Compositor e cantor vivia com sequelas decorrentes de um AVC que sofreu em março de 2017
por
Bianca Novais
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08/08/2025 - 12h

A família de Arlindo Cruz anunciou a morte do compositor, cantor e instrumentista nesta sexta-feira (8), através das redes sociais do artista. Considerado um dos maiores sambistas do país, Arlindo vivia com a saúde debilitada desde março de 2017, devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico.

“Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria, que dedicou sua vida a levar música e amor a todos que cruzaram seu caminho", diz a nota de falecimento. O sambista morreu no hospital Barra D'Or, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

 

 

Arlindo Domingos da Cruz Filho nasceu na capital fluminense em 14 de setembro de 1958, no bairro de Madureira, Zona Norte da cidade. Em homenagem a ele, escreveu uma de suas canções mais conhecidas, “Meu Lugar”, parte do álbum “Hoje tem samba” (2002).

Tocava cavaquinho, banjo e ainda na juventude começou a se apresentar profissionalmente, enquanto estudava teoria musical na escola Flor do Méier. Nesse período, foi apadrinhado musicalmente por Candeia, outro renomado sambista carioca.

Estudou na escola preparatória para Cadetes do Ar aos 15 anos, em Barbacena (MG), mas logo voltou ao Rio. Passou a frequentar a roda de samba do Cacique de Ramos, onde tocou com Jorge Aragão, Beth Carvalho, Ubirany e Almir Guineto. Lá, conheceu Zeca Pagodinho e Sombrinha, que, à época, também eram revelações no mundo do samba.

Escreveu algumas músicas para outros intérpretes - “Lição de Malandragem” (David Correa), “Grande Erro” (Beth Carvalho), “Novo Amor” (Alcione) - antes de entrar no Grupo Fundo de Quintal, em 1981.

 

 

Ganhou notoriedade nacional durante os 12 anos na banda e gravou sucessos como “Só Pra Contrariar”, “O Mapa da Mina” e “Primeira Dama”. Em 1993, seguiu carreira solo e continuou nos holofotes, com várias músicas em parceria com outros gigantes do samba. Entre seus álbuns de maior destaque recente estão “MTV ao Vivo Arlindo Cruz” (2009) e “Batuques do Meu Lugar” (2012).

Sombrinha foi uma de suas parcerias mais frutíferas. Escreveram “O Show Tem Que Continuar” e “Alto Lá", também com Zeca Pagodinho. Com este, assinou a autoria de sucessos atemporais da música brasileira como “Bagaço da Laranja”, “Dor de Amor” e “Camarão que Dorme a Onda Leva".

 

Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo compôs mais de 500 músicas, segundo seu site oficial, incluindo sambas-enredo para escolas de samba do Rio de Janeiro: Grande Rio, Vila Isabel, Leão de Nova Iguaçu e Império Serrano, sua escola de coração e que o homenageou no enredo do carnaval de 2023. Mesmo com a saúde fragilizada, ele participou do desfile no último carro alegórico, com ajuda de amigos e familiares.

Em 2015, ganhou o 26º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Músico de Samba e é reconhecido como um dos responsáveis pela revitalização do gênero nos anos 1980. Seu último lançamento foi ao lado do filho Arlindinho, em 2017, gravado pouco antes de sofrer o AVC.

Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Ele foi apelidado de “o sambista perfeito” por amigos e admiradores, em referência a uma de suas composições, em parceria com Nei Lopes. O apelido virou o título da biografia do músico, escrita pelo jornalista Marcos Salles e publicada em junho deste ano.

Arlindo Cruz era candomblecista, filho de Xangô, e atuava contra a intolerância religiosa. Ele deixa esposa, Babi Cruz, e três filhos: Arlindinho, Flora e Kauan.

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Banda mineira trouxe show inédito para a capital paulista com mistura de sentimentos e surpresas
por
Giovanna Britto
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06/08/2025 - 12h

No último sábado (02) a banda Lagum se apresentou no Espaço Unimed com a turnê “As cores, as curvas e as dores do mundo”. Com ingressos esgotados, o espetáculo contou com todas as músicas do novo álbum, que dá nome à  apresentação, e com diversos outros hits do grupo, como “Deixa”, “Oi”, “Ninguém me ensinou” e “Bem melhor”.

