Há novos conteúdos tomando conta dos fones de ouvido dos internautas: os podcasts estão crescendo cada vez mais e se apropriando das plataformas digitais. Os programas comuns em redes de streaming estão tendo grande aumento de público e, por consequência, de anunciantes.
O ano de 2019 vem sendo considerado o ano dos podcasts. Segundo uma pesquisa do Ibope em parceria com a CBN e a Piauí, cerca de 50 milhões de internautas já ouviram pelo menos um programa, que equivale a 40% dos usuários de internet no Brasil. Os dados pesquisados demonstram os novos rumos que as narrativas radiofônicas estão tomando. Só no Brasil, são mais de 2 mil programas ativos, de acordo com a Associação Brasileira de Podcasts (ABPod). A plataforma de streaming Spotify calculou o crescimento da audiência em 330%.
Os novos programas de rádio se popularizaram por seguir um caminho mais voltado para o storytelling – prática de criar narrativas roteirizadas que marcam o ouvinte – e o número de ouvintes aumentou de acordo com o crescimento do acesso a smartphones. O consumo de telefones celulares inteligentes, assim como a melhora das conexões de internet, permitiu que os podcasts se difundissem, tanto na produção quanto no consumo.
A partir do crescimento de ouvintes, as plataformas digitais, como Spotify e Deezer, passaram a investir na criação de um espaço para os podcasts serem postados. É assim que começa a “golden era” dos novos programas de rádio. Somam-se a ela os anúncios feitos por empresas dentro do conteúdo dos programas, que vieram com força primeiramente no Instagram e agora se difundem para os áudios.
De acordo com o diretor da ABPod, André Jonathas, o interesse de empresas se dá pelo fato de o podcast ter “algumas características importantes que o diferencia: alta atenção e alta retenção do ouvinte”, como mostrou a ‘PodPesquisa’ 2018, realizada pela associação em parceria com a rádio CBN. No mesmo estudo, 63% dos entrevistados afirmaram ter adquirido algum produto ou serviço anunciado nos programas.
Para receber investimentos, os programas de áudio precisam atender a requisitos básicos, como ter credibilidade, atingir o público-alvo do cliente e trazer resultados. Segundo Jonathas, com a popularização dos podcasts esses requisitos passam a ser frequentes, dando abertura para que os investimentos cheguem aos produtores de conteúdo.
Nos Estados Unidos, os podcasts já são um fenômeno desde 2014. Na pesquisa de 2018, feita pelo Interactive Advertising Bureau (IAB), as receitas que a publicidade gerou nos programas foram de US$ 257,4 milhões, sendo que 46% dos usuários afirmaram que compraram de dois a dez produtos anunciados. No país, os anúncios na nova plataforma já demonstraram que dão certo, mas no Brasil ainda são um campo a ser explorado.
Os anúncios publicitários estão em crescimento, segundo Jonathas, mas já existem alguns formatos consolidados, como episódios ou séries patrocinadas. Eles podem acontecer de quatro formas diferentes: como spots de áudio, publicidades rápidas de 30 segundos no começo ou final do áudio, ou de forma testemunhal, gravadas durante o programa pelo locutor. Também podem ser temáticos, quando um episódio inteiro é feito com base em uma proposta do anunciante ou um programa do cliente, que é quando a marca produz o seu próprio conteúdo.
O Café Belgrado é um dos podcasts de basquete mais importantes do Brasil. Desde que começou, em setembro de 2017, o número de ouvintes mais do que dobrou. Guilherme Tadeu, um dos apresentadores, afirma que a medição do crescimento se dá pelo engajamento das redes sociais do programa. “De um ano para o outro, não chegou a triplicar, mas mais do que dobrou, em download, produção, redes sociais e comentários.”
