Na última terça-feira (23), a convite do Centro Acadêmico 22 de Agosto, o comentarista esportivo Walter Casagrande Júnior participou de uma palestra na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para abordar o tema “Democracia, Futebol e Trabalho: o Futebol na Modernidade”.
A equipe de reportagem da AGEMT PUC-SP o entrevistou com exclusividade. Confira:
Favoritos
Com discurso semelhante ao do atual jogador do Paris Saint-Germain, Kylian Mbappé , para quem os europeus chegam mais prontos e por isso têm levado a melhor nas últimas edições, Casagrande cita as seleções europeias como as favoritas e justifica:
“Eu acho que as seleções europeias são as favoritas, mais do que Brasil e Argentina [...] O Brasil não joga com nenhuma seleção média da Europa faz 4 anos, e numa Copa do Mundo, é possível uma seleção europeia ser campeã sem jogar contra uma Sul-americana, mas o contrário, é impossível", pontuou. "Se você olhar o Campeonato Inglês, Eurocopa, Liga das Nações e comparar com a Copa América por exemplo, a agressividade é completamente diferente, intensidade de jogo é outra", completa o ídolo do timão.
Mesmo dando ênfase às nações do velho continente, Casagrande não descarta a seleção brasileira dentre os candidatos ao título.
“O Brasil tem um bom time. São 7 jogos, e se, se acertar, pode ser campeão porque é sempre considerado um dos favoritos. Tem peso, história da camisa e todos os caras respeitam", elucidou Casão.

Experiência x Inexperiência
Um dos assuntos tratados foi a inexperiência de alguns jogadores da seleção brasileira, que pode ser um problema durante a competição. Casagrande, que disputou o Mundial de 1986, compartilhou a sensação de estar representando sua pátria.
“A energia e a atmosfera são completamente diferentes, não existe nada igual. Você pode jogar qualquer campeonato, mas quando você chega na Copa do Mundo é outra parada, o mundo todo está olhando aquilo e você está defendendo seu país", contou.
O ex-atacante destacou os aspectos psicológicos e emocionais despertados por uma partida de Copa do Mundo, e disse ter preocupação com alguns atletas, em especial com o ponta direita Raphinha, recém-contratado pelo Barcelona, vindo do Leeds United, da Inglaterra
“É jovem porque nunca tínhamos visto jogar na seleção brasileira, daí foi convocado há pouco tempo pelo Tite, mas não é novo o suficiente pra você falar que talvez ele se assuste. O cara já tem 25 anos, vai jogar a primeira Copa do Mundo e ele está começando a disputar jogos importantes agora, que foi pro Barcelona", analisou Casagrande. "No Leeds, o campeonato inglês é difícil e tal, mas sempre jogando pra fugir do rebaixamento. Não está numa Champions, não cruza com grandes jogadores fora da Inglaterra, então pra ele, talvez possa pesar um pouco mais. Sobre a garotada, é questão de experiência, de pegar a primeira bola e ter confiança", concluiu.
Futebol X Política
Walter Casagrande Júnior está eternizado nos corações da fiel torcida. Com 256 partidas e 103 gols marcados, ele conquistou 2 títulos do Campeonato Paulista (1982 e 1983), sendo em 1982, o artilheiro da competição com 28 gols. Porém, há quem se engane ao achar que seus feitos se resumem somente dentro das 4 linhas.
Fora delas, Casão foi figura fundamental na luta pelo fim da ditadura militar com a famosa e histórica "Democracia Corintiana", movimento liderado por símbolos como o próprio Casagrande, Sócrates e outros atletas do plantel corintiano.
Mesmo depois de pendurar as chuteiras, o atual colunista do UOL Esportes não deixou de lado seu posicionamento político e suas críticas a sociedade.
Durante a palestra, Casagrande voltou a criticar o silêncio dos jogadores brasileiros após vivenciarem momentos críticos na pandemia e comentou a escassa postura deles sobre o atual estado do país.
“Parece que não, mas a gente vive numa democracia. Então, eles não são obrigados a se manifestar, porém, nunca falar nada, nunca tocar em nenhum assunto, faz falta porque o Brasil ainda é o país do futebol, e a voz dos jogadores tem eco. É muito importante que eles se manifestassem pelo menos em alguma causa social (racismo, homofobia, machismo etc.), já que isso não interfere na política”, finalizou.

