Novo disco da cantora é o primeiro após grande turnê mundial e promete retomar parceria com Max Martin
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Luis Henrique Oliveira
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12/08/2025 - 12h

Na madrugada desta terça-feira (12), Taylor Swift anunciou o lançamento de seu 12º álbum de estúdio, intitulado “The Life of a Showgirl”. A revelação veio após o fim de uma contagem regressiva no site oficial da cantora, acabando exatamente às 00h12 no fuso-horário norte americano, 01h12 no horário de Brasília.

Combinado com o anúncio, um  trecho do podcast New Heights Show, apresentado pelos irmãos Travis e Jason Kelce, namorado e cunhado de Swift, mostra a cantora abrindo uma maleta e apresentando seu novo disco. A capa será revelada apenas nesta quarta-feira (13) durante sua participação especial no programa.

A cantora Taylor Swift no podcast New Heights Show, apresentando a capa de seu novo disco, porém borrada.
Taylor Swift faz anúncio de novo álbum em trecho divulgado de podcast. Foto: Instagram/@taylorswift

Taylor sempre deixou pistas antes de comunicar um novo projeto. No trabalho anterior, “The Tortured Poets Department” (2024), ela posava para fotos fazendo o sinal de dois, revelando mais tarde se tratar de um álbum duplo – e dessa vez não foi diferente.

Os rumores de um novo disco correm no mundo Swiftie (fãs da artista) desde o fim da The Eras Tour, quando a cantora apresentou um novo logotipo e passou a usar 12 letras para estender palavras simples (como prolongar o “d” em “god” nos stories do Instagram, por exemplo).

As especulações ganharam força na segunda-feira quando sua equipe de marketing postou nas redes sociais um carrossel de doze fotos suas usando roupas laranjas durante a última turnê, cor inédita dentre as que compõem a paleta dos álbuns anteriores, junto de uma legenda sugestiva: “lembrando de quando ela disse ‘vejo você na próxima era…'”. 

Após o anúncio, outdoors do Spotify foram colocados em Nova York e Nashville - cidade natal de Taylor -  a fim de divulgar uma playlist em conjunto da cantora, intitulada “And, baby, that’s show business for you” (“e, amor, isso é show business para você”, em tradução livre). Todas as músicas que estão presentes no compilado foram produzidas por Max Martin e Shellback, que trabalharam com Swift nos álbuns Red (2012), 1989 (2014) e Reputation (2017), sendo uma possível pista do que esperar do novo projeto.

Outdoor em Nova York com fundo laranja brilhante, no centro está o código para uma playlist exclusiva da cantora Taylor Swift
Playlist traz 22 faixas, presentes nos álbuns Red, 1989 e Reputation. Foto: Reprodução/X/@TSUpdating

“The Life of a Showgirl” será o primeiro disco da cantora após readquirir os direitos de seus seis primeiros discos, vendidos sem seu consentimento quando sua antiga gravadora, Big Machine Records, foi comprada pelo empresário Scooter Braun, em 2019.

Taylor conseguiu recuperar suas masters em maio deste ano, encerrando não só a luta para consegui-las de volta, mas também o projeto de regravação de suas músicas.

O álbum ainda não tem data de lançamento oficial, entretanto a previsão de entrega dos vinis vai para até o dia 13 de outubro.

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Compositor e cantor vivia com sequelas decorrentes de um AVC que sofreu em março de 2017
por
Bianca Novais
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08/08/2025 - 12h

A família de Arlindo Cruz anunciou a morte do compositor, cantor e instrumentista nesta sexta-feira (8), através das redes sociais do artista. Considerado um dos maiores sambistas do país, Arlindo vivia com a saúde debilitada desde março de 2017, devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico.

“Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria, que dedicou sua vida a levar música e amor a todos que cruzaram seu caminho", diz a nota de falecimento. O sambista morreu no hospital Barra D'Or, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

 

 

Arlindo Domingos da Cruz Filho nasceu na capital fluminense em 14 de setembro de 1958, no bairro de Madureira, Zona Norte da cidade. Em homenagem a ele, escreveu uma de suas canções mais conhecidas, “Meu Lugar”, parte do álbum “Hoje tem samba” (2002).

Tocava cavaquinho, banjo e ainda na juventude começou a se apresentar profissionalmente, enquanto estudava teoria musical na escola Flor do Méier. Nesse período, foi apadrinhado musicalmente por Candeia, outro renomado sambista carioca.

Estudou na escola preparatória para Cadetes do Ar aos 15 anos, em Barbacena (MG), mas logo voltou ao Rio. Passou a frequentar a roda de samba do Cacique de Ramos, onde tocou com Jorge Aragão, Beth Carvalho, Ubirany e Almir Guineto. Lá, conheceu Zeca Pagodinho e Sombrinha, que, à época, também eram revelações no mundo do samba.

Escreveu algumas músicas para outros intérpretes - “Lição de Malandragem” (David Correa), “Grande Erro” (Beth Carvalho), “Novo Amor” (Alcione) - antes de entrar no Grupo Fundo de Quintal, em 1981.

