou até mesmo uma passagem do Rio de Janeiro até São Paulo para visitar seus entes queridos. Já o estudante Gabriel Merino alega sentir cada vez mais que não consegue comprar jogos no lançamento, precisando esperar diversos meses até uma baixa no preço ou promoção para finalmente ter acesso ao produto.

Fazer um jogo é um processo extremamente caro, e para a desenvolvedora independente “Dumativa”, responsável por jogos brasileiros como “Enigma do Medo” e “Lenda do Herói”, esse é o principal motivo para o aumento no custo do produto final. Já para Juno Cecílio, CEO da “Gixer Entertainment”, outra desenvolvedora independente, criadora do projeto “Changer Seven”, que se encontra em desenvolvimento atualmente, existe um fator ainda mais sensível.

 

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"Changer Seven", jogo de Juno Cecílio                                                 Foto:Divulgação/Gixer

 

Juno defende que existe uma estratégia de mercado mais agressiva por parte das empresas, que almejam maximizar sua receita em cima de um público fiel e cada vez mais disposto a pagar por franquias conhecidas. O grande problema, é que não existe um teto que defina até onde uma corporação queira ganhar, o que acaba sucateando o setor. O desenvolvedor faz um comparativo com outros setores no Brasil, como o de faculdades, que são compradas, demitem o corpo docente e substituem-no por profissionais mais baratos e revendem para o próximo, que fará o mesmo. Esse caso pode se observar na faculdade Anhembi Morumbi, que sofreu demissões e perdas massivas na grade horária após ser comprada pelo grupo Ânima Educação em 2021, como afirma uma matéria publicada na UOL em 2023.

Mas ele também aponta para outro fator, que também é abordado pela Dumativa, a falta de regionalização do preço. Quando um jogo chega no Brasil apenas convertido pela taxa do dólar, sem considerar a realidade do poder de compra local, ele acaba se tornando um produto quase que de luxo, e é nessas situações que observamos preços como os R$ 500,00 de Mario Kart World. A maioria dos jogos independentes já consideram fatores regionais quando lançam seus produtos em outros países, mas as produções de empresas grandes, como Nintendo, Ubisoft e Activision não, o que agrava uma ideia de “ganância” por parte dessas empresas.

Oferecer preços acessíveis ao consumidor é importante por inúmeros fatores, e um deles é justamente oferecer a experiência de jogo para um público mais amplo. Para muitos fãs de videogames, é extremamente doloroso, apesar de não chegar a um estágio extremo, ser privado de jogar algum jogo que goste devido ao seu custo elevado.

Gabrielle, por exemplo, diz que se sentiria mal caso fosse impedida de comprar um lançamento que estivesse com vontade de jogar. Ela alega que tem vontade de jogar o “Persona 3 Reload” a cerca de um ano, mas até hoje não o fez devido ao alto custo do jogo. Ela conta que até pensou em piratear a mídia apenas para consumo, e pagar por ela quando tivesse a oportunidade – igual já fez com outras franquias – mas que os sistemas que as empresas andam colocando em seus produtos, dificultam muito a pirataria. Gabriel Merino passa por uma situação similar, ficaria chateado caso não conseguisse comprar um jogo devido ao preço, mas também não compraria um jogo à preços exorbitantes mesmo se tivesse as condições para isso.

Lançar os jogos à preços acessíveis é essencial para que essas pessoas consigam consumir a mídia que desejam sem precisar se arriscar na pirataria ou pagar valores elevados. Além disso, é essencial para a criação de um consumo saudável. Nas palavras de Juno, quando um jogo lança à um preço compatível com a realidade do brasileiro, ele vende mais e ajuda a fortalecer o mercado e a comunidade local, e a trazer mais espaço para as empresas no País. Um exemplo foi o “Hollow Knight: Silksong”, lançado pela Team Cherry em setembro desse ano. O preço de R$ 60,00 cobrado pela mídia fez com que ela vendesse muitas unidades em um único dia – culminando na queda dos servidores da plataforma de compras Steam.

As empresas e publicadoras são as primeiras que podem participar na criação de um preço mais acessível e justo para o bolso da população. Grandes empresas e distribuidoras (Nintendo, Ubisoft, Microsoft) podem ajudar aprimorando a regionalização de preços, levando em conta o poder de compra de cada país; aprimorar a educação e formação de talentos, o que em longo prazo reduz o custo de produção global; oferecer programas de incentivo e parcerias com estúdios locais, o que acaba por gerar mais empregos, e visibilidade.