Banda Lagum no palco do Espaço Unimed
Banda Lagum durante show no Espaço Unimed. Foto: Reprodução/Instagram/@lagum

O quinto disco, lançado em maio de 2025, teve uma recepção calorosa pelos fãs e gerou expectativas em torno da subida de Pedro, Chico, Jorge e Zani ao palco. Cada momento do show condiz com a proposta da nova fase da banda: questionar o mundo moderno, ao mesmo tempo em que aproveita o momento e enxerga a beleza no cotidiano.

Em entrevista à AGEMT, Pedro Calais, o vocalista, comenta sobre a experiência: “A vida é agora, a gente só tem essa chance de viver e não vamos nos privar de fazer uma coisa maneira, de estar com as pessoas que querem o nosso bem e pessoas que queremos o bem, como nossos fãs”.

O pré-show já exalava a energia do que estava por vir, com uma setlist, que ia de Charlie Brown Jr. até Jão. Com a entrada marcada para às 22:30, o grupo manteve a exaltação do público com “Eterno Agora”, “Dançando no escuro” e “Universo de coisas que desconheço”, a última em parceria com a dupla AnaVitória, presente na plateia para apoiar os amigos. 

Atenciosos, os músicos estavam atentos ao bem-estar do público e parando as canções para pedir ajuda aos socorristas quando necessário. Os momentos de conexão foram compostos de falas com piadas internas entre a fanbase - como a ausência do hit queridinho dos fãs “Fifa” - até ao chá revelação de Chico, baixista, que espera uma menina com a esposa e influenciadora Marina Gomes.

Baixista Chico falando ao microfone enquanto coloca a mão na barriga da sua esposa grávida Marina
Foto: Reprodução/Instagram/@portallagum

 

Pedro também comentou sobre essa relação cada vez mais próxima entre os fãs: “De uma hora pra outra, a gente começou a ser visto como artista, como alguém importante. Essa quebra de mostrar para as pessoas que o que a gente tá fazendo é pela essência, é pelo produto musical em si, vai total de encontro com o nosso conceito. É descer um pouco dessa coisa da cabeça de, ‘pô, tamo querendo fazer isso aqui pra tá aqui em cima’, sabe? Vai bem de encontro com o que a gente tá propondo”.

O momento mais esperado da noite foi com a penúltima música “A cidade”, terceira faixa do novo álbum, que viralizou  no TikTok com pessoas retratando perdas e saudades de entes queridos. A emoção tomou conta do público, que cantava e chorava por todo o Espaço.

Visão ampla do palco, telões e plateia no espaço Unimed
Visão do fundo na plateia com Pedro interagindo no microfone. Foto: AGEMT/Giovanna Britto

 

Algumas canções, como “Tô de olho”, possuem sonoridades diferentes das gravações divulgadas nas plataformas digitais. Isso complementa a sensação de estar presenciando algo especial, pensado com carinho e a dedo.  Esses aspectos reafirmam mais uma vez a intenção do grupo de fazer com que as pessoas se conectem com o agora, vivenciando momentos marcantes e de forma original.

O show, sem dúvida, é uma experiência emocional e musical única. A escolha das performances e timbres é preparada exclusivamente para cada noite e cidade, de forma a impactar e proporcionar um momento sensorial muito mais imersivo. A Lagum volta à cidade de São Paulo no dia 3 de outubro para uma data extra devido à grande procura de ingressos.

Painel fotográfico com a divulgação da turnê "As cores, as curvas e as dores do mundo" e patrocínios do show.
Painel de divulgação da turnê para tirar fotos. Foto: AGEMT/Giovanna Britto

 

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Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
por
Maria Clara Palmeira
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27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

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Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
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Maria Luiza Pinheiro Reining
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25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

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A incerteza quanto ao fim das salas de cinema e início da diminuição em massa de consumidores
por
Chiara Renata Abreu
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18/06/2025 - 12h

A recente chegada dos streamings pode acabar com os cinemas. Internacionalmente, as plataformas têm se mostrado cada vez mais aptas a abalar seus concorrentes. 

Depois da pandemia, os donos dos cinemas sentiram a diminuição de movimento, que preocupa não só a indústria, mas a sociedade em si. Filmes e curtas fazem parte da formação da cultura de civilizações, e a incerteza de sua existência atormenta. Os streamings ganharam força no período de quarentena, ocupando o espaço que as salas obtinham. O conforto de estar em sua própria casa, poder parar o filme a qualquer momento e a variedade no catálogo são alguns dos principais motivos do aumento da modalidade segundo pesquisas da Cinepop, site especializado em cinema. 