Foto: Leonardo de Sá / AGEMT
Na última terça-feira (23) a convite do centro acadêmico 22 de agosto, da faculdade de direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) o jornalista esportivo Mauro Beting participou da palestra “Democracia, Futebol e Trabalho: Futebol na Modernidade”.
O jornalista conversou com a equipe da Agência Maurício Tragtenberg (AGEMT), entre os temas abordados estiveram a Copa do Mundo no Qatar e o desempenho da seleção brasileira. Veja a entrevista na íntegra.
Apesar de uma história vitoriosa, a seleção coleciona derrotas marcantes. Dentre essas, qual a mais dolorida? É possível uma revanche?
“O maracanaço, eu acho que é a única derrota que não tem como reverter no futebol, e se bobear em outro esporte coletivo-individual. Primeiro 200 mil pessoas você não vai ter em lugar nenhum do mundo. Um país que na fase final, meteu 7x1 na Suécia, 6x1 na Espanha. O Uruguai havia empatado. Quer dizer que o Brasil jogava pelo empate. Faz 1x0 com 2 minutos com o Friaça, toma o empate, e toma a virada. Não tem como. Nem se o Brasil vencesse em uma Copa no Uruguai, você poderia devolver.
O 7x1, acho que se o Brasil jogar uma semifinal em Berlim ou em Düsseldorf, ainda se dá para dizer chupa Alemanha. O maracanaço não tem como, o Uruguai um país que caberia na Zona Leste de SP, os caras já tinham 2 olimpíadas e 2 copas do mundo. 82 é dolorido pra caramba, junto com Hungria 54 e Holanda 74, outras grandes seleções que perderam. Perderam copas, mas conquistaram o mundo, mas o maracanaço não tem igual.
Até por se ter poucas imagens, uma outra época, 72 anos. O maracanaço não tem como repetir”.
Depois de 20 anos do penta, a copa de 2022 pode ser o palco para uma nova conquista, o hexacampeonato. Com tanta expectativa e euforia, quais são suas projeções para a seleção brasileira no Qatar?
“Embora palmeirense e jornalista esportivo, eu costumo ser otimista. Acredito que o Brasil vai ter pauleira desde o começo. Na história da seleção, quanto mais pauleira, maior a chance de ser campeão. Quando a gente vai incensado, como lamentavelmente foi em 1982, 2006, até 2018, acaba que o Brasil não vai tão bem. O Brasil tá indo com um desempenho muito bom, apesar de uma das piores eliminatórias que eu já vi na minha vida. Acho que a seleção tem bola para chegar na Copa, também porque não se tem uma grande seleção.
A França talvez esteja melhor do que esteve, porém desde 62 não se tem um bicampeão, além de também não ter um grande craque desequilibrante. Apenas Portugal com Cristiano e Argentina com Messi levam essa vantagem, mesmo com os dois em final de carreira. Acho que é a copa do Messi, a Argentina deve ir longe, até uma semifinal. O Brasil se tiver sorte, passa por um grupo mais difícil que 2018. Dando uma lógica, a seleção pega o Uruguai de cara. Vai ser uma pauleira, principalmente com essa geração uruguaia.
Depois, talvez, um confronto com a Espanha, seleção muito boa, muito bem trabalhada, mas muito jovem. De repente o Brasil passa. Numa semifinal pega a melhor geração portuguesa. Pode pegar uma Argentina com Messi, e a Argentina tá muito bem. E de repente pode ser Brasil e França, não acho absurdo o Brasil ganhar.
Em 2002 no penta, a seleção passou por 4 treinadores que convocaram 104 jogadores, para 18 partidas, o Brasil estava muito mal, mas foi o craque do mês. Como em 1982 o Brasil só perdeu para uma Itália, que naquela época, ganhou só 4 jogos, os 4 que precisava na Copa da Espanha. Muitas vezes a Copa é um festival de futebol, quase sempre [...]".

Foto: Leonardo de Sá/AGEMT
Recentemente o atacante Kylian Mbappé disse que a preparação das seleções europeias é melhor que a das seleções Sul-Americanas. O fato de as últimas quatro copas do mundo terem campeões europeus é uma confirmação disso?