Quanto às empresas independentes, não se pode transferir as mesmas responsabilidades, uma vez que estas não tem o mesmo poder financeiro que as “gigantes do setor”. No entanto, elas podem e devem estabelecer métodos de acessibilidade nos preços de seus jogos, e algumas já tomam as providências, apesar de este ser um dos maiores desafios para essas instituições.

A Dumativa têm feito uso dos sistemas de financiamento coletivo em seus lançamentos, isso ajuda as empresas a terem uma base financeira mais sólida antes mesmo do lançamento, além de estabelecer uma relação saudável com empresa e consumidor, a partir do sistema de recompensas e conteúdo adicional dependendo de quanto cada pessoa optou por investir no jogo, além do próprio produto completo após o lançamento.

Já Juno, da Gixer, amplia ainda mais sua visão, para ele, jogos independentes não precisam competir com os grandes lançamentos em preço, na realidade, esses lançamentos têm de entregar valor percebido, autenticidade e qualidade dentro de seu escopo. Além disso, ele acredita que uma das melhores formas de equilibrar as contas sem depender do preço cheio é a diversificação de fontes de receita, e podem fazer isso por meio do lançamento de edições digitais com bônus, participação em festivais e até mesmo outros tipos de produto, como colecionáveis, histórias em quadrinho e até trilhas sonoras.

Outra ajuda também pode vir das próprias lojas, plataformas como a Steam se destacam quando o assunto é tornar seus preços mais acessíveis. Além da abundância de promoções, principalmente em datas comemorativas, que podem levar um preço de R$ 200,00 a R$ 40,00, a plataforma criou um sistema de famílias, que permite que um grupo de pessoas compartilhem a mesma biblioteca, podendo jogar jogos que pertencem à conta de terceiros (desde que inseridos na mesma família, cujo limite de pessoas é seis).

 

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Logo da loja digital Steam                                                                           Foto: Divulgação/Steam

 

Para Gabrielle Rodrigues e Gabriel Merino, que participam da mesma família alegam o quão benéfico isso é para eles, ambos afirmam como conseguiram ter mais acesso à jogos que não conseguiriam ter de outra forma, além da possibilidade de repartir os custos com os membros do grupo. Gabrielle afirma que financeiramente a família Steam é algo divino.

 

Movimento nas lojas aumentam conforme as épocas temáticas do ano vão chegando
por
Nathalia de Moura
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24/10/2025 - 12h

Por Nathalia de Moura

 

Entre o vai e vem e o sobe e desce das pessoas, a 25 de Março é o centro das vendas, principalmente em épocas como Carnaval, Natal e Halloween. Cores, brilhos, formas, luzes, ocupam as fachadas das lojas fazendo cada cliente lembrar que as bruxas chegam em 31 de outubro, o Papai Noel dará o ar da graça em 25 de dezembro e o Carnaval em breve tomará conta das ruas do País. 

A correria para atender o cliente que precisa de uma abóbora laranja e gigante, a atenção para cortar o tecido para a roupa do velhinho do Polo Norte ou até mesmo separar as lantejoulas para a confecção da fantasia faz parte do dia a dia das vendedoras do centro de São Paulo. Marlene tem 53 anos e veio atrás dos sonhos na capital paulista aos 16. Hoje fala com muito carinho no orgulho em fazer parte desses momentos. Com um sorriso, mas a voz embargada e os olhos marejados, relembra a dificuldade de se iniciar nesse mundo dos produtos de aviamentos e sazonais. Sempre sonhou em ter o que possui hoje, e mesmo com tantos patrões desacreditando de seu potencial, conseguiu ir atrás daquilo que a motivava: a arte do artesanato.

Os produtos chegam na loja e dali, são transformados em grandes realizações. Ela conta que nada é mais gratificante do que poder ajudar alguém que nem sabia o que estava procurando e encontra ali no seu estabelecimento. Na correria dos dias, as horas passam, a agitação aumenta, o fluxo cresce. Cada cliente fica um tempo observando aquele ambiente repleto de oportunidades. Oportunidade de fazer algo diferente do ano anterior, a chance de colocar uma cor diferente na decoração, de enfeitar a casa com pisca-pisca ou até fazer a festa temática do dia das bruxas que não aconteceu antes.

Na salinha apertada, rodeada de papelada importante e também do quadro estampando a foto da sua família, Marlene contava que proporcionar produtos de qualidade aos clientes a transforma. Pode ser que o Papai Noel não seja vendido hoje, que a abóbora gigante ainda passe despercebida ou o letreiro de “Feliz Natal” não seja usado, mas ela segue acreditando que cada fio, botão ou glitter pode ser utilizado em outros momentos justamente para não ser desperdiçado.

