Movimento apresenta mais de 1 milhão de assinaturas para a União Europeia
por
Thomas Fernandez
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22/09/2025 - 12h

 

O movimento “Stop Killing Game” criado por Ross Scott, do canal Accursed Farms, apresentou em 2025 mais de 1 milhão de assinaturas à União Europeia para exigir medidas que impeçam a remoção e desligamento de jogos digitais. A preservação é definida como um conjunto de ações voltado a manter a integridade de bens, documentos ou pessoas, tendo museus e centros históricos como instituições dedicadas a essa tarefa. 

No campo do entretenimento, os videogames se destacam como a indústria que mais cresce desde a década de 1950. Apesar do seu impacto econômico e cultural, eles recebem atenção limitada em políticas e práticas de preservação, diferente de outras formas de arte, como cinema, televisão e literatura. 

Devido a inacessibilidade de jogos comprados por consumidores, a proposta do movimento é simples, mas poderosa: proteger os consumidores e preservar os videogames, trazendo as práticas recorrentes de empresas que fecham os servidores ou retiram os jogos do mercado digital, apagando não apenas produtos, mas também capítulos de história cultural dos videogames.

Foto do criador do movimento, Stop Killing Games, Ross Scott
Ross Scott, criador do movimento Stop Killing Games.  Foto: REPRODUÇÃO/YOUTUBE Accursed Farms
 

A iniciativa se transformou em “Stop Destroying Videogames”, utilizando a Iniciativa de Cidadania Europeia, uma ferramenta disponível para cidadãos da União Europeia para levarem questões diretamente ao parlamento europeu. A petição foi registrada em junho do ano passado e começou a coletar assinaturas no dia 31 de julho de 2024. No mesmo dia, Scott, soltou um vídeo com o título "Europeans can save gaming!", que compartilha sobre como o movimento pode levar a criação de lei com um número alto de assinaturas e apoiadores. 

Ele destaca que a criação da lei não era uma certeza, entretanto, apontava que existem fatores, como: o alinhamento com outras políticas para consumidores e indefinições jurídicas nas práticas no meio dos games. Esses pontos reforçam que o sucesso está no futuro do movimento. Depois de alcançar 1 milhão de assinantes e realizar uma vistoria -  para desconsiderar menores de idade, duplicidades e pessoas fora da UE - a petição apresentou 97% de validação das assinaturas.

A preocupação é  quando um jogo é removido das lojas digitais ou tem os serviços online desligados, pois deixa de ser acessível para futuras gerações de gamers. Um dos casos mais conhecidos foi do “Project CARS 3”, lançado em 2020. O produto foi retirado de circulação para venda e fecharam os servidores, tornando-se praticamente inacessível. 

O mesmo ocorre com títulos de grandes estúdios como Ubisoft e EA, sendo uma tendência que preocupa colecionadores, consumidores e fãs. Diferente de filmes, livros e músicas, que possuem mais facilidade para sua preservação, os games dependem de vários fatores: chaves digitais, servidores e licenciamento contínuo para existir. Para isso, a preservação não exige somente de vontade cultural, mas também mudanças legais e regulatórias.

No Brasil, esse debate começou a ganhar relevância em 2024, com a aprovação do Marco Legal da Indústria de Jogos Eletrônicos (Lei nº 14.852/2024). Embora a lei tenha o intuito de incentivar o crescimento do setor no país e atrair investidores, ela também abre espaço para a reflexão sobre o ciclo de vida dos jogos e sua preservação como patrimônio cultural. A luta pela proteção e cuidados dos videogames não é apenas dos jogadores nostálgicos, mas também uma questão cultural e de direito de acesso.

O “Stop Killing Games” mostra que, diante da lógica do mercado, há fãs dispostos a lutar para que os jogos não desapareçam.Se no passado os museus se dedicaram a guardar fósseis, manuscritos e obras de arte, o futuro terá que olhar também para os consoles, cartuchos e CDs. Porque, como lembra o movimento, “ao desligar um jogo, não se mata apenas um software, se apaga uma parte da história”.

 

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Minimalismo, funcionalidade e inovação refletem mudanças econômicas e sociais
por
Luana Marinho
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18/09/2025 - 12h

A moda, frequentemente apontada como um espelho dos tempos, volta seus olhos para tempos de escassez. Em meio à instabilidade econômica global, marcada por inflação persistente e crises políticas ao redor do mundo, ganha força o chamado “Recessioncore” (estética da recessão), que traduz, de forma visual, a precariedade e o desânimo de uma geração.

“Quando falamos de recessões, de crises econômicas, dá para ver esse reflexo diretamente na moda. Hoje, vivemos uma grande incerteza econômica, e muitas marcas de luxo começaram a lançar campanhas desperdiçando comida, baguetes sendo amassadas, frutas jogadas no chão da feira, alimentos destruídos”, afirma Audry Mary, especialista em marketing de moda e influenciadora digital. “É uma forma de comunicação: enquanto a base está sofrendo com a falta, quem consome a marca pode esbanjar. E isso é extremamente político”, acrescenta Audry.

Se nos anos de crescimento econômico os desfiles explodem em cores vibrantes, brilhos e ostentação, em momentos de incerteza o figurino muda: tons neutros, silhuetas sóbrias e peças utilitárias assumem o protagonismo. É o que se vê agora com a ascensão da estética “clean girl”, termo popularizado no TikTok e em outras redes sociais que descreve um estilo minimalista, com peças básicas, cores neutras e cortes discretos 

"Elas são mais acessíveis, carregam pouca informação de moda e seguem um estilo mais recatado, mais doméstico”, diz Audry sobre as roupas identificadas com o estilo. “É conservador, e as marcas estão apostando muito nisso”, explica.

Segundo a especialista, a estética “clean girl” não surge isoladamente: é resultado direto de um contexto econômico instável, no qual o crescimento do "quiet luxury" (luxo silencioso) e de coleções minimalistas indica que as marcas buscam transmitir segurança e sobriedade. Historicamente, períodos de recessão geraram mudanças semelhantes. Durante a Grande Depressão, cortes retos e tecidos duráveis se tornaram padrão, enquanto a crise de 2008 reforçou o consumo de fast fashion e peças de baixo custo, ainda que de qualidade inferior.

