Relaxamento, contato com a natureza, um verdadeiro oásis em meio ao deserto mais populoso do país. Localizado na Zona Oeste da cidade de São Paulo e com mais de 130 metros quadrados, o Parque da Água Branca proporciona lazer e atividades culturais. Ao entrar no ambiente do parque o visitante dispõe de diversas possibilidades de entretenimento, como aquário, museu, parque de diversões, espaço de leitura e a casa do Cabloco.
Dentro das instalações do local, há um parque de equitação, em que são oferecidos cursos regulares durante todo o ano, inclusive para pessoas com deficiência física e das mais variadas idades. A opção do Aquário, possui peixes originários da bacia hidrográfica do estado e regiões próximas, no espaço de 30 viveiros é possível encontrar arraia, tilápia, piranha e uma diversidade de espécies. O Aquário funciona de terça a domingo, das 9 às 17 horas.
A casa do caboclo oferece uma experiência interiorana, com um cenário rústico, contendo fogão à lenha e mesas feitas de madeira para compor o ambiente. Próximo existe a trilha do Pau Brasil, e nela contém espécies de plantas nativas da Mata Atlântica.
Além disso, no parque de diversões que conta com brinquedoteca e espaço para leitura infantil que conta com leitores de histórias, e espaço playground. Também conta com programações de feiras em determinadas épocas do ano, com comidas típicas e muita diversão. Sem dúvidas é um Parque de importância histórica e social enorme, com opções de relaxamento e entretenimento para toda a família, ou até mesmo para todas as idades.
Presença ou ausência. Dois estados muito claros, está ou não está. Em uma chamada de escola, é um método simples para avaliar a frequência dos alunos. Mas para os professores, durante a pandemia, esses dois termos se tornaram bem mais profundos.
Todo dia, eles acordam, se preparam e tomam coragem para poder ensinar. Mas para quem? Para um monte de câmeras fechadas definidas por ícones? O estudante pode estar presente na sala on-line, mas ao mesmo tempo, está ausente. Ele está lá, mas não está. E o professor sente a ausência. Sente a falta da participação e do contato. Sente a falta dos olhos intrigados e confusos. Eles sentem.
Essa ausência, é uma sensação compartilhada fortemente por todos. Eles vivem na pele o sentimento da falta. A falta de tudo. De participação dos alunos, de preocupação do governo, de apoio, de energia. Todos esses elementos faltaram na chamada dos professores. Porém, eles ainda encontram forças para educar. Porque sabem que se pelo menos um estiver aprendendo, não estão falhando.
E essa é a realidade de Lucas Motte. Professor de 33 anos formado em História pela USP. Crescido nas ruas da Zona Norte de São Paulo, Lucas, na adolescência, aderiu ao movimento punk, e seguia-o firmemente. “Toda manhã, pra fazer o moicano, usava clara de ovo e sabão de coco” Ele comenta, em meio a risadas. “Eu dava só problema na escola, odiava estudar, era muito rebelde!”

Ironicamente, toda a revolta que possuía contra a educação fez ele procurar a profissão menos adequada neste contexto, a de professor. Logo quando se formou, em 2013, Lucas teve suas primeiras experiências em uma sala de aula com alunos muito mais velhos que ele. Motte começou dando aula no EJA (Educação de Jovens e Adultos). E lá, aprendeu tanto quanto ensinou. “O que eu vivi no EJA mudou minha vida.” Ele afirma. “Eu vi gente muito mais velha do que eu querendo terminar os estudos. Pessoas que não desistiram. Mesmo tendo abandonado a escola na infância, por precisarem trabalhar ou por conta de bullying, eles não desistiram. E foi aí que descobri que queria fazer isso pelo resto da minha vida.”
O amor pela profissão floresceu dentro dele, mas ainda não havia vivido o mais desafiador: ensinar a adolescentes. Após ser aprovado no concurso público, Lucas passou a lecionar em uma escola estadual na Zona Norte. Em seus primeiros meses, entendeu as dificuldades de ser professor, e sofreu. “Ninguém te ensina a ser professor na faculdade, você aprende na tentativa e erro. Tem dias que dá super certo, outros que dão tudo errado.”