Ao andar pelas lojas, percebemos os olhares atentos nas promoções, o barulho dos comentários ao ver uma peça exposta ou as perguntas em relação aos preços. Para lá ou para cá, a multidão toma conta dos ambientes. Mesmo antes dos dias de comemoração, as pessoas fazem questão de irem em busca do que procuram o quanto antes. Mas sempre tem os que preferem comprar aos 45 minutos do segundo tempo. Na pressa para conseguir atender todos os clientes, Elen, funcionária que enfrenta todas as épocas corridas de venda do ano, fala que em alguns momentos, não consegue dar a atenção que as pessoas merecem. Seu olhar acompanhava a chegada e a saída dos clientes na loja. A atenção é máxima em um lugar que a exige a todo tempo.

No meio das linhas, botões e tecidos, a cearense de sotaque presente e forte expressa que nem imagina as diversas possibilidades que podem sair dali na sacola de cada pessoa. Uma linha pode se tornar mais de uma peça no Carnaval do Sambódromo do Anhembi ou nos bloquinhos pela cidade. E quando ela pensa nisso, os olhos até brilham em saber que, de alguma forma, fez parte daquilo.

A oferta e a demanda não param, assim como a agitação que só o ambiente da mais conhecida rua de comércio paulistana é capaz de proporcionar. Pelas ruas da 25 de março andam jovens, idosos, mulheres e homens carregando pequenas sacolas ou grandes volumes de mercadorias. De um lado o consumidor, do outro o vendedor. Ambos sabem que precisam um do outro, principalmente nessas épocas agitadas do comércio. Para Marlene, inspirar pessoas com seu empreendimento é motivo de orgulho. Em meio aos elogios que sua loja recebe, ela sempre sai com o sentimento de missão cumprida ao ver seus clientes com as sacolas recheadas de produtos que farão a diferença em épocas que se tornam especiais nas particularidades de cada um.

por
Mariana Bocaiuva Ribas
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06/11/2019 - 12h

O mundo dos investimentos é, comprovadamente, dominado pelos homens. No Brasil, menos de 30% dos investidores são mulheres - mesmo que elas representem 51% da população. Mas estudos recentes mostram que os números estão mudando, ainda que lentamente.

De acordo com uma pesquisa da bolsa brasileira, B3, em 2014 havia 137 mil mulheres investindo em ações. Em julho deste ano, elas já somavam 270 mil. Estatisticamente, cresceram 97%, ou seja, quase dobraram em apenas cinco anos.

Tatiane Lima, 31 anos, enfrentava insegurança com sua mudança de emprego: CLT para prestação de serviço. Com a renda maior, ela decidiu estudar sobre o assunto e há dez meses começou a investir na bolsa. O plano da gerente comercial é ter independência financeira no futuro. A jovem está dentro do grupo de mulheres que começaram a investir entre 2014 e 2019.

“Há cinco anos, eu tinha comprado algumas quitinetes para alugar. Vendi em maio deste ano. Era uma ideia de investimento. Meu trabalha com isso e eu me inspirava muito nele para ter uma independência financeira através do aluguel. Mas só tive dor de cabeça e prejuízo, então eu resolvi vender essas quitinetes e aplicar tudo em bolsa, que foi uma das decisões mais certeiras que eu tomei. Hoje, meu investimento está todo na bolsa de valores”, conta Lima.

A jovem buscou estudar o mercado de investimentos. Começou com vídeos e canais de finanças, até chegar nos livros. “Comecei a estudar finanças com o canal do YouTube ‘Me poupe’, da Nathalia Arcuri, e a partir dela eu conheci ‘O Primo Rico’, que fala mais sobre o mercado financeiro. Depois parti para o Tiago Reis. Também estudei nos livros, como o ‘Investidor Inteligente’, de Benjamin Graham, e ‘Guia Suno Dividendos’, do Tiago Reis [e Jean Tosetto]”.

Em 2019, as mulheres representam apenas 21,75% das pessoas físicas que compram ações, de acordo com a B3. Já no Tesouro Direto, programa do Tesouro Nacional em parceria com a B3, que vende títulos públicos federais para pessoas físicas, as mulheres são 30,3%.

É o caso da médica Ana Carolina Leghi, 31 anos, que notava a perda de dinheiro sem motivos e, após quitar seu carro e zerar seus cartões de crédito, decidiu investir no Tesouro Direto há mais ou menos um ano. “Não invisto na bolsa, ainda, porque requer estudo. Sou uma investidora mais conservadora. Não quero riscos, pelo menos por enquanto. Se ainda não sei como fazer bem correto, prefiro não fazer”, diz Leghi, que, assim como Tatiana, começou a investir  vendo canais do YouTube, como o de Nathalia Arcuri.