O impacto econômico também se reflete no crescimento do mercado de roupas de segunda mão, que se tornou um indicativo claro das mudanças no comportamento de consumo. Nos Estados Unidos, o mercado de moda de segunda mão alcançou US$ 50 bilhões em 2024, com projeção de crescimento para US$ 73 bilhões até 2028, impulsionado principalmente por millennials e pela geração Z, nascidos entre 1981 e 2010, que buscam alternativas mais acessíveis e responsáveis. Esse movimento transforma o mercado de segunda mão em uma tendência não apenas econômica, mas também cultural, refletindo valores de sustentabilidade e consumo consciente.

No Brasil, a ascensão dos brechós segue a mesma lógica: adaptação à crise econômica, respeito às prioridades financeiras e resposta às incertezas sociais. Segundo dados do Sebrae, o país contava com mais de 118 mil brechós ativos em 2023, representando um aumento de 30,97% em relação aos cinco anos anteriores. Além disso, o mercado de brechós no Brasil deve movimentar cerca de R$ 24 bilhões até 2025, superando o mercado de “fast fashion” até 2030, conforme projeções da Folha de São Paulo.

O crescimento do mercado de brechós também é impulsionado por plataformas digitais. O Enjoei, com mais de 1 milhão de compradores e 2 milhões de vendedores ativos, abriu recentemente sua primeira loja física no Rio de Janeiro e adquiriu a Gringa, plataforma de revenda de artigos de luxo de segunda mão, por R$ 14 milhões, evidenciando a demanda crescente por itens de alto valor.

Esse movimento também pressiona a indústria tradicional, que já responde com novas estratégias. O aumento dos custos de produção deve acelerar o uso de matérias-primas alternativas, como tecidos reciclados e fibras de origem vegetal, além de experimentos com couro vegetal e biotêxteis. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por transparência nas cadeias de produção: passaportes digitais de produtos, rastreabilidade de origem e relatórios de impacto ambiental podem deixar de ser tendência para se tornar padrão da indústria.

Olhando para o futuro, a moda deve consolidar caminhos cada vez mais funcionais, atendendo à demanda de consumidores impactados pela instabilidade econômica, que priorizam praticidade e durabilidade. Segundo Audry, essa tendência deve se intensificar. “Acredito que vamos ver cada vez mais peças utilitárias, roupas multiuso e tecidos resistentes ganhando protagonismo, porque o consumidor está buscando longevidade e funcionalidade em tudo o que veste”, afirma.

O minimalismo, já consolidado, deve permanecer central, mas com variações sutis. “Minha aposta é que tons terrosos, cortes amplos e peças que permitam personalização vão se tornar ainda mais comuns, enquanto pequenos revivals dos anos 2000 e 2010 reinterpretam itens básicos para novas gerações”, diz a influenciadora, que também projeta expansão de modelos híbridos, que combinam venda de peças novas, revenda, aluguel e customização, fortalecendo a economia circular como resposta prática às restrições financeiras. 

A tecnologia surge ainda como aliada estratégica, com inteligência artificial e provadores digitais ajudando marcas a reduzir desperdícios e aproximar consumidor e produto. “A inovação permite que a indústria transforme limitações econômicas em oportunidades criativas”, conclui Audry, reforçando que, para o futuro, a moda funcionará como um laboratório de soluções, mais do que apenas reflexo de crise.

 

 

 

Profissionais da área relatam dificuldade de valorização, ausência de políticas públicas e dependência do mercado internacional para manter a carreira
por
Fernanda Dias
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18/09/2025 - 12h

A escultura no Brasil ainda é um campo pouco explorado e com inúmeros desafios, como a falta de políticas públicas, a ausência de incentivo cultural e um universo ainda limitado de pessoas dispostas a investir em arte no país. Para manter a profissão viva, muitos artistas recorrem ao mercado internacional e às redes sociais como alternativa de divulgação.

No cenário brasileiro, a escultura não ocupa o mesmo espaço que outras linguagens artísticas, como a música ou as artes visuais mais populares. O escultor Rick Fernandes, que atua na área desde a década de 1990, observa que a profissão ainda carece de reconhecimento cultural. “O brasileiro não tem a mesma tradição que americanos e europeus em colecionar arte. Muitas vezes, as prioridades econômicas acabam afastando o público”, afirma.

Esse distanciamento é agravado pela falta de políticas voltadas à categoria. Projetos de incentivo que poderiam estimular a prática da escultura em escolas ou em comunidades raramente são aprovados. Fernandes relembra tentativas frustradas em 2015 e 2023 de levar oficinas para jovens da periferia e para pessoas com deficiência. “Os incentivos, em sua maioria, estão voltados para música e grandes eventos. Nichos como a escultura ficam esquecidos”, critica.

   Rick Fernandes produzindo sua peça - foto: https://www.rfstudiofx.com/


                    Rick Fernandes produzindo sua peça - foto: https://www.rfstudiofx.com/

No mercado, outro obstáculo é a dificuldade de concorrer com produtos industrializados ou importados. Segundo Fernandes isso faz que muitos escultores direcionem suas obras ao exterior, onde encontram colecionadores e compradores mais fiéis. O artista calcula que cerca de 80% de suas encomendas vêm de fora do Brasil. Mesmo com a popularização de novas tecnologias, como impressoras 3D, ele destaca que há demanda para trabalhos exclusivos, o que mantém a escultura tradicional relevante.

As redes sociais têm sido fundamentais para reduzir a distância entre artistas e público. Plataformas como o Instagram permitem que escultores apresentem seus portfólios, encontrem clientes e troquem experiências em comunidades digitais. “Muitos dos meus contatos surgiram através da rede. É uma vitrine essencial para quem vive da arte”, ressalta o escultor.

Além do mercado e do incentivo, a valorização da escultura ainda depende de uma mudança de percepção social sobre o trabalho manual e artístico. Para Fernandes, investir na formação desde cedo é o caminho. “Campanhas nas escolas de ensino fundamental poderiam fazer a diferença. As crianças têm fome de aprender coisas novas e a escultura poderia ser mais explorada nesse ambiente”, defende.

