Psicóloga explica as motivações emocionais e sociais que levam a este comportamento
por
Cecília Schwengber Leite
Helena de Paula Barra
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12/06/2025 - 12h

Nos últimos meses viralizaram na Internet diversos casos de “mães de bebê reborn”, em que mulheres adultas faziam vídeos cuidando e interagindo com as bonecas artesanais realistas como se realmente fossem suas filhas, dividindo opiniões sobre tal comportamento. A polêmica se acentuou quando começaram a surgir mulheres levando suas bonecas para supostamente serem atendidas em postos de saúde, ou até brigando pela sua guarda na justiça. Para entender melhor o assunto, ouvimos Kelly Vieira Ramos, psicóloga e especialista em análise do comportamento, em entrevista à AGENT. Para assistir ao vídeo, acesse o link:

 

Os famosos LPs batem recordes de venda e voltam a fazer sucesso, inclusive com as novas gerações
por
Helena Costa Haddad
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11/06/2025 - 12h

Revolucionando a indústria musical, os discos de vinil, criados em 1948 por Peter Carl Goldmark e Columbia Records, mudaram a forma de distribuição musical e marcaram a cultura mundialmente. No Brasil, eles chegaram em 1951 com o disco Carnaval em ‘long playing’ (tradução da sigla LP) e se mantiveram no auge até a década de 1990, quando os CDs apareceram para substituir os discos. Nos anos 2000, as mídias digitais tiveram seu boom e o streaming conquistou o público.  

Mas apesar das plataformas de streaming estarem em alta, jovens, que nem viveram a era dos LPs, começaram a procurar vinis e muitos novos artistas também estão atrás desse método de distribuição. Em 2024, um levantamento da Pró-Música Brasil mostrou que os discos de vinil representam 76,4% da venda de mídia física no país, os correspondentes a R$ 16 milhões. 

discos na galeria
Zeitgeist Music, Galeria do Rock. Imagem: Helena Haddad

Marco Antônio Cunha, vendedor desde 1984 na Galeria do Rock, no centro de São Paulo, contou que viveu a transição vinil para CDs e que agora, voltou a vender discos. “Agora, os discos pop de artistas internacionais são os mais procurados. Vamos atrás de fornecedoras e pagamos taxas altas, o que encarece muito, mas, é o que mais sai”. Discos como Brat, de Charli xcx e Mayhem, de Lady Gaga estão nas prateleiras e são sucesso de vendas garantido.  

 

O desafio da produção interna e das taxas 

Em março deste ano, o ministro da Fazenda Fernando Haddad comentou que iria tentar zerar a importação de discos de vinil.  “Eu nem sabia que disco era tributado, porque livro não é. Compro livro importado e nunca paguei tributo. Prometo ver isso, com carinho. Vou discutir com o Barreirinhas [secretário da Receita Federal]”, prometeu o ministro no Podcast Inteligência Ltda.  

Para Marco, a promessa do ministro não deve ir para a frente “no ano passado, elas [as taxas] foram cobradas fielmente. Como existe há muito tempo, duvido que vão diminuir ou zerar”. Francisco Troia, vendedor de vinil há cinco anos fala desse momento com curiosidade e concorda com a problemática das taxas: “os jovens redescobriram os vinis, eles estão se interessando mais. Procuram garimpos e discos novos, principalmente pop internacional, Taylor, Lady Gaga etc. Às vezes, alguns clientes pedem discos específicos e a gente vai atrás. A venda aumentou muito com os jovens. Mas a alfândega é um empecilho. Tudo fica caro com as taxas.”.  

O vendedor também trouxe outra questão: a falta de fábricas de vinil no Brasil, que dificulta e encarece o projeto de novos artistas. “A demanda é muito grande nas fábricas, tem uma fila extensa. Só que quando eles fazem, é em pequena quantidade o que deixa o produto muito caro, quase no preço dos discos importados.” 
 

Gen Z e os vinis 

Os jovens André Paz e Igor Pimentel, ambos com 19 anos, são colecionadores e contaram um pouco sobre essa jornada. “Foi uma forma de me manter mais próximo dos artistas que eu gosto, me sinto mais conectado com a música, além da estética que me agrada muito”, comenta André. “Acho que na vitrola você percebe sons que no spotify não são perceptíveis. O som é mais claro”, complementa Igor.   