Com um maior engajamento, o “Belgradão”, como foi apelidado, passou a receber alguns anunciantes em seus programas, e o principal recurso publicitário vem de um site de apostas estrangeiro. Os anúncios, normalmente, estão integrados aos temas do podcast. Tadeu conta que a publicidade contribui para que a produção de conteúdo melhore, já que a criação, a edição e a divulgação são feitas completamente de forma independente. Porém, apesar de os retornos financeiros estarem chegando depois de dois anos como podcaster, ele afirma que ainda não é o suficiente para se “viver disso”.
Em relação aos custos dos anúncios, André Jonathas afirma que no Brasil ainda não é possível ter um dado concreto, mas que “há uma percepção do aumento do interesse pela mídia e, naturalmente, as marcas estão investindo mais”. O diretor da ABPod ressalta que a publicidade não é a única forma de movimentar financeiramente a mídia auditiva. O apresentador do Café Belgrado corrobora a afirmação de Jonathas, ao declarar que grande parte da receita do programa se dá pelo financiamento coletivo, que é o apoio financeiro dos ouvintes. O podcast oferece uma programação especial para aqueles que contribuem, com conteúdo fechado para o público geral.
Além do financiamento, Tadeu acrescenta que, junto com os anúncios nos podcasts, casam-se “pacotes” com o engajamento do Instagram. Ele cita o exemplo de um dos anunciantes do programa, uma empresa italiana de relógios de madeira. “Geralmente a gente coloca um pacote, um bônus. Por exemplo, o relógio dava 10% de desconto pra quem usasse o cupom, e junta o pacote das redes sociais e o tempo no podcast”, explica.
Os dados incertos e as declarações de podcasters demonstram que o campo publicitário na nova era do rádio ainda tem muito chão para percorrer. Por fim, o diretor da ABPod diz que o mercado publicitário está acompanhando o crescimento dos podcasts como uma ótima oportunidade para negócios. “Não só para anunciar, mas para fazer o próprio podcast”, comenta.
Este é o caso da Disney, uma megacorporação que sabe investir em transmídia. Em 2019, lançou o podcast D23 Inside Disney, para comentar as novidades e conteúdos criados pela empresa. Em território nacional, a Fini, empresa de balas de gelatina, está fazendo algo semelhante. Líder no segmento em que atua, a instituição anunciou a criação do Finicast, um programa original da marca, em parceria com produtores de conteúdo de programas que abordam temas do universo da cultura pop.
O movimento feminista tem sido cada vez mais abraçado pelas mulheres que almejam libertar e desconstruir o pensamento da “mulher ideal”. Um conceito que dita como as mulheres devem se portar em sociedade. Em meio à grande repercussão do movimento, o mercado viu nesse nicho de pessoas que se identificavam com o feminismo uma chance de transformar o engajamento pela causa em lucro.
Gradualmente, marcas reconhecidas pelo público começaram a investir em produtos com dizeres, imagens ou objetos com a temática feminista, de empoderamento às mulheres. Renata Vasconcelos, a ex-gerente de uma das unidades da loja Renner, se considera feminista e conta: “Quando as peças chegaram e colocamos algumas delas nas vitrines, tivemos uma surpresa, o estoque ficou praticamente zerado em poucos dias”.
Ela diz que cerca de 80% do estoque das camisetas com temática voltada para as mulheres foi vendido em menos de duas semanas. “A loja em que trabalhava tinha um fluxo grande. Lembro de informar vários clientes que essas peças já tinham acabado quando perguntavam se havia o número delas."
Vasconcelos acompanhou o estopim do movimento chegar às lojas. “Não sei dizer até que ponto as pessoas compravam sabendo que aquele símbolo representa um movimento, ou que aquela frase faz parte de algo maior. Para mim tudo parecia muito falso”, lembra.
O conceito de “mulher ideal” colocou a mulher como um segmento altamente lucrativo. O público feminino é responsável por 96% das compras domésticas, e é constantemente exposto a propagandas feitas especificamente para ganhar essa clientela. O mercado mundial de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos voltado para as mulheres movimentou em 2017 mais de US$ 72 bilhões.