Apesar das dificuldades, Fernandes garante que nunca pensou em desistir, movido por “amor e diversão”. Além de manter o estúdio, ele atua como professor. Nem todos tiveram a mesma sorte. A artista Júlia Dias, por exemplo, faz esculturas desde 2006, mas até hoje não tem uma base fixa de clientes, vivendo em meio à instabilidade de demandas que atinge grande parte dos escultores.

O campo da escultura se divide em diferentes níveis de atuação. Enquanto alguns artistas trabalham com peças decorativas ou personalizadas para ocasiões como aniversários e eventos, outros produzem obras direcionadas a colecionadores e galerias. Essa variedade mostra como a atividade é ampla, mas também deixa claro que nem tudo recebe o mesmo valor: trabalhos voltados ao mercado de luxo encontram maior reconhecimento e retorno financeiro, enquanto produções mais populares ainda lutam por espaço e estabilidade.

Outro desafio está ligado ao custo e ao acesso a materiais de qualidade. Fernandes explica que utiliza plastilina para modelagem, moldes de silicone para a finalização e resina de poliestone para as peças finais, com acabamento em aerógrafo e pincel. Segundo ele, os materiais nacionais apresentam bom custo-benefício e já não ficam atrás dos importados. Ainda assim, os gastos para manter a produção podem ser elevados, principalmente para quem não conta com retorno constante do mercado.

Apesar de não existirem editais exclusivos para escultores no Brasil, a categoria pode concorrer em programas de incentivo mais amplos voltados às artes visuais e à cultura. Iniciativas como os editais da Funarte (Fundação Nacional de Artes, do governo federal), o ProAC (Programa de Ação Cultural, mantido pelo governo de São Paulo)  e leis de incentivo fiscal possibilitam que projetos de escultura recebam apoio. No entanto, a concorrência é acirrada e a escultura segue como um nicho pouco contemplado, o que reforça a sensação de invisibilidade entre os artistas da área.

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Último final de semana do evento ficou marcado por performances que misturaram passado, presente e futuro
por
Jessica Castro
Vítor Nhoatto
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16/09/2025 - 12h

A segunda edição do festival The Town se despediu de São Paulo com um resultado positivo e bastante barulho. Durante os dias 12, 13 e 14 de setembro, pisaram nos palcos do Autódromo de Interlagos nomes como Backstreet Boys, Mariah Carey, Ivete Sangalo e Katy Perry.

Realizado a cada dois anos em alternância ao irmão consolidado Rock In Rio, é organizado também pela Rock World, da família do empresário Gabriel Medina. Sua primeira realização foi em 2023, em uma aposta de tornar a cidade da música paulista, e preencher o intervalo de um ano do concorrente Lollapalooza.

Mais uma vez em setembro, grandes nomes do cenário nacional e internacional atraíram 420 mil pessoas durante cinco dias divididos em dois finais de semana. O número é menor que o da estreia, com 500 mil espectadores, mas ainda de acordo com a organizadora do evento, o impacto na cidade aumentou. Foram movimentados R$2,2 bilhões, aumento de 21% segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Após um primeiro final de semana marcado por uma apresentação imponente do rapper Travis Scott no sábado (6), único dia com ingressos esgotados, e um domingo (7) energético com o rock do Green Day, foi a vez do pop invadir a zona sul da capital. 

Os portões seguiram abrindo ao meio dia, tal qual o serviço de transporte expresso do festival. Além disso, as opções variadas de alimentação, com opções vegetarianas e veganas, banheiros bem sinalizados e muitas ativações dos patrocinadores foram pontos positivos. No entanto, a distância entre o palco secundário (The One) e o principal (Skyline), além da inclinação do terreno no último, continuaram provocando críticas.

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Segundo estudo da FGV, 177 mil litros de chope e 106 mil hambúrgueres foram consumidos nos 5 dias de evento - Foto: Live Marketing News / Reprodução

Sexta-feira (12)

Jason Derulo animou o público na noite de sexta com um espetáculo cheio de energia e coreografias impactantes. Em meio a hits como “Talk Dirty”, “Wiggle” e “Want to Want Me”, o cantor mesclou pop e R&B destacando sua potência vocal, além de entregar muito carisma e sensualidade durante a apresentação.

A noite, aquecida por Derulo, ganhou clima nostálgico com os Backstreet Boys, que transformaram o palco em uma viagem ao auge dos anos 90. Ao som de clássicos como “I Want It That Way” e “As Long As You Love Me”, a plateia virou um grande coral emocionado, enquanto as coreografias reforçavam a identidade da boyband. Três décadas depois, o grupo mostrou que ainda sabe comandar multidões com carisma e sintonia.

Com novo visual, Luísa Sonza enfrentou o frio paulista com um figurino ousado e um show cheio de atitude no Palco The One. Além dos próprios sucessos que a consagraram no pop, a cantora surpreendeu ao incluir releituras de clássicos da música brasileira, indo de “Louras Geladas”, do RPM, a uma homenagem emocionante a Rita Lee com “Amor e Sexo”. A mistura de hits atuais, performances coreografadas e referências à MPB agitou a platéia.

E completando a presença de potências nacionais, Pedro Sampaio fez uma apresentação histórica para o público e para si, alegando que gastou milhões para tudo acontecer. A banda Jota Quest acalentou corações nostálgicos, e nomes em ascensão no cenário do funk e rap como Duquesa e Keyblack agitaram a platéia. 

Sábado (13)

No sábado (13), o festival reuniu diferentes gerações da música, com encontros que alternaram festa, emoção e mais nostalgia. Ivete Sangalo levou a energia de um carnaval baiano para o The Town. Colorida, divertida e sempre próxima da multidão, fez do show uma festa ao ar livre, com direito a roda de samba e participação surpresa de ritmistas que incendiaram ainda mais a apresentação. O repertório, que atravessa gerações, transformou a noite em um daqueles encontros em que ninguém consegue ficar parado.

Mais íntimo e afetivo, Lionel Richie trouxe outro clima para a noite fria da cidade da música. Quando sentou ao piano para entoar “Hello”, parecia que o festival inteiro tinha parado para ouvi-lo. A emoção foi tanta que, dois dias depois, o cantor usou as redes sociais para agradecer pelo carinho recebido em São Paulo, declarando que ainda sentia o amor do público brasileiro.