Já sobre os impostos, a resposta é unânime, apesar de ter mais sites, lojas, facilitando a compra, as taxas são “absurdas e desanimam”, como diz Igor. André, apesar de ter muitos discos importados, tem o costume de comprar discos nacionais: “Minha coleção é balanceada, tenho a discografia solo da Marina Sena completa em vinil. E já garimpei alguns.” 

A nova onda reafirma a relevância do vinil e devolve à discussão elementos como a qualidade do som e a experiência de ouvir música em si. Para os mais jovens, a prática também ajuda a reconectar com os hábitos dos seus pais, que muitas vezes passaram essa paixão para as gerações seguintes.  

A crise anunciada pelo vício em apostas online que atinge jovens e crianças
por
Leticia Falaschi
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10/06/2025 - 12h

O cenário quase que epidêmico gerado pelos aplicativos de aposta no Brasil desestabilizou diversas esferas da vida da população. Desemprego e a desigualdade econômica viram combustível para as empresas que operam as bets. Segundo uma pesquisa publicada em abril pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), 10,9 bilhões de brasileiros com mais de 14 anos de idade apostam de forma descontrolada em jogos de azar, dados esses pertencentes a terceira edição do Lenad (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), realizado entre 2023 e 2024. Os números, que crescem exponencialmente, alertam profissionais da saúde, principalmente na área da psiquiatria e psicologia.

Em contrapartida, a legalização de algumas plataformas parece não estar de acordo com o estado preocupante indicado pelo sistema de saúde brasileiro. A complexidade se encontra, principalmente, no perfil do público mais afetado pela jogatina. O estudo da Unifesp mostra que 1 a cada 8 desses 10,9 bilhões apresentam dinâmica mais comprometedora com as apostas, se enquadrando em diagnósticos de transtornos comportamentais ligados ao vício.

Segundo a psicóloga clínica Elen Ribeiro da Silva, formada pela Universidade Paulista (Unip), em entrevista à AGEMT, existe uma combinação de fatores que afeta, principalmente, classes socioeconômicas mais vulneráveis.  “Qualquer pessoa tem fácil acesso às apostas, e num país com altas taxas de desemprego e subemprego e com tantos brasileiros sem educação financeira, a promessa de se ganhar a vida em apostas online é muito atrativa, principalmente para aqueles em cenários financeiros mais delicados.”, afirma a entrevistada.

A conjuntura de descrença e crise na economia acabaram cooperando para que a febre das bets tomassem conta da vida dos brasileiros, uma ilusória perspectiva de vida. Segundo o Lenad, a dependência em jogos de aposta fica atrás somente do álcool e do tabaco, superando o vício no crack e na cocaína da população. As empresas usam mecanismos que fomentam a vontade de jogar, operando de forma apelativa, bombardeando o usuário com incentivos enganosos.

“Essas plataformas funcionam estimulando sistema de recompensa do nosso cérebro e com liberação de dopamina, o que se assemelha com a dinâmica neuroquímica causada pelo uso de drogas.”, explica a psicóloga.  A falta de regulamentação dessas operações, que lucram com o desespero dos brasileiros, assim como a publicidade predatória são fatores que podem estar relacionados com o imenso número de jogadores. 

Segundo Elen Ribeiro, a ludopatia (ou o jogo patológico) é um transtorno comportamental grave já reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e já indicado no Manual de Diagnósticos Estatísticos de Transtornos Mentais (DSE-5) e é muito ameaçador pelo padrão comportamento compulsivo em apostas, mesmo diante de todas as consequências negativas. “É um pulso muito grande que foge do controle do jogador. Inicialmente vemos as perdas financeiras e endividamento, vêm os comportamentos ilegais... aí entra um fator ainda mais perigoso, que são os pensamentos suicidas, gerados pela desesperança em sair da situação. Muitas vezes, o indivíduo tem perda total da identidade", alerta Ribeiro.  