A socióloga especializada em comportamento feminino Juliana Oliveira explica: “Esse comportamento consumista a que muitas mulheres são induzidas está profundamente enraizado no jeito como o mercado publicitário as enxerga e como fazem com que acreditem que precisam de um produto para se tornarem mulheres melhores, mais eficientes e mais bonitas”.
Quanto às coleções de produtos que miram o público que se identifica com o feminismo, a socióloga afirma: “As aparências valem mais do que o movimento em si. O que será que vale mais, usar uma camiseta escrita 'Mulheres são o máximo' ou de fato agir para empoderar mulheres ao seu redor?”.
“As influencers que estão por todas as redes sociais têm uma parcela de culpa, porque vendem o conceito feminista como um rótulo positivo e que não precisa ser 'alimentado', você só precisa se autointitular feminista para ser uma feminista, nada mais”, acrescenta Juliana.
Para a socióloga a transparência das empresas é fundamental para que o público crie confiança. “Para uma empresa, levantar uma bandeira pode ser primordial em certos momentos, mas isso precisa ser feito de acordo com o que a empresa está disposta a fazer para apoiar o que está divulgando.”
A estudante Marcela Santos, 21, que compra regularmente em lojas de departamento, conta: “Eu sou feminista, sei a importância do movimento para muitas mulheres. Não acho que uma loja ao fazer coleções “empoderadoras” esteja fazendo muito pela luta social, mas sim apenas para a empresa”.
“Acho que precisamos de mais marcas que se disponham não só a lucrar com o movimento, mas que realmente apoiem a luta e estejam junto com nós mulheres nos momentos de resistência”, afirma Marcela.
Um novo modelo no ramo alimentício está caindo no gosto dos paulistanos. Apelidados de ‘dark kitchen’ ou ‘cozinhas fantasmas’, diversos restaurantes estão surgindo sem mesa, cadeiras, garçons e nem mesmo um espaço para receber clientes. Localizados em endereços desconhecidos – que podem até ser um imóvel residencial –, dependem apenas dos aplicativos de entrega para estar em funcionamento.
Com maior popularidade entre os jovens, os locais mais frequentes para esses pedidos são o trabalho e o domicílio. É o caso da jornalista Maria Teresa Gândara, 25, que utiliza os serviço de delivery principalmente por conta da rapidez e praticidade que os aplicativos oferecem. Para a jovem, tornaram-se tão comuns os pedidos via entrega que o próprio aplicativo já mantém seus restaurantes preferidos em uma aba exclusiva de fácil acesso.
Fugindo da estrutura tradicional, com música ambiente, decoração e comida servida à mesa, os novos empreendedores romperam o conceito de estabelecimentos com serviço de atendimento, recebendo pedidos apenas via aplicativos especializados.
Um exemplo é o restaurante Entrega Vegana. Para o proprietário Paulo Enomoto, 32, a intermediação feita pelos aplicativos de entrega ajudou a alavancar as vendas. “A onda do delivery acaba sendo uma nova vertente para as vendas, mas existe um público que ainda busca uma experiência gastronômica e com uma hospitalidade bem pensada e, para mim, eles não se conflitam”, afirma Enomoto.

Para quem abre uma cozinha fantasma, um dos principais atrativos é a redução de custo em relação aos estabelecimentos com atendimento local. Ao subtrair os gastos com garçons e os altíssimos aluguéis nas zonas nobres de São Paulo, nota-se uma grande diferença no fechamento das contas ao final do mês.
Outro fator vantajoso para quem opta por esse modelo de restaurante é a menor preocupação com o tipo de salão alugado e a localização. Embora aplicativos de entrega ainda utilizem a região atual do usuário para encontrar estabelecimentos próximos, agora o empresário não precisa se preocupar com a fachada e muito menos com o espaço para o cliente, podendo estar localizado até mesmo em um apartamento, desde que equipado.
