A 11° edição do Lollapalooza Brasil que aconteceu de 28 a 30 de março, em São Paulo, contou com a presença de vários nomes renomados da música internacional e nacional. Nesse vídeo contamos os principais destaques dessa edição do festival, e também conversamos com uma fã que esteve presente nos três dias de shows. Veja a cobertura!
Com a ascensão da extrema direita em Portugal imigrantes brasileiros têm percebido o aumento dos casos de xenofobia no país, estimulados por discursos nacionalistas de partidos de extrema-direita. Aluguéis caros e salários baixos também são dificuldades enfrentadas por quem busca se estabelecer em terras lusas.
Atualmente, o Chega! é o partido de extrema-direita que mais conquista espaço na política portuguesa. A sigla fundada em 2019 possui pautas conservadoras e nacionalistas que são difundidas, principalmente, por André Ventura, atual presidente da legenda. Através de discursos xenófobos e anti-imigratórios, o deputado da Assembleia da República adota a mesma estratégia populista que elegeu à presidência Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil.
Em entrevista à Rádio Renascença, em maio de 2019, André Ventura disse que a Europa deve ser solidária, mas ao mesmo tempo manter o controle de suas fronteiras para que não se torne um espaço completamente aberto. “Para vir viver dos nossos impostos já temos cá muitos, não precisamos de mais”, opina.
As declarações do líder do Chega! influenciam parte da população portuguesa. Dados de um levantamento realizado pelo Instituto Intercampus, que foram divulgados pelo jornal Correio Braziliense, mostram impressionante crescimento do partido -– que já é a terceira força da Assembleia da República, com uma bancada de 12 deputados.
O estudo aponta que as intenções de votos no partido de ultradireita saltou de 7,2%, há um ano, para 13,5%, ou seja, quase dobrou. Esse aumento confirma que o discurso inflamado do deputado André Ventura, presidente do Chega, está ecoando entre os portugueses, o que pode refletir no aumento da xenofobia contra imigrantes.
Henrique de Barros (33), formado em cinema, decidiu sair do Brasil há um ano em busca de emprego. Ele conta que ao chegar em Portugal sofreu com violências verbais e generalizações depreciativas por ser brasieliro. "Já lidei com micro agressões como olhares feios e falas ríspidas; pessoas me chamando de pobre, oportunista e sem cultura. Além disso, pressupunham que eu era burro ou vivia em condições muito ruins no Brasil", conta.
Barros trabalha como editor de vídeo, um emprego que se adequa à sua área de formação. Entretanto, ressalta que seu caso é uma exceção entre os imigrantes e os próprios portugueses, já que o país luso oferece poucas oportunidades para pessoas especializadas. “Quanto mais formação se tem, menos vale a pena porque a compensação não sobe igual.”. Ou seja, mesmo com um diploma o salário das pessoas continua limitado, o que as impede de arcar com o alto custo de vida no país.
A disparada nos preços dos aluguéis ampliou as dificuldades dos imigrantes. Nos últimos anos, vários empresários compraram casas em cidades portuguesas para as transformarem em hospedagens e Airbnbs, o que tem feito os valores da especulação imobiliária dispararem. Segundo dados do EuroStat, os preços das casas aumentaram 46,9% nos países da União Europeia de 2010 até o 4° trimestre de 2022. A inflação acumulada ficou em 29,6% no mesmo período.
Em um cenário de alta procura, os locatários portugueses não escondem sua xenofobia ao alugarem quartos ou apartamentos para imigrantes. “Já vi muitos depoimentos em grupos dizendo que não alugam boas casas para brasileiros ou, quando percebem que são imigrantes, dizem que as residências não estão mais disponíveis.”, relata Henrique de Barros.
Lis Barreto, que viveu dois anos e meio em Portugal, confirma a denúncia de Henrique. A pesquisadora de 32 anos, que foi ao país com o intuito de fazer uma extensão universitária, encontrou algumas dificuldades. Ela conta que devido aos altos preços de locação precisou compartilhar um apartamento com mais duas pessoas, a fim de dividir custos. Ela ainda destaca que o lugar onde morou era alugado informalmente, pois o proprietário era uma das poucas pessoas que alugava para brasileiros.
Além de problemas relacionados à moradia, Lis Barreto relata episódios de xenofobia e machismo que sofreu no país. Apesar de não ter enfrentado agressões explícitas, as notava em algumas atitudes, como na diferença da abordagem reservada às mulheres brasileiras e às portuguesas durante uma paquera. “O machismo do português se manifesta de um jeito diferente do que o machismo do brasileiro. Fica na sutileza às vezes, mas você consegue perceber a diferença se comparar o tratamento que eles vão dar para outras mulheres. Não vão chegar da mesma forma.”.
A pesquisadora também se recorda de sofrer generalizações, a exemplo das vezes em que se surpreenderam quando ela disse que estava fazendo doutorado no país; ou quando pressupunham que estava em Portugal com o intuito de encontrar um marido para ganhar cidadania.