De acordo com pesquisas da revista O Globo, a área do cinema conseguiu em 2023 superar as dificuldades e recuperar alguns de seus fregueses, mas os números seguem abaixo do que estavam antes da pandemia. Segundo o analista de mercado Marcelo J. L. Lima em entrevista para a revista, a crise é mundial, com ressalvas em países como França, Índia, Coreia do Sul e China, que tem menor influência de Hollywood. Ainda, a reportagem aponta que parte da fraqueza hoje encontrada na indústria se fez depois de 1980, a partir do início da migração dos cinemas de rua para os de shopping. Em 2008 apenas 27% deles eram fora dos centros de comércio. 

Em entrevista para O Globo, Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), apontou que os cinemas estão em apenas 8% dos municípios brasileiros, apenas 451 de um total de 5.565 cidades. A volta dos cinemas de rua poderia diminuir o desequilíbrio das salas, gerando uma maior popularização do cinema. Segundo Raíssa Araújo Ferreira, estudante de cinema na Belas Artes, “os cinemas estão se perdendo. Antigamente existiam vários cinemas de rua, de mais fácil acesso. Hoje está acontecendo uma elitização das salas. Elas estão, por exemplo, muito longe das periferias e concentradas nos shoppings, então existe todo o gasto com a locomoção. O cinema se torna um lugar de privilégio”. 

“O cinema é a sétima arte. Ela é um conjunto de todas as outras artes, e o cinema é vivo. Ele é sempre atual. Ele é sempre de todas as épocas. Então nada que é vivo vai desaparecer sem deixar vestígios. O cinema tem muito o que falar. É como se as salas estivessem adormecidas. Elas não estão mortas, mas sim apagadas”, comenta a aluna. 

A jovem complementa com ideias para a volta do triunfo das salas de cinema. “Acho que precisamos reinventar as salas. Apostar em programações mais diversas, ingressos mais acessíveis, novas salas mais perto da periferia e espalhar o cinema pelas cidades do Brasil. Criar o desejo de ir ao cinema, como um acontecimento, e trazer experiências mais imersivas, como convidar atores para, antes da sala de cinema, falarem sobre o filme. Trazer também eventos para apoiar o cinema de rua, investindo nas produções independentes e criando lugares públicos. Assim, as salas vão se reposicionar e oferecer algo que o sofá de casa ou a cama não oferece”. 

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Explorando os laços intricados entre São Paulo e o regime militar: da repressão nos estádios ao confronto nas universidades, uma análise histórica reveladora.
por
Clara Mattoso Behr
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25/04/2024 - 12h

São Paulo foi palco de diversas violações dos direitos humanos durante o golpe, estabeleceu-se como um dos principais centros de repressão política e prática (institucionalizada) de crimes contra a humanidade cometidos no Brasil naquele período. Desde os times de futebol até as instituições de ensino da cidade, tudo está ligado historicamente ao regime militar. 

Futebol e a ditadura tiveram grande relação durante o período do golpe, através de um comunicado oficial emitido em nome do São Paulo Futebol Clube, onde expressam congratulações à chegada de um presidente militar ao poder e apoio à "caminhada revolucionária" que representava. A carta também expressa apoio e homenagem ao governante militar, retratando-o como alguém que tem feito muito pelo país. Isso sugere uma posição de alinhamento do clube com os valores e interesses do regime autoritário. 

No entanto, notar que outros clubes brasileiros também estiveram envolvidos em situações semelhantes também é importante. Essas associações dos clubes com regimes autoritários não significam necessariamente que os clubes em si ou seus torcedores compartilhem dessas ideologias. Destaca-se a complexidade das relações entre dirigentes de clubes de futebol e regimes autoritários, sugerindo que esses clubes podem ter sido influenciados por essas associações. 

Em relação ao governo do estado, a Operação Bandeirante ou Oban, por exemplo, foi instituída sem fundamento legal, em 1º de julho de 1969, o que certamente convinha para um aparato criado para cometer crimes em nome do Estado. Com o sucesso da Oban no combate à guerrilha urbana, o sistema foi replicado em outros Estados e legalizado. O Prefeito de São Paulo na época, Paulo Salim Maluf, compareceu à cerimônia de inauguração da Oban. Deve-se lembrar que Maluf defendia a inclusão do AI-5 na Constituição. 