O começo não foi fácil. Mas deu a ele maturidade. Passou a perceber o que funcionava e o que não. E foi assim que ele conseguiu desenvolver seu formato de dar aula – ou como ele prefere chamar – “O Método”. Lucas adora acrescentar a suas aulas a participação do aluno. Sempre foi muito aberto ao diálogo. Por isso, promove debates e rodas de discussões para instigar o pensamento crítico. Com “O Método”, ele ganhou muita popularidade entre os estudantes, dando voz a jovens que antes não tinham essa oportunidade.

Posteriormente, ele decidiu se arriscar no ensino privado. Entregou currículo na porta de mais de 40 escolas por São Paulo, e conseguiu ser contratado em 2015. Ainda com seu “Método”, conquistou o carinho de seus alunos na educação particular. Estabeleceu uma boa relação com a diretoria dos colégios que trabalhava, participou de projetos extracurriculares e criou amizades, isso tudo até março de 2020.
A Covid-19 já havia chegado no Brasil, e estava devastando o resto do mundo. Ele sabia o que a doença poderia fazer, mas não esperava. Ninguém esperava. As primeiras semanas de quarentena foram caóticas na escola privada que Lucas trabalha. O completo desconhecimento do novo coronavírus deixou sua diretoria perdida. E o desconhecimento gerou o medo. E o medo gerou o autoritarismo de seus superiores. No antigo ambiente em que os professores tinham abertura para fazer sugestões e tomarem decisões, agora imperava apenas as “ordens de cima”.
Para Motte, foi terrível. Sendo uma pessoa aberta a diálogo, não poder ser ouvido só agravou a situação para ele. E ainda assim, a escola manteve a carga horaria que tinha no presencial. Mesma quantidade de conteúdo para ser passado em uma aula online reduzida de 40 minutos. E no fim de semana? Lucas vivia preparando trabalhos e corrigindo atividades. Estava à beira do colapso. “Passava das 7h às 17h dando aula. Eu não conseguia dormir depois. Precisava descansar, mas a cabeça não parava.”
A situação era caótica no ensino privado, mas e no público? Era pior, bem pior. Nos primeiros dias, as aulas foram canceladas e o governo não dava pistas de encontrar alguma solução. Lucas e seus colegas professores da Escola Estadual Prof.ª Veridiana Gomes – no bairro do Jardim Brasil – tentavam achar alternativas. “Sabíamos que a defasagem seria gigantesca, na verdade, está sendo. No começo, os trabalhos e atividades eram enviadas pelos próprios WhatsApp e Facebook. E quando tentamos fazer um sistema de aulas online, a maioria dos alunos não conseguiam assistir.”
As razões dos estudantes não irem para as aulas on-line eram diversas, como afirma Lucas: “Além de alguns não terem um acesso bom a internet, muito deles tinham que trabalhar ou cuidar de casa enquanto assistiam a aula. Já vi aluna cuidando de irmão de colo e aluno fazendo entrega de delivery enquanto ouvia aula. Era inviável.”
Depois de algumas semanas do início da quarentena, o governo trouxe um projeto. Um único professor seria responsável por dar aula para todo estado. Eram cerca de 40 mil alunos na chamada de vídeo. E, por volta, de mil comentários por segundo. Preciso dizer que deu errado?
A insatisfação com esse formato fez Lucas ter uma ideia. Com o grêmio estudantil que ele elaborou na escola particular, ele pensou em expor a situação da rede pública. Só que usando o espaço da rede privada para isso.
Mas como? Motte e o grêmio elaboraram um projeto. Uma discussão sobre a crise da educação no Brasil. A ideia era fazer uma live no perfil oficial da escola no Instagram e trazer três pontos de vista. Primeiro, trariam um estudante da rede pública. Em segundo, um aluno da rede privada como mediador. E por fim, Lucas, com a visão de um professor que vivia as duas realidades.

Com o consentimento da diretoria da escola, a entrevista aconteceu. E foi um enorme sucesso para todos. Para escola, com a transmissão batendo recordes de acesso. Para os alunos, que puderam se expressar e serem ouvidos. E para Lucas, que conseguiu unir dois mundos diferentes e expor a realidade da educação pública no país, naquele momento.