Finanças para mulheres

Carol Sandler, fundadora do site "Finanças Femininas"
Carolina Sandler, fundadora do site "Finanças Femininas"

Apesar do número crescente de mulheres que investem em renda variável, no Brasil, o aumento de investidores do sexo masculino é ainda maior, de 123% entre 2014 e 2019. Neste contexto, surge um novo modelo de conteúdo online de finanças para mulheres, que influencia no aumento do interesse feminino na área.

Formada em jornalismo e relações internacionais, Carolina Sandler, 35 anos, estudou economia, microeconomia e comércio exterior. Após notar a dificuldade que as mulheres têm em se inserir nesse mercado e a inexistência de projetos brasileiros pensados para a mulher na área de finanças, decidiu criar o site  “Finanças Femininas”, onde compartilha conhecimento do mercado financeiro direcionado, especialmente, para as mulheres.

“Eu decidi montar o “Finanças Femininas” no momento em que percebi que o conteúdo para mulher na internet era moda, beleza, casamento e maternidade. Me apaixonei pela causa, e abracei esse papel de ser uma tradutora, em entender o mercado financeiro e explicar para quem não conhece”, afirma Sandler.

A especialista explica o motivo pelo qual o mundo do investimento é predominantemente masculino, e a dificuldade da mulher em se inserir nesse mercado. “O homem teve historicamente o papel de provedor, então ele ganhava o dinheiro e tem a responsabilidade de cuidar dele. Temos que parar para pensar que a mulher teve direito a ter um CPF e uma conta bancária individual, sem precisar da autorização do pai ou marido, no final dos anos 60.”

“Tudo começa no momento em que as mulheres crescem no mercado de trabalho, [começam] a ganhar o seu próprio dinheiro e ter a responsabilidade de cuidar dele, faz pouco tempo em termos históricos. Até então, os clientes e funcionários de todas as corretoras eram homens, as mulheres eram no máximo secretárias”, pontua Sandler.

A estudiosa também comenta sobre o peso que a construção social tem sobre isso. “Estudos mostram que as meninas começam a achar que são piores em matemática do que os meninos a partir dos cinco anos. Então você tem meninas que gostam de matemática, e de repente deixam de gostar por achar que aquilo é algo de menino. Essa construção social que precisa ser desmontada.”

“As mulheres não se sentem confiantes para lidar com seus próprios investimentos, é o que eu mais ouço: ‘eu tenho medo’, ‘eu não entendo nada’, ‘eu sou ruim de dinheiro’. Aí aquele momento em que a mulher pesquisa, ela tem a percepção de que ela tem que ter o controle das suas próprias contas, de que isso não pode ser responsabilidade de outra pessoa”, finaliza Sandler.

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Sarah Santos
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02/11/2019 - 12h
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Compras - foto: divulgação

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e o 13º salário vão ajudar os brasileiros a comprarem na Black Friday. Para muitos, será a chance de antecipar as compras de Natal gastando menos. A última sexta-feira de novembro é conhecida como o dia de maiores descontos no comércio. Aqui no Brasil essa prática tem ganhado força e deve quebrar recordes este ano.

“É uma data cada vez mais importante, a terceira maior para o varejo, ficando atrás do Natal e do Dia das mães”, diz Guilherme Dietze, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

As festas de fim de ano trazem consigo um aumento na contratação de trabalhadores temporários. No estado de São Paulo, este crescimento deve ser de quase 8% em relação ao mesmo período do ano passado, o que resultará em 33 mil novos empregados, de acordo com a FecomercioSP. O desemprego tende a permanecer entre 12 e 13%, prevê Marcos Henrique do Espírito Santo, economista e professor de economia do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).

Ele comenta que medidas rápidas como contratos temporários não têm “fôlego” para melhorar o mercado de trabalho. “Por um lado, pode melhorar a vida de milhares de pessoas em um curto prazo, mas, no longo prazo, precisa-se pensar para além destas ocasiões pontuais, deve-se pensar em um plano de recuperação de emprego e de renda, para assim criar mais perspectivas para os empresários investirem”, completa. 

A Black Friday veio para o Brasil em 2010, importada dos Estados Unidos. “Nos últimos três anos, excluindo a recessão, ela vem aumento bastante”, diz Espírito Santo. Uma evidência disso é a pesquisa realizada pela plataforma de comércio eletrônico ZOOM que constatou que, dos quatro mil entrevistados, 95% pretendem consumir algum produto na data e 59% poupam ao longo do ano para aproveitar os descontos oferecidos.  