A diva Mariah Carey apostou no glamour e em seu repertório de baladas imortais. A performance, embora marcada por certa distância, encontrou momentos de brilho quando dedicou uma música ao público brasileiro, gesto que foi recebido com emoção. Hits como “Hero” e “We Belong Together” reafirmaram o status da cantora como uma das maiores vozes do pop mundial.

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Vestindo as cores do Brasil, Mariah manteve seu estilo pleno, o que não foi positivo dessa vez - Foto: Ellen Artie

O festival também abriu espaço para outras vozes marcantes. Jessie J emocionou em um show acústico intimista, feito apesar de estar em tratamento contra um câncer de mama — e que acabou sendo o único da cantora na América do Sul após o cancelamento das demais datas na América do Norte e Europa. 

Glória Groove incendiou o público com sua potência performática e visual, enquanto Criolo trouxe poesia afiada e versos de impacto, lembrando a força política do rap. MC Livinho levou o funk a outro patamar e anunciou seu novo projeto de carreira em R&B. Péricles encerrou sua participação em clima caloroso de roda de samba, onde cada espectador parecia parte de um grande encontro entre amigos.

Domingo (14)

Com Joelma, o The Town se transformou em um baile popular de cores, brilhos e danças frenéticas. A cantora revisitou sucessos da época da banda Calypso e apresentou a força de sua carreira solo, mas também abriu espaço para artistas nortistas como Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara. 

O gesto deu visibilidade a uma cena muitas vezes esquecida nos grandes festivais e reforçou sua identidade como representante da cultura amazônica. Com plateia recheada, a artista mostrou que a demanda é alta.

No início da noite, em um horário um pouco melhor que sua última apresentação no Rock In Rio, Ludmilla mobilizou milhares de pessoas no palco secundário. Atravessando hits de sua carreira como “Favela Chegou”, “É Hoje” e sucessos do Numanice, entregou presença de palco e coreografias sensuais. A carioca também surpreendeu a todos com a aparição da cantora estadunidense Victória Monet para a parceria “Cam Girl”.

Sem atrasos, às 20:30, foi a vez então de Camila Cabello levar ao palco o último show da C,XOXO tour. A performance da cubana foi marcada pelo seu carisma e declarações em português como “eu te amo Brasil” e “tenho uma relação muito especial com o Brasil [...] me sinto meio brasileira”. Hits do início de sua carreira solo animaram, como “Bad Kind Of Butterflies” e “Never Be The Same”, além de quase todas as faixas do seu último álbum de 2024, que dá nome à turnê, como “HE KNOWS” e “I LUV IT”. 

A performance potente e animada, que mesclou reggaeton e eletrônica, ainda contou com o funk “Tubarão Te Amo” e uma versão acapella de “Ai Se Eu Te Pego” de Michel Teló. Seguindo, logo após “Señorita”, parceria com o seu ex-namorado, Shawn Mendes, ela cantou “Bam Bam”, brincando com a plateia que aquela canção era para se livrar das pessoas negativas. Vestindo uma camiseta do Brasil e com uma bandeira, encerrou o show de uma hora e meia com “Havana”.

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Com coreografia, grande estrutura metálica e vocais potentes, Camila entregou um show de diva pop - Foto: Taba Querino / Estadão

Para encerrar o festival, Katy Perry trouxe espetáculo em grande escala, mas não deixou faltar momentos de intimidade. A apresentação iniciada pontualmente às 23h15 teve direito a pirotecnias, muitos efeitos especiais e um discurso emocionante da cantora sobre a importância de trazer sua turnê para a América do Sul. 

Em meio a cenários lúdicos, trocas de figurino e um repertório recheado de hits, Katy Perry chamou o fã André Bitencourt ao palco para cantarem juntos “The One That Got Away”, o que levou o público ao delírio. O show integrou a turnê The Lifetimes World Tour, e deixou a impressão de que a artista fez questão de entregar em São Paulo um dos capítulos mais completos dessa jornada.

No último dia, outros públicos foram contemplados também, com o colombiano J Balvin, dono de hits como “Mi Gente”, e uma atmosfera poderosa com IZA de cleópatra ocupando o palco principal no início da tarde. Dennis DJ agitou com funk no palco The One e, completando a proposta do festival de dar espaço a todos os ritmos e artistas, Belo e a Orquestra Sinfônica Heliópolis marcaram presença no palco Quebrada. 

A cidade da música em solo paulista entregou o que prometia, grandes estruturas e um line up potente, mas ainda segue construindo sua identidade e se aperfeiçoando. A terceira edição já foi inclusive confirmada para 2027 pelo prefeito Ricardo Nunes e a vice-presidente da Rock World, Roberta Medina em coletiva na segunda-feira (15).

Festival reúne multidões, entrega shows históricos e consagra marco na cena musical brasileira
por
Khadijah Calil
Lais Romagnoli
Yasmin Solon
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10/09/2025 - 12h

Com mais de 100 mil pessoas por dia, o The Town estreou no último fim de semana, 6 e 7 de setembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

Travis Scott encerrou o sábado (6) no palco Skyline com um show eletrizante, enquanto Lauryn Hill emocionava fãs no palco The One ao lado dos filhos YG e Zion Marley. No domingo (7), os destaques ficaram por conta de Green Day e Iggy Pop, além de apresentações de Bad Religion, Capital Inicial e CPM 22.

O festival retoma a programação nos dias 12, 13 e 14 de setembro, com shows de Backstreet Boys, Mariah Carey, Lionel Richie e Katy Perry.