E, ainda em 2020, com baixíssimas chances de retorno das aulas presenciais, Lucas lecionou de casa. E em meio a tudo, conseguiu se adaptar. “Não foi fácil, mas me adaptei melhor do que eu esperava”
Mas ele destaca outra questão decorrente do ensino à distância: a invasão de privacidade. “Meu maior problema é a exposição. Porque em um sistema de aulas online, você fica vulnerável a expor sua casa, sua família, sua privacidade. Isso, de alguma forma, acaba me incomodando.”
Agora em 2021, com o retorno das aulas presencias, os professores voltam aos colégios para lecionar, o que facilita muito as coisas para eles. Além de reduzir a exposição de suas privacidades, esse retorno fornece aos educadores respiros. Como diz o próprio Lucas: “Poder ver os alunos novamente, com os próprios olhos, é a maior satisfação. Acabar a aula sabendo que cumpri meu dever.”
E, mesmo com as dificuldades de ensino, a rede estadual também está aplicando o sistema presencial “Poucos ainda aparecem. Em um total de 1000 alunos na escola, 30 comparecem.” Afirma Motte, e explica: “Os pais perceberam que o colégio não tem condições de manter todos os protocolos de segurança, por isso, não cogitam levar seus filhos.”
Lucas ainda afirma que por conta do baixo número de estudantes, os casos de contaminação na escola são baixíssimos, e ainda destaca o outro ponto importante: a carência desses jovens. “. Dá para perceber essa carência em todos os aspectos, desde o ensino até as amizades deles. Então, até mesmo quando você propõe coisas simples, como ter aula na biblioteca ao invés da própria sala de aula, os olhos deles brilham. Como se fosse algo que eles precisassem muito. É emocionante.”

E também, a ausência que os professores sentiam ainda existe, mas está se desfazendo lentamente. A atenção dos alunos está voltando, mas lentamente. A educação está retornando, mas ainda lentamente. Tudo poderia ter sido feito antes, mais rápido. Mas não foi assim que nossos governantes lidaram com a pandemia. O regresso a vida como era antes é lento.
E, apesar de tudo, Lucas Motte sobrevive a pandemia de Covid-19. Mas, agora, as faltas diminuíram em sua chamada e de seus colegas professores. Agora eles não são mais ignorados. Seus alunos voltaram a ter rosto e eles já conseguem sentir o cheiro de giz e ouvir o sinal tocando. Agora, a escuridão está desaparecendo. E os professores renascem. Muito mais fortes.
“Vida longa à brincadeira” discute as dificuldades de se conservar a ludicidade em uma sociedade que valoriza apenas o aspecto racional do ser humano. A fim de provar que o ato de brincar não é restrito à infância, as alunas do curso de jornalismo Esther Ursulino, Gabrielly Mendes e Laura Lima intercalam depoimentos de crianças, adultos e idosos, construindo pontes entre todas as fases da vida.
Para discutir a temática participam também Rita de Cassia Oliveira, doutora em antropologia e professora da PUC-SP; Lúcia Helena Rangel, doutora em Ciências Sociais; e Anna Maria Pereira, pedagoga e fundadora do Colégio Viver.
Clique aqui para conferir “Vida longa à brincadeira”, disponível no YouTube.
Por Gabriella Maya
Os veículos de comunicação oprimem e controlam o corpo e a aparência das mulheres desde o seu surgimento, criando padrões de beleza praticamente inatingíveis e escravizando mulheres. Hoje, na era das redes sociais, essa questão se intensifica, com influenciadoras digitais e ‘publis’ de cirurgias plásticas aparecendo na nossa tela quase que diariamente.
O Instagram é o quarto aplicativo mais baixado e usado no mundo, e também o mais problemático de todos eles. Nele é possível selecionar constantemente, e com cuidado, o que se quer postar e qual parte da vida compartilhar com os seguidores, sempre na procura por elogios, curtidas e novos seguidores.
Os filtros do Instagram começaram como uma forma divertida e inofensiva de "se fantasiar", com orelhinhas de cachorro, bigodes de gatinhos e óculos divertidos. Mas não demorou muito para surgiram os efeitos que transformassem completamente nossos rostos, aumentando a boca, afinando o nariz, puxando os olhos e maquiando a pele. O efeito "Kardashian" se popularizou no mundo inteiro e a Internet como intensificadora da sociedade e de suas rupturas, demonstrou isso como nunca antes.