A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, também teve grande impacto histórico durante a ditadura, e 60 anos depois, como forma de registrar a oposição dessa instituição, foi iniciada uma exposição no Memorial da Resistência. A mostra integra discussões sobre a memória dos períodos autoritários e como isso reverbera no presente. 

Encontro de  estudantes da PUC-SP antes da invasão policial
Fonte: ​​​​https://www.estadao.com.br/fotos/acervo/invasao-da-puc-1977/

Nos anos 70 a PUC-SP assumia posições políticas mais progressivas e destacava-se no cenário político nacional. A invasão da universidade durante o III Encontro Nacional de Estudantes (ENE) resultou em um violento confronto entre estudantes e forças policiais. Apesar da oposição da Reitoria, os alunos decidiram realizar um ato público na frente do Teatro da Universidade.  

A operação policial, coordenada pelo Secretário de Segurança, utilizou bombas tóxicas e cassetetes elétricos, dispersando a concentração estudantil. Cerca de 900 estudantes foram detidos, alguns enquadrados na Lei de Segurança Nacional. O incidente deixou feridos e marcas de violência no campus, com relatos de agressões a professores, estudantes e até mesmo pessoas presentes na biblioteca. 

Apesar das violações dos direitos humanos e da repressão, São Paulo também é lembrada por gestos de resistência e luta pela democracia. O legado desses tempos sombrios permanece vivo na memória da cidade, inspirando uma contínua busca por justiça e liberdade. 

 

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP. 

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A história de centenas de pessoas congelada em um memorial, mostrando suas lutas, seus medos e seus nomes.
por
Nicole Domingos
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25/04/2024 - 12h

 

O Memorial da Resistência é um museu do estado de São Paulo que preserva as repressões políticas, mas além disso esclarece a força e coragem das pessoas que resistiram aos acontecimentos. Contudo, não serve apenas para ensinar como a história ocorreu, em conjunto mostra o que aconteceu, como as marcas nas paredes não ficaram apenas lá, mas foram carregadas por tantas gerações e por todas as pessoas que sofreram naqueles anos. A exposição de longa duração permite esclarecer um pouco sobre como foram os tempos para os que permaneceram em suas celas durante a ditadura.

Localizado no centro de São Paulo, o museu proporciona uma experiência chocante e realista que mexe com todas suas emoções, esclarecendo como as atrocidades cometidas eram de fato um ferimento aos direitos humanos, segundo o Relatório da Comissão da Verdade da Prefeitura de São Paulo, “Pelo menos 50 pessoas foram mortas, sob tortura, entre 1969 e 1975, na sede da Oban e do DOI-Codi de São Paulo, local edificado com a colaboração do então prefeito de São Paulo e apelidado de “sucursal do inferno”. Mas apesar de ser uma energia dolorida, também é possível sentir cada parte das atitudes de resistência e coragem. 

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Foto mostrando como eram as celas e como os nomes eram marcados na parede.
Foto: Nicole Domingos.

É possível notar que todos os nomes que foram escritos nas celas serviam para mostrar que seres humanos estavam lá, lembrar que as marcas que eles deixaram no mundo é tão permanente como as marcas que foram deixadas em cada um deles. A aluna de jornalismo, Nathalia de Moura ficou realmente mexida com a realidade que aparenta ser tão distante para sua geração, “A situação em si é forte e pesada, mas ver aqueles registros nas paredes e estar ali no local em que tudo ocorreu me fez imaginar a realidade daquelas pessoas”.

Com a quantidade de documentos e informações acessíveis no memorial é possível saber que aqueles que estavam presos eram extremamente mal tratados e machucados, recebiam comida uma vez por dia e eram os únicos que se preocupavam com o mínimo de higiene. No banheiro de cada cela havia apenas uma luz bem fraca, em um dos relatos disponíveis nas paredes das celas, foi deixado claro as condições precárias às quais eram submetidos, “Tinha uma piazinha que era pra gente escovar os dentes, banhar o rosto… O chuveiro, na verdade, era um cano que saia água gelada”.

Com isso é possível ver, aquelas pessoas sofreram e passaram por muitas coisas para os dias de hoje serem como são, por mais que as escolas ensinam muito sobre o tópico, nunca vai ser suficiente para mostrar tudo o que realmente foi passado, a história ensina o que não pode ser feito, basta as pessoas quererem entender e fazer uma nova história.