De acordo com o site ‘Cidade de São Paulo’, criado pela Secretaria Municipal de Turismo, existem em São Paulo mais de 20 mil restaurantes e 30 mil bares, oferecendo as mais variadas opções para o consumidor final.
Habitada por mais de 12 milhões de pessoas de acordo com dados do IBGE de 2018, a cidade de São Paulo recebe por ano quase 15 milhões de turistas, segundo o Observatório de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo (OTE) de 2014. A junção de quase 30 milhões de pessoas gera uma concentração de diferentes culturas, fator que ajuda na ampliação da oferta dos cardápios dos restaurantes paulistanos.

Ao contrário dos estabelecimentos fixos que determinam o tipo de comida que será servida aos clientes, os restaurantes virtuais têm a opção de experimentar diversas combinações em uma única cozinha, formando um maior leque de opções com custo reduzido, na medida em que dispensam gastos com estrutura.
Originárias da China, essas cozinhas valeram-se dos aplicativos de entrega de comida largamente utilizados no país. Somente em 2018, de acordo com a IResearch, a indústria do delivery movimentou mais de US$ 70 bilhões na China.
De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), no Brasil esse novo mercado de pedidos via aplicativos de entrega movimenta cerca de R$ 1 bilhão por mês.
Um dos primeiros a investir no setor foi a multinacional americana Uber, ainda em 2017. Após expandir seu mercado para além do transporte de pessoas e criar a franquia Uber Eats, a empresa esteve envolvida na abertura de mais de quatro mil restaurantes virtuais.
As plataformas de entrega de comida online foram o degrau de apoio de muitas cozinhas fantasmas. Por conta de atrativos como cupons de desconto, anúncios via redes sociais e até a propaganda dentro dos aplicativos, os restaurantes têm nesse meio uma maior difusão entre os adeptos da prática.
A adequação do modelo ao setor foi tamanha que, recentemente, em agosto deste ano, a Ifood, startup brasileira de delivery, anunciou a marca de 20 milhões de pedidos por mês. Em junho, a empresa contabilizava cerca de 17,4 milhões de pedidos mensais. Com esse feito, a companhia registrou um crescimento de 15% em apenas dois meses.
Com mais de 100 mil estabelecimentos cadastrados em sua plataforma, de acordo com a própria startup, hoje a Ifood conta com mais de 72 mil entregadores parceiros em mais de 662 cidades brasileiras.
A estudante Giulia Trevizan, 21, é a personificação desse novo perfil de consumidor. Utilizando o aplicativo mais de seis vezes por semana, geralmente pede lanches e pizzas. Para a estudante, a facilidade e a diversidade de restaurantes disponíveis no aplicativo são dois fatores significativos para a migração de tantas pessoas para a categoria.
No entanto, tanto Trevizan quanto Gândara afirmam que as entregas, embora ofereçam comodidade, não substituem a experiência de ir a um estabelecimento. Para Gândara, “comer em casa é coisa para se fazer durante a semana e quando se está cansado, não te acrescenta nada”.
Nos últimos anos tornou-se cada vez mais comum ouvir falar de intolerância ou alergia a alguns alimentos, principalmente ao glúten. E quem possui essa restrição alimentar sabe como a busca por produtos pode ser desgastante. Além da preocupação com alimentos industrializados, as opções oferecidas ainda são escassas e geralmente caras. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 1% da população mundial sofre com a intolerância permanente ao glúten, a chamada doença celíaca.
Essa doença é uma reação autoimune às proteínas encontradas no trigo, cevada e centeio, ou seja, o sistema imunológico identifica o alimento, que para a maioria das outras pessoas seria inofensivo, como uma ameaça. Indivíduos diagnosticados com ela sofrem danos intestinais e, se não for identificada e gerenciada corretamente, a doença pode levar ao câncer. O único tratamento é uma alimentação sem glúten por toda a vida.