“The Flight”: o balé aéreo que surpreendeu no The Town. Foto: Khadijah Calil
“The Flight”: o balé aéreo que surpreendeu no The Town. Foto: Khadijah Calil 
Fãs aguardam o início dos shows no gramado do Autódromo de Interlagos. Foto: Khadijah Calil
Fãs aguardam o início dos shows no gramado do Autódromo de Interlagos. Foto: Khadijah Calil 
Espalhados pelo Autódromo de Interlagos, brinquedos e atrações visuais oferecem ao público momentos de lazer entre os shows. Foto: Khadijah Calil
Espalhados pelo Autódromo de Interlagos, brinquedos e atrações visuais oferecem ao público momentos de lazer entre os shows. Foto: Khadijah Calil 
Capital Inicial leva o rock nacional ao palco Factory, na abertura do segundo dia. Foto: Khadijah Calil
Palco Factory, que recebeu o Capital Inicial na abertura do segundo dia. Foto: Khadijah Calil 
Palco Skyline iluminado durante o show de encerramento do sábado (6). Foto: Lais Romagnoli
Palco Skyline iluminado durante o show de encerramento do sábado (6). Foto: Lais Romagnoli
Iluminação e cenografia transformam Interlagos durante a primeira edição do festival. Foto: Lais Romagnoli
Iluminação e cenografia transformam Interlagos durante a primeira edição do festival. Foto: Lais Romagnoli
Matuê leva o trap nacional ao palco The One no primeiro dia de festival. Foto: Yasmin Solon
Matuê leva o trap nacional ao palco The One no primeiro dia de festival. Foto: Yasmin Solon
Público lota a Cidade da Música durante o primeiro fim de semana do The Town. Foto: Yasmin Solon
Público lota a Cidade da Música durante o primeiro fim de semana do The Town. Foto: Yasmin Solon

 

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Banda não se apresenta por conflito com as quartas da Copa do Brasil; datas em São Paulo e Curitiba seguem confirmadas
por
Maria Clara Palmeira
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22/08/2025 - 12h

Na última quinta-feira (21), a banda de punk rock norte-americana Green Day cancelou o show que faria no dia 9 de setembro, no Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro. O anúncio oficial do cancelamento foi feito pelo grupo e pela produtora nas redes sociais. A decisão ocorreu devido à marcação do jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil entre Botafogo e Vasco, programado para o dia 11 de setembro, no mesmo estádio.

“Sentimos muito, Rio! Esperamos vê-los novamente em breve.” pronunciamento oficial da banda.  Reprodução: Instagram/@greenday
“Sentimos muito, Rio! Esperamos vê-los novamente em breve.” pronunciamento oficial da banda.  Reprodução: Instagram/@greenday

Segundo a produtora do evento, Live Pass, seria inviável desmontar toda a estrutura do palco e liberar o estádio a tempo para a partida. A decisão foi tomada após reuniões com a equipe do Botafogo para definir a melhor estratégia de conciliação entre os dois eventos.
“Após o sorteio, o Botafogo e a promotora se reuniram para discutir a melhor estratégia para a realização dos eventos e concordaram que desmontar todas as estruturas do show a tempo de liberar o estádio para a partida seria tecnicamente inviável para um espetáculo desta dimensão e um jogo desta importância.”, afirmou a Live Pass em nota oficial. 
A produtora orienta os fãs que compraram os ingressos a solicitarem o reembolso, que será feito conforme a forma de pagamento utilizada:

  • Cartão de crédito: estorno automático em até duas faturas.

  • Pix ou cartão de débito: devolução em até 30 dias.

  • Dinheiro: retirada presencial na bilheteria Norte do Estádio Nilton Santos (terça a sábado, das 10h às 17h, exceto feriados ou dias de jogos).

  • Seguro, juros de parcelamento e taxa de serviço também serão devolvidos

Apesar do cancelamento no Rio, a turnê segue em São Paulo, no festival The Town e em Curitiba para um show solo. Na capital paranaense, os ingressos mais baratos já estão esgotados, e a expectativa é de aumento na procura, impulsionada pelo cancelamento do show no Rio.

 

A banda

Formado por Billie Joe Armstrong (vocal e guitarra), Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria), o Green Day surgiu na cena hardcore punk do final dos anos 80 e início dos anos 90. Ao longo da carreira, vendeu mais de 75 milhões de discos, recebeu cinco prêmios Grammy e foi incluído no Hall da Fama do Rock and Roll.

Show da banda no Brasil em 2017. Reprodução: X/@greenday
Show da banda no Brasil em 2017. Reprodução: X/@greenday

O grupo é conhecido não apenas por sua música, mas também por suas críticas políticas, especialmente contra a extrema-direita nos Estados Unidos. Entre seus álbuns de maior destaque estão “Dookie” (1994) e “American Idiot” (2004), que inspirou um musical da Broadway e rendeu reconhecimento internacional. 

O Green Day segue sendo uma das maiores referências do rock mundial, mantendo sua relevância mesmo décadas após a estreia, e promete entregar apresentações memoráveis aos fãs brasileiros nas próximas datas da turnê.

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Em exibição desde maio, a exposição do mestre impressionista francês prorroga seu adeus a São Paulo
por
Clara Dell'Armelina
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20/08/2025 - 12h

Até setembro, será possível um mergulho cultural nas telas do pai do impressionismo, Oscar-Claude Monet. A mostra “A Ecologia de Monet” iniciou dia 16 de maio e reúne, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), 32 obras do pintor, juntamente de uma leitura diante da relação do artista com as transformações da natureza.

A exposição, com curadoria de Adriano Pedrosa e Fernando Oliva, é dividida em 5 núcleos temáticos de suas pinturas, além de um breve relato biográfico. Na entrada, conhecemos um pouco de quem foi Monet. Nascido em Paris, porém, criado na Normandia, o fundador do impressionismo era filho de merceeiro, com pais que almejavam sua entrada nos negócios da família, mas sua vocação era para a pintura. Sua tia Marie-Jeanne Lecadre, também pintora, foi quem o incentivou a seguir na profissão.

Monet em seu estúdio posando ao lado de algumas de de suas famosas pinturas da série "Nenúfares. Fonte: Cultura Colectiva
Monet em seu estúdio posando ao lado de algumas de de suas famosas pinturas da série "Nenúfares". Fonte: Gettyimages

"Voltei a algumas coisas que simplesmente não podem ser feitas: a água, com algas dançando no fundo... É uma visão maravilhosa, mas é de enlouquecer querer fazer isso. Porém é esse tipo de coisa que estou sempre tentando enfrentar.”

                                                                                                                           -Monet, comentário do artista grafado na exposição

Os Barcos de Monet

À esquerda o quadro “O Barco” (1887) e à direita o quadro “A Canoa sobre o Epte”. Fonte: Divulgação/MASP
À esquerda o quadro “O Barco” (1887) e à direita o quadro “A Canoa sobre o Epte”. Fonte: Divulgação/MASP"

O primeiro núcleo é “Os Barcos de Monet”. Nele, estão exibidas duas pinturas de um conjunto de seis obras realizadas entre 1887 e 1890, nas quais há a representação de barcas navegando ao longo do Rio Epte, um dos afluentes do Sena. Todas as obras desta série, com exceção da representada à esquerda da foto acima, mostram as enteadas de Monet a bordo da embarcação.