O sistema público de saúde sofre uma grande ameaça com o aumento de viciados em apostas, principalmente por ser uma patologia enquadrada no campo da psiquiatria. A rede de atendimento psicológico na saúde pública já é extremamente sobrecarregada, e a falta de estrutura para lidar com transtornos comportamentais é maior ainda. Os Centros de Atendimentos Psicossociais, os CAPS, um dos poucos centros públicos efetivos de tratamentos, têm uma grande demanda para tratar pacientes com vícios ligados ao álcool e as drogas, o que, somado ao sucateamento, deixa os tratamentos a outros transtornos em segundo plano.

É mais uma demanda para o Sistema Único de Saúde (SUS), ainda mais quando o público mais afetado não tem acesso a serviços de saúde privatizados.  A maioria das pesquisas especificadas para analisar o fenômeno vieram depois do aumento expressivo do número de viciados, não houve uma análise prévia à inundação das bets. Os poucos dados dos efeitos desse vício, usados em estudos de possíveis tratamentos, são de pessoas que buscam ajuda em centros clínicos, ainda há uma imensa parcela de indivíduos e dados que não foram analisados. Ouça aqui a entrevista completa. 

 

Como memórias viraram tendência e movimentam bilhões no mercado cultural
por
GUILHERME PERIOTTO KATINSKAS
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09/06/2025 - 12h

Tênis antigos, brinquedos de infância, filmes que voltam com nova roupagem. A nostalgia virou um dos motores mais fortes da cultura pop e do consumo. Mas por que buscamos tanto o que já passou? Neste vídeo, investigamos como a memória virou mercadoria, para isso tive uma conversa com quem vive disso: um jovem artesão que transforma saudade em bonecos. Assista

Podcast analisa a nova legislação implantada e como ela influencia a rotina de alunos, professores e a dinâmica da aprendizagem
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
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01/06/2025 - 12h

Com o avanço da tecnologia e a popularização dos smartphones, o uso de celulares dentro das escolas se tornou uma questão mais discutida por educadores, pais e autoridades. De um lado, o aparelho pode ser uma ferramenta de apoio ao aprendizado, de outro, representa uma grande fonte de distração. Diante desse cenário, foi sancionada em janeiro de 2025 Lei que regulamenta o uso dos celulares nas instituições de ensino, estabelecendo critérios claros para garantir que a tecnologia seja utilizada de forma responsável e educativa, sem comprometer o rendimento escolar nem a convivência dentro do ambiente acadêmico.

Para discutir sobre essa questão e como ela funciona na prática, trouxemos duas convidadas para o nosso POD Conta Aí. A professora da rede particular, especializada em orientação de alunos, Adriana de Moraes, e Lara Miyazaki, aluna da rede pública, que apresenta sua perspectiva sobre o uso dos celulares em sala de aula. Para acompanhar esse bate papo, acesse abaixo o Spotify

 

Centenas de vestidos são utilizados apenas por uma noite: veja como é possível reverter esse cenário do Oscar
por
Ana Beatriz Villela
Kiara Elias
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05/04/2022 - 12h

Um dos momentos mais esperados em todas as premiações do Oscar é o “red carpet” (tapete vermelho), onde os indicados ao prêmio e os convidados do evento posam e exibem seus looks desenhados por estilistas renomados. A edição do último domingo (27/03) foi ainda mais especial por ter sido o retorno desse desfile à premiação desde a suspensão pela pandemia de Covid-19. Além das roupas apresentadas na premiação temos também as do after party. Todo ano centenas de vestidos são produzidos para serem utilizados somente por uma noite, isso ocorre pois existe uma ”tradição” de não repetir uma roupa que já foi usada em outro evento, mesmo que em outro ano.

Mona Hammoud, estudante de moda da FAAP, comenta que “o fato desses artistas não repetirem roupas acaba refletindo nas pessoas pois tendemos a nos inspirar em famosos, além do fato das tendências surgirem e sumirem muito rápido, estamos consumindo muito.”

oscar

 

Eventos de grande importância como o Oscar, podem ser utilizados para que se abra um debate sobre a responsabilidade da moda quanto ao meio ambiente e provar que a sustentabilidade é viável mesmo em premiações desse porte, principalmente porque as roupas são um dos assuntos mais comentados durante as transmissões do tapete vermelho. Na edição de 2020 do Oscar, a atriz Jane Fonda escolheu um vestido que já havia usado no Festival de Cannes, em 2014, e ainda acrescentou ao look um casaco que segundo ela seria “a última peça de roupa que compraria na vida” e que pretendia “incentivar às pessoas a repensarem seu consumo desenfreado de artigos de vestuário”. 