Essa matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.

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Mostra de longa duração no Memorial da Resistência de São Paulo não deixa que se esqueçam os atos da ditadura militar
por
Vitor Nhoatto
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25/04/2024 - 12h

Localizado em um edifício de arquitetura secular na Santa Ifigênia, centro histórico de São Paulo, um convidativo ambiente anuncia por meio de placas que se está entrando em um lugar carregado de significados. Eis o Memorial da Resistência de São Paulo. Administrado pela prefeitura, o local que serviu como centro carcerário e de tortura durante o regime golpista, hoje é um espaço dedicado a relembrar esse condenável momento da história do Brasil.

Estrutura histórica

Após passar pela bilheteria e adquirir seus ingressos, os quais são gratuitos e também podem ser reservados pelo site do museu, a detalhada e interativa exposição começa. Organizada em quatro módulos, os visitantes têm a oportunidade de ler cartas e escutar depoimentos de pessoas que ali foram confinadas e torturadas, além de poderem entrar nas quatro celas do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo – Deops/SP, e no corredor onde os presos tomavam banho de sol.

Com a explicativa jornada proporcionada pelos escritos nas paredes da instalação, que remontam desde antes do golpe militar de 1964, até o começo da última década, uma viagem no tempo é possível. Mais adiante a atmosfera pesa e um desconforto pode ser sentido diante dos relatos e dados expostos nas celas de como era viver em um ambiente tão pequeno mas que comportava entre 16 e 18 presos segundo a organização da mostra. “O que mais me impactou nas celas foi o banheiro, que tinha só uma luz bem fraca. Eles viviam praticamente no escuro”, conta Victoria da Silva, estudante de jornalismo.

Parede de cim,ento querimado cinza na cela 2 no Memorial da Resistêmcia de São Paulo com relatos de alguns presos políticos que passaram pelo local
São vários os relatos ao longo da exposição permanente no primeiro andar do Memorial da Resistência - Foto: Vitor Nhoatto

Além disso, nos dois corredores do desativado complexo penitenciário, os sentimentos de quem ali permaneceu por anos são trazidos à tona, como o medo e a esperança. O material audiovisual disponibilizado também impacta ao narrar histórias de figuras que foram torturadas no Deops durante a ditadura militar, e para quem prefere o analógico, cartas e bilhetes de presos estão disponíveis para leitura logo ao lado das entradas das celas.

Local de Memória

Apesar do espaço criado em 2009 ter como objetivo mostrar as atrocidades cometidas pelos militares de forma geral no país e chamar a atenção para a necessidade de valorizar a democracia e os direitos humanos, com relatos de pessoas de vários estados, o foco do local é o papel de São Paulo no regime militar. Como se deram as perseguições e prisões na cidade, e as articulações entre políticos e militares antes, durante e após a ditadura.  

Iniciado oficialmente em 31 de março de 1964 e concretizado em 1 de abril, o golpe militar foi possibilitado perante o apoio, convivência e traição por parte de agentes públicos e atores civis. Segundo o Relatório da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo, militares instalados na cidade como Amaury Kruel, comandante do II Exército, empresas com sede no estado como Pfizer, Volkswagen e Eucatex, e movimentos civis realizados em São Paulo como A Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade, foram ímpares a concretização do golpe, e a exposição trata do papel de destaque paulista.

Parede azul no Memorial da Resistência de São Paulo com uma linha do tempo colorida de 1889 à 2008
Linha do tempo na mostra aborda e explica questões políticas de 1889 à 2008 - Foto:  Reprodução/Memorial da Resistência

Funcionando todos os dias da semana das 10h às 18h, exceto às terças-feiras, o Memorial da Resistência ainda conta com as exposições temporárias Resistências na PUC-SP e Mulheres em Luta, ambas em relação à ditadura militar. De fácil acesso por trem, metrô e ônibus, o museu se  traduz como um farol de luta e memória no centro de São Paulo que grita por aqueles violentados e assassinados por buscarem liberdade, respeito ou qualquer coisa que não fosse a tirania. Um local de reflexão e recordação a respeito de uma época inesquecível que deve ficar no passado.

 

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.

