Psicóloga explica as motivações emocionais e sociais que levam a este comportamento
por
Cecília Schwengber Leite
Helena de Paula Barra
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12/06/2025 - 12h

Nos últimos meses viralizaram na Internet diversos casos de “mães de bebê reborn”, em que mulheres adultas faziam vídeos cuidando e interagindo com as bonecas artesanais realistas como se realmente fossem suas filhas, dividindo opiniões sobre tal comportamento. A polêmica se acentuou quando começaram a surgir mulheres levando suas bonecas para supostamente serem atendidas em postos de saúde, ou até brigando pela sua guarda na justiça. Para entender melhor o assunto, ouvimos Kelly Vieira Ramos, psicóloga e especialista em análise do comportamento, em entrevista à AGENT. Para assistir ao vídeo, acesse o link:

 

Os famosos LPs batem recordes de venda e voltam a fazer sucesso, inclusive com as novas gerações
por
Helena Costa Haddad
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11/06/2025 - 12h

Revolucionando a indústria musical, os discos de vinil, criados em 1948 por Peter Carl Goldmark e Columbia Records, mudaram a forma de distribuição musical e marcaram a cultura mundialmente. No Brasil, eles chegaram em 1951 com o disco Carnaval em ‘long playing’ (tradução da sigla LP) e se mantiveram no auge até a década de 1990, quando os CDs apareceram para substituir os discos. Nos anos 2000, as mídias digitais tiveram seu boom e o streaming conquistou o público.  

Mas apesar das plataformas de streaming estarem em alta, jovens, que nem viveram a era dos LPs, começaram a procurar vinis e muitos novos artistas também estão atrás desse método de distribuição. Em 2024, um levantamento da Pró-Música Brasil mostrou que os discos de vinil representam 76,4% da venda de mídia física no país, os correspondentes a R$ 16 milhões. 

discos na galeria
Zeitgeist Music, Galeria do Rock. Imagem: Helena Haddad

Marco Antônio Cunha, vendedor desde 1984 na Galeria do Rock, no centro de São Paulo, contou que viveu a transição vinil para CDs e que agora, voltou a vender discos. “Agora, os discos pop de artistas internacionais são os mais procurados. Vamos atrás de fornecedoras e pagamos taxas altas, o que encarece muito, mas, é o que mais sai”. Discos como Brat, de Charli xcx e Mayhem, de Lady Gaga estão nas prateleiras e são sucesso de vendas garantido.  

 

O desafio da produção interna e das taxas 

Em março deste ano, o ministro da Fazenda Fernando Haddad comentou que iria tentar zerar a importação de discos de vinil.  “Eu nem sabia que disco era tributado, porque livro não é. Compro livro importado e nunca paguei tributo. Prometo ver isso, com carinho. Vou discutir com o Barreirinhas [secretário da Receita Federal]”, prometeu o ministro no Podcast Inteligência Ltda.  

Para Marco, a promessa do ministro não deve ir para a frente “no ano passado, elas [as taxas] foram cobradas fielmente. Como existe há muito tempo, duvido que vão diminuir ou zerar”. Francisco Troia, vendedor de vinil há cinco anos fala desse momento com curiosidade e concorda com a problemática das taxas: “os jovens redescobriram os vinis, eles estão se interessando mais. Procuram garimpos e discos novos, principalmente pop internacional, Taylor, Lady Gaga etc. Às vezes, alguns clientes pedem discos específicos e a gente vai atrás. A venda aumentou muito com os jovens. Mas a alfândega é um empecilho. Tudo fica caro com as taxas.”.  

O vendedor também trouxe outra questão: a falta de fábricas de vinil no Brasil, que dificulta e encarece o projeto de novos artistas. “A demanda é muito grande nas fábricas, tem uma fila extensa. Só que quando eles fazem, é em pequena quantidade o que deixa o produto muito caro, quase no preço dos discos importados.” 
 

Gen Z e os vinis 

Os jovens André Paz e Igor Pimentel, ambos com 19 anos, são colecionadores e contaram um pouco sobre essa jornada. “Foi uma forma de me manter mais próximo dos artistas que eu gosto, me sinto mais conectado com a música, além da estética que me agrada muito”, comenta André. “Acho que na vitrola você percebe sons que no spotify não são perceptíveis. O som é mais claro”, complementa Igor.   

Já sobre os impostos, a resposta é unânime, apesar de ter mais sites, lojas, facilitando a compra, as taxas são “absurdas e desanimam”, como diz Igor. André, apesar de ter muitos discos importados, tem o costume de comprar discos nacionais: “Minha coleção é balanceada, tenho a discografia solo da Marina Sena completa em vinil. E já garimpei alguns.” 