Black friday
Etiqueta Black Friday

No começo, a maquiagem dos preços chamou a atenção dos consumidores. Black Fraude e Metade do Dobro foram alguns dos apelidos que a data ganhou. “Eu acho impossível eliminar essa maquiagem, pois alguns comerciantes encaram como estratégia de venda, mas ao longo dos anos a tendência é que vá diminuindo”, acrescenta o professor da FMU. A respeito disso, Dietze diz que “até o monitoramento dos preços acontecerem, houve uma descrença na data”. 

O assessor da FecomercioSP conta que a expectativa para este ano é positiva, com mais gente empregada, inflação controlada, melhor condição de crédito e os empregos temporários.

Uma pesquisa realizada pelo Google em parceria com a consultoria Provokers mostrou que benefícios como condições especiais e cupons de desconto ganham relevância e atraem os consumidores para esta data. “A intenção de compra aumentou 58% para este ano, a inflação caiu muito rápido, o que dá uma aparência de crescimento na renda e no poder de consumo” afirma Espírito Santo. “O brasileiro olha para o valor da parcela, sendo muito mais disposto a usar o cartão de crédito”, acrescenta.

A pesquisa do Google e da Provokers indicou a previsão de gastos de R$ 1.330 por pessoa. Além disso, constatou que as vendas do comércio eletrônico irão se igualar às do varejo (lojas físicas). O assessor da FecomercioSP, no entanto, diz que está relação é distante. “O que pode acontecer é haver o mesmo crescimento nos dois segmentos. O varejo é superior ao eletrônico. O que vem ocorrendo é a ampliação do setor virtual, enquanto o físico já possui todos os aspectos desde vestuários, farmácias, supermercados e turismo”, completa. 

O nome Black Friday surgiu nos anos 1900 na Filadélfia, EUA, onde o dia seguinte à Ação de Graças era considerado a sexta-feira do caos devido aos muitos congestionamentos nas ruas. Além disso,  por inaugurar as compras natalinas, as lojas abriam mais cedo para atrair cada vez mais consumidores, tornando o termo popular em 1975. 

Com o aumento da venda online, vale observar algumas dicas de como fugir de fraudes. Consulte a reputação da loja, pesquise avaliações em sites como Reclame Aqui e nas redes sociais das empresas; veja a lista de sites suspeitos do Procon-SP; suspeite de descontos muito grandes; não use wifi compartilhado; deixe seu antivírus ligado; verifique se o site é seguro e, por último, cuidado com promoções via e-mail, que frequentemente são falsas.

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Giovanna Colossi
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31/10/2019 - 12h

Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia da consultoria PwC apontou que profissionais de marketing alocarão mais de 50% de seus orçamentos à publicidade digital até 2023, o que deve ultrapassar os gastos direcionados a mídias tradicionais. Somente a indústria de marketing de influencers deve valer até 2020 entre US$ 5 e 10 bilhões, de acordo com a agência norte-americana de marketing de influenciadores Mediakix, que também contabilizou o número de usuários cadastrados na rede social nos dias de hoje – dado não divulgado pelo Facebook, atual detentor do Instagram.

Com 1 bilhão de usuários, a plataforma é hoje o canal de mídia social mais importante estrategicamente para o marketing de influenciadores – pessoas que se tornaram famosas no mundo digital e exercem uma influência igual ou maior que personalidades da televisão, rádio e cinema. Neste mundo digital, anúncios não produzem o mesmo vínculo que os digital influencers são capazes ao testar um produto em uma live ou publicar uma foto mencionando o nome de uma marca de bolsa, camisa, tênis e joias. A personalização na hora de consumir torna esse setor cada vez mais lucrativo e complexo.

Considerados um novo “produto” pelo marketing, influenciadores foram classificados em categorias para que fossem mais bem entendidos. O número de seguidores em seus perfis, algo que pode influir na hora de fechar parcerias com marcas publicitárias, foi o método utilizado para a divisão e, de acordo com uma pesquisa feita em julho deste ano pela Squid, primeira empresa de marketing de influência no Brasil, nanos e microinfluenciadores – considerados especialistas – são os que produzem o maior número de engajamento dos seus seguidores.

marketing influenciadores

E, conforme o coordenador de marketing da empresa, Lucas Lanzoni, é a familiaridade que garante essa maior conexão entre os dois. “Influenciadores menores têm uma conexão mais próxima com a sua comunidade. Esse sentimento de proximidade faz com que a sua base de seguidores se engaje muito mais com os conteúdos produzidos. É a familiaridade de saber que são aqueles influenciadores que estão criando aquele conteúdo, interagindo, respondendo comentários e não um assessor ou empresário.”, afirma.