 

 

Ganhou notoriedade nacional durante os 12 anos na banda e gravou sucessos como “Só Pra Contrariar”, “O Mapa da Mina” e “Primeira Dama”. Em 1993, seguiu carreira solo e continuou nos holofotes, com várias músicas em parceria com outros gigantes do samba. Entre seus álbuns de maior destaque recente estão “MTV ao Vivo Arlindo Cruz” (2009) e “Batuques do Meu Lugar” (2012).

Sombrinha foi uma de suas parcerias mais frutíferas. Escreveram “O Show Tem Que Continuar” e “Alto Lá", também com Zeca Pagodinho. Com este, assinou a autoria de sucessos atemporais da música brasileira como “Bagaço da Laranja”, “Dor de Amor” e “Camarão que Dorme a Onda Leva".

 

Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo compôs mais de 500 músicas, segundo seu site oficial, incluindo sambas-enredo para escolas de samba do Rio de Janeiro: Grande Rio, Vila Isabel, Leão de Nova Iguaçu e Império Serrano, sua escola de coração e que o homenageou no enredo do carnaval de 2023. Mesmo com a saúde fragilizada, ele participou do desfile no último carro alegórico, com ajuda de amigos e familiares.

Em 2015, ganhou o 26º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Músico de Samba e é reconhecido como um dos responsáveis pela revitalização do gênero nos anos 1980. Seu último lançamento foi ao lado do filho Arlindinho, em 2017, gravado pouco antes de sofrer o AVC.

Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Ele foi apelidado de “o sambista perfeito” por amigos e admiradores, em referência a uma de suas composições, em parceria com Nei Lopes. O apelido virou o título da biografia do músico, escrita pelo jornalista Marcos Salles e publicada em junho deste ano.

Arlindo Cruz era candomblecista, filho de Xangô, e atuava contra a intolerância religiosa. Ele deixa esposa, Babi Cruz, e três filhos: Arlindinho, Flora e Kauan.

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Banda mineira trouxe show inédito para a capital paulista com mistura de sentimentos e surpresas
por
Giovanna Britto
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06/08/2025 - 12h

No último sábado (02) a banda Lagum se apresentou no Espaço Unimed com a turnê “As cores, as curvas e as dores do mundo”. Com ingressos esgotados, o espetáculo contou com todas as músicas do novo álbum, que dá nome à  apresentação, e com diversos outros hits do grupo, como “Deixa”, “Oi”, “Ninguém me ensinou” e “Bem melhor”.

Banda Lagum no palco do Espaço Unimed
Banda Lagum durante show no Espaço Unimed. Foto: Reprodução/Instagram/@lagum

O quinto disco, lançado em maio de 2025, teve uma recepção calorosa pelos fãs e gerou expectativas em torno da subida de Pedro, Chico, Jorge e Zani ao palco. Cada momento do show condiz com a proposta da nova fase da banda: questionar o mundo moderno, ao mesmo tempo em que aproveita o momento e enxerga a beleza no cotidiano.

Em entrevista à AGEMT, Pedro Calais, o vocalista, comenta sobre a experiência: “A vida é agora, a gente só tem essa chance de viver e não vamos nos privar de fazer uma coisa maneira, de estar com as pessoas que querem o nosso bem e pessoas que queremos o bem, como nossos fãs”.

O pré-show já exalava a energia do que estava por vir, com uma setlist, que ia de Charlie Brown Jr. até Jão. Com a entrada marcada para às 22:30, o grupo manteve a exaltação do público com “Eterno Agora”, “Dançando no escuro” e “Universo de coisas que desconheço”, a última em parceria com a dupla AnaVitória, presente na plateia para apoiar os amigos. 

Atenciosos, os músicos estavam atentos ao bem-estar do público e parando as canções para pedir ajuda aos socorristas quando necessário. Os momentos de conexão foram compostos de falas com piadas internas entre a fanbase - como a ausência do hit queridinho dos fãs “Fifa” - até ao chá revelação de Chico, baixista, que espera uma menina com a esposa e influenciadora Marina Gomes.

Baixista Chico falando ao microfone enquanto coloca a mão na barriga da sua esposa grávida Marina
Foto: Reprodução/Instagram/@portallagum

 

Pedro também comentou sobre essa relação cada vez mais próxima entre os fãs: “De uma hora pra outra, a gente começou a ser visto como artista, como alguém importante. Essa quebra de mostrar para as pessoas que o que a gente tá fazendo é pela essência, é pelo produto musical em si, vai total de encontro com o nosso conceito. É descer um pouco dessa coisa da cabeça de, ‘pô, tamo querendo fazer isso aqui pra tá aqui em cima’, sabe? Vai bem de encontro com o que a gente tá propondo”.

O momento mais esperado da noite foi com a penúltima música “A cidade”, terceira faixa do novo álbum, que viralizou  no TikTok com pessoas retratando perdas e saudades de entes queridos. A emoção tomou conta do público, que cantava e chorava por todo o Espaço.

Visão ampla do palco, telões e plateia no espaço Unimed
Visão do fundo na plateia com Pedro interagindo no microfone. Foto: AGEMT/Giovanna Britto

 

Algumas canções, como “Tô de olho”, possuem sonoridades diferentes das gravações divulgadas nas plataformas digitais. Isso complementa a sensação de estar presenciando algo especial, pensado com carinho e a dedo.  Esses aspectos reafirmam mais uma vez a intenção do grupo de fazer com que as pessoas se conectem com o agora, vivenciando momentos marcantes e de forma original.