As telas representam a natureza como sendo um ambiente imersivo, por isso vemos as barcas de um ponto de vista elevado, assim perdemos a noção de uma linha do horizonte. Somando ainda ao fato de que, no quadro à direita, a vegetação da margem funde-se às águas do rio, enquanto na obra à esquerda a margem desaparece por completo. Em ambas as telas, o rio é o protagonista, sendo destacado por pinceladas onduladas em tons de vermelho e amarelo, para simular a correnteza, que somam-se ao verde predominante.

O Sena Como Ecossistema

O segundo núcleo de obras é “O Sena Como Ecossistema” e nele a água mostra-se como inspiração na produção artística de Monet. O artista percorreu grande parte do rio Sena e seus afluentes ao longo de sua vida por meio de seu barco-ateliê, que lhe permitia novos pontos de vista a partir do leito do rio em busca de experiências imersivas. Desde sutis variações de luz e clima na paisagem até eventos naturais de impacto considerável, como inundações e degelos, o rio foi protagonista em suas pinturas.

 "O passeio perto da Ponte de Argenteuil" (1874)
"O passeio perto da Ponte de Argenteuil" (1874). Fonte: WahooArt

Na obra da ponte de Argenteuil, Monet justapõe a caminhada bucólica de sua esposa e seu filho às margens do Sena ao trem cruzando a ponte recém-construída. Aqui, vemos não apenas o lazer burguês, como anteriormente, mas também a fusão dele com a modernização de Argenteuil.

Porém, a representação da industrialização nas pinturas de Monet é escassa. Com o passar dos anos, os trens que cortavam a cidade e as fábricas se multiplicavam ao redor de seus cavaletes, mas em suas telas, desapareciam. A historiografia da arte entende isso como um sinal de desilusão diante da perspectiva de uma harmonia entre a industrialização e a natureza. Os temas da modernidade apenas voltariam a aparecer nas pinceladas de Monet quando tornaram-se o próprio tema de suas pinturas, como em suas cenas da poluída névoa londrina.

 

“Estou seguindo a natureza sem conseguir compreendê-la; esse rio, que desce, volta a subir, um dia verde, depois amarelo, às vezes quase seco, e que amanhã será uma torrente, após a terrível chuva que está caindo agora.”                                                                                                                           -Monet, comentário do artista grafado na exposição

 

Por exemplo, ao longo de toda sua produção, Monet pintou frequentemente o rio Sena, responsável por banhar as cidades nas quais viveu a maior parte de sua vida: Havre, Paris, Argenteuil, Vétheuil e Giverny. Ele era fundamental para o transporte de mercadorias no período de industrialização do país, mas na obra “O Sena em Port-Villez” Monet não retrata o rio margeado por indústrias e muito menos barcos, ao contrário, prevalece a sensação de uma paisagem intocada.

“O Sena em Port-Villez” (1890) Fonte: Wikipedia
“O Sena em Port-Villez” (1890) Fonte: Wikipedia 

Giverny e a natureza domesticada

O tema do terceiro núcleo artístico das pinturas de Monet  é “Giverny: natureza domesticada”. O foco agora são os jardins, um refúgio escapista frente à modernização parisiense para o artista. Ele concebeu a jardinagem, uma outra paixão de sua vida, como pintura ao ar livre, uma fusão dos domínios natural e humano.

Em função da catarata, Monet ficou quase cego em seus últimos anos de vida, isso acaba se tornando perceptível em suas obras, a forma dos temas representados se dissolvia à medida que a definição da imagem cedia lugar aos efeitos das manchas na superfície da tela, como vemos no quadro “A ponte japonesa" (1918-1926).

 

  “A ponte japonesa" (1918-1926) Fonte: ArtsDot
  “A ponte japonesa" (1918-1926) Fonte: ArtsDot

 

Há um debate entre os historiadores da arte de que  a escolha de cores com tons mais saturados, sobretudo vermelho e amarelo, era feita para o pintor compensar a perda gradual da visão, afinal, as cores frias tornavam-se terrivelmente distorcidas.

E junto de uma nova escolha de cores, foi em Giverny que Monet dedicou-se às mais conhecidas obras de sua carreira: as enormes pinturas de ninfeias. As pinturas das plantas na lagoa em Giverny desafiam a estrutura tradicional de uma paisagem, em que chão e céu seriam divididos por uma linha do horizonte, ora localizada acima do centro da pintura, ora abaixo, mas raramente se aproximava dos limites da tela. Porém, nessas obras, o impressionista não aplica o esquema de perspectiva linear.

 

Da esquerda para a direita: quadro “A lagoa de Waterlily" (1904), “Pond With Water Lilies” (1907) e “Le Bassin aux Nymphéas” (1904) . Fonte: Divulgação/MASP
Da esquerda para a direita: quadro “A lagoa de Waterlily" (1904), “Pond With Water Lilies” (1907) e “Le Bassin aux Nymphéas” (1904) . Fonte: Divulgação/MASP

O Pintor Como Caçador           

O quarto momento temático das pinturas de Monet vem como "O Pintor Como Caçador". Em um momento de ascensão do turismo moderno, na segunda metade do século 19, Monet viajou pela França e países próximos. Ele buscava pintar os efeitos atmosféricos particulares de cada lugar.

Na costa da Bretanha foi o mar revolto que desafiou o pintor, já na Holanda, as cores dos campos de tulipas criaram um pretexto que antecipou o seu trabalho nos jardins floridos em Giverny e, em Normandia, destacou em suas pinturas as paisagens costeiras.

Passou a se aventurar por trilhas em busca de pontos de vista originais,  caminhar até um local que desejava pintar passou a influenciar a composição de suas obras, isso influenciava a própria presença do corpo do pintor imerso na paisagem pintada.

 

“A minha é uma vida de cão, e eu nunca paro de andar, eu subo e desço, por toda parte. Saio em explorações por todos os caminhos que encontro, sempre à procura de algo novo.”