Aninha Rodrigues, nutricionista e dona do perfil @meusegredinho, criado em 2013 para contar sobre sua vida sem glúten, hoje conta com mais de 50 mil seguidores no Instagram. Descobriu ser celíaca em 2012, aos 33 anos. Ela conta sobre a dificuldade que tinha há sete anos de encontrar produtos para celíacos. “Hoje já temos gôndolas especiais na maioria dos mercados, e há uma oferta bem maior de produtos, inclusive com melhor qualidade. Acredito que aconteceu por uma evolução do mercado, tanto pelo crescimento da demanda pela popularização da dieta sem glúten, da onda saudável e fitness, ascensão do lowcarb, quanto pela maior disseminação de informações sobre as desordens relacionadas ao glúten.”
Manter uma dieta especial como essa não é barato. Um estudo de 2018 no Reino Unido mostrou que alguns itens sem glúten custam, em média, 159% a mais do que os convencionais. “Os produtos sem glúten substitutos variam. Encontramos pães pelo dobro do preço dos tradicionais ou até mesmo por quatro vezes mais. Mas é uma produção menor, que demanda mais ingredientes, mais cuidados, laudos e certificações que têm custo elevado, além de muitas vezes os produtos mais caros serem importados e por isso têm toda a carga de impostos e tramitação incluídos no valor final”, diz Aninha.
Porém, esse mercado vem crescendo cada vez pela moda dos regimes sem glúten. Dados da consultoria internacional Euromonitor mostram que este setor deve ter uma expansão de 35% a 40% nos próximos três anos. Os produtos glúten-free existem para atender ao público celíaco, mas ganharam e conquistaram consumidores que não possuem a doença, mas que buscam uma alimentação natural e mais saudável. Há o entendimento de que a ausência de glúten ou lactose torna um produto light ou fit.
A arquiteta Luciana de Oliveira tem uma filha celíaca há mais de cinco anos e aprendeu a fazer produtos sem glúten, por meio de cursos e workshops. Ela conta que, nesse período, as opções de alimentos seguros para sua filha aumentaram significativamente. “Vêm crescendo cada vez mais, pela procura por uma alimentação mais ‘saudável’ e dietas isentas de glúten, açúcar e lactose”, diz. Luciana acredita que essa demanda torna o mercado mais atraente aos investidores, beneficiando quem tem a restrição a esses alimentos.
Referindo-se à experiência de sua filha, Luciana também fala sobre os desafios de quem sofre esse tipo de alergia alimentar, que abrangem a mudança de hábitos, de cardápio e a aceitação pela sociedade. “A maior dificuldade que vejo é quando ela sai de casa, pois há sempre a dúvida de comer na rua algo que seja em primeiro lugar seguro, pois os lugares na maioria das vezes não estão preparados para atender pessoas com restrições alimentícias. Mas, também, é a visão das pessoas sobre a situação dela que é difícil, pois acham que é frescura, e não veem que realmente é uma questão de vida ou morte.”
Investir nesse nicho é uma boa opção para os empreendedores e também facilitará a vida de celíacos em todo o país. Mesmo sendo um grupo restrito, é fundamental para essas pessoas encontrar alimentos para elas comerem bem e de forma saudável, sem a necessidade de uma mudança tão radical de uma hora para outra, realidade que os celíacos enfrentam hoje no Brasil.
O pão é um dos alimentos mais consumidos no mundo, e no Brasil não poderia ser diferente. Ele está presente quase que diariamente nas mesas dos brasileiros, nas mais diversas formas, tamanhos e sabores – até por isso, influencia nas finanças dos consumidores. E, por ser um dos produtos mais conhecidos do mundo, acabou ganhando o seu próprio dia: 16 de outubro. A data foi escolhida pela União Internacional de Padeiros e Afins, em 2000, e é uma homenagem ao dia de fundação da FAO, Organização para Alimentação e Agricultura da ONU.