A nova onda reafirma a relevância do vinil e devolve à discussão elementos como a qualidade do som e a experiência de ouvir música em si. Para os mais jovens, a prática também ajuda a reconectar com os hábitos dos seus pais, que muitas vezes passaram essa paixão para as gerações seguintes.  

A crise anunciada pelo vício em apostas online que atinge jovens e crianças
por
Leticia Falaschi
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10/06/2025 - 12h

O cenário quase que epidêmico gerado pelos aplicativos de aposta no Brasil desestabilizou diversas esferas da vida da população. Desemprego e a desigualdade econômica viram combustível para as empresas que operam as bets. Segundo uma pesquisa publicada em abril pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), 10,9 bilhões de brasileiros com mais de 14 anos de idade apostam de forma descontrolada em jogos de azar, dados esses pertencentes a terceira edição do Lenad (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), realizado entre 2023 e 2024. Os números, que crescem exponencialmente, alertam profissionais da saúde, principalmente na área da psiquiatria e psicologia.

Em contrapartida, a legalização de algumas plataformas parece não estar de acordo com o estado preocupante indicado pelo sistema de saúde brasileiro. A complexidade se encontra, principalmente, no perfil do público mais afetado pela jogatina. O estudo da Unifesp mostra que 1 a cada 8 desses 10,9 bilhões apresentam dinâmica mais comprometedora com as apostas, se enquadrando em diagnósticos de transtornos comportamentais ligados ao vício.

Segundo a psicóloga clínica Elen Ribeiro da Silva, formada pela Universidade Paulista (Unip), em entrevista à AGEMT, existe uma combinação de fatores que afeta, principalmente, classes socioeconômicas mais vulneráveis.  “Qualquer pessoa tem fácil acesso às apostas, e num país com altas taxas de desemprego e subemprego e com tantos brasileiros sem educação financeira, a promessa de se ganhar a vida em apostas online é muito atrativa, principalmente para aqueles em cenários financeiros mais delicados.”, afirma a entrevistada.

A conjuntura de descrença e crise na economia acabaram cooperando para que a febre das bets tomassem conta da vida dos brasileiros, uma ilusória perspectiva de vida. Segundo o Lenad, a dependência em jogos de aposta fica atrás somente do álcool e do tabaco, superando o vício no crack e na cocaína da população. As empresas usam mecanismos que fomentam a vontade de jogar, operando de forma apelativa, bombardeando o usuário com incentivos enganosos.

“Essas plataformas funcionam estimulando sistema de recompensa do nosso cérebro e com liberação de dopamina, o que se assemelha com a dinâmica neuroquímica causada pelo uso de drogas.”, explica a psicóloga.  A falta de regulamentação dessas operações, que lucram com o desespero dos brasileiros, assim como a publicidade predatória são fatores que podem estar relacionados com o imenso número de jogadores. 

Segundo Elen Ribeiro, a ludopatia (ou o jogo patológico) é um transtorno comportamental grave já reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e já indicado no Manual de Diagnósticos Estatísticos de Transtornos Mentais (DSE-5) e é muito ameaçador pelo padrão comportamento compulsivo em apostas, mesmo diante de todas as consequências negativas. “É um pulso muito grande que foge do controle do jogador. Inicialmente vemos as perdas financeiras e endividamento, vêm os comportamentos ilegais... aí entra um fator ainda mais perigoso, que são os pensamentos suicidas, gerados pela desesperança em sair da situação. Muitas vezes, o indivíduo tem perda total da identidade", alerta Ribeiro.  

O sistema público de saúde sofre uma grande ameaça com o aumento de viciados em apostas, principalmente por ser uma patologia enquadrada no campo da psiquiatria. A rede de atendimento psicológico na saúde pública já é extremamente sobrecarregada, e a falta de estrutura para lidar com transtornos comportamentais é maior ainda. Os Centros de Atendimentos Psicossociais, os CAPS, um dos poucos centros públicos efetivos de tratamentos, têm uma grande demanda para tratar pacientes com vícios ligados ao álcool e as drogas, o que, somado ao sucateamento, deixa os tratamentos a outros transtornos em segundo plano.

É mais uma demanda para o Sistema Único de Saúde (SUS), ainda mais quando o público mais afetado não tem acesso a serviços de saúde privatizados.  A maioria das pesquisas especificadas para analisar o fenômeno vieram depois do aumento expressivo do número de viciados, não houve uma análise prévia à inundação das bets. Os poucos dados dos efeitos desse vício, usados em estudos de possíveis tratamentos, são de pessoas que buscam ajuda em centros clínicos, ainda há uma imensa parcela de indivíduos e dados que não foram analisados. Ouça aqui a entrevista completa. 