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Exposição trata a atuação feminina em busca de justiça e de seus direitos
por
Nathalia de Moura
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25/04/2024 - 12h

No ano em que se completam os 60 anos do Golpe Militar de 1964, um dos períodos mais trágicos da história da política brasileira, o Memorial da Resistência de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo organiza uma exposição temporária que mostra o papel das mulheres nesse período. “Mulheres em Luta! Arquivos de Memória Política” conta com a curadoria da pesquisadora Ana Patos e registra através de fotos, frases e depoimentos como foi a atuação das mulheres vítimas da Ditadura e relata a luta da União das Mulheres de São Paulo em busca de seus direitos naquela época.  

Localizado na região central de São Paulo, próximo à Estação da Luz e do Museu da Língua Portuguesa, o Memorial da Resistência inaugura mais uma exposição sobre os tempos da Ditadura Militar, mas sob uma perspectiva diferente desse período. A intenção dessa mostra é focar na figura da mulher em meio a tanta tortura e represália, mostrando a união das mulheres. A busca por seus direitos e as manifestações a favor dos presos políticos mostram a força que esse grupo possuía desde esse tempo. 

Com a vasta opção de arquivos, é possível conhecer e contemplar a história de diversas mulheres. Pode-se destacar a de Inês Etienne Romeu (1942-2015), a única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis-RJ, um centro clandestino criado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) para torturar pessoas contrárias ao regime militar. Através do depoimento de Inês à Comissão Nacional da Verdade (CNV), foi possível saber quem atuava na Casa da Morte. Fica disponível ao visitante da exposição ler sobre cada torturador, cada preso e o que ocorria em determinado lugar. 

Cada espaço possui imagens marcantes, textos e áudios explicativos e até mesmo alguns poemas da sergipana, pensadora negra, poeta e militante Beatriz Nascimento, que retrata bem as formas de resistência à violência e impunidade. 

Poema "Marcas" com letras brancas, de Beatriz Nascimento na parede preta da exposição
Poema de Beatriz Nascimento sobre as marcas da Ditadura. - Reprodução: Nathalia de Moura

Os grupos femininos de militância se tornaram mais fortes em meados dos anos 70. As ideias do Clube de Mães da Zona Sul e as pautas femininas da União de Mulheres de São Paulo conversavam entre si e buscavam, principalmente, moradias dignas, educação e saúde. A força política dessas mulheres se uniu a outras causas, como as da comunidade LGBTQIA+.  

Até hoje, a União de Mulheres de São Paulo segue defendendo e atuando em prol dos direitos femininos. Há 40 anos de sua fundação, a associação preza em chamar atenção aos desafios enfrentados ao longo do tempo, buscando a igualdade entre os gêneros. 

Fotos expostas na exposição sobre as manifestações das mulheres
Mulheres em passeata em busca de seus direitos. - Reprodução: Nathalia de Moura

Segundo o Relatório da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo, a junção das feministas com os movimentos populares e sociais, dirigidos por mulheres ou com presença massiva dessas em seus quadros, aumentou as reivindicações desses movimentos quando começaram a acrescentar à luta inicial e outras dimensões da luta política, como o debate da dupla jornada de trabalho, da necessidade de socialização do trabalho doméstico, do salário igual para trabalho igual e da transformação da qualidade da relação entre homens e mulheres. 

No tocante ao movimento pela Anistia, também as mulheres foram pioneiras: Therezinha Zerbini, esposa do general Euryale de Jesus Zerbini - transferido forçadamente à reserva em 1964 por ter-se mantido fiel a João Goulart - fundou em São Paulo o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA) em 1975. Ela dizia que “a anistia não cai do céu, é uma guerra política” e é justamente o que aquelas filhas, mães e avós lutavam e reivindicavam naqueles anos. 

Foto de mulheres com cartazes e jornais protestando
Manifestantes na Câmara dos Deputados durante a votação da Lei da Anistia. - Reprodução: Nathalia de Moura

A estudante de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Nicole Domingos relatou que a experiência na exposição foi muito esclarecedora e a fez entender sobre a história e as lutas das mulheres naquele período. “É uma história linda e cheia de dor que podemos sentir como mulher, mas nunca entenderemos o que foi estar lá para chegarmos até aqui”, declarou a estudante.