                                                                                                                      -Monet, comentário do artista grafado na exposição

 

“Um Penhasco em Pourville pela Manhã”(1897). Fonte: acervo pessoal/Clara DellArmelina
“Um Penhasco em Pourville pela Manhã”(1897). Fonte: acervo pessoal/Clara DellArmelina

 

Na costa normanda da França, Claude Monet produziu um conjunto de seis telas pintadas a partir de um processo de produção em série, o artista levava para o campo diversas telas às quais dava início em momentos diferentes do dia, ou em questão de minutos, o que era o suficiente para haver alguma alteração de luz. Por exemplo, pela manhã, a vegetação sobre as falésias é banhada pelo Sol, assumindo cores alaranjadas e rosadas. Já a luz suave da manhã projeta a cor lilás dos penhascos.


“Neblina e Fumaça”

A exposição chega ao fim com “Neblina e Fumaça”. Aqui, Monet trata como tema central aquilo que durante muito tempo tentou ignorar em seus painéis: a modernidade. O ambiente das cidades passou a ameaçar a natureza idílica tão frequentemente tematizada na produção artística do período. 

Entre suas representações mais famosas desse mundo em transformação estão suas pinturas de Londres, como “A Ponte de Waterloo”(1903). O artista retratou a vista da ponte Waterloo da janela de seu hotel, às margens do rio Tâmisa. Apesar de ter iniciado as pinturas de Londres, as obras só foram finalizadas posteriormente, em Giverny.

“A Ponte de Waterloo”(1903). Fonte: acervo pessoal/Clara DellArmelina
“A Ponte de Waterloo”(1903). Fonte: acervo pessoal/ Clara DellArmelina

 

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Pela primeira vez após o incêndio, o público pode acessar três ambientes que ainda estão em reconstrução
por
Cecília Mayrink
Christian Policeno
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13/08/2025 - 12h

O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, reabriu as portas ao público no início de julho após ficar sete anos fechado por causa de um grande incêndio. A conclusão da reforma está prevista para 2027, mas os interessados já podem agendar a visita ao local e adquirir os ingressos gratuitamente.

O Museu é uma instituição autônoma, integrante do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O edifício foi fundado em 1818 e está instalado no antigo Palácio de São Cristóvão, que já foi residência da família real portuguesa e sede do Império do Brasil. Além disso, ele abrigava um acervo de mais de 20 milhões de itens antes do incêndio em 2018.

Desde 2021, a instituição vem ampliando sua coleção por meio do projeto “Recompõe”, que busca recuperar parte do acervo danificado. A iniciativa já reuniu mais de 14 mil peças e contou com o apoio de doações de outras instituições e de famílias que possuem itens de interesse público.

Pela primeira vez após o incêndio, o público pode acessar três ambientes internos que ainda estão em reconstrução, além de conhecer a exposição “Entre Gigantes: uma experiência no Museu Nacional”.

Entre os dias 2 de julho e 31 de agosto, os visitantes vão acompanhar os avanços no restauro do palácio; reencontrar o meteorito Bendegó; e conhecer o esqueleto de um cachalote, com 15,7 metros de comprimento. 

De seu acervo também destaca-se a coleção egípcia, considerada a maior da América Latina, além da coleção de arte e artefatos greco-romanos. As coleções de Paleontologia incluem o Maxakalissaurus topai, dinossauro proveniente de Minas Gerais. O mais antigo fóssil humano já encontrado nas Américas, conhecido como “Luzia”, por sua vez, pode ser encontrado na coleção de Antropologia Biológica. 

Nas coleções de Etnologia, há objetos da cultura indígena, afro-brasileira e do pacífico. Na área de Zoologia, destaca-se a coleção conchas, corais e borboletas, com mostras dos Departamentos de Invertebrados e Entomologia.

As visitas acontecem de terça a domingo, a partir das 10h, sendo a última entrada às 15h. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla e menores de 14 anos devem estar acompanhados por uma pessoa adulta responsável.

Relembre o incêndio

Em 2 setembro de 2018, o Museu Nacional foi atingido por um incêndio de grandes proporções, que afetou principalmente o setor do Paço de São Cristóvão. As chamas provocaram o maior desastre da história da instituição.

Documentos, livros e coleções desapareceram; salas de aula, arquivos e laboratórios foram reduzidos a cinzas. “Luzia”, considerado o fóssil humano mais antigo das Américas, foi encontrado entre os escombros e, após intensos esforços dos pesquisadores, cerca de 80% de seus fragmentos foram preservados.

A exposição composta por materiais frágeis e de baixa resistência, como plumárias, tecidos e madeira, foi totalmente destruída, com a maior parte não resistindo ao calor intenso. Itens tecnológicos, como computadores, mobiliário e documentos, também foram perdidos. 

Segundo o Museu Nacional, o Colégio Pedro II, localizado no bairro da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro, colaborou oferecendo espaço físico e apoio financeiro para que o museu pudesse, gradualmente, ser reconstruído.

De acordo com a Polícia Federal, o incêndio foi causado pelo superaquecimento de um dos aparelhos de ar-condicionado instalados no auditório térreo do museu. O laudo da PF também apontou falhas na rede elétrica, como a ausência de disjuntores individuais para cada equipamento e deficiências no sistema de aterramento. Além disso, a instituição não possuía um plano de prevenção e combate a incêndios, o que contribuiu para a rápida propagação das chamas.

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Novo disco da cantora é o primeiro após grande turnê mundial e promete retomar parceria com Max Martin
por
Luis Henrique Oliveira
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12/08/2025 - 12h

Na madrugada desta terça-feira (12), Taylor Swift anunciou o lançamento de seu 12º álbum de estúdio, intitulado “The Life of a Showgirl”. A revelação veio após o fim de uma contagem regressiva no site oficial da cantora, acabando exatamente às 00h12 no fuso-horário norte americano, 01h12 no horário de Brasília.

Combinado com o anúncio, um  trecho do podcast New Heights Show, apresentado pelos irmãos Travis e Jason Kelce, namorado e cunhado de Swift, mostra a cantora abrindo uma maleta e apresentando seu novo disco. A capa será revelada apenas nesta quarta-feira (13) durante sua participação especial no programa.