 

Como memórias viraram tendência e movimentam bilhões no mercado cultural
por
GUILHERME PERIOTTO KATINSKAS
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09/06/2025 - 12h

Tênis antigos, brinquedos de infância, filmes que voltam com nova roupagem. A nostalgia virou um dos motores mais fortes da cultura pop e do consumo. Mas por que buscamos tanto o que já passou? Neste vídeo, investigamos como a memória virou mercadoria, para isso tive uma conversa com quem vive disso: um jovem artesão que transforma saudade em bonecos. Assista

Podcast analisa a nova legislação implantada e como ela influencia a rotina de alunos, professores e a dinâmica da aprendizagem
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
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01/06/2025 - 12h

Com o avanço da tecnologia e a popularização dos smartphones, o uso de celulares dentro das escolas se tornou uma questão mais discutida por educadores, pais e autoridades. De um lado, o aparelho pode ser uma ferramenta de apoio ao aprendizado, de outro, representa uma grande fonte de distração. Diante desse cenário, foi sancionada em janeiro de 2025 Lei que regulamenta o uso dos celulares nas instituições de ensino, estabelecendo critérios claros para garantir que a tecnologia seja utilizada de forma responsável e educativa, sem comprometer o rendimento escolar nem a convivência dentro do ambiente acadêmico.

Para discutir sobre essa questão e como ela funciona na prática, trouxemos duas convidadas para o nosso POD Conta Aí. A professora da rede particular, especializada em orientação de alunos, Adriana de Moraes, e Lara Miyazaki, aluna da rede pública, que apresenta sua perspectiva sobre o uso dos celulares em sala de aula. Para acompanhar esse bate papo, acesse abaixo o Spotify

 

por
Fernando Figaro Garcia
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16/06/2021 - 12h

O Brasil tem hoje uma política atrasada e retrógrada no que se diz ao combate as drogas. Com o apoio da ideologia conservadora ministrada pelo governo Bolsonaro, o país ainda aposta na guerra e no combate armado, deixando de lado qualquer relação com o prisma da saúde pública.  

No entanto, para que se possa fazer uma análise efetiva, é preciso entender como nossa política chegou nesse estado de repressão. Na década de 1970, o “problema das drogas’’ se tornou pauta internacional quando o presidente americano Richard Nixon declarou que o abuso de drogas era o inimigo número um dos Estados Unidos da América. A partir desse ponto, formou-se uma aliança com os países integrantes da ONU, que interpretaram e declaram quais substâncias psicoativas eram legais e quais eram ilegais. 

Já na década de 1980, foi a vez do presidente Ronald Reagan declarar que a tolerância ao uso de drogas deve ser zero. E que as consequências para aqueles que usarem, comercializarem e distribuírem substâncias ilícitas seriam severas. A partir desse ponto as condenações em massa causa uma explosão na população carcerária. 

Dessa forma, iniciou-se um combate extremamente custoso e que efetivamente, não estava diminuindo o tráfico, a grande realidade é que o combate intensivo sofisticou e modernizou o mercado ilícito, encareceu os produtos vendidos e proporcionou uma nova era de “barões da droga’’.  

As nações foram pouco a pouco percebendo que o combate armado não era efetivo, já que o uso de drogas estava só aumentando e as mortes por overdose e outras consequências do uso contínuo estavam acontecendo em pessoas cada vez mais jovens.  

Portugal é um exemplo perfeito para se explicar o porquê da redução de danos, do apoio ao usuário e da discriminação das drogas serem um caminho efetivo para se controlar a epidemia de uso.  

No ano de 2001, nosso país colonizador decidiu parar de tratar usuários como criminosos, descriminalizando o uso e a posse de todas as drogas. Essa foi uma maneira de se contornar o fracasso do combate direto que se deu na década de 1990.  

Nesse período Portugal vivia uma epidemia de heroína, o uso estava descontrolado, e estima-se que na época, uma a cada cem pessoas era dependente de heroína. A alternativa então foi acolher, apoiar e reduzir os danos, dessa forma, a política pública passou a tratar o usuário como doente e não como criminoso.  

Mesmo sendo um exemplo efetivo de como lidar com esse problema, muitos países continuam apostando nessa guerra irracional, um exemplo, o Brasil. E aqui, a reportagem irá analisar as consequências e os danos causados ao tecido social, nessa aposta cega e cara. 

Apenas em agosto de 2006, o Brasil deixou de considerar usuários como criminosos. O Art.28 da Lei de número 11.343 do código penal determinou que aqueles que forem apanhados fazendo o uso ou com a posse de drogas ilícitas deveriam assinar o artigo, porém não poderiam ser presos, apenas teriam de prestar serviços sociais ou pagar algum tipo de multa para o Estado. 

