A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

por
Letícia Assis
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31/10/2019 - 12h

Um novo modelo no ramo alimentício está caindo no gosto dos paulistanos. Apelidados de ‘dark kitchen’ ou ‘cozinhas fantasmas’, diversos restaurantes estão surgindo sem mesa, cadeiras, garçons e nem mesmo um espaço para receber clientes. Localizados em endereços desconhecidos – que podem até ser um imóvel residencial –, dependem apenas dos aplicativos de entrega para estar em funcionamento.

Com maior popularidade entre os jovens, os locais mais frequentes para esses pedidos são o trabalho e o domicílio. É o caso da jornalista Maria Teresa Gândara, 25, que utiliza os serviço de delivery principalmente por conta da rapidez e praticidade que os aplicativos oferecem. Para a jovem, tornaram-se tão comuns os pedidos via entrega que o próprio aplicativo já mantém seus restaurantes preferidos em uma aba exclusiva de fácil acesso. 

Fugindo da estrutura tradicional, com música ambiente, decoração e comida servida à mesa, os novos empreendedores romperam o conceito de estabelecimentos com serviço de atendimento, recebendo pedidos apenas via aplicativos especializados. 

Um exemplo é o restaurante Entrega Vegana. Para o proprietário Paulo Enomoto, 32, a intermediação feita pelos aplicativos de entrega ajudou a alavancar as vendas. “A onda do delivery acaba sendo uma nova vertente para as vendas, mas existe um público que ainda busca uma experiência gastronômica e com uma hospitalidade bem pensada e, para mim, eles não se conflitam”, afirma Enomoto. 

Restaurante Fasano, um dos mais conhecidos e caros da cidade de São Paulo ainda segue a estrutura tradicional. Localizado no Jardins.
Restaurante Fasano, com estrutura tradicional. Localizado no Jardins. Fonte: Divulgação/Fasano.

Para quem abre uma cozinha fantasma, um dos principais atrativos é a redução de custo em relação aos estabelecimentos com atendimento local. Ao subtrair os gastos com garçons e os altíssimos aluguéis nas zonas nobres de São Paulo, nota-se uma grande diferença no fechamento das contas ao final do mês. 

Outro fator vantajoso para quem opta por esse modelo de restaurante é a menor preocupação com o tipo de salão alugado e a localização. Embora aplicativos de entrega ainda utilizem a região atual do usuário para encontrar estabelecimentos próximos, agora o empresário não precisa se preocupar com a fachada e muito menos com o espaço para o cliente, podendo estar localizado até mesmo em um apartamento, desde que equipado. 

De acordo com o site ‘Cidade de São Paulo’, criado pela Secretaria Municipal de Turismo, existem em São Paulo mais de 20 mil restaurantes e 30 mil bares, oferecendo as mais variadas opções para o consumidor final.

Habitada por mais de 12 milhões de pessoas de acordo com dados do IBGE de 2018, a cidade de São Paulo recebe por ano quase 15 milhões de turistas, segundo o Observatório de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo (OTE) de 2014. A junção de quase 30 milhões de pessoas gera uma concentração de diferentes culturas, fator que ajuda na ampliação da oferta dos cardápios dos restaurantes paulistanos. 

'Restaurantes'fantasmas' possibilitam maior variação de cardápio. Fonte: Divulgação/Arably.
'Restaurantes'fantasmas' possibilitam maior variação de cardápio. Fonte: Divulgação/Arably.

Ao contrário dos estabelecimentos fixos que determinam o tipo de comida que será servida aos clientes, os restaurantes virtuais têm a opção de experimentar diversas combinações em uma única cozinha, formando um maior leque de opções com custo reduzido, na medida em que dispensam gastos com estrutura.

Originárias da China, essas cozinhas valeram-se dos aplicativos de entrega de comida largamente utilizados no país. Somente em 2018, de acordo com a IResearch, a indústria do delivery movimentou mais de US$ 70 bilhões na China.

De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), no Brasil esse novo mercado de pedidos via aplicativos de entrega movimenta cerca de R$ 1 bilhão por mês.

Um dos primeiros a investir no setor foi a multinacional americana Uber, ainda em 2017. Após expandir seu mercado para além do transporte de pessoas e criar a franquia Uber Eats, a empresa esteve envolvida na abertura de mais de quatro mil restaurantes virtuais. 

As plataformas de entrega de comida online foram o degrau de apoio de muitas cozinhas fantasmas. Por conta de atrativos como cupons de desconto, anúncios via redes sociais e até a propaganda dentro dos aplicativos, os restaurantes têm nesse meio uma maior difusão entre os adeptos da prática. 