Conciliando a rotina no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2°Região) com a vida de produtor de eventos LGBTQ+ em São Paulo, o advogado Eraldo Azevedo já acumula 29,6 mil seguidores no Instagram. Muitos são da época em que ele usava o perfil para divulgar o seu “lifestyle”, como define, e a produção de looks que se destacavam na moda masculina em 2013. À época, as fotos lhe garantiram convites para o São Paulo Fashion Week (SPFW) e roupas em troca de publicidade, mas a vida no universo da moda também o apresentou às festas e after-parties, que se tornaram o seu foco principal ao longo dos anos. Hoje, o perfil do influencer, advogado e produtor é um guia de eventos LGBTQ+ na capital paulista.

Porém, sem se restringir a um único publico, Eraldo desenvolveu um padrão que agrada tanto às pessoas interessadas em moda quanto às que buscam dicas de baladas em São Paulo, combinação fundamental para gerar engajamento “O meu feed é organizado verticalmente, em três colunas. A primeira é de fotos pessoais e serve para quem vem da época do SPFW. A segunda coluna é de amigos e famílias, o que mostra minha vida pessoal às pessoas. A terceira e última coluna é só para flyers de eventos e festas que eu organizo. Dessa forma, quando publico uma foto com amigos, na quinta-feira, por exemplo, já estou chamando para o evento de sábado, quando publico a foto do evento.”, comenta. “É uma forma de trabalhar com o produto, que é a festa que eu estou divulgando.”

Este tipo de relação mais próxima entre quem divulga e quem compra tornou perfis pessoais o novo depósito de dinheiro de marcas dispostas a gastar valores expressivos em marketing digital. Com uma taxa de engajamento 203% maior que perfis de marca, os digital influencers têm altas garantia de retorno de investimento, conforme pesquisa da Altimeter, em 2019. 

 

Instagram Eraldo Azevedo



Hoje, a rede social que surgiu como um aplicativo para publicação de fotos em 2010 dispõe de ferramentas cada vez mais específicas e propícias para o mercado de engajamento. Ao publicar uma foto, é possível marcar o perfil oficial de cada item que compõe o look mostrado na imagem. Caso seja um perfil de empresa, a opção ‘etiqueta’, além de mostrar o preço e nome da peça, também pode levar o usuário direto à página de compra.  

Em nove anos de existência, o poder mercadológico e de influência do Instagram é capaz de engajar o consumidor, no caso seguidor, de forma mais rápida e eficiente que a televisão. “A velocidade com que essas plataformas ganharam relevância e poder como meios de comunicação e marketing é impressionante.”, comenta Lanzoni.

A resposta para isso é: o poder do engajamento nesta rede social, que nada mais é do que a capacidade que aquele que está indicando ou vendendo algo tem de interagir com os seus seguidores a ponto de convertê-los e influenciá-los a tornar aquilo uma compra ou compartilhamento.

A capacidade de um influenciador em engajar pode ser medida pelo número de interações no perfil, como curtidas em fotos, visualizações na ferramenta stories, quantidade de comentários e até mesmo questionamentos sobre o produto.

Para Eraldo, o sucesso desse relacionamento está baseado na verdade. "Quando você vê uma marca na televisão e vê no Instagram, no perfil de alguém que você segue, funciona muito mais porque a mensagem é mais orgânica. A mensagem é: ‘se ele está usando é porque deve ser bom’ e traz muito mais proximidade, realidade e pessoalidade.” Porém, ele questiona até quando o Instagram, que não era para ser, mas virou uma plataforma de marketing, vai resistir a esse relacionamento.

Influenciadores são vendedores que devem acreditar naquilo que vendem e, mais do que isso, vincular seu nome a marcas que lhe oferecem dinheiro em troca de publicidade. Ao mesmo tempo, são pessoas que dependem de um relacionamento verdadeiro com os seus seguidores.

Porém, a longo prazo, isso é possível?

 

por
Isabella Mei
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31/10/2019 - 12h

Há novos conteúdos tomando conta dos fones de ouvido dos internautas: os podcasts estão crescendo cada vez mais e se apropriando das plataformas digitais. Os programas comuns em redes de streaming estão tendo grande aumento de público e, por consequência, de anunciantes.