Além de Fonda, Saoirse Ronan, junto com Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci, reaproveitaram os tecidos do último modelo que a atriz usou no BAFTA para o tapete vermelho do Oscar. Para Mona, essa atitude deveria ser frequente, “os artistas poderiam repetir roupas de premiações e eventos, porém customizando-as, apresentando diversas propostas para uma mesma peça.”

A indústria da moda é responsável por 8% da emissão de gás carbônico na atmosfera e empresas de grande porte, como as dos estilistas que produzem as roupas para o Oscar e outros eventos, possuem poucas ou nenhuma política para que os looks confeccionados gerem menos impacto no meio ambiente. 

Recentemente, os brechós e as “second hands” ganharam força devido aos debates sobre os impactos da indústria têxtil no planeta. Batizado de moda circular, esse tipo de mercado aproveita a peça de roupa, não descartando-a e sim revendendo-a para outra pessoa que se interesse por ela. Já existem plataformas online focadas exclusivamente nesse mercado, que cada vez mais vem se consolidando, principalmente quando falamos das peças de luxo.

Sobre a moda circular, Hammoud comenta que "essas iniciativas sustentáveis não são mais inovadoras e sim, obrigação de qualquer marca. Além disso, a moda sustentável não aborda somente o meio ambiente, mas também, a qualidade de vida dos funcionários, principalmente em marcas do tipo fast fashion”.

Famosos como Margot Robbie já estão apostando nos modelos vintage, a atriz usou um modelo da Chanel de 1994 em uma premiação, e levantou a bandeira da moda sustentável e compras em brechós.

oscar

 

 

Parque que conta com programação diversificada e fica localizado no coração de São Paulo.
por
Ana Kézia de Andrade Carvalho
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01/04/2022 - 12h

Relaxamento, contato com a natureza, um verdadeiro oásis em meio ao deserto mais populoso do país. Localizado na Zona Oeste da cidade de São Paulo e com mais de 130 metros quadrados, o Parque da Água Branca proporciona lazer e atividades culturais. Ao entrar no ambiente do parque o visitante dispõe de diversas possibilidades de entretenimento, como aquário, museu, parque de diversões, espaço de leitura e a casa do Cabloco.

 

Dentro das instalações do local, há um parque de equitação, em que são oferecidos cursos regulares durante todo o ano, inclusive para pessoas com deficiência física e das mais variadas idades. A opção do Aquário, possui peixes originários da bacia hidrográfica do estado e regiões próximas, no espaço de 30 viveiros é possível encontrar arraia, tilápia, piranha e uma diversidade de espécies. O Aquário funciona de terça a domingo, das 9 às 17 horas. 

 

A casa do caboclo oferece uma experiência interiorana, com um cenário rústico, contendo fogão à lenha e mesas feitas de madeira para compor o ambiente. Próximo existe a trilha do Pau Brasil, e nela contém espécies de plantas nativas da Mata Atlântica. 

 

Além disso, no parque de diversões que conta com brinquedoteca e espaço para leitura infantil que conta com leitores de histórias, e espaço playground. Também conta com programações de feiras em determinadas épocas do ano, com comidas típicas e muita diversão. Sem dúvidas é um Parque de importância histórica e social enorme, com opções de relaxamento e entretenimento para toda a família, ou até mesmo para todas as idades.

 

A pandemia pelo olhar de um professor
por
Guilherme Deptula
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15/10/2021 - 12h

Presença ou ausência. Dois estados muito claros, está ou não está. Em uma chamada de escola, é um método simples para avaliar a frequência dos alunos. Mas para os professores, durante a pandemia, esses dois termos se tornaram bem mais profundos.

Todo dia, eles acordam, se preparam e tomam coragem para poder ensinar. Mas para quem? Para um monte de câmeras fechadas definidas por ícones? O estudante pode estar presente na sala on-line, mas ao mesmo tempo, está ausente. Ele está lá, mas não está. E o professor sente a ausência. Sente a falta da participação e do contato. Sente a falta dos olhos intrigados e confusos. Eles sentem.