A adequação do modelo ao setor foi tamanha que, recentemente, em agosto deste ano, a Ifood, startup brasileira de delivery, anunciou a marca de 20 milhões de pedidos por mês. Em junho, a empresa contabilizava cerca de 17,4 milhões de pedidos mensais. Com esse feito, a companhia registrou um crescimento de 15% em apenas dois meses.

Gigante Ifood conta com mais de 72 mil entregadores. Fonte: Divulgação/Ifood

Com mais de 100 mil estabelecimentos cadastrados em sua plataforma, de acordo com a própria startup, hoje a Ifood conta com mais de 72 mil entregadores parceiros em mais de 662 cidades brasileiras. 

A estudante Giulia Trevizan, 21, é a personificação desse novo perfil de consumidor. Utilizando o aplicativo mais de seis vezes por semana, geralmente pede lanches e pizzas. Para a estudante, a facilidade e a diversidade de restaurantes disponíveis no aplicativo são dois fatores significativos para a migração de tantas pessoas para a categoria. 

No entanto, tanto Trevizan quanto Gândara afirmam que as entregas, embora ofereçam comodidade, não substituem a experiência de ir a um estabelecimento. Para Gândara, “comer em casa é coisa para se fazer durante a semana e quando se está cansado, não te acrescenta nada”.

por
Carolina Faita Baptista
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31/10/2019 - 12h

Nos últimos anos tornou-se cada vez mais comum ouvir falar de intolerância ou alergia a alguns alimentos, principalmente ao glúten. E quem possui essa restrição alimentar sabe como a busca por produtos pode ser desgastante. Além da preocupação com alimentos industrializados, as opções oferecidas ainda são escassas e geralmente caras. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 1% da população mundial sofre com a intolerância permanente ao glúten, a chamada doença celíaca.

 Essa doença é uma reação autoimune às proteínas encontradas no trigo, cevada e centeio, ou seja, o sistema imunológico identifica o alimento, que para a maioria das outras pessoas seria inofensivo, como uma ameaça. Indivíduos diagnosticados com ela sofrem danos intestinais e, se não for identificada e gerenciada corretamente, a doença pode levar ao câncer. O único tratamento é uma alimentação sem glúten por toda a vida.

Aninha Rodrigues, nutricionista e dona do perfil @meusegredinho, criado em 2013 para contar sobre sua vida sem glúten, hoje conta com mais de 50 mil seguidores no Instagram. Descobriu ser celíaca em 2012, aos 33 anos. Ela conta sobre a dificuldade que tinha há sete anos de encontrar produtos para celíacos. Hoje já temos gôndolas especiais na maioria dos mercados, e há uma oferta bem maior de produtos, inclusive com melhor qualidade. Acredito que aconteceu por uma evolução do mercado, tanto pelo crescimento da demanda pela popularização da dieta sem glúten, da onda saudável e fitness, ascensão do lowcarb, quanto pela maior disseminação de informações sobre as desordens relacionadas ao glúten.

Manter uma dieta especial como essa não é barato. Um estudo de 2018 no Reino Unido mostrou que alguns itens sem glúten custam, em média, 159% a mais do que os convencionais. Os produtos sem glúten substitutos variam. Encontramos pães pelo dobro do preço dos tradicionais ou até mesmo por quatro vezes mais. Mas é uma produção menor, que demanda mais ingredientes, mais cuidados, laudos e certificações que têm custo elevado, além de muitas vezes os produtos mais caros serem importados e por isso têm toda a carga de impostos e tramitação incluídos no valor final, diz Aninha.

Porém, esse mercado vem crescendo cada vez pela moda dos regimes sem glúten. Dados da consultoria internacional Euromonitor mostram que este setor deve ter uma expansão de 35% a 40% nos próximos três anos. Os produtos glúten-free existem para atender ao público celíaco, mas ganharam e conquistaram consumidores que não possuem a doença, mas que buscam uma alimentação natural e mais saudável. Há o entendimento de que a ausência de glúten ou lactose torna um produto light ou fit.

A arquiteta Luciana de Oliveira tem uma filha celíaca há mais de cinco anos e aprendeu a fazer produtos sem glúten, por meio de cursos e workshops. Ela conta que, nesse período, as opções de alimentos seguros para sua filha aumentaram significativamente. Vêm crescendo cada vez mais, pela procura por uma alimentação mais ‘saudável’ e dietas isentas de glúten, açúcar e lactose, diz. Luciana acredita que essa demanda torna o mercado mais atraente aos investidores, beneficiando quem tem a restrição a esses alimentos.