O show, sem dúvida, é uma experiência emocional e musical única. A escolha das performances e timbres é preparada exclusivamente para cada noite e cidade, de forma a impactar e proporcionar um momento sensorial muito mais imersivo. A Lagum volta à cidade de São Paulo no dia 3 de outubro para uma data extra devido à grande procura de ingressos.

Painel fotográfico com a divulgação da turnê "As cores, as curvas e as dores do mundo" e patrocínios do show.
Painel de divulgação da turnê para tirar fotos. Foto: AGEMT/Giovanna Britto

 

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Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
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Maria Clara Palmeira
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27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

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Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
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Maria Luiza Pinheiro Reining
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25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

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Em entrevista exclusiva Aquino fala sobre o circuito comercial da música, artistas da nova geração e como transformar a música em um espaço livre, afetuoso e de resistência, criado a partir do cotidiano o que se pode imaginar da MPB no século XXI
por
Manoella Macedo Marinho
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10/06/2025 - 12h

Em uma sociedade lugaro algoritmo dita o que será bom, viral; existem grupos de jovens como a banda carioca AQUINO que estão em uma contramão do imediatismo digital, construindo uma rota diversa e pessoal na música brasileira. Com um som que permeia entre indie, o pop e a herança da MPB, a banda se moderniza e apresenta um espelho da geração Z em um trabalho independente.

“A gente é indie pelo contexto e pop pela intenção, mas tem uma coisa de MPB também”, disseram, com uma sinceridade e relembrando que estão amadurecendo ideias, crescendo e mudando conforme o crescimento da banda, em um momento em que tudo é mutável. A dificuldade em definir o próprio estilo acaba refletindo uma geração que prefere atravessar fronteiras e se desafiar ao se fixar em rótulos. Em entrevista exclusiva afirmam, a sigla MPB acabou se tornando um “guarda-chuva de nada”, não por ser irrelevante, mas por ser muito vasto e abrangente, que contém uma variedade de vozes e estéticas que podem compor o panorama atual.

 

Arte política e o mainstream

A banda surgiu em meio a pandemia, em um cenário de incertezas e isolamento, tendo seu primeiro contato com os ouvintes na internet. “Era a única coisa que a gente tinha”, comentam. Entre mostrar ao público suas músicas, tentativas e esforços criativos de adaptação de uma carreira musical às plataformas digitais, a Aquino com o tempo se desfaz desse desejo de ser viral, conciliando a arte e sobrevivência. “Hoje é muito mais difícil”, admitem, ao falar sobre o desafio de se manter online e com criações artísticas, além do tempo que é diferente da época de início da banda, navegando pelas exigências do marketing digital. Afirmam que “A criação de conteúdo é algo que fica na cabeça de todo mundo que tem banda, mas não nasceu pra ser blogueiro”, como se fosse algo indiretamente imposto na atualidade.

Apesar de tudo, refletem sobre a lógica de viralização: “Nem sempre o que viraliza é bom”, pois em vivências chegam em um lugar que muitas vezes fazem um conteúdo elaborado e pensado,e não viralizam mas ao serem filmados na rua conseguem milhares de views. “Buscamos encontrar um meio termo, de fazer o que a gente ama de forma acessível, de maneira que seja popular, mas que tenha também nossa verdade artística”. Para eles, fazer música é quase como um ato religioso: onde se tem dedicação, foco em algo que é incerto, onde o pagamento real vem da sensação, do momento do show, da composição e da partilha, onde o lucro é apenas um fruto.

https://vm.tiktok.com/ZMBEdwvTw/

 

Diálogo com a juventude: De geração z para geração z

A relação descrita pela banda, do público da geração atual é “sempre muito quente!”. Aquino reconhece que cresceu com a maioria dessas pessoas, “Pessoas que eram novas agora tão com a nossa idade”, observam, reforçando a ideia desse vínculo geracional. Um grupo que não está na busca de apenas entretenimento, mas de algo que fale diretamente com suas experiências, mesmo que de maneira indireta.

“Todo posicionamento é político”, diz um dos integrantes ao entrar no tópico de arte política e o ato de se manifestar politicamente através das músicas. Refletindo sobre o papel social da arte, eles defendem que o acolhimento, a maneira de se comunicar e o tipo de espaço que constroem com o público já são formas de ativismo. “Além de toda arte ser uma expressão política, acho que só do espaço ser um lugar que as pessoas se sintam confortáveis de estar, já estamos fazendo política”.

Banda Aquino em show

Fotos: Manoella Marinho em @ephemeral.jpg

 

Reinventar a Música Popular Brasileira no séc. XXI

O que seria verdadeiramente produzir MPB na contemporaneidade? Para Aquino, é preciso abrir mão de certos padrões já estabelecidos, até porque vem muito dessa história de revolução artística. “Acho que daqui pra frente é deixar o velho de lado- num sentido não generalista da coisa”, brincam, sugerindo uma ruptura saudável com o cânone, falando do que cabe ou não dentro da atualidade; o que se pode usufruir do passado e o que deve se renovar, para encaixar no atual, para haver uma identificação e impacto tão grande quanto o da ‘velha guarda’. A nova MPB não ignora o passado, mas também não se limita a ele. “No início a gente só ouvia Caetano e Los Hermanos, sonhávamos em ser O Terno, mas começamos a entender que não era isso, então mudamos”.