Essa ausência, é uma sensação compartilhada fortemente por todos. Eles vivem na pele o sentimento da falta. A falta de tudo. De participação dos alunos, de preocupação do governo, de apoio, de energia. Todos esses elementos faltaram na chamada dos professores. Porém, eles ainda encontram forças para educar. Porque sabem que se pelo menos um estiver aprendendo, não estão falhando.

E essa é a realidade de Lucas Motte. Professor de 33 anos formado em História pela USP. Crescido nas ruas da Zona Norte de São Paulo, Lucas, na adolescência, aderiu ao movimento punk, e seguia-o firmemente. “Toda manhã, pra fazer o moicano, usava clara de ovo e sabão de coco” Ele comenta, em meio a risadas. “Eu dava só problema na escola, odiava estudar, era muito rebelde!”

 

Lucas em passeio com sua turma do EJA
Lucas (superior direito) e sua turma do EJA em passeio.

Ironicamente, toda a revolta que possuía contra a educação fez ele procurar a profissão menos adequada neste contexto, a de professor. Logo quando se formou, em 2013, Lucas teve suas primeiras experiências em uma sala de aula com alunos muito mais velhos que ele. Motte começou dando aula no EJA (Educação de Jovens e Adultos). E lá, aprendeu tanto quanto ensinou. “O que eu vivi no EJA mudou minha vida.” Ele afirma. “Eu vi gente muito mais velha do que eu querendo terminar os estudos. Pessoas que não desistiram. Mesmo tendo abandonado a escola na infância, por precisarem trabalhar ou por conta de bullying, eles não desistiram. E foi aí que descobri que queria fazer isso pelo resto da minha vida.”

O amor pela profissão floresceu dentro dele, mas ainda não havia vivido o mais desafiador: ensinar a adolescentes. Após ser aprovado no concurso público, Lucas passou a lecionar em uma escola estadual na Zona Norte. Em seus primeiros meses, entendeu as dificuldades de ser professor, e sofreu. “Ninguém te ensina a ser professor na faculdade, você aprende na tentativa e erro. Tem dias que dá super certo, outros que dão tudo errado.”

O começo não foi fácil. Mas deu a ele maturidade. Passou a perceber o que funcionava e o que não. E foi assim que ele conseguiu desenvolver seu formato de dar aula – ou como ele prefere chamar – “O Método”. Lucas adora acrescentar a suas aulas a participação do aluno. Sempre foi muito aberto ao diálogo. Por isso, promove debates e rodas de discussões para instigar o pensamento crítico. Com “O Método”, ele ganhou muita popularidade entre os estudantes, dando voz a jovens que antes não tinham essa oportunidade.

Lucas em festa de encerramento com seus alunos
Motte (à esquerda) em festa de fim de ano com sua turma de 2019 da E.E. Veridiana Gomes. (2019)

Posteriormente, ele decidiu se arriscar no ensino privado. Entregou currículo na porta de mais de 40 escolas por São Paulo, e conseguiu ser contratado em 2015. Ainda com seu “Método”, conquistou o carinho de seus alunos na educação particular. Estabeleceu uma boa relação com a diretoria dos colégios que trabalhava, participou de projetos extracurriculares e criou amizades, isso tudo até março de 2020.

A Covid-19 já havia chegado no Brasil, e estava devastando o resto do mundo. Ele sabia o que a doença poderia fazer, mas não esperava. Ninguém esperava. As primeiras semanas de quarentena foram caóticas na escola privada que Lucas trabalha. O completo desconhecimento do novo coronavírus deixou sua diretoria perdida. E o desconhecimento gerou o medo. E o medo gerou o autoritarismo de seus superiores. No antigo ambiente em que os professores tinham abertura para fazer sugestões e tomarem decisões, agora imperava apenas as “ordens de cima”.

Para Motte, foi terrível. Sendo uma pessoa aberta a diálogo, não poder ser ouvido só agravou a situação para ele. E ainda assim, a escola manteve a carga horaria que tinha no presencial. Mesma quantidade de conteúdo para ser passado em uma aula online reduzida de 40 minutos. E no fim de semana? Lucas vivia preparando trabalhos e corrigindo atividades. Estava à beira do colapso. “Passava das 7h às 17h dando aula. Eu não conseguia dormir depois. Precisava descansar, mas a cabeça não parava.”