Por mais inofensivos que os filtros do Instagram possam parecer, eles transformaram a forma como as pessoas se enxergam ou como elas gostariam de serem vistas. Hoje em dia postar uma selfie sem nenhum filtro ou edição, se tornou um ato de coragem e quase um posicionamento político. As pessoas olham para suas imagens deformadas na tela do celular e enxergam isso como um upgrade de si mesmo, comparando sua real aparência com a versão computadorizada e nada humana que os filtros nos oferecem.
Para refletir sobre essa questão, Maria Rosa Gomes e Andressa Bastos, duas psicólogas que tratam principalmente de questões sobre autoestima.
AgeMT: Na era das doenças mentais e baixa autoestima, na sua opinião profissional, os filtros do Instagram são um problema para a autoestima dos jovens?
Maria Rosa Gomes: É interessante ressaltar que o uso dos filtros nos apps inicialmente tinha a proposta de diversão, era usado para brincar com amigos trocando partes do corpo humano como por exemplo o nariz, pelo nariz de um de gatinho. Porém com o passar do tempo foram sendo disponibilizados filtros para eliminar “imperfeições”. Mas essas correções começaram a se tornar uma mania entre os jovens. Existem aqueles que já apresentavam problemas com autoestima e por isso faziam uso dos filtros, e aqueles que estavam bem com sua aparência, mas que com o tempo passaram também a se sentirem diferentes e fora do padrão estético. Então a resposta a essa pergunta é sim, eles são um problema, entretanto eles não são sua causa mas sim seu recurso, o qual é facilmente disponibilizado e que colaboram, e muito, para que os jovens se sintam inadequados e busquem por uma perfeição que na verdade não existe.
Andressa Bastos: Sim, eles são um problema, porque ali é como se fosse a busca pela pele perfeita, rosto perfeito, mostrar que estar sempre bem, mas quando na verdade, na adolescência, com a entrada da puberdade e todas as transformações de mentalidade, sentimentos e fisiológicos trazem uma série de transformações e qualquer defeito e imperfeição, que principalmente as meninas apresentam, elas tendem a se comparar com colegas. Os filtros ajudam os jovens a se sentirem mais porém estão mascarando uma realidade.
AgeMT: Por que será que as pessoas sentem essa necessidade de se esconder por trás de uma máscara?
Maria Rosa Gomes: Vivemos em uma sociedade competitiva em que a indústria da beleza ganha milhões por ano com produtos cosméticos, roupas, acessórios e cirurgias plásticas. O ser humano está sempre a procura de ser aceito e amado e quando chega na adolescência essa busca se torna mais urgente pois precisam encontrar seu lugar, seu grupo, se firmarem, serem aceitos. Quando entram numa rede social e percebem que são muito diferentes do que vêem, usam as “correções” dos filtros para buscarem uma “perfeição”, querem se sentir adequados a um padrão de beleza irreal criado em uma realidade virtual. Ter uma boa auto-estima e assumir suas próprias características físicas e de comportamento é uma construção que começa desde criança e é validada pelas pessoas significativas de sua vida.
Andressa Bastos: Pois é mais fácil de lidar com um mundo, principalmente nessa era digital que estamos vivenciando, onde tudo é informatizado, e as relações estão cada vez mais virtuais. Então as pessoas vestem uma máscara social para poder se relacionar com as pessoas e com o mundo. Elas sentem essa necessidade, porque ali elas podem colocar máscaras e fingir ser algo que não são.
AgeMT: O número de cirurgias plásticas em jovens tem crescido de maneira surpreendente. O aumento foi de 140% só em 2021. Acha que as redes sociais influenciaram nesse crescimento?
Maria Rosa Gomes: Sim. Fazer postagens recorrentes de fotos com filtros e ficar olhando para elas leva os jovens a uma comparação da imagem real com a imagem criada, passam a admirar a imagem criada e não se reconhecerem mais na imagem real. A cada vez que se olham no espelho passam a observar e desejar corrigir o “defeito” que vêem. Existe um transtorno chamado Dismórfico, nele a pessoa tem um foco obsessivo em um “defeito”, que pode ser pequeno ou imaginário, mas a pessoa passa horas por dia tentando corrigi-lo. Sendo assim estamos diante de uma questão importantíssima que requer atenção de pais, amigos, professores ou qualquer pessoa que perceba um comportamento exacerbado de um jovem nesse sentido.