Testando coisas diferentes e sempre tentando inovar o som brasileiro, as influências continuam vastas e misturadas com a individualidade da banda - de Marcos Valle e Hyldon até Bjorl- , mas dessa vez mais filtradas por uma vivência própria. Há também, a valorização das amizades: “Nossos amigos, muitos deles, são nossas referências. Não só musicais, mas de vida, até mesmo estética e composição”.

 

Sentimentos de época: crise existencial e atemporalidade da arte

A banda carrega um forte sentimento de época. “Não temos noção de quanto o tempo passa rápido”, dizem. Ainda assim, se preocupam com a atemporalidade e o marco musical. “Está tudo certo não ser. Até porque depois o tempo volta, é cíclico”. Nessa visão, chegam a conclusão que talvez Aquino possa fazer mais sentido daqui a 30 anos do que faz agora.

Essa noção do ser cíclico e do tempo, também se traduz em uma crítica a efemeridade do digital. “Um dia, com a internet, as coisas não são nossas. Eu só aluguei um espaço lá. Tudo vai sumir. Nada é físico”, um dos membros afirma. Uma reflexão um tanto quanto realista, sobre o modo como se consome cultura nos dias atuais, onde nada mais é concreto, físico, em um mundo que não se sabe onde tudo vai estar em alguns anos, se será possível ter acesso a o que já foi criado.

 

O legado artístico

Há sempre um questionamento do artista em questão a atemporalidade de sua arte, e com eles não foi diferente: “Se as pessoas sentirem vontade de fazer música ouvindo a banda daqui alguns anos ou até mesmo agora, eu já estou feliz” diz um dos membros. Para Aquino, e sua geração artística, arte boa é arte socializada, que faz sentido em rede, na troca.

 

Num mundo e em um país de tantas urgências, a banda não oferece respostas diretas e fáceis- e talvez nem seja necessário. Convidando a uma reflexão do ser, eles lembram que fazer música ainda pode ser um gesto de resistência, de afeto e de reinvenções mesmo que de forma indireta. Em suas composições, há espaço para o lirismo e vai até ‘pássaros mecânicos no céu de salvador’; para a crítica e transformação, de algo que se espelha no velho com o foco no novo, na diferença e no impacto que, mesmo diferente, tenha o mesmo significado de mudança. O que insiste em permanecer mesmo que transformado.

A MPB ainda está presente e com força no século XXI, com um novo rosto, pautas novas, sendo jovem, independente e plural. E Aquino segue com expressões cada vez mais diferenciadas, diversas e potentes.

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O país ainda engatinha em sua produção cinematográfica sobre a ditadura, políticas de memória, incentivo cultural e o peso da anistia explicam essa lacuna
por
Carolina Zaterka
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10/06/2025 - 12h

   Nas últimas décadas, regimes militares latino-americanos foram tema de centenas de filmes. No entanto, a cinematografia brasileira sobre sua ditadura (1964–1985) é bem menor do que a de países vizinhos: a Argentina produziu 608 obras sobre o tema, o Chile 225, enquanto o Brasil soma apenas 189.  

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Gráfico que mostra o lançamento de filmes sobre a ditadura militar por ano no Brasil, Argentina e Chile. Reprodução: Folha de São Paulo 

 

   A Argentina consolidou sua memória no cinema já nos anos 1980. “A História Oficial”, vencedor do Oscar em 1986, foi um marco ao denunciar o roubo de bebês durante o regime. Mais tarde, “O Segredo dos Seus Olhos” (2010) e “Argentina, 1985” (2023) reforçaram esse compromisso com o passado. No Chile, o filme “No” (2012), indicado ao Oscar, dramatizou a campanha contra Pinochet no plebiscito de 1988. Mais recentemente, “El Conde” (2023) satirizou o ditador como um vampiro, inaugurando uma nova linguagem para falar sobre a repressão. 

   No Brasil, apesar de exceções como “O Que É Isso, Companheiro?” (1997), indicado ao Oscar, a produção tem sido menos frequente. O recente “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, sobre o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, trouxe novo fôlego ao tema e conquistou o Oscar de melhor filme internacional em 2025. Ainda assim, trata-se de um caso isolado. Mesmo com a criação da Comissão Nacional da Verdade em 2012, a quantidade de produções permanece modesta. 

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Apresentação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade. Reprodução: Politize em Agência Brasil 

 

   A diferença entre os países não é apenas estética ou cultural: é política. A Argentina promoveu o julgamento das Juntas Militares logo após a redemocratização, anulou anistias e instituiu centros de memória como o “Espacio Memoria y Derechos Humano’’ (ESMA), incentivando a arte engajada. O Chile, além de criar o Museu da Memória e fomentar cineastas exilados, estabeleceu políticas públicas de apoio ao audiovisual focadas em direitos humanos. Nesses países, a memória virou política de Estado e gerou reflexos concretos no cinema. 