A situação era caótica no ensino privado, mas e no público? Era pior, bem pior. Nos primeiros dias, as aulas foram canceladas e o governo não dava pistas de encontrar alguma solução. Lucas e seus colegas professores da Escola Estadual Prof.ª Veridiana Gomes – no bairro do Jardim Brasil – tentavam achar alternativas. “Sabíamos que a defasagem seria gigantesca, na verdade, está sendo. No começo, os trabalhos e atividades eram enviadas pelos próprios WhatsApp e Facebook. E quando tentamos fazer um sistema de aulas online, a maioria dos alunos não conseguiam assistir.”

As razões dos estudantes não irem para as aulas on-line eram diversas, como afirma Lucas: “Além de alguns não terem um acesso bom a internet, muito deles tinham que trabalhar ou cuidar de casa enquanto assistiam a aula. Já vi aluna cuidando de irmão de colo e aluno fazendo entrega de delivery enquanto ouvia aula. Era inviável.”

Depois de algumas semanas do início da quarentena, o governo trouxe um projeto. Um único professor seria responsável por dar aula para todo estado. Eram cerca de 40 mil alunos na chamada de vídeo. E, por volta, de mil comentários por segundo. Preciso dizer que deu errado?

A insatisfação com esse formato fez Lucas ter uma ideia. Com o grêmio estudantil que ele elaborou na escola particular, ele pensou em expor a situação da rede pública. Só que usando o espaço da rede privada para isso.

 Mas como? Motte e o grêmio elaboraram um projeto. Uma discussão sobre a crise da educação no Brasil. A ideia era fazer uma live no perfil oficial da escola no Instagram e trazer três pontos de vista. Primeiro, trariam um estudante da rede pública. Em segundo, um aluno da rede privada como mediador. E por fim, Lucas, com a visão de um professor que vivia as duas realidades.

Lucas discursando durante live. (2020)

Com o consentimento da diretoria da escola, a entrevista aconteceu. E foi um enorme sucesso para todos. Para escola, com a transmissão batendo recordes de acesso. Para os alunos, que puderam se expressar e serem ouvidos. E para Lucas, que conseguiu unir dois mundos diferentes e expor a realidade da educação pública no país, naquele momento.

E, ainda em 2020, com baixíssimas chances de retorno das aulas presenciais, Lucas lecionou de casa. E em meio a tudo, conseguiu se adaptar. “Não foi fácil, mas me adaptei melhor do que eu esperava”

Mas ele destaca outra questão decorrente do ensino à distância: a invasão de privacidade. “Meu maior problema é a exposição. Porque em um sistema de aulas online, você fica vulnerável a expor sua casa, sua família, sua privacidade. Isso, de alguma forma, acaba me incomodando.”

Agora em 2021, com o retorno das aulas presencias, os professores voltam aos colégios para lecionar, o que facilita muito as coisas para eles. Além de reduzir a exposição de suas privacidades, esse retorno fornece aos educadores respiros. Como diz o próprio Lucas: “Poder ver os alunos novamente, com os próprios olhos, é a maior satisfação. Acabar a aula sabendo que cumpri meu dever.”

E, mesmo com as dificuldades de ensino, a rede estadual também está aplicando o sistema presencial “Poucos ainda aparecem. Em um total de 1000 alunos na escola, 30 comparecem.” Afirma Motte, e explica: “Os pais perceberam que o colégio não tem condições de manter todos os protocolos de segurança, por isso, não cogitam levar seus filhos.”

Lucas ainda afirma que por conta do baixo número de estudantes, os casos de contaminação na escola são baixíssimos, e ainda destaca o outro ponto importante: a carência desses jovens. “. Dá para perceber essa carência em todos os aspectos, desde o ensino até as amizades deles. Então, até mesmo quando você propõe coisas simples, como ter aula na biblioteca ao invés da própria sala de aula, os olhos deles brilham. Como se fosse algo que eles precisassem muito. É emocionante.”

Motte (à esquerda) na biblioteca com seus alunos e colegas professores. (2021)

E também, a ausência que os professores sentiam ainda existe, mas está se desfazendo lentamente. A atenção dos alunos está voltando, mas lentamente. A educação está retornando, mas ainda lentamente. Tudo poderia ter sido feito antes, mais rápido. Mas não foi assim que nossos governantes lidaram com a pandemia. O regresso a vida como era antes é lento.