A cantora Taylor Swift no podcast New Heights Show, apresentando a capa de seu novo disco, porém borrada.
Taylor Swift faz anúncio de novo álbum em trecho divulgado de podcast. Foto: Instagram/@taylorswift

Taylor sempre deixou pistas antes de comunicar um novo projeto. No trabalho anterior, “The Tortured Poets Department” (2024), ela posava para fotos fazendo o sinal de dois, revelando mais tarde se tratar de um álbum duplo – e dessa vez não foi diferente.

Os rumores de um novo disco correm no mundo Swiftie (fãs da artista) desde o fim da The Eras Tour, quando a cantora apresentou um novo logotipo e passou a usar 12 letras para estender palavras simples (como prolongar o “d” em “god” nos stories do Instagram, por exemplo).

As especulações ganharam força na segunda-feira quando sua equipe de marketing postou nas redes sociais um carrossel de doze fotos suas usando roupas laranjas durante a última turnê, cor inédita dentre as que compõem a paleta dos álbuns anteriores, junto de uma legenda sugestiva: “lembrando de quando ela disse ‘vejo você na próxima era…'”. 

Após o anúncio, outdoors do Spotify foram colocados em Nova York e Nashville - cidade natal de Taylor -  a fim de divulgar uma playlist em conjunto da cantora, intitulada “And, baby, that’s show business for you” (“e, amor, isso é show business para você”, em tradução livre). Todas as músicas que estão presentes no compilado foram produzidas por Max Martin e Shellback, que trabalharam com Swift nos álbuns Red (2012), 1989 (2014) e Reputation (2017), sendo uma possível pista do que esperar do novo projeto.

Outdoor em Nova York com fundo laranja brilhante, no centro está o código para uma playlist exclusiva da cantora Taylor Swift
Playlist traz 22 faixas, presentes nos álbuns Red, 1989 e Reputation. Foto: Reprodução/X/@TSUpdating

“The Life of a Showgirl” será o primeiro disco da cantora após readquirir os direitos de seus seis primeiros discos, vendidos sem seu consentimento quando sua antiga gravadora, Big Machine Records, foi comprada pelo empresário Scooter Braun, em 2019.

Taylor conseguiu recuperar suas masters em maio deste ano, encerrando não só a luta para consegui-las de volta, mas também o projeto de regravação de suas músicas.

O álbum ainda não tem data de lançamento oficial, entretanto a previsão de entrega dos vinis vai para até o dia 13 de outubro.

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Compositor e cantor vivia com sequelas decorrentes de um AVC que sofreu em março de 2017
por
Bianca Novais
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08/08/2025 - 12h

A família de Arlindo Cruz anunciou a morte do compositor, cantor e instrumentista nesta sexta-feira (8), através das redes sociais do artista. Considerado um dos maiores sambistas do país, Arlindo vivia com a saúde debilitada desde março de 2017, devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico.

“Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria, que dedicou sua vida a levar música e amor a todos que cruzaram seu caminho", diz a nota de falecimento. O sambista morreu no hospital Barra D'Or, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

 

 

Arlindo Domingos da Cruz Filho nasceu na capital fluminense em 14 de setembro de 1958, no bairro de Madureira, Zona Norte da cidade. Em homenagem a ele, escreveu uma de suas canções mais conhecidas, “Meu Lugar”, parte do álbum “Hoje tem samba” (2002).

Tocava cavaquinho, banjo e ainda na juventude começou a se apresentar profissionalmente, enquanto estudava teoria musical na escola Flor do Méier. Nesse período, foi apadrinhado musicalmente por Candeia, outro renomado sambista carioca.

Estudou na escola preparatória para Cadetes do Ar aos 15 anos, em Barbacena (MG), mas logo voltou ao Rio. Passou a frequentar a roda de samba do Cacique de Ramos, onde tocou com Jorge Aragão, Beth Carvalho, Ubirany e Almir Guineto. Lá, conheceu Zeca Pagodinho e Sombrinha, que, à época, também eram revelações no mundo do samba.

Escreveu algumas músicas para outros intérpretes - “Lição de Malandragem” (David Correa), “Grande Erro” (Beth Carvalho), “Novo Amor” (Alcione) - antes de entrar no Grupo Fundo de Quintal, em 1981.

 

 

Ganhou notoriedade nacional durante os 12 anos na banda e gravou sucessos como “Só Pra Contrariar”, “O Mapa da Mina” e “Primeira Dama”. Em 1993, seguiu carreira solo e continuou nos holofotes, com várias músicas em parceria com outros gigantes do samba. Entre seus álbuns de maior destaque recente estão “MTV ao Vivo Arlindo Cruz” (2009) e “Batuques do Meu Lugar” (2012).

Sombrinha foi uma de suas parcerias mais frutíferas. Escreveram “O Show Tem Que Continuar” e “Alto Lá", também com Zeca Pagodinho. Com este, assinou a autoria de sucessos atemporais da música brasileira como “Bagaço da Laranja”, “Dor de Amor” e “Camarão que Dorme a Onda Leva".

 

Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Sombrinha e Arlindo Cruz em apresentação. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho cantando juntos. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Arlindo compôs mais de 500 músicas, segundo seu site oficial, incluindo sambas-enredo para escolas de samba do Rio de Janeiro: Grande Rio, Vila Isabel, Leão de Nova Iguaçu e Império Serrano, sua escola de coração e que o homenageou no enredo do carnaval de 2023. Mesmo com a saúde fragilizada, ele participou do desfile no último carro alegórico, com ajuda de amigos e familiares.

Em 2015, ganhou o 26º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Músico de Samba e é reconhecido como um dos responsáveis pela revitalização do gênero nos anos 1980. Seu último lançamento foi ao lado do filho Arlindinho, em 2017, gravado pouco antes de sofrer o AVC.

Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.
Arlindo Cruz em carro alegórico da Império Serrano, durante desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2023. Imagem: Instagram @arlindocruzobem.

 

Ele foi apelidado de “o sambista perfeito” por amigos e admiradores, em referência a uma de suas composições, em parceria com Nei Lopes. O apelido virou o título da biografia do músico, escrita pelo jornalista Marcos Salles e publicada em junho deste ano.

Arlindo Cruz era candomblecista, filho de Xangô, e atuava contra a intolerância religiosa. Ele deixa esposa, Babi Cruz, e três filhos: Arlindinho, Flora e Kauan.

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