O pão no Brasil tem como principal ingrediente o trigo, mesmo podendo ser feito à base de diversos outros grãos. E, por conta justamente do preço do trigo, padarias de todo o país registram variações no preço do seu produto mais importante. "No ano passado, vendíamos o pão na faixa dos R$ 10 e hoje já estamos vendendo a R$ 12,90, devido à farinha [de trigo], que ficou mais cara", afirma Rosinha Carneiro, encarregada de pães na Padaria Maria dos Pães, em Osasco.
O Brasil importa muito este grão. Somente neste ano, até setembro, quase 5 milhões de toneladas já foram trazidas. A Argentina é, de longe, o país que mais exporta trigo para o Brasil, representando cerca de 85,5% do total, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Paraguai, em segundo lugar, e Uruguai, em terceiro, também aparecem com um certo destaque nas importações deste grão.
A panificação é responsável por 55% do uso de todo o trigo no país, produzido ou importado. Não por acaso, o setor está presente em todos os municípios do Brasil. Como resultado, a produção de pães emprega, atualmente, mais de 920 mil pessoas diretamente e mais 1,6 milhão indiretamente. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip). São mais de 70 mil padarias e confeitarias em todo o país, sendo 95% delas micro ou pequenas empresas familiares. Mas em todas elas o grande destaque é o pão francês.
"Pão francês é o carro-chefe da padaria. É o primeiro produto que vai para a mesa do cliente", afirma Almir Rogério, padeiro do Supermercado Sorocaba, em Osasco. Mas, mesmo sendo muito importante, o consumo deste produto está em queda.
A Abip mostra que o volume de pães franceses vendidos está diminuindo desde 2015. Entre 2017 e 2018, foi registrada a maior queda do período: 4,61%. Até por isso, as padarias têm sido obrigadas a oferecer mais produtos aos consumidores, como salgados, doces e, claro, outro tipos de pães.
Mesmo em queda, os pães franceses são os principais produtos entre os mais de 5,6 milhões de panificados produzidos anualmente. É o que garante José Batista de Oliveira, presidente da Abip. "Apesar do nome, o pãozinho francês é coisa muito nossa. Ele é a cara do Brasil e o principal produto das nossas padarias, representando, sozinho, 45% da venda de pães no país. E não é para menos, quem não tem uma lembrança gostosa, um momento especial ou uma memória afetiva que envolva um pão quentinho, o cheiro de café recém-passado e os amigos ou a família reunidos? É ele quem está nas mesas dos brasileiros há décadas, e cada um tem um jeito de comer pão francês”, afirma Oliveira.
Para o presidente da Abip, pão francês é coisa séria e não somente um "alimento do dia a dia". Citando a ABNT NBR 16170, norma técnica de qualidade e classificação publicada em 24 de abril de 2013, ele explica como deve ser um pão francês ideal: "Tem um tom dourado, uma textura crocante por fora, e um miolo com toque aveludado, bem macio e sem buracos. Nosso legítimo pãozinho tem apenas uma pestana, que é aquele corte na parte superior, bem fina, e uma certa elasticidade, ou seja, quando damos a famosa ‘apertadinha’ conseguimos comer, numa mesma mordida, tanto o miolo macio quanto a casca crocante".
Atualmente, o pão francês enfrenta uma concorrência maior nas padarias, com mais opções para quem quer fugir do tradicional. Mas isso não preocupa a Abip, justamente por o pão francês ainda representar a maior fatia dos produtos panificados. E uma maior busca por pães de fermentação natural ou pães artesanais é vista de com bons olhos.
"A procura por alimentos da linha fitness aumentou nos últimos anos, mas não há indícios de que isso afete diretamente a procura pelo tradicional pão francês", diz Isabela Abalen, assessora de imprensa da Abip. "Neste caso, os pães de fermentação natural entram como mais uma opção para o consumidor, e não como substituto do tipo francês. Tanto que o faturamento do pão francês no primeiro semestre de 2019 teve um aumento na sua média final de 4,24% em relação ao mesmo período no ano passado, com a média puxada para cima por aquelas empresas que mostraram bom retorno a partir dos investimentos em melhoria de processos e de qualidade do pão".