Andressa Bastos: Sim, as redes sociais nos aproxima de artistas e de pessoas que são consideradas padrões de beleza, e fazemos sempre essa comparação. Ficamos frustradas que não somos bonitas igual a artista que seguimos. Acompanhar essas pessoas com milhões de seguidores, considerada um ícone, uma pessoa bela, nos gera essa vontade de estar consertando o corpo. Queremos uma cirurgia de nariz, diminuir os seios, aumentar os seios, fazer lipo, deixar a cintura fina, enfim, muitos detalhes do corpo que não precisariam ser um problema, mas acabam sendo com essa comparação do ‘padrão de beleza’, onde quem está fora se tornar feio e precisa se corrigir para se tornar bonita, então as redes sociais influenciam muito essa necessidade de inclusão.
No Instagram todos são perfeitos, ne? Precisamos nos conscientizar quanto à essa cultura doentia das redes sociais. Tá tudo bem não ter a pele perfeita, o corpo perfeito, afinal, quem decide o que o 'perfeito' não é mesmo?
O Brasil tem hoje uma política atrasada e retrógrada no que se diz ao combate as drogas. Com o apoio da ideologia conservadora ministrada pelo governo Bolsonaro, o país ainda aposta na guerra e no combate armado, deixando de lado qualquer relação com o prisma da saúde pública.
No entanto, para que se possa fazer uma análise efetiva, é preciso entender como nossa política chegou nesse estado de repressão. Na década de 1970, o “problema das drogas’’ se tornou pauta internacional quando o presidente americano Richard Nixon declarou que o abuso de drogas era o inimigo número um dos Estados Unidos da América. A partir desse ponto, formou-se uma aliança com os países integrantes da ONU, que interpretaram e declaram quais substâncias psicoativas eram legais e quais eram ilegais.
Já na década de 1980, foi a vez do presidente Ronald Reagan declarar que a tolerância ao uso de drogas deve ser zero. E que as consequências para aqueles que usarem, comercializarem e distribuírem substâncias ilícitas seriam severas. A partir desse ponto as condenações em massa causa uma explosão na população carcerária.
Dessa forma, iniciou-se um combate extremamente custoso e que efetivamente, não estava diminuindo o tráfico, a grande realidade é que o combate intensivo sofisticou e modernizou o mercado ilícito, encareceu os produtos vendidos e proporcionou uma nova era de “barões da droga’’.
As nações foram pouco a pouco percebendo que o combate armado não era efetivo, já que o uso de drogas estava só aumentando e as mortes por overdose e outras consequências do uso contínuo estavam acontecendo em pessoas cada vez mais jovens.
Portugal é um exemplo perfeito para se explicar o porquê da redução de danos, do apoio ao usuário e da discriminação das drogas serem um caminho efetivo para se controlar a epidemia de uso.
No ano de 2001, nosso país colonizador decidiu parar de tratar usuários como criminosos, descriminalizando o uso e a posse de todas as drogas. Essa foi uma maneira de se contornar o fracasso do combate direto que se deu na década de 1990.
Nesse período Portugal vivia uma epidemia de heroína, o uso estava descontrolado, e estima-se que na época, uma a cada cem pessoas era dependente de heroína. A alternativa então foi acolher, apoiar e reduzir os danos, dessa forma, a política pública passou a tratar o usuário como doente e não como criminoso.
Mesmo sendo um exemplo efetivo de como lidar com esse problema, muitos países continuam apostando nessa guerra irracional, um exemplo, o Brasil. E aqui, a reportagem irá analisar as consequências e os danos causados ao tecido social, nessa aposta cega e cara.
Apenas em agosto de 2006, o Brasil deixou de considerar usuários como criminosos. O Art.28 da Lei de número 11.343 do código penal determinou que aqueles que forem apanhados fazendo o uso ou com a posse de drogas ilícitas deveriam assinar o artigo, porém não poderiam ser presos, apenas teriam de prestar serviços sociais ou pagar algum tipo de multa para o Estado.
No entanto, o problema desse artigo está localizado em seu segundo parágrafo, em que diz que a determinação do destino da substância se submete a interpretação do juiz, o qual analisará “à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.” Ou seja, existe uma enorme diferença entre um branco classe média sendo abordado com 10 g de maconha em Higienópolis e um preto periférico sendo abordado com a mesma quantidade no Capão Redondo.