   No Brasil, o processo foi mais lento e contido. A Lei da Anistia de 1979 impediu a responsabilização de torturadores, e o Estado demorou a assumir uma política ativa de memória. A dissolução da Embrafilme em 1990 deixou um vácuo no financiamento do cinema, só parcialmente preenchido anos depois com a Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura, Lei nº 8.313/1991) e a Lei do Audiovisual (Lei Federal nº 8.685/1993). Mas tais mecanismos não priorizam temas históricos nem promovem uma política de enfrentamento do passado. Com isso, o cinema brasileiro sobre a ditadura seguiu com apoio pontual e, muitas vezes, iniciativas isoladas e privadas. 

   A escassez de produções é reflexo de um país que ainda não elaborou plenamente seu passado autoritário. Segundo o historiador Eduardo Morettin, “a forma como lidamos com a ditadura interfere diretamente na quantidade e no tipo de obras culturais que surgem”. No Brasil, prevaleceu por décadas uma narrativa conciliadora, centrada na transição pacífica e na reconciliação, que inibiu iniciativas culturais mais contundentes. 

   Contudo, esse cenário pode estar se transformando. O impacto de “Ainda Estou Aqui” foi tão expressivo que falas presentes do filme foram utilizadas por ministros do STF durante o julgamento da lei de anistia. Nessa perspectiva, o STF vai determinar se crimes como o de desaparecimento forçado podem ser julgados com força retroativa, mesmo que a anistia esteja em vigor. Se houver aceitação, pelo menos 18 situações processuais paralisadas, até esse momento, vão a julgamento. A arte, mais uma vez, reacende um debate adormecido. 

   A experiência de Argentina e Chile mostra que o cinema pode ser uma ferramenta poderosa de construção da memória coletiva. A arte faz, com toda certeza, com que as pessoas olhem o mundo com outros olhos, criem empatia e ajudem a sociedade a entender e confrontar traumas históricos. Ao contrário, o silêncio e a omissão cultural podem alimentar o esquecimento, ou até mesmo o “revisionismo”. 

   Hoje, o Brasil vive um momento decisivo. O sucesso internacional de um filme que mergulha na dor de uma família destruída pela repressão sugere que o público está pronto para olhar o passado nos olhos. Resta saber se o país, como Estado e como sociedade, está disposto a seguir esse caminho, com mais história nas telas, e mais memória no presente. 

 

 

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Especialista analisa como raízes históricas reverberam até hoje e quais desafios precisam ser enfrentados
por
Maria Claudia Sampaio
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10/06/2025 - 12h

A democratização da cultura no território brasileiro, enfrenta desafios devido barreiras econômicas e à falta de incentivo. Muitos não têm a oportunidade de frequentar eventos culturais em virtude dos preços elevados. Para mudar essa realidade, iniciativas buscam ampliar as oportunidades, garantindo que a arte e o entretenimento sejam viáveis a todos, pois a cultura deve ser um direito, não um privilégio.  

Para abordar esse tema, é fundamental considerar o contexto histórico. A África do Sul, dos anos 1948 e 1994, foi marcada por um período muito triste da história do país: o apartheid — um sistema de segregação racial com o objetivo de garantir privilégios aos brancos, excluindo a população negra dos direitos civis, políticos e sociais — criado durante o governo de Daniel François.  

Conforme matéria intitulada “Entenda o que foi o regime racista do apartheid e como ele foi derrubado”, publicada em 26/12/2021 por France Presse no site G1. “Quase todo território (87%) era reservado aos brancos. Cerca de 3,5 milhões de pessoas foram expulsas à força, e os negros, relegados às 'townships', cidades-dormitório, e 'bantustões', reservas étnicas.”  

Nelson Mandela se tornou um dos principais símbolos de resistência e ficou 27 anos preso. Em 1990, o governo de Frederik Willem de Klerk, iniciou o processo de encerramento dessa política, e em 1994, Mandela foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, marcando o fim do regime, e de acordo com a matéria citada acima Mandela disse: “Finalmente livres.”  

A advogada, professora e Doutora em Direitos Humanos pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Lucineia Rosa dos Santos explana a respeito: “Quando estive na África do Sul para a Oitava Conferência de Mulheres Negras Ativistas do Mundo, na época de Mandela em 1998, considerando o final do apartheid em 1994, ainda era muito recente a questão da segregação. Nos encontros, discutíamos a questão de um apartheid institucional, por um critério racial, dentro de um país do próprio sul-africano negro.”  

Essa reunião fez Santos refletir sobre o Brasil. “Imediatamente, voltei minha mente para o Brasil, em 1998, havia um apartheid social com um viés racial. Me questionei quais eram as condições da população pobre, que mora nas regiões mais afastadas, periféricas, quais as opções de acesso à cultura e uma educação igualitária?”.  

Embora a separação entre brancos e negros não seja oficial no Brasil, essa desigualdade dificulta o acesso à educação, ao emprego e à cultura, afetando a vida de muitas pessoas até hoje. “Atualmente há uma grande exclusão. Quando se fala em cultura falamos sobre Direitos Humanos. Seguindo a máxima de Paulo Freire: ‘a educação nos liberta, mas a cultura nos salva’ e onde não há cultura, teremos a violência”, diz a Doutora.  