“Isso eu confesso que também não sei a resposta. Se você for pensar pelos brasileiros, argentinos, uruguaios, (...) os caras tão cada vez mais na Europa. Pelo nível de competitividade era para eles estarem mais preparados, mas é interessante, acho que é meio que uma coincidência. Diferente do que a gente tem visto em campeonatos mundiais de clube. Desde a Lei Bosman de 1995, que permitiu que os clubes possam ter uma seleção internacional, você pode fazer um time como a Internazionale.
A Inter foi campeã da Europa e do mundo em 2010 com apenas 6 italianos, o começo do time era Júlio Cesar, Maicon e Lucio, quer dizer, toda uma base brasileira. Mas se pergunta: Por que esses caras em clubes rendem e na seleção não estão rendendo? Não sei. Realmente, a nível de seleção não sei explicar o porquê.
Se você pensar, todos os caras estão jogando lá, tem bons treinadores, acho o Tite um ótimo treinador, mas não rola. Eu sinceramente não tenho uma resposta para isso. Para os clubes é fácil, Lei Bosman ferrou, desequilibrou muito, mas para seleção confesso não saber".
Com nomes como Raphinha e Vinícius Júnior (herói do décimo quarto título de Champions League do Real Madrid) você acredita que uma “Neymar dependência” está menor comparado a 2014 e 2018?
“Grande questão, acho que sim. Eu não quero tirar o peso do Neymar, mas sim, dar mérito a ele. Nunca na história da seleção Brasileira, mesmo se você pegar lá em 30, quando eu ainda estava na faculdade, você pegava Domingos da Guia e Leônidas, depois Zizinho, Jair Rosa Pinto, Ademir, que foi o artilheiro na copa de 50 e do próprio mundial, sempre tinha 2, 3, 4, 5 ou 6 jogadores. Desde que o Neymar estreou em agosto de 2010, é Neymar e rapa. Você pode falar que é o Philippe Coutinho, mas muito abaixo dele, mas acho que nesse novo período, nesse novo ciclo é o Paquetá, até por que para mim o Vinícius Júnior teve poucas chances dadas pelo Tite.
Mas mesmo com a excelência do Raphinha que tá muito bem no Barça, e o Vinícius Júnior não precisa nem dizer, cara, não tem ninguém na altura do Neymar. O Neymar quase que carregou sozinho nas costas como ele levou a porrada do Zuñiga lá contra a Colômbia nas quartas de 14.
Então assim, o Brasil está criando maneiras de ser menos dependente do Neymar, mas não tem muito jeito, até porque não é só para a seleção agora com o Tite, é na história do futebol. Você tem o Messi, você vai ser dependente dele, você tem o Cristiano, você vai ser dependente, um Puskás, um Cruijff, um Rivelino. Mas realmente a discrepância, a diferença para usar do termo recente é um outro patamar do Neymar pro resto.
É Neymar e rapa, então realmente a gente tem ótimos jogadores. Quase todos que estão na copa serão, somente do meio pra frente, até do meio para trás, vai sobrar gente boa de fora da copa do Mundo. Mas do nível do Neymar, não, pois eu acho que o Tite tem trabalhado também nisso, não se livrar do Neymar mas tentar potencializar outros nomes.
É uma saída mesmo, se o Neymar tiver uma gripe, ou ficar rolando como não deve, vai ser muito complicado. Mas eu 'tô' muito animado, porque eu acho que o Neymar está muito preparado e muito focado para fazer a melhor copa dele (...).”
Por ser talvez a última Copa do Mundo de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, você acha que isso é um combustível a mais para a última dança dos dois?
“Com certeza, Last Tango, o último tango no Qatar e o último Fado, sei lá, embora o Cristiano a gente pode aguardar tudo, né? Para mim, o Cristiano é o maior atleta que já jogou futebol, não é o maior jogador, para mim quem mais jogou futebol nesse planeta é o Messi, porque o Pelé é de outro. E para mim quem mais jogou bola, que não é necessariamente jogar futebol é o Maradona.
Mas assim pode ser, e eu acho que as duas seleções podem se enfrentar na semifinal, por que tem muito potencial. É a melhor geração de Portugal, não necessariamente o melhor time, e a melhor Argentina, mais competitiva desde 2002.”