Referindo-se à experiência de sua filha, Luciana também fala sobre os desafios de quem sofre esse tipo de alergia alimentar, que abrangem a mudança de hábitos, de cardápio e a aceitação pela sociedade. A maior dificuldade que vejo é quando ela sai de casa, pois há sempre a dúvida de comer na rua algo que seja em primeiro lugar seguro, pois os lugares na maioria das vezes não estão preparados para atender pessoas com restrições alimentícias. Mas, também, é a visão das pessoas sobre a situação dela que é difícil, pois acham que é frescura, e não veem que realmente é uma questão de vida ou morte.”

Investir nesse nicho é uma boa opção para os empreendedores e também facilitará a vida de celíacos em todo o país. Mesmo sendo um grupo restrito, é fundamental para essas pessoas encontrar alimentos para elas comerem bem e de forma saudável, sem a necessidade de uma mudança tão radical de uma hora para outra, realidade que os celíacos enfrentam hoje no Brasil.

por
Leonardo Pratt
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31/10/2019 - 12h

O pão é um dos alimentos mais consumidos no mundo, e no Brasil não poderia ser diferente. Ele está presente quase que diariamente nas mesas dos brasileiros, nas mais diversas formas, tamanhos e sabores – até por isso, influencia nas finanças dos consumidores. E, por ser um dos produtos mais conhecidos do mundo, acabou ganhando o seu próprio dia: 16 de outubro. A data foi escolhida pela União Internacional de Padeiros e Afins, em 2000, e é uma homenagem ao dia de fundação da FAO, Organização para Alimentação e Agricultura da ONU.

O pão no Brasil tem como principal ingrediente o trigo, mesmo podendo ser feito à base de diversos outros grãos. E, por conta justamente do preço do trigo, padarias de todo o país registram variações no preço do seu produto mais importante. "No ano passado, vendíamos o pão na faixa dos R$ 10 e hoje já estamos vendendo a R$ 12,90, devido à farinha [de trigo], que ficou mais cara", afirma Rosinha Carneiro, encarregada de pães na Padaria Maria dos Pães, em Osasco.

O Brasil importa muito este grão. Somente neste ano, até setembro, quase 5 milhões de toneladas já foram trazidas. A Argentina é, de longe, o país que mais exporta trigo para o Brasil, representando cerca de 85,5% do total, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Paraguai, em segundo lugar, e Uruguai, em terceiro, também aparecem com um certo destaque nas importações deste grão.

A panificação é responsável por 55% do uso de todo o trigo no país, produzido ou importado. Não por acaso, o setor está presente em todos os municípios do Brasil. Como resultado, a produção de pães emprega, atualmente, mais de 920 mil pessoas diretamente e mais 1,6 milhão indiretamente. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip). São mais de 70 mil padarias e confeitarias em todo o país, sendo 95% delas micro ou pequenas empresas familiares. Mas em todas elas o grande destaque é o pão francês.

"Pão francês é o carro-chefe da padaria. É o primeiro produto que vai para a mesa do cliente", afirma Almir Rogério, padeiro do Supermercado Sorocaba, em Osasco. Mas, mesmo sendo muito importante, o consumo deste produto está em queda.

A Abip mostra que o volume de pães franceses vendidos está diminuindo desde 2015. Entre 2017 e 2018, foi registrada a maior queda do período: 4,61%. Até por isso, as padarias têm sido obrigadas a oferecer mais produtos aos consumidores, como salgados, doces e, claro, outro tipos de pães.

Mesmo em queda, os pães franceses são os principais produtos entre os mais de 5,6 milhões de panificados produzidos anualmente. É o que garante José Batista de Oliveira, presidente da Abip. "Apesar do nome, o pãozinho francês é coisa muito nossa. Ele é a cara do Brasil e o principal produto das nossas padarias, representando, sozinho, 45% da venda de pães no país. E não é para menos, quem não tem uma lembrança gostosa, um momento especial ou uma memória afetiva que envolva um pão quentinho, o cheiro de café recém-passado e os amigos ou a família reunidos? É ele quem está nas mesas dos brasileiros há décadas, e cada um tem um jeito de comer pão francês”, afirma Oliveira.

Para o presidente da Abip, pão francês é coisa séria e não somente um "alimento do dia a dia". Citando a ABNT NBR 16170, norma técnica de qualidade e classificação publicada em 24 de abril de 2013, ele explica como deve ser um pão francês ideal: "Tem um tom dourado, uma textura crocante por fora, e um miolo com toque aveludado, bem macio e sem buracos. Nosso legítimo pãozinho tem apenas uma pestana, que é aquele corte na parte superior, bem fina, e uma certa elasticidade, ou seja, quando damos a famosa ‘apertadinha’ conseguimos comer, numa mesma mordida, tanto o miolo macio quanto a casca crocante".