O Apartheid Social ou Cultural, refere-se a exclusão sistemática de determinados grupos sociais à movimentos artísticos. Essa divisão acontece por diversos motivos como: a falta de políticas públicas para que a população de baixa renda tenha acesso à shows e eventos culturais, a desigualdade econômica e a localidade dos eventos que em sua maioria acontecem em bairros considerados elitizados.  

Ao pensarmos em eventos culturais no Brasil, associamos a uma precificação superfaturada e inacessibilidade aos ingressos.  

Além disso, existe a problemática acerca dos cambistas, que compram uma grande quantidade de ingressos revendendo a preços exorbitantes. “Já é caríssimo um show! Você pega um grupo de seis pessoas que compram todos os ingressos, revendem num valor mais alto aos olhos de quem deveria coibir”. Ela comenta que uma forma de minimizar essa questão é a compra controlada por número de CPF (Cadastro de Pessoa Física).  

Frente à exclusão cultural, é essencial a criação e manutenção de políticas públicas que promovam o acesso democrático à arte e ao entretenimento. Diversos programas buscam atender essa demanda, como o CEU (Centro Educacional Unificado), com 58 unidades ativas em São Paulo, e oferece atividades culturais e esportivas, beneficiando cerca de 2 milhões de pessoas por ano em regiões periféricas; o Vale Cultura, criado pela Lei nº 12.761/2012, chegou a atender mais de 400 mil trabalhadores com R$ 50 mensais por benefício, permitindo o consumo de produtos e eventos culturais; o Bolsa Família, que apoia mais de 21 milhões de famílias e contribui para a superação da pobreza; e o Bolsa Esporte, com mais de 6 mil beneficiários em 2024, um dos programas de maior patrocínio individual do mundo, com bolsas entre R$ 370 e R$ 15 mil, voltado para atletas de alto rendimento. Essas iniciativas, precisam ser ampliadas e articuladas entre sociedade civil, universidades e entidades como a CUFA (Central Única das Favelas), presente em mais de 17 estados, para garantir que os Direitos Humanos sejam efetivamente promovidos por meio da cultura.   

A professora Santos encerra sua análise com preocupação de futuro com as próximas gerações. "A sociedade civil precisa atuar dentro do papel universitário, indo além dos muros acadêmicos. É necessário um trabalho contínuo com a população, já que estamos falando de cultura. Devemos pensar em como a sociedade pode manter políticas de gestão cultural e de que forma as Instituições Acadêmicas podem se unir em torno desse tema. Temos a CUFA e diversas outras entidades, que poderiam formar uma rede para tornar a cultura acessível a todos.”  

 

Mesa com livros em cima

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto., Imagem

Lucineia Rosa dos Santos, em sua sala na PUC-SP  

Imagem: Arquivo pessoal.  

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Desde o romance de 1995 até os palcos da Broadway, aclamadas versões brasileiras e um filme bilionário, a história da “Bruxa Má do Oeste” desafia convenções e encanta gerações
por
Luiza Zaccano
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10/06/2025 - 12h

 

Desde seu lançamento em 1995, o romance “Wicked: A História Não Contada Das Bruxas De Oz”, de Gregory Maguire, conquistou inúmeros fãs ao redor do mundo ao se basear no clássico universo de “O Maravilhoso Mágico de Oz”. A narrativa mostra a amizade improvável da Bruxa Má do Oeste, Elphaba, e a Glinda, a Bruxa Boa do Sul, que possuem histórias de vida diferentes, cujas trajetórias se entrelaçam em uma rivalidade amorosa e reações diferentes sob um governo corrupto do Mágico de Oz. A obra se aprofunda em temas como preconceito, opressão social e racismo, evidenciados na exclusão que Elphaba sofre por sua aparência e postura crítica diante da autoridade. O romance propõe uma inversão de papéis ao recontar a história do ponto de vista da "vilã", desafiando a visão tradicional do bem e do mal e revelando como a marginalização pode ser uma construção política e social. 

Em 2003, o livro ganhou uma adaptação para a Broadway e estreou com Idina Menzel, interpretando Elphaba e Kristin Chenoweth como Glinda. Wicked foi um fenômeno de bilheteria quase imediato, e passou a bater recordes de arrecadação semanal, tornando-se um dos musicais mais lucrativos da história da Broadway, com $3,3 milhões de dólares arrecadados em uma semana. Em 2016, o musical ultrapassou $1 bilhão de dólares em receita total, e um ano depois, se tornou o segundo musical de maior bilheteria da Broadway.  O sucesso foi tanto que o musical extrapolou as ruas de Nova Iorque e ganhou adaptações internacionais. 