Henrique de Barros percebe a omissão do governo português diante dos casos de xenofobia, e diz que é raro ver algo sendo feito para evitar essas situações. "Sempre caminha para algo genérico no sentido de 'Vamos todos se respeitar', mas tem poucas ações públicas que eu vejo para integração positiva das culturas.", desabafa.
Além dos casos implícitos e presentes no cotidiano de diversos imigrantes, a ausência de ações concretas resulta em casos extremos. O engenheiro civil Saulo Jucá (51) foi agredido com socos e chutes dentro de uma cafeteria na cidade de Braga, Portugal, no dia 10 de junho deste ano. A data é considerada feriado nacional em que se comemora o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Embriagado, o agressor perguntou a nacionalidade do engenheiro, que foi agredido quando confirmou ser brasileiro. Nenhuma autoridade ou instituição oficial portuguesa comentou o assunto.
O atual governo brasileiro já manifestou preocupação com o tema. Anielle Franco, ministra da Promoção da Igualdade Racial, anunciou que o Poder Executivo pretende reforçar a rede de enfrentamento ao racismo e à xenofobia cometidos contra brasileiros que vivem em Portugal em abril deste ano. Essa rede terá o apoio do consulado brasileiro naquele país.
Um mês antes, Portugal havia anunciado a criação do Observatório do Racismo e Xenofobia. O projeto une o governo e universidades e tem o objetivo de fornecer conhecimento sobre o tema para auxiliar ações governamentais e entidades no combate à crescente intolerância.
Henrique Barros considera o período atual péssimo para brasileiros se mudarem para Portugal, mas entende que é importante conversar com outros imigrantes antes da decisão final. "Meu conselho é entender bem suas prioridades e falar com pessoas que amaram e odiaram a experiência para entender os porquês”, finaliza.
Exalando maturidade musical de um artista que cresceu no rap e não se limitou ao seu ritmo de origem, “AmarElo” do Emicida, se tornou mais do que um álbum musical, que não só reúne as principais facetas da cultura preta brasileira, mas abriu uma porta para ocupar lugares históricos e criar autoestima em qualquer um que tenha sido marginalizado. “AmarElo”, virou “AmarElo - É Tudo pra Ontem”, filme que descreve o processo criativo do álbum musical e apresenta os motivos da estreia deste no Theatro Municipal de São Paulo, com plateia majoritariamente preta e periférica. Ele é produzido por uma equipe de artistas, incluindo Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, e direção estreante de Fred Ouro Preto.
Dividido em três atos (plantar, regar e colher), o documentário intercala a inspiração/criação das músicas, com as obras prontas, apresentadas no Theatro Municipal. A obra conta ainda como o artista paulistano desenvolveu as ideias que arquitetam o seu terceiro álbum de estúdio pelos percalços e desafios de toda sua concepção. Misturando ritmos musicais negros, com a história do povo preto brasileiro e crítica às mazelas sociais, em AmarElo, Emicida constrói uma narrativa baseada em amor, união, coragem e esperança, trazendo a dor e a alegria da vivência, para um campo sensível e intímo do ouvinte, se desvencilhando um pouco da acidez e firmeza que dominam outras obras suas.
A trama do filme é construída em diferentes tipos de imagens. Enquanto os fatos históricos são apresentados com animações e ilustrações, o íntimo do artista é trazido por imagens de arquivo. Entre o backstage e o show no Municipal, assistimos todo processo de nascimento de um álbum e de um documentário que marcaria seu nome em premiações internacionais como o Grammy e o Emmy.
A trilha sonora é composta inteiramente pelos onze títulos que compõem a junção musical e guiam a narrativa, abrindo e fechando os arcos. Esse é o principal diferencial do audiovisual: ele tem história! Não apenas a de Emicida, mas a dos criadores e a de todos que um dia viriam a se identificar com alguma daquelas canções.
POR DENTRO DE “AMARELO”
Repleto de referências que vão muito além do espectro musical, o documentário aborda alguns dos principais pilares da cultura brasileira que contribuíram para a formação da sociedade que temos hoje. Muito além disso, AmarElo traz significâncias e significados para resgatar na memória do Brasil toda a pluralidade preta para a sua formação, que foi sucateada e apagada no processo de branqueamento da história.
Em um movimento precursor de amostragem do passado, a narrativa explora em cada arco personalidades como Lélia Gonzalez, Aleijadinho, Wilson Neves e muito mais, referenciando também movimentos como a Semana de Arte Moderna de 1922 como ferramenta de marco representativo e divisor de ideias, que até então estavam consolidadas entre o aceito e o invisível.
Explora também a ocupação de um espaço físico como marco, marco de uma luta viva e presente na vida de milhões de brasileiros. Estar no Municipal e ressignificá-lo como um ambiente condizente com o florescer de um grupo que foi reprimido por séculos leva a público discussões além da luta racial no Brasil, pois mostra como o racismo e ideais de embranquecimento trabalharam para o apagamento daqueles que foram, são e sempre vão ser a alma de todo um país.
AmarElo se faz necessário não somente por ser uma obra que ganhou relevância nos streamings, mas por sintetizar de forma visual a história preta intrínseca na construção de um país, facilitando a compreensão de um movimento individual que, após as dimensões conquistadas, ganha um caráter coletivo.