No entanto, o problema desse artigo está localizado em seu segundo parágrafo, em que diz que a determinação do destino da substância se submete a interpretação do juiz, o qual analisará “à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.” Ou seja, existe uma enorme diferença entre um branco classe média sendo abordado com 10 g de maconha em Higienópolis e um preto periférico sendo abordado com a mesma quantidade no Capão Redondo. 

Tendo em vista que o Brasil é o segundo país onde mais se consome maconha e cocaína no planeta, um país com uma população periférica exorbitante, as condenações por tráfico de drogas (enquadrada no Art.33 do Código Penal) são as mais presentes no sistema carcerário.  

Segundo dados divulgados pelo G1, no ano de 2017 um a cada três presos no país respondia por tráfico de drogas. E ao observar que temos a segunda maior população de detentos do mundo, percebe-se que realmente tem algo de errado. Já que tantos traficantes estão presos, como o comércio, a distribuição e o consumo estão em níveis tão altos? 

A resposta para essa questão não é tão simples, já que existem muitos fatores contribuintes para essa situação alarmante. No entanto, aquilo que destaca o fracasso da guerra as drogas, é o mal direcionamento das buscas e apreensões.  

Enquanto a polícia militar enquadra traficantes “pé de barro”, ou seja, pessoas que estão na periferia trabalhando de aviõezinhos, fogueteiros, traficantes do chamado baixo clero, e até mesmo determinando tráfico no flagrante sem nenhuma prova que aquela pessoa estava realmente traficando drogas. Deixa-se lado os reais cabeças do tráfico, aqueles que estão em postos de alto escalão no governo, em grandes empresas etc. São eles  os responsáveis pela entrada e distribuição de drogas no país. No entanto, esses são os mesmos que comandam a política nacional e lucram com o combate armado e a morte de policiais, criminoso e civis. 

Para uma análise mais humana e menos numérica, a reportagem entrevistou duas pessoas que representam dois lados distintos da mesma moeda. Um policial e um traficante. Ambos não quiseram ser identificados, por isso foram dados nomes ficcionais. 

O policial Fábio, 29, tem uma opinião progressista e racional sobre a criminalização das drogas. Para ele, a legislação é inadequada, “mais atrapalha do que ajuda (...) ou mantemos esse mercado na ilicitude provocando violência ou legalizamos”. Essas afirmações vêm de uma pessoa que está na linha de frente da batalha. Uma pessoa que vê o desperdício de tempo, dinheiro e vidas em uma luta a qual não se combate nada. Na visão do entrevistado, integrante de uma instituição retrógrada e punitivista, é nosso dever “lutar por uma legislação que nos permita realizar um enfrentamento mais do que eficaz, um enfrentamento real e científico. Um enfrentamento somente no ambiento penal (prender, processar e julgar) de nada resolverá, apenas ajudará e/ou auxiliará senão no extermínio da juventude preta e periférica.” 

Do outro lado da moeda, o traficante de luxo, Márcio, 24, diz não ter opinião formada sobre uma possível descriminalização das drogas. Márcio se diz um traficante de luxo, já que faz suas vendas por delivery. Ou seja, ele claramente atende uma parcela selecionada de usuários, que compram drogas de qualidade muito superior comparadas as vendidas em biqueiras convencionais espalhadas pelo Brasil. Para Márcio, que há 10 anos além de vender cannabis, cultiva em seu apartamento em São Paulo, a descriminalização poderia ser uma deixa para pessoas que hoje são consideradas criminosos, se tornarem simples cultivadores, que plantam e cultivam sua planta para fins recreativos. 

A guerra que se instaurou no país parece estar longe do fim, mesmo com inúmeras propostas apresentadas no Congresso e no Senado, as autoridades parecem não se preocupar com um problema gritante que já demonstrou não se encolher diante da política combativa. 

Ou até se preocupam, mas o muro do conservadorismo e do obscurantismo cruel da sociedade brasileira barram qualquer tipo de proposta progressista.  

Nosso país vive hoje um genocídio da população negra periférica, as grandes cidades sofrem com a epidemia de crack, pessoas cada vez mais jovens estão usando drogas cada vez mais pesadas tendo em vista que boca de fumo não pede RG. E à medida que a questão fica mais popular e a pauta começa surgir em grande escala em manifestações populares como a “Marcha da Maconha” , percebemos que a política reacionária de Jair Messias Bolsonaro, sua trupe de negacionistas, a chamada bancada da bala e a bancada da Bíblia impedem qualquer discussão racional e razoável sobre uma questão tão grave que atinge a saúde pública de uma nação inteira.