Wicked estreou no Brasil em 2016, em São Paulo, no Teatro Renault com Myra Ruiz e Fabi Bang, interpretando respectivamente Elphaba e Glinda. A peça foi uma das montagens internacionais mais elogiadas, pela excelência em nível técnico com figurinos, cenários e efeitos especiais. A adaptação foi considerada um marco na história do teatro musical brasileiro, pois demonstrou que o Brasil conseguia reproduzir o padrão internacional. A popularidade, como Glinda pontuaria, foi tanta que a peça retornou aos teatros brasileiros novamente em 2023 e 2025.  Na nova temporada, já foram vendidos mais de 80 mil ingressos

 

Fabi Bang e Myra Ruiz, intérpretes de Glinda e Elphaba na versão brasileira do musical Reprodução: Forbes 

 

A adaptação cinematográfica, dividida em duas partes, teve sua primeira estreia no fim de 2024, sob direção de Jon M. Chu. Com um elenco de peso, incluindo Cynthia Erivo e Ariana Grande, o filme atraiu grande atenção do público e da mídia. E o resultado foi um grande sucesso de bilheteria, com a arrecadação de 700 milhões de dólares mundialmente.  

A transição do palco para o cinema não representa apenas uma adaptação, mas uma asserção definitiva de uma narrativa que, desde sua origem literária, encantou gerações e se consolidou como um clássico. Segundo Manuella Vendramini, atriz e estudante de psicologia, a essência e história da obra se mantém estática, porém, cada vez que ela é adaptada para diferentes lugares ou épocas, ela é incorporada em elementos culturais locais e modernos. Por isso, o público continua se identificando com a história, mesmo depois de tantos anos. 

A força da obra também se expressa por meio de sua trilha sonora, que ultrapassou os limites dos teatros e se firmou como parte da cultura pop contemporânea. A canção "Defying Gravity", é extremamente poderosa e representa a decisão de Elphaba de desafiar as expectativas da sociedade e abraçar seus próprios princípios, mesmo diante de consequências dificeis. A música possui um impacto gigante na cultura pop, especialmente por abordar a autoaceitação e a liberdade, voando longe das amarras de sua vida antiga.  

 

 

 

Idina Menzel, Cynthia Erivo, Ariana Grande e Kristin Chenoweth no lançamento do filme Wicked Reprodução: Amy Sussman\Getty Images  

 

Com mais de duas décadas de relevância, Wicked demonstra que histórias bem contadas são capazes de atravessar barreiras do tempo, se reinventar e continuar ressoando em novas gerações. Seja por meio dos palcos, páginas ou telas de cinema, a jornada de Elphie e Glinda continuam a encantar, provocar reflexões e, acima de tudo, desafiar o que conhecemos sobre a dualidade do bem e do mal.   

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Submundo 808 é a festa de funk que vem ganhando espaço no Brasil e no Mundo, apesar das recorrentes tentativas de criminalização do gênero musical
por
Wanessa Celina
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09/06/2025 - 12h

Já na sua quarta edição em São Paulo, o Submundo 808 abriu espaço nas redes sociais, na capital paulista e no exterior. Fundada pelo coletivo 808 Produções, a festa iniciou em Campinas, interior de São Paulo, com o intuito de valorizar o funk periférico paulista. Com os palcos de 360°, o evento movimentou mais de 10 mil pessoas só em São Paulo. 

A Submundo 808 é uma das vertentes da 808 Produções, que faz outras festas como a Bounce 808, focada em rap, trap e hip-hop; a Essence 808, festa black com afrobeat e dancehall e, por fim, a Submundo, que traz o funk eletrônico. “A 808 começou na Bouce 808 com o DJ Clei, com o Pet, Petterson Willian, e com o Jorge – três homens pretos moradores da CDHU São Martine em Campinas, que faziam festas na casa dos avôs deles”, conta Beatriz Niro, que está no projeto desde o início e hoje trabalha como porta-voz da empresa e cuida das redes sociais para os eventos. 

Os três organizadores, quando viram a possibilidade de crescer, saíram da casa dos avós, alugaram um espaço e começaram a cobrar ingresso. A partir daí, chegaram as outras vertentes, como a Essence e a Submundo e surgiu a necessidade de formalizar o grupo de criadores que conta com os DJs Kenan, Kell e Tresk,  Vinicius Mariano e André Tresk.  

Mais do que uma necessidade organizacional, o projeto,  majoritariamente negro, também responde a uma necessidade histórica, já que nasceu no último município brasileiro a abolir a escravidão. “A gente vê muito a elite consumindo o que é nosso e fazendo o que é nosso. Antes da 808 Produções, os eventos de rap, hip-hop eram feitos por pessoas brancas. Pessoas brancas que vieram de um espaço elitizado. Por que não criar um selo feito por pessoas pretas para fazer eventos, que é sobre a nossa cultura, que é a cultura preta, que é o hip-hop, rap, funk, black?” explica Beatriz, falando sobre a motivação do grupo. 

O fortalecimento do funk e da cultura preta e periférica é um dos princípios do Submundo. Em todos os palcos existem bandeiras com os slogans ‘música preta’ ou ‘música periférica’. “A gente gosta muito das bandeiras, porque querendo ou não, é o que traz a nossa identidade. É a cultura periférica”, defende Beatriz. “A gente vê as bandeiras dos nossos times estampadas na nossa casa, bandeiras políticas, bandeiras dos artistas que gostamos, bandeiras dos times de várzea. A importância das bandeiras é que a pessoa que está lá, seja ela branca, preta ou parda, veja de onde veio o funk e o que é.” 