E, apesar de tudo, Lucas Motte sobrevive a pandemia de Covid-19. Mas, agora, as faltas diminuíram em sua chamada e de seus colegas professores. Agora eles não são mais ignorados. Seus alunos voltaram a ter rosto e eles já conseguem sentir o cheiro de giz e ouvir o sinal tocando. Agora, a escuridão está desaparecendo. E os professores renascem. Muito mais fortes.

O projeto independente discute o que é a brincadeira e a importância de preservá-la em todas as fases da vida
por
Esther Ursulino, Gabrielly Mendes e Laura Lima
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30/09/2021 - 12h

“Vida longa à brincadeira” discute as dificuldades de se conservar a ludicidade em uma sociedade que valoriza apenas o aspecto racional do ser humano. A fim de provar que o ato de brincar não é restrito à infância, as alunas do curso de jornalismo Esther Ursulino, Gabrielly Mendes e Laura Lima intercalam depoimentos de crianças, adultos e idosos, construindo pontes entre todas as fases da vida. 

Para discutir a temática participam também Rita de Cassia Oliveira, doutora em antropologia e professora da PUC-SP; Lúcia Helena Rangel, doutora em Ciências Sociais; e Anna Maria Pereira, pedagoga e fundadora do Colégio Viver.

Clique aqui para conferir “Vida longa à brincadeira”, disponível no YouTube. 

 

De início uma brincadeira, e agora necessidade para melhora da autoestima
por
Gabriella Maya
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21/09/2021 - 12h

Por Gabriella Maya

 

Os veículos de comunicação oprimem e controlam o corpo e a aparência das mulheres desde o seu surgimento, criando padrões de beleza praticamente inatingíveis e escravizando mulheres. Hoje, na era das redes sociais, essa questão se intensifica, com influenciadoras digitais e ‘publis’ de cirurgias plásticas aparecendo na nossa tela quase que diariamente. 

O Instagram é o quarto aplicativo mais baixado e usado no mundo, e também o mais problemático de todos eles. Nele é possível selecionar constantemente, e com cuidado, o que se quer postar e qual parte da vida compartilhar com os seguidores, sempre na procura por elogios, curtidas e novos seguidores.

Os filtros do Instagram começaram como uma forma divertida e inofensiva de "se fantasiar", com orelhinhas de cachorro, bigodes de gatinhos e óculos divertidos. Mas não demorou muito para surgiram os efeitos que transformassem completamente nossos rostos, aumentando a boca, afinando o nariz, puxando os olhos e maquiando a pele. O efeito "Kardashian" se popularizou no mundo inteiro e a Internet como intensificadora da sociedade e de suas rupturas, demonstrou isso como nunca antes.  

Por mais inofensivos que os filtros do Instagram possam parecer, eles transformaram a forma como as pessoas se enxergam ou como elas gostariam de serem vistas. Hoje em dia postar uma selfie sem nenhum filtro ou edição, se tornou um ato de coragem e quase um posicionamento político. As pessoas olham para suas imagens deformadas na tela do celular e enxergam isso como um upgrade de si mesmo, comparando sua real aparência com a versão computadorizada e nada humana que os filtros nos oferecem.  

Para refletir sobre essa questão, Maria Rosa Gomes e Andressa Bastos, duas psicólogas que tratam principalmente de questões sobre autoestima.

AgeMT: Na era das doenças mentais e baixa autoestima, na sua opinião profissional, os filtros do Instagram são um problema para a autoestima dos jovens?  

Maria Rosa Gomes: É interessante ressaltar que o uso dos filtros nos apps inicialmente tinha a proposta de diversão, era usado para brincar com amigos trocando partes do corpo humano como por exemplo o nariz, pelo nariz de um de gatinho. Porém com o passar do tempo foram sendo disponibilizados filtros para eliminar “imperfeições”. Mas essas correções começaram a se tornar uma mania entre os jovens. Existem aqueles que já apresentavam problemas com autoestima e por isso faziam uso dos filtros, e aqueles que estavam bem com sua aparência, mas que com o tempo passaram também a se sentirem diferentes e fora do padrão estético. Então a resposta a essa pergunta é sim, eles são um problema, entretanto eles não são sua causa mas sim seu recurso, o qual é facilmente disponibilizado e que colaboram, e muito, para que os jovens se sintam inadequados e busquem por uma perfeição que na verdade não existe. 