Atualmente, o pão francês enfrenta uma concorrência maior nas padarias, com mais opções para quem quer fugir do tradicional. Mas isso não preocupa a Abip, justamente por o pão francês ainda representar a maior fatia dos produtos panificados. E uma maior busca por pães de fermentação natural ou pães artesanais é vista de com bons olhos.

"A procura por alimentos da linha fitness aumentou nos últimos anos, mas não há indícios de que isso afete diretamente a procura pelo tradicional pão francês", diz Isabela Abalen, assessora de imprensa da Abip. "Neste caso, os pães de fermentação natural entram como mais uma opção para o consumidor, e não como substituto do tipo francês. Tanto que o faturamento do pão francês no primeiro semestre de 2019 teve um aumento na sua média final de 4,24% em relação ao mesmo período no ano passado, com a média puxada para cima por aquelas empresas que mostraram bom retorno a partir dos investimentos em melhoria de processos e de qualidade do pão".

por
João Pedro Freitas
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31/10/2019 - 12h

Por João Pedro Freitas


Um projeto de lei de autoria do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ)
promete pôr fim à crise financeira do futebol brasileiro, incentivando
clubes a se transformarem em sociedades anônimas (S/A), com
ações negociadas na bolsa de valores. A proposta ainda precisa ser
aprovada pela Câmara dos Deputados.

Vale lembrar que atualmente nada impede um clube de futebol de
deixar o modelo de associação e virar empresa limitada ou
sociedade anônima, porém os impostos, que são parciais ou
inexistentes para associações sem fins lucrativos, passariam a ser
cobrados integralmente dos clubes que assumirem a condição de
companhias. Como forma de forçar a migração dos clubes para a estrutura
empresarial, o deputado pretende aplicar impostos sobre
associações sem fins lucrativos como se fossem empresas
limitadas ou S/A.

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Créditos: FalaGalo

As dívidas fiscais não poderiam ser incluídas em processos de
recuperação judicial. Neste caso, Pedro Paulo pretende aliviar a
situação dos clubes com um percentual superior de reduções. Enquanto o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut) permitiu o abatimento de até 40% dos juros sobre as dívidas, a proposta do deputado aumentaria este percentual para 50%. Em contrapartida, os clubes que aderirem a este refinanciamento por meio de suas empresas precisariam pagar cinco parcelas de forma antecipada, o
equivalente a 15% da dívida consolidada por meio do refinanciamento. O deputado propõe um alongamento de 20 anos, mesmo prazo do Profut, para que os clubes consigam quitar os impostos não pagos.

A Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados fez a análise
da contabilidade de 19 times da Série A, em 2018, e alguns casos
são mais dramáticos. Santos e Chapecoense, por exemplo, jamais
conseguiriam pagar seus passivos, enquanto o Cruzeiro levaria
mais de 200 anos. O Botafogo vem logo em seguida com 34 anos
para quitar o que deve. O estudo conclui que, apesar das dívidas, o
mercado de futebol no Brasil é bastante promissor aos investidores.
Tanto pela receita líquida dos clubes analisados quanto pela
rentabilidade positiva de metade deles.

Na Europa este modelo já é aplicado há mais tempo, e conta com
alguns resultados ótimos e outros catastróficos, tornando o tema
polêmico. Vários times são empresas e têm ações no mercado,
como Manchester United, Arsenal, Juventus, Lazio e Inter de Milão,
e todos estão bem financeiramente. Porém, existem alguns casos
que deram muito errado e resultaram até em falências, como os dos
tradicionais Parma (Itália) e Rangers (Escócia).


No Brasil, o principal exemplo de sociedade anônima até o
momento é o Figueirense e o resultado foi considerado desastroso,
deixando dirigentes de outros clubes literalmente com o pé atrás.
Em agosto de 2017, os catarinenses começaram a parceria com a
empresa Elephant, que prometia mudar o clube de patamar. No
entanto, depois de dois anos o contrato foi rompido, já que os
investidores não cumpriram o acordo. O período ficou marcado por
salários atrasados, descaso com as categorias de base e o W.O.
diante do Cuiabá, que deixou o clube na lanterna da Série B do
Brasileiro.

O advogado esportivo Aldo Kurle diz que, quando uma empresa ou
um investidor descumprir um acordo, as sanções recairão sobre os administradores. “Já existem previsões de penalidades disciplinares, mas não têm sido aplicadas com a devida seriedade”,
afirma.