O ano de 2019 vem sendo considerado o ano dos podcasts. Segundo uma pesquisa do Ibope em parceria com a CBN e a Piauí, cerca de 50 milhões de internautas já ouviram pelo menos um programa, que equivale a 40% dos usuários de internet no Brasil. Os dados pesquisados demonstram os novos rumos que as narrativas radiofônicas estão tomando. Só no Brasil, são mais de 2 mil programas ativos, de acordo com a Associação Brasileira de Podcasts (ABPod). A plataforma de streaming Spotify calculou o crescimento da audiência em 330%.

Os novos programas de rádio se popularizaram por seguir um caminho mais voltado para o storytelling – prática de criar narrativas roteirizadas que marcam o ouvinte – e o número de ouvintes aumentou de acordo com o crescimento do acesso a smartphones. O consumo de telefones celulares inteligentes, assim como a melhora das conexões de internet, permitiu que os podcasts se difundissem, tanto na produção quanto no consumo.

A partir do crescimento de ouvintes, as plataformas digitais, como Spotify e Deezer, passaram a investir na criação de um espaço para os podcasts serem postados. É assim que começa a “golden era” dos novos programas de rádio. Somam-se a ela os anúncios feitos por empresas dentro do conteúdo dos programas, que vieram com força primeiramente no Instagram e agora se difundem para os áudios.

De acordo com o diretor da ABPod, André Jonathas, o interesse de empresas se dá pelo fato de o podcast ter “algumas características importantes que o diferencia: alta atenção e alta retenção do ouvinte”, como mostrou a ‘PodPesquisa’ 2018, realizada pela associação em parceria com a rádio CBN. No mesmo estudo, 63% dos entrevistados afirmaram ter adquirido algum produto ou serviço anunciado nos programas. 

Para receber investimentos, os programas de áudio precisam atender a requisitos básicos, como ter credibilidade, atingir o público-alvo do cliente e trazer resultados. Segundo Jonathas, com a popularização dos podcasts esses requisitos passam a ser frequentes, dando abertura para que os investimentos cheguem aos produtores de conteúdo.

Nos Estados Unidos, os podcasts já são um fenômeno desde 2014. Na pesquisa de 2018, feita pelo Interactive Advertising Bureau (IAB), as receitas que a publicidade gerou nos programas foram de US$ 257,4 milhões, sendo que 46% dos usuários afirmaram que compraram de dois a dez produtos anunciados.  No país, os anúncios na nova plataforma já demonstraram que dão certo, mas no Brasil ainda são um campo a ser explorado.

Os anúncios publicitários estão em crescimento, segundo Jonathas, mas já existem alguns formatos consolidados, como episódios ou séries patrocinadas. Eles podem acontecer de quatro formas diferentes: como spots de áudio, publicidades rápidas de 30 segundos no começo ou final do áudio, ou de forma testemunhal, gravadas durante o programa pelo locutor. Também podem ser temáticos, quando um episódio inteiro é feito com base em uma proposta do anunciante ou um programa do cliente, que é quando a marca produz o seu próprio conteúdo.

O Café Belgrado é um dos podcasts de basquete mais importantes do Brasil. Desde que começou, em setembro de 2017, o número de ouvintes mais do que dobrou. Guilherme Tadeu, um dos apresentadores, afirma que a medição do crescimento se dá pelo engajamento das redes sociais do programa. “De um ano para o outro, não chegou a triplicar, mas mais do que dobrou, em download, produção, redes sociais e comentários.”

 

Com um maior engajamento, o “Belgradão”, como foi apelidado, passou a receber alguns anunciantes em seus programas, e o principal recurso publicitário vem de um site de apostas estrangeiro. Os anúncios, normalmente, estão integrados aos temas do podcast. Tadeu conta que a publicidade contribui para que a produção de conteúdo melhore, já que a criação, a edição e a divulgação são feitas completamente de forma independente. Porém, apesar de os retornos financeiros estarem chegando depois de dois anos como podcaster, ele afirma que ainda não é o suficiente para se “viver disso”.

Em relação aos custos dos anúncios, André Jonathas afirma que no Brasil ainda não é possível ter um dado concreto, mas que “há uma percepção do aumento do interesse pela mídia e, naturalmente, as marcas estão investindo mais”. O diretor da ABPod ressalta que a publicidade não é a única forma de movimentar financeiramente a mídia auditiva. O apresentador do Café Belgrado corrobora a afirmação de Jonathas, ao declarar que grande parte da receita do programa se dá pelo financiamento coletivo, que é o apoio financeiro dos ouvintes. O podcast oferece uma programação especial para aqueles que contribuem, com conteúdo fechado para o público geral.