“A Submundo bombou primeiro no TikTok”, conta a porta-voz, “Eu ficava lançando os vídeos lá e ficava fazendo corte dos DJs tocando, fazendo as famosas viradas – momento da de uma música para outra – o pessoal foi curtindo e o que mais chamou a atenção era que o DJ estava no meio do público.”. O palco 360° iniciou por causa das primeiras festas que os DJs tocaram, antes de irem para o Brasuca Campinas. Foi no GOMA, em Barão Geraldo que eles tiveram a primeira experiência de tocar no meio do público. “Um dos organizadores queria que continuasse assim, como no GOMA não era um palco, o DJ ficava na altura do público. Quando fomos para o Brazuca, que era um palco, um dos organizadores observou que o DJ ficaria muito longe e decidimos colocar o DJ no meio, igual no GOMA. E acabou que essa ideia deu certo.” 

 

Palco com o DJ Blackes no Submundo 808 em Campinas// Reprodução do instagram. Créditos: Gabriel Cavassam,  @blackcalle_
Palco com o DJ Blackes no Submundo 808 em Campinas// Reprodução do instagram. Créditos: Gabriel Cavassam,  @blackcalle_  

 

 

A Submundo na era da criminalização do funk: da rua para os bailes privados 

 

Por ser uma festa focada em funk, a Submundo traz à tona a questão da criminalização desse gênero musical, que voltou a ser debatida neste ano após o projeto da Lei Anti-Oruam, proposto pela vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil). Beatriz Niro aponta que esse tipo de perseguição é um dos motivos da 808 correr para lugares privados em Campinas: “o funk é criminalizado porque não existem oportunidades, nem patrocinadores, por exemplo. A prefeitura [de Campinas], o prefeito e demais governantes, em sua maioria brancos e de uma classe social alta, não tem uma ação para descriminalizar o funk e dar espaço digno para as nossas festas.”.  

Para o antropólogo e artista, Meno Del Picchia, autor da tese “A Neblina e o Fluxo - O Funk nos Corpos Elétricos da Quebrada”, a criminalização do funk é, na verdade, a criminalização da vida jovem periférica: “o Brasil é um país extremamente desigual, racista, homofóbico, machista, conservador, com todas essas forças conservadoras e antiprogressistas”, denuncia Meno. "Elas [o Estado, a mídia e a classe média] vão confrontar tudo o que é um pouco mais transgressor. E isso, ao mesmo tempo em que perpetuam uma estrutura social que produz essas desigualdades, mas quando as mesmas são ditas em forma de música, eles se incomodam.”, complementa.  

Os bailes de funk, geralmente conhecidos em São Paulo como “fluxos”, acontecem as ruas das comunidades. Com caixas de som potentes instaladas nos carros parados ao lado de vendedores de bebidas, a festa vai até altas horas. Os eventos nas comunidades são os principais alvos de operações policiais. Os agentes costumam chegar com brutalidade nesses ambientes. A violência constante e a insegurança provocada pelos agentes do Estado levaram ao surgimento dos bailes privados. “Os bailes fechados e de rua vão, inevitavelmente, estar sempre lidando com todas essas vozes repressivas.”, explica Meno del Picchia, “Mas alguns deles são tão fortes e tão gigantes que eles vão se mantendo ao longo do tempo.”.  

Em 2019, a polícia provocou um massacre em uma das festas mais famosas das comunidades da cidade, o Baile da D17, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. A ação, batizada de “Mega operação Pancadão”, matou nove jovens. “O que torna o baile na rua menos seguro, na verdade, é quando tem a repressão policial.” explica Meno. “Eu acho que esse elemento da possibilidade do confronto com a polícia é o que torna o baile da rua um pouco mais imprevisível.” A volta da discussão sobre os bailes de rua e sobre tentar censurar artistas de funk que alegadamente fazem apologia ao crime e às drogas é, como diz o pesquisador, a “criminalização da poesia e a criminalização da festa”. 

O pesquisador relatou sua experiência na festa Nitro Point em 2018, em Mauá, que reunia uma multidão de pessoas, em diversos lugares com preço de entrada acessível. Após pesquisar os bailes de rua em São Paulo e ter participado de alguns bailes fechados, Meno confirma que a existência das festas fechadas não tira o lugar dos bailes de rua: “o fato do Nitro Point existir não fazia com que os bailes de rua deixassem de existir. Falar que bailes fechados vão fragilizar a cultura funk é uma afirmação que eu acho perigosa. A Nitro Point, por exemplo, é uma festa fechada, que só fortaleceu a cena.” 

Submundo para o mundo 

Hoje, a Submundo já tem edições previstas em Brasília e até em Portugal. A bilheteria saiu de 1000 ingressos nos primeiros eventos há dois anos, para mais de 12 mil por evento. O alcance, porém, é ignorado pelas mídias tradicionais, como aponta Beatriz: “A gente não tem grandes jornais vindo conversar com a gente, porque hoje o Submundo, só em São Paulo, movimenta 11 mil pessoas. Um evento muito novo que está girando muito dinheiro, muita visibilidade nas redes sociais.”

A festa conta com lista trans que, na última edição em São Paulo, fechou com mais de 100 nomes. Em breve, pessoas indígenas e beneficiários do programa Bolsa Família também terão acesso à gratuidade.

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