Da elite nacional, apenas os dirigentes de Athletico-PR, Botafogo e
CSA enxergam o projeto com bons olhos. Mas na segunda divisão
a proposta atrai quase metade dos 20 clubes. América-MG,
Coritiba, Guarani e São Bento encomendaram estudos de
viabilidade para avaliar a migração. Botafogo-SP, Red Bull
Bragantino e Londrina, por sua vez, já se tornaram empresas.
A maioria dos clubes considerados "grandes" já se posicionou a
respeito do tema por meio de seus dirigentes e discordou do projeto
por conta da equiparação tributária entre as associações sem fins
lucrativos e empresas.

O Flamengo, um dos únicos clubes do Brasil
a fazer ajustes fiscais e com as contas em dia, discorda do projeto
em três pontos importantes: carga de impostos, a liberação de
recursos de apostas apenas para quem se tornar clube-empresa e
a criação de um fundo para ajudar quem estiver com dificuldades
financeiras. Na contramão do rubro-negro, o Botafogo, afundado em
dívidas, aderiu ao projeto e está em busca de investidores para
transformar-se em sociedade anônima a partir do ano que vem.

O economista e ex-presidente do Palmeiras Luiz Gonzaga Belluzzo
não vê problema em clubes virarem empresas, mas não concorda
com a forma como a questão vem sendo conduzida. “Não tenho
nada contra os clubes virarem empresas, acho válido terem a
liberdade, pois é opção de cada um, mas este projeto de lei está
obrigando todos a virarem empresas. É um absurdo cobrar de
associações sem fins lucrativos o mesmo que se cobra de
companhias”, diz Beluzzo, acrescentando que as instituições podem
ficar reféns de “aventureiros”.
Já Kurle tem outra visão e se mostra favorável ao projeto de lei.
“Entendo que há a necessidade de profissionalização dos clubes.
Atualmente, na figura de associações sem fins lucrativos, os
dirigentes não têm responsabilidade pelos danos causados ao clube
durante sua administração”, argumenta.

por
Raul Vitor
|
31/10/2019 - 12h

O número recorde de 9 milhões de microempreendedores individuais (MEIs) que o Brasil atingiu este ano indica uma forte atração pelo setor, mas não significa que a situação do microempreendedor tenha melhorado no país.

A opinião é do engenheiro e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP Paulo Feldmann, ex-presidente do Conselho da Pequena Empresa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo.

“Microempreendedor individual não é empreendedor. A palavra cria essa função, mas na realidade o MEI continua sendo um trabalhador informal”, avalia Feldmann. Para o professor, o conceito de empreendedor no Brasil está vinculado à pessoa que abre uma pequena empresa ou uma microempresa, diferente de boa parte do mundo.

“Empreendedor, em outros países, está vinculado à pessoa que traz uma inovação para o mercado, que cria um produto novo. No Brasil, o responsável pela abertura de uma franquia, por exemplo, é tido como empreendedor, mas, na verdade, é um empresário”, afirma.

Segundo Feldmann, o Brasil é um dos piores países do mundo em proteção e incentivo às pequenas empresas. “Em qualquer país do mundo a pequena empresa tem várias vantagens, como financiamentos especiais e pagamento de impostos reduzidos. O Brasil não tem a mentalidade de apoiar o pequeno empreendedor.”

O professor sustenta que a pequena empresa é uma importante fonte de empregos para o país. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os pequenos negócios representam cerca de 99% das empresas do país.

 O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), elaborado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aponta que 75% das vagas criadas em setembro deste ano foram geradas por micro e pequenas empresas. Feldmann relaciona esse aumento ao crescente número de motoristas e entregadores de aplicativo, mas alerta para as condições precárias de trabalho.

“O número de motoristas de aplicativo dobrou em dois anos. Em sua maioria, são trabalhos precários, sem direito algum. É uma ilusão o sentimento de não haver patrão, de que possuem um horário flexível. A maioria ganha mal e não possui direito nenhum”, completa.

“Em outros países há um direito ou garantia mínima para essas pessoas, mas no Brasil não tem nada”, diz. Em setembro deste ano, o Senado da Califórnia aprovou uma lei que obriga empresas de transporte privado urbano, como a Uber, a reconhecer os motoristas que utilizam a plataforma como seus empregados.

Edson Braga, 58 anos, escolheu trabalhar como motorista no Uber após tentativas frustradas de se realocar no mercado de trabalho de origem. “Troquei de profissão quando o setor imobiliário estagnou. Trabalhava como corretor de imóveis na Praia Grande, litoral paulista. Tentei me realocar na minha antiga profissão, onde supervisionava cartas de crédito, mas não obtive sucesso”, conta Edson, que está há três meses no aplicativo.