Além do financiamento, Tadeu acrescenta que, junto com os anúncios nos podcasts, casam-se “pacotes” com o engajamento do Instagram. Ele cita o exemplo de um dos anunciantes do programa, uma empresa italiana de relógios de madeira. “Geralmente a gente coloca um pacote, um bônus. Por exemplo, o relógio dava 10% de desconto pra quem usasse o cupom, e junta o pacote das redes sociais e o tempo no podcast”, explica.

Os dados incertos e as declarações de podcasters demonstram que o campo publicitário na nova era do rádio ainda tem muito chão para percorrer. Por fim, o diretor da ABPod diz que o mercado publicitário está acompanhando o crescimento dos podcasts como uma ótima oportunidade para negócios. “Não só para anunciar, mas para fazer o próprio podcast”, comenta.

Este é o caso da Disney, uma megacorporação que sabe investir em transmídia. Em 2019, lançou o podcast D23 Inside Disney, para comentar as novidades e conteúdos criados pela empresa. Em território nacional, a Fini, empresa de balas de gelatina, está fazendo algo semelhante. Líder no segmento em que atua, a instituição anunciou a criação do Finicast, um programa original da marca, em parceria com produtores de conteúdo de programas que abordam temas do universo da cultura pop.

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Giovanna Morais
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14/11/2019 - 12h

O movimento feminista tem sido cada vez mais abraçado pelas mulheres que almejam libertar e desconstruir o pensamento da “mulher ideal”. Um conceito que dita como as mulheres devem se portar em sociedade. Em meio à grande repercussão do movimento, o mercado viu nesse nicho de pessoas que se identificavam com o feminismo uma chance de transformar o engajamento pela causa em lucro. 

Gradualmente, marcas reconhecidas pelo público começaram a investir em produtos com dizeres, imagens ou objetos com a temática feminista, de empoderamento às mulheres. Renata Vasconcelos, a ex-gerente de uma das unidades da loja Renner, se considera feminista e conta: “Quando as peças chegaram e colocamos algumas delas nas vitrines, tivemos uma surpresa, o estoque ficou praticamente zerado em poucos dias”. 

Ela diz que cerca de 80% do estoque das camisetas com temática voltada para as mulheres foi vendido em menos de duas semanas. “A loja em que trabalhava tinha um fluxo grande. Lembro de informar vários clientes que essas peças já tinham acabado quando perguntavam se havia o número delas."

Vasconcelos acompanhou o estopim do movimento chegar às lojas. “Não sei dizer até que ponto as pessoas compravam sabendo que aquele símbolo representa um movimento, ou que aquela frase faz parte de algo maior. Para mim tudo parecia muito falso”, lembra.

O conceito de “mulher ideal” colocou a mulher como um segmento altamente lucrativo. O público feminino é responsável por 96% das compras domésticas, e é constantemente exposto a propagandas feitas especificamente para ganhar essa clientela. O mercado mundial de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos voltado para as mulheres movimentou em 2017 mais de US$ 72 bilhões.

A socióloga especializada em comportamento feminino Juliana Oliveira explica: “Esse comportamento consumista a que muitas mulheres são induzidas está profundamente enraizado no jeito como o mercado publicitário as enxerga e como fazem com que acreditem que precisam de um produto para se tornarem mulheres melhores, mais eficientes e mais bonitas”.

Quanto às coleções de produtos que miram o público que se identifica com o feminismo, a socióloga afirma: “As aparências valem mais do que o movimento em si. O que será que vale mais, usar uma camiseta escrita 'Mulheres são o máximo' ou de fato agir para empoderar mulheres ao seu redor?”.

“As influencers que estão por todas as redes sociais têm uma parcela de culpa, porque vendem o conceito feminista como um rótulo positivo e que não precisa ser 'alimentado', você só precisa se autointitular feminista para ser uma feminista, nada mais”, acrescenta Juliana.

Para a socióloga a transparência das empresas é fundamental para que o público crie confiança. “Para uma empresa, levantar uma bandeira pode ser primordial em certos momentos, mas isso precisa ser feito de acordo com o que a empresa está disposta a fazer para apoiar o que está divulgando.”

A estudante Marcela Santos, 21, que compra regularmente em lojas de departamento, conta: “Eu sou feminista, sei a importância do movimento para muitas mulheres. Não acho que uma loja ao fazer coleções “empoderadoras” esteja fazendo muito pela luta social, mas sim apenas para a empresa”.

“Acho que precisamos de mais marcas que se disponham não só a lucrar com o movimento, mas que realmente apoiem a luta e estejam junto com nós mulheres nos momentos de resistência”, afirma Marcela.