Andressa Bastos: Sim, eles são um problema, porque ali é como se fosse a busca pela pele perfeita, rosto perfeito, mostrar que estar sempre bem, mas quando na verdade, na adolescência, com a entrada da puberdade e todas as transformações de mentalidade, sentimentos e fisiológicos trazem uma série de transformações e qualquer defeito e imperfeição, que principalmente as meninas apresentam, elas tendem a se comparar com colegas. Os filtros ajudam os jovens a se sentirem mais porém estão mascarando uma realidade.

 

AgeMT: Por que será que as pessoas sentem essa necessidade de se esconder por trás de uma máscara? 

Maria Rosa Gomes: Vivemos em uma sociedade competitiva em que a indústria da beleza ganha milhões por ano com produtos cosméticos, roupas, acessórios e cirurgias plásticas. O ser humano está sempre a procura de ser aceito e amado e quando chega na adolescência essa busca se torna mais urgente pois precisam encontrar seu lugar, seu grupo, se firmarem, serem aceitos. Quando entram numa rede social e percebem que são muito diferentes do que vêem, usam as “correções” dos filtros para buscarem uma “perfeição”, querem se sentir adequados a um padrão de beleza irreal criado em uma realidade virtual. Ter uma boa auto-estima e assumir suas próprias características físicas e de comportamento é uma construção que começa desde criança e é validada pelas pessoas significativas de sua vida. 

Andressa Bastos: Pois é mais fácil de lidar com um mundo, principalmente nessa era digital que estamos vivenciando, onde tudo é informatizado, e as relações estão cada vez mais virtuais. Então as pessoas vestem uma máscara social para poder se relacionar com as pessoas e com o mundo. Elas sentem essa necessidade, porque ali elas podem colocar máscaras e fingir ser algo que não são.  

  

AgeMT: O número de cirurgias plásticas em jovens tem crescido de maneira surpreendente. O aumento foi de 140% só em 2021. Acha que as redes sociais influenciaram nesse crescimento?  

Maria Rosa Gomes: Sim. Fazer postagens recorrentes de fotos com filtros e ficar olhando para elas leva os jovens a uma comparação da imagem real com a imagem criada, passam a admirar a imagem criada e não se reconhecerem mais na imagem real. A cada vez que se olham no espelho passam a observar e desejar corrigir o “defeito” que vêem. Existe um transtorno chamado Dismórfico, nele a pessoa tem um foco obsessivo em um “defeito”, que pode ser pequeno ou imaginário, mas a pessoa passa horas por dia tentando corrigi-lo. Sendo assim estamos diante de uma questão importantíssima que requer atenção de pais, amigos, professores ou qualquer pessoa que perceba um comportamento exacerbado de um jovem nesse sentido. 

 Andressa Bastos:  Sim, as redes sociais nos aproxima de artistas e de pessoas que são consideradas padrões de beleza, e fazemos sempre essa comparação. Ficamos frustradas que não somos bonitas igual a artista que seguimos. Acompanhar essas pessoas com milhões de seguidores, considerada um ícone, uma pessoa bela, nos gera essa vontade de estar consertando o corpo. Queremos uma cirurgia de nariz, diminuir os seios, aumentar os seios, fazer lipo, deixar a cintura fina, enfim, muitos detalhes do corpo que não precisariam ser um problema, mas acabam sendo com essa comparação do ‘padrão de beleza’, onde quem está fora se tornar feio e precisa se corrigir para se tornar bonita, então as redes sociais influenciam muito essa necessidade de inclusão.  

No Instagram todos são perfeitos, ne? Precisamos nos conscientizar quanto à essa cultura doentia das redes sociais. Tá tudo bem não ter a pele perfeita, o corpo perfeito, afinal, quem decide o que o 'perfeito' não é mesmo?

A esquerda, psicóloga Maria Rosa Gomes, e a direita, psicóloga Andressa Bastos.