Foto de uma mulher escrevendo num muro. Ela veste camisa branca e calça preta e está de costas
Foto e trecho do poema da Constituinte feitos pela União das Mulheres exigindo seus direitos. - Reprodução: Nathalia de Moura  

Nicole também cita que ver a participação de diversas mulheres é importante para entendermos que, mesmo não estando nos livros de história, elas estavam na linha de frente. “Digo isso por todas as Marias, Teresas e Joanas que li naquelas paredes. [...] Descobri que sou grata a milhares de mulheres que não sei o nome, mas sei a luta”, finaliza. 

 

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP. 

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O teatro sinônimo de resistência nacional em meio a ditadura militar no brasil
por
Pedro Bairon
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25/04/2024 - 12h

No ano em que o golpe militar de 1964 completa seis décadas, é momento de relembrar uma série de eventos que foram ocultados do grande público em decorrência da censura imposta diante do regime militar. Com tal data simbólica se aproximando, o Memorial da Resistência, junto com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) trouxeram uma exposição que relembra aos visitantes o papel da luta pela democracia por parte da Universidade paulistana, e atos repugnantes cometidos pelo governo vigente com ela.  

Uma testemunha ocular importantíssima de muitas lutas lideradas pela PUC-SP contra a ditadura, foi o teatro da Universidade – O Teatro Da Universidade Católica (TUCA). Inaugurado em 1965 com a peça “Morte e vida Severina” de João Cabral De Melo Neto, o TUCA permaneceu desde sua criação até a queda de Figueiredo 1985 sendo um palco de diversas lutas libertarias em meio a censura imposta as universidades da época. 

 

  

         Carros blindados invadindo a PUCSP – TV-PUC
         Carros blindados invadindo a PUCSP – TV-PUC  

Em 1968, no ano em que se instaurou o Ato Constitucional Número 5 (AI5) o teatro presenciou Caetano Veloso cantar “É proibido proibir” em um dos momentos mais críticos do regime militar.  Sem mencionar outras peças e discursos de docentes expulsos de outras universidades por ferirem as leis autoritárias do regime ditatorial.  

           

Após uma série de protestos e reivindicações por parte da PUCSP, os militares algum momento reagiria, para tentar silenciar as vozes de alunos e funcionários indignados com a situação do país. Em 1977, 9 anos após o teatro ouvir a voz de Caetano Veloso ecoando “É proibido proibir” a universidade é invadida pelas forças golpistas. Os alunos foram conduzidos a um estacionamento próximo a Universidade, e 80 deles levados presos por violarem as leis ditatoriais. O TUCA também foi invadido nessa incursão a Universidade, contudo não sofreu nenhum grande dano em meio a invasão. 

TUCA IMORTAL: 

                                          Foto dos bombeiros apagando o incêndio no TUCA – pucsp.br
           Foto dos bombeiros apagando o incêndio no TUCA – pucsp.br 

  

Em 1984, um ano antes da queda de João Figueiredo, houve um incêndio no Teatro, sem deixar vítimas pois o fogo se alastrou durante um intervalo entre dois espetáculos carbonizando o teatro por inteiro. Com às investigações constatou-se que as chamas eram resultado de uma falha termoelétrica. Contudo, até hoje acredita-se que o fogo não foi em decorrência de um acidente, mas que na verdade ele teria sido um ataque proposital. No dia em que o TUCA ardeu até quase sua última coluna, os alunos faziam um ato sobre os 7 anos da grande invasão de 1977, e as suspeitas apontam que grupos alinhados ao governo ditatorial teriam se reunido com alunos da própria universidade para realizar tal ato criminoso. Nas palavras do Pós reitor vigente, Padre Edenio Valle: “O incêndio de setembro de 1984 foi um “atentado terrorista que” deu certo". Era o dia do sétimo aniversário da grande invasão. Enquanto na rampa se comemorava a vitória da PUC, um grupo da extrema direita, provavelmente com elementos da própria Universidade, tramou e executou uma manobra bem mais profissional da qual resultou um terceiro incêndio nascido em vários focos simultâneos.”   

O TUCA, presenciou diversos eventos importantíssimos para a história do Brasil. Desde peças que contestavam o regime ditatorial vigente, até invasões e incêndios. E em suas paredes até hoje queimadas, não permite os alunos e professores esqueçam o que aconteceu ali. O local por si só revela a dura e triste realidade da opressão no país que durou mais de 20 anos. Mas também expõe que muitas pessoas não se conformaram caladas com as atrocidades cometidas pela ditadura, ele expõe que muitos se levantaram e lutaram, contra uma realidade barbara e desumana, e assim ele ficará marcado na história.     

 

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