Tendo em vista que o Brasil é o segundo país onde mais se consome maconha e cocaína no planeta, um país com uma população periférica exorbitante, as condenações por tráfico de drogas (enquadrada no Art.33 do Código Penal) são as mais presentes no sistema carcerário.
Segundo dados divulgados pelo G1, no ano de 2017 um a cada três presos no país respondia por tráfico de drogas. E ao observar que temos a segunda maior população de detentos do mundo, percebe-se que realmente tem algo de errado. Já que tantos traficantes estão presos, como o comércio, a distribuição e o consumo estão em níveis tão altos?
A resposta para essa questão não é tão simples, já que existem muitos fatores contribuintes para essa situação alarmante. No entanto, aquilo que destaca o fracasso da guerra as drogas, é o mal direcionamento das buscas e apreensões.
Enquanto a polícia militar enquadra traficantes “pé de barro”, ou seja, pessoas que estão na periferia trabalhando de aviõezinhos, fogueteiros, traficantes do chamado baixo clero, e até mesmo determinando tráfico no flagrante sem nenhuma prova que aquela pessoa estava realmente traficando drogas. Deixa-se lado os reais cabeças do tráfico, aqueles que estão em postos de alto escalão no governo, em grandes empresas etc. São eles os responsáveis pela entrada e distribuição de drogas no país. No entanto, esses são os mesmos que comandam a política nacional e lucram com o combate armado e a morte de policiais, criminoso e civis.
Para uma análise mais humana e menos numérica, a reportagem entrevistou duas pessoas que representam dois lados distintos da mesma moeda. Um policial e um traficante. Ambos não quiseram ser identificados, por isso foram dados nomes ficcionais.
O policial Fábio, 29, tem uma opinião progressista e racional sobre a criminalização das drogas. Para ele, a legislação é inadequada, “mais atrapalha do que ajuda (...) ou mantemos esse mercado na ilicitude provocando violência ou legalizamos”. Essas afirmações vêm de uma pessoa que está na linha de frente da batalha. Uma pessoa que vê o desperdício de tempo, dinheiro e vidas em uma luta a qual não se combate nada. Na visão do entrevistado, integrante de uma instituição retrógrada e punitivista, é nosso dever “lutar por uma legislação que nos permita realizar um enfrentamento mais do que eficaz, um enfrentamento real e científico. Um enfrentamento somente no ambiento penal (prender, processar e julgar) de nada resolverá, apenas ajudará e/ou auxiliará senão no extermínio da juventude preta e periférica.”
Do outro lado da moeda, o traficante de luxo, Márcio, 24, diz não ter opinião formada sobre uma possível descriminalização das drogas. Márcio se diz um traficante de luxo, já que faz suas vendas por delivery. Ou seja, ele claramente atende uma parcela selecionada de usuários, que compram drogas de qualidade muito superior comparadas as vendidas em biqueiras convencionais espalhadas pelo Brasil. Para Márcio, que há 10 anos além de vender cannabis, cultiva em seu apartamento em São Paulo, a descriminalização poderia ser uma deixa para pessoas que hoje são consideradas criminosos, se tornarem simples cultivadores, que plantam e cultivam sua planta para fins recreativos.
A guerra que se instaurou no país parece estar longe do fim, mesmo com inúmeras propostas apresentadas no Congresso e no Senado, as autoridades parecem não se preocupar com um problema gritante que já demonstrou não se encolher diante da política combativa.
Ou até se preocupam, mas o muro do conservadorismo e do obscurantismo cruel da sociedade brasileira barram qualquer tipo de proposta progressista.
Nosso país vive hoje um genocídio da população negra periférica, as grandes cidades sofrem com a epidemia de crack, pessoas cada vez mais jovens estão usando drogas cada vez mais pesadas tendo em vista que boca de fumo não pede RG. E à medida que a questão fica mais popular e a pauta começa surgir em grande escala em manifestações populares como a “Marcha da Maconha” , percebemos que a política reacionária de Jair Messias Bolsonaro, sua trupe de negacionistas, a chamada bancada da bala e a bancada da Bíblia impedem qualquer discussão racional e razoável sobre uma questão tão grave que atinge a saúde pública de uma nação inteira.